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(TCC)
ROMÂNTICO OU VITORIANO?
Karla M. de CARVALHO
OBJETIVO
MÉTODO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
São Paulo
2004
VII
Romântico ou Vitoriano?
São Paulo
2004
VIII
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
SUMÁRIO
p.
1 RESUMO 01
2 ABSTRACT 02
3 INTRODUÇÃO 03
4 O ROMANTISMO 05
5 O REALISMO 08
7 CONCLUSÃO 28
8 APÊNDICES 29
9 BIBLIOGRAFIAS CONSULTADAS 36
1
RESUMO
ABSTRACT
This paper aims to look for a possible answer to the polemic discussion
about the romantic and realistic caracteristics of the novel Wuthering Heigths,
by Emily Brontë.
In order to do so, we described the social context in which the novel was
written as well as the main caracteristics of romantism and realism. By
analysing the psycological aspect of the main caracters, the setting, and the
concept of love and death conveyed by the novel we concluded that it’s
impossible to classify it as romantic or realist, since its plot was contructed with
elements of the two literary schools intrinsically linked. And the greatness of the
novel relies exctally on the juxtaposition of differences and contradictions.
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INTRODUÇÃO
de escolaridade não muito elevado, que não tinha muita experiência na vida,
conseguiu produzir uma obra tão bem elaborada como O Morro dos Ventos
Uivantes. Preocupando-se mais com a fantasia e em retratar a manifestação de
sentimentos que vieram da sua própria experiência de vida, a autora consegue,
por um lado, refletir o seu tempo, por exemplo, quando se utiliza das leis que
regiam a transmissão da herança na época Vitoriana para dar verossimilhança
ao enredo, e coloca como conflito central do romance uma questão de classe –
Catherine casa-se com Linton para não se rebaixar socialmente, apesar de seu
amor por Heathcliff; e por outro transcende-lo, ao trazer para a literatura a
representação da fala oral – o dialeto regional de Joseph, 1 característica típica
de obras modernistas.
1
Nenhuma tradução brasileira respeitou o original no que concerne a esta questão, sendo as falas da
personagem Joseph traduzidas no mesmo registro das falas das demais personagens.
5
Não se pode esperar que este trabalho esgote todo o assunto sobre a
produção de Emily Brontë, coisa que seria impossível, pois o que está em
análise são as características do Romantismo e Realismo e,
conseqüentemente, as possibilidades de interpretações múltiplas e dinâmicas.
Este trabalho almeja ser apenas um ponto de partida para uma aventura
literária no mundo da leitura, isto é, pretende despertar a curiosidade para que
mais pessoas leiam a obra da autora e conheçam de perto o fascínio que seus
textos são capazes de suscitar em cada um de seus leitores.
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ROMANTISMO
REALISMO
“ –[...] Não posso me exprimir direito; mas você, como todo mundo, deve ter
a crença de que existe, ou deve existir outra vida, à nossa frente. Para que
serviria eu ter existido, se ficasse inteiramente restrita a aqui? Meus maiores
sofrimentos neste mundo têm sido os sentimentos de Heathcliff; fui
testemunha deles e senti-os, todos, desde o começo. Meu maior cuidado na
vida é ele. Se tudo desaparecesse e ele ficasse, eu continuaria a existir. E se
tudo o mais ficasse, e ele fosse aniquilado, eu ficaria só num mundo
estranho, incapaz de ter parte dele.[...] Nelly, eu sou Heathcliff. Sempre,
sempre o tenho no meu pensamento. Não é como um prazer, porque eu
também não sou um prazer para mim própria, mas como o meu próprio ser...
“(MVU, p. 77)
Ainda no mesmo diálogo com Nelly, Catherine faz uma analogia entre o
amor que sentia por Heathcliff e o que sentia por Edgar Linton.
O amor entre Heathcliff e Catherine foi tão intenso que nem mesmo a
morte conseguiu destruí-lo:
“Fica comigo para sempre... Não posso viver sem minha vida! Não posso
viver sem a minha alma!” (p. 149)2
2
(BRONTË, Emily. O Morro dos Ventos Uivantes. São Paulo, ed. Nova Cultural, 1995, p.149) Doravante
referido como MVU, seguido do número de página.
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sua amada, pois Catherine não apenas faz parte de sua vida: ela é a sua vida,
em outras palavras, é o que faz com que ele continue a viver e dá sentido à
sua existência.
