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7.

PRINCÍPIOS GERAIS DO PROJETO

Definições

Capacidade: máxima potência que uma usina pode produzir expressa em KW.

Carga: é a demanda de energia. Pode ser expressa em função da demanda média ou da


capacidade (demanda de pico). Para fase de planejamento, a capacidade de carga é medida
em termos da demanda máxima anual ou carga de pico.

Fator de carga (Fc): relação entre a demanda média e a demanda de pico, para o período
considerado (diário, semanal, mensal ou anual). Exemplo:

carga média diária


Fator de carga diário =
carga de pico diária

 Idéia da regularidade de funcionamento da usina.

A carga ou demanda de energia varia de hora em hora, e de estação para estação


(inverno, verão, etc.).

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Tipos de cargas: a curva de carga pode ser dividida em três tipos: carga de base,
intermediária e de pico. Segundo o Army Corps of Engineer (1989), a carga de pico é a
porção que ocorre menos de 8 hs por dia. Carga de base é a carga mínima do período, e a
intermediária entre as duas. Ela operaria entre 8 e 14 hs por dia, as características
operacionais podem definir cada tipo. Veja a curva de carga diária.

Exemplos de Curva de Consumo de Energia do Estado de São Paulo

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Classes de carga: classificadas de acordo com o consumidor.

Industrial Fc  0,8 a 0,9


Residencial/comercial/industrial Fc  0,4 a 0,5
Iluminação Fc  0,25

Exemplos de distribuição do consumo por classes de carga:

Categoria Consumo Brasil (%) EUA (%)


Em 1980 Em 1998
Industrial 53 30 35
Residencial 21 34 35
Comercial 11 24 25
Outros 14 12 5

Fator de capacidade: relação entre a carga média e a capacidade ou potência instalada.

 Idéia da ociosidade da usina.

Fator de demanda: relação entre a carga máxima no período e a potência instalada.

Curvas de Duração

As curvas de duração ou de permanência indicam a percentagem de tempo durante o


qual a variável (vazão, carga, etc) é igual ou superior a certos valores. São traçados por
meio do registro do número de dias, meses e anos com vazões compreendidas entre os
valores limites dos intervalos de classe. Se traçados ano por ano, se obtém a curva relativa a
um ano ideal. Usando um período de vários anos tem-se a "curva média anual" empregada
nos cálculos das potências das usinas hidroelétricas.
Ver gráfico com as curvas de duração da carga mensal.

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Valores mensais - (Ex maio)

a - b - pico do mês
c - b - média do mês
d - e - mínimo do mês
c−b
− fator de carga do mês
a−b

Valores anuais

f - g - pico anual
h - g - média anual
i - g - mínimo anual
h−g
- fator de carga anual
f −g

Energia produzida

Em 1 mês (Ex. fevereiro) - Área ( K1 x Km) = Km x 672,0 (Kwh)


Em 1 ano - Área (hg x 8760)(Kwh)
Carga contínua no ano - (Demanda firme) - ij
Carga não contínua - valores entre ij e fg
Duração de uma certa carga [ Ex. h*] -  Po

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As curvas fornecem valores significativos como o mínimo, máximo, Q50, Q90 etc, que são
os valores de vazões com permanência de 50%, 90%, etc.

As curvas de duração servem para comparação entre cursos d'água.

1 - pode fornecer uma vazão Q1 para aproveitamento direto. Para vazões maiores
haveria necessidade de armazenar água, exemplo com Q'1.

2 - não permite o aproveitamento eficiente sem projeto de armazenamento.

As curvas de duração das vazões são facilmente transformadas em curvas de duração


das potências (usando a fórmula de conversão) que é empregada em estudos
hidroenergéticos.

Roteiro de cálculo

- ordenação dos dados em ordem decrescente.

- seleção do número de intervalos de classe, segundo o Arms Corps of Engineer (1989)


de 20 a 30, ou segundo a Eletrobrás (Manual de Pequenas Centrais Hidroelétricas)

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No = 1 + 3,3 ln (N) N número de dados

- determinação do tamanho do intervalo de classe.

- determinação da freqüência, ou seja, o número de eventos em cada classe, Fi.

- determinação da duração do evento →  Fi

- determinação da duração do evento em %.

