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O comportamento das baleias jubarte foi observado para detectar diferenças nas probabilidades de ocorrência
de determinadas categorias comportamentais observadas a partir de cruzeiros de pesquisa e de turismo.
Foram analisados dados de 256 grupos observados durante os cruzeiros de pesquisa e 122 grupos em cruzei-
ros de turismo, nas temporadas de 2001 a 2003, no litoral norte da Bahia. A análise de rede bayesiana forneceu
maiores probabilidades de ocorrência para as categorias do tipo deslocamento, socialização e agressivo, en-
quanto a análise comparativa não forneceu diferenças expressivas entre as duas categorias de cruzeiro. De
acordo com as probabilidades de ocorrência da conduta repouso para grupos com filhote e devido a uma
possível interrupção do ato de amamentação causada pelas embarcações, sugere-se uma distância mais
conservativa e um menor tempo de permanência com esses grupos.
Descritores:. Métodos de observação. Cetáceos. Baleias jubarte. Megaptera novaeangliae.
Whale-watching as a tool to study humpback whales (Megaptera novaeangliae) behavior. Humpback whales
behavior was observed to determine the existence of differences between observations occurring from research
vessels vs. whale-watching vessels. A total of 256 groups were observed from research vessels and 122 groups
from whale-watching vessels during the breeding seasons from 2001 through 2003 in the northern coast of
the state of Bahia, Brazil. A Bayesian network analysis yielded greatest probabilities of occurrence of the
behavioral conducts traveling, socialization and aggressive. Significant behavioral differences between cruise
types were not obtained through comparative analysis. Given the probability of occurrence of resting conducts
in calf pods and the possibility of the interruption of suckling caused by vessels, it is suggested that a more
conservative distance and shorter visits be adopted by whale-watching groups.
Index terms: Observation methods. Cetacea. Humpback whales. Megaptera novaeangliae.
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Diana Gonçalves Simões, Regina Helena Ferraz Macedo e Márcia H. Engel
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Turismo de observação no estudo do comportamento de baleias jubarte
devido à presença dos barcos (Lusseau, 2003). temente observado durante as disputas dos ma-
Como a conduta socialização é geralmente des- chos pelo acesso a uma fêmea fértil (Baker &
crita como um potencial reprodutivo da popu- Herman, 1984; Tyack & Whitehead, 1983).
lação, menor tempo gasto em socialização pode As baleias jubarte são conhecidas pela fre-
acarretar em menor sucesso reprodutivo para qüência com que se engajam em comportamen-
esses indivíduos (Lusseau, 2004). tos aéreos e de alta energia. Muitos desses displays
A baleia jubarte, Megaptera novaeangliae, é são observados em áreas de alimentação e de re-
uma espécie cosmopolita (Dawbin, 1966), sendo produção e praticados por animais de ambos os
comumente associada a ilhas e ambientes recifais sexos e de diferentes classes etárias. Sua função,
(Whitehead & Moore, 1982). Realiza, sazonal- no entanto, é geralmente desconhecida
mente, grandes migrações entre áreas de alimen- (Clapham, 2000).
tação, junto aos pólos, e áreas de reprodução e
Neste estudo, investiga-se a existência de
cria, em águas tropicais e subtropicais
diferentes padrões comportamentais em baleias
(Chittleborough, 1965; Dawbin, 1966). Há re-
jubarte observados a partir de duas categorias
gistro da espécie na costa do Brasil desde o Rio
de cruzeiro. Dados de cruzeiros de pesquisa em
Grande do Sul, ~31°S (Pinedo, 1985) até
contraste a cruzeiros de turismo, coletados no
Fernando de Noronha, ~3°S (Lodi, 1994).
