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CALIBRE .

40 S&W
PARA OS AFRFs
Uma abordagem técnica

Elaborado por:

Antonio Benício de Castro Cabral – AFRF – DRF/Belo Horizonte-MG


Benedito Pereira da Silva Júnior – AFRF – DRF/Piracicaba-SP

Junho de 2003

a7396[1]
1) INTRODUÇÃO

O objetivo inicial deste trabalho foi atender a uma solicitação do


Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal – UNAFISCO
SINDICAL visando a elaboração de uma exposição de motivos de caráter técnico
que lastreie o pleito da categoria de que seja instada, junto ao Comando do Exército,
a edição de Portaria autorizando os Auditores-Fiscais da Receita Federal a
adquirirem, na indústria nacional e para uso próprio, pistola semi-automática em
calibre .40 S&W. Tal pleito tem seu fulcro na atual escalada de violência, da qual
não estão livres os agentes encarregados da aplicação da Lei, muito pelo contrário.
Os recentes atos de violência cometidos contra Juízes, Promotores e Auditores-
Fiscais só vêm confirmar esta triste situação. Buscando melhores condições de
defesa no exercício de suas funções os membros da Magistratura e do Ministério
Público, da União e dos Estados, foram contemplados, em 1° de Outubro de 2002,
com a edição da Portaria n° 535 que os autoriza a adquirirem armas e munições no
referido calibre. Como já exposto acima, nossa categoria clama pela edição de
Portaria similar que contemple os AFRF com o direito a esse importantíssimo
instrumento de defesa, motivo que levou ao início do presente estudo.
Porém, à medida que o trabalho avançava, verificamos que havia uma
lacuna de conhecimentos muito grande no seio da categoria, no que diz respeito a
armas, munições e emprego tático do armamento. Por isso resolvemos ampliar o
escopo do trabalho ministrando alguns conhecimentos básicos a respeito do
assunto, conhecimentos estes necessários para que os colegas menos
familiarizados com o tema possam se sentir em condições de melhor compreender
as vantagens e benefícios trazidos pela liberação e uso do .40 S&W.
Primeiramente, traremos alguns conhecimentos básicos sobre pistolas
semi-automáticas, munições e projéteis, bem como algumas particularidades do
estudo da balística. Mostraremos os calibres de armas curtas mais utilizados para
defesa pessoal e demonstraremos a importância do conceito de “poder de parada”
(stopping power) no enfrentamento de uma agressão. E finalizando, teceremos
alguns comentários sobre o instituto da legítima defesa.
O assunto é extremamente complexo, abrangendo várias disciplinas,
como a Física, a Química e a Medicina Legal, entre outras, passando também pela
ciência do Direito. Longe estivemos da pretensão de esgotar o assunto. Nossa idéia,
motivada pela necessidade prática, foi a de, tão somente, contribuir para uma maior
profissionalização do Auditor-Fiscal da Receita Federal – e por que não dizer, para
sua sobrevivência, em uma sociedade cada vez mais armada e violenta.
As armas de fogo têm sido encaradas pela mídia, e pelas pessoas
ingênuas e facilmente manipuláveis, como instrumentos do mal, e, por extensão,
quem utiliza armas de fogo também se inclui nesta classificação. Como alguém já
disse, armas não matam pessoas, pessoas matam pessoas. Em mãos treinadas e
conscientes, as armas se tornam instrumentos indispensáveis na sociedade
moderna, principalmente nas grandes cidades. Gostaríamos que assim não fosse,
mas o recrudescimento da criminalidade em nossos dias não nos deixa escolha: ou
assumimos coletivamente que o Estado nos autoriza a portar armas, e exercemos
este direito de modo consciente e técnico, ou ficamos à mercê daqueles que andam
à margem da lei.

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Se necessitamos utilizá-las, que o façamos dentro da técnica e de uma
doutrina que esperamos estar ajudando a formar. Doutrina onde não há espaço para
o erro, para falhas e imperfeições.
Esperamos que o presente trabalho, além de aumentar os
conhecimentos dos membros da categoria sobre o assunto, contribua para a
liberação do calibre .40 S&W, munição de elevado grau de eficiência, conforme
acreditamos restar comprovado ao final deste trabalho.
Rogamos ainda que todos compreendam a importância do tiro
dinâmico [ou policial] e seu treinamento, na atividade fiscal e na defesa de seus
familiares.
É o que nos propomos com este trabalho.

2-) PISTOLAS SEMI-AUTOMÁTICAS – ORIGEM E BREVE HISTÓRICO

Pistola Colt Government Modelo 1911 A1 em calibre .45 ACP

As chamadas “armas curtas”, aquelas que podiam ser portadas e


utilizadas por um só homem, tiveram sua origem nas armas longas e coletivas. A
evolução se deu de maneira que, cada vez mais, as armas pudessem ser
individuais.
Apesar de, até certo ponto na história das armas de fogo, as armas
curtas serem apenas uma “miniaturização” das armas longas, ou seja, possuírem
ambas os mesmos elementos, como cano, fechos e outros, muito semelhantes,
houve um momento em que as armas longas e curtas seguiram caminhos
diferentes, cada qual com sua evolução própria, em virtude de suas finalidades
distintas.
Desde que o homem desenvolveu o primeiro “canhão de mão”, iniciou
a busca da arma ideal, que pudesse ser facilmente portada, e que desse muitos
disparos (tiros) sem a necessidade de ser recarregada repetidamente. Desta busca
nasceram os dois tipos principais, hoje existentes, de armas curtas: o revólver e a
pistola semi-automática.

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Os revólveres sobrevivem até nossos tempos devido a excelentes
qualidades que os fazem armas robustas, aptas para o uso diário e extremamente
confiáveis. Derivam de um modelo da firma norte-americana Smith & Wesson, que
desenvolveu o revólver de tambor reversível (de “abrir para o lado”), à época da
criação e popularização do calibre .38 SPL, de cartucho metálico, apropriado para a
chamada retro-carga.
A outra classe de arma curta que merece nossa maior atenção, devido
ao escopo deste trabalho, é a das pistolas semi-automáticas. Com a criação dos
cartuchos metálicos de fogo central, e com os avanços na fabricação de novas
pólvoras e munições, foi possível a criação de uma arma de repetição que utiliza a
força dos gases produzidos na detonação, aplicando o princípio da igualdade entre
ação e reação para realizar, automaticamente, as operações de extração do estojo
deflagrado, ejeção deste para fora da arma, alimentação da câmara da arma com
novo cartucho e engatilhamento do mecanismo de disparo.
As primeiras armas semi-automáticas surgiram graças à criação do
aludido cartucho metálico. Andres Schwarzlose propôs, em 1893, uma pistola
automática, que utilizava o movimento do cano para o mecanismo de repetição e,
ainda que não tenha sido produzida, seu sistema adaptou-se a metralhadoras que
foram utilizadas na Primeira Guerra Mundial.
A primeira pistola semi-automática que alcançou fama mundial, embora
não tivesse sido comercializada em grande escala, foi desenhada pelo norte
americano Hugo Borchardt, que, na Alemanha, trabalhando por contrato para a
empresa Ludwig Loewe, a comercializou em 1893.
Esta arma já dispunha de carregador separado, no cabo, com
capacidade para oito cartuchos da munição 7,65 mm, que, mais tarde, daria origem
ao 7,63 mm Mauser. A arma de Borchardt foi a predecessora da famosa Luger,
sendo esta, de fato, foi uma atualização daquela.
Outro importante inventor foi o alemão Teodoro Bergmann, que em
1893 patenteou seu primeiro modelo de pistola semi-automática. Na Espanha, uma
pistola chamada Bergmann-Bayard, produzida em 1891, já dispunha de carregador
separável.
Outro marco na história da evolução das pistolas é a alemã Mauser C-
96, uma preciosidade mecânica que serve de modelo de funcionamento até para os
padrões atuais.
Nos EUA, John Moses Browning desenha sua primeira pistola em
1889. George Luger, outro alemão, produziu a P-08 (Parabellum 1908), verdadeiro
mito, baseado na arma de Borchardt. Esta arma foi amplamente utilizada nos dois
primeiros conflitos mundiais.
Em 1911, o Exército dos Estados Unidos adota, em substituição ao
revólver, como arma de coldre, a pistola de desenho Browning, em calibre .45 ACP,
fabricada pela Colt, denominada “Colt Government Model” (foto acima), considerada,
também, modelo de mecanismo para pistolas atualmente produzidas.
A Inglaterra adota em 1913 a Webley-Scott MK I, e, em 1915, a Beretta
italiana torna-se arma regulamentar do exército da Itália, popularizando de vez o
calibre 9 mm Parabellum.
Posteriormente, a Alemanha substitui a Luger P-08 pela Walther P-38,
a primeira a utilizar o sistema de dupla ação em seu mecanismo (Sistema que
permite que as armas possam ser acionadas sem prévio engatilhamento, ou
popularmente falando, sem precisar armar o cão).

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As pistolas semi-automáticas têm demonstrado, na prática, serem
armas de combate e defesa por excelência, não ocorrendo por acaso a substituição
gradual do revólver por esse tipo de arma curta.
Atualmente, fabricantes de pistolas como Glock e Sig-Sauer, Heckler &
Koch e as nacionais Taurus e Imbel, nos mostram que esta classe de arma tende a
substituir de vez o revólver, tanto na atividade policial quanto na defesa pessoal.

3-) MUNIÇÕES

As armas de fogo só foram possíveis graças à invenção da pólvora; por


sua vez, somente chegamos ao nível atual de avanço tecnológico com a invenção
do cartucho metálico. Unidade de munição das modernas armas de fogo, possibilita
seu emprego tático onde se deseja grande número de disparos no menor espaço de
tempo. Sem ele, seria impossível existirem novos sistemas de operação, assim
como não haveria as armas semi-automáticas e automáticas.
O cartucho metálico reúne, em si só, todos os elementos necessários
ao tiro. Foi elaborado de modo a ser introduzido diretamente na culatra da arma para
a qual é destinado, de modo manual ou mecânico.

O cartucho de munição possui os seguintes componentes, comuns a


todos os tipos: o projétil (1), o estojo (3), a carga de projeção (2) e a espoleta (4),
com sua carga iniciadora. Nada mais é do que a reunião dos elementos necessários
à alimentação da arma, em um único corpo. Sua finalidade é a de proteger os seus
componentes, oferecendo segurança ao operador da arma.

4-) O PROJÉTIL

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Exemplo de projétil semi-jaquetado ponta oca

O projétil é o artefato, metálico ou não, que é expelido pela arma de


fogo; é o principal e mais crítico elemento da munição. Seu tipo, forma e massa, vão
determinar, juntamente com a pólvora, os maiores ou menores efeitos balísticos ou
lesivos da munição.
Inicialmente concebidos no formato esférico, de diversos materiais,
deram lugar aos projéteis ogivais, de melhor perfil aerodinâmico, podendo ser de
chumbo ou encamisados (dotados de uma jaqueta metálica externa).
Deixaremos de tecer maiores comentários quanto aos demais
componentes do cartucho de munição, por não serem relevantes para o objetivo
deste trabalho. Mais adiante, estudaremos em profundidade o projétil, no tocante
aos calibres utilizados para defesa pessoal, visto sua importância e a necessidade
de conhecê-los, para melhorar o emprego tático do conjunto arma/munição.

5-) NOÇÕES DE BALÍSTICA TERMINAL

Denomina-se balística terminal, ou de efeitos, aquela parte da balística


que se preocupa com os efeitos do projétil no seu impacto contra o alvo.
Diversos são os efeitos dos projéteis em seu ponto de chegada,
dependendo de sua trajetória, das influências externas sobre a mesma, bem como
do tipo de estrutura do alvo (se de madeira, metal, tecido humano, etc.), o que vai
determinar seus maiores ou menores efeitos.

Peso de cargas de projeção e de projéteis

Aquele que inicia o estudo do tiro, e de assuntos a ele relacionados,


freqüentemente se depara com uma unidade de medida padrão nos EUA, utilizada
para medição de peso da pólvora e de projéteis, unidade esta sem equivalente no
Brasil: o “grain”.

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Um “grain” equivale a 0,0648 de grama; 7000 “grains” equivalem a uma
libra de peso. Utiliza-se esta unidade de medida, em virtude do baixo peso que
apresentam as cargas de projeção e os projéteis.
Como exemplo, seguem algumas cargas e pesos de projéteis para o
calibre .38 SPL:

Tipo de Projétil Peso (Grains) Carga (Grains) Tipo de Munição


Canto-Vivo 148 gr 2,8 gr Tiro ao alvo
Semi Canto-Vivo 158 gr 4,1 gr Standard
Semi encamisado, 125 gr 5,5 gr +P
ponta oca
Encamisado Total, 140 gr 5,6 gr +P
ponta oca

O parâmetro + P designa uma munição mais potente do que a padrão


(standard), e será abordado em pormenores mais adiante, em tópico específico.

