Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
07022022 209
Abstract The scope of this article is to analyze Resumo O objetivo deste artigo é analisar a as-
the association between teachers’ self-rated health sociação entre a autoavaliação de saúde dos pro-
and the conditions in which they work in Basic fessores e as condições que eles encontram para
Education schools in Brazil. It involved a cross- trabalhar nas escolas da Educação Básica no
sectional study, carried out between 2015 and Brasil. Estudo transversal, realizado entre 2015
2016, representative of Basic Education teachers e 2016, representativo dos professores da Educa-
in the country, the outcome variable of which ção Básica do País, cuja variável desfecho foi a
was self-rated health (SRH). The explanatory autoavaliação de saúde (AAS). As variáveis ex-
variables were the work-related characteristics. plicativas foram as características relacionadas
To assess the factors associated with SRH, the ao trabalho. Para avaliar os fatores associados à
Proportional Odds Logistic Regression Model AAS foi utilizado o Modelo de Regressão Logística
was used. The prevalence of poor SRH was 27%. de Chances Proporcionais. A prevalência de AAS
The probability of poor SRH was significantly ruim foi de 27%. A probabilidade de pior AAS foi
higher for the group that reported episodes of significativamente maior para o grupo que in-
verbal violence (OR=1.26; 95%CI 1.09-1.44), formou episódios de violência verbal (OR=1,26;
work pressure (OR=1.18; 95%CI 1, 04-1.33), and IC95% 1,09-1,44), pressão laboral (OR=1,18;
a commute to school of more than 50 minutes IC95% 1,04-1,33), e deslocamento para escola
(OR=1.19; 95%CI 1.03-1.38). The probability of superior a 50 minutos (OR=1,19; IC95% 1,03-
1
Departamento de
Enfermagem Aplicada, poor SRH was significantly better for those who 1,38). A probabilidade de pior AAS foi signifi-
Escola de Enfermagem, reported having enough time to complete their cativamente menor para aqueles que relataram
Universidade Federal de tasks (OR=0.77; 95%CI 0.64-0.92), social su- dispor de tempo suficiente para cumprir suas ta-
Minas Gerais (UFMG).
R. Alfredo Balena 190, pport (OR=0.79; 95%CI 0.69-0.89) and satisfac- refas (OR=0,77; IC95% 0,64-0,92), apoio social
sala 510, Bairro Santa tion with their workload (OR=0.79; 95%CI 0.69- (OR=0,79; IC95% 0,69-0,89) e satisfação com o
Efigênia. 30150-331 Belo 0.91). Actions on the school environment and próprio trabalho (OR=0,79; IC95% 0,69-0,91).
Horizonte MG Brasil.
evelinmorais@yahoo.com organization and improvements in the transport Ações sobre o ambiente e a organização escolar
2
Escola de Enfermagem, of teachers to work are desirable. e melhorias no transporte dos professores para o
UFMG. Belo Horizonte Key words School Teachers, Occupational ex- trabalho são desejáveis.
MG Brasil.
3
Departamento de Medicina posure, Diagnostic self-evaluation, Occupational Palavras-chave Professores Escolares, Exposição
Preventiva e Social, Health, Primary and Secondary Education ocupacional, Autoavaliação diagnóstica, Saúde
Faculdade de Medicina, do Trabalhador, Ensino Fundamental e Médio
UFMG. Belo Horizonte MG
Brasil.
210
Morais EAH et al.
Características do Trabalho
Carga atual de trabalho
Condições Psicossociais no
Características de Características Tempo de Serviço,
trabalho
Saúde individuais e carga horário semanal,
Tempo para tarefas, apoio
Absteísmo por motivo exerce outra atividade
sociodemográficas social, satisfação com o
remunerada, trabalha em
Autoavaliação de doença, doença Cor de pele, estado trabalho, pressão laboral
mais de uma escola
de Saúde ocupacional, licença conjugal, remuneração,
Condições do Ambiente de Trabalho e Contexto
médica, perda de sono, filhos, tabagismo, Escolar
uso de medicamento prática de atividade Ruído, indisciplina dos alunos, violência física
ansiolítico ou física no lazer, sexo, e verbal, tempo de deslocamento, dependência
antidepressivo idade, escolaridade, administrativa da escola, número de alunos por
regiões, área censitária professor
Figura 1. Modelo conceitual de entrada hierarquizada dos fatores e condições associados à autoavaliação de saúde dos professores
da educação básica brasileira.
