Você está na página 1de 10

Réu: Irlana Testemunha: Matheus

Juiz: Eliane Acusador: Paulo

Advogado: Carlos Eduardo Policial: Carla Suely

JULGAMENTO SIMULADO - JÓ

Juiz:

- Declaro aberta a sessão ordinária para instrução do processo nº 000018-42.2022, presentes


o Promotor de Justiça Jean Paulo Novais, advogado de defesa Carlos Eduardo Bahia, as
testemunhas arroladas e o Réu.
- A testemunha Bildade concorda em ser ouvido na presença do Réu?

Testemunha:

- Sim

Juiz:

- Pode trazer o Réu senhor policial.

Réu entra.

Juiz:

- Iniciada a instrução, irei ler o resumo da ação, motivo pelo qual o sr. Jó comparece a este
tribunal no dia de hoje.
- Trata-se de Ação Ordinária ao qual visa-se apurar a conduta do sr. Jó, residente e
domiciliado na terra de Uz.

Consta dos fato que Jó era íntegro, correto, temia a Deus e se mantinha afastado do mal e
possuía sete filhos e três filhas.

Seu patrimônio era constituído por sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de
bois e quinhentas jumentas. Muitos servos. Sendo considerado o homem mais rico de toda a
região.

As noites na casa dos filhos de Jó eram regadas por banquetes cujas convidadas eram suas
três irmãs.

Quando terminavam esses dias de festas, o sr. Jó mandava chamar seus filhos, a fim de
purificá-los. Levantava-se de manhã bem cedo e oferecia um holocausto em favor de cada
um deles, pois pensava: "Pode ser que meus filhos tenham pecado e amaldiçoado a Deus em
seu coração". Essa era a prática habitual de Jó.

Certo dia, quando os filhos e as filhas de Jó estavam num banquete na casa do irmão mais
velho, chegou à casa de Jó um mensageiro com esta notícia: "Seus bois estavam arando, e
os jumentos, pastando perto deles, quando os sabeus nos atacaram. Roubaram todos os
animais e mataram todos os empregados. Só eu escapei para lhe contar".

Enquanto ele falava, outro mensageiro chegou com esta notícia: "O fogo de Deus caiu do
céu e queimou suas ovelhas e todos os seus pastores. Só eu escapei para lhe contar".

Enquanto ele falava, outro mensageiro chegou com esta notícia: "Três bandos de
saqueadores caldeus roubaram seus camelos e mataram seus servos. Só eu escapei para lhe
contar".

Enquanto ele falava, ainda outro mensageiro chegou com esta notícia: "Seus filhos e suas
filhas estavam num banquete na casa do irmão mais velho.

De repente, veio do deserto um vendaval terrível e atingiu a casa de todos os lados. A casa
desabou, e todos os seus filhos morreram. Só eu escapei para lhe contar".

- Terminada a investigação, Jó foi indiciado pela suposta prática ao qual vamos apurar.
- Palavras com o MP.

Acusador:

- Doutora, estive rodeando a terra, observando o que nela acontece e ao notar o teor das
investigações, percebi que Jó tem bons motivos para temer a Deus. Mas se for tomado tudo
que ele tem, incluindo a saúde, certamente dará tudo para salvar a própria vida.

Advogado:

- Protesto! Especulação.

Juiz:

- Protesto mantido. Prossiga Doutor sem mais especulações.

Acusador:

- Pois bem, Testemunha Bildade, conte para nós, o que aconteceu nesses dias?

Testemunha Bildade:

- Quando eu soube das tragédias que haviam atingido Jó, eu saí de onde vivia para consolá-lo
e animá-lo, mas quando eu o vi de longe, mal o reconheci. Chorei alto, rasguei meu manto
e joguei terra ao ar, sobre a cabeça.
Acusador:

- E como o senhor pode afirmar com tanta certeza que ele não estava mentindo?

Testemunha Bildade:

- Porque passamos sete dias e sete noites sentados no chão com ele, dava para ver que seu
sofrimento era grande demais.

Acusador:

- Entendi. Mas você estava no momento em que Jó amaldiçoou o dia do seu nascimento?

Testemunha Bildade:

- Sim.

Acusador:

- E o que você disse a ele?

Testemunha Bildade:

- Perguntei até quando ele continuaria a falar daquele jeito, porque suas palavras pareceiam
um vendaval.
- Acaso Deus perverte o que é justo? O Todo-poderoso distorce o que é certo? Certamente
seus filhos pecaram contra ele e, por isso, receberam o castigo devido. Mas, se você buscar
a Deus e clamar ao Todo-poderoso, e, se for puro e íntegro, ele sem demora agirá em seu
favor e devolverá o que por direito lhe pertence.

