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FAIXA PARAGUAI E LINEAMENTO TRANSBRASILIANO:

IMPLICAÇÕES TECTÔNICAS

Amarildo Salina Ruiz


Faculdade de Geociências - Universidade Federal de Mato Grosso

RESUMO ALARGADO

Circundando a margem sudeste do Cráton Amazônico, a Faixa Paraguai, é um Cinturão de


Dobras e Cavalgamentos com formato curvilíneo que participa da Província Tocantins de Almeida
(1965). Grande parte de sua porção está encoberto pelas bacias sedimentares do Pantanal, Araguaia,
Paraná e Parecis.
A Faixa Paraguai exibe clara compartimentação estrutural, estratigráfica e metamórfica, o que
levou Almeida (1984) a propor a sua segmentação em três zonas tectônicas, posteriormente
renomeadas por Alvarenga & Trompette (1993) em Zona Estrutural Interna, dobrada, metamórfica
com intrusões graníticas; Zona Estrutural Externa, dobrada metamorfismo incipiente a ausente, sem
magmatismo e, Cobertura Sedimentar de Plataforma, sem metamorfismo e deformação.
A Zona Estrutural Interna é caracterizada pelo dobramento isoclinal, metamorfismo de baixo
grau e intrusões graníticas pós-orogenéticas, por falhamento reverso a Zona Interna passa a Zona
Estrutural Externa que se caracteriza por conter dobramentos abertos com falhamento reverso
associado com metamorfismo anquizonal ou inexistente. A Cobertura Sedimentar de Plataforma é
caracterizada por suaves ondulações, metamorfismo inexistente e tectônica rúptil não penetrativa.
Tectonicamente destaca-se ainda, na região de Corumbá-Puerto Suarez, uma junção tríplice
conectanto o rifte abortado, o Aulacógeno Tucavaca- Chiquitos, ao Cinturão de Dobras e
Cavalgamentos Paraguai (Figura 1).
Magmatismo granítico está relacionado a Zona Estrutural Interna, sendo que os corpos
intrusivos segundo (Godoy et al. 2010), indicam dois estágios magmáticos distintos que caracterizam
a evolução magmática da Faixa Paraguai. Para esses autores, os Granitos Taboco, Rio Negro, Sonora
e Coxim, que apresentam composição entre granodiorito a monzogranito, são deformados e exibem
idades de cristalização U-Pb, entre 540 a 548 Ma, Ɛ Nd entre -6 e - 7,4, retratam os estágios sin-
colisionais em rochas do Grupo Cuiabá, enquanto os Granitos São Vicente, Araguaiana e Lajinha,
isotrópicos, composição entre monzogranitos a sienogranitos, idades de cristalização U-Pb, entre 509
e 504 Ma, Ɛ Nd entre -3 e - 6, são pós a tardi-tectônicos.
O Lineamento Transbrasiliano - LTB (Schobbenhaus et al. 1975), ou Lineamento
Transbrasiliano-Kandi (Cordani et al. 2013) secciona a Plataforma Sul-americana, ao longo de um
sistema de cisalhamento dúctil a rúptil, com sucessivas reativações fanerozóicas. Exibe uma direção
preferencial NE-SW, possivelmente estende-se desde as Sierras Pampeanas, sendo recoberto a norte
pelo Chaco-Pantanal, Bacia do Paraná e bacia do Parnaíba. Suas áreas de exposição limitam-se a
região do Brasil Central, onde justapõe lado a lado a Faixa Paraguai com o Arco Magmático de Goiás
e a Faixa Araguaia com a Faixa Brasília. Sua continuidade é reconhecida no continente africano, pelo
Lineamento Kandi-Hoggar (Caby et al., 1981; Caby, 1989, Cordani et al., 2003). Juntos podem chegar
a 9000 quilômetros de extensão, um dos maiores exemplos de sistemas transcorrentes
intracontinentais de deformação da Terra (Fairhead e Maus 2003).
O LTB-Kandi está relacionado provavelmente ao fechamento do domínio oceânico Pampeano-
Goiás-Pharusiano, o que conduziria a aglutinação e formação do Supercontinente Gondwana (Cordani
et al. 2009, 2013; Brito Neves e Fuck, 2013, 2014).
Figura 1. Esboço tectônico da Faixa Paraguai e Aulacógeno
Tucavaca-Chiquitos (Alvarenga et al., 2008).
Os dados geológicos indicam que o LTB-Kandi passou por três episódios de reativações
fanerozoicas, responsáveis pela geração dass bacias do tipo pull-apart, de Jaibaras no estado do
Ceará no Cambro-Ordoviciano (Oliveira, 2001) e a de Água Bonita no Tocantins no Siluro-Devoniano
(Carvalho et al., 2012). O terceiro episódio ocorre com a abertura do Oceano Atlântico no Cretáceo,
marcado por sistemas de falhas normais na Bacia do Paraná (Alvarenga et al., 1998).
A Figura 2 ilustra o traçado do Lineamento Transbrasiliano na Plataforma Sulamericana.

Figura 2. Traçado aproximado do Lineamento Transbrasiliano na


Plataforma Sulamericana (Extraído de Curto et al. 2015).
O Lineamento Transbrasiliano-Kandi é um Sistema de Cisalhamento Transcorrente Intracontinental,
com marca o estágio final da aglutinação do Gondwana Ocidental e separa a Plataforma Sulamericana
em dois grandes domínios tectônicos, a leste do LTB há intenso retrabalhamento crustal durante o
Ciclo Brasiliano-Pan Africano, enquanto a oeste, a relação Faixa Móvel X Cráton é relativamente fria,
sem intenso processo de reciclagem de crosta continental.

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