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CAMPINAS
2019
ANDRÉIA ROMERO FANTON
ASSINATURA DO ORIENTADOR
CAMPINAS
2019
Ficha catalográfica
Universidade Estadual de Campinas
Biblioteca da Área de Engenharia e Arquitetura
Luciana Pietrosanto Milla - CRB 8/8129
Ao meu orientador, professor Dr. Luiz Carlos de Almeida, por todos os ensinamentos, profissio-
nalismo, amizade, incentivo, dedicação e, acima de tudo, por sempre acreditar neste trabalho e
por todas as oportunidades proporcionadas na UNICAMP, as quais me permitiram crescer além
do que imaginei ser possível.
Aos professores Dr. Leandro Palermo Junior e Dra. Ana Elisabete Jacintho, que participaram
nas bancas de Qualificação e Defesa, sugerindo melhorias e desenvolvimento.
A todos os amigos dos laboratórios LabMEM e RELab do Departamento de Estruturas, por toda
a ajuda, motivação, por acreditarem mais em mim do que eu mesma e por todos os momentos
compartilhados, em especial a Vanessa Saback, Raquel Dantas, Marcos Silva, Ricardo Randi,
Rafael Sanabria, Carlos Benedetty, Leonardo Oliveira, Murilo Marques, Rangel Lage, Ingrid
Irreño, Juan Martinez, Gustavo Cavalcante, Isabela Durci, Eduardo Marques e Fábio Leitão.
Àqueles que me acompanharam direta ou indiretamente durante essa trajetória, acreditaram que
este trabalho seria possível e me apoiaram nos momentos em que precisei, pelo companheirismo,
compreensão, paciência e confiança.
Muito obrigada!
“Tu, porém, terás estrelas como ninguém. . . Quero dizer: quando olhares o céu de noite,
(porque habitarei uma delas e estarei rindo), então será como se todas as estrelas te rissem! E
tu terás estrelas que sabem sorrir! Assim, tu te sentirás contente por me teres conhecido. Tu
serás sempre meu amigo (basta olhar para o céu e estarei lá). Terás vontade de rir comigo. E
abrirá, às vezes, a janela à toa, por gosto. . . E teus amigos ficarão espantados de ouvir-te rir
olhando o céu. Sim, as estrelas, elas sempre me fazem rir!”
Antoine de Saint-Exupéry
Resumo
A proteção à vida humana, assim como ao patrimônio, é necessária e deve ser premissa
fundamental quando se projetam as edificações, de maneira que essa proteção seja garantida. Em
situações de incêndio, propriedades físicas, químicas e mecânicas do concreto sofrem alterações
significativas. A estrutura de concreto armado, quando submetida ao fogo, tem sua resistência
mecânica reduzida. Tal redução está relacionada tanto com a mudança de comportamento
do material como também, em muitos casos, com o lascamento do concreto. Este, por sua
vez, depende de fatores estruturais e de diversos parâmetros dos materiais constituintes do
concreto. O lascamento pode ocorrer de diferentes maneiras, sendo a forma explosiva a mais
perigosa. Um grande número de pesquisas experimentais e numéricas sobre o comportamento do
concreto exposto ao fogo têm sido realizadas em elementos estruturais de vigas e pilares, sendo
que as lajes são estudadas com menor frequência, principalmente devido às suas dimensões e
consequentemente maiores custos de pesquisa. O objetivo geral desse projeto é a realização
de uma análise numérica do comportamento combinado termomecânico de lajes de concreto
armado em situação de incêndio, através de modelagem estrutural em elementos finitos nos
programas computacionais ATENA e GiD. Os modelos numéricos térmico e termomecânico
em elementos finitos foram calibrados a partir dos resultados de ensaios experimentais obtidos
na literatura. Os resultados da calibração dos modelos obtidos neste trabalho mostraram-se
satisfatórios. A análise paramétrica realizada alterando-se os agregados do concreto mostrou que
o comportamento do concreto com agregado calcário é melhor quando comparado ao agregado
silicoso. Para a exposição à curva de incêndio ISO834, o deslocamento no centro da laje com
agregado silicoso foi 47% superior àquela com agregado calcário. Esta diferença para a curva de
incêndio de hidrocarbonetos foi de 58%.
C: força de compressão;
𝑓 : forças internas;
′
𝑓𝑐 : resistência à compressão do concreto;
𝐺: módulo de cisalhamento;
𝑘: rigidez do material;
𝐾𝑇𝑖 (𝑢𝑖 ): matriz Jacobiana no passo analisado (matriz da rigidez tangente), equivalente à derivada
da força em relação ao deslocamento no passo em questão (𝜕𝑃/𝜕𝑢)𝑖 .
L: vão livre da laje;
𝑀𝑓−𝑜𝑔𝑜 : momento negativo na laje devido ao empuxo atuando abaixo do eixo central da laje, em
situação de incêndio;
𝑀𝑡ℎ : momento uniforme devido à restrição à rotação contrária à curvatura induzida pelo
gradiente térmico.
𝑀Δ : momento devido ao deslocamento da laje para baixo, em conjunto com a força de restrição
T;
𝑠: deslizamento;
𝑠𝐹 : fator de cisalhamento;
T: força axial de compressão devido à restrição de movimento horizontal por expansão térmica
na laje;
𝑧0 : distância entre a posição da força de empuxo e o eixo central da laje nos apoios;
𝜀𝑐 : deformação do concreto;
𝜀𝑇 : deformação total;
𝜉: nível de carregamento acidental, dado pela relação entre os valores característicos da ação
variável e das ações permanentes;
𝜈: coeficiente de Poisson;
𝜌𝑐 : massa específica do concreto de densidade normal à temperatura ambiente;
𝜎: tensão;
̃︀ histórico de tensões;
𝜎:
𝜏 : tensão de aderência;
Figura 1 – Distribuição dos casos de incêndio - tipos. Adaptado de World Fire Statistics
(2018). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Figura 2 – Variação do fator de redução 𝜂𝑓 𝑖 com a ação variável principal relativa 𝜉.
Fonte: Adaptado de Costa (2008). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Figura 3 – Critérios de resistência ao fogo segundo a estabilidade, a estanqueidade
e o isolamento de uma laje. Adaptado de Costa (2008) e Macrovector
(https://br.freepik.com/macrovector - Acesso em 03 de abril de 2019). . . . . 28
Figura 4 – Incêndio no Edifício Wilton Paes de Almeida - São Paulo. . . . . . . . . . . 29
Figura 5 – Boate Kiss após o incêndio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
Figura 6 – Incêndio no Museu Nacional, no Rio de Janeiro. . . . . . . . . . . . . . . . . 30
Figura 7 – a) Estrutura do circo após o incêndio b) Elefante Semba e a trapezista
Antonieta Stepanovich. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Figura 8 – Incêndio na Catedral de Notre-Dame, em Paris. . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Figura 9 – Tetraedro do fogo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Figura 10 – Fornos verticais no Brasil. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
Figura 11 – Estrutura de oito pavimentos para ensaio de incêndio em escala real em
Cardington, Reino Unido. Fonte: Nogueiro et al. (2005). . . . . . . . . . . . 39
Figura 12 – Desenvolvimento de um incêndio em um compartimento de pequeno volume.
Fonte: adaptado de Maximiano (2018). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
Figura 13 – Curvas nominais para materiais celulósicos. Fonte: adaptado de Costa (2008). 43
Figura 14 – Curva de incêndio externo, em comparativo com a curva ISO 834. Fonte:
adaptado de Costa (2008). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
Figura 15 – Curva de incêndio de hidrocarbonetos. Fonte: adaptado de Costa (2008). . . 45
Figura 16 – Variação da massa específica do concreto usual em função da temperatura.
Fonte: adaptado de EN 1992-1-2:2004. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
Figura 17 – Expansão térmica em função da temperatura para o concreto. Fonte: adaptado
de Maximiano (2018). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
Figura 18 – Expansão térmica em função da temperatura para o aço. Fonte: adaptado de
Maximiano (2018). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
Figura 19 – Condutividade térmica em função da temperatura, para o concreto. Fonte:
adaptado de Maximiano (2018). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
Figura 20 – Calor específico em função da temperatura, para o concreto. Fonte: adaptado
de Maximiano (2018). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
Figura 21 – Calor específico em função da temperatura, para o aço. Fonte: adaptado de
Azevedo (2010). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
Figura 22 – Deformação versus temperatura, sob aquecimento de 5°C/min, para diferentes
níveis de tensão de compressão. Fonte: adaptado de Anderberg (1978). . . . 58
Figura 23 – Relações tensão-deformação para diferentes temperaturas. Fonte: adaptado
de Anderberg e Thelandersson (1976). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
Figura 24 – Descrição gerão da relação tensão versus deformação. Fonte: adaptado de
Anderberg e Thelandersson (1976). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
Figura 25 – Determinação de 𝜀𝑢 . Fonte: adaptado de Anderberg e Thelandersson (1976). 62
Figura 26 – Princípio do encruamento (ou trabalho a frio) para fluência. Fonte: adaptado
de Anderberg e Thelandersson (1976). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
Figura 27 – Relação entre as diferentes componentes de deformação. Fonte: adaptado de
Anderberg e Thelandersson (1976). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Figura 28 – Colapsos localizados devido a situação de incêndio em um edifício. Fonte:
adaptado de Costa (2008). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
Figura 29 – Mecanismo de colapso em estruturas biapoiadas. . . . . . . . . . . . . . . . 69
Figura 30 – Mecanismo de colapso em estruturas apoiadas-restritas à rotação. . . . . . . 69
Figura 31 – Mecanismo de colapso em estruturas engastadas-livres. . . . . . . . . . . . . 69
Figura 32 – Mecanismo de ruptura de vigas em edifícios. Fonte: adaptado de Costa (2008). 70
Figura 33 – Ação do aumento da temperatura sobre o diagrama de momento fletor de
uma viga contínua de dois vãos com carregamento distribuído uniforme, sem
o efeito da restrição a dilatação térmica. Fonte: adaptado de Costa (2008). . 71
Figura 34 – Restrição à dilatação térmica. Fonte: adaptado de Gosselin (1987). . . . . . 72
Figura 35 – Forças de ação térmica e de reação das estruturas adjacentes frias à dilatação
horizontal dos elementos aquecidos. Fonte: adaptado de Costa (2008). . . . . 72
Figura 36 – Força de reação à dilatação térmica da laje ou viga. Fonte: adaptado de Costa
(2008). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
Figura 37 – Curva carga versus deslocamento para lajes de concreto restringidas lateral-
mente. Fonte: adaptado de Gillie (2000). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
Figura 38 – Ação de membrana em lajes de concreto armado. Fonte: adaptado de Gillie
(2000). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
Figura 39 – Ação de catenária em laje de concreto armada em uma direção. Fonte:
adaptado de Costa (2008). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Figura 40 – Comparação entre os alongamentos térmicos do concreto e do aço. Fonte: EN
1992-1-2: 2004. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
Figura 41 – Laje simplesmente apoiada aquecida pela superfície inferior. Fonte: adaptado
de Lim (2003). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
Figura 42 – Laje simplesmente apoiada aquecida pela superfície inferior, com restrição
axial nos apoios. Fonte: Lim (2003). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
Figura 43 – Diagrama de corpo livre de uma laje simplesmente apoiada, com restrição.
Fonte: adaptado de Lim (2003). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
Figura 44 – Definição do termo e no diagrama de corpo livre da laje. Fonte: adaptado de
Buchanan (2001). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
Figura 45 – Componentes do momento em laje com restrição com a linha de empuxo na
parte inferior da laje. Fonte: adaptado de Lim (2003). . . . . . . . . . . . . . 85
Figura 46 – Ação de membrana de compressão para diferentes posições da linha de empuxo.
Fonte: adaptado de Lim (2003). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
Figura 47 – Componentes do momento em laje contínua com restrição. Fonte: Lim (2003). 89
Figura 48 – Modelos de incêndio e métodos de avaliação da resistência ao fogo indicados
no Eurocode 2 parte 1-2 (2004). Fonte: adaptado de Albuquerque (2018). . . 91
Figura 49 – Representação da técnica de análise não linear através do Método dos Ele-
mentos Finitos. Fonte: adaptado de PUKL et al. (2016). . . . . . . . . . . . 96
Figura 50 – Representação dos modelos de fissura incorporada. Fonte: adaptado de CER-
VENKA et al. (2017). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
Figura 51 – Função de amolecimento exponencial na tração. Fonte: adaptado de CER-
VENKA et al. (2017). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
Figura 52 – Fator de retenção ao cisalhamento segundo diferentes formulações. Fonte:
Sanabria Díaz (2018). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
Figura 53 – Modelo de amolecimento na compressão Fictitious Compression Plane Model.