Acusador:

- Então o senhor está me falando que Jó não era íntegro e puro?

Testemunha Bildade:

- Claro que não, Jó é muito íntegro e justo.

Acusador:

- Entendi. Mas você soube da sua revolta depois?

Testemunha Bildade:

- Sim.

Acusador:

- E o que disse?
Testemunha Bildade:

- Ele começou a perguntar várias coisas sem sentido, então perguntei "Até onde você vai
com suas palavras? Mostre sensatez, se deseja que respondamos!”

Deus é poderoso e temível; ele impõe a paz nos céus. Quem pode contar seu exército
celestial? Acaso sua luz não brilha sobre toda a terra? Pode algum mortal ser inocente
perante Deus? Pode alguém nascido de mulher ser puro? Deus é mais glorioso que a lua;
brilha mais que as estrelas. Comparados a ele, somos larvas; nós, mortais, não
passamos de vermes.

Acusador:

- Satisfeito Excelência.

Juiz:

- Palavras com a defesa.

Advogado:

- Sr. Bildade, tudo bem? Me diga, Jó estava triste?

Testemunha Bildade:

- Sim.

Advogado:

- Ele estava desesperado?

Testemunha Bildade:

- Sim.

Advogado:

- Então tudo o que ele falou foi por conta do desespero?

Testemunha Bildade:

- Creio que sim.

Advogado:

- Jó deu causa às tragédias que foram acometidas?


Acusador:

- Protesto! Antecipando julgamento do Réu, por acaso a testemunha virou delegado para
investigar?

Juiz:

- Protesto mantido. Doutor, faça perguntas sem mérito de julgamento.

Advogado:

- Sem mais perguntas.

Juiz:

- Encerrada os depoimentos testemunhais, passo ao interrogatório do Réu.


- Sr Jó, tudo bem?

Réu:

- Sim Doutora.

Juiz:

- O senhor sabe porque está aqui?

Réu:

- Não Excelência.

Juiz:

- O senhor ouviu o que eu li no início da instrução?

Réu:

- Sim Excelência.

Juiz:

- Certo. Palavras com o MP.

Acusador:

- Sr. Jó, tudo bem?

Réu:

- Sim Doutor.
Acusador:

- Vamos lá, o que o senhor tem a falar sobre os últimos acontecimentos?

Réu:

- Saí nu do ventre de minha mãe, e estarei nu quando partir. O Senhor me deu o que eu
tinha, e o Senhor o tomou. Louvado seja o nome do Senhor!.

Acusador:

- Ok. Engraçado, soube pela testemunha que amaldiçoou seu nascimento e agora fala de
nascimento com graças a Deus, o que tem a afirmar?

Réu:

- De fato disse que fosse apagado o dia em que nasci e a noite em que fui concebido.

Acusador:

- Só isso?

Réu:

- Sim

Acusador:

- E a parte: “Que fosse estéril a noite e desprovida de toda a alegria. Amaldiçoado seja esse
dia por não fechar o ventre de minha mãe, por permitir que eu nascesse, para presenciar
todo este sofrimento.

Réu:

- De fato, disse isso porque o que sempre temia veio sobre mim, o que tanto receava me
aconteceu. Não tenho paz, nem sossego; não descanso, só aflição.

Acusador:

- Certo, mas você se lembrou do poder de Deus nesse momento?

Réu:

- Sim, e sei que tudo é verdade de modo geral, mas como alguém pode ser inocente aos
olhos de Deus? Quem sou eu, então, para tentar responder a Deus, ou mesmo
argumentar com ele? Ainda que fosse inocente, seria incapaz de me defender; poderia
apenas implorar por misericórdia ao meu Juiz. E, mesmo que eu o chamasse e ele me
respondesse, não acredito que me daria atenção.

Pois ele me ataca com uma tempestade e, sem motivo, me fere repetidas vezes.

Não permite que eu recupere o fôlego, mas enche minha vida de amargura.

Se é uma questão de força, ele é o forte; se é uma questão de justiça, quem ousa levá-lo
ao tribunal?

Acusador:

- Então o senhor acha que é injusto passar por um julgamento?

Réu:

- Digo que mesmo com todos os argumentos disponíveis, ainda assim temeria todos os meus
sofrimentos, pois sei que Deus não me considerará inocente. Não importa o que aconteça,
serei considerado culpado; então de que adianta continuar lutando?

Acusador:

- Então afirma que Deus foi injusto?

Réu:
- Apenas peço, não apenas me condenes; dize-me que acusações tens contra mim.

Acusador:

- Certo.

