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Rio de Janeiro
2017
APLICAÇÃO DE UM PROGRAMA DE EXTRAÇÃO DE DADOS ATRAVÉS
DA TÉCNICA DE WEB SCRAPING PARA DETERMINAÇÃO DO PERFIL
EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES DA CLÍNICA DE ESTOMATOLOGIA
DA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DA UFRJ CADASTRADOS NO
SOFTWARE ESTOMATO WEB
Rio de Janeiro
2017
CIP - Catalogação na Publicação
Aprovada por:
_______________________________________________________________
Michelle Agostini
Doutora (Membro da Banca Examinadora)
Departamento de Patologia e Diagnóstico Oral, Faculdade de Odontologia,
UFRJ
_______________________________________________________________
Sandra Regina Torres
Doutora (Membro da Banca Examinadora)
Departamento de Patologia e Diagnóstico Oral, Faculdade de Odontologia,
UFRJ
_______________________________________________________________
Mônica Israel
Doutora (Membro da Banca Examinadora)
Professora Adjunta de Estomatologia da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, UERJ
__________________________________________________DEDICATÓRIA
“Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós.
Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.”
Antoine de Saint-Exupéry
______________________________________________AGRADECIMENTOS
A Deus, agradeço por me conceder tantas graças e por ser o meu guia,
me permitindo realizar meus sonhos.
“Por isso não temas, pois estou contigo; não tenhas medo, pois
sou o teu Deus. Eu o fortalecerei e o ajudarei; eu o segurarei com a minha
mão direita vitoriosa.”
Isaías 41:10
À minha família,
Autor Desconhecido
Victor Hugo
“Irmãos são amigos com um laço ainda mais forte que a amizade e
tão poderoso como o amor!”
Autor Desconhecido
Aos Professores,
Isaac Newton
Cora Coralina
William Shakespeare
À amiga Mara Regina Rocha Pereira, agradeço por todo carinho, pelo
convívio maravilhoso e pela amizade construída nesses dois anos. Você é uma
excelente profissional, e uma pessoa maravilhosa. Obrigada por sua amizade!
Tatiana Zanella
Outros agradecimentos,
ABSTRACT
The Oral Medicine Service of the Dental School of Universidade Federal do Rio
de Janeiro is dedicated to the diagnosis and treatment of patients with oral
lesions for 40 years. Recently, a digital medical record system named Estomato
Web had been implemented in this service. This system generates electronic
records in which information of the patients, like clinical photos, imaging and
laboratory tests can be store digitally, allowing the establishment of a single
database, helping clinical management of the patients and the analysis of data
information through integrated access to different functional domains. The aim
of this study was to applied a data extraction program to determine the
epidemiological profile of the patients of the Stomatology Clinic of FO-UFRJ
registered in the Estomato Web system. This program does not provide tools for
statistical analysis or the ability to extract or export a large set of data at a single
time, The EstomatoWeb Sraper was created through the technique called Web
scraping, allowing data collection in a few minutes and exporting to Excel
spreadsheets. The parameters collected and analyzed were: (1) city and
neighborhood (program area), (2) gender, (3) age, (4) habits (smoking and
alcoholic beverage) and (5) final diagnosis. Data from 343 registered patients
were collected. 128 were excluded because they were incomplete and only 215
were valid for statistics analysis, 148 from female gender and 48 from male
gender. The age varied from 1 to 89 years old, and the mean was 53 years old.
The city of Rio de Janeiro was the one that presented the largest number of
individuals, and the most prevalent neighborhoods were Ilha do Governador
and Bonsucesso. Of the individuals included in the study, 11.2% were smokers
and 12.6% consumed alcohol. The most frequents pathological conditions on
this research were trigeminal neuralgia (8,8%), fibrous hyperplasia (5,5%),
temporomandibular dysfunction and lichen planus (3,7%), squamous cell
carcinoma (3,2%), pyogenic granuloma and oral burning (2,79%). This was an
initial study of the application of the EstomatoWeb Scraper program, which was
carried out with the first sample of patients from the Clinic of Stomatology of the
FO / UFRJ, registered in the Estomato Web. The use of the EstomatoWeb
Scraper program facilitates the collection, evaluation and interpretation of data
recorded in the Estomato Web and may be useful for future multicentric studies
in the area of oral medicine in Brazil.
Lista de Ilustrações
AP - Áreas programáticas
CV - Coeficiente de Variação
JS - JavaScript
N - Número
SC - Santa Catarina
% - Porcentagem
* - Asterisco
: Divisão
< - Menor
< - Menor
= - Igual
° - Grau
ª – indicador ordinal
SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO .............................................................................................. 1
5 – RESULTADOS ............................................................................................ 24
6 – DISCUSSÃO ............................................................................................... 40
7 – CONCLUSÕES ........................................................................................... 51
8 - REFERÊNCIAS ............................................................................................ 52
1 – INTRODUÇÃO
de mecanismos para integração com outros sistemas, os pesquisadores são
obrigados a copiar os dados manualmente do Estomato Web e inserir os
mesmos em outros sistemas para que análises sejam possíveis. Sendo assim,
o objetivo do presente estudo foi aplicar um programa de extração de dados,
que foi desenvolvido baseado na técnica de web scraping para a
automatização da leitura das informações disponibilizadas pelo Estomato Web.
Este programa foi denominado EstomatoWeb Scraper e foi utilizado para
determinar o perfil epidemiológico dos pacientes da Clínica de Estomatologia
da FO/UFRJ inicialmente cadastrados no Estomato Web. Os parâmetros
coletados e analisados foram: (1) cidade e bairro de origem (área
programática), (2) gênero, (3) idade, (4) hábitos (fumo e ingestão de bebidas
alcoólicas) e (5) diagnóstico final.
O uso do programa EstomatoWeb Scraper facilita a coleta, avaliação e
interpretação dos dados registrados no Estomato Web e poderá ser útil para
futuros estudos multicêntricos na área de Estomatologia no Brasil, pois será
gratuitamente disponibilizado para os usuários deste software após a
finalização deste trabalho.
2 – OBJETIVO GERAL
3 – REVISÃO DA LITERATURA
Os RES garantiram um grande avanço nas ciências médicas,
revolucionando os métodos de pesquisa através da automatização do
gerenciamento dos dados clínicos. Os profissionais passam a ter acesso às
informações digitais continuamente, substituindo as informações registradas
em papeis, as quais podem ser perdidas mais facilmente (Ash et al., 2004;
Patrício et al., 2011; Coorevits et al., 2013).