Fonte: adaptado de CERVENKA et al. (2017). . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
Figura 54 – Modelo de endurecimento na compressão. Fonte: adaptado de CERVENKA
et al. (2017). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
Figura 55 – Comportamento do concreto à compressão. Adaptado de CERVENKA et al.
(2017). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
Figura 56 – Relação tensão versus deformação multilinear para representação da armadura.
Fonte: adaptado de CERVENKA et al. (2017). . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
Figura 57 – Relações analíticas de tensão de aderência versus deslizamento segundo o
CEB-FIB, MC90. Fonte: adaptado de CERVENKA et al. (2017). . . . . . . 106
Figura 58 – Elemento sólido hexaédrico isoparamétrico tipo CCIsoBrick20 3D. Fonte:
adaptado de Benedetty Torres (2018). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
Figura 59 – Elemento de barra isoparamétrico tipo CCBarWithBond 3D. Fonte: adaptado
de Benedetty Torres (2018). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
Figura 60 – Método de Newton-Raphson. Fonte: Sanabria Díaz (2018). . . . . . . . . . . 110
Figura 61 – Algoritmo para resolução de sistema pelo método Newton-Raphson. Fonte:
adaptado de Silva (2018). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110
Figura 62 – Método de Newton-Raphson Modificado. Fonte: Sanabria Díaz (2018). . . . 111
Figura 63 – Algoritmo para resolução de sistema pelo método Newton-Raphson Modifi-
cado. Fonte: adaptado de Silva (2018). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
Figura 64 – Método secante (Quase-Newton). Fonte: (Sanabria Díaz, 2018). . . . . . . . 112
Figura 65 – Detalhes de geometria, carregamento e armadura das lajes. Fonte: adaptado
de Ali et al. (2011). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
Figura 66 – Desenvolvimento da temperatura na laje S2 para diferentes profundidades.
Fonte: adaptado de Ali et al. (2011). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
Figura 67 – Deslocamento registrado para as lajes S1, S2 e S3. Fonte: adaptado de Ali et
al. (2011). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
Figura 68 – Desenvolvimento da temperatura na laje S5 para diferentes profundidades.
Fonte: adaptado de Ali et al. (2011). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
Figura 69 – Deslocamento registrado para as lajes S4, S5 e S6. Fonte: adaptado de Ali et
al. (2011). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
Figura 70 – Temperaturas na superfície inferior da laje para ensaios experimental e
numérico - exposição à curva de incêndio padrão ISO834. Fonte: adaptado de
Ali et al. (2011). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
Figura 71 – Temperaturas na superfície inferior da laje para ensaios experimental e
numérico - exposição à curva de incêndio de hidrocarbonetos. Fonte: adaptado
de Ali et al. (2011). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
Figura 72 – Geometria do modelo da laje. Vista em perspectiva. . . . . . . . . . . . . . . 122
Figura 73 – Geometria do modelo da laje. Vistas nos planos XY, XZ e YZ. . . . . . . . . 123
Figura 74 – Condições de contorno da laje. Vista em perspectiva. Geração pelo GiD. . . 124
Figura 75 – Malha de elementos finitos da laje. Vista em perspectiva. Geração pelo GiD. 125
Figura 76 – Malha de elementos finitos da laje. Vista nos planos XY e XZ. Geração pelo
GiD. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125
Figura 77 – Deformações em Z na laje para análise estática. Vista no plano XZ. . . . . . 127
Figura 78 – Fluxograma de modelagem e simulação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128
Figura 79 – Geometria do modelo da laje. Vista em perspectiva. . . . . . . . . . . . . . . 129
Figura 80 – Malha de elementos finitos da laje. Vista em perspectiva. . . . . . . . . . . . 132
Figura 81 – Malha de elementos finitos da laje. Vista nos planos XY e XZ. . . . . . . . . 132
Figura 82 – Temperatura na laje - Exposição à curva de incêndio padrão ISO 834. Vista
no plano XZ. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134
Figura 83 – Temperatura na laje - Exposição à curva de incêndio de hidrocarbonetos.
Vista no plano XZ. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134
Figura 84 – Módulo de elasticidade do concreto exposto a altas temperaturas. . . . . . . 136
Figura 85 – Deslocamento crítico à compressão do concreto exposto a altas temperaturas. 136
Figura 86 – Deformação térmica do concreto exposto a altas temperaturas. Fonte: adap-
tado de SADAGHIAN e FARZAM (2019). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136
Figura 87 – Deformação plástica no pico da tensão de compressão do concreto exposto a
altas temperaturas. Fonte: adaptado de SADAGHIAN e FARZAM (2019). . 137
Figura 88 – Temperaturas na superfície inferior da laje - exposição à curva de incêndio
padrão ISO 834. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139
Figura 89 – Temperaturas na altura da armadura - exposição à curva de incêndio padrão
ISO 834. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140
Figura 90 – Temperaturas na altura média da laje - exposição à curva de incêndio padrão
ISO 834. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
Figura 91 – Temperaturas na laje - exposição à curva de incêndio padrão ISO 834. . . . 142
Figura 92 – Temperaturas na superfície inferior da laje - exposição à curva de incêndio
de hidrocarbonetos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143
Figura 93 – Temperaturas na altura da armadura - exposição à curva de incêndio de
hidrocarbonetos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 144
Figura 94 – Temperaturas na altura média da laje - exposição à curva de incêndio de
hidrocarbonetos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
Figura 95 – Temperaturas nas quatro alturas de medição da laje - exposição à curva de
incêndio de hidrocarbonetos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146
Figura 96 – Deslocamento no centro da laje - exposição à curva de incêndio ISO 834. . . 147
Figura 97 – Deslocamentos na laje e padrão de fissuração - Exposição à curva de incêndio
padrão ISO 834. Vista no plano XZ. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148
Figura 98 – Temperaturas na laje - Exposição à curva de incêndio padrão ISO 834. Vista
no plano XZ. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148
Figura 99 – Deslocamento no centro da laje - exposição à curva de incêndio de hidrocar-
bonetos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149
Figura 100 – Deslocamentos na laje e padrão de fissuração - Exposição à curva de incêndio
de hidrocarbonetos. Vista no plano XZ. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149
Figura 101 – Temperaturas na laje - Exposição à curva de incêndio de hidrocarbonetos.
Vista no plano XZ. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149
Figura 102 – Resistência à compressão relativa do concreto com agregados siliciosos e
calcários sob temperaturas elevadas (Adaptado de Bacinskas et.al., 2007
(BACINKAS et al., 2007)). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150
Figura 103 – Deslocamento no centro da laje - Curva de incêndio ISO834. . . . . . . . . . 151
Figura 104 – Deslocamento no centro da laje - Curva de incêndio de hidrocarbonetos. . . 151
Figura 105 – Deslocamento no centro da laje - Análise paramétrica. . . . . . . . . . . . . 152
Lista de tabelas
1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
1.1 Considerações iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
1.2 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
1.2.1 Objetivos Específicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
1.3 Justificativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
1.4 Estrutura da dissertação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.1 Considerações gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.2 O fogo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.3 Testes de incêndio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.3.1 Testes de incêndio em fornos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.3.2 Testes de incêndio em escala natural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
2.4 Caracterização do incêndio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
2.5 Curvas de incêndio padrão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
2.5.1 Curva de incêndio-padrão da ISO 834 (1999) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
2.5.2 Curva de incêndio externo (EN 1991-1-2: 2002) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
2.5.3 Curva de incêndio de hidrocarbonetos (EN 1991-1-2: 2002) . . . . . . . . . . . . 45
2.6 Propriedades do concreto sob altas temperaturas . . . . . . . . . . . . . . 45
2.6.1 Massa específica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
2.6.2 Expansão térmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
2.6.3 Condutividade térmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
2.6.4 Calor específico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
2.7 Propriedades do aço sob altas temperaturas . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
2.7.1 Massa específica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
2.7.2 Expansão térmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
2.7.3 Condutividade térmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
2.7.4 Calor específico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
2.8 Propriedades mecânicas do concreto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
2.8.1 Modelo constitutivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
2.8.2 Deformação total (𝜀𝑇 ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
2.8.3 Deformação térmica (𝜀𝑡ℎ ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
2.8.4 Deformação instantânea, relacionada à tensão (𝜀𝜎 ) . . . . . . . . . . . . . . . . 59
2.8.4.1 Tensão última (𝜎𝑢 ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
2.8.4.2 Deformação última (𝜀𝑢 ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
2.8.4.3 Inclinação do ramo descendente (E*) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
2.8.4.4 Tensão e temperatura variáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
2.8.5 Deformação devido à fluência (𝜀𝑐𝑟 ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
2.8.6 Deformação transiente (𝜀𝑡𝑟 ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
2.9 Desempenho estrutural de elementos de concreto expostos ao fogo . . . 66
2.9.1 Comportamento do concreto ao fogo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
2.9.2 Colapso estrutural em situação de incêndio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
2.9.3 Modos de ruptura em situação de incêndio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
2.9.3.1 Flexão simples . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
2.9.3.2 Restrição à dilatação térmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
2.9.4 Ação de membrana e de catenária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
2.9.4.1 Ação de membrana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
2.9.4.2 Ação de catenária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
2.9.5 Aderência entre os materiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
2.10 Lascamento do concreto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
2.10.1 Lascamento explosivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
2.11 Lajes em situação de incêndio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
2.11.1 Lajes unidirecionais simplesmente apoiadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
2.11.2 Lajes de piso unidirecionais com restrição axial . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
2.11.2.1 Efeito da linha de empuxo em diferentes condições de apoio . . . . . . . . . . . . . 87
2.11.3 Efeito da continuidade na resistência ao fogo em lajes . . . . . . . . . . . . . . . 88
2.12 Recomendações normativas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
2.12.1 EUROCODE 2 Parte 1-2 (2004) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
2.12.2 ABNT NBR 15200:2012 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
2.13 Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
5 RESULTADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138
5.1 Validação do modelo térmico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138
5.1.1 Lajes expostas à curva de incêndio padrão ISO 834 . . . . . . . . . . . . . . . . 138
5.1.1.1 Temperatura na superfície inferior da laje – Curva ISO 834 . . . . . . . . . . . . . . 139
5.1.1.2 Temperatura na altura da armadura – Curva ISO 834 . . . . . . . . . . . . . . . . . 140
5.1.1.3 Temperatura na altura média da laje – Curva ISO 834 . . . . . . . . . . . . . . . . 141
5.1.1.4 Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142
5.1.2 Lajes expostas à curva de incêndio de hidrocarbonetos . . . . . . . . . . . . . . 142
5.1.2.1 Temperatura na superfície inferior da laje – Curva de Hidrocarbonetos . . . . . . . . 143
5.1.2.2 Temperatura na altura da armadura – Curva de Hidrocarbonetos . . . . . . . . . . . 144
5.1.2.3 Temperatura na altura média da laje – Curva de Hidrocarbonetos . . . . . . . . . . . 145
5.1.2.4 Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146
5.2 Modelo termomecânico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147
5.2.1 Lajes expostas à curva de incêndio padrão ISO 834 . . . . . . . . . . . . . . . . 147
5.2.2 Lajes expostas à curva de incêndio de hidrocarbonetos . . . . . . . . . . . . . . 148
5.3 Análise paramétrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150
6 CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153
6.1 Sugestões para trabalhos futuros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 156
1 Introdução
Os dados estatísticos apresentados pelo boletim do World Fire Statistics (2018) apontam
que as maiores relações entre casos de incêndio em estruturas versus todos os casos de incêndio
registrados estão concentradas em países em desenvolvimento, como Bielorrússia, Singapura
e Rússia. Também apresenta-se no documento que a maior taxa de mortes em incêndio em
estruturas está nestes países, com destaque para Rússia e Letônia. A Figura 1 apresenta a
distribuição de casos de incêndio de acordo com a classificação por tipos proposta pelo boletim.
