Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SUPERFORTALEZA
TAMANIA
Autor
H. G. EWERS
Tradução
AYRES CARLOS DE SOUZA
Digitalização e Revisão
ARLINDO_SAN
Depois da destruição da ponte de transmissores, surgiu para
a frota de Perry Rhodan em Andrômeda a necessidade urgente de
estabelecer imediatamente uma outra forma de ligação entre as
vias lácteas. Esta outra ligação foi procurada pelos homens de
Rhodan — e encontrada: era o caminho que passava pelas
antiqüíssimas estações intergalácticas dos maahks!
A estação dos forrils foi posta sob controle pelo Major Don
Redhorse, enquanto a Estação Central se desintegrava numa
explosão atômica, durante um ataque. Com isto a situação para
Perry Rhodan e sua gente ficou crítica. Tudo dependia agora de a
“Look-Out” e a “Midway” caírem nas mãos dos terranos, sem
serem destruídas.
A conquista das duas estações intergalácticas teve êxito — e
na “Midway”, no espaço vazio entre as galáxias, a frota de
Reginald Bell, que participara da operação vinda da Via Láctea,
encontrou-se com a expedição de Perry Rhodan. Bell trouxe
consigo importantes documentos, que, mais tarde, levaram à
destruição de Multidon, o centro industrial dos senhores da
galáxia.
Em conseqüência da ação contra Multidon ocorreu a
descoberta de um novo golpe mortal contra a Terra, que ainda
pôde ser frustrado em tempo.
Depois disso, o centro de gravidade dos acontecimentos
deslocou-se novamente para Andrômeda. Trata-se agora de
enfrentar a última central de poder dos senhores da galáxia — a
Superfortaleza Tamania...
Omar Hawk puxou o seu jato-mosquito fortemente para estibordo. Esta manobra foi
feita sem motivo lógico — de modo puramente instintivo — e impediu que o seu caça
para duas pessoas fosse atingido pelo forte feixe energético da arma da nave inimiga.
O oxtornense e primeiro-tenente de um corpo especial da Contra-Espionagem
Galáctica repuxou sua cara marrom-coriácea num sorriso satânico. Deixou o jato rolar,
baixando a aleta direita, uma manobra que era como o início de um vôo picado. Porém
Hawk arrancou o nariz rombudo do aparelho rapidamente para cima, quase na vertical,
mal aquele rolar terminara.
Tenso, ele observou que o aparelho do agente secreto tefrodense fez um looping.
Aquele homem, lá do outro lado, conhecia todos os truques e sabia que tinha diante de si
um adversário que o equivalia. Dificilmente cairia naquela manobra mistificadora.
E tinha razão!
Também o caça tefrodense foi puxado violentamente para cima, quase na vertical!
Ele voou exatamente para dentro do raio de impulsão do jato terrano. Omar Hawk
previra a reação do adversário, colocando o seu próprio aparelho, depois de poucos
quilômetros de vôo vertical, de costas.
O campo energético defensivo do tefrodense ardeu como um sol diminuto. Por
alguns segundos o aparelho subiu, porém logo começou a sacudir violentamente.
Hawk encetou uma segunda curva. Ele queria tentar salvar o agente inimigo, se é
que este ainda conseguisse sair de dentro do seu aparelho.
Tarde demais ele deu-se conta de que o seu adversário não tencionava
absolutamente deixar-se salvar por ele. Ao contrário! Com o seu caça espacial,
fortemente atingido, ele acelerou mais uma vez, colocando o nariz também rombudo de
seu veículo num ponto no negrume do espaço, em que o jato-mosquito terrano teria que
passar nos próximos três segundos.
O Primeiro-Tenente Hawk fora descuidado demais, caso contrário poderia ter se
esquivado daquela manobra espacial, sem dúvida alguma. Deste modo, ele apenas
conseguiu evitar que a sua nave fosse atingida por um tiro em cheio, no centro de
gravidade da mesma.
Mesmo assim, um baque formidável estremeceu todo o seu aparelho. O tefrodense
devia tê-lo acertado na popa.
Por quase meio minuto, Omar Hawk teve a impressão de que o Universo inteiro
girava à sua volta numa velocidade estonteante. Depois conseguiu estabilizar o aparelho
outra vez.
Mas isso foi tudo que conseguiu fazer — ou quase tudo.
Sem nada poder fazer, ele teve que ficar apenas olhando enquanto o seu jato-
mosquito era puxado irresistivelmente para o segundo planeta do sol amarelo. Na sua
avaliação demoraria ainda umas duas horas, até que o aparelho entrasse na atmosfera,
desintegrando-se numa bola de fogo.
Mas, nisso tudo, ele tinha um consolo.
O seu adversário tefrodense fora castigado de modo ainda pior. A sua proa mostrava
uma profunda avaria, que devia ter sido originada pelo choque espacial. Além disso, a
carlinga do piloto estava estilhaçada e a cabeça do agente inimigo, metido num capacete,
rebrilhava à luz do sol, sempre que ele se virava.
Duas horas se passaram. Durante este tempo as duas naves espaciais distanciaram-
se tanto uma da outra, que os pilotos já não mais podiam ver-se a olho nu. Porém Omar
estava convencido de que o seu adversário tomava medidas idênticas às que ele mesmo
estava tomando preparativos para a hora seguinte...!
Alguns quilômetros por cima dos prolongamentos pouco densos da atmosfera do
planeta, Omar Hawk abriu o seu cinturão de segurança. Mais uma vez ele examinou se as
suas armas estavam todas nos seus devidos lugares. Depois ligou a sua aparelhagem
antigravitacional, embutida no traje de combate.
Não era fácil descer de uma nave espacial em louca disparada, e que acelerava cada
vez mais em queda livre. Mesmo assim, ele o conseguiu. Certamente catapultar toda a
carlinga teria sido mais fácil e menos perigoso, mas o oxtornense não queria que o seu
adversário notasse o seu desembarque — e o impulsor de foguete que catapultaria a
carlinga no espaço certamente o denunciaria, com o seu rabo de fogo.
