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ARGUMENTO - TÍTULO

Pedro Cândido

Zona rural de Quixadá. Novembro. O sol da manhã brilha


forte no céu azul quase sem nuvens. A paisagem em volta indica
que não chove na região já faz um bom tempo. A vegetação seca
contrasta com o verde vivo da copa de algumas poucas árvores
mais robustas e da pequena horta que fica nos fundos de uma
casa, perdida no meio do sertão central cearense. ​LUÍZA (16)
põe a mão sobre os olhos e mira um ponto fixo no céu acima de
sua cabeça. Um bando de urubus voam em círculos. Ela é uma
jovem de traços fortes e um olhar vivo. ​SANTA (75), uma
senhora de estatura pequena e gestos ligeiros, chama pela
neta, tirando-a dessa espécie de transe. Luiza percebe que avó
está parada e espera por algo. Santa pede para que Luiza leve
até ela a caixa de verduras que está no chão. Juntas elas
colhem os pimentões maduros da horta do quintal. Luiza leva a
caixa já quase cheia até Santa, que joga alguns pimentões lá
dentro e pergunta onde a neta anda com a cabeça.

A casa é ampla e cercada de alpendres, que impedem o sol


forte da região de invadir o espaço interno; tem paredes
caiadas e grossas, feitas com os tijolos de barro do próprio
terreno e um chão de cimento queimado, típico das casas mais
antigas da região. Luiza amarra bem as caixas de verdura na
garupa da mobilete estacionada em frente a casa. Santa ajuda a
neta. Ela diz que tem que amarrar bem e lembra do dia que uma
das caixas escapou e Luiza caiu da moto. A jovem pergunta por
Jonas e questiona o fato de ele não estar ali ajudando as
duas. Mas avó explica que ele saiu cedo, antes mesmo dela
acordar. Parece que tinha arranjado serviço na tal obra, lá
pras bandas do Juá. Luiza sobe na moto com dificuldade e
parte, deixando para trás um rastro de poeira vermelha.
Luiza pilota a mobilete barulhenta e caindo aos pedaços
pelas estradas que levam até a cidade de Quixadá. No caminho
ela levanta a poeira que se mistura ao vento quente. Aqui e
ali é possível ver os monólitos, enormes blocos de pedra que
parecem ter caído do céu e se cravado na terra. Já na cidade,
as ruas de Quixadá por onde passa parecem estranhamente
desertas.

Na pequena venda localizada no centro da cidade, as


prateleiras estão praticamente vazias. Itens básicos de
alimentação se misturam a utensílios para casa e alguns
acessórios eletrônicos. Na TV que fica nos fundos do lugar, o
noticiário informa sobre o lançamento de uma espaçonave. Em
frente a TV, ​VERA (17), jovem de traços delicados e cabelo
volumoso, acompanha a transmissão. No balcão, Luiza negocia o
pagamento pelas caixas de pimentões com ​GERALDO (55), pai de
Vera e dono do estabelecimento. Ele entrega a Luiza uma
pequena quantia de dinheiro. Ela conta as notas e reclama,
dizendo que é menos do que ele pagou da última vez. Irritado,
Geraldo explica que só está comprando pois tem muito apreço
por Santa, a professora que o alfabetizou. Vera tira os olhos
da TV e olha para trás. Seu olhar e o de Luiza se encontram e
elas riem de forma debochada. Geraldo continua e lamenta o
fato de ter cada vez menos gente na cidade e os poucos que
ficaram mal tem dinheiro para o básico. Ele aponta para uma
cesta ali perto, mostrando as mangas que comprou de Luiza na
semana anterior e ainda estão lá. Luiza agradece e vai embora.

O banheiro do posto de gasolina tem um aspecto


deteriorado. Luiza está vestida com um uniforme de frentista.
Ela coloca a cabeça embaixo da torneira da pia e molha os
cabelos e a nuca. Ela prende os cabelos úmidos e coloca seu
boné. O seu celular toca. Ela atende e diz para a pessoa do
outro lado da linha que só poderá ir depois do serviço.
O posto de gasolina em que Luiza trabalha é o único que
ainda está aberto em Quixadá. Ainda assim o movimento é
bastante fraco. Luiza está sentada em um canto, escondida do
sol forte da tarde de novembro. Seu rosto está suado e ela
escuta uma música animada nos fones de ouvido. Atrás do posto
há uma pequena loja de conveniências climatizada. Na porta de
vidro há uma placa que indica que a entrada de funcionários do
posto é proibida. Lá dentro, um jovem mais ou menos com a
mesma idade de Luiza, está sentado no balcão e assiste algo na
enorme TV do lugar.

Luiza levanta de repente e tira o fone de ouvido. Um


carro grande estaciona na entrada da loja de conveniências. De
dentro salta ​CARLOS (50) um homem “bem-vestido” demais para
aquele calor insuportável. Ele aparenta estar bêbado. Luiza o
cumprimenta, mas ele entra no lugar sem falar com ela. Alguns
segundos depois ele sai de lá com algumas latas de cerveja,
entra no carro e vai embora.

O sol já está se pondo no horizonte, dando uma pequena


trégua no calor da tarde. Luiza sai do banheiro, pronta para
ir embora. Dentro da loja de conveniências o rapaz que
trabalha no balcão e mais duas pessoas estão de frente para a
TV. Luiza bate no vidro e sinaliza que está indo embora, mas
ninguém nota a sua presença. Ela entra para ver o que está
acontecendo. Todos acompanham atentos o noticiário que
transmite ao vivo o lançamento da primeira espaçonave
tripulada com destino a Marte. O outro funcionário chama a
atenção de Luiza, avisando que ela não pode ficar lá dentro,
mas ela o ignora, pois seus olhos estão mergulhados nas
imagens da TV.