- traçar o gráfico Q = f (t).

OBS: mais detalhes sobre as curvas de duração consultar livro de Hidrologia.

OBS :
- No método das curvas de duração, para determinadas vazões transforma-se e obtém a
curva das potências. A carga de projeto se considera constante ou variando com a vazão.

- O rendimento médio é fixo ou varia com a vazão.

- A curva das potências proporciona a energia produzida pela usina no local


especificado.

- É um método simples e rápido. Não pode ser utilizado para simular o aumento de
energia com o armazenamento.

OBS: se a curva de descarga não é disponível no local de construção da usina, poderá ser
usada de outro local no mesmo rio, ou então, a jusante desde que a área de drenagem
contenha o local do aproveitamento em estudo.

Diagrama de carga

Potência adicional → curta duração (1 a 10 anos)


contrato de compra
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→ contrato de intercâmbio
longa duração (10 anos ou mais)
(aproveita a sazonalidade da região)

→ energia residual (de baixo custo, não disponível como "firme").

Reserva → 20 % do pico anual previsto, é a reserva de planejamento.

→ operacionalmente adota-se 5 a 10% a ser mantido a toda hora.

Objetivo da reserva: suprir a demanda em caso de cargas anormais, manutenção,


interrupção forçada na geração ou na transmissão de energia, ou outras situações não
previstas.

Determinação do mercado consumidor

Ao implantar-se uma minicentral hidrelétrica, tem-se como objetivo a melhoria das


condições de vida da população a ser atendida. Tal objetivo pode ser atingido de forma
direta quando do seu uso final pela família ou, de modo indireto, quando é utilizada como
insumo no meio agrícola ou no setor industrial.

Havendo condições favoráveis, a minicentral pode promover o desenvolvimento num


nível tal que viabilize num futuro próximo sua integração aos sistemas interligados
regionais.
Mesmo em centros já atendidos por unidades que consomem derivados de petróleo, a
implantação de minicentral conduz a uma economia que de alguma forma será revertida ao
consumidor, além de aumentar a confiabilidade do suprimento e tornar o fornecimento
independente das alterações de preço e oferta de fonte primária.

A composição de demanda de energia depende basicamente da atividade econômica do


local de instalação. Se no centro atendido predominam as atividades agrícolas, certamente
uma parcela de geração estará alocada aos processos de beneficiamento e armazenamento
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dos produtos. Normalmente, o consumo de energia na agricultura é o que apresenta
menores índices por unidade de produto, observando-se um certo crescimento recente a
medida em que vem se promovendo um maior nível de mecanização. O mesmo ocorre nas
atividades de mineração e extração de recursos naturais.

Em contrapartida, o setor industrial é o que absorve maior quantidade de energia por


unidade de produto, dependendo do tipo de indústria suprido e do grau de desenvolvimento
da região.

Em ambos os casos, uma parcela da energia elétrica vai se destinar ao consumo


residencial e iluminação pública. O grau de utilização, com esse objetivo, é função do nível
de renda da população, de sua integração com outras áreas mais desenvolvidas no entorno e
no preço de oferta de energia elétrica.

Os três usos citados, que mais comumente vão constituir a demanda associada a
minicentral, contribuirão de forma diferenciada no crescimento dos requisitos de mercado
que se projetar e promoverão alterações distintas na forma típica da curva de carga.

Leitura complementar: Manual de Minicentrais Hidrelétricas da Eletrobrás,


exemplificando para o caso de uma pequena central o procedimento para a definição das
características do mercado consumidor, isto é, potência requerida e características da
demanda. (curvas de carga).

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Exemplo de Suprimento do diagrama de carga

No planejamento de um sistema para atender as demandas futuras, devem ser


considerados os gastos fixos (de capital) e os gastos operacionais. A título de exemplo, para
ilustrar a operação, só serão considerados os gastos operacionais (que são gastos com
combustível).

a) Sistema só térmico

Dados: curva de demanda e curva de duração da carga para um período de uma


semana.

Pico da demanda: 5000 MW


Reserva (20%): 1000 MW

Ver tabela 7-1.