Enquanto ele mergulhava para dentro da atmosfera, com o seu campo energético
defensivo ativado, observou o ponto escuro que representava o outro veículo. Também ali
nada se via de foguetes salvadores. Prova de que o tefrodense entendia de desembarque
de modo tão lógico quanto ele. Ou então, talvez ele já estivesse morto, mas nisto o oficial
da Contra-Espionagem não acreditava muito.
Felizmente as camadas mais fundas da atmosfera estavam serenas, de modo que
Omar Hawk não precisou ativar o seu microimpulsor. Ele regulou a velocidade da queda
simplesmente com o seu aparelho antigravitacional e caiu, relativamente devagar, para
baixo. Deste modo a atmosfera não se tornava incandescente, devido ao seu campo
energético protetor, o que recompensava a desvantagem, que estava embutida naquela
queda extremamente lenta. Em determinadas circunstâncias o seu adversário chegaria
mais cedo, lá embaixo, do que ele, porém, nesse caso, ele teria que ligar o seu propulsor
energético a algumas centenas de metros de altura, e a emissão de energia, sem dúvida
alguma, teria revelado a sua posição.
Das duas naves espaciais tudo que ainda restava eram destroços incandescentes e
cinzas que agora caíam numa chuva sobre o planeta. Elas tinham se queimado pelo calor
da fricção, a cerca de quatro quilômetros de altura, tendo explodido, sem que, entretanto,
tivesse ocorrido uma reação atômica.
O oxtornense achava-se a duzentos metros de altura, quando deu-se conta de que
iria aterrissar provavelmente bem no meio de um pequeno, mas muito fundo lago, no
centro de uma cratera. Ele curvara-se para a frente mandando um feixe muito
concentrado de luz refletida para baixo, cujo eco duplo demonstrava que a profundidade
ali devia ser de quase trezentos metros.
Ornar resolveu aproveitar a sorte do acaso. Regulou sua antigravidade para 0,6
gravos, desligou o campo energético individual, e logo começou a cair bem mais
rapidamente que antes. Em chão duro ele certamente teria quebrado todos os seus ossos,
porém a água abafou a queda — sem levar-se em conta também que Omar Hawk era um
adaptado ao meio ambiente, com uma constituição física compacta. O seu planeta natal,
Oxtorne, possuía uma gravidade de 4,8 gravos, inclusive uma pressão atmosférica
correspondentemente alta e um clima apavorante para nascidos na Terra, com oscilações
extremas de temperaturas.
Imediatamente depois que ele alcançou a superfície do lago novamente, Hawk
nadou para a terra. Não demorou mais do que era necessário para orientar-se, depois
correu, dando saltos de dez a quinze metros, para o cume de um morro.
Ali ele ergueu-se e olhou para o oeste, na direção em que o tefrodense devia ter
pousado, ou estava justamente pousando.
Nada!
Aqueles desfiladeiros em parte nus, em parte cobertos de uma grama marrom e
arbustos baixos, estavam vazios, se não se levasse em conta um ou outro pequeno animal
selvagem e alguns bandos isolados de pássaros.
Será que o outro teria morrido junto com o seu aparelho, quando este se
transformou numa bola de fogo?
Três pontos de fogo, que se afastavam em forma de leque, deram resposta a esta
pergunta não pronunciada:
— Foguetes!
O Primeiro-Tenente Hawk resistiu à tentação de ligar a sua micropropulsão e fugir
dali.
Os tiros vinham alto demais, para poderem causar um impacto numa proximidade
perigosa. Era evidente que o tefrodense blefava. Ele estava tentando levar o seu
adversário a cometer uma imprudência, e matá-lo com um tiro certeiro, tão logo pudesse
rastrear o desenvolvimento energético do seu propulsor.
Hawk esperou.
Em algum momento o tefrodense perderia a calma.
Com impactos surdos, os foguetes foram cair a alguns quilômetros de distância. A
fumaça subiu aos céus, em rodopios. Satisfeito, Ornar registrou o fato de que não se
tratava dos cogumelos típicos das explosões atômicas. Neste mundo pacífico, as armas
atômicas não deviam ser usadas.
Depois ele descobriu um véu de poeira a sudoeste.
Como o ar praticamente não se mexia, isso somente poderia significar uma coisa: O
adversário ligara seu aparelho antigravitacional, colocando-o em polarização invertida.
Com isto, ele fora lançado bastante para o alto, e um gerador do seu defletor evitava que
pudesse ser observado oticamente.
O oxtornense encolheu-se, tirou o cano comprido dos ombros e deixou deslizar para
dentro do mesmo um Redeye XIII. Mirou rapidamente o ponto no ar onde imaginava
encontrar-se o tefrodense, depois apertou com o polegar a tecla de ignição.
O Redeye varreu por dentro do cano e afastou-se com um silvo abafado. Para o seu
cabeçote de busca infravermelho o gerador do defletor não seria nenhum empecilho.
Hawk entretanto não esperou pelo resultado do seu tiro. Atirou-se para a frente,
saltando, bem junto da rocha, para o lago lá embaixo.
E foi a sua sorte, pois no segundo seguinte explodiu, por cima dele, um foguete,
exatamente no lugar onde há poucos segundos ainda estivera de pé.
— Não é um truque ruim! — murmurou ele, enquanto ligava o seu micropropulsor,
voando velozmente bem por cima do espelho de água do lago. — Esse garotão esperto
deve ter mandado o seu traje de combate viajar sozinho.
Quase na margem oposta do lago, Omar acionou a ligação vertical do seu aparelho
antigravitacional. Numa curva quase vertical ele atirou-se para cima. Ao mesmo tempo
ativou o seu campo defletor, na esperança de que o tefrodense apenas acharia que tudo
aquilo não passava de uma repetição dos seus próprios truques, deixando passar sem
problemas o suposto traje de combate.
E foi então que ele o viu.