Réu:

- Se ao menos houvesse um mediador entre nós, alguém que nos aproximasse um do


outro! Ele afastaria de mim o castigo de Deus, e eu já não viveria aterrorizado.

Acusador:

- Satisfeito Excelência.

Juiz:

- Palavras com a defesa.

Advogado:

- Sr. Jó, porque o senhor diz que se ao menos houvesse um mediador?


Réu:

- Veja, que vantagem Deus tem em me oprimir? Por que me rejeitas, se sou obra de tuas
mãos, enquanto sorris para as tramas dos perversos?

Acaso teus olhos são como os nossos? Vês as coisas como um ser humano qualquer?

Tua vida é tão breve como a nossa? Vives tão pouco, como o homem, que precisas, sem
demora, investigar minha culpa e procurar meu pecado?

Advogado:

- E o que tem a falar sobre as acusações que são imputadas?

Réu:
- Embora saibas que não sou culpado, não há quem possa livrar-me de tuas mãos.
Advogado:
- Sem mais perguntas Excelência.
Juiz:
- Certo. Procedido interrogatório pela acusação e defesa, passarei as minhas
considerações.

Inicialmente pensei em rejeitar a denúncia feita pelo órgão acusador, pois de fato pensei
que não há ninguém na terra como Jó. É homem íntegro e correto, teme a Deus e se
mantém afastado do mal.

Mesmo com toda a calamidade não perdeu sua integridade, apesar de toda instigação
para prejudicá-lo sem motivo.

Réu:
- Tu me formaste com tuas mãos; tu me fizeste e, no entanto, me destróis por completo.
Lembra-te de que do barro me fizeste; acaso me farás voltar tão depressa ao pó?
Juiz:

- Pois bem, já que falas com tanta arrogância, questiono: Onde você estava quando eu
lancei os alicerces do mundo? Diga-me, já que sabe tanto.

Quem definiu suas dimensões e estendeu a linha de medir? Vamos, você deve saber.

Você alguma vez deu ordem para que a manhã aparecesse e fez o amanhecer se
levantar no leste?

Tem ideia da extensão da terra? Responda-me, se é que você sabe!


Ainda quer discutir com o Todo-poderoso? Você critica Deus, mas será que tem as
respostas?

Advogado:

- Excelência, quero lembrar ao Réu que ele tem o direito de permanecer calado.

Juiz:

- Réu, você tem o direito de permanecer calado e de não responder perguntas que lhe
forem formuladas, mas este é o momento que tem para se defender.

Réu:

- Já falei demais; não tenho mais nada a dizer.

Juiz:

- Certo, mas porá em dúvida minha justiça e me condenará só para provar que tem razão?

Você é tão forte quanto Deus? Sua voz pode trovejar como a dele?

Então vista-se de glória e esplendor, de honra e majestade.

Humilhe-os com um olhar, pise os perversos onde estiverem.

Dê vazão à sua ira, deixe-a transbordar contra os orgulhosos.

Enterre-os no pó, prenda-os no mundo dos mortos.

Então eu mesmo reconheceria que você pode se salvar por sua própria força.

Quem me deu alguma coisa, para que eu precise retribuir depois? Tudo debaixo do céu
me pertence.

Quer falar mais alguma coisa em sua defesa?

Réu:

- Sei que podes fazer todas as coisas, e ninguém pode frustrar teus planos. Perguntaste:
‘Quem é esse que, com tanta ignorância, questiona minha sabedoria?’. Sou eu; falei de
coisas de que eu não entendia, coisas maravilhosas demais que eu não conhecia.

Antes, eu só te conhecia de ouvir falar; agora, eu te vi com meus próprios olhos.

Retiro tudo que disse e me sento arrependido no pó e nas cinzas.


Juiz:

- Passo às considerações finais.

Analisando o depoimento testemunhal decido condenar a testemunha Bildade para que


ofereça holocaustos em favor de si mesmo, sete novilhos e sete carneiros, leve os
animais a meu servo Jó, pois estou muito irado por não falarem o que é certo a meu
respeito, como fez meu servo Jó.

Jó orará por você, e eu aceitarei a oração dele.

Não tratarei vocês como merecem por sua insensatez, pois não falaram o que é certo a
meu respeito, como fez meu servo Jó.

Quanto ao Réu, tendo em vista sua confissão e arrependimento diante deste Tribunal,
retiro as acusações do MP e após orar por seu amigo, decido por devolver o dobro do
que tinha antes.

Sendo catorze mil ovelhas, seis mil camelos, mil juntas de bois e mil jumentas, sete
filhos e três filhas, estenderei seus dias até os 140 anos e verá quatro gerações de filhos
e netos.

Prolatada a sentença. Agradeço a atenção de todos, dispensados.

Você também pode gostar