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Seminário Presbiteriano do Sul

Tema: Deus não se esquece de nós


Aluno: Matheus Piva Ribeiro
Texto Bíblico: Salmo 13

Introdução

Existe uma mulher aqui na igreja que sofre com a mãe. A mãe dela está
acamada há alguns anos, o estado dela é complicado, e ela não consegue mais se
sentar. Pelo que a mulher conta, a sua mãe sempre foi muito ativa e criou os filhos
sem um pai, a referência de pai da mulher era um padre, que a criou, com sua mãe
sofrida.

A mulher quase sempre faz o mesmo pedido nas reuniões de oração: “- Peço
pela melhora da minha mãe”, há vezes que a mãe dela é internada, passa um tempo
em observação e volta para casa. Em casa são necessárias algumas cuidadoras, as
ajudantes dão trabalho, pedem dinheiro adiantado, e a irmã da mulher vive criando
problemas com elas.

A mulher desejava colocar a mãe em uma casa de repouso, local onde ela será
tratada e bem supervisionada, mas é algo difícil, porque no imaginário das músicas
de viola do século passado, que talvez eles tenham crescido ouvindo, um pai cria
vários filhos, mas um filho não cuida de um pai ou de uma mãe. Mesmo assim, eles
estão tentando olhar de outra perspectiva para o momento.

A mulher, filha da idosa, vive um cenário onde ela se sente algumas vezes
esquecida por Deus, sente que Deus não ouve o seu pedido semanal: “- Deus, quero
a melhora da minha mãe.”

E ao olhar para o Salmo 13, vemos Davi, se sentindo da mesma forma, pedindo
que Deus dê uma olhadinha nele, pedindo que Deus tire um tempo na agenda para
olhar para ele, ou que, ao menos, coloque um post-it na geladeira para ver se
ocasionalmente ele resolve atender uma oraçãozinha de Davi.

Neste salmo de lamento o salmista encontra-se em grande sofrimento, sente


como se Deus tivesse se esquecido dele e busca salvação em Deus. Mesmo sendo
um salmo de lamento, ainda existem elementos de fé e confiança, o que é comum
para este tipo de salmo. Como dito na obra de Raymond e Longman, o gênero de
lamento é facilmente identificado pelos sentimentos escancarados de dor, dúvida,
angústia e sofrimento, seja por uma luta interna ou por alguma situação com inimigo.

De acordo com Craige não é possível determinar com segurança a data e o


autor deste salmo. A natureza dos opressores e os inocentes sofredores são de
natureza muito usual nos salmos para ter alguma definição, apesar de que é muito
improvável que o salmo tenha sido escrito depois do período monárquico de Israel. Já
Longman III realça o fato de que o salmo é creditado a Davi e que poderia ser de
quando seu filho Absalão o depôs. Bullock também afirma a possibilidade de que o
contexto seria a rebelião de Absalão, já que o filho rebelde usou palavras enganosas
para roubar o coração do povo de Israel.

E olhando para o texto, vemos que o salmista se sente esquecido,


todavia, acredita que:

1. Deus ouve o nosso lamento (v.1-2)

Davi se sente esquecido, mas ele lamenta porque crê que Deus está ouvindo o
seu lamento. Davi, fala: “Até quando? Até quando? Até quando? Até quando?”, ele
repete a mesma pergunta quatro vezes. E ele sente que o “Até quando?” será uma
pergunta recorrente na sua vida para sempre. Davi em sua história, desde infância,
por assim dizer, as Escrituras deixam claro que Davi conhecia a Deus, mas isso,
aparentemente, não é suficiente quando se observa os versículos 1-2 em que Davi
está com o sentimento de desilusão, desesperança, desamparo em meio ao seu
sofrimento. Ou seja, Davi se percebe desamparado pelo que Deus que o consagrou
rei, que o auxiliou enquanto Davi era pastor de ovelhas e em diversas outras
situações. Mas Davi, sente que Deus o esqueceu.

Segundo João Calvino, em seu comentário sobre o lamento, aponta para uma
perspectiva de sofrimento prolongado do autor. As expressões enfáticas “Até quando”
denotam um sofrimento que não é recente e não têm vistas ao fim, sendo assim, a
angústia que levou Davi a expressar em forma salmódica pode ser compreendida
como um remoer constante em sua mente e coração.