“Stopping power”, ou poder de parada

Apesar de tratarmos especificamente sobre o poder de parada em


tópico específico dedicado somente a esse tema, em outro ponto deste trabalho, é
necessário que se compreendam os conceitos básicos deste tão polêmico assunto,
que tem proporcionado verdadeiras “batalhas campais” entre os mais renomados
expertos no tiro policial e defensivo.
O termo “stopping power”, que pode ser traduzido como poder de
parada, foi criado pelos norte-americanos para expressar a relação entre calibre e
incapacitação efetiva de um oponente com um só disparo, impedindo que o mesmo
continue sua ação. A obtenção de um bom poder de parada é essencial para o
exercício da defesa pessoal, onde se busca não matar, mas sim incapacitar o
oponente. O “stopping power” deriva da capacidade que um projétil tem de
descarregar sua energia cinética real sobre o alvo, imediatamente após o impacto.
Para aqueles que têm uma visão mais agressiva, de que se deve
sempre tentar exterminar o oponente, em um embate armado, cabe destacar que,
antes de morrer, uma pessoa movida pela epinefrina pode causar muitos danos no
pouco tempo de sobrevida. Conseqüentemente, o conceito de poder de parada,
além de afastar a desumana idéia de morte a qualquer custo, ainda traz consigo o
correto e atualizado ponto de vista de afastar o perigo.
O “stopping power”, a despeito de inúmeras experiências realizadas, é
um valor que, graças à individualidade biológica própria de cada organismo vivo, é
relativo, não se podendo afirmar que este ou aquele conjunto arma/munição é eficaz
100% das vezes em que for utilizado, pois cada organismo reage de modo diferente
ao ser atingido. O que se pode ter é um parâmetro baseado em estatísticas, como
veremos mais adiante.

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Efeitos primários dos projéteis

O projétil, ao penetrar o corpo humano, provoca dois tipos básicos de


ferimentos, que determinam seu poder de parada.
O primeiro, conhecido como canal de ferida permanente, é o efeito
lesivo que o projétil provoca ao romper os tecidos, e é observável após o disparo.
O segundo é denominado cavidade temporária. É produzido pelo
intenso choque provocado pelo projétil na massa líquida dos tecidos. Mais difícil de
ser observado (tanto que os médicos apenas admitiram sua existência
recentemente), consiste em uma grande cavidade aberta apenas por frações de
segundo, devido à elasticidade dos tecidos e ao choque hidrostático, chegando a ser
muitas vezes superior ao diâmetro do projétil e ao canal permanente. Segundo os
especialistas, é este segundo tipo de ferimento o responsável pelo poder de parada.

Cavidade temporária em gelatina balística, um composto de textura semelhante aos


tecidos humanos. Atentar para a diferença entre o diâmetro inicial da cavidade (à
esquerda) e o diâmetro do projétil (embaixo, à direita).

A obtenção do “stopping power” deve ser o objetivo do atirador:


incapacitar um agressor com um mínimo de disparos, sempre buscando atingir área
em seu corpo onde o projétil vá causar o imediato colapso do oponente, visando
com que este cesse o risco de vida que oferece ao atirador ou a terceiros.

6-) CALIBRES MAIS UTILIZADOS PARA DEFESA PESSOAL

Quando ouvimos falar de uma determinada munição, muitas vezes nos


perguntamos: será esse calibre bom para a defesa? quando alguém diz que o
calibre .22 LR é bom para defesa, estará ele sendo coerente? e quanto à pistola no
calibre 7,65 mm, é recomendável usá-la para nossa defesa e de nossos familiares?
Quando, na Receita Federal, é comentado sobre o calibre .40 S&W, o que temos a
dizer sobre ele? e o .45 ACP? é tão bom assim? se é tão bom, por que o Exército o
trocou pelo 9 mm Parabellum?

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Embora a legislação brasileira atual não permita a nós, Auditores-
Fiscais da Receita Federal, alçar grandes vôos no tocante a calibres de última
geração, nem quanto ao armamento correspondente, isso não impede que no
exercício de nossas funções legais nos deparemos com armas cujos calibres não
são permitidos a civis. Vamos citar aqui alguns dos calibres mais importantes para
defesa com armas curtas.

Calibre .22

É considerada a mais antiga munição de cartucho metálico do mundo,


com fogo circular (1845). Surgiu de experiências européias na busca de munições
para o tiro ao alvo, em recintos fechados, na primeira metade do século XIX.
Já o primeiro revólver a calçar o .22 Curto foi um Smith & Wesson “N°
1”, americano, concebido especialmente para a pioneira munição de estojo metálico.
O calibre .22 não foi concebido para produzir resultados balísticos
excepcionais, mas sim para utilização no tiro informal, ou para a prática de tiro ao
alvo, em competições com distâncias de alvos não superiores a 50 metros, além da
caça de pequenos animais. Dentro desse horizonte, alcançou um nível de qualidade
e precisão ainda não suplantado por nenhum outro calibre (exceto os calibres
recarregados profissionalmente).
O .22 Short (curto) foi criado em 1857, utiliza projétil ogival de 29
“grains” de peso, e é fabricado até hoje em todo o mundo.
O .22 LR (Long Rifle), criado nos EUA, inicialmente apenas para fuzis
(rifles), possuindo projétil de 40 “grains”, é hoje considerado a mais precisa munição
calibre .22 de fogo circular.
O .22 Magnum foi lançado em 1959 pela Winchester (EUA), sendo a
mais poderosa munição .22 de fogo circular. Na realidade um novo calibre, e não um
“.22 com cartucho alongado”. Pela sua performance, gerou extensa linha de armas
destinadas a calçar tal calibre.
Nos EUA, de cada 10 cartuchos disparados, 5 ou 6 são de calibre .22.
Sendo uma munição de baixo custo, é indicada para iniciantes no esporte do tiro.
Para caça, do ponto de vista balístico, não é a munição mais indicada,
porém cumpre bem a função pelo baixo custo, com a precisão ligada diretamente à
qualidade da arma que a calça. Com o advento dos aparelhos ópticos de pontaria
(lunetas) para os calibres .22 LR, a precisão teve um grande incremento para a caça
até razoáveis distâncias.

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O alcance da munição .22 LR é de 1,5 milha ou 2.400 metros
(aproximadamente), exigindo, portanto, muito cuidado no tiro informal ou na caça de
pequenos animais, pela possibilidade de transfixação do alvo.
O calibre .22 tem como principal desvantagem a irregular distribuição
da massa iniciadora (espoleta) ao redor de seu culote, que nem sempre é 100%
percutida. Quando isto ocorre, basta girar o cartucho na câmara da arma para que a
percussão se dê em outro ponto do culote, mas apenas em sessões informais de
tiro. Numa situação de defesa tal ato é completamente inviável.
A fragilidade do cartucho traz como conseqüência deformações no seu
corpo quando manuseado inadequadamente em armas semi-automáticas,
acarretando com isso problemas de alimentação.
Outra característica deste calibre é o pequeno impacto causado pelo
projétil contra um ser humano. A sua velocidade, aliada ao baixo peso do projétil,
gera um impacto insuficiente para interromper imediatamente uma ação ofensiva,
excetuando-se um impacto certeiro em pontos vitais.
Em termos de defesa, foi aperfeiçoado com o lançamento dos
cartuchos de 3ª geração, além do .22 Magnum, que possuem maior possibilidade de
gerar grandes traumatismos aos órgãos atingidos, devido à alta velocidade de
deslocamento do projétil.
É adequado o uso de um revólver ou pistola, neste calibre, para
defesa? O cartucho na configuração permitida pela legislação brasileira (.22 LR) não
é aconselhável para defesa pessoal, mas se fosse possível a utilização legal do .22
Magnum com projétil de ponta-oca, este seria sim um cartucho razoável para
defesa, pois sua balística se aproxima do .38 SPL, devido à alta velocidade do
projétil.

CALIBRE PESO DO PROJÉTIL VELOCIDADE

.22 LR STANDARD 40 grains 290 m/s


.22 LR 3ª GERAÇÃO 32 grains 436 m/s
.22 MAGNUM 40 grains 451 m/s

Calibre 6,35 mm Browning (.25 ACP)

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O calibre 6,35 mm foi criado pelo armamentista John Moses Browning
junto à Fabrique Nationale de Armes de Guerre (FN), de Herstal, Bélgica, em 1906,
para uso em uma supercompacta pistola de defesa.
Nos EUA o calibre foi introduzido em 1908, utilizando-se a medida de
diâmetro de seu projétil em centésimos de polegada, acrescido das letras ACP
(Automatic Colt Pistol), tornando-se então conhecido como .25 ACP ou .25 Auto.
Na Europa, nas décadas de 20, 30 e 40, era comum cavalheiros e até
damas portarem pequenos revólveres ou pistolas nesse calibre em seus bolsos,
bolsas e até nos grandes calções de banho dos policiais daquela época, durante
seus passeios e atividades.
No Brasil disseminaram-se pequenas armas nesse calibre, de origem
alemã e espanhola, até a década de 50, sendo que até hoje esse cartucho é
fabricado pela CBC.
Quando criado, buscou-se o mínimo em termos de portabilidade e
eficiência, com funcionamento simples e seguro.
Pelo baixíssimo “stopping power” (poder de parada) gerado pelo
calibre, não cabe analisar a viabilidade de se portar uma arma no calibre 6,35 mm
para defesa, pelo fato de que ele foi concebido para ser utilizado em última
instância, ou como 2ª arma.
Seu uso é útil de 2 a 5 metros, o que podemos chamar de “combate a
curta distância”, quase como um corpo-a-corpo. É o calibre mais fraco em termos de
energia, sendo desaconselhável a sua utilização para qualquer fim, pelo seu fraco
desempenho. Ademais, as armas criadas para esse calibre, normalmente pistolas
semi-automáticas extremamente compactas, não trabalham com o conceito de
precisão, como é o caso do .22.
A sua destinação a armas extremamente compactas tem como
vantagem o porte discreto, chegando a serem usadas como a arma reserva da arma
reserva. As armas calibre 6,35 mm têm como característica o fácil manuseio e
pequeno recuo, indicadas para iniciantes pouco familiarizados com o tiro.

DIÂMETRO DO PROJÉTIL .251”


ESPOLETA SMALL PISTOL
PRESSÃO MÁXIMA DE TRABALHO 19.900 c.u.p. (Cooper Units of Pressure)
COMPRIMENTO MÁXIMO DO 23,11 mm
CARTUCHO

Projétil Calibração Peso em grains Veloc. ft/s Veloc. m/s

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ETOG/BC .251” 50 760 232

ETOG/BC = Projétil totalmente encamisado, formato ogival, base côncava.

Calibre .32 S&W

Também conhecido como .320, foi criado por volta de 1860 nos EUA,
na configuração “Rim Fire” (fogo circular), ou seja, sem espoleta central no culote do
cartucho.
Dez anos após a sua invenção, os ingleses desenvolveram o calibre,
rebatizado de .320, agora de fogo central, especificamente para revólveres
produzidos pelas firmas Webley e Tranter. Com o advento de sua nova configuração
(fogo central), o calibre disseminou-se pela Europa, passando a ser fabricado em
diversos países. Os cartuchos em fogo central, no caso o .32 S&W (curto) e o .32
S&W Long, são fabricados até hoje e ainda mantêm um bom índice de vendas.
Há 40 ou 50 anos, as armas nos calibres .32 S&W Short ou .32 S&W
Long representavam a maioria daquelas utilizadas, tanto para a defesa quanto para
o uso policial, devido ao fato que o .38 era ainda considerado “demasiadamente
potente e pesado”.
O calibre .32, ao atingir um ponto vital do corpo humano, é tão letal
quanto qualquer outro calibre. Tratando-se de pontos vitais, não existe “calibre que
mata mais ou calibre que mata menos”.
Hoje, o calibre .32 é considerado inadequado para fins de defesa, pela
pouca capacidade que tem de transferir energia ao atingir o alvo. Presta-se mais
para sessões informais de “plinking” (tiro em pequenos alvos, como latas de tinta e
que tais).

DIÂMETRO DO PROJÉTIL .309”/.312”


ESPOLETA SMALL PISTOL
PRESSÃO MÁXIMA DE TRABALHO 13.900 c.u.p.
COMPRIMENTO MÁXIMO DO 23,62 mm
CARTUCHO

Projétil Calibração Peso em grains Veloc. ft/s Veloc. m/s


CHOG/BC .312” 85 680 207

CHOG/BC = Projétil de chumbo, ogival, base côncava.

