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AULA 03: ANÁLISE DE CONTINUIDADE ESPACIAL

MARCOS VINICIUS AGAPITO MENDES


TEORIA DAS VARIÁVEIS REGIONALIZADAS
Variável regionalizada: função numérica com distribuição
espacial, que varia de um ponto a outro com continuidade
aparente, mas cujas variações não podem ser
representadas por uma função matemática simples.

A teoria pressupõe que uma variável pode ser expressa


pela soma de três componentes:
• Componente estrutural, associada a um valor médio
constante ou a uma tendência constante;
• Componente aleatória, espacialmente correlacionada;
• Ruído aleatório ou erro residual.
TEORIA DAS VARIÁVEIS REGIONALIZADAS
Se x representa uma posição em uma, duas ou três
dimensões, então o valor da variável Z, em x, é dada por:

𝑍 𝒙 = 𝑚 𝒙 + 𝜀 ′ 𝒙 + 𝜀"

m(x) = função determinística que descreve a componente


estrutural de Z em x.
ε‘(x) = termo estocástico (aleatório), que varia
localmente e depende espacialmente de m(x);
ε“ = ruído aleatório não correlacionado, com distribuição
normal com média zero e variância σ2.
TEORIA DAS VARIÁVEIS REGIONALIZADAS
Porque variáveis regionalizadas?
R.: porque dependem de suas posições espaciais relativas,
com as variações espaciais podendo ser medidas.

SÉRIE A → 1 7 3 6 2 9 4 8 5
SÉRIE B → 1 3 5 7 9 8 6 4 2 ≠
VARIÂNCIA SÉRIE MÉDIA VARIÂNCIA
σ 2
𝑥𝑖 − 𝑥ҧ A 5 6,67 Entretanto, as duas séries
𝜎2 = B 5 6,67
𝑁 são bem diferentes, pois
Características estatísticas idênticas resultam em dois tipos
distintos de mineralização.
TEORIA DAS VARIÁVEIS REGIONALIZADAS
Porque variáveis regionalizadas?
R.: porque dependem de suas posições espaciais relativas,
com as variações espaciais podendo ser medidas.

SÉRIE A → 1 7 3 6 2 9 4 8 5
SÉRIE B → 1 3 5 7 9 8 6 4 2 ≠
VARIÂNCIA
Estatística clássica: não consegue
SÉRIE MÉDIA VARIÂNCIA
σ 2
reconhecer
2
𝜎 =
𝑥𝑖 − 𝑥 ҧ a diferença
A 5 entre
6,67 as Entretanto, as duas séries
B 5 6,67 são bem diferentes, pois
duas séries 𝑁 (considera as amostras
independentes).
Características estatísticas idênticas resultam em dois tipos
distintos de mineralização.
TEORIA DAS VARIÁVEIS REGIONALIZADAS
Porque variáveis regionalizadas?
R.: porque dependem de suas posições espaciais relativas,
com as variações espaciais podendo ser medidas.

SÉRIE A → 1 7 3 6 2 9 4 8 5
SÉRIE B → 1 3 5 7 9 8 6 4 2 ≠
VARIÂNCIA
Estatística clássica: não consegue
SÉRIE MÉDIA VARIÂNCIA
σ 2
reconhecer
2
𝑥𝑖 − 𝑥 ҧ a diferença
A 5 entre
6,67 as Entretanto, as duas séries
𝜎 = Considerando
B 5 a posição
6,67 são espacial
bem diferentes, pois
duas séries (considera as amostras
𝑁
de cada amostraresultam pode-seem dois tipos
independentes).
Características estatísticas idênticas
distinguir as duas séries.
distintos de mineralização.
TEORIA DAS VARIÁVEIS REGIONALIZADAS
Construindo um
VARIÂNCIA COM SIGNIFICADO ESPACIAL variograma

SÉRIE A → 1 7 3 6 2 9 4 8 5

SÉRIE B → 1 3 5 7 9 8 6 4 2

1)Variância espacial para 1 intervalo de amostragem:


(1 − 7)2 +(7 − 3)2 +(3 − 6)2 +(6 − 2)2 +(2 − 9)2 +(9 − 4)2 +(4 − 8)2 +(8 − 5)2
𝑨: = 𝟐𝟐
8
(1 − 3)2 +(3 − 5)2 +(5 − 7)2 +(7 − 9)2 +(9 − 8)2 +(8 − 6)2 +(6 − 4)2 +(4 − 2)2
𝑩: = 𝟑, 𝟔𝟑
8
TEORIA DAS VARIÁVEIS REGIONALIZADAS
Construindo um
VARIÂNCIA COM SIGNIFICADO ESPACIAL variograma