Já é noite. Sobre a Pedra do Cruzeiro, monólito que fica


no meio de Quixadá, Luiza e Vera estão deitadas e dividem um
baseado. Lá de cima é possível ver toda a cidade, iluminada
pela luz dos postes e das poucas casas ainda ocupadas. Luiza
está em silêncio, mirando o mesmo ponto no céu para o qual
olhava de manhã. Vera pergunta porque ela está tão calada.
Luiza pensa um pouco e diz que quer ir embora. “Embora?”,
questiona Vera. “Mas pra onde?”. Luiza aponta em direção ao
céu. As duas riem e Vera confessa que se for pro espaço, quer
ir junto. Luiza suspira e fica séria de repente. Ela desabafa
que não há mais nada para elas naquele lugar. Todos já foram
embora. Vera diz que conhece seu pai e que ele nunca irá
embora dali, mas Luiza diz que elas podem ir juntas. Vera
deita a cabeça sobre o corpo de Luiza e diz que prefere a
ideia do espaço.

As luzes da casa de Luiza estão ligadas, mas o ambiente


está silencioso. É quando o ronco da mobilete rompe a
calmaria. Quando Luiza para no alpendre, a avó aparece na
porta com uma expressão desgostosa. Ela questiona a neta sobre
o horário e pergunta onde andava até uma hora dessas. A jovem
conta que foi encontrar Vera depois do trabalho. A avó
reclama, alegando que Vera é filha de Geraldo e que se ele
encrencar, elas perderão a venda das verduras. Luiza brinca
que a avó nunca teve essas besteiras, mas a senhora se queixa
de que a vida anda muito estranha ultimamente.

Luiza e Santa jantam na mesa da cozinha. A jovem come com


uma mão e com a outra segura o celular. Ela assiste às últimas
informações sobre a expedição à Marte. A avó reclama que a
neta não larga aquele aparelho nem pra comer, mas Luiza se
defende dizendo que aquele é um momento histórico. Silêncio.
Luiza larga o celular e diz que queria conversar com a avó
sobre um assunto. Preocupada, Santa já pergunta se aconteceu
algo, mas a neta a tranquiliza. Na verdade está pensando em ir
tentar algo na capital. A avó reclama e diz que elas já
conversaram sobre isso. A neta é bem informada o suficiente
para saber que as coisas por lá também não andam nada boas.
Santa passa a mão no peito e diz estar preocupada com a demora
do neto. Luiza provoca, dizendo que ele estaria bebendo de
novo. Santa levanta da mesa em silêncio, deixa o prato lá e
sai.

Santa assiste algo no celular enquanto se balança em uma


rede armada no alpendre. O rangido do armador ressoa pela
casa. Luiza aparece e pergunta se a avó vai dormir ali mesmo,
mas é completamente ignorada. A jovem pede desculpas. De cara
amarrada, Santa defende o rapaz e diz que ele está se
esforçando. Silêncio. Luiza entra na rede e, com dificuldade,
deita-se ao lado da avó. Santa grita, brincando que a rede vai
desabar com elas duas. Avó e neta ficam ali deitadas juntas. A
senhora confessa que está mesmo preocupada com o neto, mas
Luiza a acalma, dizendo que desconfia que ele tá de caso com
alguém da cidade. A avó se espanta e pergunta mais sobre o
caso, mas Luiza desconversa, dizendo que ele anda misterioso
nos últimos dias e que só pode ser isso. Santa continua
aflita. É quando Luiza pega o celular e mostra um vídeo
engraçado para a avó. Elas caem na risada. A noite silenciosa
e escura daquele pedaço de mundo se ilumina com as gargalhadas
das duas

O dia ainda mal amanheceu e Luiza já está de pé. Ela


atravessa a casa em silêncio para não acordar ninguém. De
longe observa a avó dormindo em uma rede na sala. A jovem se
aproxima devagar da porta do quarto de Jonas e faz menção em
empurrá-la, mas desiste e sai cuidadosamente de casa.

A manhã já vai longe. No posto de gasolina Luiza lava um


carro com a ajuda de um balde. Do outro lado da rua um senhor
de mais ou menos uns 60 anos passa empurrando um carrinho de
mão. Dentro há alguns objetos de casa: panelas, copos e outros
tipos de quinquilharia. Ele comprimenta Luiza e desce em
direção ao comércio de Geraldo. De repente, Santa aparece no
lugar. Ela usa um chapéu de palha enorme e tem uma expressão
cansada e muito aflita. Luiza pergunta como ela chegou ali. A
avó explica que veio a pé e antes de que a neta pudesse
repreendê-la, Santa diz que Jonas não dormiu em casa.
Preocupada, a senhora revela que está com um mal
pressentimento. Luiza tenta acalmá-la.

Luiza e Santa estão num canto mais afastado do posto de


gasolina. A jovem liga insistentemente para o irmão, que não
atende. Santa permanece muito aflita. Ela pega o celular e
mostra a última postagem feita por Jonas às 17:30 do dia
anterior. A imagem mostra o céu com tons de laranja e violeta,
típicos do fim de tarde da região. No canto da fotografia é
possível ver a copa de uma árvore alta, mas nenhuma das duas
consegue identificar que lugar é aquele. Na legenda, Jonas
brinca com o fato de estar indo viajar para Marte. A avó diz
que ele deve ter feito a postagem em algum lugar da região,
talvez pelas bandas do Juá, que é onde ele foi atrás de
serviço. Santa parece cada vez mais aflita.

