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Universidade Paulista – UNIP

Instituto de Ciências Sociais e Comunicação

Curso de Letras – Licenciatura

Trabalho de Conclusão de Curso

(TCC)

O MORRO DOS VENTOS UIVANTES

ROMÂNTICO OU VITORIANO?

Jumara A. Rodrigues SILVA

Karla M. de CARVALHO

Rosangela Maria da SILVA

Thais Graciane dos SANTOS


II

Titulo do Pré-Projeto: Custo Hospitalar:


Nome do Candidato: Jumara A. Rodrigues
Email: jrodrigues@saude.sp.gov.br Telefone: 3066-8058/8559-7471

CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA E JUSTIFICATIVA

O tema a ser desenvolvido neste trabalho é a análise da apuração de


custos nos hospitais administrados pela Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo,
procurando fornecer uma ferramenta para o planejamento econômico financeiro e uma
base para análise de desempenho das Unidades de Atendimento.

Embora os hospitais públicos não tenham por objetivo o lucro essas


instituições devem buscar ampliar e melhorar a prestação de serviços à população a
medida que a geração de resultados positivos ampliam o montante de recursos
disponíveis a serem aplicados nas atividade.

Segundo a Comissão Interministerial de Custos, a implantação de


Sistemas de Custos deve contribuir favoravelmente para o melhor aproveitamento dos
recursos públicos, pois para NUNES, (1995), o governo desconhece, onde há
desperdício e onde há eficiência na aplicação dos recursos.

A adequada gestão de qualquer empresa pressupõe o correto


funcionamento de sua área financeira, com equilíbrio entre receitas e despesas, ou seja,
os ingressos de recursos devem ser suficientes para cobrir os desembolsos (OLIVEIRA;
GIUSTI, 2006).

Como os recursos são escassos e finitos na área da saúde, devem-se


necessariamente utilizar indicadores de gestão que permitam conhecer os custos a fim
de melhorar e alocar os recursos.

Para OLIVEIRA; GIUSTI (2006), a apuração e o controle dos custos


constituem absoluta necessidade dentro das instituições hospitalares, pois enquanto a
primeira serve de instrumento eficaz de gerencia e acompanhamento dos serviços, a
segunda permite a implantação de medidas corretivas que visem a um melhor
desempenho, com base na possível redefinição das prioridades essenciais, no aumento
III

da produtividade e na racionalização do uso de recursos, dentre outras medidas


administrativas.

Atualmente podemos observar o quanto a legislação existente enfatiza há


muito tempo a necessidade de um sistema de custos e juntamente com as decisões do
Tribunal de Contas da União, vem a cada dia reforçar a necessidade de se utilizar custos
como forma de se mensurar conceitos como a eficiência, a eficácia e de avaliação dos
resultados da administração. (WIEMER; RIBEIRO, 2007)

OBJETIVO

O desenvolvimento do tema tem como objetivo propiciar o


conhecimento dos custos de serviços oferecidos pelo hospital e quando possível
compara-los com os demais, fornecer subsídios para os planejamentos dos gastos nas
instituições e subsidiar ações corretivas quando necessário.

MÉTODO

Trata-se de um estudo a ser realizado a partir dos dados contidos no


Sistema de Gerenciamento de Custos Hospitalares (SGCH), elaborado em outubro de
2007 pela equipe de analistas da Coordenadoria de Gestão de Contratos de Serviços de
Saúde (CGCSS) e até o momento implantado em 5 (cinco) unidades de atendimento.

O SGCH possibilita a apuração dos custos dos serviços e dos produtos, á


partir do agrupamento dos componentes do custo (matérias-primas, mão-de-obra,
depreciação e gastos no geral com a produção) permite ainda, o acompanhamento e a
análise dos custos dos hospitais, otimizando os recursos, bem como possibilita a
redução dos custos da produção e da prestação de serviços.

A primeira etapa do projeto se iniciará pela coleta de dados a partir do


sistema concomitante a revisão literária ampla sobre o assunto, posteriormente, análise e
tratamento dos dados.

RESULTADOS E IMPACTOS ESPERADOS

A disseminação do SGCH/SES possibilitará que a SES/SP, além de


buscar a excelência na gestão orçamentária, estabeleça padrões de eficiência e critérios
IV

de avaliação de desempenho que avaliem a utilização dos recursos alocados e os


resultados obtidos.

Dado o montante limitado de recursos disponíveis, decisões relativas a


alternativas de produção de serviços ou programas devem necessariamente levar em
conta o custo de cada alternativa. Varias técnicas de analise de decisão e planejamento
estão baseadas em informações sobre o custo das alternativas.

A preparação do orçamento e qualquer projeção de futuras necessidades


financeiras necessitam de bases firmes, como a análise dos custos e dos desempenhos
passados.

A Secretaria de Estado da Saúde ao conhecer os custos de produção dos


serviços das Unidades Hospitalares subordinadas, pode mais facilmente descentralizar a
gestão financeira, pois saberá exatamente qual a necessidade de cada uma delas para
desenvolver suas atividades.
V

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Disponível em: https://www.portalsof.planejamento.gov.br/. Acessado em:


14/10/2007.

CIP-BRASIL. Gestão Hospitalar: Administrando o Hospital Moderno / Organizador


Ernesto Lima Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 2006.

COUTO, Renato Camargo; PEDROSA, Tânia Moreira Grillo. Hospital: Acreditação e


Gestão em Saúde. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.

NUNES, Marcos Alonso. Custos no serviço Público. Brasília: ENAP, 1998.

HORNGREN, Charles T. Contabilidade de Custos: uma abordagem gerencial, 11 ed.


São Paulo: Prentice Hall, 2004.

RIBEIRO, Antônio de Lima. Gestão de pessoas. São Paulo: Saraiva, 2006.

TOLOVI JR., J. Porque os Programas de Qualidade Falham? Revista de


Administração de Empresas, Novembro/Dezembro, v. 34, n. 6, pp. 6-11.

VICECONTI, Paulo Eduardo Vilchez; NEVES, Silvério das. Contabilidade de


Custos: Um enfoque direto e objetivo. 7 ed. São Paulo: Frase, 2003.

WIEMER, Ana Paula Moreira. Custos no serviço Público. Disponível em:


www.congressoeac.locaweb.com.br/artigos42004/187.pdf. Acessado em: 14/10/2007.
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São Paulo

2004
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Universidade Paulista – UNIP


Instituto de Ciências Sociais e Comunicação
Curso de Letras – Licenciatura
Trabalho de Conclusão de Curso
(TCC)

O Morro dos Ventos Uivantes

Romântico ou Vitoriano?

Trabalho de Conclusão de Curso de


graduação em Letras – Licenciatura com
Habilitação em Língua Portuguesa e
Língua Inglesa, sob orientação da
Professora Jussara

São Paulo
2004
VIII

DEDICATÓRIA

Dedicamos este trabalho à nossa


família que tanto nos apoiou e nos
ajudou nesta jornada.
IX

AGRADECIMENTOS

Sinceros agradecimentos a todos que, de alguma forma,


contribuíram para a realização deste trabalho:

A todos os professores do Departamento de Letras da


UNIP

A professora Jussara, pela orientação e aquisição de


material bibliográfico.

A nossa família, pela dedicação e amor.


X

SUMÁRIO

p.

1 RESUMO 01

2 ABSTRACT 02

3 INTRODUÇÃO 03

4 O ROMANTISMO 05

5 O REALISMO 08

6 O MORRO DOS VENTOS UIVANTES, ROMÂNTICO OU VITORIANO ? 13

7 CONCLUSÃO 28

8 APÊNDICES 29

Apêndice 1 - Resumo da Obra 29

Apêndice 2 - Emily Brontë e O Morro dos Ventos Uivantes 33

9 BIBLIOGRAFIAS CONSULTADAS 36
1

RESUMO

O objetivo deste trabalho é tentar encontrar uma resposta possível


para a polêmica em torno da inserção do romance O Morro dos Ventos
Uivantes, de Emily Brontë, na escola romântica ou realista.

Para alcançar este objetivo, descrevemos o contexto social em que a


obra foi escrita bem como as características principais do romantismo e do
realismo. Analisando os aspectos psicológicos das personagens, a construção
do espaço na narrativa e a concepção do amor e da morte veiculada pelo
romance, concluímos que é impossível classificá-la como romântica ou realista,
pois seu enredo é construído com elementos das duas escolas intrinsecamente
ligados. E é nesta justaposição de contrários e diferenças que repousa a
grandeza da obra.
2

ABSTRACT

This paper aims to look for a possible answer to the polemic discussion
about the romantic and realistic caracteristics of the novel Wuthering Heigths,
by Emily Brontë.

In order to do so, we described the social context in which the novel was
written as well as the main caracteristics of romantism and realism. By
analysing the psycological aspect of the main caracters, the setting, and the
concept of love and death conveyed by the novel we concluded that it’s
impossible to classify it as romantic or realist, since its plot was contructed with
elements of the two literary schools intrinsically linked. And the greatness of the
novel relies exctally on the juxtaposition of differences and contradictions.
3

INTRODUÇÃO

Publicado em 1847, O Morro dos Ventos Uivantes, romance da inglesa


Emily Brontë é um grande clássico da literatura estrangeira e o objeto de nossa
investigação.

A obra possui elementos tanto do Romantismo quanto do Realismo, pois


foi escrita no período de transição destas escolas literárias. Portanto, para
expor nosso trabalho, faremos uma análise da obra, destacando as atitudes
das personagens, as características românticas e realistas presentes na
mesma. Para isso, abordaremos temas como, amor, morte, vingança e espaço.

O Morro dos Ventos Uivantes é um dos romances mais lidos em todo o


mundo, já foi adaptado para história infantil, filme de televisão e cinema, sendo
que estes últimos possuem mais de uma versão. Deixou uma marca muito
grande nos britânicos e gerou muita discussão a respeito da sua história de
amor, de sua atmosfera de conflito e da paisagem descrita.

