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Chesed
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(resséd)
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bondademisericórdiagraça
amor de aliançainabalável
constânciafidelidadeforça
Christopher Walker
Che
Ch
hesesesed
ed
1º edição
Americana/SP
Impacto Publicações
2015
Revisão
Renata Balarini Coelho
Capa
Eduardo de Oliveira
Diagramação
Sueli Buzinaro
Este texto pode ser citado e pequenos trechos podem ser reproduzidos, desde que
mencionada a fonte, com endereço postal e eletrônico.
IMPACTO PUBLICAÇÕES
Telefone: (19) 3462.9893
www.revistaimpacto.com.br
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
Capítulo 1
Uma revelação da glória de Deus . . . . . . . . . . . . . . . 7
Capítulo 2
Sete aspectos da natureza de Deus . . . . . . . . . . . . . 13
Capítulo 3
Duas histórias de Chesed . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Capítulo 4
Chesed e ciúme . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
Capítulo 5
Chesed nas Escrituras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
Capítulo 6
Formando um relacionamento permanente . . . . . . . 52
Capítulo 7
Chesed e conversão na Nova Aliança . . . . . . . . . . . . . 60
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UMA REVELAÇÃO DA GLÓRIA
DE DEUS
Um pedido ousado
Durante os desdobramentos da crise, Deus chegou a
propor a destruição de toda a nação para recomeçar do zero
com Moisés (Êx 32.9,10). Porém, depois da intercessão de
Moisés (Êx 32.11-13), Deus voltou atrás e disse que dei-
xaria o povo entrar na terra, mas que não andaria mais no
meio deles. “Posso mandar o meu anjo; eu mesmo não irei,
pois não suportaria a atitude do povo e logo o consumiria
na minha ira” (Êx 33.1-3).
Moisés não gostou da proposta e respondeu: “Se é as-
sim, eu também não vou! Só vou se o Senhor for!”.
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O que é chesed?
Vale a pena examinar minuciosamente cada um des-
ses sete aspectos da natureza de Deus. Nosso objetivo aqui,
porém, é examinar mais de perto apenas um deles, o quarto,
identificado pela palavra hebraica chesed. A escolha dessa
qualidade tem dois motivos: 1) por ser pouco conhecida, já
que nem mesmo possui uma tradução adequada no nosso
idioma, e, 2) por ser a única que é repetida duas vezes na
proclamação de Deus a Moisés e a que foi, de longe, a mais
citada dentre as demais no Antigo Testamento.
O termo mais aproximado em português para chesed,
na minha opinião, é amor de aliança ou amor inabalável. É
mais que lealdade, mais que misericórdia, mais que bonda-
de. Não é mais que amor, porque o amor como essência da
natureza de Deus inclui tudo. Porém, chesed é amor num
sentido mais estrito, muito relacionado com aliança, con-
forme veremos mais adiante.
De acordo com o Dicionário Vine, uma das referências
mais conhecidas sobre o significado original das palavras em
hebraico (Antigo Testamento) e grego (Novo Testamento),
é preciso somar três conceitos distintos para chegar a uma
compreensão da palavra chesed: 1) amor; 2) força – algo ina-
balável, inesgotável, inexaurível, absolutamente firme, capaz
de suportar pressões enormes; e, 3) constância – algo fiel,
duradouro, eterno, infalível, inquebrável, confiável, imutá-
vel, que nunca desiste.
Veja como é importante somar os três conceitos.
Amor, isoladamente, se confunde facilmente com sen-
timentalismo e tolerância. A palavra em hebraico para
amor (sem conotação de aliança) é ahabah (pode ser
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Raabe e os espias
A primeira é a dos dois espias que Josué enviou a Je-
ricó para reconhecer o lugar antes de ir com todo o exército
para fazer sua primeira conquista na terra prometida. Essa
narrativa se encontra em Josué 2. Depois de os espias serem
recebidos na casa de Raabe, uma prostituta, o rei da cidade
ficou sabendo e mandou seus homens procurá-los. Raabe
conseguiu despistar os servos do rei e, então, foi conversar
com os dois israelitas.