Luiza, vestida com seu uniforme de trabalho, bate


insistentemente na porta da delegacia da cidade. Santa está ao
seu lado. O lugar está fechado e ninguém aparece. Santa
comenta irritada sobre o fato do delegado nunca ficar lá. É
quando Vera surge, dirigindo uma caminhonete caindo aos
pedaços. Na parte de trás do veículo há alguns móveis velhos.
Ela desce e vai até Luiza. Ela pergunta se tiveram alguma
notícia. Desolada, Santa diz comenta que já rodou a cidade e
não descobriu nada. Vera desce do carro e senta-se ao lado de
Luiza, que pergunta que móveis são aqueles. Vera diz que o pai
fez uma troca e ela tinha ido buscá-los. Ela resmunga algo
sobre aquilo tudo não servir para nada. É quando ​Nestor (50)
vira a esquina e vai em direção a delegacia. Santa se levanta
depressa e corre em direção a ele, as duas jovens a seguem.
Dentro da delegacia, Nestor, que ocupa provisoriamente o
cargo de delegado há, pelo menos, uns cinco anos, segura o
celular diante do rosto e analisa a tal última postagem de
Jonas. Ele fala que aquilo não ajuda em muita coisa e informa
que só pode declarar o desaparecimento de alguém depois 24
horas do sumiço. Santa reclama, mas Nestor responde que é
assim que a lei funciona. Santa diz que então ficará ali
sentada até que o neto seja encontrado. Com um ar contrariado,
o homem a lembra que todos os meses jovens desaparecem
misteriosamente na cidade, assim como muitos outros moradores
têm feito nos últimos anos. Santa o interrompe, dizendo que
Jonas nunca iria embora sem falar com ela e que esse caso é
diferente. Luiza apoia a avó e afirma que o irmão “é medroso
demais pra aprontar uma dessa”. Ela confessa que ela fugiria,
mas o irmão não. Vera ri disfarçadamente. Depois de um longo
suspiro o delegado cede e diz que fará algumas ligações e
tentará descobrir algo na tal obra. Santa agradece.

O sol do meio dia castiga o lugar. Luiza e Santa esperam


na Praça da Estação quando Vera aparece na caminhonete. Santa
entra e senta-se ao lado de Vera. Luiza diz que precisa voltar
ao trabalho e que a avó precisa descansar. Ela brinca, dizendo
que logo Jonas vai aparecer em casa e que ela precisa estar
forte o suficiente para lhe dar uma surra. Luiza ri, mas avó
não parece se divertir nem um pouco. Santa agradece a Vera o
favor e diz que ela e o pai são pessoas boas. O carro parte e
Luiza fica ali sozinha. Ela olha em volta. Não há uma viva
alma na rua.

Já é noite quando Nestor volta a delegacia. Luiza, que


aguardava ali próximo, salta na sua frente e pergunta sobre o
que ele conseguiu descobrir. Com um ar contrariado, ele
responde que até agora não tem nenhuma pista e na obra ninguém
o conhecia. Luiza diz que o irmão contou para avó que havia
conseguido serviço lá, mas Nestor levanta a possibilidade de
que ele estivesse mentindo e provoca, dizendo que essa não
seria a primeira vez. Silêncio. A jovem diz que quer registrar
o desaparecimento do irmão e que já se passaram mais de 24
horas. “Tu e tua avó são osso duro de roer”, reclama o
delegado. Ele fala que o melhor que ela tem a fazer é ir para
casa ficar com Santa e assim que ele souber de algo Luiza será
a primeira a ser comunicada. O homem se despede e sai andando.
Ele já está há alguns metros de distância quando a adolescente
grita de longe, perguntando se ele não irá registrar o
desaparecimento. Nestor aponta para a própria cabeça e diz que
já o fez.

A lua cheia ilumina a noite estrelada do sertão. Santa


está sentada sozinha no topo do paredão imenso da barragem do
Açude Cedro. Lá em baixo, iluminada pela lua, as águas do
Cedro ganham tons azuis e prata. No horizonte, os contornos
suaves da Pedra da Galinha Choca contrastam com a beleza do
vale. O barulho do motor da velha mobilete rasga o silêncio.
Luiza para a moto há alguns metros dali e corre em direção a
avó. A adolescente pergunta o que Santa faz ali sozinha e diz
que estava procurando por ela. Com o olhar perdido, Santa
permanece em silêncio. Luiza senta-se ao seu lado e as duas
ficam ali em silêncio.

Avó e neta observam o céu estrelado daquela noite quente


de novembro. Santa fala, quase num lamento, que não suportava
mais ficar sozinha em casa esperando por notícias de Jonas.
Luiza põe o braço por detrás da avó e a abraça. Ela diz que
logo ele irá aparecer e que o delegado já está investigando o
caso. Santa comenta que Nestor é um idiota que ele não
consegue resolver nem os próprios problemas. Luiza afirma que
esse é um trabalho para as autoridades, mas para a avó, as
autoridades nunca se importaram com o povo dali. Silêncio.
Santa repara no açude e diz que há muitos anos não o via tão
seco. Ela lembra da juventude, quando os invernos abundantes
faziam o Cedro sangrar. “ Ficava tão cheio que a meninada
pulava daqui lá pra baixo, de cabeça”. A idosa lembra da
filha, mãe de Jonas e Luiza, sempre a mais afoita. As duas
ficam ali em silêncio.