Fonte: Autoras, com base no referencial teórico Meireles et al.23, Karasek15, Alcantara et al.24, 2021.
de saúde, doença ocupacional, licença médica, alunos por professor (até 30/mais de 30)18; tempo
perda de sono por preocupações e uso de me- de deslocamento casa/trabalho (mensurada em
dicamento ansiolítico e/ou antidepressivo (para minutos).
todas, as opções de resposta foram categorizadas
em sim/não). Análises estatísticas
As variáveis explicativas de interesse princi-
pal foram as “Características do Trabalho”, que Para análise dos dados foi utilizado o progra-
compõem o primeiro bloco, mais distal, subdivi- ma estatístico Stata Statistical Software: Release
dido em três grupos: “Carga Atual de Trabalho”, 16 (STATA), versão 12.0. Inicialmente foi reali-
“Condições Psicossociais do Trabalho” e “Condi- zada a análise descritiva de todas as variáveis es-
ções do Ambiente de Trabalho e Contexto Esco- tudadas, considerando as ponderações impostas
lar”24,25,27. pelo delineamento amostral complexo (comando
“Carga Atual de Trabalho” englobou quatro svy). Para avaliar os fatores e condições asso-
variáveis: tempo de serviço; carga horária sema- ciados à AAS, considerando a natureza ordinal
nal, ambas questões quantitativas mensuradas em da variável desfecho, foi utilizado o Modelo de
anos e horas respectivamente; exercício de outra Chances Proporcionais tanto uni quanto mul-
atividade remunerada (sim/não) e multiemprego tivariado, que fornece uma única estimativa de
(trabalha em mais de uma escola) (sim/não). Odds Ratio (OR) para todas as categorias compa-
“Condições Psicossociais do Trabalho” agru- radas, segundo o pressuposto de chances propor-
pam tempo para cumprir as tarefas (sim/não); cionais27. Para testar se esta suposição é válida, ou
apoio social (sim/não); satisfação com o trabalho seja, se há homogeneidade da razão de chances,
(sim/não); e pressão laboral (sim/não). Quanto à foi aplicado em todas as variáveis explicativas o
última diz respeito à pressão sofrida para compa- teste de regressão paralela, ou teste de linhas pa-
recer ao trabalho quando enfermo. Apoio social ralelas (teste escore), no qual a hipótese nula é de
integra esse grupo, se referindo a uma dimensão que as razões de chances são homogêneas.