Apesar da utilização dos registros eletrônicos terem ganhado destaque
nos últimos anos, a habilidade dos profissionais de saúde, especialmente os
cirurgiões-dentistas, em utilizar o conhecimento gerado pelos sistemas
inteligentes de prontuários eletrônicos na prática diária ainda é pobremente
desenvolvida (Ash et al., 2004; Schleyer et al., 2011). Muitos profissionais têm
preocupações sobre os efeitos desses sistemas no fluxo de trabalho, na
produtividade e na segurança do sigilo das informações, e por isso, ainda
encontram-se relutantes em integrar esta tecnologia à clínica (Ash et al., 2004;
Bowens et al., 2010; Patrício et al., 2011).
Vários estudos na literatura têm procurado avaliar os motivos das
barreiras dos profissionais de saúde em aceitarem a utilização da tecnologia da
informação (Ash et al., 2004; Haux R., 2006; Boonstra & Broekhuis, 2010;
Bowens et al., 2010; Schleyer et al., 2011; Belle et al., 2013). O trabalho de
Boonstra & Broekhuis (2010), concluiu que apesar dos efeitos positivos do uso
dos registros eletrônicos, a implementação desses sistemas ainda é precária.
Os motivos seriam principalmente relacionados aos altos custos financeiros
decorrentes da instalação, operacionalização e manutenção dos softwares
(Boonstra & Broekhuis, 2010).
Outros motivos citados por Boonstra & Broekhuis (2010) seriam a
dificuldade e limitação técnica de muitos profissionais para operacionalização
desses programas, a demanda de mais tempo para implantação e aprendizado
para utilização dos sistemas eletrônicos. Além disso, alguns profissionais de
saúde acreditam que o uso de computadores durante a avaliação dos
pacientes causaria um grande impacto psicológico nos mesmos. Também, a
falta de conhecimento sobre os aspectos sociais e legais de armazenamento
de dados, além do próprio processo de mudança que advém do gerenciamento
desta nova tecnologia, ainda impedem a utilização em larga escala desse tipo
de software (Boonstra & Broekhuis, 2010).
epidemiológicos em conjunto entre instituições inscritas nesta sociedade
(http://www.estomatologia.com.br/noticias?codigo=342/acesso julho 2015).
Brailo et al. (2015) abordaram a utilização do Estomato Web em seu
estudo sobre utilização de softwares em Estomatologia. Segundo estes
autores, o programa apresenta como vantagens poder ter sua interface
modificada de acordo com a preferência do usuário, os controles e comandos
são bem identificados, e os dados possuem fácil acesso e excelente
integração. O sistema foi considerado seguro uma vez que somente os
membros da instituição de origem com autorização podem ter acesso aos
dados dos pacientes através de senha. Ainda segundo o mesmo estudo, um
dos principais problemas do uso deste programa em Instituições de Ensino
seria a dificuldade dos alunos de graduação com relação ao gerenciamento do
sistema (Brailo et al., 2015).
Esta estratégia permite auxiliar a plena operabilidade de dados na área
da saúde. Os programas de web scraping podem realizar a extração de
informações, diminuindo o erro da coleta de dados dos sistemas web (Tang et
al., 2013; Glez – Peña et al., 2014). O web scraping é uma das mais antigas
técnicas de extração de conteúdo de um web site, não necessitando que o
servidor que hospeda o site tenha criado um serviço auxiliar de fornecimento
de informações (Tang et al., 2013; Glez – Peña et al., 2014).
Este tipo de programação trabalha sobre a estrutura do Document
Object Model (DOM) que é construída a partir da interpretação de páginas
HTMLs de um site (Bare et al., 2007; Glez – Peña et al., 2014). O processo
funciona da seguinte forma: um programa, conhecido como web robot, simula a
interação comum entre a navegação dos servidores web por um indivíduo em
um processo de extração de informações convencional. O indivíduo realiza a
extração apenas das informações específicas que desejar.
Com o uso da técnica de web scraping, o código desenvolvido irá
acessar o site, analisar e encontrar o conteúdo específico e irá extrair os dados
de interesse conforme os comandos programados pelo desenvolvedor do
sistema. O web scraping estabelece comunicação com o site de destino
através do protocolo HTTP e coordena as solicitações de resposta das
transações entre um cliente, normalmente um navegador e um servidor web
podendo criar diferentes produtos finais, como planilhas do Excel, bancos de
dados e outros (Glez – Peña et al., 2014).
Embora diferentes condições possam ser relatadas entre os grupos
selecionados, algumas delas estão relacionadas a aspectos culturais. Na
maioria das vezes, são condições específicas, como idade, gênero e etnia que
podem influenciar significativamente os estudos populacionais. Diversos
autores consideram a idade como fator de grande influência na prevalência das
alterações orais, relatando que adultos e idosos apresentam maior propensão e
risco para desenvolvimento de condições patológicas (Henrique et al., 2009;
Mujica et al., 2008). Desta forma, o histórico dos pacientes irá fornecer
informações importantes para o planejamento, elaboração de planos de
tratamento e condução de ações de promoção de saúde nas populações
estudadas (Jones & Franklin, 2006a; Mendez et al., 2012).
(lesões metabólicas, inflamatórias, neoplásicas e do desenvolvimento).
Pesquisas com esse mesmo perfil foram realizadas em diferentes países, e
seus resultados tiveram a tendência de variar de acordo com a área geográfica
das populações investigadas. Apesar dessa propensão de diferença na
epidemiologia das lesões de acordo com a região de origem do grupo avaliado,
trabalhos publicados na Slovênia, Espanha, Turquia, Reino Unido e México,
apresentaram as mesmas entidades como as mais evidenciadas em seus
estudos. Nesses trabalhos, as lesões reacionais, com destaque para a
hiperplasia fibrosa, estomatite protética e úlceras traumáticas, foram as mais
encontradas; seguidas por outras condições como língua fissurada, varizes
linguais e candidíase (Kovacic & Skaleric, 2000; Vallejo et al., 2002; Mumcu et
al., 2005; Jones & Franklin, 2006a; Castellanos & Díaz Guzmán, 2008).