SÉRIE A → 1 7 3 6 2 9 4 8 5

SÉRIE B → 1 3 5 7 9 8 6 4 2
2)Variância espacial para 2 intervalos de amostragem:
(1 − 3)2 +(3 − 2)2 +(2 − 4)2 +(4 − 5)2 +(7 − 6)2 +(6 − 9)2 +(9 − 8)2
𝑨: =𝟑
7

(1 − 5)2 +(5 − 9)2 +(9 − 6)2 +(6 − 2)2 +(3 − 7)2 +(7 − 8)2 +(8 − 4)2
𝑩: = 𝟏𝟐, 𝟖𝟕
7

3)Variância espacial para 3 intervalos de amostragem:


...
4)Variância espacial para 4 intervalos de amostragem:
...
35

30
A B
25
Variância Espacial 20

15

10

0
1 2 3 4
Intervalo de Amostragem

INTERVALO DE VARIÂNCIA VARIÂNCIA


AMOSTRAGEM ESPACIAL A ESPACIAL B
1 22,0 3,63
Série A muito errática e
2 3,0 12,86
série B mais uniforme.
3 23,67 23,83
4 3,80 29,60
35

30
A B
25
Variância Espacial 20

15

10

0
1 2 3 4
Intervalo de Amostragem

INTERVALO DE VARIÂNCIA VARIÂNCIA Série B: variância espacial


AMOSTRAGEM ESPACIAL A ESPACIAL B
aumenta com o intervalo de
1 22,0 3,63
Série A muito errática e
2 3,0 12,86 amostragem (correlação
série B mais uniforme.
3 23,67 23,83 entre valores diminui com a
4 3,80 29,60 distância).
TEORIA DAS VARIÁVEIS REGIONALIZADAS
HIPÓTESE DE ESTACIONARIEDADE
A distribuição das diferenças entre dois pontos amostrais
é a mesma para todo o depósito e depende apenas da
distância e orientação entre os pontos.
Variação espacial é estacionária dentro do
domínio (depósito analisado).
Variograma, quando existe, é o
mesmo onde quer que se amostre
e válido para todo domínio.
Variação espacial depende
da distância e orientação Hipótese = Variograma
entre os pontos (h=distância) Variograma
TEORIA DAS VARIÁVEIS REGIONALIZADAS
HIPÓTESE DE ESTACIONARIEDADE
Domínio (ou depósito)
Par de pontos
separados por uma D
distância h
x

Variância espacial x+h


entre os pontos
igual a 3
TEORIA DAS VARIÁVEIS REGIONALIZADAS
HIPÓTESE DE ESTACIONARIEDADE
Domínio (ou depósito)

D
x

x+h
x+h
Qual a variância
? espacial para o novo
par de pontos?
x
TEORIA DAS VARIÁVEIS REGIONALIZADAS
HIPÓTESE DE ESTACIONARIEDADE
Domínio (ou depósito)

D
x

x+h Hipótese de
x+h
estacionariedade: dentro
do domínio a variância
3
espacial é estacionária
x

Mesma distância e
orientação, somente
translação
TEORIA DAS VARIÁVEIS REGIONALIZADAS
HIPÓTESE DE ESTACIONARIEDADE
Domínio (ou depósito)

D
x

x+h
x+h

x x+h x
?

Não é possível estabelecer uma relação (mesma


distência entre os pontos, mas orientação diferente)
VARIOGRAMA
Variograma é a principal ferramenta para a
caracterização da continuidade espacial de um fenômeno
regionalizado, no caso o depósito mineral.

Análise estrutural: etapa de definição da continuidade


espacial (são construídos variogramas para a
determinação da continuidade nas várias direções do
depósito).
VARIOGRAMA
Função variograma: esperança matemática do quadrado
da diferença entre os valores de pontos no espaço,
separados por uma distância h.
2𝛾 ℎ = 𝐸 𝑧 𝑥𝑖 − 𝑧(𝑥𝑖+ℎ ) 2

2𝛾 ℎ = 𝑓𝑢𝑛çã𝑜 𝑣𝑎𝑟𝑖𝑜𝑔𝑟𝑎𝑚𝑎
𝑧 𝑥𝑖 = 𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑣𝑎𝑟𝑖á𝑣𝑒𝑙 𝑟𝑒𝑔𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙𝑖𝑧𝑎𝑑𝑎 𝑛𝑜 𝑝𝑜𝑛𝑡𝑜 𝑥𝑖
𝑧 𝑥𝑖+ℎ = 𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑣𝑎𝑟𝑖á𝑣𝑒𝑙 𝑟𝑒𝑔𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙𝑖𝑧𝑎𝑑𝑎 𝑛𝑜 𝑝𝑜𝑛𝑡𝑜 𝑥𝑖+ℎ

Semivariograma: metade da função variograma [𝛾(h)].