“Não vou tirar vingança de você – replicou Heathcliff com menos veemência.
– Não é esse o meu intento. O tirano tortura os escravos, mas os escravos
nunca se voltam contra ele.” (MVU, p. 102)
- Ele não conhece nem as letras do ABC – falou para a prima – Já viu sujeito
mais ignorante?” (MVU, p. 190)
“ Que vida será a minha quando você... Oh, Deus do céu! Quereria você
viver com a sua alma enterrada num túmulo?” (MVU, p. 143).
Percebemos neste trecho o desespero de uma pessoa completamente
apaixonada, que vê seu amor definhar de maneira rápida sem que ele pudesse
fazer nada.
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Heathcliff queria tanto que a morte chegasse, que quando morre seu rosto
tem um semblante de felicidade intensa:
A morte permeia toda a obra, sendo um fato que muda a vida de todas as
personagens e não só a união de Heathcliff e Catherine. Heathcliff chega no
Morro dos Ventos Uivantes sendo trazido pelo Sr. Earnshaw e recebe a
atenção e carinho do mesmo, gerando assim, o ódio em Hindley, seu irmão
adotivo. Quando o Sr. Earnshaw morre, a situação se modifica, pois Hindley se
torna o herdeiro do Morro dos Ventos Uivantes e o ódio profundo que ele nutre
por Heathcliff vem à tona e este o humilha e o maltrata. A vida de Heathcliff
muda completamente. De “filho preferido”, passa a ser um empregado.
despertaram nele todo seu velho ódio pelo rapaz. Expulsou-o de sua
companhia, mandando-o para junto dos criados, privou-o das aulas do
coadjutor e determinou que, em vez de estudar, o rapaz trabalhasse no
campo. Obrigava-o mesmo a labutar tão de rijo quanto qualquer outro
trabalhador da Granja.” (MVU. p. 50)
Hindley, por sua vez, também se destruiu após a morte de sua esposa,
que morreu ao dar a luz a Hareton. Após sua morte, ele começou a beber e a
jogar, esquecendo-se do filho, perdendo seus bens para seu maior inimigo:
Heathcliff.
Ele, que até então se mostrara um homem forte e arrogante, que dava
valor ao poder e posição social, passou a ser humilhado e dependente de
Heathcliff, esperando que a morte o unisse ao seu único e verdadeiro amor.
“... A igreja cinzenta parecia mais cinzenta ainda e mais solitário o solitário
cemitério. Vi um rebanho de carneiros da charneca pastando na relva curta,
entre os túmulos. O tempo estava macio, tépido; quente demais para viajar;
contudo, o calor não me impedia de gozar a paisagem que ficava acima e
abaixo de mim.[...] No inverno, nada é mais triste, porém no verão nada é
mais divino que aqueles vales escondidos entre morros e aqueles cabeços
íngremes, recobertos de urzes.” (MVU p.261)
O Morro dos Ventos Uivantes tem relação com Heathcliff, enquanto que
a Granja dos Tordos refere-se a Edgar. Catherine escolheu se casar com
Edgar, portanto, saiu da casa para morar na Granja dos Tordos. No entanto,
não estava convicta de sua opção, pois queria ficar com os dois, por isso, seu
corpo está em um lugar, mas sua mente em outro, assim, está fisicamente com
seu marido e mentalmente com Heathcliff.
“(...) E se o maldito homem que mora nesta casa não houvesse rebaixado
tanto Heathcliff, eu nem pensaria em me casar com Edgar. Se eu agora me
casasse com Heathcliff, seria uma degradação; e, por isso, nunca há de ele
saber do amor que eu lhe tenho[...].” (MVU, p. 76)
Em outra passagem do livro, Catherine deixa claro que a ascensão
social era mais importante do que seu sentimento por Heathcliff. Percebemos
isso no diálogo entre Catherine e Nelly:
“E porque ele há de ser rico, e eu vou ser a senhora mais importante destas
redondezas, me sentirei orgulhosa do meu marido.” (MVU, p. 74)
Como o status social foi predominante na escolha de Catherine por
Edgar, Heathcliff arma um plano de vingança, e por meios não esclarecidos na
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obra, enriquece, para mais tarde colocar em prática o seu plano, usando dos
mesmos artifícios que usaram contra ele: o dinheiro.
Heathcliff busca tirar de suas vítimas o que para elas era mais
importante, ou seja, seus bens materiais, porém, faz isso de maneira sórdida.