Este romance transformou-se num verdadeiro mito na memória popular


britânica, por representar o amor romântico que sobrevive a tudo, mesmo sob
dificuldades. É a força do amor que faz com que os protagonistas possam
transcender. Emily Brontë conseguiu fazer um romance que se parece com as
tragédias de Shakespeare, o amor de Catherine e Heathcliff pode ser
comparado com o de Romeu e Julieta e o de Antônio e Cleopatra, justamente
por causa da sua força de superar e sobreviver a tudo.

O romance está inserido em um contexto social e histórico, mostrando


que a autora não estava isolada das questões sociais e econômicas do seu
tempo, embora não fosse sua primeira intenção contextualizar o romance, ao
colocar os fatos da sua realidade, ela acaba retratando também sua época.
Muitos críticos tentam entender como uma garota como Emily Brontë, com grau
4

de escolaridade não muito elevado, que não tinha muita experiência na vida,
conseguiu produzir uma obra tão bem elaborada como O Morro dos Ventos
Uivantes. Preocupando-se mais com a fantasia e em retratar a manifestação de
sentimentos que vieram da sua própria experiência de vida, a autora consegue,
por um lado, refletir o seu tempo, por exemplo, quando se utiliza das leis que
regiam a transmissão da herança na época Vitoriana para dar verossimilhança
ao enredo, e coloca como conflito central do romance uma questão de classe –
Catherine casa-se com Linton para não se rebaixar socialmente, apesar de seu
amor por Heathcliff; e por outro transcende-lo, ao trazer para a literatura a
representação da fala oral – o dialeto regional de Joseph, 1 característica típica
de obras modernistas.

Muitos críticos escreveram sobre os elementos biográficos presentes na


obra, o local onde morava a autora era semelhante ao local onde se passa o
romance, o irmão de Emily era alcoólatra como Hindley (o irmão de Catherine);
e apesar de não ser este, o caminho que norteia nossa análise apresentamos
um resumo da obra no apêndice 1 e discutimos a relação obra e dados
biográficos no apêndice 2.

Este trabalho foi dividido em quatro capítulos, sendo que os dois


primeiros apresentam o contexto histórico e as características do Romantismo
e Realismo respectivamente. O terceiro capítulo trata dos aspectos românticos
e realistas presentes na obra, investiga o comportamento psicológico dos
protagonistas tendo como pano de fundo a maneira como o romance
representa o amor, a morte e o espaço no desenrolar da narrativa. E o quarto
constitui a conclusão sobre nossa investigação. Achamos importante também
inserir os dois apêndices mencionados no parágrafo anterior – resumo da obra
e a relação obra-biografia da autora.

1
Nenhuma tradução brasileira respeitou o original no que concerne a esta questão, sendo as falas da
personagem Joseph traduzidas no mesmo registro das falas das demais personagens.
5

Não se pode esperar que este trabalho esgote todo o assunto sobre a
produção de Emily Brontë, coisa que seria impossível, pois o que está em
análise são as características do Romantismo e Realismo e,
conseqüentemente, as possibilidades de interpretações múltiplas e dinâmicas.
Este trabalho almeja ser apenas um ponto de partida para uma aventura
literária no mundo da leitura, isto é, pretende despertar a curiosidade para que
mais pessoas leiam a obra da autora e conheçam de perto o fascínio que seus
textos são capazes de suscitar em cada um de seus leitores.
6

ROMANTISMO

Romantismo provém dos romances medievais, narrativas fantasiosas,


muito difundidas entre as pessoas do povo, que continham três ingredientes
básicos: amor, aventura, heroísmo.

O Romantismo tem o seu início, provavelmente, nos países europeus


mais desenvolvidos: Escócia. Inglaterra e Alemanha. Contudo, é na França, a
partir do fim do século XVIII (Revolução Francesa), que o novo movimento
ganha proporções revolucionárias.

Na Inglaterra surgiu nos primeiros anos do século XIX, através da poesia


de Lord Byron (pregava tristeza e morte) e através dos romances históricos
de Walter Scott.

Impetuoso e vital, o Romantismo surgiu como um movimento que


privilegiava a subjetividade individual, em oposição à estética racionalista
clássica, que representou a exaltação do homem, da natureza e do belo. Dá-
se o nome de Romantismo à tendência estética e filosófica que dominou
todas as áreas de pensamento e criação artística de meados do século XVIII
a meados do XIX. Como expressão do espírito de rebeldia, liberdade e
independência, o Romantismo propôs-se a descortinar o misterioso, o
irracional e o imaginativo na vida humana, assim como explorar domínios
desconhecidos para libertar a fantasia e a emoção, reencontrar a natureza e
o passado.

O fascínio pelo misterioso e sobrenatural e a atmosfera de fantasia e


heroísmo que dominavam essas composições ampliaram o sentido dos
valores qualitativos (amor, honra, etc) em detrimento dos valores
quantitativos do capitalismo emergente que quantificava tudo e todos; e
símbolo de uma nova estética, encontrou suas primeiras manifestações,
eminentemente literárias, nos movimentos pré-românticos britânicos e
alemães.
7

O Romantismo elevou a figura do poeta a um papel central de profeta e


visionário. A apreensão da verdade deveria se dar diretamente a partir da
experiência sensorial e emocional do escritor; a imitação dos modelos
clássicos foi abandonada. São criações românticas, o mito do artista e do
amante incompreendidos, e rejeitados pela sociedade ou pela amada.

A literatura romântica britânica prenunciou-se na novela gótica, iniciada


com o famoso The Castle of Otranto (O castelo de Otranto), 1765; de Horace
Walpole. As reconstruções de ambientes medievais, os cenários históricos e
exóticos e a revalorização do lúgubre nessas obras definiram alguns dos
traços do Romantismo. Os romances históricos de Walter Scott
transcenderam as fronteiras britânicas. Ambientados na Escócia medieval,
ilustram a extensão da curiosidade romântica pelo incomum, já que a Escócia
era vista como um lugar selvagem, fora dos centros civilizados, e a Idade
Média, como um período igualmente bárbaro e distanciado no tempo. William
Wordsworth e Samuel Taylor Coleridge criaram uma teoria poética baseada
no livre fluxo das emoções intensas e na fantasia, que norteou a produção de
John Keats, Percy Shelley e Lord Byron.

A morte é um tema importante na obra romântica. Longe de ser um


modismo difundido na Europa, a fuga para a morte tem raízes mais
profundas no Romantismo. Morrer aos vinte anos era, na verdade, negar-se
a participar das decisões político-sociais que camuflavam injustiças. E deste
choque entre o mundo sonhado e mundo real, surgiu a idéia de evadir-se
para a solidão, para o desespero e para a morte.

Nesta Escola Literária, a natureza é retomada não como simples


cenário, mas como cúmplice do sentimento do artista, como expressão do
seu estado de espírito. Assim, se ele está deprimido, tudo em redor está
hostil, tempestades se avizinham, a lua melancólica emoldura sua tristeza , a
escuridão prevalece sobre a luz; e se está alegre, o sol brilha, os pássaros
esvoaçam, as flores desabrocham.
8

Uma característica importante do Romantismo é o subjetivismo, onde o


escritor romântico, quer da prosa quer da poesia, tem compromisso com o
individual. A realidade circundante é absorvida, sofre transformações
interiores e chega ao público através da ótica pessoal do artista.

A mulher, entre os românticos, é símbolo de perfeição e de pureza. A


figura feminina aparece convertida em anjo ou santa. Não importa a temática
(escravidão, sociedade urbana ou rural): as mulheres são virgens, pálidas,
belas e fiéis. No Romantismo o escritor romântico, principalmente o
romancista, no afã de criar personagens perfeitas cai no exagero.

Todas as histórias românticas têm o amor como mola propulsora. Os


autores, porém, preferem o amor idealizado, apenas sonhado porque as
mulheres de carne e osso padecem de imperfeições que não combinam com
as aspirações do artista.

No Romantismo, prevalece a inspiração sobre a razão. Não há modelos


nem regras a seguir – exceto aquelas ditadas pela imaginação criadora.

O Romantismo é um movimento que nasce com o capitalismo e tem


como característica básica o desencantamento com o mundo, pois as
possibilidades colocadas na época clássica caem por terra, e o homem vê
que a razão e as “luzes” não serviram para resolver as contradições
imediatas do ser humano que se individualiza; e em conseqüência busca
fugir desta realidade através do reencantamento do mundo que é outra de
suas característica importantes. O romântico busca este reencantamento
através da valorização do passado, voltando-se preferencialmente para a
idade média, da criação de uma atmosfera mística e bucólica, e privilegiando
o sentimento e da intuição em detrimento da razão. Daí sua rejeição à
luminosidade do dia e sua preferência pela penumbra, noite, e escuridão,
pois que estas suscitam sonhos e fantasias.
9

REALISMO

O Realismo surgiu na segunda metade do Século XIX. Movimento que


pretende descrever, de maneira crítica e objetiva, uma nova realidade.
Caracteriza-se pela intenção de uma abordagem objetiva da realidade e pelo
interesse por temas sociais. O Realismo representa uma reação ao
subjetivismo do Romantismo.

No romance realista temos uma narrativa mais preocupada com a


análise psicológica, fazendo crítica à sociedade a partir do comportamento de
determinadas personagens. Este tipo de romance é documental, sendo retrato
de uma época.

Percebemos no romance realista crítica contumaz às instituições, como


a Igreja e o casamento por interesse. Os principais temas abordados são:
preconceitos raciais, escravidão, sexualidade; tratados sempre com uma
linguagem clara e direta.

O conhecimento sobre o ser humano se amplia com o avanço da


Ciência e os estudos passam a ser feitos sob a ótica da Psicologia e da
Sociologia. A Teoria da Evolução das Espécies de Darwin oferece novas
perspectivas com base científica, concorrendo para o nascimento de um tipo de
literatura mais engajada, impetuosa, renovadora e preocupada com a
linguagem.

