Missões
Urbanas
Precisamos redefinir
o que é Evangelismo CAFÉ COM O BISPO
= Reverendíssimo Josep Rossello =
Bispo, “O Báculo” fala esse mês de mis- centros populacionais, e é onde a maior parte
sões urbanas. Conte-nos um pouco de das pessoas do mundo vive hoje. Por isso elas
sua experiência pessoal. são diversas, multiculturais e dinâmicas. Isso
requer de nós planejamento sobre como apre-
Desde minha conversão sempre tive uma sentar o antigo evangelho de forma a ser com-
grande paixão por missões. Alguns meses após preendido dentro desse contextoa.
minha conversão participei de diversos traba- A Igreja do Novo Testamento estava em
lhos missionários em cidades de Euskadi e da contextos bem parecidos aos das cidades do
Catalunha. Porém, aqueles trabalhos não se en- Século 21, em diversos aspectos. Havia muita
quadrariam no que hoje chamamos de “missões liberdade religiosa, e muitas opções de fé. As
urbanas”. pessoas podiam mudar facilmente de uma reli-
Quando me converti, aos 20 anos de ida- gião para outra, de um culto para outro. Muitas
de, as primeiras igrejas evangélicas que encon- dessas religiões, aliás, traziam aspectos muito
trei estavam em cidades. No Estado de Valência próximos ao da narrativa bíblica, o que era um
(Espanha), não há igrejas evangélicas em todas complicador para a nascente fé cristã.
as cidades, e por isso eu precisava viajar no mí- Os primeiros cristãos foram capazes de
nimo duas horas para ir ao culto. Isso me fez responder aos desafios das cidades; assim esta-
considerar o contexto missionário no qual eu beleceram uma Igreja capaz de avançar, ainda
estava, e passei a buscar formas eficazes de res- que enfrentando perseguições e inimigos exter-
ponder aos desafios propostos por esse contex- nos e internos. Gosto de pensar que um de seus
to. Ainda assim as missões eram realizadas sem trunfos foi a unidade cristã em meio a diversi-
a reflexão teológica que hoje envolve o tema das dade da Igreja primitiva. Mas não gostaria que
“missões urbanas”, e sem considerar a grande o leitor tivesse uma visão romântica sobre esses
diversidade cultural que existe nas cidades do temas. Eles não converteram todo o Império
Século 21. Romano, nem é correto pensar que não havia
problemas nas congregações.
Que fundamentação bíblica e teológica o _______
senhor poderia dar para as missões em
centros urbanos? a
Dois artigos abordam o tema das missões ur-
banas nesta edição: O nascimento de uma igreja urbana
Muito já foi escrito sobre as missões nas (pág. 10), e Missões Urbanas (pág.15).
cidades. As cidades se converteram em grandes
O Báculo | Página 02
Assim, acredito que um dos concei- no Reino. O membro até ora, mas
tos mais interessantes para conside- não espera resposta - a menos que
rarmos as missões urbanas está na a resposta seja segundo sua própria
ideia da “Cidade de Deus”. A Igre- vontade. O membro escuta, assimila
ja de Cristo torna o Reino de Deus e reproduz o linguajar da Igreja, mas
visível entre os homens quando é não necessariamente compreende o
una, santa, católica e apostólicab. A que acontece diante dele. Ele aceita,
vida em comunidade, por meio da se acostuma e vive dentro de uma
Palavra e dos Sacramentos, é um cultura eclesiástica, acreditando que
dos atos mais revolucionários para isso define sua própria realidade es-
o Século 21. Não existe força mais piritual. É um erro comum, aceito
poderosa do que viver plenamente tácitamente em todas as denomi-
a fé em Cristo, pelo poder do Espíri- nações cristãs, porque, apesar de
to Santo, e para a glória de Deus, o falho, tal sistema assegura alguns
Pai. Isso explica porque que o Esta- resultados numéricos.