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Calibre 7,65 mm Browning (.32 ACP)

Criado por John M. Browning em 1895, teve sua primeira utilização em


uma pistola semi-automática fabricada pela FN (Fabrique Nationale de Armes de
Guerre) belga.
Como na Europa já existia, havia muito tempo, a limitação por parte de
diversos países quanto à utilização de calibres superiores ao .32 (ou 7,65 mm), esse
calibre obteve grande aceitação por parte da população, pois calibres maiores eram
considerados de uso policial ou militar, ou seja, eram considerados calibres
potentes.
Em 1903, a Colt lançou nos EUA a primeira pistola no calibre,
denominada Colt Pocket Model, alterando então o nome do calibre para .32 ACP
(Automatic Colt Pistol).
Durante a 1ª Guerra Mundial (e até mesmo na 2ª), o 7,65 mm chegou a
ser empregado como munição militar por alguns países e foi largamente utilizado por
Oficiais Alemães como calibre de suas armas de porte. As armas no calibre 7,65 mm
foram também muito utilizadas como “back-up gun” (arma reserva) por serem,
tipicamente, armas de pequeno porte.
Utiliza projéteis com peso de 60 a 80 “grains”, considerados muito
leves para defesa pessoal, gerando um baixo poder de parada, tendo em vista a
velocidade desenvolvida após a queima total da pólvora.
Cartuchos fabricados hoje pela CBC (Companhia Brasileira de
Cartuchos), com projéteis de 71 “grains” (4,6 g) desenvolvem 905 pés/seg (276 m/s)
atingindo 175 Joules de pressão, quando medidos em provetes de 4 polegadas de
comprimento de cano. Podem ser utilizados em qualquer arma de boa procedência e
em bom estado de conservação.

DIÂMETRO DO PROJÉTIL .309”/.313”


ESPOLETA SMALL PISTOL
PRESSÃO MÁXIMA DE TRABALHO 19.900 c.u.p.
COMPRIMENTO MÁXIMO DO 24,99 mm
CARTUCHO

Projétil Calibração Peso em grains Veloc. ft/s Veloc. m/s

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ETOG/BC .311” 71 905 276

ETOG/BC = Projétil totalmente encamisado, formato ogival, base côncava.

Calibre .380 ACP

Foi lançado na Europa pela FN (Fabrique Nationale de Armes de


Guerre – Herstal, Bélgica) em 1902 e chegou a ser utilizado como munição militar na
Alemanha e Itália, nas armas de porte dos Oficiais.
Com um “stopping power” cerca de 20% superior ao calibre .32, ainda
é munição padrão de algumas forças policiais na Europa, devido à grande
portabilidade das armas que a utilizam.
Trabalha com pressões semelhantes às do .38 Special, porém, devido
ao binômio “baixo peso do projétil X pequena carga de pólvora”, não chega a causar
igual impacto no alvo, apesar de desenvolver velocidade superior. Encontra-se no
limiar entre os calibres “aceitáveis” para defesa e os calibres ineficientes.
Em 1987, o Ministério do Exército, através da Portaria n° 1237, incluiu
o calibre .380 ACP e as armas que o utilizam na classificação de “armas de uso
permitido”, acessíveis ao civil, causando sensação devido à novidade no mercado
brasileiro. A utilização para defesa pessoal não é recomendada, pela baixa
transferência de energia do projétil ao alvo.
Na Europa é conhecido como 9 mm Browning Short ou 9 mm “kurz”
(curto).

DIÂMETRO DO PROJÉTIL .355”/.356”


ESPOLETA SMALL PISTOL
PRESSÃO MÁXIMA DE TRABALHO 18.900 c.u.p.
COMPRIMENTO MÁXIMO DO 24,99 mm
CARTUCHO

Projétil Peso Velocidade


FMJ/BP 90 grains 302 m/s
SEPO/BP 95 grains 290 m/s

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FMJ/BP – Projétil totalmente encamisado de base plana.
SEPO/BP – Semi-encamisado de ponta oca, base plana.

Calibre .38 SPL (Special)

No decorrer da Guerra Civil Norte-Americana foram desenvolvidos


diversos cartuchos de fogo circular para armas de retrocarga, tendo sido criado até o
calibre .58”. Em 1865, com o fim da guerra, buscou-se um calibre que permitisse a
sua utilização em armas curtas, chegando-se então ao calibre .38, lubrificado
externamente e carregado com pólvora negra.
Os primeiros cartuchos da família .38 de fogo central mantinham o
diâmetro de .380”, até que em 1875, com o lançamento do .38 Long Colt, o diâmetro
foi alterado para .357/.358” (9,04 a 9,09 mm). Essa medida, na verdade, está muito
longe de ser um .38” (9,65 mm), mas, apesar disso, foi mantida a denominação
original de calibre .38.
Em 1902, a Smith & Wesson (EUA) lançou no mercado o calibre .38
SPECIAL, que se tornou um dos calibres mais populares do mundo, projetado para
ser utilizado em seu revólver Military & Police. Hoje o calibre .38 SPL, mais
conhecido como 38, é largamente utilizado pelas polícias no Brasil. Essa utilização
não significa que seja o melhor calibre para uso policial ou defesa. Foi popularizado
pelo baixo custo e por ser considerado, à época de sua adoção, um calibre razoável
para defesa. Mesmo com o advento de novos calibres, perdura ainda quase que
uma padronização deste diâmetro no meio policial.

Calibre .38 SPL + P

A munição .38 SPL + P (“plus power”, “plus pressure”, mais força, mais
pressão) é um desenvolvimento natural do calibre .38 criado no início do século
passado.
A munição + P é aquela que opera com pressões acima do padrão do
calibre, mas ainda dentro da margem de segurança estipulada pelos fabricantes de
armas.
Em 1974, o Instituto de Fabricantes de Armas e Munições Esportivas
(S.A.A.M.I.) dos EUA normatizou a nomenclatura “+ P” de acordo com as
características técnicas de cada calibre. O calibre .38 opera a um teto de 18.900

14
c.u.p. (Cooper Units of Pressure) sendo que o teto estabelecido para o .38 SPL + P
é de 22.400 c.u.p. Armas de boa procedência com manufatura recente e robusta
podem utilizar tal munição, porém seu uso constante ou excessivo acarreta um
desgaste prematuro da arma. Os revólveres TAURUS calibre .38 SPL fabricados a
partir de setembro de 1988, cujos números de série são iniciados pelas letras HI,
bem como os revólveres ROSSI fabricados a partir de janeiro de 1979, são
dimensionados para atuar com munição .38 SPL + P, devido a alterações efetuadas
na dureza de seus tambores.
É importante frisar que o uso contínuo de munição + P pode reduzir a
vida útil da arma que a utiliza, em especial aquelas de pequenas dimensões,
podendo exigir ajustes periódicos em seu mecanismo.
Com o maior recuo da arma, decorrente da maior potência do cartucho,
é aconselhável que o atirador efetue prévio treinamento com tal munição,
adequando inclusive o ponto de visada (armas de mira fixa) ou regulando o seu
sistema de pontaria (miras reguláveis).

Calibre .38 SPL + P +

O conceito + P foi levado ao extremo quando foi fabricada em uma


escala limitada, para órgãos de segurança norte-americanos, uma munição .38 SPL
denominada + P +, que atua na faixa dos 25.000 c.u.p. Essa pressão atua muito
próximo do limite suportável por uma arma calibre .38, de médias dimensões. O
resultado obtido em ganho de energia e velocidade não é compensatório, se
levarmos em conta os riscos decorrentes de sua utilização, a não ser quando
empregadas em armas no calibre .357 Magnum. Encontrada no comércio, sua
utilização requer os mesmos cuidados, quanto ao tipo de arma que irá recebê-lo, a
serem observados para o uso do .38 SPL + P.

.38 SPL .38 SPL + P .38 SPL + P +


DIÂMETRO DO .357”/.358” .357”/.358” .357”/.358”
PROJÉTIL
ESPOLETA SMALL SMALL SMALL
PRESSÃO 18.900 c.u.p. 22.400 c.u.p. 25.000 c.u.p.
MÁXIMA DE
TRABALHO
COMPRIMENTO 39,37 mm 39,37 mm 39,37 mm
MÁXIMO DO
CARTUCHO

Projétil Peso Veloc. m/s Veloc. ft/s Energia lb/ft


.38 SPL 158 grains 274 900 200

15
.38 SPL + P 125 grains 283 930 275
.38 SPL + P + 90 grains 301 990 296

Calibre .357 MAGNUM

Lançado juntamente com um revólver de armação pesada fabricado


pela Smith & Wesson, o calibre .357 Magnum surgiu no mercado americano em
1935, desenvolvido pela Winchester CO. em parceria com a Smith & Wesson,
buscando alcançar um desempenho elevado em termos de balística, trabalhando na
faixa de 42.500 c.u.p. Possui um cartucho alongado em .14” (3,56 mm) em relação
ao estojo do .38 SPL, visando impedir a sua introdução em tambores de revólveres
.38”.
Normalmente carregado com pólvora de base dupla, utiliza espoletas
de maior poder iniciador, do tipo “Small Pistol Magnum”.
Considerado um excelente calibre para defesa, é utilizado por Oficiais
da PM e por pequenos grupos especializados das polícias civis e militares, mas seu
uso requer critério e bom senso. Sendo uma munição de alta potência, tem grandes
chances de atingir outro alvo, além do desejado. Sua enorme potência pode
acarretar conseqüências indesejadas quando utilizada em locais com grande
público, ou contra obstáculo de baixa resistência, como paredes de madeira etc. A
menos que se utilize um projétil altamente expansível e deformável, este transporá o
alvo, atingindo outros mais adiante. Produz, como conseqüência, um grande recuo,
o que dificulta o seu uso por pessoa não habilitada.

Calibre .357 Maximum

Oriundo da parceria entre Remington e Sturm, Ruger & CO., (1983)


utiliza o cartucho .357 Magnum alongado em .300”, capaz de operar na faixa de
50.000 c.u.p., ou seja, semelhante à potência obtida por calibres de fuzis.

16
Devido ao excesso de potência, quando utilizado em revólveres
apresenta um fenômeno de erosão no cone de forçamento dos canos (parte inicial
do cano do revólver, próximo ao tambor) e na parte superior da armação (“gas
cutting” ou corte pelos gases da pólvora), apresentado na primeira centena de tiros,
reduzindo rapidamente a vida útil da arma.
Superior em potência ao .357 Magnum, é inviável o seu uso para fins
policiais/defensivos. É muito utilizado nos EUA para o tiro à silhueta metálica, que
demanda grande energia.

Projétil Peso do Projétil Veloc. m/s Energia lb/ft


.357 Magnum 158 grains 376 535
.357 Maximum 158 grains 556 1168

Calibre 9 mm Luger (9 mm Parabellum)

“Se Vis Pacem Para Bellum” – Se queres a paz, prepara-te para a


guerra. Cartucho criado pela DWM da Alemanha, em 1902, para utilização na pistola
militar Luger, passou a ser utilizado posteriormente por toda a Marinha e Exército
alemães.
Pelas suas características, é o cartucho para armas automáticas e
semi-automáticas que obteve a maior aceitação pelas forças militares e policiais do

17
mundo. Destaca-se a alta velocidade de seu projétil aliado ao pequeno tamanho do
cartucho, que possibilita a utilização de carregadores de grande capacidade em
armas compactas. Esta particularidade fez nascer nos EUA o conceito “wondernine”,
que nada mais é do que a exaltação das pequenas pistolas nesse calibre, com
carregadores de alta capacidade, classificadas então como armas de grande poder
de fogo.
O cartucho 9 mm Luger, quando utilizado com projétil ogival, totalmente
encamisado, possui bom poder de penetração, porém com pequena deformação,
reduzindo o seu poder de parada. Já com projéteis modernos, do tipo ponta oca
(EXPO), ou especiais (Glaser, Silvertip, Black Talon – projéteis norte-americanos), o
seu poder de parada aumenta consideravelmente, pelo aproveitamento da grande
velocidade do projétil, que ao chocar-se com o alvo deforma-se mais facilmente.
Tais características levaram o calibre 9 mm Luger a ser adotado por
diversas forças armadas em substituição ao calibre .45 ACP, a exemplo do Brasil, e
até mesmo nos EUA, que utilizavam o .45 ACP pelas suas características peculiares
e inclusive pela tradição, mas que ocupava muito espaço nos carregadores das
armas.
As polícias brasileiras utilizam este cartucho há vários anos nas suas
submetralhadoras (Taurus MT 12A, Heckler & Koch MP5A, etc.) e pistolas (Taurus
PT 92 – 15 tiros), fazendo uso do cartucho fabricado pela CBC (Companhia
Brasileira de Cartuchos).
O 9 mm só é considerado um bom calibre para defesa quando utilizado
com projéteis deformáveis, caso contrário ele transforma-se em um bom
“perfurante”, muitas vezes transmitindo o resto de sua energia inicial contra uma
parede, um carro ou uma vítima inocente, após atravessar o 1° alvo.