Diferentemente do romantismo, o realismo não retrata de forma


idealizada os valores qualitativos, mas aponta a inviabilidade de sua afirmação
no prosaísmo da vida cotidiana. A ambientação dos romances se dá,
preferencialmente, em locais miseráveis, localizados com precisão; os
casamentos felizes são substituídos pelo adultério; os costumes são descritos
minuciosamente com reprodução da linguagem coloquial e regional.
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O romance sob a tendência naturalista manifesta preocupação social e


focaliza personagens vivendo em extrema pobreza, exibindo cenas chocantes.
Sua função é de crítica social, denúncia da exploração do homem pelo homem
e sua brutalização, como a encontrada no romance de Emily Brontë.

A hereditariedade é vista como rigoroso determinismo a que se


submetem as personagens, subordinadas, também, ao meio que lhes molda a
ação, ficando entregues à sensualidade, à sucessão dos fatos e às
circunstâncias ambientais. Além de deter toda sua ação sob o senso do real, o
escritor deve ser capaz de expressar tudo com clareza, demonstrando
cientificamente como reagem os homens, quando vivem em sociedade.

Privilegiam a minúcia descritiva, revelando as reações externas das


personagens, abrindo espaço para os retratos literários e a descrição detalhada
dos fatos banais numa linguagem precisa.

Outro tratamento típico é a caracterização psicológica das personagens


que têm seus retratos compostos através da exposição de seus pensamentos,
hábitos e contradições, revelando a imprevisibilidade das ações e construção
das personagens.

Na França, Gustave Flaubert escreve Madame Bovary, considerado o


marco inicial do realismo. Na Inglaterra este movimento constituiu um estilo de
época, que veio a expressar os valores e circunstâncias socio-culturais da Era
Vitoriana, período que corresponde aos 64 anos de governo da Rainha Vitoria
(1837 à 1901). Graças aos bons ministros de que se cercou, a Rainha
conseguiu tornar a Inglaterra um poderoso império. Na literatura destacam-se
os romancistas Charles Dickens (Oliver Twist), Charlotte Brontë (Jane Eyre) e
Emily Brontë (O Morro dos Ventos Uivantes).

Esta Era, foi uma época de grandes e profundas modificações, de ordem


material e espiritual. Não apenas a época de expansão política do Império
Britânico, mas de progresso real em todos os setores da vida inglesa, inclusive
no literário.
11

Época longa, (um reinado de 64 anos), mas de mudanças rápidas, de


década em década, e de contrastes fortes: individualismo evangélico,
dogmatismo anglo-católico e culto do herói. Época em que a literatura se
interessou pelos problemas do momento.

Politicamente, grandes reformas aconteceram, dando força à classe dos


grandes industriais e manufatureiros, algumas delas napoleônicas.

O papel desempenhado pelos escritores em todas essas reformas não


foi pequeno, como se depreende da leitura de suas obras, não apenas
filosóficas, mas também literárias; que continham críticas sociais, difusão de
novas idéias, agitação intelectual a que se juntaria o Manifesto Comunista de
Marx e Engels vindo a luz em 1871.

No campo religioso, ocorreram divisões na Igreja Estabelecida, entre a


Alta Igreja e a minoria evangélica ou radical.

A principal mudança na vida social inglesa ocorreu com a Revolução


Industrial, quando a utilização da máquina veio trazer modificações extensas e
intensas às condições de trabalho e de vida dos operários. O progresso nos
meios de transporte operou transformações na vida pública. Em 1825 surgiu a
primeira companhia de estrada de ferro que transportava mercadorias e
passageiros e a navegação a vapor foi iniciada em 1833.

Como resultados sociais da Revolução Industrial surgiram novas idéias,


novas classes, o capitalismo, conflitos entre a indústria e o comércio e entre as
próprias classes; com isso as condições de vida foram sofrendo mudanças
variadas e intensas desde o início da Era Vitoriana até o final do século, com a
morte da Rainha em 1901.

A classes pobres e operárias viviam de forma precária, a miséria nos


cortiços era imensa, as casas eram mal-iluminadas e mal-arejadas, havia
pouca água encanada. As condições de trabalho também eram deploráveis.
Havia meninos que limpavam as chaminés das casas, mesmo sendo uma
profissão proibida aos menores de 20 anos, pois trazia grande perigo aos
12

mesmos. Havia também, as criadas que desempenhavam várias funções em


troca de 10 libras por ano.

Já a classe dos industriais e comerciantes, teve sua ascensão no início


da Era Vitoriana. Eram homens de hábitos simples, costumes severos e
puritanos. Duros consigo mesmos, dedicavam-se com perseverança e firmeza
às suas obrigações. Guiava-os um verdadeiro “evangelho de trabalho”.
Trabalhavam muito. Não cuidavam de melhorar a vida de seus operários, mas
eles próprios levavam uma vida sóbria, sem ostentar ou esbanjar seus bens.
Pelas suas atitudes, seus princípios morais, seu senso do dever, dominavam
os costumes da época. Imperava neles o senso da responsabilidade e da
respeitabilidade. Conservadores, em geral, eram inimigos das novidades. Fiéis
aos seus princípios morais e religiosos, não admitiam transgressões aos
mesmos, respeitando os preceitos tradicionais. Seus lares eram como templos
sagrados que exigiam todo respeito. Suas mulheres e filhas, só saiam
acompanhadas de empregados, para fazer compras ou visitas de caridade. Às
mulheres, também, só eram dados serviços leves, caseiros, não havia
profissão para a mulher da nobreza ou da alta burguesia. Viviam num pedestal
de respeito e veneração. Se não tinha marido ou pai, devia ser sustentada por
um parente masculino. Tornava-se uma “parente pobre”, ou tinha de ir para
casa de estranhos trabalhar como governanta.

As famílias eram, em geral numerosas, não dispensando as classes


médias e altas, as governantas e pajens. O hábito de fazer visitas era intenso.
Nestas visitas, as mulheres podiam bordar, fazer croché, tricô. Os homens, em
sala própria, fumavam e jogavam cartas, gamão, xadrez. A música era
bastante apreciada. Fazia parte das prendas duma burguesa, cantar, tocar
piano ou violino.

Os princípios puritanos da rainha imprimiram à sua corte e às classes


sociais mais elevadas um tom de austeridade, respeitabilidade e muitos tabus
que, infringidos ou desrespeitados, eram motivo de censura, condenação e
vergonha para os infratores. Mas por trás desta respeitabilidade e austeridade
ocorriam excessos e imoralidades, cuidadosamente ocultos, muitas vezes
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vinham à tona, apesar de todo o disfarce e negação, o que acabou marcando a


Era Vitoriana como hipócrita.

Neste mundo limitado ainda sob tantos aspectos, vai desenvolver-se um


dos períodos mais ricos da literatura, que acabará sendo considerado como o
mais poderoso e o maior de todos os períodos da cultura inglesa. As novas
idéias que surgiram, a riqueza de vida e pensamento, a literatura que atinge o
povo, justificam a Era Vitoriana como uma excepcional época da literatura
universal.

Período que se destaca pelo número de grandes autores, pela variedade


assuntos e tipos humanos representados. O barateamento da imprensa e do
livro motivou o aparecimento de numerosos escritores, de todas as classes.
Também surgiram grandes escritoras, apesar do confinamento da mulher ao lar
e do preconceito contra as mesmas que se consagravam à literatura. Na
poesia: Elizabeth Barrett Browning, Emily Brontë, Cristina Rossetti e Alice
Meynell. No romance: Jane Austen, Charlotte, Emily e Anne Brontë, George
Eliot, Mrs. Gaskell e muitas outras.

É deste mundo de contrastes tão impressionantes, de prosperidade e


miséria, grandeza e vileza, arte extrema e decadência estética, injustiças
gritantes e reivindicações, lirismo e realismo, idéias gastas e novos surtos de
pensamento, egoísmo e devotamento, sentimentalismo e espírito prático,
materialismo e espiritualidade, que é feita a Era Vitoriana; apesar de suas
limitações, erros, seus altos e baixos, enfim com tudo quanto nela existiu de
esplêndido e grande, mereceu denominar uma época, marcar um estilo de
vida, enriquecer uma literatura e afirmar perante o mundo, aturdido pelas
grandes conquistas de suas máquinas, indústrias, homens de comércio e
política, a elevada espiritualidade de um povo.
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O Morro dos Ventos Uivantes, Romântico ou Vitoriano ?

A obra possuiu tanto características românticas quanto da Era Vitoriana,


portanto, uma das questões polêmicas levantadas a respeito do romance é se
ele pertence ao Romantismo ou ao Realismo.

As principais características do Romantismo estão entrelaçadas em toda


obra O Morro dos Ventos Uivantes.

Na época do Romantismo uma forma de sentir concretizou-se no plano


literário e artístico: sentimentos conflituosos, de entusiasmos e paixões
desmedidas e ilimitadas. Uma característica marcante na obra é o
sentimentalismo, a super valorização das emoções pessoais, é o mundo
interior que conta: o subjetivismo.

O romântico analisa e expressa a realidade por meio do sentimento. O


amor é considerado a coisa mais importante da vida e, como tal, constitui o
tema mais freqüente do Romantismo.

Heathcliff é um herói Byronico, e como tal é rebelde, isola-se do mundo,


tem origens misteriosas, falta-lhe laços de família, rejeita limitações e procura
resolver seu isolamento, fundindo-se com o objeto do amor.

Emily Brontë, para criar Heathcliff ou Catherine, não se ateve a uma


personagem simplesmente apaixonada, mas sim regida pela mais completa
desmesura. Heathcliff tinha dentro de si, uma força superior. Ele deixou-se
consumir por um amor incontrolável que o destruiu, além de destruir as
pessoas que estavam a sua volta.

