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Anotações do livro: O NEGRO NO MUNDO DOS BRANCOS

Forestan afirma existir dois ingredientes da anulação do negro: um é a destruição dos


movimentos étnicos pela ideologia da igualdade racial, o outro é pelos mecanismos de
captação individualista da ascensão de alguns indivíduos para as camadas mais ricas. (esse
segundo é interessante para se pensar a política de cotas). Através desse aparelhos as classes
mais abastardas se valem de mecanismos parasitários para infeccionar a identidade negra e
copta-lá para um mundo idealizado pelos brancos, por isso os movimentos negros são
sufocados, entendo como solução a reafirmação da identidade, porém apontando para a
desfetichização da diferença, é preciso ser mutante.

Achei interessante a problematizarão que o autor faz nas páginas 11 (final), 12(toda),
13(início) sobre o sufocamento do ativismo negro, pois ele está locado em uma cultura que
não respeita sua ancestralidade, prega sua ascensão, mas para isso ele terá que se submeter
as regras do jogo dos brancos.

A sociedade brasileira não é só um produto do branco, porém ela foi montada para ele (pg.14)

Ainda na pg. 14 é feita uma importante observação sobre o branco que está marginalizado,
Forestan afirma que esse não é socialmente branco, pois deixa de ser reconhecido pela sua
etnia que o classifica pela classe e não pela cor. É importante observar nisto o processo de
marginalização dos atributos culturais negros.

É feita uma observação na pg. 15 falando sobre a contribuição negra na construção do Brasil,
citando inclusive Gilberto Freyre, porém é dito que tal intervenção não alterou a situação a tal
ponto que essa nação se tornasse um espaço igualitário para todas as etnias. É também feita
uma ressalva sobre o processo de embranquecimento que foi submetido o negro para se
encaixar melhor em um mundo projetado para os brancos.

“As portas do mundo dos brancos não são intransponíveis. Para atravessá-las, porém, os
negros e os mulatos passam por um abrasileiramento que é, inapelavelmente, um processo
sistemático de branqueamento” pg. 16

Na página 24, Forestan fala sobre os processos de negação do preconceito q visam apagar tbm
as realidades sociais diferentes das etnias no Brasil.

"Do ponto de vista e em termos da posição sociocultural do branco, o que ganha o centro do
palco não é o preconceito de cor. Mas uma realidade moral reativa, que bem poderia ser
designada por "preconceito de não ter preconceito".

"ignorando a natureza real do drama das populações negras e mestiças, o papel que a
escravidão teve para criar esse drama, os deveres da fraternidade cristã, os imperativos da
integração nacional em uma sociedade de classes e etc., o "branco" propende a um
ajustamento de "falsa consciência". Em lugar de procurar entender como se manifesta o
"preconceito de cor" e quais são seus efeitos reais, ele suscita o perigo de absorção do
racismo, ataca as "queixas" dos negros e dos mulatos como objetivação desse perigo e culpa
os "estrangeiros" por semelhante "inovação" estranha ao carácter brasileiro"
No capítulo intitulado “A democracia racial, o mito e a realidade” Forestan critica a tese de que
a miscigenações foi um instrumento de democratização as raças, ele fala que na verdade esse
foi um aparelhamento do branco para parasitar as articulações negras, colocando uma
proposta de ascensão da etnia dominada que deveria passar por um processo de mutação que
lhe tornasse uma cópia do seus dominadores, podendo assim ascender e se tornar igual.

“Sob a égide da idéia de democracia racial justificou-se, pois, a mais extrema indiferença e
falta de solidariedade para com um setor da coletividade que não possuía condições próprias
para enfrentar as mudanças acarretadas pela universalização do trabalho livre e da
competição. Ao mesmo tempo, assim que surgiram condições para que o protesto negro
eclodisse (logo depois da primeira grande guerra e, em particular, no fim da década de 20), tais
manifestações foram proscritas como se constituíssem um “perigo para a sociedade”.” Pg. 29

Forestan relata no fim desse capítulo que houve avanços para democracia social no Brasil,
citando como exemplo o caso do nordeste e da economia de subsistência, dizendo que com
isso e somado ao alargamento das oportunidades de emprego se nosso país potencializar
essas experiências podemos nos tornar uma grande democracia racial. Acho importante
destacar que ambos os exemplos citados por Forestan são marginalizados pelas corretes
político/econômico de maior capilaridade, por isso fico receoso, pois para mim esse é apenas
mais uma forma de oxigenação do sistema de tradição escravocrata brasileiro, que pode dar
certas concessões, mas é bom salientasse que ele não têm como horizonte a igualdade.

Forestan faz essa mesma observação que fiz a cima no capítulo que vêm após, intitulado “As
perspectivas futuras”, ele diz inclusive que na economia de subsistência brancos e negros eram
nivelados para baixo.