Ele estava acocorado num buraco natural na terra, apontando com uma arma de
mão, pesada, energética, para o oxtornense.
Os tiros dos dois agentes foram disparados ao mesmo tempo.
Em volta de Omar Hawk desceu a noite.
Só voltou a si mais tarde, numa cabine relativamente apertada, à meia-luz, um
letreiro de “Atenção” brilhando em vermelho e uma voz mecânica, que gemia de forma
nada modulada.
Terminada a simulação do Simultan. Resultado empatado!
***
Omar Hawk piscou, devido às lâmpadas de controle do console de comando, abriu
as fivelas magnéticas de seu cadeirão anatômico e levantou-se com a leveza de um
grande gato selvagem.
Pensativo, ele acendeu um cigarro, inalou a fumaça, dirigindo-se depois,
lentamente, em direção à escotilha da cabine. No corredor do Centro de Condicionamento
da Crest III ele encontrou o gigantesco ertrusiano Melbar Kasom.
Ao mesmo tempo os dois condicionados ao meio ambiente estenderam-se as mãos,
se felicitando pelos seus resultados.
Depois começaram a rir, sem conseguir parar.
Depois que tinham conseguido controlar-se novamente, foram andando lentamente
até o elevador, deixando-se levar até o convés de lazer. O pavilhão do solário parecia
gigantesco, porém quatro quintos daquela paisagem exoticamente terrana eram apenas
uma ilusão, habilmente plasmada por técnicos de vídeo engenhosos.
No pavilhão-bar eles se deixaram cair em macias poltronas, divertindo-se com as
caras espantadas dos outros presentes, horrorizados ao verem os assentos das poltronas
irem até quase ao chão, e pediram um coquetel de suco de legumes, duplo.
— O senhor foi um tefrodense diabolicamente engenhoso, Melbar! — disse Omar
Hawk, espontâneo. — Por assim dizer, o mais perigoso agente inimigo que já cruzou o
meu caminho.
Kasom riu tão alto, que alguns outros oficiais chegaram a tapar os ouvidos com as
mãos. Ele bebeu o seu grande copo de um só trago e logo pediu outro.
— Eu tenho que devolver esse elogio, Omar — ele sacudiu a cabeça. — Para falar
francamente, eu jamais imaginei que o senhor fosse capaz de me meter num
“empatados”! Afinal de contas eu não tenho somente a maior experiência de muitas
missões, mas, além disso, sou especialista da USO, e como tal, até agora, sempre me
achei invencível.
Hawk sorriu.
— Aliás, eu não o venci, Melbar. Mas, ainda assim, os especialistas da Contra-
Espionagem Galáctica certamente não recebem um treinamento pior do que os
especialistas da USO. Só que, normalmente, não fazem tanto barulho sobre isso.
— Essa acertou em cheio! — observou o ertrusiano, sorrindo. — Mas o senhor
talvez tenha razão. Em nossa organização quase só existem terranos coloniais, e estes se
destacam, até mesmo fisicamente, de modo bastante acentuado dos nascidos na Terra.
Por isso não é de admirar que as “pessoas normais” da CEG não apareçam tanto, nem
chamem tanto a atenção. Até o senhor não chega a sobressair da massa, quando até
mesmo sua força física é superior à minha, sem falarmos da força de resistência do seu
metabolismo.
O oxtornense fez um gesto defensivo, chegando até a ficar um pouco ruborizado.
Ele não gostava quando acentuavam as suas qualidades especiais, assim como também
não gostava quando alguém procurava colocá-lo sob uma luz desfavorável.
— Não é a força bruta, mas o espírito o fator decisivo, quando se trata de um agente
secreto. O senhor viu isso até durante nosso “combate”. Nenhum de nós dois tentou
empregar as suas forças físicas.
Melbar Kasom passou cuidadosamente a mão nos seus cabelos foiciformes, que lhe
iam da testa até a nuca, e eram a única parte do seu corpo que o ertrusiano costumava
cuidar com certa vaidade.
Em seguida pôs a mão na região do estômago e repuxou a cara numa careta de
desconforto.
— Eu sugiro irmos, antes de mais nada, comer alguma coisa, Omar. O que me diz
sobre isto?
— Concordo. O meu estômago também já está roncando desde o desjejum. Vamos
ver se conseguimos alguma coisa que alimente.
Em todas as espaçonaves maiores da Frota Solar havia restaurantes especiais para
adaptados ao meio ambiente e que tinham uma necessidade acima da média de alimentos
— bem como para terranos das colônias, com metabolismos estranhos. Seria impossível
querer que ambos os lados comessem sempre juntos. Deste modo, por exemplo, pessoas
nascidas na Terra não agüentariam comer ao lado de um adaptado ao meio ambiente de
Sapiskaia, ou mundos exóticos como este, e ficarem olhando enquanto essa gente
devorava o seu mingau meio apodrecido, de um violeta brilhante, feito de frutos do mar
parecidos com medusas. Só o cheiro já seria suficiente para provocar vômitos
irresistíveis...
Por outro lado, o metabolismo dos que vinham de mundos exóticos necessitava de
determinadas combinações orgânicas especiais, sem as quais eles somente poderiam
existir por muito pouco tempo — e por enquanto ainda não se conseguia fabricar tudo
sinteticamente.
Melbar Kasom, aliás, comia tudo que lhe punham na frente — desde ouriços
viscosos, passando por baba de caracóis de Giga ao forno, até um firme assado de carne
bovina terrana. Curiosamente nada disso lhe fazia mal — ou pelo menos quase nada.
Ele pediu, modestamente desta vez, somente um peru grelhado e como aperitivo
cerca de três quilos de salada mista.
Omar Hawk necessitava de certas especialidades. Comeu um prato que consistia de
cerca de quatro quilos de peixe fortemente salgado, passado na máquina, e além de
toucinho não defumado e fígado de mamus oxtornenses, cerca de dois litros de mosto
fermentado de cogumelos. De vez em quando ele necessitava destas especialidades, pois
o seu metabolismo, afinal de contas, tinha que conservar músculos que pareciam de
metalplástico e ossos que deviam ter a resistência do aço terconite.