No geral, não existe muita informação disponível sobre lesões de boca
na população brasileira como um todo (Corrêa et al., 2006; Kniest et al., 2011;
Martinelli et al., 2011), e os trabalhos publicados na literatura mundial, também
tendem a abordar faixas etárias específicas (Corrêa et al., 2006; Jones &
Franklin, 2006b; Hipólito et al., 2008; Vale et al., 2013; Kamath et al., 2013). Ou
então, são relatados estudos para condições patológicas individuais, os quais
não avaliam a prevalência dessa alteração na população como um todo (Eisen,
2012; Sousa & Rosa, 2008; Maarbjerg et al., 2014; Alves et al., 2004; Leocádio
et al., 2014; Wu et al., 2015). Um exemplo de pesquisa avaliando o perfil
epidemiológico de um grupo amplo foi a realizada no Centro de Especialidades
Odontológicas do município de Tubarão (SC), onde a candidíase, a hiperplasia
fibrosa inflamatória, a mucocele e o trauma por prótese foram as condições
patológicas mais comuns, seguidas pelo grupo das neoplasias benignas, em
que o lipoma e o papiloma foram as principais entidades identificadas. No
grupo de neoplasias malignas, o carcinoma de células escamosas foi a
condição mais evidenciada (Kniest et al., 2011). No Rio de Janeiro, o trabalho
de Amaral et al., (2016) mostrou a prevalência de alterações orais em um
Serviço de Estomatologia, sendo as mais frequentes a hiperplasia fibrosa,
candidoses, lesões inflamatórias perirradiculares e desordens potencialmente
malignas. Achados semelhantes foram encontrados nos estudos realizados
em diferentes estados: Santa Catarina, Espírito Santo, São Paulo,
10
Pernambuco, Ceará (cidade de Fortaleza) e Minas Gerais (Corrêa et al., 2006;
Henrique et al., 2009; Martinelli et al., 2011; Kniest et al., 2011; Saintrain et al.,
2012; Vale et al., 2013). Nestes estudos houve destaque para o cisto dentígero,
que foi o mais prevalente dos cistos odontogênicos, o odontoma composto, o
ameloblastoma e o tumor odontogênico adenomatóide, como os tumores
odontogênicos mais observados.
4 – MATERIAIS E MÉTODOS
11
(empresa Netwish), para um parecer técnico. Após a análise e teste da
ferramenta, a mesma foi liberada para utilização (Anexo 1).
A técnica conhecida como Web Scraping, que consiste na navegação
automatizada de páginas de um website com a possibilidade de coleta do
conteúdo exibido em cada página. O pesquisador irá, através de um programa
com interface gráfica de fácil manipulação, escolher comandos pré -
estabelecidos pelo código fonte, que é um conjunto de arquivos de texto,
escritos em inglês, em uma linguagem de programação que representa um
conjunto de comandos para o computador executar. E selecionar quais
informações deseja que o programa faça a extração do sistema Estomato Web.
Para a construção deste programa, as seguintes tecnologias foram utilizadas:
linguagem de programação JavaScript, plataforma de execução Node.js e
framework PhantomJS. Para copiar os dados, o pesquisador deverá utilizar o
mesmo usuário e senha do Estomato Web e, terá acesso exclusivamente aos
dados permitidos para este usuário, conforme esquema de segurança do
próprio sistema, mantendo assim o padrão de confidencialidade e restrição de
acesso de informações.
Os pesquisadores desenvolveram uma interface gráfica de fácil
manipulação (Figura 1), onde os usuários do Estomato Web da FO/UFRJ,
puderam escolher comandos pré-estabelecidos pelo código fonte, e
selecionaram quais informações desejavam que o programa extraísse do
sistema Estomato Web. Para a seleção de informações, uma tela foi criada
com os itens: nome, matrícula, data de nascimento, idade no momento do
diagnóstico, sexo, bairro, cidade, estado, fuma, parou de fumar, bebe, parou de
beber, lesão extra-bucal, lesão intra-bucal, localização da lesão, diagnóstico
clínico, exames adicionais, diagnóstico final. Um checkbox foi adicionado ao
lado das informações para permitir que a seleção e cópia dos dados (Figura2)
fosse realizada.
12
Figura 1 – Interface gráfica de fácil manipulação do EstomatoWeb Scraper.
13
Para o acesso ao software foi criado um esquema de segurança para
utilização com os mesmos dados de acesso ao Estomato Web (usuário e
senha). Desta forma, o acesso é restrito apenas aos dados permitidos para
este usuário, conforme esquema de segurança do próprio Estomato Web,
mantendo assim o padrão de confidencialidade e restrição de acesso de
informações, e o levantamento epidemiológico do serviço só foi realizado com
a permissão do administrador (Figura 3). O EstomatoWeb Scraper foi instalado
nos computadores dos pesquisadores e em um dos computadores do serviço
de Estomatologia da FO/UFRJ.
Figura 3 – Tela para o acesso ao software, que é realizado com o mesmo usuário e
senha do Estomato Web.
software, ou, se necessário, adicionar novas funcionalidades para o mesmo.
Para utilizar esta ferramenta, que será disponibilizada no site http://github.com,
o pesquisador precisará de autorização formal do webmaster do Estomato
Web. E após a decisão da SOBEP sobre a autorização quanto à utilização do
programa para o seu uso em pesquisas, os usuários deverão submeter o seu
pedido de utilização do programa ao Comitê de Ética e Pesquisa vinculado à
instituição de origem.
A licença do programa permitirá o uso gratuito do mesmo, modificação
do código fonte para se adequar as buscas de pesquisas específicas,
distribuição do conteúdo original ou modificado, e comercialização, com
cláusulas que restringem o uso do programa, ou de sistemas derivados, para
que o mesmo não exponha publicamente os dados de pacientes sem o
consentimento dos mesmos e sem a autorização do Comitê de Ética e
Pesquisa regional. Esta licença foi baseada nas regras da licença MIT (Anexo
3), que é comumente utilizada em programas de código aberto, sendo
disponibilizada em inglês no site: https://opensource.org/licences/MIT (a
tradução livre da mesma encontra-se disponível no Anexo 4). Entretanto, a
mesma sofreu alterações pela necessidade de proteger a confidencialidade dos
dados dos pacientes (Anexo 5). A privacidade das informações também é
garantida pela forma de acesso que é realizada com o mesmo usuário e senha
do Estomato Web, liberando o acesso exclusivamente aos dados permitidos
para este usuário.
Outro aspecto importante é o levantamento das questões legais de se
utilizar um programa de web scraping. No Brasil, não existe lei que impeça que
tal técnica seja utilizada em conteúdo disponibilizado publicamente na internet
ou acesso para o usuário do sistema Estomato Web cadastrado na SOBEP.
Além disso, os autores do programa deverão ser citados em trabalhos
derivados e não poderão ser responsabilizados pelo uso do programa por
terceiros.
