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Eu fui convidada aqui para discutir “Como seria para o universitário se a Maré fosse nossa.

E aí, essa violência toda a qual a gente foi submetida nesses últimos dias, sem direito, se quer, a ser revoltar, a
protestar, a questionar a ação violenta das polícias, a cobrar respostas sucessivos assassinatos das nossas crianças me
fizeram pensar que vir aqui apenas para apontar as possíveis demandas dos universitários da Maré e listar as ações
para melhoria dessa relação Maré-Universidade estaria completamente comprometida, descabida, porque só faz
sentido essas ações serem efetivadas se nós, favelados e faveladas, estivermos vivos e psicologicamente saudáveis
para desejar entrar na universidade, pra se preparar para entrar na universidade, para usufruir da universidade
usufruir disso.

Na quarta-feira, quando tudo isso aconteceu eu sai da minha casa umas 8 e pouco caminhando para a UFRJ pela Maré e
quando eu cheguei lá, começaram os relatos, os vídeos, os sons.. e você embarca num mar de angústia, medo e
preocupação sobre o que poderia acontecer. E uma série de lembranças de infância e adolescência surgem. Então, eu
não tinha mais como levar um dia “produtivo”. Ao final do dia, cheguei para aplicar prova aos meus alunos e eles
estavam naquela agitação só. Tive que respirar fundo e dizer que sabia que tinha sido um dia de difícil para todos, que
todo mundo tava agitado com tudo que tinha acontecido, que a gente não merece toda aquela violência. E pedir aos
alunos que colaborassem e tentassem se concentrar naquele momento para fazer as avaliações.

Fiquei ali observando os alunos com uma vontade tremenda de chorar e pensando que podia ter sido eu, que poderia
ter sido um deles, que podia ter sido um parente e que é muito doído saber que a gente não tem o direito à vida
garantido (física e escolhas). E essa política do medo e da morte isso afeta nossos sonhos, nossa projeção de vida,
nossos desejos.. de quem sabe ser um universitário, por exemplo... E que além de sofrer todo tipo de violência, ainda
precisamos continuar.. continuar trabalhando, continuar estudando, continuar fingindo que está tudo bem.. é assim
mesmo! Se não era bandido, certamente iria ser. É esse o sonho que é vendido a nossas crianças??? Matar ou
morrer??

Se a Maré fosse nossa

Se a Maré fosse nossa, a nossa locomoção, nosso ir e vir, não estaria inviabilizado diversas vezes pelos conflitos
armados.

Se a Maré fosse nossa, a nossa alimentação estaria garantida em as universidades públicas, haveria um bandejão em
todas elas, por exemplo na FFP UERJ.

Se a Maré fosse nossa, os especialistas da academia em segurança pública, em racismo, em favela, deveriam se
posicionar enfaticamente quanto a essa segurança pública que nos mata.

Se a Maré fosse nossa, os professores universitários entenderiam que a gente é humano, tem corpo, tem sentimento,
tem família, tem dores, tem um lugar e não vamos conseguir aprender nada enquanto os nossos estão em perigo.

Se a Maré fosse nossa, seria obrigatória a discussão sobre racismo em todo e qualquer curso universitário, pois é o
racismo que estrutura a nossa sociedade e isso afeta qualquer área do saber.

Se a Maré fosse nossa, a UFRJ, por exemplo, que está aqui do lado, teria o compromisso de construir mais ações de
extensão com os moradores da Maré, pensando as diversas demandas e aproveitando todo o potencial criativo da
população.

Se a Maré fosse nossa, ações de discriminação e racismo contra cotistas nas universidades seriam punidas e geraria
imediatamente ações institucionais de reflexão com alunos e professores.

Se a Maré fosse nossa, a universidade (quem sabe) poderia ser um sonho, um caminho de Marcos Vinicius e de tantos
outras crianças e jovens assassinados.

- Investimento em ciclovias seguras


- Preocupação maior com a iluminação noturna na região das universidades
- Reforçar as políticas de assistência de transporte
- Ampliação do bandejão para todas as universidade públicas (FFP, por exemplo)
- Investimento em projetos de extensão que priorizem as demandas e a participação conjunto com os moradores das
favelas
- Criação de disciplinas que discutam o saber sobre outras perspectivas que não apenas a eurocêntricas
- Investimento em projetos de acolhimento dos universitários cotistas
- Reforçar a importância das políticas de assistência estudantil
- Programa de participação em eventos acadêmicos para os bolsistas

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