do instrumento JSS, cujos itens avaliados investi- O modelo de chances proporcionais compara
gam se há um ambiente calmo e agradável no tra- a probabilidade de uma resposta igual ou menor
balho, bom relacionamento, apoio, compressão e a uma determinada categoria, com probabilidade
afeição entre pares20. de uma resposta maior que esta categoria. Neste
No bloco “Condições do Ambiente de Traba- caso, o modelo realiza duas comparações: pri-
lho e Contexto Escolar” foram incluídas as vari- meiro compara a probabilidade de uma categoria
áveis: ruído intenso (sim/não); indisciplina dos menor que 2 (AAS ruim) com a probabilidade
alunos (sim/não); violência física (sim/não); vio- de uma categoria maior ou igual a 2 (AAS muito
lência verbal (sim/não); dependência adminis- boa e AAS boa). Em seguida compara a probabi-
trativa da escola (pública/privada)18; número de lidade de uma categoria menor ou igual a 2 (AAS
213
ciam outra atividade remunerada, informaram AAS ruim também foi maior entre aqueles que
não possuir tempo suficiente para cumprir suas afirmaram trabalhar sob pressão, estavam ex-
tarefas, não contavam com apoio social, estavam postos a ruído intenso, vivenciaram indisciplina,
insatisfeitos com o trabalho. A prevalência de violência física e verbal por parte dos alunos, tra-
215
balhavam na rede pública e informaram duração (OR=1,18; IC95% 1,04-1,33), vivenciar casos
do deslocamento de casa para escola superior a de indisciplina (OR=1,26; IC95% 1,10-1,45) e
50 minutos. violência verbal (OR=1,26; IC95% 1,09-1,44) e,
Na primeira etapa da análise multivariada, ainda, levar mais de 50 minutos para chegar ao
foram incluídas no modelo as variáveis relaciona- trabalho (OR=1,19; IC95% 1,03-1,38). Por outro
das ao trabalho: tempo de serviço em anos, carga lado, a probabilidade de pior autoavaliação de
horária semanal, exercer outra atividade remu- saúde foi significativamente menor para os do-
nerada, tempo suficiente para as tarefas, apoio centes com outro tipo de atividade remunerada
social, satisfação com o trabalho, pressão laboral, (OR=0,78; IC95% 0,65-0,94), tempo suficiente
ruído, indisciplina dos alunos, violência verbal e para cumprir suas tarefas (OR=0,77; IC95% 0,64-
tempo de deslocamento casa/serviço (sem consi- 0,92) e apoio social (OR=0,79; IC95% 0,69-0,89),
derar as variáveis de ajuste; Tabela 4). Ao ajustar bem como, para aqueles satisfeitos com o próprio
pelo bloco intermediário de variáveis individuais trabalho (OR=0,79; IC95% 0,69-0,91). Ressalta-
(características sociodemográficas), todas as vari- se que o modelo apresentou bom ajuste segundo
áveis do bloco de “Características relacionadas ao o teste de linhas paralelas (p-valor>0,05).
trabalho” permaneceram significativas. Por sua
vez, com a inserção do bloco proximal contendo
variáveis relacionadas à saúde, as variáveis carga Discussão
horária semanal e ruído perderam sua significân-
cia, não permanecendo no modelo final. Resultados inéditos sobre a associação entre
Finalmente, tendo em vista o modelo ajusta- autoavaliação de saúde e condições de trabalho
do por ambos os blocos (variáveis individuais e de foram obtidos de uma amostra de professores
saúde), considerando portanto, as variáveis que representativos da categoria inserida nas escolas
permaneceram no modelo final, foram fatores da Educação Básica no Brasil. Associações entre
significativamente associados a uma pior AAS ter pior AAS e condições de trabalho dos professores
entre 10 e 20 anos de tempo de serviço (OR=1,17; eram esperadas. Foi observada maior probabili-
IC95% 1,01-1,35), trabalhar sob pressão laboral dade de pior AAS no grupo de professores que
216
Morais EAH et al.
Tabela 3. Associação entre as características relacionadas ao trabalho e a autoavaliação de saúde dos professores da
Educação Básica brasileira, 2015-2016.