A casa já está toda às escuras. Luiza está de pé na


janela do quarto que dá para a área externa da casa. Ela
observa uma fotografia da mãe com mais ou menos uns 22 anos,
uma mulher muito parecida com ela. No celular, uma mensagem de
Vera brilha na tela. Ela avisa que conseguiu descobrir onde
fica a tal obra e envia as coordenadas do lugar. Luiza
agradece e confessa que queria que Vera estivesse ali. As duas
trocam mensagens e se despedem. Luiza vai até a porta do
quarto e vê que Santa está dormindo na sala.

Dia. Luiza termina de lavar um carro no posto de


gasolina. Ela se enxuga, chega na porta da loja de
conveniências e explica ao rapaz do balcão que precisa sair um
instante. Ele, que estava no telefone, avisa que ela não pode
sair no horário de trabalho. Luiza diz que não irá demorar e
que ele só precisa ficar atento. Ela o lembra que faz dois
dias que não aparece nenhum cliente e que hoje provavelmente
também não aparecerá. Irritado, o rapaz diz que o Sr. Carlos
ligou e pediu que levem um saco de gelo pra ele. O rapaz
informa que é ela quem irá fazer isso. Contrariada, Luiza tira
os sapatos, entra na loja climatizada, abre a geladeira
repleta de bebidas, pega um saco de gelo pesado e sai do
local.

Luiza estaciona a mobilete em frente uma casa grande que


ocupa o quarteirão inteiro. Ela tira o saco de gelo da caixa
amarrada à garupa da moto e toca a campainha. Uma voz feminina
atende, Luiza se identifica e sua entrada é liberada. Ela
atravessa o gramado verde e úmido do jardim, dá a volta pela
piscina e entra na casa pela cozinha.
Na cozinha espaçosa e bem equipada, Marta (45), empregada
da casa, agradece a entrega e diz que a jovem pode ir embora.
Com o rosto suado, a jovem pede um copo d'água. Marta, que a
essa altura já está martelando o saco de gelo na pia, aponta o
filtro que fica num canto. Enquanto Luiza enche um copo de
água, ouve risadas altas vindas lá de dentro. Ela aproveita a
distração de Marta e entra de casa a dentro. Escondida em um
canto, ela vê Carlos sentado no sofá. Ele tem um curativo na
testa e segura um copo com bebida. Junto dele está Nestor e
mais dois homens que tem por volta de 40 anos. Todos bebem e
riem alto. É quando Marta aparece de repente, assustando a
adolescente. Marta põe Luiza para fora.

No posto de gasolina, Luiza ajuda Vera a colocar o seu


boné e o avental de frentista. Vera pergunta se ela tem
certeza que quer fazer isso. Luiza explica que acha que a avó
está certa e que Nestor não fará o seu trabalho. Ela mesma vai
dar um jeito de descobrir o que houve. Ela beija Vera nos
lábios e sai correndo dali. Vera grita para que ela tenha
cuidado. Luiza sai fazendo barulho pela rua com a sua
mobilete. De dentro da loja de conveniências, o rapaz assiste
a tudo com um olhar de desaprovação.

Luiza estaciona a mobilete na entrada de uma construção.


O enorme galpão feitos de tijolos já está quase todo de pé. Lá
dentro é possível ver pessoas trabalhando. Receosa, Luiza
entra. Em um canto mais discreto, um homem de mais ou menos 30
anos, confirma que de fato um dos ajudantes do Gilson,
pedreiro responsável pela obra, não aparece desde o dia
anterior. O rosto de Luiza se ilumina. É quando ela mostra a
foto de Jonas no celular, mas o rapaz não o reconhece. Ele
explica que o nome do rapaz era Miguel, mas não tem certeza.

Luiza procura por Gilson, mas outro trabalhador da obra


informa que ele foi até a capital com o patrão para buscar
alguns materiais. A jovem mostra novamente a foto de Jonas, o
homem não o reconhece. Ela então pergunta se ele sabe algo
sobre o tal Miguel. Mas ao invés de responder, ele a interpela
sobre o paradeiro do rapaz. Ele diz que às vezes Miguel lhe
dava carona de moto até o Triângulo da Varjota e de lá seguia
pras bandas do Riacho do Meio, onde morava. Mas não tem mais
aparecido. De repente, ele aponta animado, dizendo que Gilson
está chegando. Luiza olha para trás e vê Carlos estacionar o
seu carro na entrada do lugar. Lá dentro descem ele e Gilson
(45).

Gilson balança a cabeça em negativa e devolve o celular


para Luiza. Carlos, que está de pé ao lado dos dois, pede para
ver. Ele também diz que nunca viu Jonas antes. Luiza está
visivelmente intimidada, mas Carlos age que como se nunca a
tivesse visto antes. Ela observa o seu curativo na testa e, de
canto de olho, percebe que uma das lanternas frontais do carro
dele está amassada. Ela agradece e se despede. Gilson deseja
sorte e lamenta que todos estejam abandonado a região. Luiza
liga a moto e vai embora. Carlos a observa partir.

