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DOI: 10.19095/rec.v8i2.

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CARTA AO EDITOR
AUTOMEDICAÇÃO DURANTE A PANDEMIA DA
COVID-19
SELF-MEDICATION DURING THE COVID-19
PANDEMIC

Carla Yasmin Alves Batista Silva1


Anna Karollayne Bezerra Ponciano1
Dayse Christina Rodrigues Pereira Luz2

PREZADO EDITOR, compensariam seu uso, comprovando novamente o risco de,


Em 2019, com a eclosão da Síndrome Respiratória nesse caso, se automedicar5,6.
ocasionada pelo Novo Coronavírus chamado SARS-CoV-2, foi Mormente, muitas pessoas estão fazendo uso de
instalado o isolamento social como uma forma preventiva à vitaminas para aumentar a imunidade e, dessa forma, houve
contaminação de mais pessoas. Contudo, tal afastamento uma elevação exorbitante da venda dessas substâncias.
gerou impactos às saúdes física e, principalmente, psicológica Segundo o levantamento realizado pela consultoria IQVIA,
dos cidadãos, que distantes da rotina e diante da intensa houve aumento de 180% nas vendas de vitamina C. Sob esse
propagação midiática acerca da doença, sofreram intensas prisma, o seu uso prolongado pode causar, problemas renais,
mudanças emocionais e recorreram à automedicação, tanto gastrointestinais, dentre outros. De modo geral, apesar de
para controle das modificações psicológicas, quanto para vitaminas parecerem inofensivas, seu excesso pode interagir
tentar minimizar os impactos sintomáticos da Covid-19¹. com outras drogas e causar danos. Ademais, assim como toda
Prática que segundo dados de 2019 do Conselho federal de medicação, é necessário um veemente acompanhamento
Farmácia, é comum a 77% dos brasileiros². médico, e há restrições para alguns pacientes2.
Em flâmula, no atual momento de confinamento, a Destarte, evidencia-se que a automedicação é
intensa veiculação de informações, inclusive das Fake News, um hábito no Brasil, sendo ele preocupante em qualquer
tem intensificado a busca por fármacos, e nesse ínterim, surge época, mas que por conta do pânico instalado pelo isolamento
a atração pela possibilidade de que algumas drogas já social e pela veiculação de notícias infelizes acentuou-se
existentes sejam eficientes para o tratamento da Covid-19. significativamente. Dessa forma, tornam-se necessárias
Face a isto, os estudos acerca do uso da cloroquina, da políticas públicas que diminuam o consumo dessas drogas,
hidroxicloroquina associada à azitromicina e da ivermectina. que no geral, podem acabar fortalecendo a estrutura viral ou
Para mais, ressalta-se também o aumento da utilização de causando complicações nos indivíduos que delas fizerem uso,
ansiolíticos, e outros medicamentos para alívio da tensão ao invés de imunizá-los.
resultante da quarentena2,3.
Sob esse viés, nos primeiros estudos experimentais REFERÊNCIAS
realizados com a cloroquina, constatou-se que ela poderia ser 1 Vasconcelos CSS, Feitosa IO, Medrado PLR, Brito APB. O
um possível aliado na luta contra a citada síndrome Novo Coronavírus e os impactos psicológicos da quarentena;
respiratória. Contudo, em estudos mais recentes, constataram- Revista Desafios –v. 7, n. Supl. COVID-12; 2020.
se diversas complicações, dentre elas, hepáticas e cardíacas
conferidas ao paciente. Ademais, a ivermectina, em estudo 2 ICTQ. Valécio M. COVID-19 aumenta venda de ansiolíticos
indiano demonstrou-se eficaz na inibição da replicação viral do para insônia e vitaminas. Varejo farmacêutico; 18/05/2020.
SARS- CoV-2, diminuindo-a em aproximadamente 5000 vezes, Disponível em:
em um período de 48 horas4. Outrossim, em outras https://www.ictq.com.br/varejo-farmaceutico/1552-covid-19-
experimentações, percebeu-se que a quantidade efetiva para aumenta-venda-de-ansioliticos-medicamentos-para-insonia-e-
causar esse efeito inibidor é muito maior que a dose máxima vitaminas . Acessado em: [04/11/2020].
recomendada para humanos, e como a ivermectina é
neurotóxica, os prejuízos nervosos e cerebrais não 3 Almeida J; Automedicação: conheça os riscos de tomar
remédio por conta própria;

1Graduanda em Enfermagem do Centro Universitário de Juazeiro do Norte – UNIJUAZEIRO, Juazeiro do Norte/CE, Brasil.
2 Pós-doutoranda em Ciências da Saúde do Centro Universitário de Saúde do ABC– FMABC, Santo André/SP, Brasil. Doutora em Ciências
da Saúde do Centro Universitário Saúde do ABC – FMABC, Santo André/SP, Brasil. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal
doo Ceará – UFC, Fortaleza/Ce, Brasil. Docente do Centro Universitário de Juazeiro do Norte – UNIJUAZEIRO, Juazeiro do Norte/Ce,
Brasil. E-mail: dayse.dcrp@hotmail.com
Rev. e-ciência, 8(2): 1-2, 2020

EUAtleta- São Paulo; 02/04/2020. Disponível em:


https://globoesporte.globo.com/eu-
atleta/saude/noticia/automedicacao-conheca-os-riscos-de-
tomar-remedio-por-conta-propria.ghtml .

4 Molento MB. COVID-19 e a corrida para a automedicação e a


autoadministração de ivermectina: uma palavra de cautela.
Revista One Health, v. 10; 2020.

5 Lopes JGA, Santos DF, Cabral HR, Júnior PRS, Silva AA, Moura
YS, et al. Ivermectina como possível aliado no tratamento da
COVID-19: perspectivas acerca de sua ação antiviral. Research,
Society and Development, v. 9; 2020; 100148.

6 Marra LP, Junior HAO, Medeiros FC, Brito GV, Matuoka JY,
Parreira PCS, et al. Ivermectina para Covid-19. Revisão
sistemática rápida. Oswaldo Cruz Inovação, Pesquisa e
Educação. Revisão Sistemática Rápida. Disponível em:
https://oxfordbrasilebm.com/index.php/2020/05/07/iverme
ctina-para-o-tratamento-de-pacientes-com-covid-19-revisao-
sistematica-rapida2/. Acessado em [04/11/2020].

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DOI: 10.19095/rec.v8i2.967

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