do teme a Igreja de Cristo, e vários Por outro lado, os discípulos
estadistas já tentaram ou tentam não necessitam do compromisso
impedir que ela seja uma presente com um “clube social”, mas sempre
encarnação de Jesus, o Corpo de compartilham o que Deus realiza em
Cristo, tendo Ele so por Cabeça. suas vidas. De modo simples, sem
necessariamente se valer de uma
O que dizer àqueles que acham agenda institucional, o discípulo en-
que evangelizar é trabalho de sina, compartilha e, o mais impor-
pastores e pessoas mais quali- tante, vive a realidade do Reino de
ficadas? Deus. Os cultos talvez não fiquem tão
cheios, a princípio, mas se estamos
Muito se fala de evangelismo, fazendo discípulos, estes certamente
porém há muita confusão a respeito. serão testemunhas vivas do Cris-
Precisamos redefinir o que enten- to. Este processo é mais demorado,
demos por evangelismo, rejeitando porém, mais interessante, autêntico
visões errôneas que causam tantas e duradouro. É também mais eficaz,
inseguranças e equívocos. Acima de porque os cristãos dos primeiros
tudo, é preciso dedicar mais tempo séculos mudaram a História da Hu-
para fazer discípulos e não meros manidade, e nem eram 10% de toda
membros de Igreja. Não é uma de- a população do Império Romano. No
cisão humanamente fácil, porque Brasil, somos cerca de 40% da pop-
“membros” preenchem os templos, ulação, mas ainda não conseguimos
suas vidas estão dentro de quatro fazer a diferença. Tem algo errado
paredes; já os discípulos esvaziam os nessa equação.
templos, pois sua vocação é encher a _______
Cidade de Deus.
Em outras palavras: o mem- b
Mais sobre as características
bro quer ir a Igreja, mas ele não quer da Igreja na revista Examinai! (Outubro
ser Igreja. O membro pode até entre- 2017), especialmente em Uma perspectiva
gar o dízimo, mas não quer trabalhar anglicana da Reforma (pág. 6).
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Novas vocaçoes na Inglaterra
Precisamos aprender a ser discípulos, e a Este ano a Igreja brasileira enviou mis-
discipular outros. E não falo de conhecimen- sionários para a Europa, como o irmão
to intelectual, coisa muito necessária, to- Jonatas Braggato. Qual a razão de ter um
davia, ser e fazer discípulo é muito mais do missionário em centros urbanos? A Euro-
que isso. É um estilo de vida único, formado pa precisa de missionários?
e conformado pelas Escrituras Sagradas, e
pela vida do próprio Cristo.
Enviamos um missionário para a In-
glaterra e outro para a Alemanha, e estamos
Que conselhos o senhor daria aos que precisando enviar um à Venezuela no próxi-
não se sentem preparados? mo ano, se Deus permitir.
Isso me faz lembrar o desafio que co-
loquei para a Igreja Anglicana Reformada
Seja você mesmo, compartilhe aquilo em seu primeiro Sínodo. Disse na época que
que Deus está fazendo em sua vida, e ore com esperava ver o dia no qual enviaríamos nosso
fé por aquelas pessoas que estão próximas a primeiro missionário. Era uma ideia bonita,
você. Muitas vezes sequer oramos por nossos mas creio que ninguém realmente acreditou.
colegas de trabalho, ou da Universidade, tal- Hoje, oito anos depois, temos dois missioná-
vez porque não acreditamos realmente que rios na Europa e seis Igrejas na Venezuela.
Deus possa responder as nossas orações. Ou Não é pouco, considerando que somos uma
porque nos sentimos indignos, imperfeitos, Igreja pequena.
ou sem preparo. E talvez tudo isso seja ver- E a única razão para enviar missio-
dade, mas ainda assim o Espírito Santo pode nários para qualquer lugar é sempre a mes-
usar ferramentas imperfeitas para transfor- ma: fomos chamaos a discipular as nações.
mar a vida das pessoas ao nosso redor E, sim, a Europa precisa ser re-evangelizada
Precisamos confiar mais em Deus, e no Século 21. Então, precisamos enviar mais
menos em nós mesmos. Não se trata de es- missionários, e aguardar grandes coisas para
tarmos preparados, mas de estarmos pron- Cristo.
tos para confiar que o Espírito de Deus pode
No Café com o Bispo da revista de Outu-
nos usar para a glória de Deus.
bro, o senhor disse que a Igreja está cres-
Evidentemente, não significa que não
cendo a Inglaterra. Há trabalhos de evan-
podemos nos preparar melhor, ler mais, es-
gelização na Free Church of England?
tudar mais, e até refletirmos sobre nossos er-
Pode compartilhar com a gente?
ros e acertos como evangelizadores. Em seu
devido lugar, tais coisas podem nos ajudar a
amadurecer e crescer cada dia mais. A Free Church of England, da qual so-
mos parte, tem feito um grande esforço na
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Europa para reverter a perda de membros, e com Cheguei ontem, e ainda estou processan-
isso começar a crescer novamente. do minha visita à Venezuela. Assim, tem muitas
A maioria das Igrejas cristãs na Europa coisas passando na minha cabeça, e as emoções
perde membros a cada ano, um fato inegável que ainda estão a flor da pele.
requer nossa atenção e nossas orações. Contudo, Falando objetivamente, nossa Igreja tem
a FCE está conseguindo mudar essa tendência, e crescido mais do que o esperado na Venezuela, o
tem crescido algo em torno de 10%, consideran- que trás também muitos desafios, como edificar
do o biênio 2015-2016. Os dados que consideram e discipular aqueles que estão chegando. Tenho
este ano só estarão disponíveis em 2018. a sensação de que o Senhor nos tem chamado à
É importante destacar que a FCE conse- Venezuela em um momento no qual existe uma
gue ser uma das primeiras Igrejas a mudar um verdadeira janela para o evangelismo por lá. O
processo aparentemente irreversível para muitas venezuelano é uma pessoa religiosa, e possui
Igrejas na Europa. Um milagre, levando em con- elementos cristãos em sua vida, mas precisa de
ta que a FCE possui poucos recursos humanos e conversão e discipulado na graça de Deus, e nas
financeiros, ao contrário de outras muito maio- verdades da Palavra de Deus.
res. Infelizmente, tive a desagradável surpresa
Este processo de revitalização tem sido de encontrar igrejas neo-pentecostais brasileiras
possível graças a renovação da liderança, que aprontando das suas também na Venezuela. Mas
tem recebido ministros mais jovens nos últimos constatei uma grande presença luterana, o que
anos. Sem novas vocações, a Igreja não pode so- foi bastante inspirador. Encontrei apenas uma
breviver. Além disso, outros fatores presentes Igreja presbiteriana.
nessa revitalização são: um compromisso claro Uma das coisas mais impactantes é ver as
com o Evangelho, e o desejo firme de manter a fé pessoas nos abordando nas ruas, pedindo ora-
da Igreja na Palavra de Deus. No final de Outu- ções, palavra de conforto, e perceber pessoas
bro, a Igreja plantou uma nova Igreja no Sul da sendo transformadas pela proclamação e ensino
Inglaterra, e planeja plantar outras nos próximos da Palavra de Deus - verdadeiras conversões!
anos. Além disso, as paróquias já existentes bus- Sobre as nossas Igrejas, a maioria delas
cam e almejam avivamento. estão fora dos centros urbanos, porém, temos um
maravilhoso projeto sendo empreendido em Ca-
racas, e há conversações sobre outros em outras
O senhor acaba de retornar da Venezuela. cidades. Tudo no tempo de Deus.
Conte-nos como foi. Lá os trabalhos são
mais urbanos ou estão afastados dos gran-
des centros?
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Uma crônica anglicana
n o M e t r ô d a S é
- Eu sei que você é casado!- começou o bêbado; - Meu jovem, não gosto de você; se soubesse do
mesmo que você não me tenha dito nada. que sou capaz, dos poderes de Ogum...
Um sorriso insípio deve ter sido flagrado no meu Cá entre nos? Hoje eu não ficaria incomodado
roto. Ele insistiu: com tanto “jovem” pra lá, “jovem” pra cá. Deve
ser coisa da idade. Confesso que as vezes sinto
- Você tem curiosidade de saber como isso é pos- falta do tempo em que estranhos me tratavam
sível? por “jovem” e não por “senhor”. “Senhora tá no
céu”, me dizia uma tia, sem que eu entendesse
- Não; respondi. o profundo significado existencial dessa bronca.
Estava bem pouco interessado em abandonar - Nâo tenho medo de Ogum; respondi.
meu jogo de xadrez no celular por causa da intro-
missão do estranho. Um estranho bêbado? Dis- - É. Você tem cara de Evangélico!
penso. Mesmo assim respondi, já imaginando o
rumo que ele desejava dar a conversa: - Honestamente? Preferia ter cara de cristão.
- De qualquer modo, acho que é para isso as pes- - De que Igreja você é?
soas usam alianças, não?
- Eu sou anglicano.
- Meu jovem, você tem a mente muito fechada –
retrucou o rapaz, com ar indignado. Mas, deixa - Que coisa é essa?
estar, um dia desses Ogum aparece para você, e
tudo muda. Sim, meu jovem, eu sou de Ogum… - Hum… O termo anglicano vem de “Igreja da In-
Toda sexta eu sacrifico para Ogum… animais, glaterra”. Já ouviu falar?
sabe?… É por isso que eu sei que agora tua esposa
está em casa, esperando por você… - Realmente eu não gosto... Além de ser chato,
ainda vem com essa Igreja onde só entra rico!
Não havia esposa em casa. E devo ter feito uma
cara zombeteira, ou dado outro sorriso aguado, - Eu não sou rico...
pois o rapaz disse algo como:
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- O que você faz numa igreja de rico - Fiquei bebado com meu dinheiro,
então? que você tem com isso?
- Foi você quem disse que somos uma - Não estou reclamando. E também
igreja de ricos, não eu! aprecio uma cerveja vez ou outra,a
diferença e que aprendi com Cristo a
- Hum… Vocês pregam o que? não ser dominado por coisa alguma.
Diretor Geral: Reverendíssimo Bispo Josep Rossello. Editor Chefe: Marcelo Lemos (Registro: MG08183JP). Conse-
lho Editorial (2017-2018): Bispo Josep Rossello (SP), Marcelo Lemos (MG), Rev. Diego de Araujo Viana (RJ), Dr. Gui-
lherme Braun Jr (Alemanha). Projeto Gráfico: Marcelo Lemos. Colaboraram nesta edição: Bispo Josep Rossello,
Ricardo (Rika) Ramos, Rev. Jorge Aquino, Rev. Marcelo Lemos, Rev. Regis Domingues. VOCÊ TAMBÉM PODE AJUDAR ESTE
PROJETO A CRESCER ENVIANDO FOTOS, ARTIGOS, COMENTÁRIOS, PERGUNTAS (marcelolemosramos@gmail.com).
Esta publicação está comprometida com os formulários anglicanos, e adota a Declaração de Princí-
pios da Free Church of England, também chamada no Brasil por Igreja Anglicana Reformada do Brasil.
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SOBRE O ANGLICANISMO REFORMADO? ESCREVA PARA NOSSO ESCRITORIO NACIONAL: contato@igrejaanglicana.com
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Web
Evangelismo Você já pensou em ser um evangeli-
zador digital? Você tem contribuído
para que a visão missionária da sua
Igreja chegue até as pessoas? Veja al-
gumas dicas que podem te auxiliar.
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Seja sociável com as pessoas.
Devido a distância e o anônimato é tentador se deixar levar por contendas online, espe-
cialmente nas redes sociais. Muitas vezes usamos mais tempo para tentar provar nossos
pontos de vistas do que evangelizando e acolhendo as pessoas. Defenda seus pontos de
vistas, e defenda sua fé, mas não se esqueças de que apenas o Espírito Santo pode con-
vencer as pessoas.
Você sabia? O Bispo Josep Rossello publicou um vídeo chamado “Dez Passos Prá-
ticos Para o Evangelismo”. Assista e divulgue o link: https://www.youtube.com/wa-
tch?v=ECvA_yIXWxY
Seja estratégico.
Você, sua paróquia ou seu grupo de evangelização precisam ser estratégicos. Um ditado
popular diz que para quem não sabe onde quer chegar qualquer caminho serve. Fuja do
improviso, tenha sempre os seus alvos claros. Talvez seja útil dedicar um período pu-
blicando memes, artigos e devocionais sobre família, outro período sobre os distintivos
anglicanos, e um terceiro sobre o Plano da Salvação. Planeje com antecedência, pesquise
e produza material de fácil compreensão, e divulgue.
Produza material.
Se você gosta de escrever, escreva. Se você gosta de cantar, cante. Se gosta de com-
por, componha. Talvez você tenha talentos para criar memes e postagens inte-
ressantes, dedique-se a isso. O fato é que todos possuem talentos próprios, dados
pelo próprio Deus. Use seus talentos para falar do amor de Cristo pelas pessoas.
Um dos benefícios das redes sociais é que elas permitem que todos possam com-
partilhar suas ideias com o mundo através dos meios mais diversos!
Você sabia? O Bispo Francisco Buzzo, da Igreja Anglicana Reformada em Bragança
Paulista, dedica boa parte de suas interações no Facebook à divulgação de pequenas
mensagens baseadas nos Credos e nos formulários anglicanos, como os 39 Artigos.
Trata-se de uma maneira simples e eficiênte de divulgar a identidade anglicana e
falar do amor de Cristo para as pessoas.
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O nascimento de uma Igreja urbana.
Um exame de caso: A igreja em Filipos (At 16:11-34)
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Segundo as opiniões mais correntes, Paulo esta- tar” antes de usar. Não pretende ser um mode-
ria em torno do ano 50. Está acompanhado de lo único nem rígido. Contudo é um modelo ex-
Silas, Timóteo e Lucas, seus ajudantes na sua tremamente significante e relevante para quem
segunda viagem missionária. Eles acabaram de quer pesar a pastoral urbana nos dias atuais.
passar pela Ásia Menor e agora estão chegan- Estes elementos podem muito bem ser iden-
do à região conhecida como Macedônia, uma tificados com a “cara” desta igreja nascente.
região com status de colônia às margens da es- E como sabemos, todos se interessam em ver
trada Egnátia. Esta região era conhecida porque com quem se aprece o bebê recém-nascido. Sa-
era habitada por muitos militares aposentados, ber como é a “cara” da criança pode nos ajudar
o que nos leva a crer que o culto ao imperador a descobrir pistas relevantes para nosso tra-
era uma prática muito forte na região. Esta re- balho missionário. Neste texto encontramos
gião era também conhecida por ser muito rica pelo menos três elementos importantes que
nas chamadas “religiões de mistério”, que ca- caracterizam o nascimento desta novel igreja.
racterizou fortemente a cultura grega e a romana.
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A Igreja Nasce em meio à Gente Simples
Esta é uma igreja que nasce em meio a gente sim- surpresos. Os versos 14 e 15 nos dão conta que ela era
ples. Paulo (v.13) procura encontrar um grupo de , alem de temente a Deus e prestativa aos apostolos,
mulheres. Naquela sociedade, a mulher era encara-
da como uma res ou uma “coisa”. Algo que perdeu 1) mulher;
todo referencial de pessoalidade e de personalidade.
2) migrante, vinda da cidade de Tiatira;
Aquelas mulheres estavam reunidas em um “lugar de
oração”. Sabemos que as mulheres eram impedidas por 3) trabalhadora, vendia púrpura;
lei de cultuar nas sinagogas (que para existir bastaria a
presença de 10 homens) por serem consideradas impró- Em nossa sociedade urbana encontramos hoje uma
prias para aquela reunião. No entanto, questionando as multidão de pessoas abandonadas, sofridas, oprimi-
normas estabelecidas, e dando vazão às suas necessida- das pelas mais diversas angustias. O desemprego, a
des de oração e de contato com o sagrado, elas teimam enfermidade, a condição sexual, a cor da pele, o grau
em buscar um lugar onde possam orar em comunidade. de escolaridade, etc. tudo isto tem se tornado cau-
sas de mais dor e mais exclusão. Se pretendemos se-
Era um lugar que “fora da cidade”. As cidades da época guir o mesmo caminho trilhado por Paulo na criação
eram construídas na busca, acima de tudo, da seguran- de uma igreja urbana, precisamos estar dispostos e
ça. Por isso eram edificadas dentro de fortes e robus- prontos a atender uma gama enorme de “dores” exis-
tos muros. Aquelas mulheres tiveram que sair da segu- tenciais que têm afligido nosso povo. Dores que não
rança dos muros, tiveram que buscar a periferia para saem nem desaparecem por medidas paliativa ou com
poderem adorar. Foram onde moravam os excluídos, coreografias, angustiam que não se dissolvem com
os esquecidos, os que não eram considerados cidadãos. “palavras mágicas” nem ao “estalar dos dedos”. É pre-
ciso que desenvolvamos um coração de pastor. É pre-
Interessante perceber que, diante da pregação de Pau- ciso que tenhamos em nossos missionários urbanos
lo, o “coração de Lídia” se abre para receber a Palavra a mesma paixão e o mesmo carinho que havia no co-
de Deus. Lídia é conhecida como a primeira cristã da ração do Cristo e que o fez encarnar e ser um de nós.
Europa. E a forma como a Biblia a descreve nos deixa
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vam a exploração e punia qualquer ação libertado- ele não se manifestou no palácio de Herodes
ra. Aquela era uma sociedade voltada apenas para na forma de um imperador sanguinário, mas
o TER e não para o SER. Ninguém se alegrou com em uma estribaria em Belém, na forma de uma
a libertação da jovem, ninguém manifestou agrade- criança. E mesmo sendo apenas um recém-
cimento pelo que o Evangelho fez na vida daquela -nascido, ela já desestruturava os reis da terra.
jovem mulher, mas todos perceberam algo funda-
mental: a “esperança do lucro” (v. 19) se desfez. Ninguém, nem o Estado, nem uma doutrina,
Imediatamente a acusação foi feita. Paulo e seus nem qualquer ditador, pode exigir poder supre-
companheiros eram acusados de “perturbar a cida- mo ou obediência absoluta, porque o cristão só
de”. (v. 20) Os missionários agora são vistos como adora e só serve a um Deus: Jesus. Toda a for-
desordeiros, perturbadores da “paz” e da “tranqüi- ça maligna que oprime e que dirige a sociedade
lidade” da “ordem” estabelecida. O resultado deste deve ser relativizada pelo poder e pelo exemplo
conflito é que os missionários são “açoitados”, lan- de Jesus. A Boa Nova deste texto é que somen-
çados na prisão e colocados “no tronco”. (v.23, 24) te o poder do Evangelho pode libertar o homem
do poder alienador das ideologias, do consumis-
Quando o Reino de Deus irrompeu entre nós, mo, do individualismo e dos sistemas opressores.
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Missões Urbanas
Rika Ramos
O Báculo | Página 15
Como Igreja de Cristo, vivendo em selvas de pe- em nosso dia a dia? Quantas pessoas com fome
dra, concreto e aço, devemos nos empenhar em existe em nossas cidades, talvez na casa vizinha?
viver o evangelho de Cristo nesta terra. O desafio
é a sinalização do Reino de Deus no aqui e agora, Mas, missões urbanas falam apenas de proble-
tornando-o visível entre os homens. O desafio in- mas sociais e econômicos?
clui algumas questões importantes, por exemplo:
como apresentar Deus a um homem sem Deus? A minha resposta é não! Missões urbanas é muito
mais que isso. Quando o versículo fala sobre fome,
Então, dê uma espiada em Mateus 25:35-40: sede, nudez e presões, está falando de cada ser hu-
mano com suas mazelas, inclusive as mazelas do
“Porque tive fome, e me destes de comer; tive Século XXI, como a depressão, o estress, dentre
sede, e me destes de beber; era estrangeiro, e me outras. Neste sentido, podemos conhecer pessoas
acolhestes; precisei de roupas, e me vestistes; es- que estando em seus palacetes tavez se sinta piores
tive doente, e me visitastes; estava na prisão e do que aquela pessoa que encontramos pelas ruas.
fostes visitar-me. Então os justos lhe pergunta-
rão: Senhor, quando te vimos com fome e te de- Nós, como igreja, devemos ser os olhos e os
mos de comer, ou com sede e te demos de beber? ouvidos de Deus nesta terra; temos o dever
Quando te vimos como estrangeiro e te acolhemos, de mostrar as boas novas da salvação à todos,
ou precisando de roupas e te vestimos? Quando te sem exceção, pois todos estamos doentes e pre-
vimos doente, ou na prisão, e fomos visitar-te? E cisamos do médico dos médicos, Jesus, úni-
o Rei lhes responderá: Em verdade vos digo que co capaz de restaurar nossa vida e nossa visão.
sempre que o fizestes a um destes meus irmãos,
ainda que dos mais pequeninos, a mim o fizestes”. Missões urbanas são um dever para nós. É
um chamado que Deus colocou em nossos co-
Quantas vezes nos deparamos com estas ex- rações, a fim de que possámos ser gratos e de-
periências em nossa volta? Quantas vezes nos dicaros a JESUS - sim, dedicados e gratos, por
deparamos com pessoas morando debaixo de cada batida de nosso coração, porque por mim
marquises, viadutos, nos banco das praças? e por você, o DELE parou de bater no Calvário.
Com 1uantos usuários de drogas ‘trombamos’
O ato de plantar é uma figura de linguagem utilizada pelo to de Jesus (Mt 28:19). E, assim, edificar uma Igreja Sau-
apóstolo Paulo para exemplificar o início e o desenvolvi- dável, voltada muito mais à maturidade espiritual do que
mento da Igreja em Corinto. Plantar uma igreja requer uma ao crescimento numérico local, até porque o objetivo de
dedicação missionária, onde é necessário semear (em mui- Jesus sempre foi o envio, para multiplicar e não represar
tas passagens bíblicas semear é comparado ao pregar a pa- (At 1:8). O crescimento numérico é desejado sim, mas des-
lavra de Deus, anunciar as Boas Novas), cultivar e aguardar de que esse se espalhe em caráter missional e, assim, os
que Deus dê o crescimento. E aqui não nos referimos ao discípulos se reúnam em torno da pessoa de Jesus Cristo
crescimento número, mas sim ao crescimento em estatura e não de uma personalidade carismática qualquer. Plan-
espiritual. O crescimento numérico pode ocorrer sim, e é tar Igrejas, e essas saudáveis, é o plano original de Deus
muito desejável, mas a prioridade de Deus é que cada um para o seu povo, dando continuidade à Missão de Deus.
de nós cresçamos em amor (1 Ts 3:12), cresçamos na graça e Dessa forma podemos dizer que uma Igreja saudável é
no conhecimento de Cristo (2 Pe 3:18) e por fim cheguemos a reunião de pessoas alcançadas pela graça irresistível
à maturidade, a estatura da plenitude de Cristo (Ef 4:13). de Deus em Jesus Cristo, independente de estatísticas,
números, publicidades e local. E creio firmemente que
Ao plantarmos uma Igreja temos como propósito reunir o avivamento que tanto almejamos para a Igreja hoje
pessoas à caminhada do discipulado e cumprir o manda- está nos aguardando na plantação de Igrejas saudáveis.
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NA ESCOLA DOS PRIMEIROS CRISTAOS
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