Nota-se que incêndio em estruturas é o tipo com maior concentração de casos.
Estruturas
Outros
35,0%
23,8%
18,8% 13,5%
Gramados
8,9% Veículos
Lixo
Figura 1 – Distribuição dos casos de incêndio - tipos. Adaptado de World Fire Statistics (2018).
Os resultados da pesquisa realizada pelo World Fire Statistics (2015) mostram que, no
Brasil, houveram 1389 mortes devido ao fogo no ano de 2015. 20 outros países estão na mesma
faixa de número de mortes por fogo anual, dentre eles o Reino Unido, a Alemanha e o México.
Capítulo 1. Introdução 26
A norma brasileira NBR 15200: 2012 permite que os efeitos dos esforços adicionais de
origem térmica sejam desprezados em projeto. Entretanto, esta consideração deve ser função das
dimensões do elemento estrutural, além de sua composição na estrutura como um todo. Costa
(2008) apresenta como exemplo o caso de uma laje de piso extensa, sem juntas de dilatação e
com grandes vãos contínuos. Neste caso, o cálculo dos esforços é necessário, sendo feito através
de métodos de cálculo gerais ou experimentais.
Quando ocorre um colapso localizado, os efeitos deste impacto são ações que podem
ser previstas para o caso de o edifício sofrer tal impacto (EN 1991 1-2: 2002), por exemplo a
situação de uma laje de piso ter capacidade de suportar a queda de um elemento tipo viga ou
laje do pavimento superior durante o incêndio (COSTA, 2008).
Capítulo 1. Introdução 27
No geral, a Figura 2 é apenas para lajes, elemento estrutural onde a ação do vento é
desprezada no cálculo da combinação última normal de ações (COSTA, 2008). Para os demais
elementos, o valor de 𝜂𝑓 𝑖 é adotado como 0,7, à favor da segurança (EN 1992-1-2:2004, NBR
15200:2012).
0,9
0,7.ψ2 = 0,21
0,8 0,7.ψ2 = 0,28
0,7.ψ2 = 0,42
0,7
ηfi = Fd,fi / Fd
0,6
0,5
0,4
0,3
Figura 2 – Variação do fator de redução 𝜂𝑓 𝑖 com a ação variável principal relativa 𝜉. Fonte:
Adaptado de Costa (2008).
Em um edifício, as lajes são os elementos da estrutura que estão menos carregados e são
os de maior ductilidade, ou seja, têm grande capacidade de deformação. Em uma situação de
incêndio, as lajes mantêm-se estáveis após o Estado Limite Último ser ultrapassado (COSTA,
2008; HUANG et al., 2002; HUANG et al., 2004; LIM, 2003). Entretanto, as lajes devem garantir
a integridade física da estrutura no quesito de compartimentação. Se ocorrerem deformações
extremas, o isolamento e a estanqueidade podem ser afetados. Caso venha a sofrer colapso, haverá
propagação do incêndio entre os pavimentos, o incêndio será estendido e os danos estruturais
serão maiores (COSTA, 2008).
Isolamento
Estabilidade
Estanqueidade
Em 27 de janeiro de 2013, a boate Kiss, em Santa Maria (Rio Grande do Sul) sofreu
um incêndio durante uma festa universitária. Esta foi uma das maiores tragédias nacionais em
número de vítimas: 242 mortos e 636 feridos. Na Figura 5 é possível ver a situação final da
boate após o incêndio.
O Museu Nacional do Rio de Janeiro, um dos principais no Brasil, foi destruído por um
incêndio no dia 2 de setembro de 2018 (Figura 6). Como não estava acontecendo visitação no
horário da tragédia, não houveram vítimas. 90% do acervo foi devastado pelo fogo.
A edificação não estava em situação regular junto ao Corpo de Bombeiros, e não possuía
portas corta-fogo. Grande parte de sua estrutura era em madeira. Durante o incêndio, os
hidrantes não se encontravam carregados.
O incêndio com maior número de mortes no Brasil foi em Niterói (RJ), em uma tragédia
no Gran Circus Norte-Americano, no dia 17 de dezembro de 1961. O incêndio, que foi resultado
de um crime planejado por um ex-funcionário do circo, matou 503 pessoas, sendo 70% crianças.
(a) (b)
O lascamento do concreto sujeito a altas temperaturas é um dos fatores que reduzem sua
resistência ao fogo. LO MONTE e Felicetti (2017) mostram que o lascamento varia em função
de diversos parâmetros dos materiais constituintes do concreto (teor de umidade, porosidade,
permeabilidade, resistência à tração e resistência à compressão) e de fatores estruturais (taxa de
aquecimento e ações às quais a edificação está sujeita). Tais aspectos colaboram para que os
principais fatores que provocam o lascamento evoluam: o estresse que surge devido às cargas
térmicas tipo gradiente e às cargas externas; e a pressão dos poros que se desenvolve devido à
vaporização da água existente.
Estes aspectos são apresentados por Reddy e Ramaswamy (2017). Quando o concreto é
exposto a elevadas temperaturas, seus poros sofrem um acúmulo elevado de pressão. Esta pode
evoluir de forma que o calcário exploda – caso seja pouco permeável. Entre a pasta de cimento
e os agregados presentes no concreto, ocorre uma expansão diferencial, provocando então um
estresse elevado, surgindo assim rachaduras na zona de transição interfacial dos materiais.
O concreto sujeito a altas temperaturas sofre dois tipos de processos inseparáveis, segundo
Debicki et al. (2012). O primeiro processo, denominado termomecânico, caracteriza-se pela
formação de tensões devido ao gradiente de deformação térmica. O segundo, denominado
termo-hidratado, provoca uma força motriz para o fluxo de calor e água líquida.
Capítulo 1. Introdução 33
Segundo Bazant e Kaplan (1996), o fenômeno do lascamento possui dois motivos principais.
O primeiro refere-se à hipótese de que a elevação da temperatura leva a altas pressões de vapor
de água nos poros do concreto. Com isso, as tensões internas crescem e ocorre o lascamento.
O segundo motivo é relativo à hipótese de que o aquecimento de forma rápida leva a uma
expansão térmica, e esta é controlada pelo concreto circundante. Desta forma, surge uma tensão
de compressão que pode resultar no esmagamento do concreto, provocando danos à sua camada
superficial.
1.2 Objetivos
O objetivo geral desse trabalho é a análise numérica do comportamento combinado
termomecânico de lajes de concreto armado quando expostas ao fogo, através de modelagem
estrutural em elementos finitos nos programas computacionais ATENA e GID. O modelo
numérico em elementos finitos foi ajustado a partir dos resultados de ensaios experimentais
realizados por Ali et al. (2011) na Universidade de Ulster.
• Realizar uma revisão dos parâmetros que influenciam o comportamento térmico de lajes
de concreto armado de resistência normal expostas ao fogo;
• Realizar estudo paramétrico das propriedades térmicas dos agregados utilizados no concreto
com o modelo calibrado, analisando-se numericamente o comportamento estrutural da laje
e procurando parâmetros comportamentais para os diferentes tipos de lajes estudados.
Capítulo 1. Introdução 34
1.3 Justificativa
Com o crescente número de acidentes envolvendo incêndio em estruturas de concreto
armado no Brasil, com destaque para o acidente no Edifício Wilton Alves de Almeida, ocorrido
em 1º de maio de 2018 em São Paulo/SP, cresce a necessidade de se estudar o comportamento de
tais estruturas submetidas a altas temperaturas de forma a evitar que novas tragédias ocorram.
Muitas pesquisas – tanto experimentais quanto analíticas – foram e estão sendo desen-
volvidas no âmbito de estudo do comportamento do concreto exposto ao fogo. Entretanto, a
grande maioria das pesquisas é focada nos elementos estruturais tipo pilares e vigas, sendo
menos frequente o estudo de lajes.
A utilização de modelos numéricos para análise das estruturas de concreto armado frente
a ensaios laboratoriais é vantajosa em termos de tempo, custo e dificuldade do ensaio. Simulações
de incêndio em laboratório têm limitações devido às dimensões dos fornos, riscos de explosões e
danificação dos materiais, além do alto custo.
as características e dados de entrada que foram estipulados para a concepção dos modelos
numéricos.
2 Revisão bibliográfica
2.2 O fogo
O fogo possui diversas definições ao redor do mundo. Pela definição da norma brasileira
NBR 13860:1997, o fogo é um processo químico de combustão de diversos materiais caracterizado
pela emissão de calor e luz.
calor
el
comb
ustív
uren
comb
reações
te
em cadeia
Os fornos podem ser verticais (para avaliar pilares e paredes) ou horizontais (para avaliar
lajes e vigas) (MORENO JUNIOR et al., 2013). Lajes e paredes podem ser analisadas no mesmo
Capítulo 2. Revisão bibliográfica 38
forno, desde que este tenha sua movimentação possível de alterar para trabalho na vertical e na
horizontal. O forno mais comum é o vertical.
No Brasil, existem três grandes fornos verticais, localizados nos seguintes laboratórios:
(a) Forno IPT. Fonte: (SEITO; (b) Forno Furnas. Fonte: (SEITO; (c) Forno UNICAMP. Fonte:
SILVA, 2006). SILVA, 2006). (SANT’ANNA; MORENO
JUNIOR, 2011).
Nenhum dos fornos citados permite o ensaio de lajes e vigas em tamanho real com carre-
gamento (MORENO JUNIOR et al., 2013). Fornos horizontais apresentam grandes dimensões
internas, e seu custo é bastante elevado se comparado aos fornos verticais, o que justifica a
inexistência deles em laboratórios de diversos países.
Os ensaios em fornos são realizados expondo determinadas superfícies dos corpos de prova
a uma elevação de temperatura que simula o incêndio. As amostras são analisadas em condições
que se assemelham à situação em serviço, ou seja, com carga e restrições de deslocamento.
Dentro do forno e dos corpos de prova são instalados termopares para controle e medição das
temperaturas.
Capítulo 2. Revisão bibliográfica 39
O corpo de prova é considerado resistente ao fogo enquanto, durante um ensaio, ele atende
aos critérios predeterminados de estabilidade, integridade e isolamento térmico (LEVESQUE,
2006).
O teste mais completo e de maior compreensão ocorreu nos laboratórios Building Research
Establishment’s Cardington, do Reino Unido, entre janeiro de 1995 e julho de 1996 (LEVESQUE,
2006). Foi realizada uma série de experimentos em uma estrutura mista de aço e concreto de
oito pavimentos, apresentada na Figura 11. Como resultado destes testes, foram desenvolvidos
diversos modelos numéricos e teóricos de simulação do comportamento de estruturas ao fogo,
permitindo um melhor entendimento do desempenho de estruturas em incêndios extremos.
Figura 11 – Estrutura de oito pavimentos para ensaio de incêndio em escala real em Cardington,
Reino Unido. Fonte: Nogueiro et al. (2005).
Capítulo 2. Revisão bibliográfica 40
O incêndio tem seu início na origem do fogo - um fenômeno físico-químico, onde ocorre a
reação de oxidação e a emissão de calor e luz devido à combustão de materiais com características
inflamáveis (MAXIMIANO, 2018).
Para que ocorra a situação de incêndio, é preciso que existam três fatores simultâneos
pertencentes ao triângulo do fogo: fonte de calor, combustível e comburente (oxigênio). As
quatro fases apresentadas na curva, utilizadas na modelagem do incêndio, são (MAXIMIANO,
2018):
por uma expansão nas três fases anteriores, nesta fase podem sofrer retração e desenvolver
instabilidade. Ocorre um atraso no início do resfriamento da estrutura por razão da inércia
térmica: a temperatura continua em elevação por poucos minutos mesmo durante o resfriamento
(PURKISS; LI, 2017).
Figura 13 – Curvas nominais para materiais celulósicos. Fonte: adaptado de Costa (2008).
Capítulo 2. Revisão bibliográfica 44
Figura 14 – Curva de incêndio externo, em comparativo com a curva ISO 834. Fonte: adaptado
de Costa (2008).
Esta curva é utilizada para elementos que estão na fachada dos edifícios e, portanto,
estão sob ação de temperaturas menos intensas do que os elementos que estão na área interna,
onde estão as chamas. Os elementos externos são as paredes, marquises e parapeitos, atingidos
pelo incêndio devido à presença de aberturas - portas e janelas.