15
4.2 População alvo
16
Figura 4 – Ambiente do Serviço de Estomatologia da Faculdade de
Odontologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro no website
Estomato Web.http://www.estomatoweb.com.br/acesso novembro de
2016.
17
com senha individual. Dessa forma, o programa garante a privacidade dos
dados obtidos, uma vez que informações inseridas no ambiente criado pela
Faculdade de Odontologia da UFRJ, não poderão ser visualizadas por outros
ambientes ou vice versa, pois o acesso ocorre somente por senha única e
exclusiva. A segurança dos dados armazenados é fornecida pela LOCAWEB, a
mesma empresa responsável pela hospedagem do site da SOBEP que possui
um sólido sistema de back-up de segurança. No início de cada período de
atendimento aos pacientes, o sistema é acessado pelo professor responsável e
os alunos são orientados a realizar o preenchimento dos dados diretamente no
sistema.
Os usuários podem obter dados dos pacientes a partir do acesso aos
itens da ficha eletrônica (Figura 6), e o programa permite que sejam feitas
buscas individuais de cada paciente a partir do nome, cadastro de pessoa
física, matrícula, diagnóstico clínico e diagnóstico final (Figura 7).
18
19
• AP 3.1 - Bonsucesso, Brás de Pina, Complexo do Alemão, Cordovil, Ilha
do Governador, Jardim América, Manguinhos, Maré, Olaria, Parada de
Lucas, Penha Circular, Penha, Ramos e Vigário Geral.
• AP 3.2 - Abolição, Água Santa, Cachambi, Del Castilho, Encantado,
Engenho da Rainha, Engenho de Dentro, Engenho Novo, Higienópolis,
Inhaúma, Jacaré, Jacarezinho, Lins de Vasconcelos, Maria da Graça,
Méier, Piedade, Pilares, Riachuelo, Rocha, Sampaio, São Francisco
Xavier, Todos os Santos e Tomás Coelho.
• AP 3.3 - Acari, Anchieta, Barros Filho, Bento Ribeiro, Campinho,
Cascadura, Cavalcanti, Coelho Neto, Colégio, Costa Barros, Engenheiro
Leal, Guadalupe, Honório Gurgel, Irajá, Madureira, Marechal Hermes,
Oswaldo Cruz, Parque Anchieta, Parque Columbia, Pavuna, Quintino
Bocaiuva, Ricardo de Albuquerque, Rocha Miranda, Turiaçu, Vaz Lobo,
Vicente de Carvalho, Vila da Penha, Vila Kosmos e Vista Alegre.
• AP 4.0 - Barra da Tijuca, Camorim, Cidade de Deus, Grumari,
Itanhangá, Jacarepaguá, Joá, Recreio dos Bandeirantes, Vargem
Grande e Vargem Pequena.
• AP 5.1 - Bangu, Campo dos Afonsos, Deodoro, Jardim Sulacap,
Magalhães Bastos, Padre Miguel, Realengo, Senador Camará e Vila
Militar.
• AP 5.2 - Barra de Guaratiba, Campo Grande, Cosmos, Guaratiba,
Inhoaíba, Santíssimo, Senador Vasconcelos e Pedra de Guaratiba.
• AP 5.3 - Paciência, Santa Cruz e Sepetiba
(http://cvasrio.blogspot.com.br/2012/02/areas-programaticas-bairros.html
- acesso fevereiro de 2016;
http://www.rio.rj.gov.br/dlstatic/10112/1529762/DLFE-220205.pdf/1.0 -
acesso fevereiro de 2016).
20
Figura 8 – Mapa de Áreas Programáticas do Município do Rio
de Janeiro de Acordo com o Ministério Saúde.
• doenças dermatológicas;
• dor orofacial;
• outras condições patológicas;
• sem lesão;
• preparo transplante hepático;
eletrônicos. Nestes termos, os pesquisadores que participam deste estudo,
comprometeram–se a cumprir todas as diretrizes e normas regulamentadoras
descritas nas Resoluções 466 de 2012, e suas complementares, no que diz
respeito ao sigilo e confidencialidade dos dados utilizados.
23
5 – RESULTADOS
Figura 9 – Extração dos dados dos pacientes do Estomato Web – novembro de 2016.
5.2 Perfil epidemiológico dos pacientes da clínica de Estomatologia da
UFRJ cadastrados no Estomato Web no período de março de 2014 a
setembro de 2016
25
Figura 12 – Frequência de pacientes por faixa etária.
26
Figura 13 – Associação entre gênero e faixa etária.
áreas, encontrou-se: 18 (8,4%) indivíduos na área AP 4.0; 11 (5,1%) pacientes
na área AP 3.2; 10 (4,7%) pacientes na área AP 5.1; 9 (4,2%) indivíduos nas
áreas AP 2.1 e AP 2.2; 8 (3,7%) pacientes na área AP 5.2; 7 (3,3%) pacientes
na área AP 1.0; e, 3 (1,4%) pacientes foram identificados na área AP 5.3. Estes
resultados podem ser observados na Figura 14.
28
Com relação aos hábitos, os pacientes não tabagistas foram os mais
prevalentes, com 167 pacientes (77,7%), os tabagistas e ex-tabagistas
apresentaram a mesma frequência, com 24 pacientes em cada grupo (11,2%).
Os pacientes não etilistas também representaram a maioria, com 188
indivíduos (80,4%), ocorrendo menor prevalência de pacientes etilistas, 27
indivíduos (12, 6%) (Figura 15 e 16). Neste estudo, o número de prontuários
válidos que foram analisados, não mostraram pacientes ex-etilistas.
Quando realizada a associação do hábito de tabagismo com gênero, foi
observado, que dos pacientes tabagistas, não tabagistas, e ex-tabagistas, a
maioria dos pacientes era do gênero feminino. Com uma frequência de 18
pacientes (8,4%), 115 pacientes (53,5%) e 15 pacientes (7%) respectivamente.
Com relação ao gênero masculino a frequência de pacientes foi a seguinte, 6
pacientes tabagistas (2,8%), 52 pacientes não tabagistas (24,2%), e 9 ex-
tabagistas (4,2%), como observado na Figura 17.
30
pacientes eram tabagistas (3,7%), 54 não tabagistas (25,1%), 11 pacientes ex-
tabagistas (5,1%), como observado na Figura 18.
31
Figura 19 – Frequência de pacientes etilistas e não
etilistas por gênero.
32
Figura 20 – Frequência de pacientes etilistas e
não etilistas por faixa etária.