Objetivo: minimizar os custos colocando as usinas no diagrama de carga em ordem


crescente de custos. Assim serão dispostas em ordem:

1o. NUKE -1 custo 6 Mills/KWh


2o. COAL -2 custo 8 Mills/KWh

O custo é computado fazendo o produto do número de horas de operação pelo custo em


Mills/KWh, por semana. Assim é elaborada a Tabela 7-2.

Custo total: 7256 x 103 US$

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Tabela 7.1
Usinas Disponíveis
USINA SIMBOLO MW Mills/KWh
Base a carvão COAL-1 500 15
Base a carvão COAL-2 750 8
Base a carvão COAL-3 750 9
Cíclico carvão CYCL-1 500 20
Cíclico carvão CYCL-2 500 30
Ciclo combinado CMCY-1 500 60
Combustão CMBT-1 500 80
Combustão CMBT-2 500 90
Combustão CMBT-3 500 100
Nuclear NUKE-1 1000 6
TOTAL 6000

Tabela 7.2 Custo de Operação como usinas de base. Sistema térmico


Símbolo Capacidade Fator da Energia Custo Unit. Custo
Usina (MW) Usina (%) (1000 (mills/KWh ($1000)
MWh) )

COMBUSTÃO-3 500 0 0 100 0


COMBUSTÃO -2 500 0 0 90 0
COMBUSTÃO -1 500 4 3 80 240
CMCY-1 500 21 18 60 1080
CYCL-2 500 40 34 30 1020
CYCL-1 500 55 46 20 920
COAL-1 500 72 60 15 900
COAL-3 750 95 120 9 1080
COAL-2 750 100 126 8 1008
NUKE-1 1000 100 168 6 1008
HYDRO 0 0 0 0 0
TOTAL 6000 68 575 12.6 7256

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b) Sistema Hidro-térmico

Para a mesma curva de carga, considerando usina hidrelétrica.

Admitindo uma potência média por semana de 250 MW  42000 MWh.

Hidro: custo de combustível 0.

Melhor condição: pico de diagrama de carga.

Uma potência instalada de 1000 MW, se colocará no pico deslocando CMBT-1 e


CMCY-1).
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Ver figura e tabela 7.3

Custo total: 5.306 x 103 US$

Economia: (7.256 - 5306)103 = 1950 x 103 US$ comparado com o sistema só térmico.

Tabela 7.3

CUSTO SEMANAL UTILIZANDO USINA HIDREELÉTRICA NA PONTA

Símbolo Capacidade Fator da Energia Custo Unit. Custo


Usina (MW) Usina (%) (1000 (mills/KWh) ($1000)
MWh)
CMBT-2 500 0 0 90 0
CMBT-1 500 0 0 80 0
HYDRO 1000 25 42 0 0
CYCL-2 500 15 13 30 390
CYCL-1 500 55 46 20 920
COAL-1 500 72 60 15 900
COAL-3 750 95 120 9 1080
COAL-2 750 100 126 8 1008
NUKE-1 1000 100 168 6 1008

TOTAL 6000 68 (1) 575 10.5 5306

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Tabela 7.4

CUSTO SEMANAL UTILIZANDO USINA HIDREELÉTRICA NA BASE

Símbolo Capacidade Fator da Energia Custo Unit. Custo


Usina (MW) Usina (%) (1000 (mills/KWh) ($1000)
MWh)
CMBT-3 500 0 0 100 0
CMBT-2 500 0 0 90 0
CMBT-1 500 1 1 80 80
CMCY-1 500 13 11 60 660
CYCL-2 500 33 28 30 840
CYCL-1 500 48 40 20 820
COAL-1 500 62 52 15 780
COAL-3 750 85 107 9 963
HYDRO 250 100 42 0 0
COAL-2 750 100 126 8 1008
NUKE-1 1000 100 168 6 1008
TOTAL 6000 68 (1) 575 10.8 6159

(1) Fator de carga para 5000 MW de carga de ponta

Se a usina hidro for projetada como usina de base, a potência de 250 MW será suficiente
como capacidade.

A usina será colocada na base do diagrama. Na tabela 7.4 estão descritos os custos
semanais.

Custo total: 6.159 x 103 US$

Economia: 1097 x 103 US$

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Curva de duração com usina hidroelétrica na ponta

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Curva de duração com usina hidroelétrica na base

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