Os quatro epsalenses na mesa ao lado daqueles dois agentes contentaram-se
realmente com muito pouco. Comiam grandes tiras de carne meio carbonizada e
tomavam uma bebida, que um estudante de química, depois de cuidadosa prova,
provavelmente definiria como uma mistura de vinagre de alta percentagem com
salmoura.
Kasom e Hawk certamente ainda teriam ficado por muito mais tempo por ali, se os
alto-falantes do intercomunicador não lhes tivesse solicitado comparecerem
imediatamente à sala de comando, apresentando-se ao Lorde-Almirante Atlan.
Um olhar às telas de imagem do vídeo externo, que havia em toda parte, mostrou-
lhes o motivo daquilo.
Lá fora, no cosmo, pairava, aparentemente sem se mover, o corpo cilíndrico de uma
espaçonave maahk...
***
Perry Rhodan e Atlan tinham reunido a sua tripulação. Gucky, Tschubai, Marshall,
Baar Lun, Kasom e Hawk.
Antes de deixarem a sala de comando para embarcarem numa nave auxiliar tipo
corveta, o Administrador-Geral resumiu mais uma vez quais as metas que eles haviam se
colocado para as negociações que tinham pela frente:
— Nós necessitamos, imprescindivelmente, das antigas estações intergalácticas dos
maahks, ainda existentes, e que conseguimos conquistar aos senhores da galáxia. Sem
estas estações estaríamos condenados a ficar em Andrômeda ou em Andro-Beta, o que,
de conformidade com nosso pacto com os maahks, não podemos fazer de modo algum.
“Entretanto, sob o ponto de vista legal, os maahks ainda são os legítimos
proprietários das “estações” intercósmicas, apesar do fato de que estas ultimamente
estavam na posse dos senhores da galáxia, contra os quais nós lutamos, para reconquistá-
las.
“Portanto trata-se de convencer os maahks de que eles terão que nos ceder
provisoriamente suas estações intergalácticas, para que possamos cumprir a nossa parte
neste pacto. Naturalmente não poderemos exercer pressão, se não quisermos pôr em
perigo a paz entre as nossas raças. Por outro lado, entretanto, eu não quero que os maahks
nos vejam como pobres dispersos, cortados do seu mundo natal, e que já não mais
possuem um moral de combate excepcionalmente bom.”
Ele sorriu, matreiro.
— Foi por isso que eu sugeri o quarto planeta do sol branco Urhag como ponto de
encontro para nossas negociações. Este planeta, ao qual os maahks chamam de Lamaar,
tem, sob sua superfície, uma pequena surpresa — naturalmente não para nós. Nós
sabemos que aqui existiu uma estação do movimento de resistência tefrodense aos
senhores da galáxia. A estação foi conquistada por tefrodenses fiéis, há muitas décadas
atrás, e a sua guarnição totalmente liquidada. Esqueceram-se, entretanto, de destruir as
instalações técnicas.
“Estas instalações consistem em sua maior parte de computadores robotizados —
autárquicos — e de projetores de fantasmas, que servem para atemorizar criaturas
exóticas que por ali possam aparecer.
“Portanto vai haver uma surpresa relativamente inofensiva para os nossos amigos
maahks, mas uma surpresa com a qual os seus cérebros, que raciocinam tão logicamente,
não conseguirão digerir.”
Ele sorriu novamente.
— Os senhores, e especialmente Gucky, Baar Lun e Ras Tschubai, deverão provar
aos respiradores de hidrogênio que nós não somos os pobres coitados, necessitados de
ajuda, pelos quais, aparentemente, estamos sendo tomados. Isto certamente influenciará
positivamente o rumo das próximas conversações.
Depois desta curta explicação todos entraram na corveta pronta para deslanchar.
Durante o vôo, Omar Hawk ficou refletindo sobre a tarefa que esperava por eles no
planeta Lamaar. Rhodan fizera apenas ligeiras alusões aos perigos. Naturalmente
projetores de fantasmas eram conhecidos, pois nada mais eram que uma espécie de
cinema em terceira dimensão, que não necessitava de uma tela e que transmitiam ao
assistente a sensação de encontrar-se bem no meio dos acontecimentos — como
participante. O oxtornense perguntava-se como é que truques semelhantes poderiam
assustar os maahks, normalmente tão corajosos.
A nave auxiliar pousou nas proximidades de um cone achatado, coberto por
vegetação pobre, evidentemente ainda um vestígio das lutas que aqui tinham ocorrido
entre os combatentes da resistência tefrodense e os lacaios tefrodenses dos senhores da
galáxia.
Do outro lado do funil, a cerca de dois quilômetros de distância da KC-09, pousou a
nave auxiliar cilíndrica dos maahks. Robôs desajeitados saíram de dentro da nave,
caminhando pela borda do cone, onde se encontraram com seus colegas de fabricação
terrana.
Tiros de armas energéticas, de ambas as naves auxiliares, limparam o interior do
cone de sua vegetação. Depois os robôs começaram o seu trabalho. Transformaram o
chão da cratera numa plataforma lisa, com um revestimento duro como o aço,
acrescentaram módulos pré-fabricados de construção e passaram no centro uma parede
transparente. Depois disso, ergueram sobre tudo uma cúpula transparente de plástico, da
grossura de uma folha de papel, calafetaram a mesma nas entradas das eclusas e por cima
da parede de separação, e finalmente ativaram a aparelhagem, controlada por
computador, de climatização e renovação de ar.
Dentro de seis horas o trabalho estava terminado. As delegações de ambas as raças
encontraram-se pela primeira vez, cada uma na sua metade da cúpula, que tinha o ar que
respiravam, sua gravidade acostumada, e a temperatura mais amena possível.