33
Figura 21 – Diagnósticos mais frequentes de acordo com as diferentes categorias de
alterações orais.
34
Não foi observada correlação estatisticamente significante entre as
diferentes categorias de lesões e o gênero dos indivíduos incluídos no estudo
(Tabela 2).
35
Tabela 4 – Correlação das diferentes categorias de lesões diagnosticadas nos 215
indivíduos incluídos no estudo com o hábito do tabagismo.
Tabagismo
Não Parou de
Categorização das alterações Fumante Fumante N= Fumar N=
orais N= 24 167 24 P
Cistos e Tumores Odontogênicos 1 (0,5%) 8 (3,7%) 0 (0,0%) 0,549
Dor Orofacial 6 (2,8%) 32 (14,9%) 3 (1,4%) 0,544
Doenças Alérgicas e Imunológicas 0 (0,0%) 11 (5,1%) 3 (1,4%) 0,214
Doenças da Polpa e Periápice 2 (0,9%) 13 (6,0%) 0 (0,0%) 0,361
Infecções Fúngicas, Bacterianas e
Virais 0 (0,0%) 7 (3,3%) 2 (0,9%) 0,354
Injúrias Físico-químicas 1 (0,5%) 6 (2,8%) 2 (0,9%) 0,556
Alterações Patológicas do Epitélio 1 (0,5%) 14 (6,5%) 2 (0,9%) 0,771
Alterações Patológicas das
Glândulas Salivares 2 (0,9%) 10 (4,7%) 4 (1,9%) 0,173
Neoplasias Benignas dos Tecidos
Moles 3 (1,4%) 17 (7,9%) 3 (1,4%) 0,900
Neoplasias Malígnas 5 (2,3%) 9 (4,2%) 2 (0,9%) 0,026
36
Figura 22 – Diagnósticos finais mais frequentes.
37
Tabela 6 – Associação das alterações orais mais prevalentes com
gênero.
Gênero
Masculino Feminino
Alterações orais N= 68 N= 148 P
Neuralgia do trigêmeo 3 (1,4%) 16 (7,4%) 0,194
Hiperplasia fibrosa 2 (0,9%) 10 (4,7%) 0,349
Disfunção temporomandibular 3 (1,4%) 5 (2,3%) 0,707
Líquen plano 2 (0,9%) 6 (2,8%) 1,000
Carcinoma de células
escamosas 5 (2,3%) 2(0,9%) 0,032
Síndrome da ardência bucal 1 (0,5%) 5 (2,3%) 0,668
Granuloma piogênico 1 (0,5%) 5 (2,3%) 0,668
38
Tabela 8 – Associação das alterações orais mais prevalentes com hábito de
etilismo.
Etilismo
Etilista Não Etilista
Alterações orais N= 27 N= 188 P
Neuralgia do trigêmeo 3 (1,4%) 16 (7,4%) 0,714
Hiperplasia fibrosa 2 (0,9%) 10 (4,7%) 0,561
Disfunção temporomandibular 0 (0,0%) 8 (3,7%) 0,600
Líquen plano 1 (0,5%) 7 (3,3%) 1,000
Carcinoma de células escamosas 3 (1,4%) 4 (1,9%) 0,044
Síndrome da ardência bucal 0 (0,0%) 6 (2,8%) 1,000
Granuloma piogênico 1 (0,5%) 5 (2,3%) 0,558
39
6 – DISCUSSÃO
40
As barreiras observadas durante a utilização do software Estomato Web
foram principalmente relacionadas a utilização e a manipulação do sistema.
Assim como relatado por Brailo et al. (2015), esse sistema é difícil de ser
preenchido por alunos de graduação, e, além disso, como são inúmeras
informações que precisam ser preenchidas no software, o preenchimento
demanda muito tempo dos profissionais, levando a necessidade de
atendimentos mais demorados para o registro das informações, além da
necessidade de treinamento para sua utilização. A falta de conhecimento sobre
os aspectos do armazenamento dos dados, o preenchimento incompleto ou
incorreto das informações no prontuário eletrônico (Ash et al., 2004; Patrício et
al., 2011; Belle et al., 2013), foram outras barreiras observadas no presente
estudo, as quais acarretaram inclusive a necessidade de exclusão de 128
pacientes.
Fatos semelhantes foram abordados em outros estudos, que afirmaram
que os altos custos financeiros relacionados à instalação, operacionalização,
manutenção dos softwares, e a preocupação dos profissionais sobre os efeitos
desses sistemas no fluxo de trabalho, na produtividade, no tempo que será
necessário para aprender a utilizar os sistemas e na segurança do sigilo das
informações são os principais motivos que impedem a utilização dos
prontuários eletrônicos ou sistemas de tecnologia da informação (Haux., 2006;
Boonstra & Broekhuis 2010; Bowens et al., 2010; Scleyer et al., 2011; Belle et
al., 2013).
Outra desvantagem observada com a utilização do Estomato Web, foi a
dificuldade de realizar a extração de um grande volume de dados (Glez Peña et
al., 2014) de uma única vez. O programa possui ferramentas de busca por
nome, matrícula, diagnóstico clínico e final, doença atual, sexo, idade, raça,
data de entrada, hábitos (fumo ou bebida), mas não permite a possibilidade de
exportar um grande conjunto desses dados, ou até mesmo todas essas
informações de uma única vez. Sendo este um aspecto negativo deste
software, que não permitia compilar o banco de dados em planilhas para que
fosse realizado o gerenciamento de grande volume de informações.
O presente estudo teve como objetivo principal a criação de um
programa de extração de dados do Estomato Web, e a partir deste realizar o
41
estabelecimento do perfil epidemiológico dos pacientes do Serviço de
Estomatologia da FO/UFRJ inicialmente cadastrados neste sistema, para testar
o software de extração. Caso a triagem dos dados fosse feita manualmente,
esta seria demorada, e com o risco da perda de detalhes valiosos. Para
minimizar os erros da coleta manual dessas informações, a técnica conhecida
como web scraping foi utilizada. O uso do programa desenvolvido a partir
dessa estrutura, o qual foi denominado EstomatoWeb Scraper garantiu a
otimização da cópia dos dados dos 344 pacientes em 4 minutos, reduzindo de
maneira significativa o tempo da pesquisa. Essa técnica de extração é uma das
mais antigas, e permite um serviço válido de cópia de dados diminuindo o erro
humano quando os sistemas operacionais utilizados, como o software do
Estomato Web, não fornecem a demanda de serviço necessária para o usuário
(Bare et al., 2007; Tang et al., 2013; Glez Peña et al., 2014).