Capítulo 2. Revisão bibliográfica 45
• propriedades térmicas:
massa específica;
calor específico;
condutividade térmica;
expansão térmica.
• propriedades mecânicas:
resistência;
rigidez.
As equações na sequência são apresentadas pelo Eurocode 2 (EN 1992- 1-2: 2004) para
concretos com agregados silicosos ou calcáreos, em temperaturas que variam dos 20°C aos
1200°C.
Capítulo 2. Revisão bibliográfica 47
onde:
Como apresentado em revisão feita por Costa (2008), na prática, a redução da massa
específica do concreto de densidade normal aquecido é pouco significativa em relação às demais
propriedades térmicas. Desta forma, considera-se a massa específica como independente da
elevação de temperatura.
No caso de modelos simplificados de cálculo, adota-se uma única função linear entre a
expansão térmica e a temperatura, como apresentado na sequência.
Nas equações:
Para altas temperaturas, o concreto pode apresentar maior dilatação do que o aço. As
Figuras 17 e 18 ilustram a variação da expansão térmica em função da temperatura para o
concreto e o aço, respectivamente.
25
Valor optativo simplificado
Agregado silicoso
20 Agregado calcário
Alongamento térmico (10 E-3)
Baixa densidade
15
10
0
0 200 400 600 800 1000 1200
Temperatura (°C)
Limite inferior
Limite superior
Nas equações:
A curva do limite superior teve sua dedução realizada através de ensaios com estruturas
mistas, enquanto que a curva do limite inferior teve sua dedução feita por ensaios de diversas
estruturas de concreto sob ação de altas temperaturas (EN 1992-1-2:2004) (MAXIMIANO,
2018). Mais detalhes sobre as formulações podem ser encontrados no trabalho de Costa (2008).
Capítulo 2. Revisão bibliográfica 52
1,8
Condutividade térmica (W/m °C)
1,6
0,8
0,6
0,4
0 200 400 600 800 1000 1200
Temperatura (°C)
onde:
Quando os teores de umidade são diferentes dos apresentados acima, pode-se realizar
a interpolação linear. Em concretos de baixa densidade, o calor específico não depende da
temperatura, e seu valor é constante igual a 840 J/kg°C (MAXIMIANO, 2018).
Nas equações:
Aço:
No caso de modelos simplificados de cálculo, adota-se uma única função linear entre a
expansão térmica e a temperatura, como apresentado na sequência.
Aço:
Nas equações:
Nas equações:
5000
Calor específico (J/kg °C)
4000
3000
2000
1000
0
0 200 400 600 800 1000 1200
Temperatura (°C)
Figura 21 – Calor específico em função da temperatura, para o aço. Fonte: adaptado de Azevedo
(2010).
Capítulo 2. Revisão bibliográfica 57
Para que a formulação seja o mais adequada possível, a deformação total é dada como o
somatório de quatro parcelas diferentes, cada uma relacionada a um teste diferente, sendo elas:
𝜀𝑇 = 𝜀𝑡ℎ (𝑇 ) + 𝜀𝜎 (𝜎,
̃︀ 𝜎, 𝑇 ) + 𝜀𝑐𝑟 (𝜎, 𝑇, 𝑡) + 𝜀𝑡𝑟 (𝜎, 𝑇 ) (2.8.1)
onde:
𝜀𝑇 = deformação total;
T = temperatura;
𝜎 = tensão;
t = tempo.
Capítulo 2. Revisão bibliográfica 58
Figura 24 – Descrição gerão da relação tensão versus deformação. Fonte: adaptado de Anderberg
e Thelandersson (1976).
𝜎 = 0 quando 𝜀𝜎 = 0
𝜎 = 𝜎𝑢 quando 𝜀𝜎 = 𝜀𝑢
𝛿𝜎
= 0 quando 𝜀𝜎 = 𝜀𝑢
𝛿𝜀𝜎
onde:
𝜀𝜎 𝜀𝜎
𝜎 = 𝜎𝑢 · · (2 − ) (2.8.2)
𝜀𝑢 𝜀𝑢
𝜎𝑢
𝐸𝑐 = 2 · (2.8.3)
𝜀𝑢
Quando 𝜀1 > 𝜀𝜎 ,
𝜎 = 𝐸 * · 𝜀𝜎 + 𝜎* (2.8.4)
onde:
𝐸* 2
𝜎* = 𝜎𝑢 · (1 − ) (2.8.5)
𝐸𝑐
O ponto de transição 𝜀1 é obtido pela equação a seguir:
𝐸*
𝜀1 = (1 − ) · 𝜀𝑢 (2.8.6)
𝐸𝑐
onde:
𝜀𝑢 (𝑇, 0) = 𝜀𝑢 (𝑇 ) (2.8.8)
Assume-se que, no tempo 𝑡𝑖−1 , são conhecidas a tensão (𝜎𝑖−1 ), a deformação (𝜀𝜎,𝑖−1 ) e
a temperatura (𝑇𝑖−1 ). No passo seguinte (𝑡𝑖 = 𝑡𝑖−1 + Δ𝑡𝑖 − 1), a temperatura 𝑇𝑖 também é
conhecida.
𝜎𝑖−1
𝜀0,𝑖−1 = 𝑚í𝑛(𝜀0,𝑖−2 , 𝜀𝜎,𝑖−1 − ) (2.8.9)
𝐸𝑐,𝑖−1
𝜎 𝑖
𝜀𝑐𝑟 = 𝛽𝑜 · · ( )𝑝 · 𝑒𝑘1·(𝑇 −20) (2.8.10)
𝜎𝑢 (𝑇 ) 𝑡𝑟
onde:
𝛽𝑜 = -0,53 · 10−3
𝜎 = tensão
t = tempo
𝑡𝑟 = 3 horas
p = 0,5
T = temperatura
Capítulo 2. Revisão bibliográfica 64
Quando a temperatura e a tensão variam com o tempo, 𝜀𝑐𝑟 comporta-se como apresentado
na Figura 26.
i+1
Figura 26 – Princípio do encruamento (ou trabalho a frio) para fluência. Fonte: adaptado de
Anderberg e Thelandersson (1976).
O valor de 𝜀𝑡𝑟 é obtido pela diferença entre a deformação total medida em um ensaio
(𝜀𝑇 ) e as componentes 𝜀𝑡ℎ , 𝜀𝜎 e 𝜀𝑐𝑟 :
• Mecanismos primários: são definidos através de suas vinculações e pela aplicação de carre-
gamento. As estruturas são projetadas para estes mecanismos, à temperatura ambiente;
Sob altas temperaturas, elementos estruturais como lajes e pilares-parede podem eventu-
almente se comportar como elementos de compartimentação, garantindo estabilidade, estan-
queidade e isolamento térmico simultaneamente. Esses comportamentos podem ser definidos
como:
Define-se o colapso local como a falha de um único elemento, sem que a estabilidade
global da edificação seja afetada. Este não provoca desabamento da estrutura, mas pode seccionar
um elemento em particular, e é um indício de risco de colapso iminente.
Edifícios altos são formados estruturalmente por pórticos, paredes e caixas estruturais, e
recebem as ações horizontais e verticais, distribuindo-as pelas lajes, vigas e pilares (COSTA,
2008). Quando em situação de incêndio, deve-se levar em consideração o grau de continuidade
dos pórticos para o entendimento do comportamento estrutural.
O colapso local leva a riscos que variam com o tipo e a localização da ruptura. O caso
de ruptura local em pilares é perigoso, pois este é o elemento estrutural que receberá as cargas
provenientes das lajes e das vigas. Todos os pilares de um edifício compõem a estabilidade global
deste, e recebem esforços de compressão e momento nas direções principais de forma simultânea.
Capítulo 2. Revisão bibliográfica 68
(a) Ruptura de pilares. (b) Ruptura de lajes. (c) Ruptura de lajes ou vigas essen-
ciais para o travamento horizon-
tal.
Para o caso de estruturas de concreto armado, as vigas e lajes, sejam elas isostáticas ou
hiperestáticas, estão sujeitas à flexão simples.
Nestes elementos isostáticos, as ações são vencidas pela armadura posicionada na região
de tração da seção. Em edificações usuais, o incêndio não fará com que o concreto da região
comprimida da seção - região superior - tenha um aquecimento significativo. Com isso, o colapso
Capítulo 2. Revisão bibliográfica 69
acontece devido à região tracionada, na seção de maior esforço (centro do vão): o aço, quando
atinge determinada temperatura, chega na tensão crítica (COSTA, 2008). A ruptura das lajes e
vigas em projetos estruturais é dúctil, devido ao comportamento do aço e à sua aderência sob
ação do fogo, com exceção para elementos em concreto protendido com cordoalhas engraxadas.
(a) Estrutura isostática (b) Diagrama de momentos (c) Linha elástica (d) Mecanismo de colapso
(a) Estrutura isostática (b) Diagrama de momentos (c) Linha elástica (d) Mecanismo de colapso
(a) Estrutura isostática (b) Diagrama de momentos (c) Linha elástica (d) Mecanismo de colapso
Vigas e lajes hiperestáticas podem sofrer grandes rotações e, ainda assim, conseguem
realizar a redistribuição dos esforços. Uma única rótula plástica não causará danos para a
estabilidade; serão necessários diversos mecanismos de ruptura simultâneos e em mais de uma
seção do elemento estrutural (Figura 32).
Capítulo 2. Revisão bibliográfica 70
A tendência, para as lajes e vigas hiperestáticas aquecidas pela face inferior, é que
ocorra expansão e flexão. Entretanto, as ligações monolíticas de concreto armado - ligações
perfeitamente rígidas, como a ligação viga-pilar - fazem com que a expansão térmica não ocorra.
Sendo assim, surgem momentos de reação contrários à flexão nos apoios, levando a um aumento
do momento negativo; ou seja, o momento positivo é reduzido no meio do vão com o aumento
do momento nos apoios, como é possível analisar na Figura 33.
Enquanto não ocorrer o escoamento da armadura superior, que está fria, os apoios
continuarão sofrendo crescimento de momentos. A capacidade resistente máxima somente será
atingida quando todas as rótulas plásticas forem formadas em todos os apoios (intermediários e
no meio dos vãos).
Os momentos podem ser redistribuídos caso os apoios possuam armadura negativa extra
suficiente para suportar as rotações das seções, de maneira que não ocorra ruptura frágil do
Capítulo 2. Revisão bibliográfica 71
concreto na região de compressão dos apoios. Esta armadura também deve ter comprimento de
ancoragem que cubra o deslocamento dos pontos de inflexão do diagrama de momentos.
As'
x20°C lb MR lb
x1
Diagrama resultante
de momentos
Md+,fi= Mplastificação Md+,fi= Mplastificação
pontos de inflexão em
situação de incêndio
4º pavimento
3º pavimento
incêndio
2º pavimento
1º pavimento
térreo
3º pavimento
incêndio
2º pavimento
Figura 35 – Forças de ação térmica e de reação das estruturas adjacentes frias à dilatação
horizontal dos elementos aquecidos. Fonte: adaptado de Costa (2008).
Capítulo 2. Revisão bibliográfica 73
Para os elementos estruturais do tipo lajes, o resultado devido a esta restrição varia com
(COOKE, 2001):
• a espessura do elemento;
• a densidade do concreto;
• a porosidade do concreto;
• o nível de carregamento;
• a taxa de aquecimento;
• o tipo de revestimento.
incêndio e>0
incêndio e>0
Figura 36 – Força de reação à dilatação térmica da laje ou viga. Fonte: adaptado de Costa
(2008).
Capítulo 2. Revisão bibliográfica 74
Quando o incêndio tem início, ocorre a compressão do elemento devido à força de reação
que atua nos apoios da estrutura. Quando a temperatura atinge um nível uniforme pela seção,
o gradiente térmico é, portanto, inferior àquele do início do sinistro. Como existirá uma grande
deformação com o passar do tempo, a linha neutra é deslocada para um nível inferior à linha de
ação da reação de compressão, fazendo com que o momento no meio do vão do elemento cresça
até que ocorra a falha por excesso de solicitação na armadura de tração.