O Lorde-Almirante Atlan e Grek-1, o chefe do governo dos povos reunidos dos
maahks, na Nebulosa Alfa, já se conheciam. Há algum tempo atrás eles tinham
trabalhado num tratado de paz, fundamentado, que também tinham assinado.
Este tratado previa a desistência de Andrômeda pelos terranos, a urgente retirada
das formações de suas frotas e a não-ingerência na política dos maahks. Além disso,
continha um parágrafo sobre a retenção, pelos terranos, da base de apoio de Gleam, em
Andro-Beta, e a ajuda armada dos maahks para a definitiva liquidação dos senhores da
galáxia.
E agora os maahks de repente estavam colocando problemas. Por um lado, eles não
haviam contado com o fato de que a frota terrana em Andrômeda fosse cortada de sua
galáxia natal. Por outro lado, era evidente que eles se inquietavam com os êxitos que esta
frota tinha conseguido conquistar contra os senhores da galáxia e os tefrodenses até
agora.
Grek-1 afirmava que os senhores da galáxia, com a destruição do planeta Multidon,
já estavam definitivamente derrotados. Ele duvidava das informações de Rhodan a
respeito de um mundo central dos senhores da galáxia, um legendário sistema de três
planetas, no qual devia encontrar-se o centro nervoso de todo o poder dos senhores da
galáxia.
Os dois chefes de governo passaram todas as cópias dos arquivos dos maahks em
revista, procurando por um registro a respeito de um sistema de três planetas, cujas
particularidades coincidissem com aquelas que Perry Rhodan aventara.
Sem sucesso, entretanto.
Os maahks concederam que existia uma probabilidade para que este sistema jamais
tivesse sido descoberto e registrado por eles. Entretanto tinham esta probabilidade como
muito pequena, tão pequena que achavam que a mesma era negligenciável.
Em vista disso insistiram que os terranos deviam deixar a Nebulosa de Andrômeda
imediatamente. Numa outra ocasião eles não estariam dispostos a colocar-lhes à
disposição as suas estações intergalácticas.
Rhodan e Atlan chamaram a atenção dos maahks para o último e mais forte bastião
dos senhores da galáxia.
Inutilmente.
Grek-1 retrucou que eles poderiam muito bem, mesmo sem o apoio dos terranos,
liquidar os últimos restos do poder dos senhores da galáxia.
Este foi o resultado do primeiro dia das negociações.
***
Omar Hawk e Melbar Kasom partiram na mais estranha missão de patrulha de todo
o seu tempo de serviço!
O planador elíptico media cerca de oito metros de comprimento por quatro de
largura, tendo três metros de altura. Projetores antigravitacionais e turbinas de impulso
davam-lhe uma velocidade máxima de novecentos quilômetros horários. Entre as duas
poltronas traseiras, levemente levantadas, estava montado um canhão energético, que
podia ser girado para todos os lados.
Um maahk vestindo um traje espacial cinza-azulado estava sentado diante do
console de comando. Perto dele estava acocorado Melbar Kasom, com as pernas puxadas
para cima da poltrona. O segundo par de poltronas era ocupado por Omar Hawk e outro
maahk, e por trás deles, mais dois maahks guarneciam o canhão energético.
O planador entretanto não se movimentava com sua velocidade máxima, porém
seguia com menos de quarenta quilômetros horários numa altura de cinco metros acima
da superfície, coberta com escassa vegetação, do planeta Lamaar. A carlinga transparente
estava aberta, e os olhos dos soldados da patrulha olhavam atentamente em redor.
O Primeiro-Tenente Hawk sorria, para si mesmo. Ele sabia que a segurança das
delegações de negociações não estava realmente ameaçada. As estranhas aparições que,
neste segundo dia de negociações, tinham assustado tanto aos maahks, consistiam apenas
das chamadas projeções de fantasmas.
Mas os terranos fizeram tudo para demonstrar que realmente acreditavam numa
ameaça.
Por esta razão um grupo de seis planadores desdobrou-se, saindo com uma
tripulação mista, para verificar a causa das aparições e afastar, o mais rapidamente
possível, aquela ameaça.
Ao contrário dos pesados trajes espaciais dos maahks, os terranos vestiam apenas os
seus leves macacões de combate. Os capacetes, que na realidade eram capuzes, podiam
ser dobrados para a frente, do mesmo modo que capacetes de pressão, mas Lamaar era
um mundo de oxigênio, e por esta razão isto naturalmente era desnecessário.
Hawk deitara a cabeça para trás, olhando com os olhos semicerrados para aquele
céu de um azul muito profundo, que somente tinha uma nuvenzinha branca, vagando aqui
e acolá. Ele sentiu com prazer aquele ventinho fresco da manhã, e em pensamentos
transportou-se para Oxtorne, para sua mulher Yezo, que naturalmente não podia
acompanhá-lo em suas missões. Pensou no seu mundo natal, no qual, após gerações de
adaptados insuficientemente, finalmente tinham conseguido a adaptação total. Este
mundo extremo, com seus furacões violentos, os tremores e as reviravoltas constantes de
calor e frio, certamente ainda pareceria um verdadeiro inferno a um homem nascido na
Terra.
Para as gerações dos colonizadores totalmente adaptados, entretanto, ele era um
verdadeiro paraíso.
Também Lamaar poderia ser um paraíso, pensou ele, um paraíso para colonizadores
vindos da Terra. Os danos que haviam sido infligidos ao planeta pelas lutas entre os
tefrodenses não prejudicariam em nada uma colonização. Eram insignificantes em vista
da fertilidade da terra e das possibilidades que os mares, as planícies de terras pretas e os
inúmeros tesouros minerais ofereciam.
Ele suspirou.
Nunca mais o pé de um ser humano pisaria neste mundo. A paz entre os maahks e
os terranos tinha custado um preço. Andrômeda era tabu para a Humanidade, e os maahks
dificilmente permitiriam a entrada de uma raça humanóide nos limites do seu poder.
Ninguém poderia levar a mal aos respiradores de hidrogênio o fato deles
raciocinarem e agirem tão intransigentemente.