Autoavaliação de saúde
Amostra
Variáveis Muito ruim Muito OR [IC95%]a
total (%) Boa
a regular boa
Carga Atual de Trabalho
Tempo de serviço (em anos)
<10 34,6 23,0 49,4 27,6 1
10-20 33,1 27,6 50,4 22,0 1,31 [1,15-1,50]
>20 32,2 30,9 48,6 20,6 1,49 [1,30-1,71]
Carga horária semanal
<40 horas por semana 43,8 23,1 50,6 26,3 1
≥40 horas por semana 56,2 30,1 48,6 21,3 1,37 [1,22-1,54]
Exerce outra atividade remunerada
Não 89,6 27,8 49,3 22,9 1
Sim 10,4 20,5 50,7 28,9 0,70 [0,60-0,83]
Trabalha em mais de uma escola
Não 51,4 25,8 50,1 24,1 1
Sim 48,6 28,3 48,8 22,9 1,11 [0,99-1,24]
Condições Psicossociais Trabalho
Tempo para cumprir as tarefas
Não 13,4 39,6 45,3 15,1 1
Sim 86,6 25,1 50,1 24,8 0,52 [0,44-0,61]
Apoio social
Não 40,6 34,8 46,4 18,8 1
Sim 59,4 21,7 51,6 26,7 0,57 [0,50-0,64]
Satisfação com o trabalho
Não 31,9 36,5 46,3 17,2 1
Sim 68,1 22,6 50,9 26,4 0,53 [0,47-0,61]
Pressão laboral
Não 45,6 21,3 51,9 26,8 1
Sim 54,4 31,8 47,4 20,7 1,56 [1,39-1,75]
Condições do Ambiente do Trabalho e Contexto
Escolar
Ruído
Não 36,0 21,2 48,7 30,1 1
Sim 64,0 30,3 49,9 19,8 1,69 [1,50-1,90]
Indisciplina dos alunos
Não 29,8 20,8 48,0 31,2 1
Sim 70,2 29,7 50,1 20,2 1,71 [1,50-1,94]
Violência física
Não 96,9 26,6 49,8 23,5 1
Sim 3,1 41,2 37,1 21,7 1,61 [1,09-2,37]
Violência verbal
Não 70,3 22,9 50,9 26,2 1
Sim 29,7 36,9 46,1 17,0 1,88 [1,65-2,13]
continua
tinham mais tempo de carreira, que relataram atenção a associação entre pior AAS e o relato
pressão laboral, vivências de indisciplina e vio- de deslocamentos de casa para o trabalho escolar
lência no contexto do trabalho escolar. Chama com duração superior a 50 minutos.
217
Tabela 4. Análise multivariada avaliando condições laborais associadas à pior autoavaliação de saúde entre os
professores da Educação Básica brasileira, 2015-2016.
OR [IC95%]
OR [IC95%]
OR [IC95%] ajustado por
ajustado por
Características do trabalho Categorias sem ajuste por variáveis
variáveis
outros blocosa individuais e de
individuaisa
saúdea
Tempo de serviço em anos <10 1 1 1
10 a 20 1,27 (1,11-1,46) 1,19 (1,03-1,37) 1,17 (1,01-1,35)
>20 1,43 (1,24-1,64) 1,16 (0,98-1,38) 1,11 (0,93-1,33)
Carga horária semanal <40 1 1
≥40 1,19 (1,06-1,34) 1,17 (1,04-1,32) -
Exercia outra atividade remunerada Não 1 1 1
Sim 0,75 (0,63-0,89) 0,81 (0,67-0,97) 0,78 (0,65-0,94)
Possuía tempo para tarefas Não 1 1 1
Sim 0,68 (0,57-0,81) 0,67 (0,56-0,79) 0,77 (0,64-0,92)
Apoio social Não 1 1 1
Sim 0,73 (0,64-0,83) 0,73 (0,65-0,83) 0,79 (0,69-0,89)
Satisfação com o trabalho Não 1 1 1
Sim 0,70 (0,61-0,80) 0,72 (0,63-0,82) 0,79 (0,69-0,91)
Pressão laboral Não 1 1 1
Sim 1,29 (1,15-1,45) 1,27 (1,13-1,44) 1,18 (1,04-1,33)
Ruído Não 1 1
Sim 1,18 (1,03-1,35) 1,20 (1,04-1,38) -
Indisciplina dos alunos Não 1 1 1
Sim 1,24 (1,07-1,43) 1,25 (1,08-1,45) 1,26 (1,10-1,45)
Violência verbal Não 1 1 1
Sim 1,36 (1,19-1,56) 1,41 (1,23-1,62) 1,26 (1,09-1,44)
Tempo de deslocamento para o serviço ≤20 1 1 1
em minutos 21 a 50 1,11 (0,96-1,28) 1,09 (0,95-1,26) 1,09 (0,94-1,26)
>50 1,36 (1,18-1,56) 1,26 (1,10-1,46) 1,19 (1,03-1,38)
Nota: Valores com significância estatística estão apresentados em negrito. aOR se refere ao modelo de regressão logística ordinal de
chances proporcionais multivariado. Teste de linhas paralelas: p=0,2582.
