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Tudo sobre o Perseverance, veículo

da NASA que será lançado rumo a


Marte esta semana
por

George Dvorsky

publicado em

27 de julho de 2020 @ 08:20

atualizado em

27 de julho de 2020 @ 08:22

Representação artística do rover Perseverance da missão Mars 2020 da NASA. Imagem: NASA / JPL-Caltech
A NASA deve lançar seu próximo veículo espacial para Marte em 30 de julho. Vem aí uma nova
e empolgante fase na exploração humana do Planeta Vermelho. Aqui está o que você precisa
saber sobre o veículo espacial Perseverance e por que é a nossa melhor aposta até o momento
para encontrar evidências de vida em Marte.

Quando o Perseverance pousar em Marte em fevereiro de 2021, supondo que tudo corra bem
com a viagem, o veículo espacial será o quinto a chegar ao Planeta Vermelho, depois de seus
predecessores Sojourner, Spirit, Opportunity e Curiosity. O Perseverance é o rover mais
avançado da NASA até agora, mas, para ser justo, ele é fortemente inspirado no Curiosity, que
está dando um rolê por Marte desde 2011.

“O Perseverance é essencialmente a versão 2.0 do Curiosity”, disse Kenneth Farley, cientista do


projeto Mars 2020 e geoquímico da Caltech, ao Gizmodo.

O lançamento do Perseverance no topo de um foguete Atlas V da Base da Força Aérea de Cabo


Canaveral está marcado para 30 de julho às 7h50 na hora local (8h50 no horário de Brasília). A
NASA está conseguindo realizar a missão Mars 2020 apesar da pandemia de COVID-19 (o
mesmo não pode ser dito em relação à ExoMars, infelizmente). Esta é uma ótima notícia, dada a
janela de lançamento limitada para Marte, que acontece uma vez a cada 26 meses.
Instrumentos científicos no Perseverance. Imagem: NASA / JPL-Caltech

Após sua viagem de sete meses ao Planeta Vermelho, o veículo espacial pousará na cratera
Jezero — o local de um antigo lago e de um antigo delta de rio.

O veículo espacial de US$ 2,7 bilhões passará os próximos dois anos procurando por sinais de
vida microbiana antiga, analisando a geologia e o clima do planeta, estudando rochas e
sedimentos, lançando um helicóptero (sim, um helicóptero!), fazendo demonstrações de
tecnologia para futuras missões e coletando e armazenando amostras para uma futura missão de
recuperação, entre outros objetivos da missão.
Mas, como demonstraram os rovers anteriores, essa missão, gerenciada pelo Laboratório de
Propulsão a Jato (JPL) da NASA, provavelmente durará mais do que os dois anos planejados.

➜ Brasileiro da NASA conta os detalhes da próxima missão da agência em direção a Marte em


2020

➜ Veja o primeiro passeio de testes do rover da missão Mars 2020 da NASA

Um veículo para todo tipo de terreno marciano

O Perseverance tem aproximadamente o mesmo tamanho do Curiosity, medindo 3 metros de


comprimento, 2,7 m de largura e 2,2 m de altura. Com 1.025 kg, ele é 126 kg mais pesado que o
Curiosity. Para energia, o rover está equipado com um Gerador Termoelétrico por Radioisótopos
Multi-Missão (MMRTG), que produz energia elétrica térmica a partir do decaimento natural do
plutônio-238.

O rover é equipado com seis rodas, cada uma com seu próprio motor, e 48 travas, o que deve
proporcionar excelente tração. Os pares de rodas dianteiro e traseiro têm seus próprios motores
de direção, permitindo que o Perseverance rode 360 graus sem precisar ir para frente ou para
trás. As pernas “permitirão que o rover dirija sobre rochas na altura dos joelhos, com 40
centímetros de altura”, de acordo com a NASA.
O design da roda do Curiosity em comparação com a do Perseverance. Além de serem um
pouco maiores, as rodas Perseverance têm o dobro de ranhuras, que são levemente curvadas,
em vez de seguirem o padrão chevron. Imagem: NASA / JPL-Caltech

“Uma mudança aparentemente pequena, mas importante, é um novo design de roda, que deve
evitar ‘furos’ como os encontrados pelo Curiosity ao atravessar terrenos com pequenas rochas
pontiagudas e pontiagudas”, escreveu Morten Bo Madsen, cientista do projeto Mars 2020 e
astrofísico do Niels Bohr Institute, em um e-mail para o Gizmodo. “As novas rodas têm uma
largura ligeiramente reduzida, e a ‘ranhura’ é mais grossa e robusta.”
A missão Perseverance também incluirá um “processador adicional para permitir que o rover se
locomova de modo autônomo para mais longe e mais rápido e adote um recurso que permita à
sonda navegar até um ponto seguro de aterrissagem durante o pouso”, disse Farley.