Tinham sido respiradores de oxigênio humanóides que há dezenas de milhares de
anos atrás os haviam escorraçado de sua pátria, a Nebulosa de Andrômeda — e
respiradores de oxigênio humanóides os escorraçaram novamente do seu exílio na Via
Láctea, quase destruindo-os completamente. E agora eles finalmente queriam uma
galáxia que pertencesse exclusivamente a eles e a ninguém mais, um direito de domicílio
que não seria contestado por ninguém.
Mesmo assim era uma pena que estes muitos milhões de planetas bons, que não
podiam ser colonizados pelos maahks — pudessem ser colonizados por humanóides.
Ele foi arrancado de sua meditação quando o planador deu um salto para a frente, e
o canhão energético atrás dele começou a disparar.
Ao levantar os olhos, descobriu uma parede de um metro de altura, de uma neblina
leitosa, que se arrastava lentamente em direção ao veículo. Os raios incandescentes, de
um azul-esbranquiçado, que ininterruptamente eram despachados pelo cano do canhão
sobre aquela massa ondulante, somente faziam danos quando acertavam no solo, onde
sua energia se descarregava. A névoa, entretanto, continuou inexoravelmente arrastando-
se para a frente, tornando-se lentamente cada vez mais alta.
Gritos estridentes saíram dos alto-falantes dos capacetes dos maahks, quando a
neblina alcançou a ruína de um edifício com cúpula, literalmente tragando-o. Era como se
o prédio tivesse sido sugado.
O oxtornense jamais vira os maahks tão amedrontados. Os combatentes desta raça
não conheciam o medo diante da morte. Adversários físicos, corpóreos, jamais os
assustavam, porém isto aqui era algo bem diferente, algo que ia além do seu poder de
abstração, num cérebro que pensava com a lógica rígida, como o deles.
Quando aquela parede de neblina estava a apenas poucos metros diante do planador,
o piloto girou a nave para trás, querendo fugir.
Melbar Kasom colocou sua mão imensa no seu ombro.
— Pare! — ordenou ele, num kraahmak impecável.
O maahk chegou a abaixar-se.
— Não podemos fazer nada! — retrucou ele. — Lamaar tem que ser destruído!
Esta era a conclusão natural para uma inteligência raciocinando logicamente. Algo
que aparentemente lutava com meios sobrenaturais somente poderia ser vencido com
uma operação de destruição completa.
Porém isto não era do interesse dos seres humanos.
— Nós vamos desembarcar! — disse Omar Hawk. — Vocês permaneçam, com o
planador, bem perto dos limites do campo de neblina, ficando em ligação conosco pelo
telecomunicador.
Com um salto elegante ele pulou por cima da parede baixa de bordo do veículo.
Melbar Kasom o seguiu pelo mesmo caminho.
Imediatamente o planador atirou-se cinqüenta metros para trás. E ali permaneceu.
Os maahks tinha cessado o fogo, uma vez que o mesmo, aparentemente, nada conseguia
contra aquele adversário sinistro.
Kasom sorriu ao oxtornense.
— Agora vamos mostrar a estes cabeças de foice o que é um ancinho, não é
mesmo?
Omar retribuiu o sorriso.
— Eles vão ficar espantados, quando nos virem sair novamente de dentro da névoa,
sãos e salvos. Na realidade eu acho que eles mesmos já deviam ter percebido que os
objetos que entram em contato com a neblina simplesmente são envolvidos por um
campo defletor, ficando, deste modo, completamente invisíveis.
O ertrusiano abriu a boca para uma resposta. Porém não chegou mais a isso. Diante
deles apareceu, de repente, uma gigantesca bola de fogo, curvando-se acima do horizonte
e brilhando mais que um sol.
Kasom e Hawk sabiam, no mesmo instante, o que tinham pela frente. Puxaram
rapidamente seus capacetes por cima da cabeça, ligaram seus campos defensivos
energéticos individuais, e deitaram-se no chão, ao comprido, com os pés na direção da
bola incandescente da explosão atômica.
Um minuto mais tarde, uma onda de deslocamento de ar quente varreu por cima de
suas cabeças. Logo depois chegou-lhes o trovejar ensurdecedor do espocar de terra,
destroços e poeira que se espalhavam para todos os lados a partir do ponto de impacto da
explosão.
Porém somente depois que a onda negativa de deslocamento de ar tinha passado por
cima deles, em direção contrária, eles ousaram levantar as cabeças.
O banco de neblina sumira. Bem longe, no oeste, erguia se um gigantesco cogumelo
atômico, que mandava para a estratosfera as suas ramificações com uma velocidade
impressionante.
A ruína do edifício de cúpula ainda estava de pé, porém alguns pedaços haviam sido
arrancados do mesmo há pouco.
Omar Hawk arrastou os pés na grama. A mesma transformou-se imediatamente em
poeira branco-acinzentada.
Isso não tinha sido nenhuma projeção fantasmagórica, mas sim uma coisa bem real!
Um adversário, que não deveria haver em Lamaar, tinha golpeado, mesmo que, de
princípio, sem sucesso.
Porém já o próximo foguete atômico poderia evaporar aquela cúpula provisória
dentro da cratera, na qual estavam reunidas as mais altas autoridades dos governos dos
maahks e do Império Solar.
3
Perry Rhodan e Atlan olhavam, com os rostos tensos, o disco de registros por cima
da mesa cartográfica. Até agora um total de duas mil e cem naves cósmicas da frota
terrana haviam anunciado o surgimento de microrrobôs.
Onze dessas naves já não mais se comunicavam com a Crest há mais de meio
minuto!
O Administrador-Geral reativou o contato com a Maximilian. Um jovem tenente
olhou, de olhos esbugalhados, da tela de imagem. Informou ser o comandante em
exercício da supernave de combate, em substituição ao Coronel Fritzsch e outros trinta e
quatro altos oficiais, que tinham caído na luta contra aqueles diminutos invasores.