O uso do EstomatoWeb Scraper permitiu compilar as informações dos
pacientes em planilhas do Excel, para posteriormente inseri–las no programa
SPSS, realizar a análise estatística e traçar o perfil epidemiológico dos
pacientes atendidos na clínica de maneira ágil e segura, para que
posteriormente esses dados possam ser utilizados na criação de estratégias
para programas de prevenção e promoção de saúde. Esta técnica não foi
realizada em nenhum outro estudo relacionado a prontuários eletrônicos em
Odontologia ou até mesmo na área Estomatologia, assim como não foram
encontrados trabalhos que abordassem a extração dos dados cadastrados de
prontuários eletrônicos na área odontológica (Glez Peña et al., 2014). O
trabalho de Brailo et al., (2015) que foi o mais completo abordando os sistemas
eletrônicos na área de Estomatologia, realizando inclusive uma abordagem
sobre o Estomato Web, também não avaliou a capacidade de extração de
grande volume de dados nos softwares.
As informações geradas por estudos epidemiológicos são importantes
para entender a prevalência e a frequência de lesões orais, auxiliando no
diagnóstico precoce e tratamento (Jones & Franklin 2006a; Mendez et al.,
2012). Um aspecto importante desta pesquisa foi o fato de as alterações orais
serem avaliadas em um grupo heterogêneo na região Sudeste, similar ao
estudo de Amaral et al., (2016), tendo em vista que poucos trabalhos avaliaram
42
as lesões orais no Brasil, principalmente focando na população como um todo,
pois a maioria dos trabalhos tende a focar em grupos ou condições específicas
(Kovacic & Skaleric, 2000; Vallejo et al., 2002; Mumcu et al., 2005; Corrêa et
al., 2006; Jones & Franklin, 2006a; Castellanos & Díaz Guzmán. 2008; Hipólito
et al., 2008; Vale et al., 2013; Kamath et al., 2013).
No presente estudo houve predominância de pacientes do gênero
feminino, representando 68,8% da amostra avaliada, corroborando com
estudos anteriores em que as alterações orais foram mais frequentes em
mulheres. Este fato é geralmente justificado pela maior preocupação destas
com a saúde e com os cuidados corporais do que os homens (Vallejo et al.,
2002; Corrêa et al., 2006; Castellanos et al., 2008; Kniest et al., 2011; Mendez
et al., 2012). Corroborando com os dados da literatura (Mendez et al., 2012), o
carcinoma de células escamosas no presente estudo, foi mais frequente no
gênero masculino. Entretanto, como a amostra é pequena, é necessário que
sejam realizados novos estudos com amostras maiores, uma vez que o número
limitado de indivíduos não permite uma avaliação consistente.
Outro fator de grande importância, o qual está diretamente associado ao
desenvolvimento de algumas condições patológicas orais, é a idade
(Catellanos et al., 2008; Mujica et al., 2008; Henrique et al., 2009; Kniest et al.,
2011). No presente estudo, a prevalência das lesões foi maior no grupo de
adultos. Estudos epidemiológicos anteriores mostraram resultados similares,
onde adultos e idosos apresentaram a maior frequência de alterações
patológicas da cavidade oral. Estes estudos atribuem este resultado ao fato de
que com o aumento da idade, o indivíduo tende a tomar menor cuidado com a
aparência e com a higiene, apresentando também maior índice de perdas
dentárias. Além disso, há um aumento da predisposição para doenças
sistêmicas, as quais podem ser consideradas um fator de risco para o
aparecimento de algumas condições, como a diabetes, alterações auto-imunes
dentre outras (Henrique et al., 2009; Kniest et al., 2008; Mendez et al., 2012).
Nesta pesquisa, as categorias dos cistos e tumores odontogênicos e de
neoplasias benignas dos tecidos moles foram mais comuns na faixa etária de
adultos. A categoria de dor facial e neuromuscular mostrou foi mais prevalente
no grupo de idosos. Quando os diagnósticos finais específicos foram
43
analisados separadamente, foi observado que a neuralgia do trigêmeo foi mais
frequente na faixa etária de idosos, conforme também observado em estudos
anteriores (Maarbjerg et al., 2014; Wu et al., 2015). Da mesma forma que as
correlações com gênero, as relacionadas à idade também necessitam de
amostras maiores, uma vez que o número limitado de indivíduos não permite
uma avaliação consistente. Outros trabalhos da literatura também citam um
aumento da prevalência das alterações orais com o aumento da idade, assim
como foi evidenciado nesse estudo, principalmente no grupo dos adultos e
idosos (Mujica et al., 2008; Corrêa et al., 2006).
Assim como gênero e idade, os dados regionais das alterações orais
também podem influenciar na predisposição de uma determinada condição
seja por aspectos étnicos ou socioculturais. Por isso, essas informações podem
auxiliar na criação de estratégias governamentais de promoção de saúde
(Pindborg, 1977; Corrêa et al., 2006; Mujica et al., 2008). Neste estudo, o
município de origem da maioria dos indivíduos foi do Rio de Janeiro, sendo o
bairro de maior prevalência o da Ilha do Governador, seguido por Bonsucesso.
Essa maior prevalência de pacientes dos bairros da Ilha do Governador e
Bonsucesso está provavelmente relacionada com a proximidade geográfica
onde está localizada a Faculdade de Odontologia da UFRJ. A frequência de
pacientes por área programática do Município do Rio de Janeiro foi maior na
região AP 3.1, sendo identificados nessa área os bairros da Ilha do Governador
e Bonsucesso, que também obtiveram as maiores dominâncias dentre outros
bairros. A área AP 3.3 foi à segunda área com a maior prevalência de
indivíduos seguida pela área AP 4.0. Não foram encontradas diferenças
significativas entre as alterações orais, município, bairro ou área programática.
Embora tenham sido realizadas avaliações estatísticas e tenham sido avaliadas
as prevalências das alterações com a região geográfica, não foi possível
realizar uma comparação direta com outros estudos, uma vez que não foram
encontradas informações válidas sobre a frequência das lesões orais por bairro
ou área programática na cidade do Rio de Janeiro. Apesar de alguns
pesquisadores terem buscado determinar a frequência de lesões orais em
diferentes regiões geográficas brasileiras, essas informações ainda são
escassas, principalmente na região Sudeste onde se localiza a FO/UFRJ
44
(Corrêa et al., 2006; Henrique et al., 2009; Martinelli et al., 2011; Kniest et al.,
2011; Saintrain et al., 2012; Vale et al., 2013).
