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Marte pode ter abrigado vida, diz Nasa

Análise de rocha sedimentar realizada pelo jipe-robô Curiosity mostra que o planeta já foi habitável no passado.
Estudo encontrou elementos químicos que permitem a existência de vida microbiana.
RAFAEL GARCIA EM WASHINGTON
Uma rocha sedimentar encontrada pelo jipe-robô Curiosity em Marte contém seis elementos químicos necessários à existência de micróbios -
enxofre, nitrogênio, hidrogênio, oxigênio, fósforo e carbono- e sugere que o planeta já foi habitável.
A descoberta, anunciada ontem por cientistas do projeto no quartel-general da Nasa, em Washington, foi a conclusão da análise de um lamito -uma
rocha que continha minerais de argila e sulfatos. Formados num local que tinha água, os elementos no mineral poderiam dar suporte a reações químicas
do metabolismo de um ser vivo.
"Essa rocha é bem parecida com o tipo de coisa que achamos na Terra", disse John Grotzinger, chefe científico da missão do Curiosity.
"Encontramos um ambiente habitável tão benigno e amigável à vida que, se essa água ainda existisse e nós estivéssemos ali no planeta,
poderíamos bebê-la."
O jipe-robô ainda não encontrou substâncias orgânicas, que seriam um sinal inquestionável da existência de vida em Marte. Os cientistas, porém,
afirmam que isso já não é mais necessário para dizer com segurança que o planeta era habitável, pois a maioria das bactérias da Terra metaboliza
substâncias inorgânicas.

APARELHAGEM
A análise química da amostra de rocha foi feita por dois instrumentos do jipe. O primeiro, batizado de SAM, tem um espectrômetro de massa que
identifica elementos químicos. O segundo, Chemin, identifica e quantifica minerais da amostra.
O Curiosity encontrou a rocha sedimentar na baía de Yellowknife, na cratera Gale, perto do local onde pousou.
Ainda não se sabe que tipo de paisagem aquática a região exibia. Poderia ser um lago sazonal ou um rio, por exemplo.
"As rachaduras que a gente vê na superfície parecem mesmo uma lama seca", diz Nilton Rennó, pesquisador brasileiro que trabalha na missão do
Curiosity.
"Aquela água pode ter saído de uma fenda hidrotermal, formada por atividade vulcânica que derrete gelo subterrâneo e expele a água para a
superfície."
Segundo os cientistas da missão, outro aspecto importante é o fato de o lamito achado na cratera conter tanto compostos oxidados (que dão às
rochas aspecto avermelhado) quanto não oxidados (de cor acinzentada).
Isso permitiria aos micróbios extrair energia do ambiente à sua volta da mesma forma como uma bateria elétrica extrai energia de um arranjo
químico com diferentes componentes.
Apesar do entusiasmo com a descoberta, cientistas estão céticos quanto à possibilidade de achar matéria orgânica em Marte. "Encontrar
substância orgânicas em rochas muito antigas já é difícil aqui na Terra", diz Paul Mahaffy, chefe de operações do SAM.
O Curiosity deve seguir viagem ainda neste ano para a base do monte Sharp, no meio da cratera Gale.
Muitas questões sobre o passado geológico do local poderão ser investigadas lá, onde camadas do terreno estão expostas e acessíveis.
"Mas o lugar onde estamos agora é tão interessante que não estamos com tanta pressa para andar", diz Rennó.
Sondas estudam o planeta desde os anos 1960
Especulações sobre a vida em Marte são antigas e há até registros centenários sobre o assunto. Astrônomos do século 19 acreditavam que o
planeta tinha canais artificiais de água.
Mas foi só em 1965, com a sonda Mariner 4, que foram feitas as primeiras fotos em órbita da superfície do planeta. Os 21 registros de uma terra
seca, empoeirada e inóspita não desanimaram os cientistas, que continuaram a enviar equipamentos cada vez mais sofisticados para investigar o planeta.
O solo marciano só viria a ser tocado por uma sonda em 1976, com a Viking 1 e a Viking 2. Um experimento dessa missão indicou ter encontrado
evidências de reações metabólicas no planeta, mas os resultados não foram confirmados.
Sondas subsequentes, com destaque para os robôs gêmeos Spirit e Opportunity, que pousaram em 2004, encontraram evidências de um passado
"molhado" e quente em Marte. Mas, em muitas das regiões, o ambiente era inóspito demais para abrigar vida.
Maior e mais bem equipado que qualquer um de seus antecessores, o Curiosity, um laboratório móvel do tamanho de um carro que pousou em
agosto de 2012, tinha a missão de encontrar evidências de ambientes que fossem adequados à vida. Na página oficial da Nasa em uma rede social, o perfil
do robô anuncia: "Missão cumprida!"

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