— Nada, sir! Baar Lun ainda não deu notícias.
Rhodan olhou, nervoso, o seu cronógrafo.
— Ele já está a caminho de sua nave há mais de meia hora, tenente. Na realidade ele
já devia ter entrado num hangar de Maximilian há um quarto de hora atrás. O senhor tem
certeza de que todas as eclusas estão guarnecidas, tenente?
O oficial ficou ainda um pouco mais pálido. Mas anuiu, valente.
— Certeza absoluta, sir. A nave foi submetida a uma limpeza completa, removendo-
se todos os robôs. Cerca de trezentos homens caíram, durante esta operação. É o que se
pode verificar, pelo menos, até o momento. Faz dez minutos que as guarnições das
eclusas não tiveram mais nenhum contato com o inimigo.
Os ombros de Rhodan como que caíram um pouco para a frente.
— Muito obrigado, tenente — disse ele, em voz baixa. Desligou o
hipercomunicador e virou-se para o arcônida.
— As coisas parece que não vão bem com o modular — nem com Gucky.
Atlan olhou-o fixamente, mas praticamente sem vê-lo.
— Receio que jamais voltaremos a rever nem Lun nem Gucky, amigo. O
rastreamento energético registra a explosão de uma gigabomba na linha de curso do caça
espacial de Lun...
O terrano limpou o suor da testa. Os seus olhos irradiavam um ódio tal, como
jamais Atlan vira neles antes.
— Acalme-se, Perry! — advertiu ele.
Rhodan nem pareceu ouvir. Puxou o microfone da intercomunicação com a frota
mais para perto dele, pigarreou e depois disse com uma voz perigosamente calma:
— Fala Rhodan, a todas as unidades da frota! Dentro de um minuto começa o
ataque de todas as forças, em grupos concentrados. O Plano B-009 continua válido. Os
grupos isolados concentrarão o seu fogo sempre num só lugar do campo energético
defensivo hemisférico. Logo que houver uma brecha, todos os meios de destruição
deverão ser empregados imediatamente. Meta: liquidação definitiva da Tamania!
O arcônida ergueu os ombros.
Com a Tamania, somente poucas pessoas desapareceriam. Talvez até apenas um
único senhor da galáxia estaria no planeta central. Mas era mais do que questionável, se
desta vez se estaria em situação de atravessar aquele campo energético hemisférico —
agora que somente era possível atacá-lo com a metade da frota!
Porém o amigo dificilmente iria ouvir alguma advertência. A provável morte de
Gucky parecia tê-lo abalado terrivelmente.
Atlan também sentiu pena e dor, ao pensar que agora nunca mais teria oportunidade
de conversar com o rato-castor, que Gucky já não mais existia...
Mas ele tornara-se duro, nestes dez e meio milênios, metido em batalhas espaciais,
solidão, mergulhado na própria dor e na alheia. Talvez ele também perderia o controle
quando estivesse completamente sozinho com a sua dor — mas jamais diante dos outros.
Quando aquele minuto se passou e a Crest III colocou-se em movimento,
acompanhada por mil e novecentas outras unidades, o matemático-chefe apareceu diante
do Administrador-Geral.
Hong Kao, normalmente a calma e a cortesia em pessoa, nem perguntou primeiro se
podia falar. Colocou-se diante de Rhodan e disse numa voz cortante, na qual podia ouvir-
se nitidamente um laivo da mais autêntica indignação:
— Sir, chamo sua atenção para o fato de que a operação ordenada trará uma morte
sem sentido para alguns milhares de terranos. O computador...
Perry ergueu-se, irritado.
— O que diz a sua máquina não me interessa, Hong! É o homem quem decide. O
senhor sabe, por acaso, que Gucky e Baar Lun provavelmente morreram, foram
assassinados por aqueles seres que manipulam as armas do planeta Tamania...?
— Estou informado, sir — retrucou Hong Kao um pouco mais baixo que antes. —
Mas mesmo que Gucky esteja morto, o senhor não pode deixar que seu desejo pessoal de
vingança o leve a sacrificar milhares e milhares de seres humanos!
Atlan deu um passo na direção do matemático-chefe.
— Isso é motim, Hong! Volte imediatamente ao seu lugar, ou então enfrente as
conseqüências do seu comportamento. Nós nos encontramos numa batalha!
Hong Kao olhou o arcônida francamente no rosto. E resistiu ao olhar penetrante do
outro. Depois respirou fundo.
— O comando desta nave está nas mãos do Administrador-Geral, sir — disse ele,
friamente. — O senhor não tem autoridade sobre mim!
Atlan ia retrucar alguma coisa, furioso. Fechou os punhos. Mas logo controlou-se
novamente. Repentinamente virou-se, e dirigiu-se, com passadas fortes, em direção à
saída.
O matemático-chefe engoliu em seco. Ele sabia que tinha ofendido mortalmente o
lorde-almirante. E teve que fazer um esforço sobre si mesmo, para não sair correndo atrás
dele, para pedir-lhe mil desculpas.
Mas ele adiou isso para mais tarde.
— Sir! — disse ele, em voz baixa mas firme, para Rhodan. — Antigamente o
senhor teria degradado um comandante que agisse como o senhor está em vias de agir, e
certamente o colocaria diante de uma corte marcial...!
Distraído, Rhodan abria e fechava a fivela magnética do seu cinto de segurança. Os
seus dedos pareciam uma entidade autônoma, que não tinha qualquer ligação com o
cérebro.
O que surgiu na tela de imagem frontal do jato-mosquito não era nenhum planeta.
Uma esfera de trinta quilômetros de diâmetro estava parada, imóvel, no espaço
vazio entre as estrelas de Andrômeda. O rastreador de massa do caça espacial registrou
uma liga desconhecida de metalplástico. O rastreamento energético, entretanto, mal
respondia, com exceção da quantidade energética que fazia funcionar o transmissor de
rádio.
A cinco mil quilômetros de distância, Baar Lun ajustou o jato-mosquito à relativa
imobilidade da esfera.