Um em cada quatro professores não se per- corrobora outros resultados que identificaram
cebem com boa saúde. Esse resultado é preocu- associações entre ter que comparecer ao traba-
pante, principalmente se comparado com a pre- lho quando doente e relato de agravos à saúde
valência de AAS ruim em outros cenários, como entre professores25. Tendo em vista possíveis re-
entre professores da Educação Básica da Suécia taliações, além das dificuldades em garantir a sua
(13,3%)28 e Austrália (12%)29. Veja-se que esses substituição, o professor comparece, ainda que
profissionais se ocupam da missão de introduzir doente. Essa situação denominada presenteísmo
os alunos nos significados da cultura e da ciên- pode levar a prejuízos em âmbito individual e co-
cia por meio de suas práticas pedagógicas. Como letivo25.
garantir os objetivos do ensino-aprendizagem se Há evidências da relação entre problemas
os profissionais que se ocupam dessa missão esti- comportamentais dos alunos e problemas de
verem desanimados, cansados e doentes10? Sendo saúde do professor33. No presente estudo, a vio-
a educação um direito, um aspecto fundamental lência verbal e a indisciplina dos alunos foram
para o desenvolvimento do homem, aos profes- associadas à pior AAS. Esses resultados reforçam
sores, profissionais majoritariamente envolvidos, o conhecimento sobre os danos na saúde do pro-
devem ser destinados maior sustentação e apoio fessor oriundos de relações conflituosas na sala
governamentais na tentativa de minimizar as con- de aula34. Promover ambientes de paz, justiça e
sequências perniciosas do trabalho na vida deles. fomentar acordos colaborativos no intuito de
Vale mencionar que a situação dos professo- discutir maneiras de se evitar e como proceder
res é mais favorável se comparada à população diante de eventos, são indicações propaladas13.
brasileira em geral. De acordo, com a Pesquisa Nesse sentido, o reconhecimento de parcerias
Nacional de Saúde de 2013 e a Vigilância de Fa- intersetoriais, também pode propiciar melhorias
tores de Risco e Proteção para Doenças Crôni- comportamentais dos alunos. Tais parcerias en-
cas por Inquérito Telefônico (Vigitel) de 2016, volvem, por exemplo, iniciativas esportivas, ar-
33,9%30 e 31%31 dos adultos brasileiros, respec- tísticas e de inserção social que promovam um
tivamente, consideraram ruim a sua saúde. Essa ambiente cooperativo entre alunos, familiares e
diferença pode ser explicada. Primeiramente, professores.
inquéritos ocupacionais, como é o caso do Edu- Maior duração do deslocamento de casa para
catel, dizem respeito a população ativa, portanto, a escola foi associado à pior AAS. Duração pro-
em condições de saúde para desempenhar as suas longada do deslocamento até o local de traba-
funções. A amostra estudada, em segundo lugar, lho foi anteriormente associada a desfechos de
é mais escolarizada do que a média da população saúde do professor33. Na Índia, um estudo local
geral, de maneira a permitir inferir sobre melho- com professores da Educação Básica evidenciou
res condições de saúde porque escolaridade é de- associação com maior tempo de deslocamento e
terminante da saúde dos adultos25. estresse33. Provavelmente longos trajetos impli-
As condições de trabalho estudadas foram as- cam em redução do tempo que seria destinado ao
sociadas à AAS de forma convergente com litera- descanso e recuperação35.