DIÂMETRO DO PROJÉTIL .354”/.356”


ESPOLETA SMALL PISTOL
PRESSÃO MÁXIMA DE TRABALHO 35.700 c.u.p.
COMPRIMENTO MÁXIMO DO 29,69 mm
CARTUCHO

Projétil Peso Veloc. m/s Veloc. ft/s


ETOG 115 grains 346 1135
SEPO 115 grains 354 1160

Calibre 10 mm Automatic

É um calibre que surgiu no final da década de 70, inspirado pela busca


de algo que se colocasse entre a alta velocidade com trajetória tensa do 9 mm
Luger, e a baixa velocidade com maior peso e diâmetro do .45 ACP.
Juntamente com o calibre, foi criada uma pistola para calçá-lo, de
nome BREN TEN, fabricada pela empresa Dixon & Dornaus, a qual, devido ao

18
fracasso da arma, faliu dois anos após seu lançamento. O calibre ressurgiu graças à
fábrica COLT, que lançou a pistola DELTA ELITE, onde o calibre ganhou força
comercial, gerando então lançamentos de outros fabricantes, como a GLOCK,
SMITH & WESSON, SPRINGFIELD ARMORY, etc.
Apesar de ser um calibre sem repercussão nos meios militares e
policiais, o FBI (EUA) fez estudos e ensaios com a finalidade de adotar o 10 mm
como padrão para uso em serviço, mas tal cartucho demonstrou ser
demasiadamente potente, gerando forte recuo e estampido. Trazendo dificuldade
inclusive na recuperação da visada no segundo tiro, o calibre 10 mm foi “abrandado”
utilizando projéteis mais leves, disparados a velocidades mais baixas, chegando a
uma balística semelhante à do calibre .45 ACP, adequado à função policial e para
defesa pessoal.

Projétil Comprimento do Peso Velocidade


Cartucho
Ponta Oca 31,98 mm 170 grains 427,5 m/s
FMJ 30,23 mm 200 grains 368,1 m/s

FMJ – Full Metal Jacket (Projétil totalmente encamisado).

Calibre .41 AE (Action Express)

Surgiu em 1863 com a finalidade de ser utilizado em uma pistola de tiro


único (“derringer”) de retrocarga. Era conhecido como .41 Short (curto) e possuía
fogo circular, ou seja, a espoleta era semelhante à dos atuais calibres .22.
Foram desenvolvidos diversos tipos de cartuchos nesse calibre,
chegando aos nossos dias na forma dos cartuchos .41 S&W Magnum, em 1964 e
.41 AE (Action Express), lançado em 1986.
O .41 AE foi criado para ser utilizado em armas originariamente
dimensionadas para calçar o calibre 9 mm Luger, com kit de conversão para o
calibre .41, possuindo o aro rebatido, ou seja, as dimensões de sua base são
idênticas ao cartucho 9 mm. Tal característica se traduziu em descrédito por parte
dos atiradores, que julgaram que o cartucho teria problemas de extração na arma.
Com o lançamento dos cartuchos 10 mm e .40 S&W, o calibre .41 tem
o seu futuro ameaçado. Atualmente é fabricada pela IMI (Israel) uma excelente
pistola, de nome JERICHO, no calibre .41 AE, com kit de conversão para 9 mm
Luger.

PROJÉTIL PESO VELOCIDADE


FMJ 200 grains 304 m/s

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Calibre .44

Apesar de já ser utilizado em diversas armas curtas nos anos de


1864/65, como em pistolas de tiro único, sendo produzido na época com cartuchos
de fogo circular, o calibre .44 evoluiu ao longo dos anos na forma de mais de 25
tipos de cartuchos diferentes.
Hoje é comercializado em 3 configurações diferentes, conhecidas com
os nomes de .44 Special, .44-40 WCF (Winchester Center Fire), e .44 Remington
Magnum.
O .44 Special é uma evolução de um cartucho elaborado para
utilização militar na Rússia. Com o advento da pólvora sem fumaça, tal cartucho
cresceu comercialmente e hoje é utilizado em várias armas no mercado americano e
europeu. Taurus e Rossi fabricam para exportação excelentes armas nesse calibre.
O 44-40 WCF, sendo um calibre originalmente lançado para ser
utilizado em uma carabina (Winchester Modelo 1873), tornou-se popular inclusive no
Brasil, onde o Comando do Exército autoriza a utilização desse calibre para armas
longas. A Amadeo Rossi fabrica a carabina Puma, modelo Winchester, de ação por
alavanca, enquanto que a CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos) produz o
cartucho nesse calibre.
O .44 Remington Magnum é considerado calibre de uso RESTRITO no
Brasil e não é aconselhável a sua utilização por principiantes. Com o precedente
aberto pelo calibre .357 Magnum em relação ao .38 Special, Elmer Keith – atirador
conhecido nos EUA – desenvolveu o .44 Magnum aumentando a cápsula do .44
Special em 1/8 de polegada, para impedir a utilização em armas que não fossem
projetadas para o novo calibre, que trabalha com altas pressões (43.200 c.u.p.).
É hoje conhecido como “The Big .44” (“O Grande .44”), alcançando o
status de ser a mais poderosa munição para caça e defesa, para armas curtas, no
mundo. Apesar disso, não tem grande aceitação como arma de uso
policial/defensivo devido ao fato de os revólveres que a calçam serem extremamente
grandes, além do grande recuo do calibre, que torna praticamente impossível efetuar
disparos rápidos e seguidos com bom aproveitamento.

20
Esportivamente, é utilizado em revólveres e pistolas de tiro único para
a modalidade de silhuetas metálicas.

Calibre Peso Velocidade Observação


.44 Special 246 grains 230 m/s Cano de 6”
.44-40 WCF 200 grains 362 m/s Cano de 24”
.44 Magnum 240 grains 536 m/s Cano de 20”

Calibre .45 ACP

Apesar de ser um cartucho com projétil e estojo muito largos,


dificultando a utilização em armas compactas, é credenciado como uma das
melhores munições para uso policial e defesa. Combina um projétil largo e pesado
disparado a baixa velocidade, com um grande “stopping power”.
Seu desenvolvimento foi iniciado com a criação de aproximadamente
40 cartuchos diferentes. Em 1911, juntamente com a conhecida pistola Colt Modelo
1911, foi criado o calibre .45 ACP (Automatic Colt Pistol), por John M. Browning.
Hoje é conhecido pelos atiradores como o calibre básico para quem está iniciando
na recarga de cartuchos para armas semi-automáticas, tal a facilidade de
combinação de insumos (pólvora, projétil etc.) e a incrível tolerância por parte dos
mecanismos das pistolas na utilização de munição recarregada. O Brasil utilizou o
calibre .45 ACP até 1972/1973 em suas Forças Armadas, substituindo-o pelo calibre
9 mm Luger.

21
Encontramos aficionados, nos meios civis e militares, pelo .45 e pelas
armas que o utilizam (as “bocudas”, assim carinhosamente chamadas em referência
ao largo calibre), que não abrem mão daquele diâmetro, mesmo com o lançamento
de calibres mais modernos. É um calibre autorizado aos civis somente para
competições de tiro prático (IPSC).

DIÂMETRO DO PROJÉTIL .450”/.452”


ESPOLETA LARGE PISTOL
PRESSÃO MÁXIMA DE TRABALHO 19.900 c.u.p.
COMPRIMENTO MÁXIMO DO 32,39 mm
CARTUCHO

Projétil Peso Velocidade


Ogival/FMJ 230 grains 255 m/s
Semi-Canto Vivo/FMJ 230 grains 226 m/s
Semi-Canto Vivo/chumbo 200 grains 279 m/s
Calibre .40 S&W

Seguindo uma tendência mundial de equipar as polícias com pistolas


semi-automáticas e munições mais efetivas, diversas polícias brasileiras estão
optando pelo calibre .40 S&W.
O calibre .40 S&W, ao contrário dos outros dois mais conhecidos
calibres para armas semi-automáticas (9 mm Parabellum e .45 ACP), é um produto
recentemente lançado no mercado, que reúne, proporcionalmente, as vantagens de
ambos.
O calibre .40 S&W, lançado comercialmente em 1990, foi concebido a
partir do cartucho calibre 10 mm Auto. Assim que este último calibre foi deixado de
lado pelo FBI, a Smith & Wesson iniciou as pesquisas que resultaram no
desenvolvimento do calibre .40.

22
O .40 S&W foi praticamente desenvolvido para atender às
necessidades daquele órgão policial norte-americano, que pedia um cartucho com
projétil de 180 “grains”, carga propelente menor que a apresentada pelo cartucho
calibre 10 mm, sendo que este já apresentava o diâmetro considerado adequado
(projétil com diâmetro de .400”). O comprimento total do cartucho deveria ser menor
que o do 10 mm, com pressões de trabalho que pudessem ser suportadas por
armas de dimensões semelhantes às do calibre 9 mm, além de ser demandado um
desempenho que possibilitasse uma penetração de 12 polegadas em gelatina
balística, após atravessar um obstáculo fino de vidro ou madeira. Tudo isso
mantendo as características de transferência de energia ao alvo, mesmo sendo o
projétil totalmente encamisado.
Vemos então que as pesquisas derivaram de especificações técnicas
exigidas por uma polícia, para a criação de um cartucho, que seria utilizado por ela.
O que foi criado teve aceitação tão grande que hoje existe um “fenômeno .40” na
Europa e nos EUA, com a adoção deste calibre para uso policial, para defesa e
também para uso esportivo. Considerado calibre maior, é largamente utilizado em
provas de IPSC (Tiro de Combate) com excelentes resultados.
Estatísticas norte-americanas apontam o calibre .40 S&W como uma
das mais efetivas munições para defesa, com o seu “stopping power” chegando a
96%, (superando o calibre .45, historicamente conhecido como mais eficaz)
conforme tabela elaborada por Evan P. Marshall, atirador e pesquisador. Este
percentual somente é alcançado por uma marca específica de fabricação norte-
americana. Como não dispomos de tal munição, lançamos mão de cartuchos
fabricados pela indústria nacional, que apresentam desempenho semelhante à
média dos concorrentes internacionais.
Além disso, o calibre .40 S&W assemelha-se ao .45 quanto à sua
operação na arma, sem falhas significativas, ao contrário do 9 mm Luger, que é
naturalmente mais seletivo quanto à configuração dos itens utilizados na sua carga
ou recarga. Cabe citar aqui que uma comparação entre os calibres 9 mm, .40 S&W e
.45 ACP é natural, pois a competição entre o 9 mm e o .45 já é histórica, quanto à
eficiência no uso militar, policial e para a defesa do civil. O calibre .40 S&W veio
somar-se à dupla, apesar de ser considerado como uma munição que ainda
encontra-se na sua “infância”, em termos de mercado, pois foi lançada há pouco
mais de dez anos.
A indústria de material bélico se esmera no aprimoramento de produtos
para utilização deste calibre, com o cuidado de projetar armas mais robustas, com
detalhes reforçados, tendo em vista que o calibre .40 S&W realiza uma enérgica
operação de ferrolho (recuo do ferrolho, posterior ao disparo), causando fadiga
mecânica na estrutura da arma.
Não podemos entender a criação do cartucho calibre .40 S&W como
sendo o modelo definitivo, a exemplo do 10 mm Auto, que na década de 80 era
considerado como o calibre do futuro, mas que teve pouca expressão no mercado,
após o seu lançamento. Devemos, sim, observar as suas características mais
adequadas à função policial e defesa, tendo em vista que é uma munição idealizada
pela polícia para ser utilizada por ela.

DIÂMETRO DO PROJÉTIL .400”/.401”


ESPOLETA SMALL PISTOL

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PRESSÃO MÁXIMA DE TRABALHO 35.700 c.u.p.
COMPRIMENTO MÁXIMO DO 28,83 mm
CARTUCHO

PROJÉTIL PESO VELOCIDADE


SEPO/BP 180 grains 302 m/s

SEPO/BP = Projétil semi-encamisado, ponta oca, de base plana.

Calibres especiais

Existem pistolas semi-automáticas que disparam calibres típicos de


revólveres ou outros calibres ainda mais incomuns. São os casos da Desert Eagle
(calibres .357 Magnum, .41 Magnum, .44 Magnum e .50 Action Express), da Coonan
(calibre .357 Magnum) e da Wildey (calibre .475), além de outras.
Existem também alguns calibres desenvolvidos especialmente para
revólveres, objetivando a caça de animais de grande porte, como o .454 Casull. São
armas de tamanho descomunal, grandes e poderosas em excesso, que por isso são
desaconselháveis ao uso policial/defensivo, sendo mais usadas nos filmes de
Hollywood.