𝑛
1 1 2
𝛾 ℎ = 𝐸 𝑧 𝑥𝑖 − 𝑧(𝑥𝑖+ℎ ) 2 ou 𝛾 ℎ = ෍ 𝑧 𝑥𝑖 − 𝑧(𝑥𝑖+ℎ )
2 2𝑛
𝑖=1

Termo variograma é amplamente utilizado para se referir ao


que é, tecnicamente, o semivariograma.
VARIOGRAMA
Fornece um significado
preciso do conceito da
zona de influência de uma
amostra.

Função dada por uma curva, a qual representa o


grau de continuidade de uma mineralização.
Curva crescente com o aumento da distância
(h) que separa os pares de amostras.

Quanto mais distantes as amostras entre si, maior a


diferença entre seus teores, e, portanto, menor a
continuidade, ou dependência espacial, entre as mesmas.
VARIOGRAMA
Função covariância: mede a correlação entre pontos separados por uma
distância h (quanto maior a distância, menor a correlação entre eles).
Variograma: mede a variância.
Função variograma → gráfico = variagrama
Função covariância → gráfico = covariograma

𝛾 ℎ = 𝐶 0 − 𝐶(ℎ)
PROPRIEDADES DO VARIOGRAMA
(Amostras correlacionadas) (Amostras independentes)
CAMPO ESTRUTURADO CAMPO ALEATÓRIO

Alcance (a) ou range: distância a partir da qual as amostras passam a ser


independentes. Reflete o grau de homogeneização entre as amostras.
Patamar (C) ou sill: valor da variância no qual o variograma se estabiliza
(no campo aleatório).
PROPRIEDADES DO VARIOGRAMA

Efeito Pepita (C0): valor da função variograma na origem (h=0).


Teoricamente deveria ser zero, pois duas amostras tomadas no mesmo
ponto (h=0) deveriam ter os mesmos valores. Atribuído a erros de
amostragem ou análise.
PROPRIEDADES DO VARIOGRAMA

VARIÂNCIA
ESPACIAL

Variância Espacial: diferença entre a variância a priori e


o efeito pepita.
ANISOTROPIAS
FENÔMENO ISOTRÓPICO: variograma não se altera com a direção
(pouco comum em fenômenos naturais).
FENÔMENO ANISOTRÓPICO: variação do variograma conforme a
direção.
ANISOTROPIAS
FENÔMENO ISOTRÓPICO: variograma não se altera com a direção
(pouco comum em fenômenos naturais).
FENÔMENO ANISOTRÓPICO: variação do variograma conforme a
direção.

Convenções direcionais usadas na geoestatística


ANISOTROPIAS EXEMPLO – Fenômeno Isotrópico
Grande similaridade entre os variogramas em direções diferentes

Um único modelo de variograma é suficiente para descrever a variabilidade espacial do fenômeno em estudo.
ANISOTROPIAS
TIPOS DE ANISOTROPIAS
Anisotropia geométrica: amplitude varia
conforme as direções, mas sob um patamar
constante.
a1 a2

Anisotropia zonal: amplitude permanece


constante e o patamar varia de acordo com
a direção (menos frequente nos fenômenos
a1=a2
naturais).

Anisotropia mista: amplitude e o patamar


variam, isto é, quando há várias direções
resultam em diferentes variogramas
a1 a2 (geométrica e zonal).
TIPOS DE
ANISOTROPIAS

EXEMPLO
(Anisotropia Geométrica)
COMPORTAMENTO PRÓXIMO A ORIGEM
Parabólico: curva parabólica
próxima a origem, representando
alto grau de continuidade das
amostras selecionadas (Ex.: dados
de espessura de uma camada).

Linear: comportamento linear na


origem (tangente oblíqua à
origem), representando
continuidade média das amostras
(Ex.: depósitos minerais metálicos).
COMPORTAMENTO PRÓXIMO A ORIGEM
Efeito Pepita: descontinuidade na
origem (erros de medida na
amostragem e microvariabilidades).