litoral norte da Bahia, foram usados para testar
a hipótese de que a ocorrência das condutas
A baleia jubarte foi drasticamente explo-
comportamentais difere entre os dois tipos de
rada comercialmente em quase toda sua área de
cruzeiro. Isso porque as metodologias de apro-
ocorrência, inclusive na costa brasileira. O nú-
ximação (distância entre a embarcação e o gru-
mero de jubartes capturadas no Nordeste brasi-
po de baleias), as atividades realizadas durante a
leiro alcançou 352 baleias no ano de 1913
permanência com os grupos (biopsia de pele e
(Williamson, 1975) e o último registro que se
gordura, em cruzeiros de pesquisa) e o tempo
tem notícia é de 13 baleias capturadas em 1967
de permanência com os grupos de baleias jubarte
(Paiva & Grangeiro, 1970). Recentes estimativas
diferiram de acordo com as duas plataformas de
para a costa Nordeste (Zerbini et al., 2004) e Leste
observação.
(Andriolo et al., 2003) do Brasil indicam uma
possível recuperação da população de baleias A investigação dos padrões comporta-men-
jubarte e a reocupação de uma antiga área histó- tais pode prover valioso conhecimento sobre a
rica de distribuição. utilização da área pela espécie e sobre a resposta
dos grupos à aproximação das embarcações, sen-
A organização social das baleias jubarte é do igualmente útil no manejo de áreas potenci-
extremamente instável, com grupos tipicamente ais ao turismo de observação de cetáceos. Além
pequenos (Baker & Herman, 1984; Mobley & disso, pode fornecer subsídios para a avaliação
Herman, 1985; Whitehead, 1983). O comporta- das normas de avistagem no Brasil.
mento exibido em áreas de reprodução é
comumente determinado pela categoria dos in-
divíduos presentes no grupo (Baker & Herman,
Método
1984; Herman & Antinoja, 1977).
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Turismo de observação no estudo do comportamento de baleias jubarte
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Para a avaliação das diferenças entre gru- do com a composição desses grupos e a catego-
pos competitivos com e sem filhote e diferenças ria de cruzeiro. Os grupos do tipo dupla e sol
de ocorrência das condutas comportamentais, de foram observados com maior freqüência, enquan-
acordo com as diferentes categorias de cruzeiro, to fefiepes e fefimais foram observados em menor
utilizou-se o programa SPSS, versão 11.5 (SPSS, freqüência, em ambas as categorias de cruzeiro.
2003). Ainda, obteve-se uma predominância estatistica-
mente significativa de grupos competitivos sem
filhote (trio e triomais), quando comparado a gru-
pos competitivos com filhote (fefiepes e fefimais),
Resultados tanto em cruzeiros de pesquisa (teste qui-qua-
drado, χ2 =50,45, p<0,001) quanto em cruzei-
Composição dos grupos ros de turismo (χ2 =17,64, p<0,001) (Figura 2).
45
PESQUISA
TURISMO
PORCENTAGEM DOS GRUPOS
30
15
0
fefiepes
dupla
fefimais
triomais
fefi
fefiep
trio
sol
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Turismo de observação no estudo do comportamento de baleias jubarte
Figura 3. Modelo de rede bayesiana que resume as probabilidades de ocorrência das condutas
comportamentais observadas no litoral norte da Bahia, a partir de cruzeiros de pesquisa (A)
e de turismo (B) de acordo com os grupos de baleias jubarte: uma baleia adulta sozinha (sol),
duas baleias adultas (dupla), três ou mais baleias adultas (compet), fêmea e filhote (fefi), fêmea,
filhote e uma baleia acompanhante (fefiep). O “s” corresponde à probabilidade de ocorrência
e o “n” corresponde à probabilidade de não ocorrência.