Luiza pilota a mobilete barulhenta, que corta o vento


quente da CE 060. No céu, o sol castiga a paisagem já
ressecada. De repente, Luiza diminui a velocidade e para no
acostamento. Algo chamou a sua atenção. Ela estaciona o
veículo e caminha alguns metros na estrada. No asfalto, marcas
de pneu e minúsculos pedaços de vidro denunciam que houve
algum acidente ali recentemente. Luiza olha para trás. Há
alguns metros de distância, uma casinha muito simples repousa
a beira da estrada.

Fim de tarde. Luiza e Vera estão sentadas no banco


da Praça da Estação. Vera diz que Carlos não deve nem ter
reconhecido Luiza, pois o fato é que ele nunca olha na cara da
gente dali. A jovem provoca, dizendo que esse posto deve ser
lavagem de dinheiro, pois nunca tem ninguém. Luiza deita a
cabeça sobre o colo de Vera e diz que está cansada. Tudo o que
queria era que Jonas aparecesse e avó se tranquilizasse. É
quando a porta da delegacia se abre e, lá de dentro, Nestor
sai cambaleando. De longe, elas observam o homem descer a rua
e dobrar a esquina, bêbado.

Noite. Luiza chega em casa. Lá dentro tudo está


silencioso e todas as luzes estão apagadas. Luiza entra, liga
as luzes e chama pela avó, mas Santa não responde. Luiza liga
a lanterna do celular e sai na mata a procura da senhora.

Luiza anda com dificuldade em meio a vegetação seca e


espinhosa. Ela ilumina o caminho com a ajuda do aparelho
celular. Ela grita pelo nome de Santa e parece desesperada. De
repente, ela avista uma luz ao longe e dispara correndo na
mesma direção. Santa está sentada no tronco de uma árvore
seca. Ela usa uma camisola velha e está descalça. Ao seu lado
um lampião aceso ilumina tudo ao seu redor. Luiza chama pelo
seu nome, mas Santa não parece escutar. Quando Luiza pergunta
o que ela faz ali, Santa responde que estava atrás de Jonas e
afirma que o viu correndo para o mato. Luiza olha em volta.
Não há ninguém. Ela ajuda Santa a voltar para casa.

Santa dorme em uma rede na sala. Luiza a observa em


silêncio. Ela tem um ar preocupado. Os pés e pernas de Santa
estão feridos por conta da sua caminhada no mato seco e
espinhoso. Luiza cobre a avó com um lençol.

Luiza está deitada na cama de Jonas. O quarto dele é


pequeno: uma cama de solteiro e um guarda roupas velho. As
luzes estão apagadas e Luiza observa os adesivos
fosforescentes em forma de planetas do sistema solar pregados
no teto. Luiza vira de lado. É quando repara que há algo
embaixo do colchão. A jovem enfia a mão e tira de lá uma
revista sobre astronomia caindo aos pedaços. Ela passa as
páginas com aspecto de velho e, com a ajuda da lanterna,
observa as ilustrações de planetas, nebulosas e paisagens
fantásticas do espaço sideral. De repente, uma folha de papel
cai de dentro de uma das páginas. Luiza apanha o papel e lê o
que está escrito. São rabiscos estranhos que lembram um mapa.
Há um X marcado num ponto onde está escrito “Buraco de
Minhoca”. Luiza observa cada detalhe curiosa.

Manhã. Luiza pilota sua mobilete por uma estrada de terra


vermelha. É quando cruza com um senhor de mais ou menos uns 70
anos que caminha no acostamento. Ele usa um chapéu grande de
palha para se proteger do sol e carrega uma vara de pescar.
Luiza pergunta se ele sabe onde mora Miguel. O homem nega, mas
diz que tem algumas casas mais a frente. Luiza segue viagem.

Luiza bate na porta de uma casinha pequena e bastante


simples que fica no meio do nada. Socorro (60), uma mulher de
expressão cansada, aparece. Luiza explica diz que está a
procura de Miguel.

A casa é bem pequena, com paredes e chão de barro. Luiza,


Socorro e Dalila (27), visivelmente impaciente, estão sentadas
na salinha minúscula. Ali perto, duas crianças pequenas
assistem TV. Luiza segura um celular nas mãos e observa a foto
de Miguel (30), filho de Socorro e marido de Dalila.
Coincidentemente ele também está desaparecido há dois dias.
Uma das crianças levanta correndo e se aproxima de Luiza. Ele
pede para mexer no celular, mas Dalila o repreende, dizendo
que aquilo não é brinquedo. Contrariada, a criança volta para
frente da TV. Socorro diz que ele tava trabalhando numa obra
fazia um mês e que aquele dia ele não retornou. Dalila diz que
Miguel foi embora como todos os outros e que sozinhas não
sabem como vão se virar com duas crianças e um idoso.
Irritada, Socorro diz que ela não deve falar o que não sabe.
Na TV, a transmissão ao vivo das primeiras imagens da
tripulação a caminho de Marte. Luiza tem o olhar perdido.

O sol castiga a paisagem. Luiza e Santa colhem os últimos


pimentões que nasceram, mas só conseguem salvar alguns poucos
legumes. Toda a plantação secou de um dia para o outro,
matando a colheita. Santa então pega o facão que carregava e
começa a destruir todos os pés de pimentão. Luiza a observa
parada. Santa para, vira-se para a neta e diz que ela tinha
razão, aquilo tudo é inútil. A senhora joga o facão no chão e
entra em casa. Luiza fica ali sozinha.