“Eu sei que o Senhor dará esta terra a vocês”, ela
lhes disse. A notícia de que o Deus de Israel havia seca-
do o mar Vermelho diante deles e derrotado os reis dos
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Jônatas e Davi
A segunda ilustração é bem mais conhecida. É a
história de Jônatas e Davi e da bela amizade que surgiu en-
tre eles. Como foi que esse relacionamento teve início? Veja
em 1 Samuel 18.1: “Sucedeu que, acabando Davi de falar com
Saul, a alma de Jônatas se ligou [ou se apegou] com a de Davi;
e Jônatas o amou [ahabah] como à sua própria alma”. Tudo
começou com ahabah, amor simples e incondicional. Davi
estava falando com o rei Saul, e algo encontrou profunda
ressonância no coração de Jônatas e o conquistou. Não foi
um sentimento volúvel ou superficial; foi um amor tão forte
que Jônatas passou a amar Davi com a mesma força com
que amava a si mesmo: “como à sua própria alma”.
Esse amor levou Jônatas a se despojar de tudo o que
assinalava seu status de filho do rei: capa, armadura, espada,
arco e cinto. Não era uma brincadeira de garoto, deixando
o colega ter o prazer de usar suas roupas e apetrechos reais
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Usaremos chesed no gênero masculino devido à equivalência que estamos fa-
zendo com o significado “amor de aliança” ou “amor inabalável”.
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CHESED E CIÚME
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tão parecido?
É claro que Deus não é ciumento no sentido egoísta
ou controlador que vemos constantemente nas relações hu-
manas. Entretanto, penso que devemos observar pelo me-
nos dois pontos importantes aqui:
1) o ciúme faz parte de qualquer relacionamento em
que haja verdadeiro amor; quem não se importa
com a correspondência da pessoa amada na ver-
dade não ama! Em outras palavras, embora te-
nhamos uma tendência a considerar todo ciúme
como algo maligno e carnal, existe, de fato, um
ciúme puro que faz parte da própria essência do
amor;
2) Deus não é instável nem se permite ser domi-
nado por caprichos de emoções passageiras; no
entanto, sente paixão genuína que o faz reagir às
crises no relacionamento e ter vontade de destruir
tudo em sua ira (veja Gn 6.6 e Êx 32.10). Ele
não age com base nesse impulso porque seu amor,
sua misericórdia e sua fidelidade são muito mais
fortes. Entretanto, é importante ver, por meio das
narrativas bíblicas, que a constância e o equilíbrio
perfeitos de Deus não o tornam uma pessoa fria,
sem emoções. Moisés teve a experiência raríssima
de estar com Yahweh na sua intimidade e de pre-
senciar essas cenas tão fortes.
Uma das razões da existência de chesed são justamente
as crises que existem em todos os relacionamentos amoro-
sos. O que segura os vínculos na hora da tensão, da quebra
da aliança por uma das partes ou do ciúme e da ira é a força
e a constância que fazem parte do verdadeiro chesed.
Na primeira reação de Deus, quando “pediu permissão”
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amor.”
O amor de Deus não é um amor brando, indiferente,
que tolera qualquer atitude, sem reação, que sempre se
manifesta afável e gracioso. É um amor forte, duradouro,
capaz de superar enormes obstáculos e contratempos,
mas também um amor apaixonado, que se importa com
infidelidade, que arde em ciúme por nós por nos amar
de verdade (veja Tg 4.4,5). Não é um amor que diz: “Eu
amo você, mas você está livre para amar quem quiser, para
se relacionar com quem quiser”. É amor de aliança, de
reciprocidade, de relacionamento profundo e verdadeiro. O
mesmo amor que tudo suporta, tudo espera, tudo sofre (1
Co 13.7) tem ciúme como “brasas de fogo, como veementes
labaredas” (Ct 8.6). Para Deus dizer que não apenas
sente ciúme, mas que se chama Ciumento, essa qualidade
(inerente à essência do amor) necessariamente faz parte de
sua natureza1.