— Eu sugiro que você, antes de mais nada, teleporte até lá, Gucky — levando-me
consigo.
— Acho que isso será mais seguro — retrucou o rato-castor.
Ele não mostrou qualquer indício de medo. Sua agitação provinha simplesmente de
sua curiosidade. Lá, do outro lado, aparentemente não havia estações de rastreamento,
caso contrário eles teriam registrado nos seus aparelhos os impulsos dos tateadores.
Também a intensidade da transmissão de rádio continuara a mesma. Possivelmente
naquela esfera de aço não se encontrava mais nada além de um transmissor automático.
Lun dobrou o encosto de sua poltrona para frente e deu a mão ao rato-castor.
Gucky deu um assobio estridente — e teleportou!
Eles materializaram aparentemente no Nada — até notarem que simplesmente se
encontravam num recinto completamente escuro. Ao mesmo tempo, ligaram as lanternas
dos seus capacetes.
Aqueles cones de luz, fortemente delimitados, deslizaram por cima de paredes de
metalplástico, sem apainelamento, superfícies brilhantes redondas e protuberâncias que
rebrilhavam, avermelhadas, contra a luz, e pareciam estar embutidas nas paredes.
— Hum! — fez o rato-castor, pensativo. — Eu aposto que esta esfera pode ser
movida, logo que se descubra como funciona o seu sistema de propulsão.
— Você está querendo dizer que nós nos encontramos dentro de uma nave cósmica?
— perguntou Lun, respirando forte.
— Bem, não precisa ser necessariamente uma nave cósmica. Estou pensando que se
trata provavelmente de uma estação cósmica, que tem a capacidade de modificar sua
posição. Mas, ainda assim, eu acho que tudo isto está em flagrante contraste com o fato
de daqui estarem irradiando simplesmente com ondas de rádio apenas à velocidade da
luz. Em minha opinião isto não corresponde absolutamente ao nível da técnica atual.
Ele franziu a testa.
— Um momentinho!
No segundo seguinte ele tinha sumido. Lun percebeu o ruído de uma teleportação e
perguntou-se para onde o rato-castor teria saltado.
Mas neste instante Gucky já estava novamente de volta.
— Nós realmente nos enganamos — murmurou ele.
— Como assim? — perguntou o modular sem entender.
— Ao acharmos que esta esfera era desabitada e que ninguém teria registrado nossa
chegada. As transmissões de rádio foram interrompidas — provavelmente quando nós
materializamos neste recinto...
Instintivamente Baar Lun levou a mão à sua arma energética. Porém o rato-castor
sacudiu a cabeça.
— Não creio que temos alguma coisa a temer, Lun. Pois por aqui não existem
impulsos mentais de nenhum tipo.
— Mas isto é francamente contrário ao que você acabou de afirmar...
— Eu sei — defendeu-se Gucky. — Afinal, não é preciso que sejam seres
orgânicos, que habitam este globo. Talvez sejam robôs estacionários, que procuram um
contato com seres inteligentes.
— Neste caso eles teriam trabalhado com aparelhagem de hiper-rádio! — retrucou o
modular. — A não ser que...
Ele sacudiu a cabeça, porque a idéia que lhe viera era um pouco ousada demais.
— A não ser que eles não tenham interesse em chamar para si a atenção dos
senhores da galáxia ou dos tefrodenses, o que afinal de contas dá no mesmo. Se não estou
muito enganado, nós vamos encontrar aliados por aqui.
Baar Lun de repente estremeceu.
— Em algum lugar uma máquina parou de funcionar. Uma máquina que não utiliza
muita energia, apenas cerca de três megawatts, pelo que estou avaliando.
O rato-castor mostrou o seu dente roedor.
— Isso confirma nossa teoria.
No instante seguinte também ele estremeceu.
— Impulsos mentais! — gritou ele, enterrando as suas unhas no traje especial de
Lun. — Pensamentos confusos. Parece que alguém está sonhando. É impossível
reconhecer uma ordem de idéias concatenadas.
— Você consegue goniometrar o local? — perguntou o modular em voz baixa.
— Já fiz. Dê-me a sua mão, careca!
Quando eles rematerializaram, encontravam-se num recinto cilíndrico, muito pouco
iluminado.
Não conseguiam mexer qualquer membro. Alguma coisa invisível prendia-os ao
lugar em que tinham surgido. Porém não havia qualquer indício de alguma ativa ação
hostil, por isso os dois invasores ergueram os seus olhos para aquele cilindro
transparente, que brilhava azulado, suspenso bem no meio do recinto, pulsando
levemente, como se vivesse.
Porém não foi o cilindro que espantou Gucky e Lun tremendamente, mas sim o
corpo humanóide, que pairava dentro do mesmo. Um ser humano — mas, ainda assim,
não exatamente um homem — pois havia algumas características que mostravam que
aquele era um ser estranho.
E, sobretudo, os seus pensamentos eram heterogêneos! Apesar de não serem
formulados conscientemente, eles demonstravam que este extraordinário ser fisicamente
humanóide crescera numa cultura e civilização inteiramente exóticas. Baar Lun e o rato-
castor tiveram consciência de que aqui eles tinham encontrado algo que, em suas
conseqüências, certamente poderia provocar uma mudança completa no fluxo da história
cósmica! E esperaram...!
***
**
*
O Fator I quis girar para trás a engrenagem da
história galáctica — mandando destruir a nave de
exploração de Thora, que tivera de pousar
emergencialmente no satélite da Terra, antes do
primeiro vôo lunar de Perry Rhodan. Caso este crime do
tempo tivesse tido êxito, o Fator I teria destruído o
embrião da Terceira Potência — impedindo a posterior
existência do Império Solar.
Deste modo, entretanto, um dos últimos senhores
da galáxia luta num combate desesperado contra as
frotas aliadas que atacam Tamania. Como será a
decisão definitiva — você verá no próximo número da
série Perry Rhodan, sob o título “Amok dos
Hibernados”.