A casa de taipa é pequena e bastante simples. Luiza se


aproxima da porta de entrada e bate palmas. Ninguém aparece. A
jovem então dá a volta por trás da casa e chega a uma espécie
de quintal. È quando um homem de mais ou menos 35 anos aparece
e pergunta o que a jovem quer ali. Luiza tenta se explicar e
diz que está a procura do irmão desaparecido. Ela levanta a
voz e manda ela sair dali. Mesmo com medo, Luiza pergunta
sobre o tal acidente. O homem entra a bate a porta. Luiza fica
ali alguns segundos, então vai embora.

Quando Luiza já está chegando na estrada, uma mulher abre


a porta da frente da casinha e grita, confirmando que houve
sim um acidente. Luiza para e pergunta para ela se ela viu
alguma coisa. Maria (30) uma mulher de traços delicados e
corpo pequeno, diz que estava escuro e que não conseguiu ver
nada. Lá de dentro o homem grita para que Maria entre, mas ela
o ignora e completa, contando que uma ambulância de Fortaleza
veio até o local. Luiza sabe que não é comum ver o socorro da
capital aparecer por ali. Maria entra e fecha a porta. Luiza
observa o local do acidente.

Noite. Luiza bate na porta da casa de Vera, que fica ao


lado do comércio de Geraldo. Lá de dentro ela ouve Vera
discutir com o pai. Silêncio. O pequeno portão de ferro se
abre e Vera aparece na porta, contrariada. Ela pergunta o que
Luiza quer e diz que a jovem só aparece quando precisa de
algum favor. Luiza abraça Vera. As duas ficam ali em
silêncio.

Luiza e Vera chegam na caminhonete de Geraldo. Na parte


de trás está a motocicleta de Luiza. Santa aparece na porta e
se ilumina ao ver as duas. Ela diz que se soubesse que tinha
visita teria preparado algo pro jantar. Vera diz que ela não é
visita e não precisa se preocupar. Santa abraça a jovem e a
beija na testa. Ela faz o mesmo com Luiza. Vera pergunta se
pode dormir ali, pois o pai a expulsou de casa. Luiza ri e
explica para a avó que foi só um desentendimento e logo farão
as pazes. Ela então mostra o que trazia nas mãos: três espigas
de milho bem gordas. “Presente do Seu Geraldo pra senhora”.

A fogueira acesa na parte da frente da casa arde,


iluminando a noite escura. Vera segura dois espetos junto a
brasa. Luiza está sentada no murinho do alpendre e Santa se
balança na rede. Vera tira os milhos assados do fogo e corre
em direção a casa. Ela entrega um para Santa e outra para
Luiza. Santa conta de quando costumava passar as noites
comendo milho e batata doce feitos na brasa das fogueiras de
São João. Ela brinca que o pai sempre brigava para que ela
parasse de brincar com fogo ou iria fazer xixi na cama, mas
confessa que nunca foi muito obediente. As duas jovens riem.
As três comem milho e durante uns poucos instantes esquecem da
ausência de Jonas.

Luiza amarra a caixa na mobilete. Vera chega lá de dentro


carregando alguns objetos: roupas, itens de cozinha, alguns
livros. Ela coloca tudo dentro da caixa e ajuda Luiza a
prender tudo com cuidado. Santa aparece e observa as duas.
Luiza comenta que ninguém vai querer comprar aquela tralha,
mas Santa diz que se ninguém quiser comprar, ela jogue fora
então. “Não dá pra comer nada disso mesmo”, comenta a senhora.
Vera reclama da miséria que Carlos paga para Luiza no “posto
fantasma”. Luísa sobe na moto e sai em disparada. Vera fica
com Santa.

O mercadinho de Geraldo está às moscas. A TV está ligada


e transmite um jogo de futebol. A caixa cheia de objetos está
em cima do balcão. Com a cara séria, Geraldo analisa tudo em
silêncio, pega a caixa e guarda lá dentro. Luiza o observa.
Ele afirma que ninguém vai comprar nada daquilo, mas de
repente ela consegue trocar em alguma outra coisa. Ela
agradece. O silêncio entre os dois parece constrangedor.

Luiza pergunta quem está jogando, mas Geraldo não sabe e


explica que só deixou a TV ligada para lhe fazer companhia.
Silêncio. Ele faz menção em dizer algo, mas desiste. Luiza
comenta que Vera mandou um abraço. A expressão séria daquele
homem se desfaz discretamente. Ele pergunta se a filha está
bem. Luiza diz que sim e que ela ficou fazendo companhia para
a avó, que não está lá muito bem. O homem pergunta sobre
Jonas, mas Luiza se entristece ao lembrar do irmão. Geraldo
pede para que ela espere ali, entra no mercadinho e, alguns
segundos depois, sai segurando nas mãos uma revista parecida
com aquela que Luiza encontrou no quarto de Jonas. Ele a
entrega a garota e diz que havia separado para o rapaz, pois
sabe que ele gostava desse tipo de leitura. Luiza pega a
revista, agradece e vai embora. Do outro lado da, ela observa
Geraldo sozinho no balcão vendo TV.