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Turismo de observação no estudo do comportamento de baleias jubarte
Observações re % re Observações re % re
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rias de cruzeiro, a posteriore, poderão ser obti- Orams (2000) dirigiu um estudo sobre o
das, avaliando-se minuciosamente mudanças nos contentamento dos turistas de TOC e concluiu
estados comportamentais dos indivíduos e rea- que a presença das baleias e seu comportamento
ções à atividade de biópsia, por exemplo. É pro- são influências importantes na satisfação desses
vável também que comparações entre cruzeiros turistas, no entanto a proximidade dos barcos às
mais conservativos (maiores distâncias entre o baleias não parece ser um critério de peso nessa
grupo de baleias e a embarcação) e os cruzeiros satisfação. Conseqüentemente, os operadores de
aqui analisados forneçam diferenças significati- TOC não necessitam de grande aproximação às
vas quanto às condutas comportamentais baleias para satisfazer seus passageiros. Williams
investigadas. Embora não se tenha obtido dife- et al. (2002) advertiram sobre uma distância in-
renças expressivas quanto às duas plataformas ferior a 100m entre o grupo de baleias e a em-
de observação, muitos dos efeitos da presença barcação, mostrando que o TOC pode resultar
de barcos no comportamento das baleias envol- em altos níveis de distúrbio.
vem mudanças, especialmente, nas razões de
ocorrência do comportamento, ou no padrão de Muito pouco se sabe sobre os efeitos do
ocorrência de um conjunto de comportamentos turismo, a curto e longo prazo, no comporta-
(Corkeron, 1995). mento de cetáceos. No entanto, a investigação
dos padrões comportamentais pode ser bastante
Ocorrência da conduta repouso em grupos com filhote útil no fornecimento de subsídios para a avalia-
ção das normas de avistagem no Brasil e no ma-
A análise das probabilidades de ocorrên- nejo de áreas potenciais ao turismo de observa-
cia das condutas comportamentais apontou pro- ção desses animais.
babilidades de ocorrência superiores à média
para a conduta repouso, para grupos com filho- O turismo de observação de cetáceos ofe-
te, em ambas as categorias de cruzeiro. Ainda, a rece um uso comercial não letal desses animais,
porcentagem de ocorrência do comportamento podendo promover o aumento da responsabili-
repouso variou entre 10% e 40%, sendo igual ou dade ambiental do público em geral (Corkeron,
superior a 20% em grupos com filhote. A co- 1995). A utilização dos cruzeiros de turismo pode
mum observação do repouso nesses grupos pode ser também uma ferramenta alternativa no estu-
estar refletindo uma conseqüência do alto custo do do comportamento de cetáceos, sendo de
da reprodução para as fêmeas, que além de não grande valia para cientistas de todo o mundo. O
se alimentarem, ou se alimentarem esporadica- surgimento de parcerias entre operadoras de
mente em áreas de reprodução (Chittleborough, turismo e instituições de pesquisa pode gerar,
1965), produzem um leite de alto teor calórico por um lado, importantes elucidações compor-
(Lockyer, 1986). Como conseqüência, o repouso tamentais e, por outro, a fiscalização, principal-
seria mais comumente observado nesses grupos. mente por parte dos cientistas, das normas de
avistagem de cetáceos decretadas pelos órgãos
Baseado em probabilidades de ocorrência responsáveis.
da conduta repouso, obtidas para grupos com fi-
lhote, e devido a uma possível interrupção do
ato de amamentação causada pela aproximação Referências
das embarcações e à imaturidade intrínseca do
filhote, sugere-se uma distância mais conservativa Altmann, J. (1974). Observational study of behavior:
e um tempo menor de permanência das embar- Sampling methods. Behaviour, 49, 227-67.
cações de turismo com esses grupos, podendo Andriolo, A., Martins, C. C. A., Engel, M. H., Pizzorno,
assim conferir maior benefício para esses ani- J. L., Más-Rosa, S., Morete, M. E., & Kinas, P. G.
mais. Há indicadores, em outras áreas, de que (2003). Second year of aerial survey of humpback
whale (Megaptera novaeangliae) in the Brazilian
fêmeas com filhote têm desertado regiões que
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