Efeito pepita puro: tipo extremo de


comportamento. Fenômeno de difícil
ocorrência, porém, caso aconteça,
remete a não utilização de métodos
geoestatísticos.
VARIOGRAMAS EXPERIMENTAIS
Variograma Experimental: gráfico
𝑛
resultante do cálculo da função 1 2
𝛾 ℎ = ෍ 𝑧 𝑥𝑖 − 𝑧(𝑥𝑖+ℎ )
variograma, em uma dada direção, para 2𝑛
𝑖=1
diferentes valores de h (distância/passo).
VARIOGRAMAS EXPERIMENTAIS
Variogramas representativos: depende fundamentalmente
do número de pares de pontos, para diferentes distâncias,
encontrado numa determinada direção (ideal entre 30-50
pares de amostras para cada ponto do variograma).

Direções do variograma
devem ser especificadas
para colherem o máximo
de informações.
VARIOGRAMAS EXPERIMENTAIS

Comparativo da correlação espacial


entre amostras em diferentes regiões de
um variograma. Também mostra a
quantidade de pares de pontos em cada
ponto por região do variograma.
VARIOGRAMAS EXPERIMENTAIS
AMOSTRAS REGULARMENTE ESPAÇADAS
VARIOGRAMAS EXPERIMENTAIS
AMOSTRAS REGULARMENTE ESPAÇADAS h= 100 m
h= 200 m
Direção Leste-Oeste (90º)
h= 300 m

Processo é repetido até que algum ponto de parada desejado seja alcançado.
Também deve ser realizado para as outras direções (0º, 45º, 135º), o que
permitira a identificação de possíveis anisotropias.
VARIOGRAMAS EXPERIMENTAIS
AMOSTRAS IRREGULARMENTE ESPAÇADAS
Necessário introduzir limites e tolerância para a direção e
distância, além da largura máxima (tentativa e erro).

JANELA DE
BUSCA
VARIOGRAMAS EXPERIMENTAIS
AMOSTRAS IRREGULARMENTE ESPAÇADAS

Dispositivo de busca centrado no ponto 1 Dispositivo de busca centrado no ponto 2

Tolerância pequena: mínima porcentagem de amostras


utilizadas (variograma com ruído/grande oscilação).
Tolerância grande: tornam a continuidade espacial muito
suavizada e imprecisa.
VARIOGRAMAS EXPERIMENTAIS
VARIOGRAMAS TEÓRICOS
Softwares: Isatis, Sgems, Gslibe

Exemplo de ajuste de um variograma experimental (pontos)


por um modelo teórico/matemático (linha contínua). O ponto
de interseção com o eixo vertical é o Efeito Pepita.
VARIOGRAMAS TEÓRICOS
VARIOGRAMAS TEÓRICOS
VARIOGRAMAS TEÓRICOS
GRAU DE DEPENDÊNCIA ESPACIAL
Efeito da quantidade de amostras disponíveis
AMOSTRAGEM para cálculo dos variogramas experimentais.

25 36

49 64

81 100
CÁLCULO E MODELAGEM DE VARIOGRAMAS EXEMPLO
Amostra 1 (64 pontos) Amostra 3 (100 pontos)

Amostra 2 (64 pontos)


CÁLCULO E MODELAGEM DE VARIOGRAMAS EXEMPLO
Histograma e variograma Amostra 1

Histograma e variograma Amostra 2


CÁLCULO E MODELAGEM DE VARIOGRAMAS EXEMPLO
Histograma e variograma Amostra 3

Variograma teórico Amostra 1


MODELO ESFÉRICO

Variograma teórico Amostra 2

Variograma teórico Amostra 3


REFERÊNCIAS
http://www.dpi.inpe.br/gilberto/tutoriais/gis_ambiente/5geoest.pdf
YAMAMOTO, J. K.; LANDIM, P. M. B. Geoestatística: Conceitos e aplicações. São
Paulo: Oficina de Textos, 2013.
PEREIRA, P. E. C. Variáveis regionalizadas e variograma. Universidade Federal de
Catalão. Notas de aula.
STURARO, J. R. Apostila de geoestatística básica. UNESP, Rio Claro, 2015.
GUIMARÃES, E. C. Geoestatística básica e aplicada. Universidade Federal de
Uberlândia, Uberlândia, 2004.
RIBEIRO JUNIOR, P. J. Fundamentos de geoestatística. Universidade Federal do
Paraná, 2004.
SINCLAIR, A. J.; BLACKWELL, G. H. Applied Mineral Inventory Estimation.
Cambridge, 2002.
ABZALOV, M. Applied Mining Geology. Springer, 2016.

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