Em lajes restringidas lateralmente, ocorrem dois tipos de ação de membrana que garantem
força extra para o elemento em situações extremas: a ação de membrana de compressão e a
ação de membrana de tensão. A Figura 37 mostra o comportamento típico de lajes com bordos
restringidos. Ambas as ações de membrana podem ocorrer também em elementos mistos (aço e
concreto).
Carga
B D
A
0
0 Deslocamento
Figura 37 – Curva carga versus deslocamento para lajes de concreto restringidas lateralmente.
Fonte: adaptado de Gillie (2000).
A partir do ponto B, a carga suportada pela laje se reduz de forma rápida até o ponto
C, onde as tensões de compressão no centro da laje mudam para tensões de tração. Com isso, o
comportamento da laje passa a ser similar ao de uma rede, como na Figura 38b.
Em lajes de concreto armado, sua resistência é garantida pela armadura positiva, posici-
onada na região inferior do elemento, onde a ação térmica é mais intensa. Entretanto, não é
comum utilizar armadura anti-fissura em lajes moldadas in loco (COSTA, 2008).
carga
carga
Figura 38 – Ação de membrana em lajes de concreto armado. Fonte: adaptado de Gillie (2000).
As flechas que ocorrem em lajes com armadura em uma única direção são frequentemente
superiores às flechas de lajes armadas nas duas direções.
Para o caso de lajes isostáticas, a ação de catenária ocorre antes do colapso estrutural,
no momento em que a expansão devido à temperatura e as restrições não têm influência mais
sobre a resistência (COOKE, 2001).
Quando a laje está restrita à tração horizontal em seus apoios de forma suficiente, as
flechas provocam um comportamento de elemento de cabo: a solicitação é suspensa através da
ação de catenária pela tração no plano médio (LIM et al., 2004).
Capítulo 2. Revisão bibliográfica 77
Pela Figura 39, analisa-se o suporte do carregamento pela tração axial, o que caracteriza
um elemento de cabo, logo após a estrutura de placa não mais suportar os esforços de flexão.
Ft Ft
H H
V V
Δ=l/20
posição
inicial tração
catenária
Figura 39 – Ação de catenária em laje de concreto armada em uma direção. Fonte: adaptado de
Costa (2008).
A aderência das armaduras é uma propriedade que depende dos seguintes fatores (ASSIS
JÚNIOR, 2005):
2
Agregados silicosos
Agregados calcáreos
Aço laminado a quente
Aço laminado a frio
1,5
Δl/lθ (%)
0,5
0
0 200 400 600 800 1000 1200
Temperatura (°C)
Se a ausência de aderência entre os materiais levar à falha da ancoragem direta das arma-
duras longitudinais de flexão, ocorre então a chamada ruptura por flexão. Se houver deslizamento
da armadura longitudinal na região de ancoragem, ocorre a ruptura por cisalhamento.
O aquecimento de um elemento de concreto em apenas uma das faces cria duas frentes
móveis: a frente de calor e a de umidade. Ambas se afastam da face aquecida do concreto para
o lado frio e não aquecido. A velocidade das duas frentes depende de vários fatores, incluindo a
taxa de aquecimento onde as duas frentes podem se encontrar a uma distância específica dentro
do concreto. Isso faz com que a água se transforme em vapor. A acumulação de alta pressão de
vapor, podendo atingir um intervalo de 3 a 5 MPa, é uma das responsáveis por explosões no
concreto (ALI et al., 2011).
Estes aspectos influenciam a evolução dos dois principais atores que levam ao lascamento,
ou seja:
O lascamento do concreto pode ser classificado em 3 tipos básicos (COSTA et al., 2002),
variando com a severidade e as soluções possíveis para o dano, sendo eles:
• pipocamento (pop out): lascamento localizado. Ocorre devido ao aquecimento dos agregados,
que têm um aumento de aproximadamente 1% de volume, quando a temperatura atinge
níveis próximos a 600°C;
Como apresentado por Debicki et al. (2012), o lascamento explosivo é uma falha frágil e
ocorre de forma repentina e violenta. Isso ocorre devido às tensões impostas à estrutura, criando
energias internas de alta tensão. Muito mais tarde, no período de exposição ao fogo, pode ser
alcançada a máxima resistência à tração do concreto, envolvendo rachaduras de concreto e
queda de peças de material.
Capítulo 2. Revisão bibliográfica 81
Rafi et al. (2017) mostram que o lascamento em concreto ocorre quando a resistência à
tração é superada pelas tensões de tração. As tensões são aplicadas tanto pela pressão do vapor
nos poros do concreto, quanto pelo diferencial de temperatura em toda a seção transversal.
O refluxo explosivo foi observado em seus ensaios em alguns dos corpos de prova de concreto
durante o aquecimento a 400°C a 650°C. Os cilindros produziam barulho alto.
Durante a pesquisa, Rafi et al. (2017) apresentaram que os fatores responsáveis por
causar lascamento explosivo de concreto incluem idade, teor de umidade, tipo de agregados,
método de cura e taxa de aquecimento. Foi utilizada no ensaio uma taxa de aquecimento lenta
(5°C/min) para aquecer os corpos de prova. Os fatores de idade, tipos de agregados e método de
cura foram descartados, pois estes eram os mesmos para todos os corpos de prova. Embora os
teores de umidade não tenham sido medidos no estudo apresentado, os resultados da resistência
à tração do concreto indicaram que as resistências à tração dos grupos de corpos de prova
testados a 700°C e 900°C foram similares aos demais lotes.
Terrasi et al. (2012) mostram em sua pesquisa que a adição de microfibras de polipropileno
a uma mistura de concreto ajuda a reduzir ou evitar o lascamento explosivo do concreto durante
um incêndio. O Eurocode 2 sugere que, na mistura de concreto, é necessário mais de 2 kg/m3
de fibras de polipropileno para classes de resistência ao concreto de 80 a 105 MPa. A adição
de fibras de polipropileno foi, portanto, considerada essencial para evitar o desprendimento do
concreto C90 de alta resistência utilizado nas lajes do estudo.
As lajes têm uma função extremamente importante durante incêndios. A previsão de seu
comportamento nessa condição pode ser dividida em duas áreas: a resposta térmica de placas, e
a resposta estrutural.
Hamerlinck et al. (1990) descrevem modelos para ambas as respostas de lajes: térmica
e estrutural. O modelo térmico utilizou o método de diferenças finitas para determinação da
temperatura da laje em três dimensões para uma dada curva de temperatura versus tempo,
levando em consideração a transferência de calor convectiva e radiativa desde o compartimento
de incêndio até a laje, e a condução de calor através da estrutura. No trabalho, foi feito um
comparativo com o modelo experimental.
O modelo estrutural foi baseado nas relações momento-curvatura para lajes simplesmente
apoiadas. Foram feitas considerações para a expansão térmica, a degradação das propriedades
do material e os gradientes térmicos. Como a laje era armada em apenas uma direção, não foi
considerado o efeito de membrana.
Após 5 anos, Hamerlinck e Twilt (1995) apresentaram uma descrição para o compor-
tamento de lajes mistas aquecidas, com destaque para os efeitos benéficos da restrição axial
normalmente ignorados nos testes de incêndio padronizado.
incêndio
Figura 41 – Laje simplesmente apoiada aquecida pela superfície inferior. Fonte: adaptado de
Lim (2003).
Capítulo 2. Revisão bibliográfica 83
Esse gradiente faz com que a laje de concreto sofra uma expansão e uma deformação no
sentido da gravidade. A deformação vertical ocorre principalmente devido à curvatura térmica
da laje, resultado da expansão não linear.
Δ
T
incêndio
Figura 42 – Laje simplesmente apoiada aquecida pela superfície inferior, com restrição axial nos
apoios. Fonte: Lim (2003).
Pelo diagrama de corpo livre apresentado na Figura 43, é possível fazer o equilíbrio de
forças. Sendo assim, a tensão de compressão C é igual ao somatório de forças de tensão na
armadura (C = S + T).
O equilíbrio entre o momento aplicado e a força resistente no meio do vão, na falha, leva
à seguinte equação, baseada em Harmathy (1993):
𝑤 · 𝐿2
𝑅𝑓+𝑜𝑔𝑜 = − 𝑇 · (𝑧0 − Δ) (2.11.1)
8
onde:
𝑧0 = distância entre a posição da força de empuxo e o eixo central da laje nos apoios;
Capítulo 2. Revisão bibliográfica 84
Δ
C
T e
z0
z0 - Δ
S
Figura 43 – Diagrama de corpo livre de uma laje simplesmente apoiada, com restrição. Fonte:
adaptado de Lim (2003).
Buchanan (2001) apresenta uma formulação bastante semelhante, com a adição do termo
e, o qual representa a distância entre a linha de empuxo nos apoios e o centro da parcela de
compressão do concreto, no meio do vão:
𝑤 · 𝐿2
𝑅𝑓+𝑜𝑔𝑜 = −𝑇 ·𝑒 (2.11.2)
8
R
C Δ
dT
T e d
R Ty
Será considerada para discussão a equação 2.11.1 e a Figura 43. A eficácia da restrição
depende da distância da força de empuxo para o eixo central da laje nos apoios, 𝑧0 .
Pela Figura 45, avaliam-se os momentos que atuam em uma determinada laje, com
restrição à rotação, quando a linha de empuxo encontra-se na superfície inferior interna da laje.
(a)
M+gravidade
+
(b)
MΔ = T.Δ
T.z0
(c)
M-fogo = T.z0
(d)
M+fogo,red = wL²/8 + T.Δ - T.z0
Figura 45 – Componentes do momento em laje com restrição com a linha de empuxo na parte
inferior da laje. Fonte: adaptado de Lim (2003).
A combinação destes três diagramas de momento leva ao diagrama (d) da Figura 45.
Os momentos positivos no meio do vão podem ser reduzidos a zero caso o momento
negativo seja suficientemente grande. Portanto, a resistência à flexão positiva pode ser anulada,
e a laje não sofrerá ruptura.
Todavia os momentos negativos nos apoios apenas crescem até o limite de resistência à
flexão negativa (𝑅𝑓−𝑜𝑔𝑜 ), dependente da resistência à compressão da armadura inferior próxima
aos apoios.
A restrição à compressão axial pode ser negativa caso as deformações Δ sejam superiores
a 𝑧0 , e a força T, em conjunto com as grandes deformações, irá aumentar o momento aplicado
no meio do vão e reduzir o tempo de formação de rótulas plásticas.
A rigidez à flexão da laje pode aumentar devido à força de empuxo dos apoios rígidos,
evitando grandes deformações. Por outro lado, os apoios rígidos originarão grandes forças de
compressão na laje, o que eleva os momentos 𝑀Δ , mesmo para pequenas deformações. Então, a
resistência à flexão no meio do vão pode ser excedida para uma viga com restrição e pequenas
deformações, resultando em um colapso repentino no momento em que rótulas plásticas surgem
no meio vão.
Capítulo 2. Revisão bibliográfica 87
No texto,
C: força de compressão;
𝑀𝑓−𝑜𝑔𝑜 : momento negativo na laje devido ao empuxo atuando abaixo do eixo central da
laje, em situação de incêndio;
T T
Δ
T T
Quando a linha de empuxo nos apoios está próxima ou acima do eixo central, como na
Figura 46b, as forças de compressão não colaboram para a resistência à flexão da laje, podendo
inclusive serem negativas. Para concretos de resistência normal, a linha de empuxo atinge o eixo
central em menos de 2 horas de exposição ao fogo (LIM, 2003).
Em lajes contínuas, a posição da linha de empuxo nos apoios é determinada através dos
momentos fletores. Pela Figura 47, nota-se que 𝑀𝑓−𝑜𝑔𝑜 é o momento aplicado devido às cargas
𝑤 · 𝐿2
gravitacionais ( ) e o momento devido à restrição provocada pela curvatura devido à ação
12
térmica (𝑀𝑡ℎ ). O momento fletor nos apoios é definido como uma combinação da força axial
na laje (𝑇 ) e a excentricidade (𝑧0 ), que representa a posição na profundidade da laje em que a
força atua nos apoios, em relação ao eixo central.
𝑀𝑓−𝑜𝑔𝑜 = 𝑇 · 𝑧0 (2.11.3)
𝑧0 : distância entre a posição da força de empuxo e o eixo central da laje nos apoios.