7-) “STOPPING POWER” – PODER DE PARADA E INCAPACITAÇÃO

Anteriormente, ao estudarmos a Balística Terminal, tivemos contato


com um importante conceito na avaliação dos efeitos dos projéteis de arma de fogo
em alvo humano, qual seja o conceito de poder de parada ou incapacitação – o
“Stopping Power” dos norte-americanos.
Neste tópico, inteiramente dedicado a este tema, iremos além daqueles
princípios já abordados sobre o assunto, o qual, apenas recentemente, passou a ser
alvo de estudos e a ser levado em conta quando da criação de novos calibres para
fins defensivos e policiais.
Até o final do século XIX, quando se desejava um aumento no poder de
incapacitação de um projétil de arma de fogo, era necessário aumentar o peso deste
projétil e a quantidade da carga de propelente. Como a pólvora empregada era a
pólvora negra, de baixo conteúdo energético e baixas pressões geradas com sua
queima, a variável incapacitação imediata não era levada em conta. Os projetistas
de armas e munições se preocupavam apenas em construir conjuntos arma/munição
precisos e confiáveis, sem se preocuparem muito com a qualidade dos efeitos
lesivos causados no alvo.
Com a descoberta da pólvora sem fumaça, foi possível aumentar o
alcance e a precisão dos projéteis, com a redução de peso dos mesmos, permitindo
a construção de armas menores e mais potentes. Isto causou a necessidade de um

24
estudo mais aprofundado sobre as munições e seus componentes, de modo a
permitir uma maior eficácia desses conjuntos, em situação de combate.

Origem e evolução do conceito de poder de parada

O termo “Stopping Power” teve origem no final do século XIX, para


expressar a capacidade de um determinado projétil em neutralizar um agressor,
pondo-o fora de combate, sem necessariamente matá-lo.
A questão do poder de parada foi analisada seriamente pelo Exército
norte-americano a partir de 1889, por ocasião das batalhas que ocorreram nas
Filipinas, contra os Moros, onde se observou a inadequação do calibre regulamentar
então utilizado, o .38 Long Colt, que não era suficientemente potente para tirar de
ação aqueles oponentes. Os nativos recebiam vários disparos antes de cessarem a
agressão contra os soldados americanos.
Problema semelhante enfrentaram os ingleses, em suas campanhas na
Índia, no século passado. Os indianos eram oponentes muito resistentes, que
continuavam a atacar os soldados ingleses mesmo após serem atingidos por
inúmeros disparos. Visando solucionar o problema, os ingleses idealizaram uma
munição para armas longas, no arsenal da província de “Dum-Dum”. O objetivo
desta munição era justamente ampliar o poder destrutivo em tecido humano. Alguns
autores afirmam que os testes com o chamado conceito Dum-Dum deram origem
aos projéteis encamisados. Foram experimentados projéteis com corte em cruz,
secionados e com diversos tipos de pontas, inclusive, primitivas “hollow point”
(ponta-oca).
Em 1903, os EUA formaram uma comissão para estudar o problema da
neutralização de oponentes com compleição física avantajada, e assim diminuir as
baixas no seu Exército. Os resultados dos estudos dessa comissão influenciaram os
EUA na adoção do calibre .45 ACP como de dotação regulamentar para armas
curtas militares. Esta comissão ficou conhecida como “comissão Thompson – La
Garde”, devido ao nome de dois de seus mais importantes membros.
Foram testadas munições de uso militar em bovinos vivos e em
cadáveres humanos, registrando-se os efeitos observados. Nos cadáveres,
suspensos no ar, era observada a capacidade de um projétil de fraturar ossos e de
transferir energia, mostrada pela oscilação dos corpos pendentes. Nos animais,
pretendiam ver o poder de incapacitação proporcionado pelos diferentes calibres.
Ainda não havia os modernos projéteis de ponta oca, e a comissão
utilizou os de chumbo puro ou jaquetados. Os calibres e formas de projéteis foram
os militares disponíveis na época, isto é, ogivais. Os resultados foram inconclusivos,
mas pareceu que os calibres maiores e mais pesados eram superiores aos mais
leves e mais rápidos.
Desse trabalho nasceu a teoria da relação calibre/momento, que é a
base das teorias que vieram depois.
Em 1930, Chalberlin, um coronel americano, conduziu um estudo com
cabras, escolhidas porque os ossos das cabras têm a mesma constituição mineral
dos ossos humanos. Foram usadas armas longas com velocidades dos projéteis
elevada. Entretanto, como os animais estavam anestesiados, não houve a
possibilidade de se estudar a incapacitação.

25
Mesmo assim, algumas conclusões importantes foram obtidas: a lesão
interna aumenta quando o projétil não segue de modo retilíneo, mas tomba e rola
nos tecidos, aumentando a cavidade temporária; projéteis secundários (na verdade,
estilhaços de ossos), provocados por ossos fragmentados, por exemplo, podem
causar destruição distante do trajeto do projétil; o movimento dos líquidos dos
tecidos causa danos em todas as direções, além daquela da trajetória do projétil.
Chalberlin deu importância à reação hidráulica dos líquidos dos tecidos animais, e
seu efeito sobre o sistema nervoso central.
Também nos EUA, no final dos anos 20, o General Julian S. Hatcher
realizou estudos baseados nos resultados da comissão Thompson – La Garde,
concluindo, à época, que a ocorrência do “Stopping Power” estava relacionada ao
momento (instante em que o projétil choca-se com o alvo [momento é um conceito
da física, que é, segundo o Dicionário Aurélio, o produto da massa pela velocidade]),
e afirmando que um projétil lento e pesado teria maiores chances de causar o
fenômeno da incapacitação imediata do que um mais leve e veloz. Hatcher
apresenta, inclusive, uma fórmula para cálculo comparativo da eficiência de
projéteis.
Os resultados, até aqui, mostravam-se inconclusivos e baseados mais
nas experiências do que em raciocínios realmente científicos.
Outro americano que realizou estudos referentes ao poder de
incapacitação de projéteis de armas de fogo foi um médico militar, o Dr. Flacker,
especialista em ferimentos por bala, que estudou longamente as necropsias de
pessoas atingidas por projéteis de armas de fogo.
Como o trajeto de um projétil pelo corpo humano deixa a cavidade
permanente causada pela lesão de sua passagem, lesão esta que pode ser vista no
ato da necropsia, esse pesquisador valorizou esta cavidade como causa da
incapacitação do agressor, e concluiu que os projéteis mais pesados têm uma
penetração maior, e, portanto, deixam maior lesão nos tecidos. Entretanto, além
dessa cavidade permanente, os estudos atuais mostram que há a cavidade
temporária simplesmente desconsiderada por Flacker por ocasião de seus estudos.
Há, ainda, um outro trabalho, executado por um policial norte-
americano, Fairburn, que estudou os resultados também reais de registros policiais.
O número de casos estudados foi pequeno, o que não permitiu ao pesquisador
separar as diferentes munições dentro de um mesmo calibre. Mesmo assim, suas
conclusões mais importantes são, por exemplo, que o calibre de maior poder de
parada é o .357 Magnum, que o melhor projétil em calibre .38 é o de 158 grains de
peso, ponta oca, semi canto vivo + P, e que o calibre .38 SPL não é efetivo, parando
uma agressão apenas uma vez a cada quatro casos.
Mais recentemente, em 1991, foi realizado um estudo em Strassbourg,
na França, onde um grupo de pesquisadores, que incluía médicos, fisiologistas,
neurologistas, veterinários, patologistas e especialistas em balística, analisou vários
calibres, desde o .380 ACP até o .44 Magnum, cada qual em diferentes
configurações. Como alvos, utilizaram cabras vivas, de tamanho padronizado, em
virtude de ter esse animal o tórax aproximadamente do mesmo porte do tórax
humano.
Cada animal foi deixado em uma cela, com água à disposição, sendo
alvejado, a partir de uma máquina de tiro, sempre no mesmo ponto, atingindo o
pulmão em uma posição alta que impedia que o projétil atingisse o coração ou um
grande vaso sangüíneo. O objetivo era estudar o poder de parada, através do

26
desfalecimento do animal atingido. Cada animal foi monitorado quanto ao
eletroencefalograma e à pressão arterial. Foi medido o tempo decorrido desde o
disparo até a incapacitação do animal (tempo médio de incapacitação total).
Depois de incapacitados (não necessariamente mortos) os animais
eram abatidos e necropsiados e, em caso de haver doenças ou estilhaços de ossos
ou de balas terem acertado o coração ou um grande vaso, esses casos eram
eliminados da estatística. Foi buscado apenas o resultado de um tiro capaz de
incapacitar o animal por efeito exclusivo da trajetória do projétil através dos tecidos.
Os resultados, mostrados em resumo geral na tabela a seguir,
expressos em tempo médio de incapacitação, confirmam plenamente o que Marshall
e Sanow, dois outros pesquisadores, apresentariam anos depois em seu trabalho.
Os menores tempos de incapacitação foram dos calibres .357 Magnum (o mais
rápido), o .40, o .45 e os projéteis mais leves em calibre 9 mm. O projétil 9 mm mais
pesado (147 grains), foi muito inferior. Outro resultado digno de nota é o que foi
obtido com arma curta, de duas polegadas de cano e em calibre .38 SPL, ponta de
chumbo ogival, que não incapacitou a cabra alvejada, mostrando-se ineficiente para
a obtenção do Stopping Power.

Calibre e Munição empregados Tempo médio de incapacitação (min)

.357 Mag 125 grains JHP 7,34


.40 S&W 155 grains JHP 7,86
.45 ACP 230 grains Hidra-Shock 8,40
.40 S&W 180 grains Black Talon 8,86
9mm Para 115 grains Starfire +P 9,02
.38 SPL 158 grains LHP +P 10,76
.380 ACP 90 grains Hidra-Shock 10,94
.45 ACP 230 grains FMJ 13,84
9mm Para 115 grains FMJ 14,40
.380 ACP 95 grains FMJ 22,80
.38 SPL 158 grains RNL 33,68

Pelos resultados desta pesquisa, podemos verificar que o calibre .40


S&W tem um desempenho excelente, superior a qualquer coisa alcançada pelos
calibres permitidos no Brasil (.38 SPL e .380 ACP) e até por algumas munições 9
mm Para e .45 ACP. Mais uma prova de que se trata de um excelente calibre para
defesa.
No Brasil, alguns autores se valeram da experiência norte-americana e
desenvolveram testes próprios para a obtenção de um índice de poder de parada. O
Campo de Provas de Marambaia, no Rio de Janeiro, estabelecimento de testes do
Ministério do Exército, em 1982, fixou o valor de 13,6 Quilogrâmetros (kgm) como
sendo a energia capaz de deter um homem, por ação do impacto, mesmo não o
atingindo em um ponto vital. Os estudos nacionais também ressaltaram a

27
importância da forma do projétil, em especial de sua ponta, como fator de aumento
do poder de parada de determinado tipo de munição.

Stopping Power: Estudos Atuais

Observa-se que um grupo de estudiosos atribui mais importância à


penetração dos projéteis, enquanto outro julga que a velocidade dos mesmos é mais
importante. São duas correntes que já vinham mantendo grandes e intermináveis
discussões, que ficaram mais intensas após o lançamento do livro “Handgun
Stopping Power – A definitive study” escrito por Evan Marshall, um ex-policial e
Edwin Sanow, policial em atividade. Esses autores realizaram o maior estudo até
hoje procedido sobre o tema, que durou cerca de quinze anos, onde foram colhidas
informações de tiroteios entre policiais e meliantes ou entre civis atacados por
marginais, relacionando os casos em que um tiro acertado interrompeu uma
agressão de imediato.
Marshall e Sanow viajaram por todos os Estados Unidos e por alguns
países da Europa, buscando subsídios – inclusive nos resultados das necropsias –
para sua pesquisa. O resultado desses estudos foi o referido livro, que analisa,
calibre por calibre, o desempenho das diferentes munições, relacionado com o peso
do projétil e com sua forma.
A análise de casos reais, e não apenas o raciocínio teórico, mostrou
que os projéteis mais leves, portanto com maior velocidade, e a configuração desses
projéteis, essencialmente, em pontas ocas, têm melhor desempenho de poder de
parada.
Marshall e Sanow atribuem um índice de incapacitação baseado nas
estatísticas dos casos reais observados. Se, estatisticamente, temos o relato de 100
casos de disparos com determinado calibre e em 50 casos o atacante foi posto fora
de combate com um único tiro, o poder de parada desse projétil será de 50%.
O trabalho mostrou que os projéteis leves e mais velozes têm um poder
de parada maior do que os mais pesados, mesmo quando esses têm a mesma
configuração (ponta oca, por exemplo).
As conclusões desses autores geraram mais polêmica, sendo
recebidas com descrédito pelos que se baseavam nos estudos anteriores, que
projéteis mais pesados, viajando a velocidades menores, possuem maior
penetração, e, portanto, poderão causar maiores danos nos tecidos humanos
atingidos, possuindo maior poder de parada.
A tabela a seguir, retirada do trabalho de Evan Marshall, ilustra a
relação de efetividade, em casos reais de confronto armado nos Estados Unidos,
entre diferentes calibres de uso defensivo/policial. Destaca-se a eficiência do calibre
.357 Magnum, um dos mais efetivos já criados, e que continua a ser uma excelente
opção, não obstante a atual tendência no uso de calibres de pistolas semi-
automáticas. Conforme já apontamos, o .357 Magnum é calibre típico de revólver.