Essa última habilidade é importante, disse ele, porque significa que a NASA pode pousar ao lado
de afloramentos rochosos perigosos. Ao chegar, o Perseverance já estará localizado próximo a
alvos científicos interessantes, “sem ter que fazer uma longa jornada até eles saindo de uma zona
de pouso sem perigo”, disse Farley.

O Perseverance também será mais eficiente que seus antecessores.

“Coletar amostras da superfície e analisá-las dentro do veículo espacial leva tempo”, explicou
Svein-Erik Hamran, cientista do projeto Mars 2020 e pesquisador da Universidade de Oslo, em
um e-mail para o Gizmodo. “O Perseverance possui instrumentos de sensoriamento remoto e de
proximidade que aceleram a coleta de dados e aumentam a velocidade do rover”, disse Hamran,
acrescentando que “o Perseverance cobrirá uma área maior do que a percorrida pelos rovers
anteriores”.

Na velocidade máxima, espera-se que o rover viaje a 4,2 cm por segundo, ou 152 metros por
hora. Para os “padrões de veículos terrestres, o Perseverance é lento”, disse a NASA. “Para os
padrões de veículos marcianos, no entanto, ele tem um desempenho fora de série.”

O sistema de suspensão do rover, chamado de “rocker-bogie”, permitirá atravessar terrenos


irregulares. O veículo espacial foi projetado para suportar inclinações de 45 graus sem cair, o que
é impressionante, mas a NASA não planeja deixá-lo ir além de um ângulo de 30 graus.

Câmeras, radar e até um helicóptero


Uma seleção das 23 câmeras do rover Mars da NASA em 2020. Imagem: NASA / JPL-Caltech

Um total de 23 câmeras diferentes foram incluídas na missão Mars 2020, incluindo nove câmeras
de engenharia, sete câmeras científicas e sete câmeras para a fase de entrada, descida e
aterrissagem. Esta missão tem uma variedade impressionante de olhos e ouvidos, incluindo um
par de microfones.

A Mastcam-Z tira fotos panorâmicas, estereoscópicas e com zoom do Planeta Vermelho (a


Mastcam do Curiosity não tinha zoom, daí o “Z” no nome desta versão).
Esta câmera ajudará na navegação do veículo espacial, mas também será usada pelos cientistas
da missão para, por exemplo, identificar a mineralogia da superfície. A SuperCam do veículo
espacial, além da imagem normal, será usada para “identificar a composição química de rochas e
solos, incluindo sua composição atômica e molecular”, de acordo com a NASA.

Representação do rover Perseverance usando seu Instrumento Planetário para Litoquímica por
Raios-X (PIXL) para analisar uma rocha na superfície de Marte. Imagem: NASA / JPL-Caltech

Usando o Analisador da Dinâmica Ambiental de Marte (MEDA), o rover medirá a velocidade e a


direção dos ventos, a pressão do ar, a umidade e o tamanho das partículas de poeira.
Um espectrômetro de fluorescência de raios- X chamado PIXL analisará elementos químicos em
escalas finas, enquanto um espectrômetro a laser ultravioleta chamado SHERLOC fornecerá
imagens microscópicas da superfície marciana.

O RIMFAX — um radar de penetração no solo — permitirá aos cientistas analisar a área


imediatamente abaixo do veículo espacial e estudar sua composição geológica.