Também comentando sobre este salmo, Derek Kidner acredita que o lamento de
Davi demonstrava que sua angústia de não ver a Deus deve-se à sua vontade
constante de sempre querer estar na presença do Senhor. Ou seja, o problema com
o qual o salmista se deparava não era em si a maior angústia, mas sim o que
significava estar passando por aquilo, como se Deus tivesse se ocultado do autor. Nos
lamentos não há dúvida do cumprimento da aliança que Deus tem com Davi, mas há
um clamor de tristeza por não estar percebendo o Senhor presente. O Salmo 13 revela
Davi fragilizado por estar sentindo-se distante de Deus, por não ver socorro imediato.

E nós, para o que falaríamos “Até quando?” Imagino que algumas vezes
gostaríamos de orar, ou talvez já tenhamos orado dizendo a Deus, talvez estejamos
clamando por socorro imediato.

• “Deus, até vou aguentar essa doença?”,


• “Deus, até quando vou enfrentar essa luta com meu filho?”,
• “Deus, até quando o Senhor vai permitir que eu viva desanimado?”,
• “Deus, até quando o Senhor vai me deixar nesse emprego?”,
• “Deus, até quando o Senhor vai permitir que esse conflito familiar continue?”,
• “Deus, até quando eu vou enfrentar a depressão?”.

São perguntas que podemos estar fazendo para Deus que nos aproximam do
Salmista e sobretudo, nos aproximam de Deus e nos fazem depender de Deus.
Porque ele é o único que pode nos tirar dos desamparos da vida. E o salmista

continua o seu texto se sentindo esquecido, contudo, crê que:

2. Deus está conosco no lamento (v.3-4)

Davi começa a recobrar a razão em meio ao sofrimento, após lançar sobre Deus
toda a sua angústia, dor em sua alma e, então, inicia as suas petições a Deus como
é comum de se observar na estrutura dos salmos de lamento. Os verbos considerar,
ouvir, iluminar na forma como são usadas pelo salmista faz com que se perceba a
volta a razão do salmista em confiar em Deus. Observa-se nesses versículos que Davi
tem clareza e propósito nos seus pedidos e sinceridade diante de Deus e são
elementos importantíssimos na relação com Deus Pai.

Tais ensinamentos são totalmente atuais a qualquer leitor do salmo, uma vez que
a sinceridade de coração é o que, de fato, importa na relação com Deus. Análogo a
Davi, quando se esvazia a alma dos sentimentos de dor e angústia recobramos a
razão de que Deus está em todo o tempo conosco, afinal, um de seus nomes na
cultura israelita é Emanuel que significa Deus Conosco.

Deus nos acompanha em meio ao sofrimento porque faz parte da essência de


Deus não abandonar os seus filhos, como diz o salmo 139 a respeito da presença de
Deus em todos os locais por onde Davi andasse. Deus nos acompanha independente
de qualquer coisa que possamos ou não fazer para Deus, pois o cuidado de Deus é
intrínseco de Deus, ou seja, faz parte da sua essência cuidar já que as Escrituras
evidenciam também que Deus é um Deus zeloso.

Mas esse sentimento de que Deus não está ao nosso lado é algo que nos lembra
muito a figura do Jardim do Éden, onde a todo final de tarde Deus caminhava no jardim
e conversava com Adão e Eva, Deus estava ali cara a cara com os primeiros humanos
criados.

De repente, os primeiros humanos que estavam cara a cara com Deus, pecam,
desobedecem, comem do fruto proibido e o pecado entra na história. Daí em diante,
nós desconfiamos da presença de Deus, achamos que Deus não se importa conosco
e que ele vai somente nos punir. Cremos que ele é um Deus mal. (MÁ NOTÍCIA)

E como Davi, nos sentimos esquecidos e abandonados, mas Davi, diferente de


quem não conhece a Deus, tinha uma relação com Deus, e sabia que mesmo que ele
se sentisse esquecido, Deus de alguma maneira estava ali ao lado. Ele sabia que
Deus não ia o deixar no sono da morte e entregue a seus inimigos.

Nós também, quando sentirmos que Deus virou o rosto para nós, devemos nos
lembrar que a promessa bíblica é que Deus está sempre ao nosso lado. Devemos nos
lembrar que Deus está ao nosso lado. O Senhor Jesus nos prometeu estar conosco
todos os dias e ainda nos enviou um consolador, o Espírito Santo.

O texto continua, e o salmista está ainda se sentindo esquecido,


entretanto (...)