Com relação ao hábito do tabagismo, os resultados demonstraram que
11,2% dos indivíduos incluídos no estudo eram tabagistas. Estes dados estão
em concordância com os dados do Ministério da Saúde, que apontou 10,8% de
fumantes na população brasileira em 2014. A maioria dos pacientes fumantes
no presente estudo eram do gênero feminino e do grupo de adultos, as
informações de 2014 relatam que a maior porcentagem de pacientes tabagistas
é do gênero masculino, e maior no grupo de adultos, uma vez que a frequência
de fumantes no país é menor antes dos 25 anos de idade ou após os 65 anos.
A prevalência de pacientes etilistas neste estudo foi de 13%, sendo mais
comum no gênero feminino, e na faixa etária de adultos, similar aos dados do
Ministério da Saúde, que relatam que 12%, da população adulta é etilista e este
hábito é ligeiramente mais comum em pacientes do gênero feminino,
corroborando com os resultados encontrados.
Em alguns trabalhos, para facilitar a análise e interpretação das
condições patológicas, essas foram dividas em categorias, assim como no
presente estudo (Jones & Franklin, 2006a; Jones & Franklin, 2006b; Shah et
al., 2009; Neville et al., 2009; Vale et al., 2013). Entretanto, como ocorreram
variações entre os tipos de categorização, não houve a possibilidade de uma
análise direta de comparação de categorias, assim como foi relatado no
trabalho de Jones & Franklin. (2006a), onde houve dificuldade de associação
em algumas condições. As categorias que apresentaram maior prevalência no
presente estudo foram a de dor facial e neuromuscular, as neoplasias benignas
de tecido mole, as alterações patológicas das glândulas salivares e neoplasias
malignas. Os resultados encontrados diferem de outros trabalhos da literatura,
onde os grupos mais prevalentes foram os das lesões de tecidos moles, as
alterações patológicas dentárias como no estudo de Jones & Franklin (2006b),
as lesões inflamatórias, os cistos odontogênicos, os tumores benignos, as
lesões de desenvolvimento, neoplasias e as desordens potencialmente
malignas (Shah et al.,2008; Mendez et al., 2012; Vale et al., 2013).
A categoria mais prevalente dos trabalhos utilizados como referência
nesta pesquisa foi a de lesões inflamatórias e reacionais (Shah et al., 2009;
45
Mendez et al., 2012; Vale et al., 2013). Esta diferença significativa entre a
principal categoria identificada no presente estudo e a categoria mais
prevalente de outros trabalhos pode ser justificada pelo tipo de amostra que foi
utilizada. Considerando que a maioria dos indivíduos incluídos neste estudo
eram oriundos do ambulatório de quinta-feira de manhã do Serviço de
Estomatologia da FO/UFRJ, o qual é referência em dor facial e neuromuscular,
principalmente para o tratamento da neuralgia do trigêmeo, a alta frequência de
pacientes nessa categoria pode ser explicada.
No presente estudo, a hiperplasia fibrosa foi enquadrada na categoria de
neoplasias benignas dos tecidos moles. Apesar do fato desta não ser uma
neoplasia verdadeira, e ser considerada uma lesão reacional, este estudo se
baseou na categorização de Neville et al. (2009), que insere a hiperplasia
fibrosa nesta categoria, sendo esta a segunda mais prevalente. Este resultado
mostra similaridade com outros estudos, como o de Mendez et al, (2012), que
também encontraram alta frequência de pacientes com as condições alocadas
nesta categoria em categorizações similares, como a de lesões reativas e
inflamatórias. Esses autores atribuíram essa alta prevalência ao número de
pacientes edentados, que utilizavam próteses mal adaptadas por longos
períodos, sem que houvesse a substituição, fato que predispõe ao
desenvolvimento de alterações desta natureza.
A categoria dos cistos odontogênicos, ou apenas categoria de cistos
também foi relatada em outros estudos, mostrando alta frequência nos
pacientes avaliados (Jones & Franklin 2006b; Mendez et al., 2012; Vale et al.,
2013). No presente estudo a prevalência dessa categoria foi de 4,2%, sendo
até maior ou similar a outras pesquisas, 2,1% no estudo de Mendez et al.
(2012) e 4,13% no estudo de Vale et al. ( 2013). Nesta categoria, a maior parte
dos pacientes, eram adultos, o que corrobora com estudos anteriores, mas
difere em relação ao gênero, uma vez que a maioria era do gênero feminino,
sendo que nos outros estudos houve prevalência do gênero masculino (Jones
& Franklin 2006b; Mendez et al., 2012; Vale et al., 2013).
A dor facial e neuromuscular foi mais frequente na a faixa etária de
adultos e idosos (Maarbjerg et al., 2014; Wu et al., 2015). Os cistos e tumores
odontogênicos, foram mais comuns no grupo de jovens, também corroborando
46
com os dados descritos em estudos anteriores (Jones & Franklin 2006b;
Mendez et al., 2012; Vale et al., 2013; Amaral et al., 2016). A categoria de
neoplasias benignas dos tecidos mole foi mais prevalente no grupo de adultos,
também mostrando resultados similares com outros trabalhos publicados
anteriormente (Shah et al., 2008; Mendez et al., 2012; Saintrain et al., 2012;
Vale et al., 2013).
A categoria de neoplasias malignas foi mais prevalente nos pacientes
etilistas e não tabagistas. Entretanto, considerando o carcinoma de células
escamosas isoladamente, este foi mais comum em pacientes tabagistas e não
etilistas. Esses resultados podem estar relacionados com a baixa quantidade
de indivíduos da amostra, e não representam o esperado para esta associação,
uma vez que a literatura mostra que pacientes tabagistas e etilistas apresentam
maior predisposição para o desenvolvimento de lesões malignas, sendo o
carcinoma de células escamosas o tipo de tumor maligno mais frequente na
boca (Kavicic & Skaleric, 2000; Vallejo et al., 2002; Martinelli et al., 2011;
Mendez et al., 2012). No presente estudo, a prevalência de outras lesões
malignas foi superior ao número de casos de carcinoma de células escamosas,
que geralmente é o mais prevalente em estudos anteriores (Martinelli et al.,
2011; Mendez et al., 2012).
Analisando as alterações orais individualmente, a condição patológica
que foi mais prevalente nesse estudo foi à neuralgia do trigêmeo, seguida pela
hiperplasia fibrosa e líquen plano. Já o carcinoma de células escamosas
aparece em 5° lugar. Estes resultados diferem da maioria dos estudos
brasileiros, que apresentam a hiperplasia fibrosa como lesão mais prevalente,
com 12,6% no estudo de Kniest et al. (2011), 18,3% no estudo de Martinelle et
al. (2011) e 63,4% no estudo de Mendez et al. (2012). A neuralgia do trigêmeo
não aparece como uma das lesões mais prevalentes, uma vez que esta é
descrita como uma alteração incomum (Maarbjerg et al., 2014; Wu et al., 2015).
Este fato também está relacionado com o fato da clínica de Estomatologia da
FO/UFRJ ser referência no tratamento desta condição, o que torna a amostra
viciada, assim como no item das categorias, aumentando sua prevalência e
causando grande divergência com os trabalhos publicados anteriormente.
47
No presente estudo, a neuralgia do trigêmeo foi mais comum na faixa
etária de idosos, corroborando com literatura que relata essa condição é mais
frequente em pacientes da 6ª e 7ª décadas de vida (Alves et al., 2004;
Leocádio et al., 2014). Apesar dos relatos da literatura mostrarem que esta
condição é mais comum em mulheres, com relação de 3:2 (Maarbjerg et al.,
2014; Alves et al., 2004; Leocádio et al., 2014; Wu et al., 2015), não houve
nesse trabalho significância estatística quando a neuralgia do trigêmeo foi
correlacionada com gênero, embora sua prevalência tenha sido maior no grupo
de pacientes do gênero feminino 7,4% do que no masculino 1,4%.
A maioria dos estudos epidemiológicos apresenta a hiperplasia fibrosa
como a condição patológica mais frequente nas amostras analisadas (Mumcu
et al., 2005; Corrêa et al., 2006; Castellanos et al., 2008; Mujica et al., 2008;
Kniest et al., 2011; Martinelle et al., 2011; Mendez et al., 2012; Amaral et al.,
2016). Na população do presente estudo, a hiperplasia fibrosa foi a segunda
condição mais prevalente. Já o líquen plano em estudos anteriores apresentou
frequência de 0,5% no estudo de Mumcu et al. (2005), de 3,2% no de Vallejo et
al. (2002) e de 2,3% no estudo de Kavcic & Skaleric (2000), e nos indivíduos
avaliados nesta pesquisa a prevalência foi de 3,7%, sendo ligeiramente maior
do que encontrado nos outros estudos. Diferentemente dos trabalhos
anteriores, que relatam maior prevalência dessa condição em mulheres,
principalmente devido a alterações hormonais (menopausa) e ao estresse
(Kavcic & Skaleric, 2000; Vallejo et al., 2002; Mumcu et al., 2005; Corrêa et al.,
2006), não houve significância estatística desta condição com o gênero
feminino. Um fato interessante foi a maior prevalência desta condição em
pacientes não tabagistas , uma vez que alguns estudos associam esse hábito
aos períodos de exacerbação dessa condição, principalmente na forma erosiva
da doença (Eisen, 2012; Sousa & Rosa; 2008). Esse fato é importante ponto
de discussão, uma vez que existe grande divergência entre autores se o líquen
plano seria ou não uma condição potencialmente maligna e se o etilismo
estaria associado a uma pré–disposição para a transformação (Eisen, 2012;
Sousa & Rosa; 2008). Esta maior frequência de pacientes não tabagistas com
líquen plano pode ser justificada pelo pequeno número de pacientes
analisados.
48
A prevalência do carcinoma de células escamosas nesse estudo foi de
3,2%, sendo ligeiramente superior do que em estudos anteriores, como o de
Kniest et al.(2011) que foi de 2,4%, e no de Mendez et al. (2012) que foi de
1,9%. Essa frequência, entretanto, foi inferior ao estudo de Martinelli et al.
(2011), a qual foi de 4,7%. A literatura relata uma predominância pelo gênero
masculino e predileção pela 5ª a 6ª década de vida (Corrêa et al., 2006; Kniest
et al., 2011; Martinelli et al., 2011; Mendez et al., 2012). Neste estudo, houve
maior frequência de pacientes do gênero masculino. Entretanto, a relação
homem:mulher vem diminuindo ao longo dos anos, principalmente pela
mudança de comportamento das mulheres, as quais estão mais expostas aos
fatores de risco. Com relação aos hábitos, esta condição foi mais comum em
pacientes fumantes, também corroborando com os dados da literatura que
atribuem uma maior predisposição ao desenvolvimento do carcinoma nos
indivíduos tabagistas (Corrêa et al., 2006; Kniest et al., 2011; Martinelli et al.,
2011; Mendez et al., 2012). Entretanto, o carcinoma foi mais frequente em
pacientes que não possuíam o hábito do etilismo, mostrando divergência com
dados da literatura, que aponta o etilismo como um fator de risco para o
desenvolvimento do carcinoma de células escamosas de boca, (Corrêa et al.,
2006; Kniest et al., 2011; Martinelli et al., 2011; Mendez et al., 2012). Este fato
também parece estar relacionado ao tamanho amostral do estudo.
Esta pesquisa apresentou algumas limitações. Uma delas foi a amostra
utilizada, que era pequena, o que dificulta a interpretação dos dados e a
análise estatística das informações coletadas. Além disso, foi uma amostra de
conveniência, viciada, o que pode ter gerado resultados divergentes quanto à
prevalência das alterações orais, podendo não corresponder como um todo à
população atendida na FO/UFRJ. Como não há uma concordância entre os
pesquisadores quanto à classificação das lesões em categorias, pode ocorrer
diferenças na comparação dos dados com os estudos publicados, uma vez que
nesses trabalhos, a criação de muitas subcategorias ou a maneira de alocar as
lesões pode ter modificado a frequência dessas condições patológicas.
Portanto, futuros estudos com amostras maiores são necessários para
avaliar o perfil epidemiológico dos pacientes atendidos no Serviço de
49
Estomatologia da FO/UFRJ, o que é de fundamental importância para o
desenvolvimento de estratégias preventivas e educativas.
50
7 – CONCLUSÕES
51
8 - REFERÊNCIAS
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56
Anexo 1 – Autorização da SOBEP para utilização da técnica de Web scraping.
57
Anexo 2 - Aprovação do projeto pelo CEP
58
Anexo 3 – Licença MIT.
https://opensource.org/licences/MIT/acessofevereiro de 2016
59
Anexo 4 – Tradução livre em português da Licença do MIT.
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Anexo 5 – Licença para o programa que foi desenvolvido a partir da técnica de
Web Scraping.
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