Dia. Posto de gasolina. Luiza está sentada no mesmo lugar


de sempre quando a caminhonete para há alguns metros dali,
fazendo barulho. Lá dentro estão Vera e Santa. Luiza se
levanta depressa e vai até elas, questionando o que fazem ali.
Santa manda Luiza entrar e informa que quer ver com os
próprios olhos o tal lugar do acidente. Vera olha desconfiada
para Luiza e pede desculpas por ter contado, mas Santa assume
a sua culpa e diz que Vera só a ajudou. Luiza diz que não irá
e que avó deve voltar para casa. Então Santa avança sobre o
volante e começa a buzinar. Luiza pede para que ela pare, olha
para trás e percebe que o rapaz a observa do outro lado do
vidro da loja de conveniências. Santa pede para que ela entre
de uma vez e continua apertando a buzina Luiza dá a volta na
caminhonete e entra ao lado de Santa. A caminhonete vai
embora.

Luiza, Santa e Vera estão em frente da casa de Maria.


Luiza bate insistentemente na porta, mas ninguém atende. vera
empurra a porta, que se abre sozinha. As três entram na casa.
O lugar é pequeno e bastante simples. A casa está totalmente
vazia, não há móveis ou qualquer sinal de que alguém more ali.
Luiza jura que a casa é essa e que esteve ontem no local.
Santa diz que tem algo muito estranho nessa história e diz que
elas irão a Fortaleza descobrir o que houve nesse acidente.
Vera se anima, mas Luiza diz que a avó enlouqueceu e a lembra
de que não conseguirão entrar. E completa dizendo que Vera não
tem carteira. É quando Santa abre a bolsa e tira de dentro uma
carteira de motorista. A neta pega o documento e dá uma
olhada. Ali diz que está vencida há mais de dez anos.

Vera pilota a caminhonete barulhenta pelo asfalto quente


da CE 060. Santa e Luiza observam a paisagem seca lá fora. O
vento quente entra pelas janelas abertas.

O sol dá uma trégua, se escondendo atrás de nuvens mais


densas. A caminhonete segue viagem, dessa vez com Santa
dirigindo. A senhora comenta sobre as nuvens no céu e diz que
parece “bonito de chuva”. Ali, a paisagem está menos seca do
que na região em que vivem. È quando elas avistam o posto de
controle da fronteira. As três se ajeitam no banco. Santa diz
para as jovens ficarem calmas e não fazerem nenhuma bobagem.
Vera, que mascava um chiclete, tira-o da boca e guarda no
porta luvas. Luiza comenta o fato, mas Vera pergunta se ela
sabe o quanto é difícil conseguir um chiclete em Quixadá.
Santa manda elas calarem a boca. Um homem vestido como militar
faz sinal para que elas parem. Ele se aproxima segurando um
fuzil e pergunta onde está a autorização para entrada. Santa
tenta explicar a situação, mas de forma rude, o homem diz que
só podem passar com uma autorização. Santa insiste. Outro
homem se aproxima e aponta o fuzil. Ele manda as três descerem
do veículo.

Santa, Luiza e Vera estão encostadas na caminhonete, de


costas para os dois homens armados que fazem perguntas de
maneira grosseira. As três estão com o rosto encostado no
veículo. Pelo vidro da janela, Luiza observa o movimento do de
um terceiro homem, que faz uma busca no interior do veículo.
Eles não encontram nada e as mulheres são liberadas. Sob
ameaças de serem detidas, eles ordenam que elas voltem por
onde vieram.

Vera comanda novamente o volante. Ela mantém os olhos


fixos na estrada à sua frente. Luiza vai no meio e Santa está
na janela. As três estão em silêncio absoluto e não se olham.
Santa observa a paisagem com olhar perdido e preocupado. De
alguma forma as três mulheres não comentam nada sobre o que
acabou de acontecer. De repente, Santa pede para que Vera
entre em uma estradinha secundária que cruza a CE-060. Vera
obedece e a caminhonete segue um atalho que leva em direção ao
açude Cedro.

Fim de tarde. A caminhonete está estacionada na margem do


açude. Luiza, Santa e Vera nadam nas águas do Cedro.

Noite. Santa e a neta estão sentadas no alpendre. A


senhora está numa cadeira e Luiza no chão. A avó penteia os
cabelos molhados da jovem. Santa se questiona se Vera e
Geraldo já terão se entendido. Luiza espera que sim. A idosa
diz que Vera é uma boa moça. Luiza ri e brinca com a avó que
até bem pouco tempo implicava com a garota. Mas Santa nega,
dizendo que era apenas cuidado. A avó diz que Vera pode dormir
lá de vez em quando, mas não no mesmo quarto da neta. Ela
poderá ficar no quarto de Jonas, pelo menos enquanto ele não
volta. As duas ficam em silêncio. Santa volta a escovar os
cabelos de Luiza.

O sol brilha suave no céu da manhã. Uma música toca


animada em um celular. Luiza arranca com as próprias mãos os
restos mortais da antiga horta de pimentões. Há alguns metros
dali, com a ajuda de uma enxada, Santa prepara o terreno para
um novo plantio. De repente, a música para e o celular toca.
Luiza vai até lá e atende. O que ela escuta do outro lado a
faz tremer e levar a mão à boca.

O sol forte queima a Praça da Estação. O ônibus escolar


antigo dá a partida e sai. Dentro dele, Luiza e Santa estão
sentadas uma ao lado da outra. Elas estão mais arrumadas que o
normal. O ônibus percorre a cidade. Pela janela, Luiza vê Vera
correr do outro lado da rua. A jovem acena, mandando um beijo
para a namorada. Luiza faz um sinal para ela. Ela tem os olhos
marejados.

