Você está na página 1de 2

ANA BEATRIZ DAS MERCÊS OLIVEIRA

ANÁLISE SOBRE O DOCUMENTÁRIO E A AULA

Acerca do documentário “Menino 23”, diversas mazelas da nossa sociedade são


retratadas. Fato é que apesar da história nos contar algo passado, este passado
ainda se faz presente, seja pelo racismo, escravidão, necropolítica, ou
estigmatização com um povo em específico. Não é novidade que volta e meia
notícias que relatam sobre pessoas negras e em grande maioria nordestinas são
resgatadas em trabalho análogo à escravidão. Será que há uma remodelação na
forma como a exploração com o povo preto acontece?

Recentemente, vi um trecho da música de Edson Gomes, o qual dizia: “quando


eu morava na casa satanás, eu era o seu prisioneiro”. Logo, fiz uma relação com as
questões apresentadas no documentário, na história da escravidão. Satanás, que é
a representação do mal, é retratado na música como aquele que aprisiona, que
explora, mas que socialmente é visto como o “bom moço” e que não faria tais
atrocidades. Isso me recorda também a fala da professora sobre o nosso país ser
racista, mas ninguém se considerar racista. Entretanto, nos dias atuais o racismo
acontece tanto na forma explícita como na forma implícita. Criamos uma visão do
racismo praticado nos filmes, livros e como a história nos conta e esquecemos que
qualquer pessoa pode ser racista. Quando negações sobre isso ocorrem, dar-se
margem para que a mudança nunca venha a acontecer e essas atitudes continuem
sendo impunes. E assim, o racismo vai se remodelando mas sempre se fazendo
presente e protegido.

Muito me impressiona ou nem tanto quando um político quer remanejar a grade


curricular de crianças e adolescentes em formação educacional, na tentativa de
extinguir matérias como história. Afinal, o que não é visto não é lembrado, e assim
todos os absurdos praticados e as mazelas vividas por nossa sociedade caem no
esquecimento dando brecha para que a história se repita e não haja uma
construção crítica da história humana.

A eugenização, algo tão desconfortante, principalmente diante todas as


fatalidades causadas pelo nazismo teve sua positivação constitucional em 1934 no
Brasil, especificamente no Artigo 138, “a União, os Estados e aos Municípios, nos
termos das respectivas leis caberia: a) estimular a educação eugênica”. O que é
absurdo, não era tão absurdo assim para as classes sociais mais elevadas. Apesar
de muito tempo ter passado, é notório o quanto essa “educação” voltada para
diferenciações sociais e étnicas ainda é refletida no pensamento social. Lembro-me
da professora falando que tudo é um projeto de longo prazo e que vem
acontecendo. Isso se faz evidente à medida que ainda hoje, mesmo após longas
gerações, se tem um inconsciente coletivo de que a pele negra é a que mata, a que
rouba, a que estupra, a menos inteligente.
Outra vertente que se fez importante foi o debate é sobre o privilégio branco.
Peggy McIntosh diz: “Acho que os brancos são cuidadosamente ensinados a não
reconhecer o privilégio branco”. E assim o racismo toma mais uma vez forma a
medida que existem vantagens pelo simples fato de ser branco. Não importa se
você tem menos qualificação, a branquitude te garante a oportunidade. E ainda dá
um extra de proteção, confiança, blindagem de situações como assédio, preconceito
e violência. Infelizmente conscientes ou não, os brancos se privilegiam do racismo
que impera em nosso país. “Basta acordar mais cedo, se esforce, trabalhe mais”,
todos esses “conselhos” criados pela mentira da meritocracia faz com que a
população preta e pobre passe mais tempo trabalhando e incomodando menos, e
não lutando para mudar uma realidade cheia de obstáculos estruturais que são
enfrentadas desde o nascimento.

Você também pode gostar