Primeiro, casa-se com Isabella, irmã de Edgar, por interesse nos seus bens.
Em um diálogo com Catherine, ele pergunta:
De uma forma sutil, ela faz uma crítica à Igreja, abordando a hipocrisia
de uma religião, vista como empecilho, colocada como uma forma de castigo
nas palavras da personagem Joseph, um homem bruto, que leva a palavra de
Deus de forma obscura não só no plano do conteúdo, mas também no plano da
forma, pois como já foi mencionado é o único que fala um dialeto estranho ao
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“... Mas você não serve mesmo para nada e não adianta estar falando... não
tem conserto... há de ir para o inferno como sua mãe já foi! (MVU, p.25)
[...]
- Oh! Demônio! – arquejou o velho. – Livre-nos Deus de todo o mal!” (MVU,
p. 26)
Ele usa a bíblia, que é considerada como a palavra de Deus que traz
refúgio e paz para os religiosos, como uma forma de punição, como poderemos
perceber no texto citado abaixo:
Catherine tem seu caráter dominado pelo amor que nutre por Heathcliff,
que é sua maior obsessão. É este que dá o alimento a sua alma, que controla
sua vida e dá um significado a sua existência. O amor que professa por
Heathcliff parece ir além em intensidade ao próprio amor romântico; é uma
identificação, uma união das almas. Catherine e Heathcliff se complementam.
Ambos compartilham uma rebeldia durante toda a obra, como se este
envolvimento passional os impedisse de um amadurecimento maior.
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“-Sei que você não gosta dele... Mas, por amor a mim, devem agora ser
amigos.” (MVU p.88)
Percebemos pelas atitudes de Catherine uma dupla personalidade. Sua
passagem de cinco semanas na Granja despertou nela uma apreciação pelo
mundo civilizado, que até então, ela não conhecia. Quando retornou ao Morro
suas maneiras estavam mudadas. Ela observou e condenou a aparência de
Heathcliff. Desde então, a moça adotou duas personalidades, quando estava
se divertindo na companhia dos Lintons, comportou-se como uma moça da
sociedade e quando retornou à fazenda e para a companhia de Heathcliff,
adotou a mesma postura selvagem existente em seu interior.
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Sua vingança é dirigida também para Edgar Linton, pois ele o via como
aquele que lhe roubou sua amada. Planejou uma forma de destruir Edgar e
para isso, casou-se com Isabella, sabendo que afetaria seu inimigo. Mais tarde
forçou a união entre seu filho Linton (conseqüência de sua relação com
Isabella) e Cathy para garantir a posse da Granja. Sua vingança contra Edgar
foi completa, fez com que ele perdesse sua irmã, sua filha, sua propriedade e a
companhia de Catherine (filha) no seu leito de morte. Sua atitude é destituída
de sentimento fraternal.
“- Oh, Cathy! Oh, Minha vida! Como hei de suportar isto? – foi a primeira
frase que ele disse, sem cuidar em esconder o seu desespero.” (MVU p.141)
Esta fala mostra-nos a extensão da dedicação e lealdade de Heathcliff a
Catherine e o sentido de desolação que sua morte lhe traria.
CONCLUSÃO
APÊNDICE 1
RESUMO
O Sr. Earnshaw faz uma viagem a Liverpool e dessa viagem traz o que
considera um presente, uma dádiva de Deus à família: um menino de cabelos
pretos, sujo e esfarrapado. Porém, sua esposa e filhos, não recebem bem
àquela criança que a partir daí passa a se chamar Heathcliff, nome do filho do
casal que morrera ainda criança.
O Sr. Earnshaw tem muito afeto pelo filho adotivo, o que causa ciúmes
em Hindley, enquanto Cathy vai se tornando amiga de Heathcliff.
Anos depois, morre o Sr. Earnshaw. Hindley volta para casa, agora
casado, e assume o lugar do pai. Por ódio e vingança faz com que o irmão
adotivo passe à condição de empregado e tenta afastá-lo da irmã, pois percebe
que o sentimento entre os dois vai além do amor de irmãos.