“Na medida em que os diferentes círculos da “população de cor” passem a participar


ativamente das aspirações de emprego, níveis de vida e oportunidades de ascensão social que
se tendem a universalizar graças ao desenvolvimento urbano, é presumível que a tolerância do
“negro” e do “mulato” diante das “injustiças raciais” que sofrem irão evoluir da passividade à
agressividade.” Pg. 33

“Doutro lado, a questão racial também afeta o equilíbrio da sociedade nacional. Não poderá
haver integração nacional, em bases de um regime democrático, se os diferentes estoques
raciais não contarem com oportunidades equivalentes de participação das estruturas nacionais
de poder” Pg.33 – 34

No fim desse capítulo Forestan faz três propostas para tentar resolver o problema da questão
racial. A primeira é que o Estado faça medidas reparativas para essa população, a segunda que
o negro e o mulato mudem suas atitudes frente ao homem de cor, e o terceiro que o branco
deixe de cometer falácias quanto à democracia racial e se solidarize ao negro para que haja
uma integração nacional. Primeiramente , como o próprio Forestan fala em seu trabalho, o
estado está construído para o branco se afirmar, esperar resposta desse estado é esperar a
sensibilidade do agressor para entender que sua porrada dói, tal sensibilidade parece ser
esperada ingenuamente pelo autor quando ele solicita isso no terceiro ponto, é bom
denunciar a falácia da democracia racial e também é bom entender que ela é vista como
verdade pelos colonizadores não por displicência, mas por necessidade de dominar, então
acredito que essa denuncia deve ser salientada nas organizações negras, para assim poder
encontrar ressonância. Quanto a critica que é feita ao comportamento do negro em resposta
as ações de descriminação, acredito que se não for feita uma eclosão das estruturas em voga
conjuntamente com o empoderamento do negro para se colocar contra o racismo nada
acontecerá, pois essas estruturas captam suas energias e as direcionam para organicidade do
sistema validado.

Na pg.54 - 55 tem um texto interessante sobre a ascensão do negro, é uma base interessante
para argumentar uma angustia que discuti com bere sobre a anulação do povo q faço parte
para tentar me encaixar na academia. A reflexão sobre o cinismo tbm se aproxima da minha
solução para o problema.

“A organização da sociedade impele o negro e o mulato para a pobreza, o desemprego ou o


subdesemprego, e para o “trabalho de negro”.”

Na pg. 66 é feita uma importante observação sobre a vantagem do imigrante branco sobre o
negro na questão da acumulação de capital, já que um tinha mais noções sobre os processos
de administração e outro não.

O movimento de periferização é relatado na pg. 67, quando o autor afirma: “três gerações
sucessivas conheceram o que poderiam significar a desorganização social como estilo de vida.
Quarta, a fuga para as cidades pequenas, em que o trabalho semi especializado, o trabalho
especializado ou o artesão poderiam resguardassem da competição com os brancos,
estrangeiros ou nacionais e começar a vida nova. Tal solução implicava uma aceitação
voluntária de posições vantajosas, sem esperanças em relação ao futuro” (essa citação pode
ser usada na pesquisa “corredor: a periferia da sala de aula”)

“Evidencia-se que os problemas do negro e do mulato brasileiro são, acima de tudo, um


problema gerado pela incapacidade da sociedade nacional de criar rapidamente uma
economia capitalista expansiva, capaz de absorver os ex-escravos e os libertos no mercado de
mão-de-obra. Em virtude disso, eles foram expulsos para periferia da ordem social competitiva
ou para estruturas semicoloniais e coloniais herdadas do passado. Essas estruturas
semicoloniais e coloniais desempenharam importantes funções na manutenção da economia
rural, especialmente onde as plantações, as fazendas de criação ou as aldeias dependiam (ou
dependem) de formas de trabalho semicapitalistas.” Pg. 67 (essa citação pode ser usada na
pesquisa “corredor: a periferia da sala de aula”)

Na pg. 74 é falada da dificuldade das pessoas se auto identificarem com sua cor e como isso
pode gerar um desafio para o sociólogo

"O dilema racial no Brasil constitui um fenômeno sociológico essencialmente político. Ele tem
raízes econômicas, sociais e culturais; e produz efeitos ramificados em todas as direções.
Todavia, sua própria existência só é possível graças a certas estruturas de poder, que o tornam
inevitável e necessário. E q sua perpetuação, indefinida ou transitória, indica mais que isso,
pois testemunha não só que grupos, classes ou raças dominantes são capazes de manter tais
estruturas de poder, mas que, ao mesmo tempo, grupos, classes e raças submetidos à
dominação são impotentes para impor sua vontade e corrigir a situação."
"Na América Latina a expansão do capitalismo desenrolou-se em cenários étnicos e raciais
muito complexos e heterogêneos. As grandes crises e transições começaram e acabaram - ou
apenas terminaram - como "revoluções de cima para baixo", sob a tutela ou arbítrio do poder
conservador, o poder supremo de ralas minorias brancas."

Na pg 261 é feita uma observação interesante sobre a barganhar para se conseguir direitos na
sociedade capitalista

Na conclusão do IV cap., na segunda

parte do livro, mais especificamente no final, Forestan fala sobre como o mito da democracia
racial anulou as organizações negras e que precisa se haver um movimento organizado.
Acredito que esse mito tenha enfraquecido a consolidação de organizações que
estabelecessem um diálogo mais evidente com a hegemônica ordem em voga, porém elas não
estavam/estão extintas, apenas se estruturavam por vias que não estão credibilizadas, pois é
mais interessante para o poder que dispõe de maior capilaridade negar sua atuação.

Segundo o senso de 1950, 21% da população negra feminina empregada em trabalhos


domésticos.

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