BACULO

Igreja Anglicana Reformada do Brasil | Junho 2018

Espiritualidade | Comunhão | Catequese | Evangelismo

WE ARE THE FREE CHURCH OF ENGLAND Publicação Oficial da Diocese Brasil e Venezuela

Diário de Bordo
Na Convocação Anual (2018) com
o Rev. Rogério Assis
 EDITORIAL
ticipação na Convocação Anual da Free Chur-
Palavra do Editor ch of England, realizada na Inglaterra (pg. 12).
MARCELO LEMOS
E da Convocação Anual (2018) veio a notícia há
muito esperada pela Igreja no Brasil e Venezuela.

“
O mês de Maio foi marcado por um evento de
repercussão mundial: o casamento do Príncipe
Harry com a atriz Meghan. Confira a opinião
de Mark Burkill, da Church Society, em “Trocando
Ideias” (pg. 3) que comenta suas impressões a res-
peito do sermão pregado pelo Bispo Michael Curry.
Maio foi também um mês de muitas bênçãos e
novidades para a Igreja, como você lerá em “No-
tícias Anglicanas”. Confira também uma repor-
tagem especial escrita pelo Reverendo Rogé-
rio Assis, em “Diário de Bordo”, no qual ele nos
brinda com um delicioso relato sobre a sua par-
Como retala o Rev. Assis, em uma votação unâ-
nime, a Convocação aprovou a criação da Dio-
ecese Brasil e Venezuela - a primeira diocese da
Free Church of England no exterior (o Bispo Jo-
sep Rossello dá mais detalhes em “Café com o
Bispo”, pg 4!). Um marco histórico para os an-
glicanos reformados do Brasil e Venezuela. Essa
notícia vem coroar o esforço de centenas de ir-
mãos e irmãs que tem dedicado seus talentos na
promoção do Reino de Deus nesses dois países.
E não para por aí! Há muito mais para sua edi-
ficação n a Bácul deste mês. Seja bem-vindo!

CONTEÚDO
Junho 2018

3
Trocando Ideias
Cartas e opiniões de nossos leitores. 11


Porto Velho
Uma jornada de fé com Jesus.

4
Café com o Bispo.
Um bate-papo para saber mais sobre o An- 12


Diário de Bordo
Na Convocação Anual com o Rev. Ro
glicanismo. gério Assis.

6 Carta Aberta ao GAFCON

15


Catecismo Século 21
O que é o pecado?

7 Notícias Anglicanas
Fique por dentro do que acontece na Igreja.
16


Na Escola dos Primeiros Cris -
tãos.
O Valor da abordagem histórica da fé
9 Deve o Cristão Guardar o Sábado?
Estudo sobre a controvérsia sabatista.
da Igreja

Diretor Geral: Reverendíssimo Bispo Josep Rossello. Editor Chefe: Marcelo Lemos (Registro: MG08183JP).
Conselho Editorial (2017-2018): Bispo Josep Rossello (SP), Marcelo Lemos (MG), Rev. Diego de Araujo Viana
(RJ), Dr. Guilherme Braun Jr (Alemanha). Projeto Gráfico: Marcelo Lemos. Colaboraram nesta edição: Bis-
po Josep Rossello, Rev. Marcelo Lemos, Rev. Rogério Assis, Rev. Marco Cicco, Rev. Evanilson Santos. VOCÊ TAM-
BÉM PODE AJUDAR COM FOTOS, ARTIGOS, COMENTÁRIOS, DICAS: marcelolemosramos@gmail.com.
Esta publicação está comprometida com os formulários anglicanos, e adota a Declaração de Princí-
pios da Free Church of England, também chamada no Brasil por Igreja Anglicana Reformada do Brasil.
SITE DA IGREJA NO BRASIL: www.igrejaanglicana.com.br. SITE DA IGREJA NA INGLATERRA: www.fcofe.org.uk.
DESEJA SABER MAIS SOBRE O ANGLICANISMO REFORMADO ESCREVA PARA NOSSO ESCRITORIO NACIO-
NAL: contato@igrejaanglicana.com

O Báculo | Página 2
Deve

Trocando Ideias!
Cartas, opinião, sugestões e histórias dos nossos leitores!

“Gostei muito do infográfico sobre a Páscoa

publicado pela revista. Adoraria ver outros es-
tudos como este nas revistas!”.

Kelly Maria Sousa

Miami (EUA)

“
O negligente mostra sintomas de egoísmo e orgulho ao ausentar-se dos serviços re-
ligiosos de adoração. O cristianismo é uma religião de amor que alcança pessoas e
as coloca juntas por causa da participação na adoração, no louvor, e na obra, os cris-
tãos se reúnem para ouvir a Palavra, receber os sacramentos, orar, cantar e dar gra-
ças; não um ajuntamento tais como olimpíada e copa do mundo etc... Mas em comparti-
lhar Cristo em amor uns com os outros” - Pr. Robson Souza, 01/06/18, no Facebook.

“
A prática de guardar o sábado a título de mandamento foi estabeleci-
da para Israel, mas não é um mandamento para a Igreja de Cristo.” -
Rev. Marco Cicco. Deve o Cristão Guardar o Sábado? Página 10.