Certa noite, Catherine pede a empregada Nelly que a escute, pois tem
ela um segredo para lhe contar, que seria o pedido de casamento feito por
Edgar, e sua decisão de aceitar, já que não poderia deixar de se casar com
alguém de mesmo nível social, para se casar com Heathcliff e se degradar
socialmente, mesmo que assim, estivesse abrindo mão de seu único e
verdadeiro amor, aquele que considerava ser sua própria alma. Heathcliff, ao
ouvir o diálogo, vai embora da fazenda, retornando três anos depois, com um
“bela” situação financeira e o plano de vingança contra todos que lhe fizeram
mal.
Catherine, então, já está casada, mas não esconde sua felicidade com a
volta de Heathcliff. Edgar se sente incomodado com as visitas, porém aceita
para não desagradar a esposa. Isabella, irmã de Edgar, acaba se interessando
por Heathcliff, que se aproveita da situação, a fim de pôr em prática seu plano
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de vingança. Isabella decide fugir com Heathcliff, pois sabe que o irmão nunca
aceitaria essa união. Nos dois meses que se passaram, desde a fuga de
Isabella, Catherine fica muito doente, mas em dois meses, atravessa e vence a
pior crise, que foi chamada de febre cerebral. Edgar cuidou devotamente da
esposa.
Isabella se torna uma mulher infeliz, pois recebe maus tratos de seu
marido, que não faz nenhuma questão em demonstrar algum sentimento por
ela, pelo contrário, sempre deixa bem claro que sua união a ela não passou de
uma maneira de se vingar de Edgar.
Dias depois, Isabella morre, e Edgar traz o pequeno Linton para viver
com eles. Porém, Heathcliff, força Edgar a lhe entregar o filho, não por amor à
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criança, mas por saber que através dele, fará com que todos os bens de Edgar
Linton, venham para suas mãos.
Edgar Linton, já doente, não aprovava suas visitas ao morro, pois temia
que Heathcliff pudesse fazer algum mal à sua filha. Seus pressentimentos
estavam certos, e numa das visitas de Cathy a Linton, que já haviam
completado a maioridade, Heathcliff, obriga-os a se casar, fazendo de Cathy
sua prisioneira. Edgar Linton morre em seguida.
Pouco tempo depois de se casar com Cathy, Linton também muito fraco
e doente, morre. Cathy está, agora, nas mãos de seu maior inimigo, Heathcliff.
APÊNDICE 2
Pastor Patrick, que tinha pânico de incêndio, ficou imóvel. Essa sua força
oculta e rapidez no agir, tinha muito daquela paisagem agreste em que vivia.
A vida da família estava ficando cada vez mais difícil. Assim, Emily e
Charlotte, resolveram viajar para a Bélgica, a fim de se aperfeiçoarem em uma
segunda língua e se tornarem professoras. Porém, Emily, sempre que se
afastou de casa, se ressentiu dessa ausência. Adoecia, definhava. Seu apego
à charneca, seu amor àquela terra ríspida e desgraciosa, iria mais tarde se
traduzir em sua personagem Cathy, em O MORRO DOS VENTOS UIVANTES,
que como Emily, vivia às soltas nos morros e matagais da charneca. Assim,
Charlotte, descreveu o sentimento da irmã:
“A liberdade lhe era tão necessária quanto o ar. Sem liberdade definhava. Trocar sua casa por
uma escola, sua vida silenciosa, retirada, mas independente por uma existência disciplinada,
regulada de acordo com um programa, eis o que não podia suportar”.
Meses depois, o pai chamou as duas filhas, Emily e Charlotte de volta à
casa, pois a tia havia morrido. Os irmãos, então, resolveram abrir uma escola,
mas devido à reputação de Branwell, não obtiveram sucesso.
livro, são duas forças soltas da natureza. É uma história de paixão amorosa
invencível, destruidora.
BIBLIOGRAFIA
BRONTË, Emily. O Morro dos Ventos Uivantes. Trad. Raquel de Queiroz. São
Paulo. Editora Nova Cultural, 1995.
BRONTË, Emily. O Morro dos Ventos Uivantes. Trad. Silvana Laplace. São
Paulo. Editora Nova Cultural, 2002.
MENDES, Oscar. Estética Literária Inglesa – São Paulo: Ed. Itatiaia, Brasília:
INL; Fundação Nacional Pró-Memória, 1983.
OLIVEIRA, Clenir Bellezi de. Arte Literária - Ed. Moderna – São Paulo, 1999.
LEY, Charles David. A Vida Trágica das Irmãs Brontë – Portugal, 1943.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 3. ed. 18. Tiragem. São
Paulo: Cultrix, 1995.