tura26. Porém, de forma divergente, a associação Exercer outro tipo de atividade remunerada
com o tempo de serviço, foi identificada somente associou-se a uma melhor AAS. Sobre essa as-
na faixa intermediária. Pode-se evocar a hipóte- sociação, existem controvérsias. Professores da
se sobre o acúmulo dos efeitos das condições de Educação Básica de Londrina-PR, que exerciam
trabalho sobre a saúde em resposta ao processo outro tipo de atividade remunerada, relataram
de desgaste ao longo dos anos. Se for assim, en- sobrecarga mental laboral36. É possível, por um
tende-se por que não foi encontrada associação lado, que o multiemprego seja uma saída diante
entre pior AAS e o grupo com menos de dez anos das restrições salariais no setor educacional37, mas
de profissão, em contraposição à situação do gru- com repercussões, por outro lado, sobre a saúde
po com dez a vinte anos. Contudo, observou-se, daquele que o pratica. Entretanto, fator protetor
semelhança da AAS entre o grupo de professores de exercer outra atividade remunerada também
com menor antiguidade na profissão e aqueles foi encontrada em um estudo que evidenciou
com mais de 20 anos de profissão. Seria, prova- menor prevalência de dor musculoesquelética
velmente, o efeito denominado trabalhador sa- em professores da rede de ensino municipal de
dio: aqueles que se encontram ativos são os que Salvador, Bahia. Provavelmente, estariam expe-
não adoeceram nem se acidentaram32. renciando uma atividade laboral mais favorável
A percepção de sofrer pressão laboral foi as- à saúde, se comparada com a docência38. Vale
sociada à pior saúde autorrelatada. Tal achado ressaltar que os estudos mencionados são menos
219
Colaboradores Agradecimentos
1. Fylkesnes K, Jakobsen MD, Henriksen NO. The value 18. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacio-
of general health perception in health equity research: nais Anísio Teixeira (INEP). Censo Escolar [Internet].
A community-based cohort study of long-term mor- [acessado 2018 ago 29]. Disponível em: http://inep.
tality risk (Finnmark cohort study 1987-2017). SSM gov.br/web/guest/censo-escolar.
Popul Health 2021; 15:100848. 19. Vieira MT, Claro RM, Assunção AA. Desenho da
2. DeSalvo KB, Bloser N, Reynolds K, He J, Muntner P. amostra e participação no Estudo Educatel. Cad Sau-
Mortality prediction with a single general self-rated de Publica 2019; 35(Supl. 1):e00167217.
health question. A meta-analysis. J Gen Intern Med 20. Alves MGM, Chor D, Faerstein E, Lopes CS, Werneck
2006; 21(3):267-275. GL. Versão resumida da “job stress scale”: adaptação
3. Lorem G, Cook S, Leon DA, Emaus N, Schirmer H. para o português. Rev Saude Publica 2004; 38:164-171.
Self-reported health as a predictor of mortality: A 21. Santos SMM, Maia EG, Claro RM, Medeiros AM.
cohort study of its relation to other health measure- Limitação do uso da voz na docência e a prática
ments and observation time. Sci Rep 2020; 10:4886. de atividade física no lazer: Estudo Educatel, Bra-
4. Nappo N. Is there an association between working sil, 2015/2016. Cad Saude Publica 2019; 35(Supl.
conditions and health? An analysis of the Sixth Eu- 1):e00188317.
ropean Working Conditions Survey data. PLoS One 22. Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Aná-