Capítulo 2. Revisão bibliográfica 89
Δ
T
incêndio
M-frio = wL²/12
(a)
M+frio = wL²/24
+
(b)
MΔ = T.Δ
Mth
(c)
=
M-fogo = wL²/12 + Mth
(d)
M+fogo,red = wL²/24 + T.Δ - Mth
Figura 47 – Componentes do momento em laje contínua com restrição. Fonte: Lim (2003).
Na Figura,
𝑀𝑡ℎ : momento uniforme devido à restrição à rotação contrária à curvatura induzida pelo
gradiente térmico.
Segundo Silva (2015), o Brasil é o país mais avançado da América Latina em termos
de normatização, sendo a ABNT NBR 15200:2012 o documento para projeto de estruturas de
concreto em situação de incêndio no país.
Existem quatro métodos de cálculo para verificar elementos expostos a curvas de incêndio
padrão, sendo eles: tabular, simplificado, avançado e experimental, em escala de complexidade
(ALBUQUERQUE, 2018). A análise por partes da estrutura exposta a curvas de incêndio padrão
é possível através dos métodos simplificado, avançado e experimental. Estes modelos estão
apresentados na Figura 48.
Com relação à análise de elementos expostos ao fogo, o Eurocode 2 parte 1-2 (2004)
indica a necessidade de admitir somente os efeitos de esforços adicionais devidos às deformações
térmicas provocadas pelos gradientes de temperatura ao longo da altura da seção transversal
(ALBUQUERQUE, 2018). Os esforços adicionais devidos às deformações térmicas axiais ou no
plano podem ser desprezados.
Como estes esforços adicionais devidos às deformações térmicas são esforços de restrição,
apenas o efeito da restrição à rotação deve ser considerado na verificação ao fogo de elementos
de concreto armado, assim como as lajes. No caso de avaliação por partes da estrutura, as
deformações térmicas e os efeitos causados pelas restrições às mesmas devem ser considerados.
Capítulo 2. Revisão bibliográfica 91
A norma europeia também fornece métodos de cálculo simples para avaliar a resistência
dos elementos expostos ao fogo através da temperatura. Esta resistência é calculada com base
em uma seção transversal reduzida, referente à seção que se encontra fria.
A norma brasileira não detalha os métodos simplificados de cálculo, mas apenas apresenta
diretrizes para aplicação. Segundo ela, a resistência em situação de incêndio pode ser calculada
de duas maneiras (ALBUQUERQUE, 2018):
• cálculo com base nos métodos da isoterma de 500°C e das zonas21, considerando seções
reduzidas de concreto.
Pela ABNT NBR 15200:2012, os esforços que se originam das deformações podem ser
desprezados por serem muito reduzidos e pela grande dimensão das deformações plásticas
devidas às altas temperaturas.
Com relação aos métodos avançados, a norma brasileira apresenta que o resultado
das deformações térmicas devido às restrições devem ser adicionado aos esforços de cálculo
solicitantes, quando determinados por modelos não lineares. Estas deformações não são citadas
em relação aos métodos experimentais.
Internacionalmente, o programa foi utilizado por CERVENKA et al. (2006), para análise
de cobertura suspensa de túneis de concreto armado em situação de incêndio; por ZLÁMAL et
al. (2013) para análise ao fogo de painéis de concreto reforçado com CGFRP (Carbon-Glass
Fibre Reinforced Polymers); por PAPANIKOLAU e KAPPOS (2014), para análise de túneis
de concreto em diversos tipos de carregamento, incluindo fogo; por Al-Kamaki (2015), para
estudo do reforço de pilares após situação de incêndio; por BLESAK et al. (2015) para análise
de estrutura de concreto e madeira exposta ao fogo; por JADOOE et al. (2017a), para análise do
reforço em NSM CFRP (Near-Surface Mounted Carbon Fibre Reinforced Polymers) de vigas de
concreto armado expostas ao fogo; por JADOOE et al. (2017b), para modelagem de fibras NSM
CFRP embebidas no concreto após exposição ao fogo utilizando adesivo epóxi; por JULIAFAD
et al. (2017), para análise do comportamento pós-fogo de vigas de concreto armado reforçadas
com fibra de carbono CFS (Carbon Fiber Strip); por SADAGHIAN e FARZAM (2019), para
análise de punção em lajes de concreto armado expostas ao fogo.
94
• GiD versão 10.0.9: utilizado para o pré-processamento, que inclui a criação da geometria
e da malha de elementos finitos, a definição das condições de contorno, propriedades e
parâmetros mecânicos dos materiais, método de aplicação de carga e parâmetros para a
solução do sistema não linear.
• ATENA versão 5.6.1: utilizado para o processamento e pós-processamento, etapas estas
relacionadas à determinação da solução numérica do sistema não linear e à análise dos
resultados finais da simulação.
modelos que são implementados pelo programa. Através deste, é possível realizar análises
lineares e não lineares do comportamento de estruturas de concreto armado. No caso não linear,
o programa considera o estado do material pós-fissuração.
Segundo Randi (2017), a formulação completa não linear não necessariamente é utilizada
em toda a estrutura. Em algumas situações, o problema pode ser resolvido por formulação
simplificada ou linear. A formulação linear baseia-se em equações constitutivas lineares, na
Lei de Hooke generalizada e em equações geométricas lineares, negligenciando-se os termos
quadráticos.
Em certos casos, é necessário ser considerado o comportamento não linear dos materiais.
Neles, as equações são mais complexas e exigem soluções iterativas não lineares.
Carga P p, u
Deslocamento U
Solução não-linear
1. Preditor: 2. Corrector:
1 = B.u
P
K
= D. = F( , )
R 2
K = ∫v BT .D.B dV R = ∫v BT. dV
ΔU Equilíbrio:
K ΔU = P - R
U
Figura 49 – Representação da técnica de análise não linear através do Método dos Elementos
Finitos. Fonte: adaptado de PUKL et al. (2016).
3.3.1 Concreto
O programa ATENA disponibiliza diversos modelos constitutivos que descrevem o
comportamento mecânico dos materiais. Para materiais frágeis, como o concreto, existe um
Capítulo 3. Modelagem numérica não linear 97
O ATENA apresenta dois modelos de fissura incorporada, sendo eles o modelo de fissura
fixa e o modelo de fissura rotativa (Figura 50). No modelo de fissura fixa (Figura 50a), a direção
das fissuras depende da direção das tensões principais quando estas aparecem após a fissuração
do elemento. A direção de propagação das fissuras permanece inalterada durante os passos de
carga, e o concreto comporta-se como material ortótropo. As deformações principais deixam
de coincidir com as tensões normais no plano da fissura, originando tensões de cisalhamento
(CERVENKA et al., 2017). A formação das fissuras ocorre quando a resistência à tração do
material é vencida pelas tensões principais de tração.
Capítulo 3. Modelagem numérica não linear 98
No modelo de fissura rotativa (Figura 50b), a direção das tensões principais coincide
com a das deformações principais, e não surgem tensões de cisalhamento no plano da fissura.
Quando ocorre mudança de direção das deformações principais em resposta ao aumento de
carga na estrutura, as fissuras sofrem rotação na mesma direção (CERVENKA et al., 2017).
Assim como no outro modelo, a formação das fissuras ocorre quando a resistência à tração do
material é vencida pelas tensões principais de tração.
ef
ft
Gf
0
0 wc w
Figura 51 – Função de amolecimento exponencial na tração. Fonte: adaptado de CERVENKA
et al. (2017).
A energia de fratura (𝐺𝑓 ) pode ser definida como a quantidade de energia que é necessária
para que a fissura, de superfície unitária, se propague. A interpretação gráfica é dada pela área
sob o diagrama do ensaio uniaxial de tração à ruptura (Figura 51), sem considerar a parcela
elástica.
𝜎 𝑤 3 𝑤 𝑤
{︂ }︂
𝑒𝑓 = 1 + (𝑐1 · ) · 𝑒𝑥𝑝(−𝑐2 · ) − · (1 + 𝑐31 ) · 𝑒𝑥𝑝(−𝑐2 ) (3.3.1)
𝑓𝑡 𝑤𝑐 𝑤𝑐 𝑤𝑐
𝐺𝑓
𝑤𝑐 = 5, 136 · (3.3.2)
𝑓𝑡𝑒𝑓
onde:
𝑤: abertura de fissura;
𝑓𝑐𝑚 0,7
𝐺𝑓 = 𝐺𝑓 0 · ( ) (3.3.3)
𝑓𝑐𝑚0
onde:
𝑓𝑐𝑚0 = 10 MPa.
𝜎1 − 𝜎2
𝐺= (3.3.4)
2 · (𝜀1 − 𝜀2 )
onde:
𝜀1 e 𝜀2 : deformações principais.
Capítulo 3. Modelagem numérica não linear 101
𝐺𝑐𝑟 = 𝛽 · 𝐺 (3.3.5)
onde:
O valor do fator de retenção ao cisalhamento (𝛽) tem seu valor entre 0 e 1, constante
ou variável. Para o caso constante, assume-se que a relação entre tensões e deformações de
cisalhamento após a fissuração é linear e 𝛽 = 0,2 (PRUIJSSERS, 1988).
1
𝛽= (3.3.6)
1 + 𝑃 · 𝜀𝑐𝑟
𝑛𝑛
onde:
𝜀𝑐𝑟
𝜉𝑛 = 𝑛𝑛
𝑐𝑟
𝛾𝑛𝑡
O valor de P é dado por:
2500
𝑃 = 6 (3.3.7)
(𝑑𝑚á𝑥 )0,14 · [0, 76 − 0, 16 · 𝜉𝑛 · (1 − 𝑒𝑥𝑝( ))]
𝜉𝑛
𝐸
𝐺= (3.3.8)
2 · (1 + 𝜈)
onde:
𝜈: coeficiente de Poisson.
Capítulo 3. Modelagem numérica não linear 102
wd
w
w
Ld
f c'
fc0=2ft'
0
0
εcp = fc'/E
Figura 54 – Modelo de endurecimento na compressão. Fonte: adaptado de CERVENKA et al.
(2017).
Na figura,
𝐸: módulo de elasticidade.
√︃
′ ′ ′ 𝜀𝑐 − 𝜀𝑐𝑝 2
𝜎 = 𝑓𝑐0 + (𝑓𝑐 − 𝑓𝑐0 ) · 1−( ) (3.3.9)
𝜀𝑐
onde:
𝜎: tensão;
′
𝑓𝑐0 : resistência à compressão do concreto no início do regime não linear;
′
𝑓𝑐 : resistência à compressão do concreto;
𝜀𝑐 : deformação do concreto;
superfície de ruptura
eixo hidrostático seções
desviadoras
e = 1,0
e = 0,5
O parâmetro 𝑓𝑐,𝑟𝑒𝑑 , de valor padrão igual a 0,8 - com variação entre 0 e 1 no ATENA -,
considera a redução da resistência à compressão do concreto na direção paralela às fissuras.
3.3.2 Aço
No modelo, a armadura foi simulada através do modelo material CCReinforcement. Seu
comportamento segue as relações de tensão versus deformação pela lei multilinear. A Figura 56
representa esta relação para o aço.
Capítulo 3. Modelagem numérica não linear 105
4
f4 3
f3
2
f2
1
f1
Para o programa ATENA, a consideração da armadura pode ser feita de duas formas:
discreta ou incorporada no concreto através de elementos do tipo barra. A aderência e o
deslizamento na interface entre o concreto e a armadura são simulados pelo modelo de aderência
que é apresentado pelo CEB-FIB, MC90 (1990), disponibilizado no programa.
α
τ=τmáx(S/S1)
Tensão de aderência, τ
τmáx
τs
0
0 S1 S2 S3
Deslizamento, s
Na figura,
𝜏 : tensão de aderência;
𝑠: deslizamento.
Para 0 ≤ s ≤ 𝑠1 :
𝑠 𝛼
𝜏 = 𝜏𝑀 Á𝑋 · ( ) (3.3.10)
𝑠1
Para 𝑠1 < s ≤ 𝑠2 :
𝜏 = 𝜏𝑀 Á𝑋 (3.3.11)
Para 𝑠2 < s ≤ 𝑠3 :
𝑠 − 𝑠2
𝜏 = 𝜏𝑀 Á𝑋 − (𝜏𝑀 Á𝑋 − 𝜏𝑓 ) · ( ) (3.3.12)
𝑠3 − 𝑠2
Para s > 𝑠3 :
𝜏 = 𝜏𝑓 (3.3.13)
Capítulo 3. Modelagem numérica não linear 107
3.4.1 Concreto
O elemento finito utilizado para a representação do concreto no modelo foi o CCIsoBrick20 3D,
o qual possui 20 nós, e está representado na Figura 58.