28
Calibre e Munição Porcentagem de Parada

.357 Mag 125 grains JHP 96%


.40 S&W 135 grains COR-BON 96%
.40 S&W 155 grains STHP 93%
.45 ACP 230 grains Hidra Shock 88%
.44 Mag 210 grains STHP 88%
.41 Mag 170 grains STHP 88%
9 mm Para 115 grains STHP + P 79%
.44 SPL 200 grains STHP 72%
.38 SPL 158 grains LHP + P 72%
.45 ACP 230 grains FMJ 60%
.380 ACP 85 grains STHP 54%
.38 SPL 158 grains RNL 52%

Como resultado deste estudo, os autores afirmam que não há uma


munição mágica, que garanta 100% de poder de parada. Todos os trabalhos
asseveram que o fator mais importante para aumentar as chances de parar um
agressor é a colocação correta do tiro em seu corpo. O local atingido, na maior parte
das vezes, é mais importante do que o calibre utilizado.
Outro fator apresentado nos estudos de Marshall e Sanow é a questão
da penetração do projétil em alvo humano. Um projétil com pouca penetração
poderá não atingir a zona vital para a ocorrência da incapacitação imediata,
detendo-se em roupas grossas ou mesmo em ossos e outros obstáculos. Em
compensação, um projétil com alta penetração poderá transfixar o corpo do
agressor, e atingir um passante não envolvido no confronto.
Estabeleceu-se como padrão ideal de penetração a profundidade de 10
a 12 polegadas em corpo humano (cerca de um palmo). O projétil,
preferencialmente, não deverá transfixar o alvo, e sim, deter-se nele para uma
eficiente transmissão de toda a sua energia cinética.

Como funciona o mecanismo da incapacitação imediata

Mas afinal, como ocorrem os fenômenos orgânicos que possibilitam a


obtenção da incapacitação imediata?
Quando um projétil de arma de fogo atinge o cérebro ou o tronco
cerebral e destrói estruturas responsáveis pela consciência ou pelo tônus muscular
dos músculos que mantém o corpo ereto, ou quando o tiro atinge a medula espinhal
e interrompe o comando nervoso das pernas ou mesmo dos braços e das pernas,
dependendo da altura da medula atingida, ou, ainda, em algumas pessoas, quando
atingido um vaso calibroso importante, provocando o chamado choque
hipovolêmico, ou seja, a rápida perda de grande quantidade de sangue, há grande

29
probabilidade de que ele cesse imediatamente suas ações. Nesses casos, o
agressor deve cair instantaneamente.
A questão do choque hipovolêmico é um tanto controversa, pois pode
levar algum tempo, entre o atingir do projétil e a interrupção das funções motoras do
oponente: o agressor pode seguir em ação por tempo suficiente para concretizar o
ato agressivo. Mesmo com o coração ou a aorta, por exemplo, seriamente
comprometidos, um indivíduo pode não cair instantaneamente. Somente há parada
instantânea em cem por cento dos casos (ou o mais próximo deste valor) quando
aquelas estruturas nervosas mencionadas – cérebro e medula – são atingidas.
Um outro mecanismo, chamado de choque neurogênico é citado por
médicos especialistas como sendo um dos responsáveis pela queda imediata de um
oponente.
Sua ocorrência é fácil de ser observada, por exemplo, nas lutas de
boxe ou de vale-tudo, onde um lutador é posto fora de combate por um soco ou
pontapé na altura do fígado, na ponta do queixo ou no lado da cabeça. Esse
desfalecimento pode se dar por alguns minutos ou mesmo por alguns segundos,
seguido por uma sensação de desorientação e de dificuldade em manter o equilíbrio.
Isso ocorre porque o golpe atingiu áreas do corpo, embora
superficialmente, que transmitem impulsos nervosos ao sistema nervoso central e
que chegam à áreas que governam a consciência e o tônus dos músculos
antigravitacionais das pernas, os extensores, músculos que permitem ao corpo se
manter em pé.
Não se sabe com certeza, mas este pode ser o mecanismo que faz
com que uma pessoa atingida por um projétil em área não vital, desfaleça
imediatamente. A cavidade temporária parece ser a responsável pela ocorrência
deste choque e pela perda da consciência.
Segundo os médicos, estruturas como vísceras e ramificações
nervosas podem, se atingidas, provocar o fenômeno. A zona do corpo humano
limitada pela bacia pélvica, por onde transitam nervos importantes para a
sustentação das pernas e pela proximidade de plexos nervosos, como o plexo solar,
é um local de alta ocorrência do choque neurogênico.
O fenômeno, entretanto, é menos observado em indivíduos sob efeito
de drogas.
O atirador conta com três possibilidades principais de parar um
agressor instantaneamente: um tiro que atinja a cabeça e acerte principalmente a
estrutura do tronco cerebral; um tiro que secione a medula espinhal; e o tiro com um
projétil de alta velocidade, que gere uma cavidade temporária capaz de produzir o
citado choque neurogênico.
Assim, a maior certeza de parar imediatamente um agressor é acertá-lo
com disparos múltiplos, uma vez que os estímulos gerados por várias cavidades
temporárias se somam, e resultam em um poder de parada muito maior.
Podemos contar também com a incapacitação mecânica do agressor,
se nosso projétil atingir algum osso como o fêmur. Neste caso, o agressor irá cair
instantaneamente, tanto por problemas mecânicos como por reflexo pela dor.
Entretanto, permanecerá no domínio de seus movimentos com as mãos, e se estiver
armado com uma arma de fogo, poderá seguir atirando, pois não terá perdido os
sentidos.

30
Armas, munições e poder de parada

Dos trabalhos de Marshall e Sanow podemos tirar várias conclusões


acerca do poder de incapacitação de um determinado conjunto arma/munição.
Considerando que o critério adotado na pesquisa era o de considerar
somente os casos em que era empregado um único tiro que atingisse a região do
tronco do atacante/vítima, descartando-se os múltiplos ferimentos, tiros em membros
ou na cabeça, Marshall definiu incapacitação da seguinte maneira (para os fins da
pesquisa): se a vítima, quando atingida, entra em colapso antes de fazer algum
disparo ou expressar uma outra reação de ataque ou fuga; a vítima/oponente,
quando atingido, não poderia se deslocar mais do que três metros antes de entrar
em colapso.
Os estudos concluíram também que, tão importante quanto a arma e o
calibre utilizados, o ponto atingido no alvo e a possibilidade múltiplos disparos
garantem a ocorrência do stopping power. A melhor munição do mundo de nada
servirá se o usuário errar o tiro ou não conseguir repeti-lo dado o excessivo recuo da
arma.
Outra condicionante na obtenção do stopping power é a expansão do
projétil, que, necessariamente, deverá ocorrer. Armas curtas costumam apresentar
problemas na expansão de projéteis tipo ponta oca. Atingir altas velocidades em um
cano de arma longa é relativamente simples, mas para que isto ocorra em projéteis
disparados de armas curtas, é necessário um projétil especialmente construído para
este fim.
Esse fato ficou comprovado nos trabalhos apresentados, onde os
maiores índices de incapacitação ocorreram com a utilização de projéteis especiais.
A munição mais efetiva mostrou ser a .357 Magnum, com índices
superiores a 96%. O .38 SPL, veterano conhecido, só é eficiente quando utilizado
em versões + P de ponta oca, e em armas de 4” de cano.
A seguir apresentamos uma tabela onde constam os calibres mais
comuns utilizados com propósitos defensivos/policiais, e seus respectivos índices de
incapacitação.

TABELA DE MARSHALL E SANOW

Quadro de Eficiência Real de Munições

31
Calibre Marca de Tipo de Número de Número de Percentual
Munição e Projétil casos casos em que de eficiência
Peso do analisados houve a (Stopping
Projétil (em incapacitação Power)
grains) imediata
.32 ACP W-W 60 STHP 71 43 60,56
W-W 71 FMJ 98 49 50,00
.380 ACP Federal 90 JHP 106 69 65,09
W-W 85 STHP 59 32 54,23
R-P 88 JHP 37 20 54,05
Federal 95 FMJ 87 45 51,74
.38 SPL W-W 158 LHP + P 75 50 66,66
(2” de cano) Federal 158 LHP + P 38 25 65,78
Federal 125 JHP + P 45 28 62,22
Federal 158 SWC 89 44 49,43
Federal 158 RN 206 101 49,02
.38 SPL W-W 158 LHP + P 222 167 75,22
(4” de cano) Federal 158 LHP + P 163 116 71,16
Federal 125 JHP + P 183 126 68,85
Federal 158 SWC 174 92 52,87
Federal 158 RN 306 160 52,28
9 mm Federal 155 JHP + P + 76 68 89,47
Parabellum Federal 124 Nyclad 185 150 81,08
W-W 115 FMJ 159 99 62,26
.357 Federal JHP 462 448 96,96
Magnum R-P S-JHP 27 22 81,48
R-P JSP 23 17 73,39
Federal JHP 63 57 90,47
.44 W-W 210 STHP 38 34 89,47
Magnum Federal 180 JHP 23 20 86,95
W-W 240 SWC 44 36 81,81
.40 S&W Federal 155 JHP 34 32 94
Winchester Silvertip 22 20 91
155
Federal 155 Hydra Shock 38 34 89
.45 ACP Federal 230 Hydra Shock 53 48 90,56
Federal 185 JHP 96 83 86,45
W-W 230 FMJ 139 89 64,02

Convenções:

W-W – Winchester Western; R-P – Remington Peters; STHP – Encamisada prateada ponta
oca; LHP – Chumbo, ponta oca; JHP – Jaquetado, ponta oca; S-JHP – Semi jaquetado ponta
oca; FMJ – Totalmente encamisado; SWC – Semi canto vivo; RN – chumbo ogival.

32
Mais uma vez, podemos constatar a eficiência do calibre .40 S&W, com
índice de parada da ordem de 90%, muito superior, por exemplo, ao .380 ACP
(calibre de pistola mais potente permitido no Brasil) que tem índice em torno de 60%.

Conclusões sobre o poder de parada

Finalizando este tópico, relembramos que o chamado stopping power é


um fenômeno relativo, que não pode ser calculado com uma certeza matemática
(apesar das várias fórmulas para seu cálculo apresentadas por diversos estudiosos
do assunto), pois depende de muitas variáveis, entre elas, a individualidade
biológica do oponente.
Em situação policial/defensiva, é necessário que a escolha do conjunto
arma/munição para porte recaia sobre aquele que possua um elevado índice de
incapacitação, índice esse obtido nos trabalhos sérios a respeito do tema, entre os
quais se sobressai o estudo de Marshall e Sanow.
Um exemplo de que o poder de parada é um valor relativo, e de que o
armamento para uso policial/defensivo deve ser o mais eficiente possível, é o do
famoso “tiroteio de Miami”, citado por diversos autores especializados no assunto.
Esse incidente aconteceu em Abril de 1986, em Miami, na Flórida (EUA), quando
dois marginais armados, cada um com um revólver .357 Magnum, um com uma
espingarda calibre 12 e o outro com um rifle, foram perseguidos por 8 agentes do
FBI. A perseguição terminou com a colisão de vários veículos, dentre os quais o dos
meliantes, o que possibilitou que os agentes os interceptassem. Alguns agentes do
FBI, segundo afirmam os especialistas, traziam seus revólveres sobre o banco do
carro, de modo a poderem empunhá-los mais rapidamente. Com o choque das
viaturas, as armas que estavam sobre os bancos foram jogadas longe, e muito
tempo foi perdido para apanhá-las.
Testemunhas afirmaram que foram disparados um total de 140 tiros em
apenas quatro minutos.As armas de coldre dos agentes eram revólveres .357
Magnum (5 deles) e pistolas 9 mm Parabellum (3 deles). Entre as falhas apontadas
no incidente está o fato de os revólveres estarem sendo usados com munição .38
SPL, 158 grains SWC HP, de chumbo, e não com a munição .357 Magnum.
Apenas dois dos agentes portavam uma backup gun (arma reserva),
mesmo assim, também no calibre .38 SPL. Com a enorme quantidade de tiros
disparados, vários dos agentes ficaram sem munição, sendo feridos ou mortos no
ato de tentarem remuniciar suas armas.
Os dois marginais foram mortos durante a ocorrência. Um deles,
armado com um rifle Ruger Mini-14, estava mortalmente ferido, com um projétil 9
mm Parabellum Silvertip 115 grains colocado a menos de meia polegada do
coração, tendo sido atingida a sua artéria pulmonar. Mesmo ferido, continuou
disparando seu rifle, matando e ferindo vários agentes.
Finalizado o tiroteio, restaram dois agentes mortos e seis feridos, dois
dos quais ficaram neurologicamente incapacitados. O FBI atribuiu a culpa do
fracasso da operação ao projétil utilizado, o 115 grains 9 mm Silvertip, que não
chegou até o coração dos oponentes, nos tiros que penetraram lateralmente o tórax,

