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A EXPRESSÃO MAÇÔNICA: "DO MEIO-DIA À MEIA-NOITE"

(ALEXANDRE ACIOLI)

Os rituais de Lojas Simbólicas do Rito Escocês Antigo e Aceito trazem,


logo na abertura - e também no encerramento dos trabalhos - perguntas acerca
do horário de trabalho do Maçom. A informação é de que eles iniciam os
trabalhos ao meio-dia, se estendendo até a meia-noite.

- Mas o que significa trabalhar do Meio-Dia à Meia-Noite?

A Maçonaria, na sua passagem de Operativa para Especulativa atraiu


intelectuais de diversas correntes de pensamentos, que agregaram elementos
místicos e ocultistas tirados da Bíblia, da Cabala, do hermetismo, da Ordem
Rosacruz (Amorc), da astrologia e de antigas religiões e processos iniciáticos.

Por conta disso, algumas palavras, expressões e frases têm a sua lógica
interpretada de acordo com as doutrinas e o simbolismo das ciências ocultas
de que tanto se utilizou a Maçonaria entre os séculos XVIII e XIX.

No caso “Do Meio-Dia à Meia-Noite”, a citação não deve ser interpretada


no seu sentido literal, mas observado o seu sentido simbólico. Ragon, citado
por Boucher (2000), aponta para a astrologia a explicação para a significação
esotérica dessa expressão. A astrologia, segundo ele, da mesma forma em que
divide o ano em 12 meses (ou signos), também divide o dia em 12 correntes
astrais (ou casas). Cada uma dessas casas possui um caráter determinado.
Nesse sistema o Meio-Dia corresponde à 10ª casa. O pôr do Sol está
representado pela 7ª casa e a Meia-Noite à 4ª casa.

Ragon explica que ao Meio-Dia o Sol sai da 10ª casa (a casa dos
negócios e da situação social) para voltar à 9ª casa (da religião e do impulso
espiritual). Portanto, ao serem abertos os trabalhos de caráter filosófico,
abandona-se a 10ª casa, indo para a anterior, que tem a essência da religião e
das questões espirituais.

Depois da 9ª casa, o Sol atravessa a 8ª - a da morte, da desagregação


do antigo e do nascimento em um plano superior. Os astrólogos deram e esta
parte do céu o sentido da ‘INICIAÇÃO’. Depois vem a 7ª casa, a do amor não
físico, da dedicação e da vida social.

A 6ª casa é a do serviço. A passagem da 7ª casa para a 6ª casa é


interpretada como o indício de que o Maçom não espera recompensa da sua
ação social, mas que se prepara para encontrar os espinhos da 6ª casa. Daí
nasce a criação, síntese da 5ª casa, depois da qual o ciclo termina pela 4ª
casa, cujo sentido principal é o fim das coisas.

Esta fórmula ritualística resume a evolução iniciática, lembrando que


cada parte do dia possui uma influência real sobre o ser humano.
Na tradição chinesa, a Escola de Zoroastro considera que do “Meio-Dia
à Meia-Noite”, quando cresce a influência subjetiva do Sol, é o período mais
indicado para o estudo e o desenvolvimento intelectual e espiritual do ser
humano.

Os estudiosos do Zoroastrismo consideravam o período do Meio-Dia à


Meia-Noite propício às coisas do espírito. Possivelmente por conta dessa
particularidade a Maçonaria resolveu colocar os seus obreiros para,
simbolicamente, trabalharem durante esse período.

Mas há também a interpretação de que o Meio-Dia é o momento em que


há mais luz e a Meia-Noite é o período de maior escuridão. O início dos
trabalhos ao Meio-Dia significa a hora em que o Sol encontra-se no Zênite, na
plenitude do seu poder luminoso, significando dizer que o homem está
capacitado a trabalhar pelos seus semelhantes.

O encerramento dos trabalhos à Meia-Noite significa dizer a hora em


que a luz do dia já não se faz presente, por o Sol estar no Nadir. É a hora em
que não se pode mais atuar eficazmente sobre os obreiros.

Gedalge (2000) sugere que é preciso ver nessas horas de trabalho o


simbolismo do malho batendo sobre o cinzel, no desbaste da pedra bruta,
quando realizamos a árdua tarefa de lapidar os nossos próprios defeitos e
imperfeições, procurando melhorar o nosso Templo interior e produzir em
abundância sentimentos como a fraternidade, carinho, amor, compreensão,
verdade, tolerância, harmonia e desapego às coisas materiais, para podermos
distribuí-los não apenas no universo maçônico, mas também no mundo
profano, entre nossos filhos, amigos, familiares, colegas de trabalho e vizinhos.

Não poderemos repartir essas virtudes se não as praticarmos e não as


produzirmos em grandes quantidades. Quem pouco produz, pouco tem a
oferecer, a repartir. É preciso ser solidário. Por meio desse sentimento, os
Maçons se unem a outros Irmãos, com os quais, a cada dia, do Meio-Dia à
Meia-Noite, trabalham material e espiritualmente para cavar masmorras aos
vícios, construir a paz e erguer Templos de virtudes e de fraternidade.

Bibliografia

ASLAN, Nicolas. Comentários ao Ritual de Aprendiz – Vade Mécum Iniciático. Ed. Maçônica.
Rio de Janeiro. RJ. 1977, p229/232

BOUCHER, Jules. Simbólica Maçônica. Ed. Pensamento. São Paulo. 2000

FELICIANO, Alberto Henrique da Cruz. A Tradição Pagã na Maçonaria. Portal Maçônico.


http://www.samauma.com.br

--------- Zoroastrismo. http://www.ombhandhum.org/zoroastrismo.htm

GOPE/GOB. Ritual do 1º Grau do Rito Escocês Antigo e Aceito. 1998

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