O motorista que pilota o ônibus escolar caindo aos


pedaços está parado na fronteira onde no dia anterior Santa,
Luiza e Vera foram revistadas e violentamente tratadas. O
soldado do lado de fora checa as autorizações, vai até a
janela do ônibus e observa Santa e Luiza sentadas em um dos
bancos. Além delas há mais três pessoas ali, sentadas em
bancos longe um dos outros. A entrada é liberada e o ônibus
entra na área da cidade de Fortaleza. Pelas janelas, aos
poucos, vemos os primeiros sinais de vida urbana: semáforos,
carros parados num engarrafamento que não parece ter fim,
​ placas, propagandas, pessoas que caminham nas ruas.
outdoors,
A vida segue caótica e normal na capital cearense. As mulheres
olham pela janela. Seus olhares são uma mistura de aflição e
encantamento.

O prédio do IML é amplo e iluminado por luzes


fluorescentes. Santa e Luiza estão numa espécie de sala de
recepção. Ao fundo toca uma música ambiente suave. É quando um
funcionário do lugar aparece e informa que apenas uma delas
poderá seguir para o reconhecimento. Luiza diz que irá. Santa
agradece. Ela abraça a neta e beija seu rosto. As duas tem os
olhos cheios de lágrimas. O homem às pressa. Luiza entra e
Santa fica lá esperando.

A sala preparada para o reconhecimento do corpo é fria e


iluminada por luzes artificiais, dando ao local um ar
desolador. Sobre uma maca de metal o corpo do rapaz está
totalmente coberto. Um dos funcionários ali presentes pergunta
se ela está pronta. Luiza confirma com a cabeça. O homem
descobre o corpo. Tudo o que vemos é o rosto de Luiza, que
chora e leva a mão aos olhos.

Do lado de fora Santa espera agoniada. Quando a neta


chega e ela vê sua cara de choro, Santa se desespera. Luiza a
abraça e a acalma. Jonas não está ali. Elas permanecem
abraçadas.

Tarde. O ônibus percorre a estrada. Santa dorme sobre o


ombro de Luiza, que olha algo no celular. Ela lê a descrição
do que seria um buraco de minhoca e descobre que são espécies
de portais hipotéticos que permitem que a matéria viagem no
tempo e no espaço. De repente, Santa comenta se ela acredita
que é mesmo possível existir tal coisa. É quando Luiza percebe
que a avó está acordada e a observava. Luiza confirma com a
cabeça.
Santa e Luiza batem na porta da casa de Miguel. As duas
crianças saem correndo lá de dentro, curiosas para descobrir
quem é. Uma delas grita pela avó. Socorro aparece. Santa diz
que é a avó de Jonas. As duas estão ali para contar sobre o
corpo no IML da capital.

Noite. A Praça da Estação está bem iluminada. No meio da


dela há uma pequena aglomeração, algo que não costuma se ver
com muita frequência ultimamente. Um senhor de mais ou menos
uns 70 anos trouxe o seu telescópio para o lugar e auxilia
algumas crianças que tentam ver algo no céu. Luiza está
sozinha no banco da praça e observa tudo de longe. Do outro
lado da rua ela vê Vera e Geraldo conversando algo. De repente
os dois se abraçam. Luiza sorri ao ver a cena. Eles se
despedem e Vera atravessa correndo a praça e senta-se ao lado
de Luiza. Vera pergunta por Santa e Luiza diz que ela saiu
para comprimentar uma conhecida e ainda não voltou. A jovem
olha ao redor e não vê nenhum sinal da avó. Vera convida Luiza
para ir até o telescópio.

Luiza aproxima o rosto da objetiva do telescópio e tenta


focar. Vera pergunta o que ela está vendo. O senhor mexe no
aparelho e ajuda Luiza. De repente, a uma imagem pouco nítida
se forma. O telescópio caseiro mostra o pequeno corpo
avermelhado de Marte. Luiza o observa em silêncio. É quando
Santa aparece de repente. A neta se afasta do telescópio e
pergunta porque Santa demorou tanto. A avó diz que encontrou
uma conhecida e ficou conversando. Santa pede para ver o céu e
se aproxima do aparelho. De repente, alguém grita do outro
lado da praça algo que as jovens não conseguem ouvir. Um
burburinho se forma. Alguém aparece e diz que a casa do
prefeito está em chamas. Luiza e Vera se espantam com a
notícia. A mesma pessoa que deu a informação diz que o fogo já
se espalhou, mas que pelo que ficou sabendo não tinha ninguém
em casa. Santa tira o olho do telescópio e convida Luiza para
ir para casa. Luiza e Santa se olham em silêncio por alguns
segundos. Santa então convida Vera para ir com elas. A jovem
aceita, mas diz que o carro do pai parou de funcionar outra
vez e que não tem como levá-las.

A praça está vazia novamente. Luiza liga a mobilete. O


ronco do motor ressoa por toda Quixadá. Luiza pilota. Atrás
dela estão Santa e Vera, que se espremem para caberem na moto
caindo aos pedaços. As três partem dali devagar, iluminando a
noite com o ronco da mobilete e as suas gargalhadas.

Noite escura. Luiza caminha devagar pela mata seca. Logo


atrás dela vem Santa e Vera. Com a ajuda da lanterna do
celular Luiza ilumina a folha de papel com o mapa de Jonas.
Elas chegam a uma clareira no meio do mato seco. É ali o X do
mapa. A jovem reconhece a mesma árvore da foto que o irmão
postou no dia que desapareceu. As três mulheres observam o céu
estrelado logo acima de suas cabeças.

FIM

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