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Brasil,

Ainda sinto minhas costas sangrarem com as chibatadas, ainda sinto arder meus pés, que
tanto sustentaram meus ancestrais. Minha cultura e minha raiz não param de ser violadas,
minhas vontades não deixam de ser negadas. Há menos de 200 anos que conquistamos nossa
“liberdade”, mas nossa mente nunca deixou de der escravizada. Fomos catequizados,
invalidados, violentados, e grande parte tirados do seu país de origem, sem nem ao menos
sabermos nos comunicar com a língua “brasileira”. E ainda dizem que em algum momento
pode ser “mimimi”. O antigo ainda é atual, Baco Exu do Blues fala em uma de suas músicas
“Eles querem um preto com arma pra cima
Num clipe na favela gritando: Cocaína”, não querem ver pessoas pretas ocupando nenhum
palco, mas adoram falar que admiram seus shows.
Somos vítimas do estado, que nos matam simplesmente por confundir nossos
guardas-chuvas, em dias CHUVOSOS, com um fuzil.
Oh, pátria mãe gentil, eu ainda ouço o bater de correntes e todo o desespero da senzala, eu
sofro tanto e sangro tanto. No final das contas, nossa “liberdade” forçada, jogada no meio fio
depois de tirarem toda nossa humanidade, é tão recente que parece atual. Quando o
representante máximo do estado, diz que nenhum de seus filhos se relacionariam conosco
pois foram “bem educados”, todos seus seguidores acham tudo bem se tiverem o mesmo
pensamento, ou até pior. Um racismo estruturado, violento. Nossa potência não pode ser
apagada, nem nossa cultura. Adoram comercializar nossa cultura, nosso black, nossas tranças,
nosso estilo, mas não podem se esquecer que a carne mais barata do mercado, é a carne
negra. O sistema continua nos oprimindo, o preto caricato na televisão continua sendo
“engraçado”, mas onde fica nosso protagonismo com um papel sério e respeitado, nas
novelas das nove? Foram três séculos de escravidão, e após a abolição não fomos sequer
integrados pelo estado, em sociedade. Nosso sangue foi considerado sujo, fomos
considerados animais.
Nossa luta continua sendo dolorosa, mas necessária. Precisamos implorar por sobrevivência.

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