33
depois de atingir o braço. Foi dito que a munição, se tivesse maior penetração,
poderia ter incapacitado os agressores.
A condenação da munição foi um pretexto para desviar a atenção da
verdadeira causa do fracasso: a falta de uma tática adequada, a ineficiência dos
policiais em acertarem seus oponentes e a munição inadequada dos revólveres. A
munição acusada foi o “bode expiatório”, e o FBI passou a usar uma munição com
projétil mais pesado e de maior penetração (de 147 grains, 9 mm, ainda em
configuração Silvertip).
Esse fato lamentável na história da polícia norte-americana, entretanto,
proporcionou alguns ensinamentos. A partir do incidente, o FBI iniciou um estudo
sério, investigando vários calibres, nas mais diferentes situações de tiro, inclusive
contra barricadas e obstáculos que possam se interpor entre os policiais e seus
oponentes.
Os resultados foram publicados em um livro e o FBI optou por utilizar
uma nova munição recém lançada, o 10 mm, em pistolas de grande porte, conforme
relatado anteriormente. Entretanto, o calibre 10 mm, como se viu, mostrou-se
exageradamente potente, com hiperpenetração e com recuo muito forte, além de as
pistolas do calibre serem muito grandes para serem portadas diuturnamente.
Como resultado do fracasso inicial do calibre 10 mm, houve a tentativa
de diminuir-se a potência sem alterar o diâmetro do projétil, mas de forma a diminuir,
também, o tamanho das armas.
Dessas tentativas surgiu o calibre .40, um 10 mm mais curto,
denominado .40 Smith & Wesson. A vantagem do calibre .40 S&W é que pode ser
usado em armas de menor tamanho, praticamente as mesmas pistolas que antes
serviam ao calibre 9 mm em uso no FBI.
Em pouco tempo o calibre .40 tornou-se o mais procurado pelas
agências policiais norte-americanas e adotado por uma grande parte delas. Hoje é o
calibre mais popular e talvez o mais respeitado, aproximando-se em balística do
.357 Magnum. Tudo como já informado alhures.
Os marginais baleados no confronto de Miami deram ao mundo
importantes ensinamentos com relação aos efeitos da adrenalina no corpo de um
homem sob grande tensão e perigo de vida iminente. Mesmo baleados mais de uma
vez e sangrando por artérias calibrosas, prosseguiram contra os policiais, matando
alguns e ferindo muitos, antes de tombarem. Em condições normais, um homem
baleado como foram aqueles, não teria sido capaz de prosseguir atirando. Tal fato
foi atribuído a possíveis drogas que pudessem ter sido consumidas antes da
ocorrência. Mas os exames posteriores comprovaram que os marginais não
possuíam nenhuma substância estranha no sangue.
Inúmeros outros casos poderiam ser citados, mas acreditamos já ter
sido suficiente o exemplo aqui dado. Esperamos não ter de passar pela mesma
experiência daqueles agentes, buscando aprender as lições que o fato já ensinou.
Por fim, afirmamos que é essencial para a obtenção do fenômeno do
stopping power, além dos fatores já vistos anteriormente, um conjunto arma/munição
preciso e eficiente, o tipo (configuração) da munição empregada, o local atingido no
corpo do oponente, múltiplos disparos nas zonas atingidas (salienta-se a importância
do segundo tiro), penetração suficiente do projétil (10 a 15 polegadas) e uma grande
cavidade temporária provocada pelo impacto do projétil.

34
8-) CONSIDERAÇÕES SOBRE LEGÍTIMA DEFESA

Uma das situações mais difíceis de nossa atividade, no que se refere


ao uso de armas de fogo, é a decisão de atirar. A decisão de tiro é um dos princípios
do tiro policial: o Auditor-Fiscal deve ter condições de decidir, com base na lei, o
momento correto de utilizar a arma.
É necessário que se tenha em mente o motivo pelo qual um Auditor-
Fiscal porta uma arma de fogo, capaz de tirar vidas. Sua intenção, carregando
consigo tal instrumento, não é a de agredir ou a de matar alguém, mas a de fazer
cessar, em determinadas circunstâncias, o risco à vida, sua ou de terceiros. O
Auditor-Fiscal deve usar uma arma para incapacitar um agressor e nunca com a
intenção de matar. O objetivo é sempre o de fazer cessar aquele risco.
Não obstante todo o planejamento de uma operação, precipitada a
situação de enfrentamento, antes de envolver-se diretamente no confronto armado,
ou numa situação de alto risco, o Auditor-Fiscal deve proteger-se, observar e estar
em condições de tiro. Estes três momentos distintos, entretanto, podem manifestar-
se num espaço de tempo muito pequeno, devido às condições de combate.
Além de proteger-se, observar e estar em condições de atirar, o
Auditor-Fiscal deve fazer para si mesmo três questionamentos básicos, antes de,
efetivamente, fazer uso da arma de fogo: primeiro deve perguntar-se se o agressor
tem habilidade em causar morte ou grave lesão corporal a ele ou a terceiros; sendo
positiva a avaliação, verificar se o agressor tem a oportunidade de utilizar esta
habilidade para causar a morte ou a lesão ao Auditor-Fiscal ou a terceiros; uma vez
determinado que o agressor tem a habilidade e a oportunidade, se sua ação
realmente colocará em perigo de vida ou de grave lesão corporal o Auditor-Fiscal ou
terceiros. Se a resposta a uma destas três perguntas – habilidade, oportunidade e
perigo – for não, provavelmente o Auditor-Fiscal não estará justificado para acionar a
arma de fogo.
A legislação penal brasileira reconhece o direito de defesa, de modo a
interromper ou impedir a ação agressiva, desde que os meios dos quais lancemos
mão sejam exercidos de modo moderado. A lei não nos autoriza a matar para nos
defendermos. Isto é tanto válido para o civil, para o policial, como para o Auditor-
Fiscal.
A morte do agressor poderá ocorrer por azar, sem que sejamos
autorizados a reagir com a intenção de matar. Se nos defendermos com uma arma
de fogo sem a intenção de matar, a morte poderá ocorrer dependendo das
estruturas orgânicas que forem atingidas pelos tiros disparados. Se for clara a falta
de intenção de matar, a morte do agressor deverá ser escusada.
Com relação às situações em que alguém pode cometer um crime, em
tese, sem que sobre ele recaia o juízo de condenação, estas são especificadas pela
lei penal brasileira. O Código Penal refere-se às excludentes de ilicitude, como o
estado de necessidade, a legítima defesa, o exercício regular de direito e o estrito
cumprimento do dever legal. Destes, o que mais nos interessa é a legítima defesa,
pois, na maior parte das vezes, é nesta excludente que irá se basear a defesa do
Auditor-Fiscal que porventura fere gravemente ou mata um agressor.

35
Sem querermos adentrar na seara do Direito Penal, mencionaremos
aquilo que diz respeito à decisão de o Auditor-Fiscal lançar mão ou não de sua arma
de fogo.
A lei penal brasileira entende em legítima defesa quem, empregando
moderadamente meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente,
contra um bem jurídico próprio ou alheio.
São, portanto, requisitos da legítima defesa, a agressão atual ou
iminente, e injusta, o direito próprio ou alheio e a moderação no emprego dos meios
necessários.
Entretanto, moderação não quer dizer que o Auditor-Fiscal deva atirar
apenas uma vez. Se a lei faculta o direito de defesa para interromper a agressão,
poderá atirar até que o agressor seja contido em sua ação. O excesso se
caracterizará se atirar no agressor já desfalecido, quando não há mais o risco aos
bens jurídicos vida e integridade física, dos ofendidos.
O uso da arma de fogo se dará, portanto, em legítima defesa, visando
exclusivamente parar a agressão, pela incapacitação ou fuga do agressor.
Esta incapacitação poderá ser pela perda dos sentidos, por
incapacidade locomotora, pela morte, ou pela fuga do agressor diante da atitude do
Auditor-Fiscal.
O uso correto dos meios de que dispõe o Auditor-Fiscal para fazer
frente aos riscos pode fazer a diferença entre o uso legal e o ilegal do armamento. A
arma de fogo, a princípio, é o último meio de que disporá o agente da Lei, utilizando-
o apenas em situações limites em que houver a justificativa de seu emprego.

9-) CONSIDERAÇÕES FINAIS

No dia 28 de janeiro de 2003, por volta das 22 horas, no Posto da


Polícia Rodoviária Federal de Barra Velha (SC), a equipe de serviço efetuou
abordagem em um veículo Jeep Cherokee com 04 ocupantes. Após a fiscalização
inicial, os ocupantes foram conduzidos para o interior do Posto para verificação e
consulta de documentos pessoais e do veículo. No momento em que estavam
dentro da edificação, um dos ocupantes tentou dominar o policial e sacar uma
pistola .380 que estava dentro de sua calça (abdômen/região pélvica). O policial que
estava do lado de fora, revistando o veículo, correu em auxílio, colocou-se próximo
ao vidro, fez visada e disparou, acertando o indivíduo que estava tentando dominar o
policial. Em ato contínuo, efetuou vários disparos nos outros três indivíduos. Na
seqüência, outro ocupante também sacou uma pistola .380 de dentro da calça e
tentou efetuar disparos. Da ação resultou a morte, no local, de dois abordados,
tendo, mais um, morrido a caminho do hospital. O último ficou gravemente ferido
com vários disparos de .40 (mais ou menos 6). Um dos policiais também ficou ferido,
com dois tiros (perna e mão). (Carta enviada à redação da Revista Magnum pelo
Policial Rodoviário Federal Sérgio Leonardo, lotado em Cascavel – PR)
Esse caso real é um exemplo da importância de se utilizar um calibre
de elevado poder de parada para a defesa. No caso em tela, podemos ver que
inicialmente havia uma vantagem numérica a favor dos meliantes, pois eram quatro
deles para apenas dois policiais, sendo que um destes estava em vias de ser

36
subjugado. O outro policial, corretamente abrigado e fazendo valer as técnicas
aprendidas em seu treinamento de tiro, utilizou seu armamento para reverter a
situação taticamente desfavorável, salvando a vida do colega e provavelmente a sua
própria.
Embora o treinamento tenha sua parcela de contribuição no desfecho
do episódio, é inegável que a utilização de armamento em calibre .40 S&W pelo PRF
foi decisivo. Ao proporcionar a incapacitação imediata de dois ou talvez três dos
oponentes, livrou os policiais de receberem retorno de fogo hostil que poderia ter
vitimado os agentes da Lei. Qual poderia ser o final desta história se os mesmos
estivessem portando revólveres em calibre .38 SPL com munição ogival padrão,
com seu índice de “stopping power” ao redor de 50%? Destacamos que esse era o
calibre/arma de dotação oficial pela PRF até meados dos anos 90.
Este é um dos episódios que atesta a correta decisão da maioria das
polícias brasileiras em adotar o .40 S&W como calibre de dotação regulamentar
(Anexo 1). E também mostra a vontade do Estado em melhor proteger os seus
agentes encarregados de fazer cumprir as leis. Proteção esta que já foi
corretamente estendida aos membros da Magistratura e do Ministério Público,
através da Portaria n° 535, de 1° de Outubro de 2002. Agora esperamos que o
Estado Brasileiro estenda aos Auditores-Fiscais da Receita Federal idêntico direito
de portar armas neste calibre, proporcionando melhor defesa no exercício de suas
funções fiscais e aduaneiras.
Gostaríamos de esclarecer que o Decreto n° 3665, de 20 de Novembro
de 2000, que instituiu o Regulamento para Fiscalização de Produtos Controlados
define, em seus artigos 15 e 16 os conceitos de armas de uso restrito, conforme
transcrito a seguir:

Art.15. As armas, munições, acessórios e equipamentos são classificados, quanto ao


uso, em:

I - de uso restrito;
II - de uso permitido.

Art. 16. São de uso restrito:

III - armas de fogo curtas, cuja munição comum tenha, na saída do cano, energia superior a
trezentas libras-pé ou quatrocentos e sete Joules, e suas munições, como por exemplo, os
calibres .357 Magnum, 9 mm Luger, .38 Super Auto, .40 S&W, .44 SPL, .44 Magnum, .45
Colt e .45 Auto. (grifo nosso)

Já em seu artigo 3°, a referida norma define, da seguinte forma, o


conceito de arma de uso restrito:

Art. 3° Para os efeitos deste Regulamento e sua adequada aplicação, são adotadas as
seguintes definições:

37
XVII – arma de uso permitido: arma cuja utilização é permitida a pessoas físicas em geral,
bem como a pessoas jurídicas, de acordo com a legislação normativa do Exército;

XVIII – arma de uso restrito: arma que só pode ser utilizada pelas Forças Armadas, por
algumas instituições de segurança, e por pessoas físicas e jurídicas habilitadas,
devidamente autorizadas pelo Exército, de acordo com a legislação específica; (grifos
nossos)

Da leitura dos artigos do supracitado Regulamento, entendemos ser


legalmente possível a liberação do referido calibre aos AFRF, para isso bastando
que seja editado, pelo Comando do Exército Brasileiro, a requerimento da Secretaria
da Receita Federal, Portaria similar àquela que já concedeu referido direito aos
membros da Magistratura e do Ministério Público.
Desta forma, e longe de querer elaborar um tratado sobre armas de
fogo, esperamos ter contribuído para um melhor aprimoramento dos Auditores-
Fiscais da Receita Federal no quesito armas de fogo, bem como ter propiciado
elementos de natureza técnica que possibilitem à instituição atender ao justo pleito
desta categoria funcional.