“
Por mais que a pregação ensine, ela não deve ser confundida com uma palestra.
Há pregadores que expõe o texto bíblico com maestria, e no entanto, suas prega-
ções são de pouco brilho e não levam as pessoas à ação. Podem se desculpar dizen-
do que seu objetivo é transmitir a verdade, independente das pessoas responderem ou
não. Há muito de verdade nessa desculpa, no entanto, quando se fala em pregação, a ideia
de um discurso que motiva à uma tomada de decisão é inerente. Sem isso, não há ser-
mão, e sim palestra” - Rev. Marcelo Lemos, texto publicado no blog Olhar Anglicano.

“
Em essência, o sermão foi um chamado inspirador para todos nós amarmos uns aos ou-
tros. No entanto, há um grande problema com tal exortação - ou seja, como colocar isso
em prática? Como esse novo mundo vai se tornar realidade? Em Romanos 1: 18-3:20, o
apóstolo Paulo avalia nosso dever como pessoas religiosas e não religiosas em colocar em
prática o que Deus requer de nós. O que Deus requer de nós está escrito nas profundezas de
nossas consciências humanas e é revelado em uma chama de luz na Bíblia. Nossa grande
tragédia é que todos nós deixamos de praticar esse amor ao qual somos chamados, e Paulo
diz que estamos, portanto, sob o julgamento de Deus (2:12). Exortações para fazer o que
Deus requer de nós simplesmente nos tornam conscientes do pecado (3:20) e da nossa inca-
pacidade.

É por isso que aqueles que ouviram este sermão, todos eles, precisaram ouvir algo sobre o
significado do sacrifício propiciatório de Jesus Cristo, pois nisto a justiça de Deus é dada
a conhecer (veja 3: 21-26). No dom gratuito de Jesus há esperança para aqueles que fra-
cassam. É claro que é um desafio comunicar o significado de Cristo em tais circunstâncias,
mas sem qualquer foco em Cristo, a conversa se torna, na melhor das hipóteses, subcristão.
Paulo deixa claro, em Tito, que precisamos de Jesus Cristo para estar ansiosos para fazer o
que é bom (2: 11-14). Sem isso, nos enquadramos naquelas palavras de Paulo em 2 Timóteo
3: 5 ‘uma forma de piedade’ que, no entanto, nega a realidade do poder do evangelho.

Mark Burkill é vigário da Christ Church, Leyton, Presidente do Conselho Reformista e

do Latimer Trust, e membro do Church Society Council, comentando sermão de Micha-
el Curry no casamento real. O texto completo pode ser lido no blog Olhar Anglicano.

O Báculo | Página 3
 Café com o Bispo Reverendíssimo Josep Rossello
Um bate-papo para saber mais sobre o Anglicanismo!

“O clero da Diocese do Norte era a maioria maior de

70 anos. Hoje em dia, a mesma diocese tem uma ida-
de média de 30-35 anos. Ou seja, há uma nova leva de
vocações na Igreja, o que é fundamental.A FCE é uma
igreja de futuro, não do passado.

Báculo: Bispo, a Igreja no Brasil e Vene- conhecidos como uma diocese no exterior.
zuela recebeu com muita alegria a cria- Por isso, temos atuado em algumas questões
ção da nova diocese da Free Church of já como uma diocese. Isso mostra a confiança
England. O que isso muda na prática? que a FCE e o Bispo Primaz têm tido conosco.

Precisamos, primeiro, compreender o Báculo: Até então o senhor era o bispo

fato histórico de sermos a primeira dioce-
se no exterior da Free Church of England
(FCE). Isto tem sido um reconhecimento
prático do labor missionário e evangelís-
tico da nossa igreja no Brasil e Venezuela.
Eu sei que os números não são tão impres-
sionantes, comparados aos de outras deno-
minações históricas; por exemplo, as Igrejas
Luteranas, Batistas ou Presbiterianas, nem
chegamos a outras igrejas livres ou con-
gregacionais. No entanto, temos que agra-
decer a Deus pelo que temos conseguido
com um orçamento anual que nunca supe-
rou as 1,000 libras esterlinas (4,500 reais).
comissionado pela FCE para o Brasil e
Venezuela. Agora o senhor passa a ser
o bispo diocesano da região. Como isso
impactará o seu trabalho como Bispo?
Terei mais liberdade de atuação. Anteriormen-
te, tinha muitas questões que devia consultar
ao Bispo Primaz antes de tomar uma decisão,
porque eu era o comissário do mesmo. Evi-
dentemente, ele sempre foi uma pessoa com
uma grande sensibilidade com a situação do
Brasil e da Venezuela. Agora, sendo diocesa-
no, terei um papel mais importante na vida da
FCE e nas relações com outras igrejas cristãs.