“Pela primeira vez, um veículo espacial de Marte terá a capacidade de olhar para o subsolo de
Marte”, disse Hamran. “A superfície de Marte está obscurecida por uma camada de poeira, e
agora poderemos olhar e ver o que está por baixo.”
Impressão artística do Perseverance e do Ingenuity (frente). Imagem: NASA / JPL-Caltech

O Perseverance também levará um helicóptero chamado Ingenuity, no que deve ser o primeiro
voo controlado de uma aeronave em outro planeta. O Ingenuity é um tipo de projeto de prova de
conceito, e espera-se que apenas faça um pequeno número de testes de voo curtos. Se tudo correr
bem, no entanto, ele pode abrir caminho para projetos aéreos mais ambiciosos em Marte.

O veículo também tentará produzir oxigênio a partir do dióxido de carbono atmosférico, como
parte do Experimento de Utilização de Recursos In-Situ de Oxigênio de Marte (MOXIE).

O sucesso desse experimento seria um bom sinal para exploradores futuros, como a NASA
explicou em um comunicado recente: “É um gerador de oxigênio chamado MOXIE, projetado
para converter dióxido de carbono — que constitui cerca de 96% da atmosfera marciana — em
oxigênio respirável. Essa tecnologia pode evoluir para geradores de oxigênio maiores e mais
eficientes no futuro, que permitiriam aos astronautas criar seu próprio ar para respirar e fornecer
oxigênio para queimar o combustível de foguete necessário para levar os seres humanos de volta
à Terra.”

Embalando amostras para viagem


Um dos aspectos mais intrigantes e cientificamente promissores do Mars 2020 é o Sistema de
Armazenamento de Amostras (SCS). Para esta parte da missão, o Perseverance vai coletar
amostras de rocha e solo dentro da cratera Jezero, colocá-las em vários pequenos recipientes e
jogá-las na superfície marciana para uma missão futura de recuperar e trazer de volta à Terra.

“As amostras marcianas trazidas para a Terra seriam investigadas por uma enorme diversidade
de tópicos e esclarecerão a possibilidade de vida em tempos remotos em Marte, o intrigante
clima mais quente e úmido do planeta quando era jovem e a evolução geoquímica de um planeta
amplamente semelhante à Terra que permaneceu pouco alterado desde 3,5 bilhões de anos atrás”,
disse Farley. “Para mim, responder a essas perguntas com a certeza que poderemos obter com
laboratórios terrestres é o aspecto mais empolgante da missão.”

Como Madsen explicou ao Gizmodo, os primeiros vestígios de vida na Terra parecem ter sido
apagados por processos geológicos e pela propagação da própria vida, mas isso pode não ser o
caso em Marte. Consequentemente, ele está “particularmente intrigado com a perspectiva de que
as amostras sejam trazidas de volta potencialmente com traços de vida muito mais antigos e
talvez mais primitivos do que qualquer coisa que conhecemos na Terra e que possam nos dizer
sobre como a vida se origina quando o ambiente permite.”
Representação artística do Perseverance e os armazenamentos de amostras deixados na
superfície. Imagem: NASA / JPL-Caltech

O SCS é um dos principais objetivos da missão Perseverance, e é por isso que os instrumentos do
rover são voltados para o reconhecimento. Como Madsen disse ao Gizmodo, suas ferramentas
ajudarão a equipe científica a encontrar amostras em potencial no contexto em que se formaram
originalmente.

“Em vez de um ‘Laboratório de Ciências’ embutido como no Curiosity, o Perseverance possui


um sistema de aquisição e manuseio de amostras intrincado e extremamente complexo, que pode
selecionar núcleos de perfuração, colocá-los em recipientes adequados, capturar imagens deles,
selá-los e prepará-los para serem deixados em grupos na superfície para que um outro rover os
colete”, disse Madsen ao Gizmodo.

O que nos leva à própria cratera Jezero — um local aparentemente perfeito para o Perseverance
desempenhar suas funções. Localizada ao norte do equador marciano, essa depressão de
aproximadamente 48 km de largura já foi preenchida com água, alimentada por um delta do rio.

Se a vida primitiva existisse em Marte alguns bilhões de anos atrás, ela poderia muito bem estar
em um lugar como este. Consequentemente, o Perseverance buscará restos orgânicos fossilizados
e outras assinaturas biológicas em potencial que datam de 3 bilhões a 4 bilhões de anos atrás.

Mas teremos que esperar até fevereiro de 2021 e passar pelos terríveis “7 minutos de terror”
durante a entrada atmosférica antes que esta missão comece. Boa sorte e boa viagem,
Perseverance.

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