Os Autores

Junho de 2003

ANEXO 1 – Corporações policiais brasileiras que já adotaram o .40 S&W como


calibre regulamentar

1- Acre: Polícia Militar e Polícia Civil


2- Amazonas: Polícia Militar e Polícia Civil
3- Amapá: Polícia Civil
4- Bahia: Polícia Militar e Polícia Civil
5- Ceará: Polícia Militar e Polícia Civil
6- Distrito Federal: Polícia Militar e Polícia Civil
7- Espírito Santo: Polícia Militar e Polícia Civil
8- Goiás: Polícia Civil
9- Maranhão: Polícia Militar e Polícia Civil
10- Mato Grosso: Polícia Militar e Polícia Civil
11- Mato Grosso do Sul: Polícia Militar e Polícia Civil
12- Minas Gerais: Secretaria de Segurança Pública
13- Pará: Polícia Militar e Polícia Civil
14- Paraíba: Polícia Militar
15- Paraná: Polícia Militar e Polícia Civil
16- Pernambuco: Polícia Militar e Polícia Civil
17- Piauí: Polícia Militar e Polícia Civil

38
18- Rio de Janeiro Polícia Militar e Polícia Civil
19- Rio Grande do Norte: Polícia Militar e Polícia Civil
20- Rio Grande do Sul: Brigada Militar e Polícia Civil - Sec. de Justiça e
Segurança
21- Rondônia: Polícia Militar e Polícia Civil – Sec. de Segurança Pública
22- Roraima: Polícia Civil
23- Santa Catarina: Polícia Militar e Polícia Civil
24- São Paulo: Polícia Militar e Polícia Civil
25- Sergipe: Polícia Civil – Sec. de Segurança Pública
26- Tocantins: Polícia Civil
27- Departamento de Polícia Rodoviária Federal

Fonte: Taurus S.A.

Nota dos Autores:a Polícia Federal também o adota, entre outros, como o .357
Magnum.

ANEXO 2 – Portaria que autoriza os membros da Magistratura e do Ministério


Público a adquirir pistola em calibre .40 S&W

Comando do Exército
Gabinete do Comandante
PORTARIA Nº 535, DE 1º DE OUTUBRO DE 2002
Autoriza os membros do Ministério Público, da
União e dos estados, e os membros da
Magistratura a adquirirem na indústria nacional,
para uso próprio, arma de uso restrito.
O COMANDANTE DO EXÉRCITO, no uso da competência que lhe é conferida pelo inciso
VII, art. 32, da Estrutura Regimental do Ministério da Defesa, aprovada pelo Decreto nº
3.466, de 17 de maio de 2000, considerando o disposto no art. 16 da Lei nº 9.437, de 20 de
fevereiro de 1997, combinado com o art. 19 da Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de
1999, de acordo, ainda, com o estabelecido nos arts. 189 e 190 do Decreto nº 3.665, de 20 de
novembro de 2000, e conforme proposta do Departamento Logístico, ouvidos o Supremo
Tribunal Federal, o Ministério da Justiça e o Estado-Maior do Exército, resolve:

39
Art. 1º Autorizar os membros do Ministério Público, da União e dos estados, e os membros da
Magistratura a adquirirem na indústria nacional, para uso próprio, pistola calibre 40.
Art. 2º Determinar ao Departamento Logístico que baixe normas regulando a venda pela
indústria, a aquisição, o registro e o cadastro no Sistema Nacional de Armas (SINARM) das
armas adquiridas conforme o artigo 1º desta Portaria e, ainda, a aquisição da correspondente
munição.
Art. 3º Estabelecer que esta Portaria entre em vigor na data de sua publicação.
GLEUBER VIEIRA
(Of. El. Nº 23-A/3)

ANEXO 3 – Normas para aquisição de pistola em calibre .40 S&W pelos


membros da Magistratura e do Ministério Público

MINISTÉRIO DA DEFESA
EXÉRCITO BRASILEIRO
DEPARTAMENTO LOGÍSTICO

PORTARIA Nº 21 - DLOG, DE 23 DE DEZEMBRO DE 2002

Aprova as Normas Reguladoras da Aquisição, Venda, registro, Cadastro e Transferência de Propriedade da


Pistola Calibre .40, pelos membros da Magistratura e do Ministério Público, da União e dos Estados, e dá outras
providências.

O CHEFE DO DEPARTAMENTO LOGÍSTICO, no uso das atribuições constantes do inciso IX do art. 11 do


Capítulo IV da Portaria nº 201, de 2 de maio de 2001 - Regulamento do Departamento Logístico (R-128), de
acordo com a Portaria do Comandante do Exército de nº 535, de 1º de outubro de 2002 e por proposta da
Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados (DFPC), resolve:

Art.1º Aprovar as Normas Reguladoras da Aquisição, Venda, Registro, Cadastro e Transferência de Propriedade
da Pistola Calibre .40, pelos membros da Magistratura e do Ministério Público da União e dos Estados, que com
esta baixa.

Art. 2º Determinar que esta Portaria entre em vigor na data de sua publicação

Gen Ex CLÁUDIO BARBOSA DE FIGUEIREDO


Chefe do Departamento Logístico

NORMAS REGULADORAS DA AQUISIÇÃO, VENDA, REGISTRO, CADASTRO E TRANSFERÊNCIA DE


PROPRIEDADE DA PISTOLA CALIBRE .40, PELOS MEMBROS DA MAGISTRATURA E DO MINISTÉRIO
PÚBLICO, DA UNIÃO E DOS ESTADOS

ÍNDICE

40
I - DA FINALIDADE.........................................................................................................................2
II - DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES............................................................................................2
III - DA AQUISIÇÃO DE ARMAS E MUNIÇÕES...................................................................................2
IV - DA ENTREGA E DO PAGAMENTO................................................................................................3
V - DO REGISTRO..........................................................................................................................3
VI - DA TRANSFERÊNCIA................................................................................................................3
VII - DAS DISPOSIÇÕES GERAIS....................................................................................................4

ANEXOS

I - REQUERIMENTO PARA AQUISIÇÃO DE PISTOLA (OU MUNIÇÃO) CALIBRE .40


II - CONSOLIDAÇÃO DOS PEDIDOS DE AQUISIÇÃO DE PISTOLA (OU MUNIÇÃO) .40
III - REGISTRO DE ARMA
IV - REQUERIMENTO PARA TRANSFERÊNCIA DE PROPRIEDADE DE PISTOLA CALIBRE .40
V - RELAÇÃO DAS REGIÕES MILITARES

Capítulo I
DA FINALIDADE

Art.1º As presentes Normas regulam:

I - os procedimentos para a aquisição, venda, o registro, o cadastro e a transferência de propriedade da pistola


calibre .40 por parte dos membros da Magistratura e do Ministério Público, da União e dos Estados; e,

II - a aquisição da correspondente munição.

Capítulo II
DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 2º As Armas e munições de uso restrito somente podem ser adquiridas na industria nacional e com
autorização individual do Exército Brasileiro.

Capítulo III
DA AQUISIÇÃO DE ARMAS E MUNIÇÕES

Art. 3º Os membros da Magistratura e do Ministério Público, da União e dos Estados, poderão adquirir, na
industria nacional, uma pistola .40 para seu uso pessoal.

§ 1º A autorização para a aquisição da arma e/ou munição será concedida pelo Departamento Logístico - D Log
por intermédio da Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados DFPC

§ 2º A aquisição de munição calibre .40 só será autorizada aos possuidores de arma do mesmo calibre,
devidamente registrada.

§ 3º Poderão ser adquiridos a cada trimestre cinqüenta cartuchos calibre .40, exceção da primeira compra que
poderá ser de cem cartuchos.

Art. 4º As aquisições de armas e/ou munições deverão seguir a seguinte formalidade:

I - Requerimento (Anexo I) à chefia da instituição onde o interessado preste seus serviços;


II - após verificar a conformidade das informações, a instituição encaminhará o(s) pedido(s) à respectiva Região
Militar - RM em cuja circunscrição estiver sediada (Anexo V), elaborando o Anexo II;
III - a RM remeterá os pedidos com o seu parecer, à DFPC; e,
IV - após a autorização da aquisição, a DFPC, providenciará:

a) informação ao fabricante ou ao seu representante legal da autorização para aquisição de arma e/ou munição;
e,
b)encaminhamento, para conhecimento, a RM onde a fábrica estiver sediada, de cópia do oficio que autorizou a
aquisição.

41
Art. 5º Fica a cargo de cada Instituição respectiva a adoção de medidas necessárias para o desenvolvimento das
operações de recebimento e encaminhamento ao Exército Brasileiro das solicitações de aquisição de armas e/ou
munições, bem como as informações que envolvam transferência de propriedade, extravio, furto ou roubo.

Capítulo IV
DA ENTREGA E DO PAGAMENTO

Art. 6º As armas e/ou munições autorizadas, após adquiridas, deverão ser entregues pelo fabricante ao
Comando da Região Militar (Cmdo RM) indicada na autorização de venda.
Art. 7º As armas só poderão ser entregues aos respectivos proprietários após terem sido registradas no Sistema
Militar de Armas (SIMAR) do Exército Brasileiro.
Art. 8º Os contatos e procedimentos para a efetivação do pagamento referente à aquisição das armas e
munições, deverão ser realizadas diretamente entre o interessado e o fabricante.

Capítulo V
DO REGISTRO

Art. 9º O registro das armas adquiridas será realizado por meio da publicação em boletim interno reservado, de
cada RM responsável pela entrega das armas, devendo conter no mínimo os seguintes dados:

I - data de aquisição;
II - tipo;
III - marca;
IV - calibre;
V - modelo;
VI - número de série da arma;
VII - capacidade do carregador; e,
VIII - tipo de funcionamento.

Art. 10. Compete à RM que registrar a arma expedir o respectivo registro (Anexo III) e cadastrá-la no SIMAR.

Capítulo VI
DA TRANSFERÊNCIA

Art. 11º A transferência de propriedade da pistola calibre .40, dependerá de prévia autorização da DFPC, desde
que transcorrido o prazo mínimo de quatro anos do seu primeiro registro.

Parágrafo único. Para as transferências subsequentes não será exigido o prazo previsto no caput.

Art. 12º Para a efetivação da transferência de propriedade deverá ser observado o seguinte:

I - o novo proprietário não poderá ser possuidor de outra pistola .40, ressalvadas as exceções previstas em
legislação específica;
II - o adquirente deverá estar autorizado a possuir pistola calibre .40;
III - dirigir requerimento ao Diretor de Fiscalização de Produtos Controlados (Anexo IV), por intermédio da
Instituição respectiva, via Cmdo RM; e,
IV - a DFPC, após autorizar, informará ao Cmdo RM interessada que emitirá o respectivo Certificado de Registro,
entregando-o ao novo proprietário, e atualizará o Cadastro do SIMAR.

Capítulo VI
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 13º Em caso de óbito do proprietário, os legítimos herdeiros poderão transferir a propriedade da arma
conforme o previsto no art. 12, das presentes Normas ou recolhê-la ao Exército Brasileiro que se encarregará da
sua destinação, de acordo com o previsto no Regulamento para a Fiscalização de Produtos Controlados (R-105),
aprovado pelo Decreto nº 3.665, de 20 de novembro de 2000.

Art. 14º Ocorrendo extravio, roubo ou furto da arma o proprietário deverá registrar o fato, o mais rápido possível,
no órgão policial competente e comunicar oficialmente ao Cmdo RM onde foi realizado o registro da arma.

42
Parágrafo único. Os dados referentes à arma extraviada, roubada ou furtada deverão ser os mesmos previstos
para registro constantes do art. 9º.

Art. 15º Os casos omissos, relativos à execução das presentes Normas, serão resolvidos pelo Chefe do
Departamento Logístico.

Gen Bda JOSÉ ROSALVO LEITÃO DE ALMEIDA


Diretor de Fiscalização de Produtos Controlados

Referências Bibliográficas:

OLIVEIRA, João Alexandre Voss de; GOMES, Gérson Dias e FLORES, Érico
Marcelo. Tiro de Combate Policial. 2ª Edição, 2000.

REVISTA MAGNUM. (Periódico). Edição n° 82. Editora Magnum Ltda, 2003.

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