4 11
12 3
1 9 10
2
18
19
20
17
8
7
15
y 16
14
5 13 6
x
z
Figura 58 – Elemento sólido hexaédrico isoparamétrico tipo CCIsoBrick20 3D. Fonte: adaptado
de Benedetty Torres (2018).
Capítulo 3. Modelagem numérica não linear 108
3.4.2 Aço
O elemento finito utilizado para a representação das armaduras no modelo foi o
CCBarWithBond 3D, o qual possui 3 nós, e está representado na Figura 59.
3
y
1
x
Figura 59 – Elemento de barra isoparamétrico tipo CCBarWithBond 3D. Fonte: adaptado de
Benedetty Torres (2018).
onde:
Para modelos não lineares, a matriz de rigidez do elemento não é constante. Para tanto,
são utilizadas técnicas de resolução, dentre elas as de maior destaque são Newton-Raphson e
Secante.
Capítulo 3. Modelagem numérica não linear 109
𝑃 (𝑢) − 𝑓 = 0 (3.5.2)
onde a força interna é uma função linear de deformação e da rigidez do material, dada por:
𝑃 (𝑢) = 𝑘 · 𝑢 (3.5.3)
onde:
𝑓 : forças internas;
𝑢: deformação do material;
𝑘: rigidez do material.
Em sistemas não lineares, 𝑃 (𝑢) é obtido através de processos iterativos. Para isso, estima-
se um valor inicial de deslocamento (𝑢0 ) e se obtém o incremento de deslocamento (Δ𝑢). A
diferença entre os métodos é a forma de tratamento da rigidez entre os passos de carga (SILVA,
2018). Assumindo que o deslocamento no passo anterior seja conhecido, a força interna é dada
por:
onde:
𝐾𝑇𝑖 (𝑢𝑖 ): matriz Jacobiana no passo analisado (matriz da rigidez tangente), equivalente à
derivada da força em relação ao deslocamento no passo em questão (𝜕𝑃/𝜕𝑢)𝑖 .
Reorganizando,
É esperado que (𝑓 − 𝑃 (𝑢𝑖 )) seja nulo (forças internas iguais às forças externas), o que
ocorre raramente. Essa diferença é denominada resíduo:
3.5.1 Newton-Raphson
No método de Newton-Raphson, ilustrado na Figura 60, a rigidez sofre atualização a
cada iteração, o que torna sua convergência mais rápida que os outros métodos. Por outro lado,
exige alto esforço computacional e apresenta instabilidade numérica.
f
t+Δt
fext
g1
fint,1
t
fext
Δu0 δu1
Δu1
O método não é indicado para análise de comportamento pós pico da estrutura, pois a
matriz Jacobiana é usualmente positiva, ou seja, o aumento leva a um consequente aumento da
força (SILVA, 2018). A Figura 61 ilustra o algoritmo do Método de Newton-Raphson.
3 loop
1 convergência > tolerância
fim 2 convergência > tolerância e passo < n° passos
3 convergência < tolerância ou passo < n° passos
Figura 61 – Algoritmo para resolução de sistema pelo método Newton-Raphson. Fonte: adaptado
de Silva (2018).
Capítulo 3. Modelagem numérica não linear 111
t+Δt
fext
g1
fint,1
t
fext
Δu0 δu1
Δu1
cálculo da
convergência
1
cálculo do cálculo do novo des- cálculo das forças
incremento (Δu=R/KT ) locamento (u=u+Δu) internas (P(u0))
3 2
3 loop
1 convergência > tolerância
fim 2 convergência > tolerância e passo < n° passos
3 convergência < tolerância ou passo < n° passos
𝑃 (𝑢𝑖 ) − 𝑃 (𝑢𝑖−1 )
𝐾𝑠𝑖 = (3.5.7)
𝑢𝑖 − 𝑢𝑖−1
O incremento tem o mesmo comportamento da rigidez, que é definida a partir dos
resultados anteriores, ou seja:
𝑢𝑖 − 𝑢𝑖−1
Δ𝑢𝑖 = · (𝑓 − 𝑃 (𝑢𝑖 )) (3.5.8)
𝑃 (𝑢𝑖 ) − 𝑃 (𝑢𝑖−1 )
Este método, ilustrado na Figura 64, exige mais iterações. Outra vantagem é a maior
estabilidade e capacidade de convergência.
t+Δt
fext
g1
fint,1
t
fext
Δu0 δu1
Δu1
3.5.4 Considerações
Dentre os métodos numéricos disponibilizados pelo programa ATENA, utilizou-se para
solução do sistema não linear o Método de Newton-Raphson.
Capítulo 3. Modelagem numérica não linear 113
Para Gomes (2001), o critério de convergência com base na energia é o melhor dentre os
três, uma vez que considera os critérios de deslocamento e força intrinsecamente. A tolerância
máxima pode ser definida através de um teste de convergência, no qual são feitos processamentos
reduzindo-se a tolerância até que os resultados mantenham-se constantes. Gomes (2001), Souza
(2004) e Trautwein (2006) utilizaram em seus trabalhos uma tolerância da ordem de 10−4 .
Claus (2009) comenta que a seleção do valor da tolerância requer atenção, uma vez
que valores altos reduzem a precisam da solução e podem gerar resultados pouco confiáveis.
Entretanto, valores muito baixos podem elevar o tempo de processamento.
𝑢𝑖+1 = 𝑢𝑖 + 𝛼𝑖 · 𝑑𝑖 (3.7.1)
Este método é efetivo para que a estrutura torne-se mais rígida durante a iteração; para
análises nas quais as condições de contorno variam; e para situação de tangente não exata
(RUST, 2015).
114
4 Simulação numérica
Os modelos experimental e numérico de Ali et al. (2011) foram simulados em três etapas:
de temperatura versus tempo para materiais celulósicos, ilustrada na Figura 13. A curva de
incêndio de hidrocarbonetos, apresentada pelo Eurocode 1 (EN 1991-1-2:2002) (Figura 15).
100mm
T12 T10
200mm
1200mm
50mm
200mm
40mm
300mm
3300mm
Carga aplicada
1500mm 1500mm
Figura 65 – Detalhes de geometria, carregamento e armadura das lajes. Fonte: adaptado de Ali
et al. (2011).
• na superfície inferior;
• na altura da armadura (40 mm);
• a 100 mm da superfície inferior.
Capítulo 4. Simulação numérica 116
Cada laje foi armada com 6 barras de aço de 12 mm de diâmetro, no sentido longitudinal,
espaçadas de 220 mm (medição pelo eixo). A armadura secundária era composta de 13 barras
de aço de 10 mm de diâmetro, posicionada perpendicularmente à armadura principal, com
espaçamento de 300 mm (centro a centro). O detalhamento está apresentado na Figura 65. O
cobrimento de concreto adotado foi de 40 mm na vertical e 50 mm nas laterais da laje, como
também apresentado na Figura 65. Nos testes, o vão livre exposto ao fogo foi de 3000 mm.
Todas as lajes foram carregadas com a mesma carga de 65% da carga de projeto (27kN)
da BS8110 (1997), incluindo o peso próprio. A carga foi aplicada no ponto central da laje.
Dois regimes de aquecimento foram adotados: a curva de incêndio padrão ISO834 e a curva de
incêndio de hidrocarbonetos. Todos os ensaios foram feitos dentro de um forno de combustão
digitalmente controlado, de dimensões 4 x 3 x 3 m. O aquecimento foi realizado através da
superfície inferior das lajes, e a temperatura máxima atingida no forno foi de 965°C (ALI et al.,
2011).
Para a obtenção da temperatura nos corpos de prova, cada laje foi equipada com cinco
termopares de 1,5 mm. Três deles controlaram a temperatura na superfície inferior (um no
centro, os demais a 400 mm de cada um dos apoios). Os outros dois foram inseridos dentro da
laje: um no centro, o outro a 40 mm da superfície inferior, junto à 7ª barra de armadura. O
deslocamento das lajes foi medido através de LVDT (linear variable differential transformer),
no centro da laje.
4.2.1.3 Resultados
Os resultados principais obtidos experimentalmente por Ali et al. (2011) estão apresenta-
dos na Tabela 4. Todas as lajes sofreram lascamento explosivo durante os ensaios, sendo que
naquelas expostas à curva de hidrocarbonetos o lascamento foi mais violento, iniciando após 2
minutos de aquecimento.
35 S1 S2 S3
30
Deslocamento (mm)
25
20
15
10
0
0 200 400 600 800 1000
Temperatura média no forno (°C)
Figura 67 – Deslocamento registrado para as lajes S1, S2 e S3. Fonte: adaptado de Ali et al.
(2011).
1200
1000
Superfície inferior
800 Armadura
Temperatura (°C)
Meia altura
600
400
200
0
0 10 20 30 40 50 60
Tempo (minutos)
50
45
S4 S5 S6
40
35
Deslocamento (mm)
30
25
20
15
10
0
0 200 400 600 800 1000 1200
Temperatura média no forno (°C)
Figura 69 – Deslocamento registrado para as lajes S4, S5 e S6. Fonte: adaptado de Ali et al.
(2011).
Capítulo 4. Simulação numérica 120
A análise não linear estrutural e de aquecimento foi feita através de um modelo tridi-
mensional escalonado de fluxo de calor. Utilizou-se um elemento finito de 20 nós (CHX60) para
modelar a laje de concreto. Para que a análise de calor transiente fosse possível, utilizaram-se
elementos quadráticos de contorno de 4 nós (BHQ4HT) na modelagem de um filme de fluxo
externo no contorno da laje.
O modelo discretizado final consistiu de 792 elementos e 2679 nós. Utilizou-se o método
Quase-Newton com algoritmo line-search como processo iterativo de solução para a precisão
desejada. Não foram considerados o fluxo de umidade e a pressão de vapor no modelo.
A Tabela 5 apresenta as propriedades dos materiais utilizadas por Ali et al. (2011).
Tabela 5 – Propriedade dos materiais utilizados na análise
A laje foi carregada com 65% da carga de projeto (27kN) da BS8110 (1997), incluindo o
peso próprio. A carga foi aplicada no ponto central superior da laje, e o peso próprio foi inserido
como peso de volume:
A malha final de elementos finitos foi composta por 31422 nós, 6336 elementos sólidos
hexaédricos, aos quais foram atribuídas as propriedades mecânicas do concreto, e 19 elementos
lineares, correspondentes às armaduras de aço. As dimensões dos elementos finitos foram definidas
após uma análise de convergência da malha.
Capítulo 4. Simulação numérica 125
Figura 75 – Malha de elementos finitos da laje. Vista em perspectiva. Geração pelo GiD.
Figura 76 – Malha de elementos finitos da laje. Vista nos planos XY e XZ. Geração pelo GiD.
𝑓𝑐𝑚
𝜀𝑐𝑝 = (4.3.1)
𝐸𝑐𝑚
′
𝑓𝑐0 = 2 · 𝑓𝑡𝑚 (4.3.2)
𝜈: coeficiente de Poisson;
𝑠𝐹 : fator de cisalhamento;
Nesta etapa, é analisado apenas o comportamento estático da laje; não são feitas
considerações de temperatura.
INÍCIO
Geometria, condições de
contorno, carga aplicada, Geometria, carga térmica,
malha EF, propriedades malha EF, propriedades
dos materiais dos materiais
Curva
não
não
Resultados Resultados
MODELOS da análise de da análise de
TERMOMECÂNICOS transporte transporte
de calor de calor
sim
Dados de temperatura,
geometria, propriedades do
Extração dos dados finais material
da análise termomecânica
FIM
Para solucionar o problema não linear iterativo, o método adotado foi o Newton-Raphson
com algoritmo line-search para as análises. O método de Newton-Raphson é eficiente para casos
onde os valores de carga devem ser conhecidos (SADAGHIAN; FARZAM, 2019), e deve ser
utilizado para casos de carga térmica (CERVENKA et al., 2017).