Embora Catherine e Heathcliff soubessem que não deveriam ter se


apaixonado um pelo outro, não conseguiram abdicar da paixão que fatalmente
os uniu. Enfrentam todas as vicissitudes que lhes impõem o destino, buscando
sofregamente uma felicidade que se apresenta cada vez mais distante.
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Catherine, embora casando-se com Edgar, amava Heathcliff


intensamente. Ela deixa isso claro na obra, quando em um diálogo com Nelly
diz:

“ –[...] Não posso me exprimir direito; mas você, como todo mundo, deve ter
a crença de que existe, ou deve existir outra vida, à nossa frente. Para que
serviria eu ter existido, se ficasse inteiramente restrita a aqui? Meus maiores
sofrimentos neste mundo têm sido os sentimentos de Heathcliff; fui
testemunha deles e senti-os, todos, desde o começo. Meu maior cuidado na
vida é ele. Se tudo desaparecesse e ele ficasse, eu continuaria a existir. E se
tudo o mais ficasse, e ele fosse aniquilado, eu ficaria só num mundo
estranho, incapaz de ter parte dele.[...] Nelly, eu sou Heathcliff. Sempre,
sempre o tenho no meu pensamento. Não é como um prazer, porque eu
também não sou um prazer para mim própria, mas como o meu próprio ser...
“(MVU, p. 77)

Ainda no mesmo diálogo com Nelly, Catherine faz uma analogia entre o
amor que sentia por Heathcliff e o que sentia por Edgar Linton.

“...Meu amor por Linton é como a folhagem da mata: o tempo há de mudá-lo


como o inverno muda as árvores, isso eu sei muito bem. E o meu amor por
Heathcliff é como as rochas eternas que ficam debaixo do chão; uma fonte
de felicidade quase invisível, mas necessária...”. (MVU, p.78)

As declarações acima são exemplos de um dos trechos mais belos do


livro, pois percebemos nelas um sentimento de amor inabalável. Emily Brontë
deu um toque de poesia em sua obra que torna possível ao leitor comover-se
com o sentimento das personagens.

O amor entre Heathcliff e Catherine foi tão intenso que nem mesmo a
morte conseguiu destruí-lo:

“Fica comigo para sempre... Não posso viver sem minha vida! Não posso
viver sem a minha alma!” (p. 149)2

Percebe-se neste trecho do livro, o desespero de Heathcliff com a


possibilidade de não ter mais Catherine por perto. Ele não imagina viver sem

2
(BRONTË, Emily. O Morro dos Ventos Uivantes. São Paulo, ed. Nova Cultural, 1995, p.149) Doravante
referido como MVU, seguido do número de página.
16

sua amada, pois Catherine não apenas faz parte de sua vida: ela é a sua vida,
em outras palavras, é o que faz com que ele continue a viver e dá sentido à
sua existência.

Apesar de todos acontecimentos da vida de Heathcliff, o abandono de


seus pais, os insultos de Hindley, e o desprezo de Catherine que preferiu
casar-se com Edgar, o amor que ele sentia por ela permaneceu intacto. Era um
sentimento que o fazia sofrer, pois não havia para ele qualquer possibilidade de
realização. Apesar da rejeição sofrida em nenhum momento este amor se
converteu num sentimento de ódio ou vingança em relação a Catherine.

“Não vou tirar vingança de você – replicou Heathcliff com menos veemência.
– Não é esse o meu intento. O tirano tortura os escravos, mas os escravos
nunca se voltam contra ele.” (MVU, p. 102)

Heathcliff, desencantado, direciona todo seu ressentimento contra


aqueles que de alguma forma o degradaram e o tornaram indigno de unir-se à
sua amada. Heathcliff, depois de perder Catherine para Edgar, desaparece e
retorna três anos depois, rico e com uma única intenção, vingar-se. E uma de
suas vítimas é a irmã de Linton, Isabella, que tem a infelicidade de se
apaixonar por Heathcliff. Assim que ele descobre-se objeto deste amor, tem em
mãos os meios para perpetrar sua vingança contra Linton, casando-se com sua
irmã.

No romantismo o amor pode apresentar-se ora como uma força


destrutiva, ora como uma fonte de regeneração moral. O romance retrata esta
polarização do sentimento amoroso, entre destrutividade e potência criativa na
trajetória dos casais Catherine-Heathcliff e Hareton-Cathy respectivamente.

Hareton, no primeiro momento do livro, é uma pessoa bruta e sem


instrução, situa-se como um marginal que é transformado em decorrência do
amor.

“- Não sabe ler essas letras? – bradou Catherine.[...]


Linton riu:
17

- Ele não conhece nem as letras do ABC – falou para a prima – Já viu sujeito
mais ignorante?” (MVU, p. 190)

Percebemos neste trecho o escárnio de Linton e Cathy com Hareton, por


ele não saber ler nem escrever. Para que este amor possa ser concretizado,
Hareton muda seu modo de ser e de viver. Transforma-se em um indivíduo
culto e merecedor do amor de Cathy:

“ – Então não quer ser meu amigo? – E, enquanto se aproximava mais, o


sorriso dela era doce como mel.
Não discerni mais nenhuma conversa, porém, olhando-os, vi dois rostos tão
radiosos inclinados sobre a página do livro que não me restava mais dúvidas
de que o acordo fora ratificado por ambas as partes. E doravante os antigos
desafetos seriam amigos jurados.” (MVU p. 268)

Se há impedimentos ao amor, igualmente há uma saída para que ele


triunfe, mesmo no caos. É notório a permanente vinculação do amor à idéia da
morte, quando os caminhos se estreitam de tal forma que outra escolha não se
faz possível.

No romantismo não há espaço para a realização amorosa nas


circunstancias da vida moderna. Uma verdadeira união só será conseguida
através de muitos sofrimentos e privações e isso é um desejo típico do
Romantismo, pois o herói romântico, acredita ser possível o reencontro com
a pessoa amada em outra vida. Heathcliff espera que a morte chegue para
reencontrar-se com sua amada.

Quando Catherine está no leito de morte, Heathcliff percebe que se ela


morrer, sua vida não terá mais sentido, pois para ele sua alma está
entrelaçada com a da amada. Ambos são uma só pessoa e em seu
derradeiro encontro ele diz a ela:

“ Que vida será a minha quando você... Oh, Deus do céu! Quereria você
viver com a sua alma enterrada num túmulo?” (MVU, p. 143).
Percebemos neste trecho o desespero de uma pessoa completamente
apaixonada, que vê seu amor definhar de maneira rápida sem que ele pudesse
fazer nada.
18

O amor romântico encontra na morte a sua mais pura forma de


realização. O papel da morte é apresentar-se como solução ao amor
terrenamente impossível. Assim, tanto Catherine como Heathcliff deixaram que
a morte viesse ao seu encontro. Para ele, após a morte de Catherine, nada
mais tinha sentido. Depois de realizar sua vingança, ele desiste de lutar pela
vida, deixando que a morte venha levá-lo ao encontro de sua amada. Nelly
tenta fazer com que Heathcliff reaja e lute para não morrer, porém ele já tinha
se entregado completamente:

“- ...Alimente-se e descanse um pouco. Mire-se no espelho e veja o quanto


precisa de repouso e comida. [...] (MVU p.284)
- Pedir-me isso agora é o mesmo que mandar descansar um homem que luta
com a água, a uma braça da terra firme. Primeiro tenho que chegar à
margem, depois é que posso descansar.[...] Estou felicíssimo; entretanto,
não atingi ainda a felicidade completa. Essa felicidade da minha alma mata-
me o corpo, e assim mesmo não se satisfaz.” (MVU, p. 284)

Heathcliff queria tanto que a morte chegasse, que quando morre seu rosto
tem um semblante de felicidade intensa:

“Penteei o cabelo negro e comprido de Heathcliff, afastando-o da testa, tentei


fechar-lhe os olhos, apagar, se possível, aquela pavorosa expressão, quase
viva, de alegria intensa, antes que alguém a percebesse. Mas os olhos não
se queriam fechar, pareciam escarnecer dos meus esforços, os lábios
entreabertos, os brancos dentes agudos, escarneciam também!” (MVU, p.
286).

A morte permeia toda a obra, sendo um fato que muda a vida de todas as
personagens e não só a união de Heathcliff e Catherine. Heathcliff chega no
Morro dos Ventos Uivantes sendo trazido pelo Sr. Earnshaw e recebe a
atenção e carinho do mesmo, gerando assim, o ódio em Hindley, seu irmão
adotivo. Quando o Sr. Earnshaw morre, a situação se modifica, pois Hindley se
torna o herdeiro do Morro dos Ventos Uivantes e o ódio profundo que ele nutre
por Heathcliff vem à tona e este o humilha e o maltrata. A vida de Heathcliff
muda completamente. De “filho preferido”, passa a ser um empregado.

“...tornou-se impertinente ao mesmo tempo que Hindley se tornava tirano.


Algumas palavras da esposa, demonstrando desagrado a Heathcliff,
19

despertaram nele todo seu velho ódio pelo rapaz. Expulsou-o de sua
companhia, mandando-o para junto dos criados, privou-o das aulas do
coadjutor e determinou que, em vez de estudar, o rapaz trabalhasse no
campo. Obrigava-o mesmo a labutar tão de rijo quanto qualquer outro
trabalhador da Granja.” (MVU. p. 50)

Hindley, por sua vez, também se destruiu após a morte de sua esposa,
que morreu ao dar a luz a Hareton. Após sua morte, ele começou a beber e a
jogar, esquecendo-se do filho, perdendo seus bens para seu maior inimigo:
Heathcliff.

Ele, que até então se mostrara um homem forte e arrogante, que dava
valor ao poder e posição social, passou a ser humilhado e dependente de
Heathcliff, esperando que a morte o unisse ao seu único e verdadeiro amor.

O final da narrativa reúne em si toda a dramaticidade da história.


Heathcliff morre, deixando um caminho livre para o amor de Catherine (filha) e
Hareton.

Assim como o romântico encontrava na morte uma forma de fugir da


realidade, também buscava na Natureza uma forma de se desligar da
realidade social, encontrando nela a paz e a tranqüilidade sonhadas.

Percebe-se que Emily Brontë trabalha com imagens naturais, como as


de animais, paisagens, para construir o que se constitui o espaço aberto do
romance.

“... A igreja cinzenta parecia mais cinzenta ainda e mais solitário o solitário
cemitério. Vi um rebanho de carneiros da charneca pastando na relva curta,
entre os túmulos. O tempo estava macio, tépido; quente demais para viajar;
contudo, o calor não me impedia de gozar a paisagem que ficava acima e
abaixo de mim.[...] No inverno, nada é mais triste, porém no verão nada é
mais divino que aqueles vales escondidos entre morros e aqueles cabeços
íngremes, recobertos de urzes.” (MVU p.261)

A paisagem noturna, sepulcral, luarenta, exótica, com suas asperezas e


impetuosidades é a que melhor se adapta aos sentimentos melancólicos dos
20

autores românticos. No decorrer do romance, percebemos que enquanto as


personagens enfrentavam momentos conflituosos a Natureza apresentava-se
sombria, escura, como se o inverno existisse sempre.

“Concluída a tarefa de comer, e como ninguém articulasse uma palavra de


conversa, aproximei-me da janela para ver como ia o tempo. Foi triste o que
vi: a noite escura caíra prematuramente e o céu e os morros se confundiam
numa rajada ríspida de vento e de neve grossa.” (MVU, p.25)
Às vezes, o romântico vê-se embebido na mesma paisagem,
identificando nela o seu estado de espírito. A Natureza é o reflexo do mundo
interior. Quando Heathcliff percebe a inutilidade de sua vingança e entrega-se à
morte, tudo parece ficar mais calmo, deixando assim de existir os conflitos, a
partir daí a natureza nos é apresentada de uma forma diferente, o inverno cede
espaço à primavera, no lugar da neve, aparecem as flores e o sol vence as
tempestades.

“(...) afastei-me, marchando a meu vagar, com o esplendor do sol poente às


costas, e o esplendor da lua que nascia, à frente; um se apagando, a outra
crescendo, enquanto eu deixava o parque e tomava a estrada pedregosa
que se bifurca em direção à casa do Sr. Heathcliff. Antes de a avistar, tudo
que restava do dia era uma claridade dourada e difusa, a oeste; contudo,
era-me possível ver cada calhau do caminho, cada haste de relva, à luz do
magnífico luar. Não tive que escalar o portão, nem sequer bater; ele cedeu
quando o toquei. “Já é um progresso”, pensei. E o olfato deu-me notícia de
outro progresso: um perfume de goivos pairava no ar por entre as fruteiras
domésticas”. (MVU, p.262)
“Demorei-me ao pé dos túmulos, sob o céu suave, fiquei a contemplar as
mariposas que voejavam sobre a urze e as campainhas, a escutar o vento
macio que soprava por entre a relva; e a cismar se era possível a alguém
imaginar um sono agitado por sob aquela terra tranqüila”. (MVU, p.288)

Ainda em relação ao espaço, observamos que a trama se passa em


lugares diferentes, sendo eles a casa da Granja e a casa do Morro dos Ventos
Uivantes, que constituem o espaço fechado; enquanto a natureza que
circundante constitui o espaço aberto.

Observemos agora os contrastes entre as personagens e os espaços


em que estão inseridas. As personagens do romance são divididas conforme o
lugar onde moram, por exemplo, a família Earnshaw no Morro do Ventos
Uivantes, lugar mais primitivo, mais rústico onde venta muito. A casa precisa
ser forte para suportar a ventania e as freqüentes pancadas de chuva e neve,
21

às quais está exposta devido à sua localização no alto de um morro. Lockwood


define este lugar como:

“...um provincianismo que descreve o tumulto atmosférico a que este local


está sujeito em época de tempestades”. (MVU, p. 16) “
A família Linton na Granja do Tordo, lugar mais civilizado e calmo,
localizada num espaço de planície, com um bosque à frente, possuindo,
portanto, um status econômico mais elevado que a outra casa. Há, portanto,
dois tipos de personagens, as intensas e tempestuosas, que habitam a primeira
casa, e as menos intensas e calmas, que habitam a segunda. Por fim, estas
características opostas entre os dois espaços contribuem para mostrar o
contraste entre as personagens que as habitam, principalmente, Heathcliff e
Edgar.

Ambos os espaços do romance não apresentam descrição detalhada e


minuciosa no que diz respeito, por exemplo, aos seus aposentos, fachada da
casa, móveis, etc, não sendo possível ao leitor fazer uma imagem mental das
casas com precisão.

O leitor conhece os espaços através das impressões das próprias


personagens e, portanto, embora não se trate de uma visão totalmente
detalhada, consegue através dessas impressões, reconstruir no seu imaginário
ambas as casas.

A casa do Morro dos Ventos Uivantes é apresentada pelo próprio


narrador logo no começo do romance, quanto este vai conversar com Heathcliff
sobre o aluguel de Granja do Tordo. Lockwood está entrando na casa e
descreve a sua fachada:

“...detive-me, a fim de admirar algumas esculturas de lavra grotesca,


espalhadas na fachada”. (MVU, p 16)
Nesta passagem, fica nítido que se tratava de uma casa mal cuidada, de
aspecto rústico e sombrio.

As personagens do Morro dos Ventos Uivantes eram primitivas, fortes,


selvagens, intensas, assim como a própria casa, que tem uma construção
22

rústica e forte para suportar as fortes rajadas de ventos freqüentes no local. Um


adjetivo conveniente que exprime o temperamento explosivo e tempestuoso
tanto da casa como das personagens que nela habitam é “stormy”
(tempestuoso).

Por outro lado, as personagens da Granja dos Tordos são calmas,


civilizadas, educadas, com maneiras refinadas, fisicamente mais fracas e mais
ricas socialmente.

A Granja contribuiu para a caracterização destas personagens, pois se


localiza em um local plano, com menos ventos e mais calmo que o Morro. Além
disso, a casa é muito bem decorada por dentro com lustre de cristal, teto com
moldura dourada e outros ornamentos que mostram a riqueza e o status social
mais elevado de seus moradores.

O Morro dos Ventos Uivantes tem relação com Heathcliff, enquanto que
a Granja dos Tordos refere-se a Edgar. Catherine escolheu se casar com
Edgar, portanto, saiu da casa para morar na Granja dos Tordos. No entanto,
não estava convicta de sua opção, pois queria ficar com os dois, por isso, seu
corpo está em um lugar, mas sua mente em outro, assim, está fisicamente com
seu marido e mentalmente com Heathcliff.

Portanto, quando Catherine pensa estar em sua casa no Morro, deixa


transparecer o que ela realmente quer: não apenas estar no lugar físico, mas
também, ficar junto de seu amor.

Além destes aspectos do Romantismo, seria impossível deixar de


perceber traços do Realismo Vitoriano na obra O Morro dos Ventos Uivantes,
pois foi nessa época que a autora viveu e escreveu, sofrendo, sem dúvida,
suas influências.

O amor na literatura romântica é exposto de maneira subjetiva, idealizada.


Em oposição ao Romantismo, na narrativa realista o amor se constrói e se
desgasta no dia-a-dia, pois este movimento trabalha com a objetividade.
23

O romance O Morro dos Ventos Uivantes tem em relação a esta questão


uma ambigüidade, ora apresenta características românticas, ora realistas.
Podemos observar isto na relação entre as personagens Heathcliff e Catherine.
Eles viveram um amor totalmente romântico, porém as suas atitudes em certos
aspectos são realistas. Catherine mostrou ser uma mulher egoísta e objetiva,
esquecendo-se do lado emocional, e agindo pela razão. Ao se casar com
Edgar, ela pensou na sua posição e status sociais, passando por cima do
sentimento de amor que movia seu ser.

Mesmo apaixonada e acreditando que Heathcliff fizesse parte de sua


alma, seu ser, ela preferiu casar-se com outro homem para não se degradar
socialmente e financeiramente. A mulher romântica não tomaria esta atitude.
Ela lutaria contra tudo e todos para que seu amor fosse concretizado,
preferindo a morte a se entregar para outro homem, que não fosse o seu
amado.

Em nossa análise, percebemos também em Heathcliff essa dualidade. Ele


foi extremamente romântico, lutando o quanto pode para que seu amor fosse
concretizado. Para ele não importava ser um empregado ou mesmo sofrer
humilhações, desde que estivesse ao lado de sua amada. Porém, quando
percebeu que havia perdido Catherine, sumiu por três anos e voltou mudado,
refinou seus hábitos e conseguiu dinheiro suficiente para tentar reconquistá-la,
pois sabia que bens materiais e status eram importantes para ela. Quando
percebeu que não a teria novamente nos braços, Heathcliff resolveu vingar-se
de todos que estavam a sua volta e que de alguma maneira se colocaram entre
os dois amantes.

O herói romântico não agiria desta maneira, se entregaria à dor ou à


morte. Não pensaria em vingança, pois este sentimento não faz parte da visão
romântica, é uma visão totalmente objetiva, pois o realista não trabalha com a
emoção e sim com a razão.

Diferentemente Hareton e Cathy (filha) protagonizam uma união


construída no cotidiano, ao longo do tempo vão se conhecendo e passam a se
24

estimarem mutuamente, acabando juntos no final: Quando Cathy conheceu


Hareton, ela o esnobou e humilhou, pois ele era uma pessoa que não fazia
parte de sua classe social. Não sabia ler e escrever e tinha um aspecto
grosseiro. Porém, quando a moça se tornou viuva de Linton e se viu sozinha
em uma casa que não era a dela, com pessoas que não a amavam, privada de
seus livros, companheiros constantes, passou a olhar para Hareton, e
percebeu que ele poderia ser moldado conforme ela desejava. Assim, decidiu
ensiná-lo a ler e escrever e fez com que ele fosse seu aliado e amigo. Com a
convivência e a troca de sentimentos, eles começaram a ter um relacionamento
tranqüilo, sem as comoções românticas e desmedidas vividas por Heathcliff e
Catherine. Percebemos que este não é o tipo de amor existente no
Romantismo. Não é um amor que privilegia a subjetividade, idealizado e sim
um amor que foi construído no cotidiano com base na realidade objetiva.

Uma característica marcante do Realismo é a denúncia e crítica ao


anseio obsessivo pela ascensão social através da acumulação de bens
materiais. Podemos perceber esta característica em algumas personagens da
obra. Catherine mesmo amando Heathcliff, preferiu casar-se com Edgar, por
temer que a união com seu verdadeiro amor pudesse lhe degradar
socialmente, pois Heathcliff desde que chegou à casa dos Earnshaws, sofreu
muitas humilhações, principalmente por parte de seu irmão, Hindley, já que,
sendo de origem pobre, órfão, sequer tinha um nome e muito menos bens a
oferecer, portanto, não estava à altura de Catherine.

“(...) E se o maldito homem que mora nesta casa não houvesse rebaixado
tanto Heathcliff, eu nem pensaria em me casar com Edgar. Se eu agora me
casasse com Heathcliff, seria uma degradação; e, por isso, nunca há de ele
saber do amor que eu lhe tenho[...].” (MVU, p. 76)
Em outra passagem do livro, Catherine deixa claro que a ascensão
social era mais importante do que seu sentimento por Heathcliff. Percebemos
isso no diálogo entre Catherine e Nelly:

“E porque ele há de ser rico, e eu vou ser a senhora mais importante destas
redondezas, me sentirei orgulhosa do meu marido.” (MVU, p. 74)
Como o status social foi predominante na escolha de Catherine por
Edgar, Heathcliff arma um plano de vingança, e por meios não esclarecidos na
25

obra, enriquece, para mais tarde colocar em prática o seu plano, usando dos
mesmos artifícios que usaram contra ele: o dinheiro.

Heathcliff busca tirar de suas vítimas o que para elas era mais
importante, ou seja, seus bens materiais, porém, faz isso de maneira sórdida.
Primeiro, casa-se com Isabella, irmã de Edgar, por interesse nos seus bens.
Em um diálogo com Catherine, ele pergunta:

“- Ela é herdeira do irmão, não é?


(...) - Você está sempre pronto a cobiçar os bem do próximo.” (MVU p.97)
Depois, Heathcliff seqüestra Cathy, filha de Catherine, para que esta se
case com seu filho Linton, pois sabia que Edgar, único herdeiro da Granja dos
Tordos, estaria perto da morte, e com isso, todos seus bens seriam dele.

Vimos que o amor é o que motiva todo o conflito da obra, porém é a


ganância e a necessidade de acumular bens que impede os heróis de se
unirem, tornando-se o meio que Heathcliff encontra para vingar-se,
aproveitando do valor que seus “inimigos” davam aos seus bens, e a partir daí
estrutura todo o seu plano.

Outra característica presente na literatura realista e que encontramos na


obra é a linguagem, pois o realista escolhe a linguagem mais próxima da
realidade e opta pela simplicidade. É no Realismo que a linguagem oral
começa a ser representada e esta representação vai atingir seu apogeu
somente no modernismo. Assim, Emily Brontë, através da personagem Joseph,
vai além de seu tempo registrando no romance um dialeto falado na região de
Yorkshire, norte da Inglaterra. É curioso notar que nenhuma das traduções
brasileiras respeitou esta particularidade, que infelizmente só pode ser
observada na versão original em inglês.

De uma forma sutil, ela faz uma crítica à Igreja, abordando a hipocrisia
de uma religião, vista como empecilho, colocada como uma forma de castigo
nas palavras da personagem Joseph, um homem bruto, que leva a palavra de
Deus de forma obscura não só no plano do conteúdo, mas também no plano da
forma, pois como já foi mencionado é o único que fala um dialeto estranho ao
26

leitor. Joseph era um empregado da fazenda e também aquele que ensinava a


bíblia para os moradores do local. Porém, ele deturpava a escritura sagrada,
mostrando um Deus que castiga o tempo todo. Os sentimentos mais puros do
coração e as leis da religião foram esquecidos e deturpados. Joseph se achava
o dono da verdade, mas de sua boca, as pessoas que o cercava só ouviam
pragas e desavenças.

“... Mas você não serve mesmo para nada e não adianta estar falando... não
tem conserto... há de ir para o inferno como sua mãe já foi! (MVU, p.25)
[...]
- Oh! Demônio! – arquejou o velho. – Livre-nos Deus de todo o mal!” (MVU,
p. 26)
Ele usa a bíblia, que é considerada como a palavra de Deus que traz
refúgio e paz para os religiosos, como uma forma de punição, como poderemos
perceber no texto citado abaixo:

“ – O patrão ainda está quente na cova, o Sabbath não terminou, as palavras


do Evangelho ainda estão zunindo nos ouvidos de vocês e têm coragem de
brincar! Que vergonha! Andem, sentem-se, seus coisinhas ruins! Se
quiserem ler, livros bons não faltam! Sentem-se e que cada um pense em
sua alma!” (MVU, p. 30 e 31)
Este romance não almeja apenas divertir, moralizar ou afirmar valores
sociais, mas visa esmiuçar o espírito humano, refletindo sobre seus valores,
apresentando uma preocupação com o aspecto psicológico das personagens.
Como já foi citado, esta obra é uma mistura de Romantismo e Realismo e o
romance realista se preocupa em trazer ao leitor um pouco das personagens e
de seus conflitos interiores. Esta preocupação pode ser demonstrada com a
análise retrospectiva da vida de Catherine e Heathcliff.

Catherine tem seu caráter dominado pelo amor que nutre por Heathcliff,
que é sua maior obsessão. É este que dá o alimento a sua alma, que controla
sua vida e dá um significado a sua existência. O amor que professa por
Heathcliff parece ir além em intensidade ao próprio amor romântico; é uma
identificação, uma união das almas. Catherine e Heathcliff se complementam.
Ambos compartilham uma rebeldia durante toda a obra, como se este
envolvimento passional os impedisse de um amadurecimento maior.
27

Catherine é múltipla e confusa, usa seu poder para confundir também as


personagens ao seu redor. Possui uma natureza selvagem. Nelly, a narradora,
que não poupa condenações às ações da heroína, contraditoriamente também
se desdobra em elogios à sua natureza agradável; Linton, dócil e
impressionável, mesmo após vê-la maltratar fisicamente a criada, não
consegue condená-la e dissolve rapidamente sua repulsa; e mesmo Heathcliff,
grande personagem dominador, endurecido pelo tratamento de rejeição e
exclusão a que foi submetido, é envolvido febrilmente pelas mudanças de
humor de Cathy.

No decorrer do livro, a heroína nos mostra ser uma pessoa objetiva e


egoísta, porém percebemos uma ingenuidade em querer controlar as pessoas
e o que está a sua volta. Ela vislumbra a possibilidade de amar Linton, que
representa racionalidade e civilidade, e Heathcliff, que simboliza seu instinto
selvagem e impulsivo. É ingênua quando acredita que sua união com Edgar
não seria capaz de mudar seu relacionamento com Heathcliff. Chegou ao ponto
de acreditar que seria uma forma de ajudá-lo a elevar sua posição social.

“...já lhe ocorreu que se eu e Heathcliff casarmos, seremos uns mendigos? E


se eu casar com Linton, posso ajudar Heathcliff a subir, e tirá-lo das mãos de
meu irmão?” (MVU p.77)
Sua ingenuidade continua com o retorno de Heathcliff, pois ela acredita
que ele e Edgar poderiam ser amigos:

“-Sei que você não gosta dele... Mas, por amor a mim, devem agora ser
amigos.” (MVU p.88)
Percebemos pelas atitudes de Catherine uma dupla personalidade. Sua
passagem de cinco semanas na Granja despertou nela uma apreciação pelo
mundo civilizado, que até então, ela não conhecia. Quando retornou ao Morro
suas maneiras estavam mudadas. Ela observou e condenou a aparência de
Heathcliff. Desde então, a moça adotou duas personalidades, quando estava
se divertindo na companhia dos Lintons, comportou-se como uma moça da
sociedade e quando retornou à fazenda e para a companhia de Heathcliff,
adotou a mesma postura selvagem existente em seu interior.
28

Uma característica significativa do caráter de Catherine é que mesmo


depois de morta, continuou influenciando a vida de Heathcliff, o deixando com
um espírito incomodado e atormentado pela falta que ela lhe fazia.

Para analisarmos o caráter de Heathcliff, falaremos um pouco de sua


chegada ao Morro, de como foi tratado e como isso acabou refletindo em sua
formação.

Heathcliff era um garoto pobre trazido pelo Sr. Earnshaw em uma de


suas viagens de negócios. Sua chegada ao Morro gerou os primeiros conflitos,
pois o pai trouxe um garoto sujo, ao invés dos presentes prometidos. Quando
chegou ao Morro foi mal recebido e sem ter feito qualquer coisa para merecer a
rejeição, foi tratado como um estranho. Nestes anos formativos, foi privado de
amor, sociedade e instrução. A personalidade que Heathcliff desenvolveu em
sua vida de adulto foi dada em forma de resposta à privação sofrida na
infância. Teve seu status reduzido, realizou trabalhos forçados e foi separado
de Catherine. Tudo isto gerou nele uma característica que predominou em seu
caráter, o orgulho, pois apesar de ter sido humilhado por aqueles que se
consideravam superiores, cumpria suas obrigações com determinação e não
se rebaixava quando confrontado.

Outro ponto a ser tratado em relação ao caráter de Heathcliff é a


rejeição. Ele foi rejeitado por três vezes: quando criança ele não tinha um
passado e nem mesmo um nome. Foi adotado pela família Earnshaw, e mais
uma vez sofreu a dor do desamor. Através desta mágoa, conheceu seu
verdadeiro amor, Catherine, e esta lhe causou a pior das rejeições, a que lhe
levou a destruição e fez com que o ódio o dominasse completamente, levando-
o a vingar-se de todos.

Uma característica marcante de Heathcliff é a sua sede de vingança,


que pode ser facilmente justificada pelos traumas sofridos na infância.
Heathcliff nunca se esqueceu dos sofrimentos que o infligiram durante a
infância e em seu retorno ao Morro, após uma ausência de três anos, o impulso
de vingança contra todos aqueles que o trataram injustamente vem a tona e a
29

paixão pela vingança o transforma e o domina. Arruína Hindley incentivando


sua tendência ao alcoolismo e deixando-o de lado.

Sua vingança é dirigida também para Edgar Linton, pois ele o via como
aquele que lhe roubou sua amada. Planejou uma forma de destruir Edgar e
para isso, casou-se com Isabella, sabendo que afetaria seu inimigo. Mais tarde
forçou a união entre seu filho Linton (conseqüência de sua relação com
Isabella) e Cathy para garantir a posse da Granja. Sua vingança contra Edgar
foi completa, fez com que ele perdesse sua irmã, sua filha, sua propriedade e a
companhia de Catherine (filha) no seu leito de morte. Sua atitude é destituída
de sentimento fraternal.

Em nenhum ponto do romance podemos duvidar da fidelidade eterna de


Heathcliff a Catherine. Seu amor sobrevive à rejeição e continua destemido.
Quando sabe da doença de Catherine, exclama:

“- Oh, Cathy! Oh, Minha vida! Como hei de suportar isto? – foi a primeira
frase que ele disse, sem cuidar em esconder o seu desespero.” (MVU p.141)
Esta fala mostra-nos a extensão da dedicação e lealdade de Heathcliff a
Catherine e o sentido de desolação que sua morte lhe traria.

O desastre resultante é a amplificação do mal em Heathcliff, pois


encarnou atributos negativos da natureza humana em toda a sua brutalidade,
crueldade, capacidade destruidora, e sua própria degeneração, que culminou
com sua morte precoce e febril.

Diante dos elementos analisados, pode-se concluir que a obra possuiu


tanto características românticas quanto da Era Vitoriana, portanto, o romance
passa a ser ainda mais rico à medida que esses aspectos vão sendo
reconhecidos e mesclados em toda a obra.
30

CONCLUSÃO

Ao analisarmos e pesquisarmos a obra de Emily Brontë, O Morro dos


Ventos Uivantes, constatamos que a autora mistura em suas personagens
traços da Escola Romântica e Realista.

A heroína traz em si uma mistura de ingenuidade e interesse. Catherine


amou intensamente Heathcliff, mas o trocou pela riqueza e status social,
mesmo sabendo o que isto traria para ambos - a infelicidade. Concluímos que
Catherine é uma personagem ambígua, pois apresenta-se como uma heroína
romântica quando morre por este amor, e como personagem realista quando
se decide casar com Edgar para não degradar-se socialmente. Emily nos
mostra que a vida de Catherine foi movida por interesse; e por isto mesmo, a
heroína é de certa maneira punida, pois não consegue aliar seu casamento por
conveniência e seu amor por Heathcliff, restando-lhe como saída, apenas a
morte.

Heathcliff, assim como Catherine, apresenta características das duas


escolas literárias. Percebemos em seu caráter um amor tão intenso, que nem a
morte conseguiu destruir, mostrando-nos assim, um típico herói romântico. Em
contra-partida, quando se vê impedido de concretizar este amor, seu coração
se enche de ódio e vingança. Para que sua vingança seja concluída, ele passa
por cima de tudo e todos, que impediram que este amor fosse concretizado.
Percebemos aqui, traços realistas, pois o romântico não armaria um plano de
vingança, baseado na racionalidade e no cálculo como fez Heathcillf.

Nossa análise concluiu que não se pode inserir esquematicamente esta


obra nem na escola romântica nem na escola realista, pois a mesma vai usar
elementos das duas escolas para tecer a sua trama, sendo impossível separá-
los sem que se perca muito de sua força vital. É justamente nesta justaposição
de contradições e diferenças que repousa a pluralidade e grandiosidade do
romance.
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APÊNDICE 1

RESUMO

O MORRO DOS VENTOS UIVANTES - EMILY BRONTË

O romance O MORRO DOS VENTOS UIVANTES, passa-se no campo


de uma pequena cidade chamada Gimmerton, entre dois espaços principais, o
morro e a granja; onde, nas noites frias de inverno, o vento uivava
desesperadamente. A família Earnshaw, morava em uma casa no alto do
morro, lá se deu o fato que mudaria para sempre toda a história dessa família,
que até então eram o Sr. e a Sra. Earnshaw e seus filhos Hindley e Catherine.

O Sr. Earnshaw faz uma viagem a Liverpool e dessa viagem traz o que
considera um presente, uma dádiva de Deus à família: um menino de cabelos
pretos, sujo e esfarrapado. Porém, sua esposa e filhos, não recebem bem
àquela criança que a partir daí passa a se chamar Heathcliff, nome do filho do
casal que morrera ainda criança.

O Sr. Earnshaw tem muito afeto pelo filho adotivo, o que causa ciúmes
em Hindley, enquanto Cathy vai se tornando amiga de Heathcliff.

A Sra. Earnshaw, morre dois anos depois, tornando amarga a vida do


Sr. Earnshaw, que a partir daí passa a se irritar facilmente. Em uma das brigas
de Hindley com Heathcliff, o Sr. Earnshaw decide mandar Hindley para o
colégio preparatório, o que aumenta no filho o ódio pelo irmão adotivo.

Anos depois, morre o Sr. Earnshaw. Hindley volta para casa, agora
casado, e assume o lugar do pai. Por ódio e vingança faz com que o irmão
adotivo passe à condição de empregado e tenta afastá-lo da irmã, pois percebe
que o sentimento entre os dois vai além do amor de irmãos.

Heathcliff e Catherine, passam a fugir de casa, a fim de brincarem e


conversarem longe dos olhares do irmão. Certo dia, em uma de suas
escapadas, atravessam as cercas e porteiras da fazenda, até chegarem à
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Granja, propriedade dos Lintons. Da janela podiam observar o interior da sala,


ficando encantados com a beleza da casa e impressionados com os modos de
brincar dos irmãos, Edgar e Isabella. Esse momento de descobertas durou
pouco tempo, pois os irmãos Lintons perceberam a presença de estranhos e
chamaram por seus pais, estes soltaram os cachorros, pensando estarem
sendo atacados por ladrões. Um dos cachorros ataca Catherine, que cai e é
defendida por Heathcliff. Os Lintons descobrem as duas crianças e tratam do
ferimento de Catherine, porém Heathcliff é mal tratado e mandado de volta
para casa. A partir daí se cria uma grande amizade entre as duas famílias,
Earnshaw e Linton. As crianças têm idades muito próximas e as visitas passam
a ser constantes. Apenas Heathcliff é prejudicado neste incidente, pois passa a
trabalhar como um escravo e perde a proteção de Catherine, que se afasta e
agora, só tem olhos para Edgar.

Neste mesmo período, Frances, esposa de Hindley, morre, dias depois


de dar a luz a seu filho Hareton. Com isso, o ambiente na Granja fica pior, as
brigas são constantes e Hindley não se conforma com a morte da mulher que
tanto amava. As pessoas se afastam e o único que ainda visita a família é
Edgar.

Certa noite, Catherine pede a empregada Nelly que a escute, pois tem
ela um segredo para lhe contar, que seria o pedido de casamento feito por
Edgar, e sua decisão de aceitar, já que não poderia deixar de se casar com
alguém de mesmo nível social, para se casar com Heathcliff e se degradar
socialmente, mesmo que assim, estivesse abrindo mão de seu único e
verdadeiro amor, aquele que considerava ser sua própria alma. Heathcliff, ao
ouvir o diálogo, vai embora da fazenda, retornando três anos depois, com um
“bela” situação financeira e o plano de vingança contra todos que lhe fizeram
mal.

Catherine, então, já está casada, mas não esconde sua felicidade com a
volta de Heathcliff. Edgar se sente incomodado com as visitas, porém aceita
para não desagradar a esposa. Isabella, irmã de Edgar, acaba se interessando
por Heathcliff, que se aproveita da situação, a fim de pôr em prática seu plano
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de vingança. Isabella decide fugir com Heathcliff, pois sabe que o irmão nunca
aceitaria essa união. Nos dois meses que se passaram, desde a fuga de
Isabella, Catherine fica muito doente, mas em dois meses, atravessa e vence a
pior crise, que foi chamada de febre cerebral. Edgar cuidou devotamente da
esposa.

Isabella se torna uma mulher infeliz, pois recebe maus tratos de seu
marido, que não faz nenhuma questão em demonstrar algum sentimento por
ela, pelo contrário, sempre deixa bem claro que sua união a ela não passou de
uma maneira de se vingar de Edgar.

Tempos depois, Heathcliff vai visitar Catherine, que ainda não se


recuperou totalmente, eles trocam juras de amor, que perpassam a morte e
vencem todas as diferenças que os separam em vida. Na mesma noite,
Catherine morre ao dar a luz a sua filha que recebe seu nome.

Isabella, descontente, consegue fugir para Londres, onde dá a luz ao


pequeno Linton.

Hindley, após seis meses do falecimento da irmã, morre, deixando seus


bens hipotecados para sustentar seus vícios em bebidas e jogos, ao maior
inimigo, Heathcliff, que se apossa inclusive de Hareton, a quem pretende
transformar à sua imagem e semelhança, fazendo com que passe por todas as
humilhações e sofrimentos que passou nas mãos de Hindley.