Deus é amor, mas o objetivo do seu amor é viver um
relacionamento de chesed com seu povo. Não é algo que pos-
sa ser simplesmente ignorado. Na mesma medida em que é
derramado para oferecer bondade imerecida e conquistar o
coração do amado, ele também arde em ciúme quando não
é correspondido ou quando a devoção do amado não é total,
exclusiva e verdadeira.
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Em 1 Coríntios 13.4, Paulo afirma que “o amor não arde em ciúmes”. Esta frase está no
meio de uma lista de atitudes carnais que nada tem a ver com o amor verdadeiro, tais como
soberba, busca egoísta de interesses próprios, o impulso de controlar e sufocar a pessoa
amada e o ressentimento. O amor de Deus procura, em primeiro lugar, o bem maior da
pessoa amada. Exige exclusividade de devoção pela própria natureza do amor, porque é
impossível amar “dois senhores”. Ao mesmo tempo, o grande objetivo do amor de Deus
é tornar-nos capazes de transmitir o mesmo amor a muitos outros e de formar assim uma
grande família interligada, assim como acontece na Trindade. Quando tentamos “dividir” nos-
sa devoção a Deus com outros deuses, na verdade estamos fazendo mal a nós mesmos,
isolando-nos da única fonte de amor. Portanto, o ciúme de Deus nasce do amor e objetiva
proteger o amado e a relação saudável que fará bem a ele (e a ambos). Já o ciúme humano
vem do amor próprio, procurando proteger a si mesmo diante da ameaça de perda e dos
prejuízos com o fim da relação.
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FORMANDO UM RELACIONAMENTO
PERMANENTE
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uma casa para Yahweh morar bem pertinho dele, Deus re-
cebeu suas palavras como chesed, o fluir de amor e devoção
espontâneos do coração do rei. “Eu tenho tudo”, Davi fa-
lou. “O Senhor me deu o trono, me deu vitória sobre meus
inimigos e uma casa sofisticada (de cedros), mas tu mesmo
não tens nada, nem sequer um lugar para morar; só tens esta
tenda, uma pobre barraca!”
Na mesma hora, Yahweh prometeu um trono eterno
para Davi e uma relação de pai e filho para sua descendên-
cia. Como pai, talvez teria de agir severamente para disci-
plinar e corrigir, mas jamais tiraria deles sua “misericórdia
[chesed]” (v.15), como a retirou de Saul. Deus usou de che-
sed com Saul também, mas, como ele não correspondeu, o
chesed lhe foi retirado. O fato de iniciar um relacionamento,
de dar os primeiros passos para estabelecer uma amizade ou
uma aliança, não significa que o mesmo será confirmado.
Chesed no Salmo 89
O relacionamento de Davi, assim como o de Abraão,
chegou a um ponto em que Deus o selou eternamente. Isaías
fala da “aliança perpétua” e das “fiéis misericórdias [chesed]
prometidas a Davi” (Is 55.3). O Salmo 89, que tem como
tema central o chesed de Deus, especificamente com Davi,
fala do juramento divino que jamais poderia ser desfeito.
“Cantarei para sempre as tuas misericórdias [chesed], ó Se-
nhor”, o salmista (Etã, ezraíta, um contemporâneo de Davi e
Salomão – 1 Rs 4.31) começa já no primeiro versículo. “Pois
disse eu: a benignidade [chesed] está fundada para sempre; a
tua fidelidade, tu a confirmarás nos céus, dizendo: Fiz aliança
com o meu escolhido e jurei a Davi...” (vv.2,3). Etã começa,
então, a cantar a respeito do maravilhoso amor de aliança
do Senhor, que é eterno e foi exemplificado na vida de Davi.
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CHESED E CONVERSÃO NA
NOVA ALIANÇA
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