3. Deus dá motivos para confiarmos nele no lamento (v.5-6)

Davi afirma: “no tocante a mim, confio”, ele está dizendo, no que cabe a mim,
fazer, eu vou confiar. Eu me senti esquecido, não aguento mais, mas orando aqui
chego à conclusão que o único caminho viável para mim, é confiar em Deus. E
essa é uma produção teológica de alta profundidade, a maior obra teológica que
podemos fazer é a confissão de que a nos só cabe confiar em Deus.

Deus dá motivos para Davi confiar nEle, Deus não é um ser misterioso e
desconhecido para Davi, Davi sabia os motivos que ele tinha para confiar em Deus.
Ele afirma que deve cantar a Deus, porque Deus tem feito coisas boas para Davi.

E note que Davi ainda não tinha respostas de Deus nessa altura do Salmo,
mas ele confia, ele sabe antecipadamente que Deus é misericordioso e vai ouvi-
lo.

É isso que a oração faz, como disse Soren Kierkegaard, “a oração não
muda Deus, mas muda aquele que ora.”, a oração passa pela desconfiança, pela
lembrança e termina em confiança.

É possível lembrarmos de Jesus ao perguntar a Pedro se ele não queria ir


embora assim como a multidão estava indo, Pedro responde: Para onde eu irei?
Se só o Senhor tem as palavras de vida eterna. Quando refletimos, vemos que a
nossa desconfiança não tem sentido.

Conclusão

Precisamos aprender a confiar mesmo quando o confiar seja difícil. A mulher


que faz o pedido de oração aqui na igreja aprendeu que às vezes Deus demora para
responder ou responde o que nós não queremos, mas aprendeu em primeiro lugar
que deve confiar em Deus. Deus é que sabe a hora da mãe dela falecer. Deus é que
sabe a hora do sofrimento terminar. Devemos exercitar a nossa confiança no Senhor.

Movimento Cristocêntrico

Na Cruz, Jesus Cristo gritou: "Meu Deus! Meu Deus! Por que me
abandonaste?" (Mt 27.46) Jesus sentiu o desamparo quando recebeu sobre si o
pecado da humanidade na cruz do Calvário, no momento que ele se separou de Deus
Pai. Ele entende os nossos sentimentos e está pronto para trabalhar em nós, a
confiança. Só conseguiremos viver uma vida de confiança através de Jesus Cristo e
o que ele fez por nós.
O Senhor Jesus restabeleceu nossa conexão com o Pai, não vemos ele cara a
cara como era no Jardim, não vemos ele caminhando em nossa direção, mas temos
livre acesso para orar com sinceridade. (BOA NOTÍCIA)

Movimento Escatológico

E, até quando perguntaremos: - Até quando? Até o dia que “Ele enxugará dos
seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor,
pois a antiga ordem já passou" (Ap 21.4)

Como diz o Candinho da novela Eta mundo bom: “Tudo que acontece de ruim
na vida da gente, é pra meiorá.” Com o cristão essa certeza é real, porque os
sofrimentos do presente nem se comparam com aquilo que o Senhor tem preparado
para aqueles que o amam.

Missão

E até que esse dia chegue, Deus está convidando mais pessoas para confiar
nEle, e o nosso papel é participar dessa missão de Deus! Não podemos deixar que
as pessoas sintam que Deus não se importa com elas. Precisamos ensinar as pessoas
crerem no que a Bíblia diz, quando os sentimentos delas falarem que Deus não se
importa com elas.

Há muitas pessoas em nossa cidade hoje que estão se perguntando: Até


quando? Há irmãos da igreja que estão se perguntando: Senhor, até quando? Há
pessoas no seu trabalho que perguntam: até quando? E nós temos a mensagem de
esperança, um caminho para viver junto de um Deus que não se esquece de nós.

Há pessoas que não conhecem a Deus e não sabem que ele nos ouve, que ele
está conosco e que ele nos dá motivos para confiar nele, há muitos povos não-
alcançados ainda, gente que não conhece a mensagem da cruz, isso porque faltam
pessoas dispostas a se doarem em prol do Reino de Deus e irem até elas.

Quero convidar você para se ajoelhar nessa manhã e pedir que o Senhor o
ajude a entender que ele te ouve, que ele está com você e que te dá inúmeros motivos
para confiar nele. E quero que você enquanto ore pense em uma pessoa que está se
sentindo abatida e que precisa de Jesus. Ore silenciosamente, depois eu orarei.

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