2019; 14(2):e0211294. lise dos condicionantes de saúde e situação do absen-
5. Codo W. Educação: carinho e trabalho. 4ª ed. Petrópo- teísmo doença em professores da Educação Básica no
lis: Vozes; 2006. Brasil: manual explicativo do questionário. Belo Hori-
6. Benevides-Pereira AMT. Burnout: quando o trabalho zonte: UFMG; 2016.
ameaça o bem-estar do trabalhador. 4ª ed. São Paulo: 23. Meireles AL, Xavier CC, Andrade ACS, Friche AAL,
Casa do Psicólogo; 2010. Proietti FA, Caiaffa WT. Self-rated health in urban
7. Assunção AÁ. Saúde dos professores da Educação adults, perceptions of the physical and social envi-
Básica no Brasil. Cad Saude Publica 2019; 35(1):1-3. ronment, and reported comorbidities: The BH Health
8. Pereira ÉF, Teixeira CS, Andrade RD, Bleyer FTS, Lo- Study. Cad Saude Publica 2015; 31(Supl. 1):120-135.
pes AS. Associação entre o perfil de ambiente e con- 24. Alcantara MA, Medeiros AM, Claro RM, Vieira MT.
dições de trabalho com a percepção de saúde e quali- Determinantes de capacidade para o trabalho no ce-
dade de vida em professores de educação básica. Cad nário da Educação Básica do Brasil: Estudo Educatel,
Saude Colet 2014; 22(2):113-119. 2016. Cad Saude Publica 2019; 35(Supl. 1):e00179617.
9. Cezar-Vaz MR, Bonow CA, Almeida MCV, Rocha 25. Szwarcwald CL, Damacena GN, Souza Júnior PRB,
LP, Borges AM. Mental health of elementary school- Almeida WS, Lima LTM, Malta DC, Stopa SR, Vieira
teachers in southern brazil: working conditions and MLFP, Pereira CA. Determinantes da autoavaliação
health consequences. ScientificWorldJournal 2015; de saúde no Brasil e a influência dos comportamentos
2015:1-6. saudáveis: resultados da Pesquisa Nacional de Saúde,
10. Assunção AA, Medeiros AM, Claro RM, Vieira MT, 2013. Rev Bras Epidemiol 2015; 18(2):33-44.
Maia EG, Andrade JM. Hipóteses, delineamento e 26. Abreu MNS, Siqueira AL, Caiaffa WT. Ordinal logis-
instrumentos do Estudo Educatel, Brasil, 2015/2016. tic regression in epidemiological studies. Rev Saude
Cad Saude Publica 2019; 35(Supl. 1):e00108618. Publica 2009; 43:183-194.
11. Santos MN, Marques AC. Condições de saúde, estilo 27. Assunção AA, Abreu MNS. Pressão laboral, saúde e
de vida e características de trabalho de professores de condições de trabalho dos professores da Educação
uma cidade do sul do Brasil. Cien Saude Colet 2013; Básica no Brasil. Cad Saude Publica 2019; 35(Supl.
18(3):837-846. 1):e00169517.
12. Silva JP, Fischer FM. Multiform invasion of life by 28. Schad E, Johnsson P. Well-Being and Working Con-
work among basic education teachers and repercus- ditions of Teachers in Sweden. Psychol Russ State Art
sions on health. Rev Saude Publica 2020; 54:3. 2019; 12(4):23-46.
13. Birolim MM, Mesas AE, González AD, Santos HG, 29. Lemerle KA. Evaluating the impact of the school envi-
Haddad MCFL, Andrade SM. Trabalho de alta exi- ronment on teachers’ health and job commitment: is the
gência entre professores: associações com fatores ocu- health promoting school a healthier workplace? [tese].
pacionais conforme o apoio social. Cien Saude Colet Brisbane: Escola de Saúde Pública da Universidade de
2019; 24(4):1255-1264. Tecnologia Queensland; 2005.
14. Koga GKC, Melanda FN, Santos HG, Sant’Anna FL, 30. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
González AD, Mesas AE, Andrade SM. Fatores asso- Pesquisa Nacional de Saúde 2013. Percepção do esta-
ciados a piores níveis na escala de Burnout em pro- do de saúde, estilos de vida e doenças crônicas. Brasil,
fessores da educação básica. Cad Saude Colet 2015; grandes regiões e unidade de federação. Rio de Janeiro:
23(3):268-275. IBGE; 2014.