Respondendo a pergunta: uma diocese tem
a capacidade de tomar decisões de for-
ma mais autônoma e tem direito a parti-
cipar nos diferentes órgãos da igreja. Por
exemplo, o bispo diocesano, seu secreta-
rio e o secretario da diocese são membros
do Conselho (ou Concilio) Geral da nos-
sa igreja. O Bispo Diocesano é membro ex-
-officio de todos os comitês e órgãos da FCE.
Também, temos direito de enviar pro-
postas à Convocação, e enviar dois cle-
ros e dois representantes leigos que re-
presentem, juntamente com o bispo
diocesano, a nossa diocese a Convocação.
O Bispo Primaz já tinha nos concedido bas-
tante liberdade, isto porque ele percebeu que
seria questão de tempo até que fôssemos re-
Por outro lado, existe um contexto de co-
legiado entre os bispos que acrescenta-
rá agora que somos três bispos diocesa-
nos na FCE. Isto fortaleçe nosso papel
na igreja. Sou membro ex-officio de to-
dos os comitês e órgãos da nossa igreja.
Báculo: Esse ano a Convocação Anu-
al contou a presença de três bra-
sileiros, dois que atuam no Brasil,
e um que trabalha numa paróquia
inglesa. Como tem sido essa rela-
ção entre ingleses e brasileiros?
Uma reação muito boa. Eles adora-
ram receber todos nós. Os ingleses fi-
cam felizes em poder dar rostos aos
nomes do Brasil e também, claro, da

O Báculo | Página 4
Venezuela. Temos que perceber resumida por duas palavras:
a importância dos relatórios, das RESISTIR e RECONSTRUIR.
fotos, de ir à Convocação, etc. Resistir diante das dificuldades
Eles nos querem conhecer e ter que se enfrenta a Cristandade
uma maior relação conosco.
na Europa e UK e, a partir dis-
so, ficar firmes diante de qual-
Pelo que eu vi, o Rev Rogério As-
sis teve um tempo abençoado na quer que seja o que desafio e
Inglaterra. O Rev Jonatas Bragat- reconstruir a Igreja de Cristo
to foi aprovado em vários comitês por meio do discipulado e da
da igreja. E minha esposa foi tra- plantação de igrejas, e também
tada de uma forma muito amável pela revitalização das igrejas já
pelos ingleses. existentes.

Lembremos que aprovação da Nesse sentido, apresente a es-

diocese não teve nem um só voto tratégia chamada 2025 = 20 +
contrário. Isso é uma mostra do
25.
apoio que temos na igreja toda.
Isto significa ter 20 igrejas sau- estado em contato com a FCE.
Báculo: Uma curiosidade:
dáveis e plantar outrs 25 novas As coisas estão mudando na di-
nossos irmãos ingleses to-
igrejas saudáveis até o ano de reção correta, e existe um forte
mam conhecimento da Re-
2025. desejo para construir o futuro e
vista Báculo?
deixar algumas questões secun-
Este será um grande desafio, darias no passado. Com isso,
Com certeza! Eu apresentei a
porém necessário para começar podemos nos aprontar para de-
revista aos bispos e para alguns
a crer no futuro e nas possibi- senvoler o papel que Deus tem
ministros, e eles adoraram pela
lidades que a nossa igreja tem. preparado para esta pequena e
qualidade e e pelo empenho da
Temos vivido décadas sem cres- fiel denominação.
BÁCULO. Agora, precisamos
cimento, onde muitas igrejas
de uma versão em inglês. Rsrsrs
fecharam e, inclusive, vivemos Desde 2014, quando entramos
momentos de divisão em UK no na FCE, a FCE tem mudado
Báculo: O senhor compa-
inicio do século 21. Agora, te- muito, e ainda vamos ver mui-
receu à Convocação Anu-
mos começado a ver crescimen- tas mais mudanças.
al da Free (Junho 2018),
to na Inglaterra. No último ano,
com uma missão a mais na
temos visto duas novas igrejas Báculo: Por exemplo...?
bagagem: apresentar um
nascerem na Inglaterra e outras
projeto de evangelização
estão a caminho. Esta situação, por exemplo: O
para a Igreja na Europa. O
clero da Diocese do Norte era
que pode compartilhar co-
Báculo: Sobre o trabalho a maioria maior de 70 anos.
nosco sobre o projeto?
da Igreja na Inglaterra, o Hoje em dia, a mesma diocese
senhor percebeu alguma tem uma idade média de 30-35
Sim, eu apresente uma estraté-
mudança deste sua última anos. Ou seja, há uma nova leva
gia missional para a FCE na In-
visita (2017)? de vocações na Igreja, o que é
glaterra, principalmente, mas
fundamental.
também para Europa, já que
Certamente! Existe uma nova
estamos crescendo na França.
energia e vitalidade que não ti- A FCE é uma igreja de futuro,
nha visto desde que temos não do passado.
A proposta exposta poderia ser

O Báculo | Página 5
 “
Na semana passada tive o privilégio de lide-
rar uma delegação da Igreja Livre da Inglaterra
para a terceira Conferência sobre o Futuro Glo-
bal do Anglicanismo, em Jerusalém.

Fomos todos abençoados pela adoração, pelo ensi-

no e pela comunhão com outros anglicanos de todo
o mundo.

No final da Conferência, foi maravilhoso ouvir que o

Bispo Ben Kwashi será o próximo Secretário Geral do
GAFCON e que o Rev. Foley Beach será o novo Presi-
dente. O arcebispo Foley tem sido um bom amigo da
Igreja Livre da Inglaterra e foi nosso hóspede em 2017.

Somos ainda mais abençoados pelo fato de que a

Igreja Anglicana na América do Norte, da qual Fo-
ley é o Arcebispo, declarou-se em plena comunhão
com a Igreja Livre da Inglaterra.

Em nome dos bispos, clérigos e leigos da Igreja

Livre da Inglaterra, envio os mais sinceros para-
béns e compromisso de oração ao Arcebispo Fo-
ley e ao Bispo Ben Kwashi (a quem esperamos
conhecer), ao assumirem suas novas responsa-
bilidades neste tempo crítico para o Evangelho.

Rev. John Fenwick

Bispo Primaz da Free Church of England

O Báculo | Página 6
Notícias Anglicanas
Mais notícias no site da Igreja no Brasil: igrejaanglicana.com.br

Editora Teneo tem novo presidente do blishing House”. A circular, assinada por J. Alen-
Conselho Editorial. car, CEO da companhia, segue informando que
o Bispo, como presidente do referido conselho,
Numa circular publicada no mês de Maio, a Edi- “fará a composição do conselho editorial, bem
tora Teneo informou a eleição do Bispo Josep como a coordenação de suas atividades, tendo
Rossello como novo diretor do Conselho Edito- ainda atuação direta em nossas publicações e fu-
rial da empresa. “Após anuência ao convite, te- turas parcerias editorias […] na América Latina,
mos a alegria de anunciar a nomeação do Bispo Estados Unidos e Europa”, concluir o comunica-
Josep Miguel Rossello Ferrer como Presidente do. Trata-se de mais um porta que o Senhor tem
do Conselho Editorial Consultivo da Teneo Pu- aberto para o anuncio do Reino.

Nova Diocese da Free Church of England! dia 04 de Maio último, durante a realização da Con-
vocação Anual, na Inglaterra. Leia mais a respeito
A Igreja Anglicana Reformada do Brasil, com juris- desta importante notícia na matéria “Caminhos de
dição no Brasil e Venezuela, passa a ter o status de fé”, na página . Agora a FCE conta com três dioce-
Diocese da Free Church of England. O novo status ses e três bispos dicocesanos. Confira mais em “Café
da Igreja veio através de uma monção aprovada no com o Bispo” (pg 4), e “Diário de Bordo” (pg. 12).

O Báculo | Página 7
 Rádio Nova Aliança 95 NO AR!
Agora a Igreja conta com mais um canal de co-
municação: a rádio Nova Aliança 95, que pode
ser acessada em todos os lugares através do seu
site (www.radionovaaliança95.com). Dirigida
pelo Bispo Francisco Buzzo (FCE em Bragança
Jerusalém 2018
Mais uma vez a família anglicana se reúne em
Jerusalém para o GAFCON! Milhares de angli-
canos conservadores, de todos os continentes, se
reuniram mais uma vez para celebrarem o mis-
tério da fé, e dialogarem sobre o futuro do angli-
canismo no mundo.
O Báculo | Página 8
Paulista, SP).
A rádio tem enfoque evangelístico, e uma grade
contendo programas jornalísticos, esportivos,
musicais e bíblicos. Acesse o site e instale o apli-
cativo em seu celular, assim poderá ouvir a pro-
gramação da rádio de qualquer lugar do mundo!
Desde que nasceu, GAFCON tem se mostra-
do um instrumento de unidade, evangelização
mundial, além de fomentar a resistência da Igre-
ja contra o avanço do liberalismo teológico e mo-
ral que ameaça o Cristianismo no Ocidente.Este
ano (2018), vários delegados da Free Church of
England estiveram presentes no evento. Confira
a “Carta Aberta” do Bispo Primaz (pg. 6).
Deve o Cristão
Guardar o Sábado?
Rev. Marco Cicco

É uma dúvida recorrente e comum em nossos dias, e que é também propaga-

da pela Igreja Adventista do Sétimo Dia. Porém, uma leitura bíblica com discerni-
mento e análise, deixará claro se de fato o cristão deve ou não guardar o sábado.

Comecemos lendo Colossenses: deveriam ser observadas, e também ensinadas

aos novos convertidos? Uma dúvida razoável e

“
Portanto, ninguém tem o direito de vos jul- relevante para o período da Igreja Primitiva.
gar pelo que comeis, ou pelo que bebeis,
ou ainda com relação a alguma festa reli- Em Atos 15, podemos ler o parecer dos Apósto-
giosa, celebração das luas novas ou dos dias los acerca desse assunto:
de sábado. Esses rituais são apenas sombra
do que haveria de vir; a realidade, todavia, en- Portanto, julgo que não se deve constranger aque-
contra-se em Cristo. “(Colossenses 2: 16-17) les que dentre os gentios se convertem a Deus, to-
davia, escrever-lhes que se abstenham das conta-
Compreendendo o contexto desses versículos, já minações dos ídolos, da imoralidade, da carne de
conseguimos entender que guardar o sábado não animais sufocados e do sangue. (Atos 15: 19-20)
era mandamento para os Cristãos. Também dei-
xa claro que não há problemas a quem deseja fa- Se o Sábado fosse mandamento, ou algo de im-
zê-lo, porém, o fato do cristão ter liberdade para portância relevante para os Cristãos, não tenho
guardar o Sábado, se assim desejar, não há ne- a menor dúvida de que ele seria mencionado
nhum respaldo bíblico para acusar quem não o faz. neste momento como um mandamento ou pon-
to a ser observado. Mas não foi. Ou seja, ficou
Quando lemos o livro de Atos dos Apóstolos, claro, que guardar o sábado não era priorida-
podemos notar que grande parte dos novos de a título de mandamento da Igreja Primitiva.
convertidos eram judeus. E a partir do momen-
to que gentios começaram a se converter tam- Os Adventistas questionam o fato de que sábado
bém surgiu um ponto de dúvida: em relação era o dia da comunhão. Porém, lendo o livro de
a Lei de Moisés, quais eram as leis que ainda Atos, podemos ver que os Cristão partilhavam

O Báculo | Página 9
da comunhão diariamente (Veja Atos 2: 46 – 47).
Havia um hábito de comunhão no primeiro dia da
semana como vemos em Atos 20: 7, primeiro dia
este que é o Domingo, e não sábado.
Tratar então o dia do sábado como dia do Senhor
em termos de literalidade é um equívoco. Ainda
mais para aqueles que tem o péssimo hábito de
acusar quem não o faz.
Muitos que defendem que o Sábado deve ser
guardado apoiam sua teoria em Êxodo 20:11, bem
como Gênesis 2:3 que foi o dia que o Senhor des-
cansou após ter criado o mundo.
Porém, o mesmo livro de Êxodo, no capítulo 31:
16 e 17, e em diversos outros versículos, deixa cla-
ro que o Sabbath (Sábado) era uma sinal entre
Deus e o povo de Israel exclusivamente, e obvia-
mente, isso não vigora para os cristãos do Novo
Testamento até os dias de hoje.
A prática de guardar o sábado a título de manda-
mento foi estabelecida para Israel, mas não é um
mandamento para a Igreja de Cristo.
Claramente que não é um pecado quem assim
desejar fazer. Mas como cristãos, não temos uma
obrigação de realizar tal prática. Estava na Lei do
Velho Testamento, da qual estamos resgatados
mediante Cristo:
“Todavia, quando chegou a plenitude dos tempos,
Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nas-
cido também debaixo da autoridade da Lei, para
resgatar os que estavam subjugados pela Lei, a fim
de que recebêssemos a adoção de filhos” (Gálatas
4: 4 – 5).
Após tudo isso, naturalmente, vem à mente a se-
guinte pergunta: Mas e o Dia do Senhor?
O Dia do Senhor aparece em diversos outros con-
textos tanto no Velho Testamento quanto no Novo
Testamento. Das dezenove vezes que o termo “dia
do Senhor” aparece no Velho Testamento, pode-
mos identificar em cada uma das passagens, o seu
contexto, que giram em torno de uma expectativa
de julgamento, proximidade, cumprimentos de
julgamentos distantes e próximos.
Assim como acontece no Novo Testamento, pode-
mos ler os contextos das passagens com clareza.
Especificamente em Apocalipse 1:10:
“
Eu fui arrebatado no Espírito no
dia do Senhor, e ouvi detrás de mim
uma grande voz, como de trombeta”.
Coloca em evidência que um dia da se-
mana era observado para ser dedicado a
Deus, neste texto citado, pelo Apóstolo
João. Diversos documentos históricos da
Igreja Primitiva (Ensinos dos Apóstolos,
Escritos de Melito de Sardes, Epístola
de Inácio, Clemente de Alexandria, etc.)
apontam que este “dia do Senhor” se tra-
tava do primeiro dia da semana, a saber,
o domingo.
Claramente isto não irá doutrinar que
domingo seria o dia literal para guardar,
mas a nós cristãos, é válido observar que
um dia da semana era dedicado ao Se-
nhor, e de forma semelhante, que possa-
mos guardar esse princípio com sabedoria
e discernimento.
Soli Deo Gloria!
O Báculo | Página 10
 Porto
O
ficializada em ra, o maior afluente da
2 de outubro
de 1914, Porto
Velho foi criada por
desbravadores por
margem direita do rio
Amazonas.

Nessa cidade históri-

Velho
Uma jornada de fé com Jesus
volta de 1907, durante ca, e de grande valor
a construção da Estra- para a a história e a
da de Ferro Madeira- economia brasileira,
-Mamoré. Em plena pulsa forte o coração
Floresta Amazônica, de uma vibrante co-
e inserida na maior munidade de anglica-
bacia hidrográfica do nos reformados, sob
mundo, onde os rios a liderança do Reve-
ainda governam a rendo Evanilson San-
vida dos homens, é a tos. A Igreja de Porto
Capital do estado de Velho é ativa na evan-
Rondônia. Fica nas gelização do povo, e
barrancas da margem também na realização
direita do rio Madei- de trabalhos sociais.

Acão social: pintura

da escola de surdos.

Batismos realizados
no último mês.

O Báculo | Página 11
 Rev. Rogério Assis

Diário
de Bordo

cheguei na Alfreton Station às 21:30

pontualmente (o trem não atrasa),
o local do ponto de encontro com o
taxista que estaria me esperando. Só
que não, ele não estava. Olhei para um
lado e parta outro e nada, ninguém,
tudo deserto. Meu Deus, e agora? e pedi ajuda explicando a situação. Hello, can
you help´me please? Imediatamente, sim, ime-
diatamente ele me disse: “só um momento, vou
Parti do aeroporto internacional de Guaru- dar a volta pelas escadas e já chego até você”. E
lhos em um voo direto de doze horas de dura- assim ele fez, veio até mim, lhe expliquei a minha
ção até Londres. Mesmo a aeronave não sendo situação, lhe dei os telefones todos que tinha em
tão apertada como os voos domésticos, não es- minha carta convite dos Bispos e ele fez as liga-
tava na primeira classe, sendo assim, trata-se ções todas me tranquilizando dizendo que viriam
de um voo bastante cansativo. Quem já viajou me buscar. Claro, toda a comunicação em Inglês.
essa distância sabe bem o que falo. Saí Domin- Passei em todos os testes neste momento (risos).
go às 21:50 e cheguei em Londres na Segunda
às 14:50 (temos quatro horas de diferença no Fiquei lá sozinho, em terra desconhecida, até que
fuso horário, lá para mais do que aqui no Brasil). graças ao bom Deus chegou o carro da Igreja para
me buscar. Nele estava dois Bispos e dois Reve-
Cheguei na Alfreton Station às 21:30 pontual- rendos. Ufa, que alívio! Agradeci muito, aceitei o
mente (o trem não atrasa), o local do ponto de pedido de desculpas de todos e soube do aconte-
encontro com o taxista que estaria me esperan- cido. O taxista se equivocou e fora para uma ou-
do. Só que não, ele não estava. Olhei para um tra estação. Bem, não ia me achar mesmo, ehehe
lado e parta outro e nada, ninguém, tudo deser-
to. Meu Deus, e agora? Esperei uns minutos ima- Louvo a Deus por ter me enviado este jovem anjo
ginando um possível atraso, mas ao mesmo tem- que sem nunca ter me visto me ajudou como se
po achando estranho, afinal estava na Inglaterra, me conhecesse de longa data e, usou o seu celular
lá nada atrasa. Isso é fato, não mito. Bem, orei e para fazer todas as ligações. Não me lembro do seu
pedi direção a Deus, estava sem bateria no celu- nome, mas Deus o sabe, oro por ele e por sua fa-
lar e sem internet, estava sem comunicação. Mas mília. Naquela noite ele foi o meu anjo da guarda.
o bom Deus logo atendeu ao meu clamor. Olhei
para o lado de lá da estação do trem e avistei um Bem, cheguei ao local do encontro, fora mui-
jovem usando o seu celular, foi quando o chamei to bem recebido, todos me pedindo desculpas

O Báculo | Página 12
pela falha, que na verdade não era deles, e sim
do taxista que fez confusão. Tinha uma janti-
nha me esperando, pois estava com o estômago
daquele jeito, conversamos um pouco e me le-
varam até o meu quarto para o merecido des-
canso. Ufa! estava em casa, seguro, alimenta-
do e de banho tomado. Que cama deliciosa, que
noite boa de sono que eu tive. Gratidão a todos.
O segundo dia da Convocação foi para mim o pri-
meiro, pois havia chegado na noite anterior do
primeiro dia, jantado e desmaiado, pois estava
exausto da viagem. Meu Bispo inclusive me dis-
sera que se eu estivesse muito cansado poderia
acordar mais tarde. Imagina! Muito obrigado pelo
cuidado pastoral, mas queria estar presente em
todos os momentos. E pela graça de Deus acordei
muito bem disposto. Nossa, como estava animado
para conhecer a todos e para participar de todas
as atividades. E pensava: estou na Inglaterra, no
lugar onde sempre sonhei estar. Estou na 154th
Convocation da Free Church of England como clé-
rigo e delegado, com direito a assento, voz e voto
em todas as decisões que seriam tomadas ao lon-
go dos dias. Que honra! Recebi minha pastinha
com todos os documentos oficiais, que alegria!
“O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem
pela manhã.” Salmos 30:5.
E louvava a Deus em pensamento a todo mo-
mento agradecendo por tudo o que estava acon-
tecendo. Sim, vibrava como uma criança que ga-
nhou o presente que tanto queria. Que alegria
tomar café da manhã com todos, aliás, conhe-
ci o legítimo café da manhã britânico. Simples-
mente delicioso para quem gosta de comer bem
como é o meu caso. Amei tudo, acho que exage-
rei no tamanho do prato, ehehe. Faz parte, tudo
simplesmente delicioso. Duas grandes notícias
me foram dadas que me alegrou sobremaneira:
1- No dia anterior houve a leitura da carta de sua
Majestadade a Rainha Elisabeth II saudando e
abençoando a Convocação, nossa, que honra!
2- Fora aprovada sem nenhum voto contra a
criação da Diocese Anglicana Brasil / Venezue-
la tendo como o Bispo Diocesano o nosso Bispo
Josep Rosssello. Que alegria, que bênção! Reco-
nhecimento de um trabalho muito bem feito ao
longo de anos. Somos agora a primeira Diocese
da FCE – Free Church of England fora da Euro-
pa. A Deus nosso Pai, toda honra, glória e louvor.
Ao nosso Bispo Josep, nossas orações e apoio irres-
trito na missão.
O Báculo | Página 13
E seguimos com a programação
do dia, intercalando os momen-
tos burocráticos com momentos
de orações e pausas. E eu claro,
aproveitava para tirar muitas fo-
tos, já pensando neste relatório /
diário de bordo. Foi um dia muito
rico em todos os sentidos. Chega-
do o momento do jantar estava
cansado e ainda era dia, por volta
das 19:00 e o sol ainda brilhava na
terra da Rainha. Sim, no verão na
Europa escurece tarde, por volta
das 22:00 Até isso me encantou!
Até mudei de mesa na hora do
jantar devido a luz que entrava
pela janela onde estava sentado.

Mais algumas fotos, bons papos

com meus novos amigos e irmãos
de caminhada, um belo chocola-
te quente, e hora de ir repousar.

Estava exausto, também devido a

diferença da língua e a atenção que
temos que ter para procurar en-
tender o máximo possível, além de
falar, claro. Dei boa noite a todos,
fiz minhas orações e cama. No dia
seguinte, serviços liturgicos, no-
vas atividades e mais fotografias!

O Báculo | Página 14
 Catequese
O que é o
PECADO?
O mundo está errando ou
acertando o alvo?
Uma das definições de pecado é
“errar o alvo”. Essa é uma defini-
ção útil quando refletimos a res-
peito dos pecados sociais que co-
metemos. Muitas vezes, tentando
acertar, erramos. Por exemplo, é
possível acreditar que o sistema
prisional em vigor no Brasil cum-
pre a missão que lhe foi dada pela
Lei de Execução Penal? O texto da
Lei diz que o sistema tem como
meta “proporcionar condições
para a harmônica integração social
do condenado e do internado” (Ar-
tigo 1).
Na prática, “Estado faz de conta
que cumpre a Lei, mas o preso,
que sofre as consequências pela
má administração, pela corrupção
dos poderes públicos, pela igno-
rância da sociedade, sente-se cada
vez mais revoltado”, e dedica todo
seu tempo ocioso na prisão para
planejar fugas e formas ainda mais
eficientes e cruéis de retorno a de-
linquência. Estamos, como socie-
dade, acertando o alvo?
Outro exemplo é o tratamento
dispensado aos pobres. Quando
em 1996 a administração Clinton,
um democrata, aprovou a lei sobre
“responsabilidade e trabalho”, ti-
nha como objetivo permitir que as
pessoas fossem menos dependen-
tes do Estado. Fora das páginas
dos burocratas, a lei jogou milhões
cidadãos americanos, sobretudo
negros e latinos, para baixo da li-
nha da pobreza. E no Brasil? Esta-
mos mais errando ou acertando?
Independentemente de partidos
e ideologias, precisamos, como
Igreja, refletir sobre essas e outras
questôes.
O
pecado é rebelião contra Neste aspecto, é o pecado um lem-
Deus. Surge da corrupção do brete da necessidade que o homem
coração,sendoacausadanos- tem de Cristo, sem o qual não pode
sa separação de Deus, e a razão pela se salvar do pecado que nele habita.
qual merecemos a ira de Deus. O pe-
cado nos separa de Deus e dos outros. John Stott, célebre ministro an-
glicano, define o pecado como um
Uma das questões que mais intri- tipo de escravidão: “O pecado não
gam o homem é a presença do mal somente separa; ele escraviza. Além
no mundo. É difícil compreender o de nos afastar de Deus, ele tam-
que justifica a doença de uma crian- bém nos mantém cativos”, afirma.
ça, a dor de uma mãe, a fome de uma
família, o desemprego de um pai de- E continua: “Mais do que uma atitu-
dicado. A reflexão teológica da Igreja de ou hábito visível, o pecado revela
busca nos auxiliar na compreensão uma profunda e arraigada corrupção
dessas questões difíceis e dolorosas. em nosso interior. Na verdade, os
O Catecismo Século 21 (pergunta pecados que cometemos são mani-
nº 7), explica que entre as consequ- festações exteriores e visíveis de uma
ências do pecado encontramos “a enfermidade interior e invisível, são
causa da nossa separação de Deus”, os sintomas de uma doença moral.
motivo para merecermos sua Ira. Jesus empregou a metáfora da árvo-
re e seus frutos para explicá-lo. Ele
O pecado, definido no Catecismo disse que o tipo de fruto produzido
como “rebelião contra Deus”, e que pela árvore (uma figueira ou videi-
nasce da “corrupção” do nosso cora- ra) e sua condição (boa ou má) de-
ção, é uma realidade bem presente pendem da natureza e da saúde da
na experiência humana. A catequese árvore. Da mesma forma, “a boca
nos ensina ainda que o pecado nos fala do que está cheio o coração”.
separa também “dos outros”. Des-
sa forma, tendo o pecado afastado É importante que o cristão tenha
o homem de Deus, fonte de todo o pleno conhecimento sobre a gravi-
Bem, empurra-o para os domínios dade do pecado. Mas no lugar de
da escuridão, que o afeta individual e desespero e medo, deve o cristão
socialmente. Ainda que o homem te- confiar em Jesus. Um dos objeti-
