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Por que?

Por que a palavra feminismo é tão incômoda para alguns [estou tentando ser otimista] homens? Por
que eles acham perigoso as mulheres se reunirem? Qual é a dificuldade de entenderem que as
mulheres são seres sociais, críticos, políticos, pensantes, criadores, criativos? Por que insistem em
colocar as mulheres umas contras as outras, numa série de rotulações e falas desonestas? Por que se
agitam, se contorcem, negam, se irritam quando falamos aquilo que precisam ouvir? [dedo na ferida
incomoda mesmo] Por que os homens exigem o nosso silêncio, nossa discrição, nossa proteção,
nossa abnegação, nossa paciência infinita? Por que eles não conseguem assumir seus erros e avaliar
suas contradições? Por que se blindam e não se permitem um olhar empático, a escuta, a
autoavaliação? Por que se dizem perseguidos quando, na verdade, são a hegemonia? Por que não
estudam sobre os temas que não conhecem e desmistificam seus achismos e preconceitos? Por que
nos tratam como objetos ilustrativos que eles podem utilizar quando e como quiserem? Por que,
mesmo errados, se protegem tanto uns aos outros? Por que não reconhecem seus privilégios
cotidianos de homens? São questionamentos retóricos que me vem a todo momento. A mulher,
desde cedo, é obrigada a se questionar sobre tudo: seus comportamentos, seu corpo, suas falas, seus
desejos, seus sonhos, seu ser,.. O mesmo não acontece com os homens, que parecem pairar sobre a
ilha do comodismo e da ignorância. Certo é que.. a nós, mulheres, cabem sempre a dúvida, a culpa,
a rotulação, a desqualificação e o silenciamento. Tudo isso só me faz ter a certeza de que essas
inquietações precisam ser transformadas em luta, em movimento, e que as mulheres precisam, cada
vez mais, se independizar, se organizar, criar redes, estudar, questionar, se apoiar e discutir suas
próprias pautas. Pois, se não nós, quem? Se não agora, quando? E é preciso estarmos atentas aos
detalhes (aquelas atitudes e falas “inocentes” e diárias), que geralmente são banalizados, pois, é a
partir desses detalhes que as mudanças, de fato, começam a acontecer. As marcas do machismo em
nós são tantas e de tantos tipos que garantimos, elas não precisam estar visíveis para existir. É
preciso entender que, assim como a discussão de classe e o racismo, a discussão de gênero é
responsabilidade de todos e todas. Mas, infelizmente, nossos homens se mantém numa posição
egoica, onde não questionam suas incoerências e nos podam o tempo inteiro.

A gente acha que o machista e assediador é esse homem sem rosto, esse homem desconhecido pela
rua. Que abusa das mulheres nas ruas escuras. Não é! Esses assediadores, eles são pais, filhos, são
profissionais competentes, que estão mais perto do que a gente imagina. É aquele chefe que você
admira. É seu colega de trabalho que tem um doutorado. É aquele amigo que é carinhoso,
engraçado. Por que? Porque o assédio é legítimo culturalmente. Ele é entendido como algo que faz
parte do homem. Ele é entendido como algo bom, como um flerte. Mas não é!

https://www.youtube.com/watch?time_continue=374&v=BpRyQ_yFjy8

Por Que Xingamos Homens e Mulheres de


Modo Diferente? | Valeska Zanello
https://www.youtube.com/watch?v=6kCoRgdeNNc

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