Após um período de doze anos, Isabella, ainda em Londres, fica doente


e recebe a visita do irmão. Catherine, agora com treze anos, sente curiosidade
em conhecer os arredores, já que nunca saiu de perto da Granja, e se
aproveita da ausência do pai para conhecer O Morro dos Ventos Uivantes. Lá
conhece Hareton, que no início é bem tratado por ela, mas ao descobrir que ele
é seu primo e um simples criado da fazenda, passa a desprezá-lo.

Dias depois, Isabella morre, e Edgar traz o pequeno Linton para viver
com eles. Porém, Heathcliff, força Edgar a lhe entregar o filho, não por amor à
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criança, mas por saber que através dele, fará com que todos os bens de Edgar
Linton, venham para suas mãos.

Após quatro anos, durante um passeio, Nelly e Cathy, acabam por se


aproximar do morro, onde encontram Heathcliff, este aproveita a oportunidade
para levar a menina até sua casa e apresentá-la ao filho, mesmo contra a
vontade de Nelly. Cathy e Linton se abraçam e a partir desse dia, começa a
crescer o sentimento que os uniria.

Edgar Linton, já doente, não aprovava suas visitas ao morro, pois temia
que Heathcliff pudesse fazer algum mal à sua filha. Seus pressentimentos
estavam certos, e numa das visitas de Cathy a Linton, que já haviam
completado a maioridade, Heathcliff, obriga-os a se casar, fazendo de Cathy
sua prisioneira. Edgar Linton morre em seguida.

Pouco tempo depois de se casar com Cathy, Linton também muito fraco
e doente, morre. Cathy está, agora, nas mãos de seu maior inimigo, Heathcliff.

Hareton, apesar de ter sido desprezado por Cathy, se vê apaixonado por


ela. Cathy decide ensiná-lo a ler, e a partir daí se apaixona por ele.

Heathcliff, após se vingar e causar sofrimentos em todos aqueles que


direta ou indiretamente, impediram a concretização de seu amor, desiste da
vida, deixando que a morte possa levá-lo aos braços de sua eterna amada.
Após sua morte, a paz volta a reinar. Hareton e Cathy se casam e passam a
ser donos da Granja e do Morro.
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APÊNDICE 2

Emily Brontë e O Morro dos Ventos Uivantes

Emily Brontë nasceu em Yorkshire, Inglaterra, em agosto de 1818. Seus


pais eram luteranos pobres, porém cultos. Emily tinha um irmão e quatro irmãs.
A mãe morreu precocemente de câncer e a tia Branwell passou a morar com
eles. A liberdade das crianças foi logo diminuída. Como não tinham liberdade
para brincar, distraiam-se inventando histórias, escrevendo as primeiras letras
com a tia ou escutando o pai comentar histórias de jornal ou ler a Bíblia.

Residentes em um distrito isolado, um recanto úmido (charneca),


chamado Haworth, onde a educação não tinha avançado, os Brontë não
mantinham relações sociais, e viviam uns para os outros. Estudavam e liam
muito. As crianças chegaram a criar o reino imaginário de Angria, enchendo
vários cadernos com a história de suas guerras, suas leis, seus reis e seus
feudos.

Quando completaram uma certa idade, o pai mandou os filhos para um


internato em Cawan Bridge. Maria e Elizabeth, não resistiram às condições do
internato e acabaram morrendo. O pai, então, decidiu levar as outras filhas e o
filho de volta para casa.

O pai, em uma de suas viagens, trouxe de presente para os filhos, os


doze soldadinhos de chumbo, o que serviu de inspiração para que criassem
histórias sobre as batalhas de guerra da Inglaterra na África e, mais tarde, as
registrassem em forma de jornal, o que serviu de ponto de partida para três
carreira literárias.

O único irmão das Brontë, Branwell, tornou-se alcoólatra e abandonou


os estudos. Certa noite, estando Branwell embriagado, incendiou sua própria
cama, e foi Emily, revelando sua natureza enérgica e de decisão que se pôs a
apagar o fogo e a arrastar Branwell para o outro quarto, enquanto seu pai, o
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Pastor Patrick, que tinha pânico de incêndio, ficou imóvel. Essa sua força
oculta e rapidez no agir, tinha muito daquela paisagem agreste em que vivia.

A vida da família estava ficando cada vez mais difícil. Assim, Emily e
Charlotte, resolveram viajar para a Bélgica, a fim de se aperfeiçoarem em uma
segunda língua e se tornarem professoras. Porém, Emily, sempre que se
afastou de casa, se ressentiu dessa ausência. Adoecia, definhava. Seu apego
à charneca, seu amor àquela terra ríspida e desgraciosa, iria mais tarde se
traduzir em sua personagem Cathy, em O MORRO DOS VENTOS UIVANTES,
que como Emily, vivia às soltas nos morros e matagais da charneca. Assim,
Charlotte, descreveu o sentimento da irmã:

“A liberdade lhe era tão necessária quanto o ar. Sem liberdade definhava. Trocar sua casa por
uma escola, sua vida silenciosa, retirada, mas independente por uma existência disciplinada,
regulada de acordo com um programa, eis o que não podia suportar”.
Meses depois, o pai chamou as duas filhas, Emily e Charlotte de volta à
casa, pois a tia havia morrido. Os irmãos, então, resolveram abrir uma escola,
mas devido à reputação de Branwell, não obtiveram sucesso.

Emily escrevia poemas às escondidas onde recordava os mortos


queridos e o seu desejo de juntar-se a eles, dando assim um tom sombrio em
seus versos e tendo a morte como seu tema principal. Charlotte encontrou
seus poemas e a convenceu de publicá-los, usando o pseudônimo de Ellis Bell.
Em janeiro de 1846 publicou o livro com seus poemas e os das duas irmãs e
venderam somente dois exemplares. O fracasso, porém, não as abateu e
decidiram compor, cada uma, uma narrativa. É aí, que Emily narra, em cores
sombrias, a atmosfera de Haworth, em sua obra publicada em 1847.

O livro O MORRO DOS VENTOS UIVANTES, causa um impacto na


sociedade da época que não conseguia compreender tanta violência ali
estampada.

É uma história de vingança cruel. Mas é também e principalmente uma


história de amor, de um amor todo feito de desesperos, de separações, de
ódios, de maldições, um amor tempestuoso e revolto, como a própria natureza
onde viviam os amantes. Cathy e Heathcliff, as duas personagens principais do
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livro, são duas forças soltas da natureza. É uma história de paixão amorosa
invencível, destruidora.

Numa época toda impregnada de certos convencionalismos e


preconceitos, um livro diferente, chocante, como era O MORRO DOS VENTOS
UIVANTES, não podia agradar. A crítica da época, refletindo o modo de sentir
geral, condenou o livro. Falou-se até em imoralidade.

Emily Brontë, teve em vida a oportunidade de ver como a crítica recebia


seu livro, no qual havia deixado tanto de sua alma, de seus sofrimentos mais
íntimos, de suas intuições mais geniais. E ouviu uma dessas críticas que dizia:

“...um homem de talento excepcional, mas insistente, brutal, fúnebre”.

E sorriu, de leve, compadecida talvez de tanta incompreensão.

Seus últimos anos de vida foram sempre cheios de decepções e


tristezas, e com a morte do irmão, ficou ainda mais fraca e doente. Nas longas
noites de dezembro, quando se ouvia lá fora a ventania ruivante, também podia
se ouvir do quarto, a tosse dolorosa de Emily. Porém, ela se recusava a
chamar um médico ou a tomar remédios.

Mesmo doente, não deixava de cumprir suas tarefas domésticas. Assim,


Charlotte, descreveu os últimos dias de Emily:

“Definhava rapidamente. Apressava-se em deixar-nos. Contudo, enquanto perecia fisicamente,


mentalmente se tornava mais forte do que jamais a tínhamos visto. Dia a dia, quando eu via
com que rosto encarava o sofrimento, contemplava-a com uma angústia, misto de maravilha e
de amor. Jamais vira coisa igual. Mas, na verdade, nunca vira nada em que pudesse ela ser
igualada. Mais forte do que um homem, mais simples do que uma criança, sua natureza
mantinha-se por si só. O terrível era que, conquanto cheia de compaixão para com os outros,
para si própria era sem piedade; o espírito era inexorável para com a carne. Executava de
mãos trêmulas, de pernas enfraquecidas, de olhos apagados, as mesmas tarefas, com a
exatidão com que as fazia quando com saúde”.
Em 19 de dezembro de 1848, com apenas 30 anos de idade, Emily vem a
falecer, deixando O MORRO DOS VENTOS UIVANTES, obra que, mais tarde,
a tornaria uma das maiores romancistas da literatura universal.
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BIBLIOGRAFIA

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo.


Cortez Editora, 1986.

BRONTË, Emily. O Morro dos Ventos Uivantes. Trad. Raquel de Queiroz. São
Paulo. Editora Nova Cultural, 1995.

BRONTË, Emily. O Morro dos Ventos Uivantes. Trad. Silvana Laplace. São
Paulo. Editora Nova Cultural, 2002.

MENDES, Oscar. Estética Literária Inglesa – São Paulo: Ed. Itatiaia, Brasília:
INL; Fundação Nacional Pró-Memória, 1983.

BURGESS, Anthony. A Literatura Inglesa – Tradução Duda Machado – São


Paulo Ed. Ática –, 2002.

OLIVEIRA, Clenir Bellezi de. Arte Literária - Ed. Moderna – São Paulo, 1999.

LEY, Charles David. A Vida Trágica das Irmãs Brontë – Portugal, 1943.

EVANS, Ifor. História da Literatura Inglesa - Lisboa :Edições Setenta, 1980.

BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 3. ed. 18. Tiragem. São
Paulo: Cultrix, 1995.

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