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Herbert Emanuel
Nesta busca por significar o real, está – aí a verdadeira busca – a palavra, que, na ânsia de
exprimir e na falta de signos que bem expressem o que para o poeta é a um só tempo indizível
e impulso do seu fazer poético cotidiano, pede morada no neologismo roseano: o real-palavra
é “Nonada”; toma de empréstimo o peso-leveza do signo pedra, o real-signo é ônix.
O que é o real além de uma miragem, diante da impossibilidade – de que fala Kant – de se
alcançar a coisa-em-si? Essa impossibilidade, porém, não impede o poeta de explorar o real a
partir de todos os seus vislumbres, desde o acaso, por ser este real “Taça do inesperado”, até
sua face “seca e dura”, concreta, proporcionando metáforas raras para que se possa visualizá-
lo “com seus dois mil círculos concêntricos / suas formas de água”. Um real que ora se abre
“em pedra”, ora humaniza-se, mostrando-se “cauteloso, excessivo, confortável”, “com seu ar
espesso”, evocando as palavras de João Cabral de Melo Neto: “Como todo real / é espesso, /
Aquele rio / é espesso e real.”
Tânia Ataíde
Professora de Literatura
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Epígrafes
(Fernando Pessoa)
(Clément Rosset)
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Este real com suas ranhuras (this real with its grooves)
de sonho e vidro (of dream and glass)
sem sombras ou senhas de acesso (with no shadows or passwords)
duro, seco, abstrato (hard, dry, abstract)
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o real (the real)
com sua alegria (with its joy)
sua beleza (its beauty)
e seu áspero desespero (and its harsh despair)
a cada passo, a Taça do Inesperado (with every step, the Cup of Unexpected)
a fúria da vida te lambendo (the rage of life licking)
os pés (your feet)
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o real (the real)
com sua fome de fezes (with its hunger for feces)
sua sede de ônix (its thirst for onix)
seu deus desdentado (its toothless god)
e sem palavra (and speechless)
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o real (the real)
cauteloso, excessivo (cautious, excessive)
confortável, em viagem (comfortable, in transit)
rito de passagem (rite of passage)
ou imagem desolada (or desolate image)
do mito (of myth)
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o real (the real)
sem pedras no caminho (with no boulders in the way)
sem retinas (with no tired)
fatigadas (retinas)
esquecido completamente (utterly ignored)
Nonada (Nonada)
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o real (the real)
com suas partículas de afeto (with its particles of affect)
múltiplas capturas (multiple capture)
incêndios de silêncio, de verdade (fires of silence, of truth,)
e de loucura (and of madness)
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este real (this real)
oculto em águas densas (hidden in dense waters)
o silêncio o atravessa (silence runs through it)
rende-se (it yields)
acrônico (acronic)
a esta escrita (to this secret)
secreta: (script:)
o poema devorando o leitor (the poem devouring the reader)
esquece o poeta (forgets the poet)
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este real (this real)
desde o início (from the outset)
seu furor de asas (its winged fury)
sem metal (with no metal)
este sabor das coisas (this flavour of things)
na casa (at home)
a cor (the colour)
o silêncio da luz (the silence of light)
que se expressa (that expresses itself)
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este real (this real)
deserdado de toda palavra (devoid of every word)
com seu olho gordo (with its evil eye)
seu assombro de pérola (its pearly wonder)
coisa em si (thing in itself)
- promessa de gozo? (promise of joy?)
sempre adiada (always delayed)
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o real (the real)
entre teus dedos (through your fingers)
ofertado (offered)
fincou (staked)
de azul (in blue)
este osso (this bone)
teu almoço (its bountiful)
farto (dish)
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o real (the real)
com seus dois mil círculos (with its two thousand concentric)
concêntricos (circles)
suas formas de água (its forms of water)
sua gula de caos (its lust for chaos)
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o real (the real)
com seu ar espesso (with its thick air)
suas sobras (dobras) do corpo (its scraps [folds] from the body)
o incesto (incest)
o enxerto (graft)
com tiros à queima-roupa ([with] point-blank shots)
este real te provoca (this real provokes you)
ferve teus nervos (boils your nerves)
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res (res)
ist (ist)
e (s)
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post scriptum / res...ainda
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Herbert Emanuel nasceu na cidade de Macapá, no Estado do Amapá, extremo norte do Brasil,
no dia 20 de fevereiro de 1963. Publicou seu primeiro livro em 1997, intitulado “Nada ou quase
uma arte”, com apresentação do poeta Carlos Nejar. Em 1998, com o artista plástico e mímico
Jiddu Saldanha, editou “Postais Poéticos”, e, em 2005, com o mesmo artista, lançou o livro de
haikais “Do crepúsculo ao outro dia”, com apresentação dos poetas Cristiane Grando e Carlos
Nejar. Alguns poemas seus estão incluídos na Antologia Poética Poesia do Gran-Pará, com
seleção e notas de Olga Savary. Em 2008, a convite da Editora Cortez, em parceria com Adriana
Abreu, escreveu livro “Macapá – a capital do meio do mundo”. Herbert é integrante do
Tatamirô Grupo de Poesia e do Pium Filmes – Movimento do Cinema Possível em Macapá.
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