Para os três primeiros critérios foi adotado o valor de 0,01. Para a energia dissipada,
adotou-se 0,0001. O critério de parada foi para o caso de o erro exceder a tolerância multiplicada
pelo fator durante as iterações (10000 para os três primeiros critérios e 100000 para o último),
ou ao final do passo de análise.
Para obtenção dos resultados, foram definidos dois modelos. Ao primeiro, aplicou-se a
curva de incêndio padrão ISO 834, e ao segundo a curva de incêndio de hidrocarbonetos.
A condição Fire boundary for surface foi utilizada no programa para aplicação do
carregamento de incêndio à superfície da laje, com os parâmetros:
Para o modelo exposto à curva de incêndio padrão ISO 834, aplicou-se essa curva à
superfície inferior da laje. O comportamento da curva foi apresentado na Figura 13, Capítulo 2.
A condição Fire boundary for surface foi utilizada no programa para aplicação do
carregamento de incêndio à superfície da laje, com os parâmetros:
A malha final de elementos finitos foi composta por 8375 nós, 6336 elementos sólidos
hexaédricos, aos quais foram atribuídas as propriedades mecânicas do concreto. As dimensões
dos elementos finitos foram definidas após uma análise de convergência da malha.
Capítulo 4. Simulação numérica 133
O coeficiente de expansão térmica foi utilizado como o mesmo proposto por Ali et al.
(2011), igual a 12·10−6 , assim como a capacitância térmica, igual a 1,8 J/kg°C. A condutividade
térmica (𝐾𝑡𝑒𝑚𝑝 ) também seguiu a proposição de Ali et al. (2011). Os demais parâmetros foram
utilizados com os valores padrões do programa e estão apresentados na Tabela 8. Nela,
Estes arquivos são os que fazem a interligação entre os modelos estático e térmico,
permitindo assim a análise termomecânica final.
Figura 82 – Temperatura na laje - Exposição à curva de incêndio padrão ISO 834. Vista no
plano XZ.
A geometria da laje foi apresentada na Figura 65, e seu modelo está exposto nas Figuras
72 e 73. Não foram feitas alterações à geometria. Nesta etapa, os parâmetros foram mantidos os
mesmos aplicados ao modelo estático e já apresentados. Fez-se necessária apenas a definição da
importação dos dados de transporte de temperatura no modelo (import transport data).
No modelo dos materiais, considerou-se que o concreto e o aço têm propriedades de-
pendentes da temperatura diferentes daquelas à temperatura ambiente. As propriedades do
concreto dependentes da temperatura foram baseadas no Eurocode 2 (EN 1992- 1-2: 2004) e
estão apresentadas nas Figuras 84, 85, 86 e 87.
1,2
Módulo de elasticidade
1
Multiplicador
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 200 400 600 800 1000 1200
Temperatura (°C)
4
Deslocamento à compressão
3,5
3
Multiplicador
2,5
2
1,5
1
0,5
0
0 200 400 600 800 1000
Temperatura (°C)
140
Deformação térmica
120
Multiplicador (.10 E-4)
100
80
60
40
20
0
0 200 400 600 800 1000 1200
Temperatura (°C)
13
11
Multiplicador
9
5 Resultados
A comparação foi feita através dos dados obtidos experimental e numericamente por
Ali et al. (2011) com os dados obtidos neste trabalho através da modelagem no programa
computacional ATENA.
A curva MEF Ali (2011) apresentada nas figuras representa a curva obtida pelo pesqui-
sador utilizando o programa computacional de elementos finitos DIANA. A curva MEF ATENA
apresenta os dados obtidos por este trabalho utilizando o programa computacional de elementos
finitos ATENA. A curva Média Experimental Ali (2011) representa a média entre os valores
obtidos experimentalmente por Ali et al. (2011) para as 3 lajes estudadas em cada situação de
incêndio.
A Figura também apresenta a curva média experimental de Ali et al. (2011) – média das
curvas de temperatura para as lajes S1, S2 e S3.
1600
MEF ATENA
1400 MEF Ali (2011)
Média experimental Ali (2011)
1200
Curva ISO834
Temperatura (°C)
1000
800
600
400
200
0
0 10 20 30 40 50 60
Tempo (minutos)
A Figura também apresenta a curva média experimental de Ali et al. (2011) – média das
curvas de temperatura para as lajes S1, S2 e S3.
300
250
200
150
100
50
0
0 10 20 30 40 50 60
Tempo (minutos)
A Figura também apresenta a curva média experimental de Ali et al. (2011) – média das
curvas de temperatura para as lajes S1, S2 e S3.
200
MEF ATENA
180 MEF Ali (2011)
Experimental Ali (2011)
160
120
100
80
60
40
20
0
0 10 20 30 40 50 60
Tempo (minutos)
Figura 90 – Temperaturas na altura média da laje - exposição à curva de incêndio padrão ISO
834.
Capítulo 5. Resultados 142
Através da análise dos gráficos das Figuras 88, 89 e 90 permite a consideração do modelo
térmico como calibrado. A Figura 91 apresenta os resultados de curva tempo versus temperatura
do modelo térmico para curva de incêndio padrão ISO 834 em todas as profundidades consideradas
da laje para calibração. Percebe-se que a temperatura é muito mais intensa na superfície exposta
diretamente ao fogo e, quanto mais distante desta superfície, menor a intensidade da temperatura.
Na superfície superior da laje, a temperatura manteve-se próxima à temperatura ambiente.
1000
Inferior
900 Armadura
Meio vão
800 Superior
700
Temperatura (°C)
600
500
400
300
200
100
0
0 10 20 30 40 50 60
Tempo (minutos)
A Figura também apresenta a curva média experimental de Ali et al. (2011) – média das
curvas de temperatura para as lajes S4, S5 e S6.
2000
MEF ATENA
1800
MEF Ali (2011)
1600 Média experimental Ali (2011)
1200
1000
800
600
400
200
0
0 10 20 30 40 50 60
Tempo (minutos)
A Figura também apresenta a curva média experimental de Ali et al. (2011) – média das
curvas de temperatura para as lajes S4, S5 e S6.
600
MEF ATENA
MEF Ali (2011)
500 Experimental Ali (2011)
300
200
100
0
0 10 20 30 40 50 60
Tempo (minutos)
300
MEF ATENA
MEF Ali (2011)
250
Experimental Ali (2011)
150
100
50
0
0 10 20 30 40 50 60
Tempo (minutos)
Através da análise dos gráficos das Figuras 92, 93 e 94 permite a consideração do modelo
térmico como calibrado.
1000
Inferior
Armadura
Meio vão
800 Superior
Temperatura (°C)
600
400
200
0
0 10 20 30 40 50 60
Tempo (minutos)
Figura 95 – Temperaturas nas quatro alturas de medição da laje - exposição à curva de incêndio
de hidrocarbonetos.
Pela Figura 95, percebe-se que a temperatura é muito mais intensa na superfície exposta
diretamente ao fogo e, quanto mais distante desta superfície, menor a intensidade da temperatura.
50
40
30
20
10
0
0 10 20 30 40 50 60
Tempo (minutos)
Figura 98 – Temperaturas na laje - Exposição à curva de incêndio padrão ISO 834. Vista no
plano XZ.
As Figuras 100 e 101 são capturas de tela do programa utilizado, com a representação
gráfica da laje após a análise termomecânica.
Capítulo 5. Resultados 149
110
MEF ATENA
100
MEF Ali (2011)
90 Média experimental Ali (2011)
80
Deslocamento (mm)
70 Curva de hidrocarbonetos
60
50
40
30
20
10
0
0 10 20 30 40 50 60
Tempo (minutos)
1
0,9 Agregado calcário
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
0 200 400 600 800 1000 1200 1400
θ (°C)
Figura 102 – Resistência à compressão relativa do concreto com agregados siliciosos e calcários
sob temperaturas elevadas (Adaptado de Bacinskas et.al., 2007 (BACINKAS et
al., 2007)).
Em ambas as análises, o comportamento da laje foi pior para o concreto com agregado
silicoso. Para a análise da curva de incêndio ISO834, o deslocamento no modelo com agregado
silicioso foi 47% maior que o com agregado calcário. Para a análise da curva de incêndio de
hidrocarbonetos, essa diferença foi de 58%.
Capítulo 5. Resultados 151
100
MEF ATENA - Calcário
90
MEF ATENA - Silicoso
80 MEF Ali (2011)
60
50
40
30
20
10
0
0 10 20 30 40 50 60
Tempo (minutos)
Curva de hidrocarbonetos
100
80
60
40
20
0
0 10 20 30 40 50 60
Tempo (minutos)
Uma comparação entre os dois modelos paramétricos (agregado calcário e silicioso) para
as duas curvas de incêndio (ISO834 e de hidrocarbonetos) está apresentada na Figura 105.
O concreto com agregado silicioso desenvolveu pior comportamento termomecânico nas duas
análises de incêndio.
160
MEF ATENA - Silicoso - Hidrocarbonetos
140 MEF ATENA - Calcário - Hidrocarbonetos
MEF ATENA - Silicoso - ISO834
120
MEF ATENA - Calcário - ISO834
Deslocamento (mm)
100
80
60
40
20
0
0 10 20 30 40 50 60
Tempo (minutos)
6 Conclusão
O modelo desenvolvido via Método dos Elementos Finitos (MEF) para este trabalho apre-
sentou comportamento semelhante ao obtido nos ensaios experimentais de pesquisas anteriores,
o que mostra sua eficiência e possibilidade de utilização.
Por fim, foi realizada a análise paramétrica, a qual consistiu em um estudo da influência do
agregado no comportamento termomecânico da laje de concreto armado em situação de incêndio.
Foram estudados dois agregados diferentes: o calcário e o silicoso. Ambos são disponibilizados
para análise pelo programa computacional ATENA. Foram consideradas as propriedades térmicas
para a investigação. O concreto com agregado calcário desenvolveu melhor comportamento para
as duas curvas de incêndio analisadas.
• As curvas de temperatura na face inferior da laje foram as que obtiveram melhores resul-
tados comparativos aos obtidos experimentalmente, tanto para a aplicação da curva de
incêndio de hidrocarbonetos quanto para a curva de incêndio padrão ISO 834. Para a apli-
cação da curva de hidrocarbonetos, bons resultados também foram obtidos numericamente
quando analisada a temperatura à altura média da laje;
• A divergência observada nas curvas pode ser devida à não utilização de propriedades –
mecânicas e térmicas – dos materiais obtidas de forma experimental. A utilização delas
como parâmetros de entrada pode levar a resultados de análise mais precisos e próximos
aos valores encontrados nas curvas de temperatura experimentais;
• Os agregados estudados foram aqueles disponíveis para análise através dos programas
computacionais ATENA e GiD, estando esses previamente inseridos na biblioteca de dados;
Capítulo 6. Conclusão 155
Referências
ASTM E119. Standard Test Methods for Fire Tests of Building Construction and
Materials. ASTM - American Society for Testing and Materials. Philadelphia, 1918.
BACINKAS, D.; KAKLAUSKAS, D.; GRIDNIAK, V.; GEDA, E. Computationally effective tool
for mechanical simulation of reinforced concrete members subjected to fire. 9th International
Conference Modern Building Materials, Structures and Techniques, v. 2, p. 461–467,
2007.
BAILEY, C. G. Structural fire design: core or specialist subject? The Structural Engineer,
v. 82, n. 9, p. 32–38, 2004.
BAZANT, Z. P.; OH, B. H. Crack band theory for fracture of concrete. Matériaux et
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BLESAK, L.; CALDOVA, E.; WALD, F. Unprotected timber-fibre reinforced concrete slab in
fire. Wood Research, v. 4, n. 60, p. 605–616, 2015.
BROCETA, G.; MALESEV, M.; RADONJANIN, V.; SLIJEPCEVIS, M.; ZRNIC, D. The
influence of aggregate types on the concrete fire resistance. 1st International Symposium
K-FORCE, p. 304–310, 2017.
Capítulo 6. Conclusão 158
BUCHANAN, A. H. Structural Design for Fire Safety. New Jersey, USA: John Wiley
Sons Ltd., 2001. v. 1. 448 p.
CANER, A.; ZLATANIC, S.; MUNFAH, N. Structural Fire Performance of Concrete and
Shotcrete Tunnel Liners. Journal of Structural Engineering, New York, v. 131, p.
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