nha consciência de um ideal de Bem, vos da catequese cristã, aliás, é nos
sem o que não teria discernimento ensinar, passo a passo, a beleza
moral para rejeitar o mal, e até mes- do Evangelho. Medite sobre esse
mo o deseje, não é capaz de realizá- tema, e continue aprendendo a fé da
-lo por suas próprias forças morais. Igreja com o auxílio do Catecismo.
O Báculo | Página 15
Na escola dos primeiros cristãos
Uma Fé Histórica
Rev. Marcelo Lemos
Há no blog “Café com o Bispo”, um intere-
sante artigo sobre a fé do Credo Apostóli-
co1. Um tema que tem tudo a ver com os
estudos que publicamos aqui sobre os Pais
da Igreja. Essa abordagem histórica é ne-
cessária porque a fé cristã não caiu do céu.
Na verdade, a fé cristã é um testemunho
corajoso de que Deus, verdadeiramente,
fez uma poderosa intervenção na História.
E se isso é verdade, não faz sentido imagi-
nar uma fé cristã, nem uma espiritualidade
cristã, desassociada de sua historicidade.
A história do cristianismo é a história
de uma intervenção divina na histó-
ria, e não podemos estuda-la à parte
da história da cultura no sentido mais
amplo do termo. A palavra de Deus foi
primeiramente revelada ao povo de Is-
rael e se incorporou na lei e a socieda-
de. Depois, o Verbo de Deus se encar-
nou em uma determinada pessoa, em
um determinando momento da histó-
ria e, posteriormente, esse processo de
redenção humana perdurou na vida
O Báculo | Página 16
da Igreja, a nova Israel, a comunidade
universal portadora da Revelação di-
vina e foi o meio pelo qual o homem
participou da nova vida do Verbo
Encarnado. Christopher Daw-
son, A Formação da Cristandade.
Negar essa historicidade, por tanto, é abso-
lutamente desnecessário. Mais do que des-
necessária, a negação da História pode ser
muito perigosa. Primeiro, porque o coração
da fé cristã, Jesus, é uma confissão de fé na
historicidade da afirmação cristã sobre Deus
ter vindo ao mundo, e assumido uma natu-
reza verdadeiramente humana. Se a histó-
ria é sem valor, e se a fé cristã pode existir a
parte da história, então o Dogma da Encar-
nação fica comprometido. Algumas pessoas
parecem preferir algum tipo de espirituali-
dade romântica, desconectada do mundo,
da cultura, da sociedade a sua volta. Mas,
como corretamente firmam, Dawson, “isso
não é cristianismo”. Porque, o cristianismo
é “a religião da Revelação, Encarnação e Co-
munhão; uma religião que une o humano
e o divino e vê, na história, a manifestação das, e ao mesmo tempo não violou o estilo,
do desígnio divino para a raça humana”. a gramática, e até mesmo as imperfeições
dos autores inspirados. O mesmo Deus que
Por outro lado, se aceitamos o mistério da se fez verdadeiro homem, sendo verdadeiro
fé na Encarnação, i.e., aceitando a inter- Deus, deu-nos uma Escritura totalmente
venção de Deus na História, quando deixou humana e histórica, ao mesmo tempo que
os céus para tornar-se um de nós, estamos totalmente inspirada pelo Espirito Santo.
melhor capacitados à compreender as dinâ-
micas tantas vezes paradoxais de nossa fé. As Escrituras, os Credos, as Confi-
ções e a Liturgia são um convite sem-
Afinal, esse Deus que veio ser um de nós, é o pre atual para que conheçamos a his-
mesmo Deus que inspirou as páginas sagra- toricidade da nossa fé e esperança!

“
Creio em Deus Pai Todo-Poderoso,
Criador dos céus e da terra;
E em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor;
O qual foi concebido por obra do Espírito Santo;
Nasceu da virgem, Maria;
Padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos;
Foi crucificado, morto e sepultado;*
E ao terceiro dia, ressurgiu dos mortos;
Subiu ao céu e está assentado à destra de Deus Pai, Todo-Poderoso,
de onde há de vir para julgar os vivos e os mortos;
Creio no Espírito Santo,
Na Santa Igreja Católica,
Na comunhão dos santos,
Na remissão dos pecados,
Na ressurreição do corpo”.

Símbolo dos Apóstolos

1
“Crescendo na Graça: Doutrinas Fundamentais”. Café com
o Bispo: http://cafecomobispo.blogspot.com/2018/02/cres-
cendo-na-graca-as-doutrinas.html. Acesso em 19/06/2018.

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