15. Karasek RA. Job demands, job decision latitude, and 31. Brasil. Mistério da Saúde (MS). Datasus. Departamen-
mental strain: Implications for job redesign. Adm Sci to de Informática do SUS [Internet]. [acessado 2020
Q 1979; 24(2):285-308. jun 19]. Disponível em: http://datasus.saude.gov.br/.
16. Karesek R, Theorell T. Healthy work. Stress, productivi- 32. Nielsen MB, Knardahl S. The healthy worker effect: do
ty and the reconstruction of work life. New York: Basic health problems predict participation rates in, and the
Books; 1990. results of, a follow-up survey? Int Arch Occup Environ
17. Siegrist J. Adverse health effects of high-effort/low Health 2015; 89(2):231-238.
-reward conditions. J Occup Psychol 1996; 1(1):27-41.
222
Morais EAH et al.
33. Nagaraj D, Ramesh N. Occupational stress and its as- 42. Benevene P, Ittan MM, Cortini M. Self-Esteem and
sociated factors among school teachers in Rural Kar- Happiness as Predictors of School Teachers’ Health:
nataka: A cross sectional study. Int J Adv Community the mediating role of job satisfaction. Front Psychol
Med 2020; 1(3):86-90. 2018; 9:1-5.
34. Maia EG, Claro RM, Assunção AA. Múltiplas expo- 43. Galvão A, Castro B, Krein JD, Teixeira MO. Reforma
sições ao risco de faltar ao trabalho nas escolas da Trabalhista: precarização do trabalho e os desafios
Educação Básica no Brasil. Cad Saude Publica 2019; para o sindicalismo. Cad CRH 2019; 32(86):253-269.
35(Supl. 1):e00166517. 44. Morais AM. O contexto das reformas trabalhistas do
35. Medeiros AM, Vieira MT. Ausência ao trabalho por governo Temer: Precarização do trabalho no Brasil.
distúrbio vocal de professores da Educação Básica no Ser Soc Perspect 2018; 2(n. esp.):326-338.
Brasil. Cad Saude Publica 2019; 35(Supl. 1):e00171717. 45. Souza KR, Santos GB, Rodrigues MAS, Felix EG, Go-
36. Guerreiro NP, Nunes EFPA, González AD, Mesas AE. mes L, Rocha GL, Conceição RCM, Rocha FS, Peixoto
Perfil sociodemográfico, condições e cargas de traba- RB. Trabalho remoto, saúde docente e greve virtu-
lho de professores da rede estadual de ensino de um al em cenário de pandemia. Trab Educ Saude 2021;
município da região Sul do Brasil. Trab Educ Saude 19:e00309141.
2016; 14(1):197-217.
37. Silva LG, Silva MC. Condições de trabalho e saúde
de professores pré-escolares da rede pública de en-
sino de Pelotas, RS, Brasil. Cien Saude Colet 2013;
18(11):3137-3146.
38. Cardoso JP, Ribeiro IQB, Araújo TM, Carvalho FM,
Reis EJFB. Prevalência de dor musculoesquelética em
professores. Rev Bras Epidemiol 2009; 12(4):604-614.
39. Borrelli I, Benevene P, Fiorilli C, D’Amelio F, Poz-
zi G. Working conditions and mental health in tea-
chers: a preliminary study. Occup Med (Lond) 2014;
64(7):530-532.
40. Scheuch K, Haufe E, Seibt R. Teachers’ health. Dtsch
Arztebl Int 2015; 112(20):347-356. Artigo apresentado em 27/12/2021
41. Kidger J, Brockman R, Tilling K, Campbell R, Ford T, Aprovado em 08/07/2022
Araya R, King M, Gunnell D. Teachers’ wellbeing and Versão final apresentada em 10/07/2022
depressive symptoms, and associated risk factors: a
large cross sectional study in english secondary scho- Editores-chefes: Romeu Gomes, Antônio Augusto Moura
ols. J Affect Disord 2016; 192:76-82. da Silva
CC BY Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons