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Comunidades Tradicionais
Costeiras e Ribeirinhas
Socioantropologia de Povos e
Comunidades Tradicionais
Costeiras e Ribeirinhas
EDITORA
Belém, PA
2023
Universidade Federal do Pará - UFPA
Reitor - Emmanuel Zagury Tourinho
Vice-Reitor - Gilmar Pereira da Silva
EDITORA
Editora do INEAF
Editora-Chefe - Sônia Maria Simões Barbosa Magalhães Santos
Editor-Executivo - Fábio Leandro Halmenschlager
Editor-Assistente - Carlos Valério Aguiar Gomes
1ª Secretária - Naiara Soraia Lisboa Lima
2ª Secretária - Lívia Silva Santos
Conselho Científico
Brian Garvey - Universidade de Strathclyde
Carlos Valério Aguiar Gomes - UFPA
Elder Andrade de Paula - UFAC
Fábio Leandro Halmenschlager - UFPA
Gregory M. Thaler - Universidade da Geórgia/USA
Gutemberg Armando Diniz Guerra - UFPA
James Fraser - Universidade de Lancaster
Jeffrey Hoelle - Universidade da Califórnia/USA
Laure Emparaire - Institut de Recherche pour le Développement (IRD)
Maurício Gonsalves Torres - UFPA
Paulo Fernando da Silva Martins - UFPA
Sônia Barbosa Magalhães - UFPA
Projeto Gráfico
Cauã Victor Silva
Lívia Silva Santos
Sônia Barbosa Magalhães
Editoração Eletrônica
Cauã Victor Silva
Revisão
Flávio Bezerra Barros
Normalização
Naiara Soraia Lisboa Lima
Inclui bibliografias
ISBN 978-65-89473-05-3 (livro digital)
Realização
Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares (INEAF/UFPA)
Rua Augusto Corrêa, nº 1, Campus Universitário do Guamá, Belém, Pará
CEP: 66075-110 - Fone: (91) 3201-7913
E-mail: editoraineaf@ufpa.br
SUMÁR O
A PRE S E NTA Ç Ã O . . . . . . . . . . . . ............................. 7
PRE F Á C I O . . . . . . . . . . . . . . . . . .............................. 10
A P R E S E N TA Ç Ã O
Flávio Barros
Francisca Miller
Cristiano Ramalho
(Organizadores)
Socioantropologia de Povos e Comunidades Tradicionais Costeiras e Ribeirinhas 10
PREFÁC IO
Em lugares como Porto Inglês, onde ainda se conta com pescado em quantidade
considerável, os pescadores artesanais de linha de mão estão longe de serem
os moradores mais fragilizados social e economicamente. Ao contrário, na vila
de Porto Inglês, muitos dos pescadores mais experientes possuem boas casas,
15 O caso da pesca ar tesanal na Ilha do Maio, Cabo Verde, em perspectiva etnográfica
Figura 1 - O jovem pescador Nuno exibindo uma curubina de quase 100 quilos
Isso significa dizer que quando um pescador não quer ou não pode
ir às pescas, simplesmente não vai. Isso também significa dizer que quando se
pega um bom peixe logo no início das pescas, é possível voltar para casa mais
cedo, pois ir ao mar significa permanecer em estado de tensão, já que o mar
é vivo, perigoso e traiçoeiro e ninguém melhor do que um pescador artesanal
marítimo para saber disso.
por isso, vivida muitas vezes como uma espécie de jogo caloroso que implica
segredos bem guardados, parcerias, atritos e troféus (MALDONADO, 1986;
DIEGUES, 1983; CORDELL, 2001).
Para CABRAL (2001), será em Cabo Verde que pela primeira vez no
ocidente surgirá “uma sociedade escravagista, na qual a exploração contínua do
trabalho do escravo negro constituía a base de suporte da estrutura econômica
e social” (CABRAL; SANTOS; SOARES; TORRÃO, 2001, p. 2-3).
Por esse motivo também são notáveis conhecedoras das espécies capturadas
pelos pescadores que diante da ausência dos grandes peixes migratórios que
exploram, têm por hábito mudar o foco de seu esforço de pesca para uma
infinidade de espécies menores, mas sempre buscando preservar o valor do
peixe no mercado.
Socioantropologia de Povos e Comunidades Tradicionais Costeiras e Ribeirinhas 22
Nesse sentido, além do trabalho das peixeiras resultar numa distribuição muito
eficaz do pescado, driblando a falta crônica de infraestruturas de conservação,
elas praticamente eliminam o problema do intermediário e garantem que uma
parcela maior do dinheiro auferido com a venda do peixe permaneça com os
agentes da pesca, logrando um importante reforço do orçamento doméstico
das famílias envolvidas com a atividade (SILVA, 2018).
Figura 4 - O pescador César sorri exibindo uma isca viva no pesqueiro de ponto riba
Ocorre que a região de Cabo Verde, como toda a costa oeste africana,
ao longo das últimas décadas vem sendo cada vez mais explorada por grandes
embarcações, originárias de países industrializados cujos estoques de peixe
encontram-se comprometidos em função da sobrepesca (DIEGUES, 1983;
BELHABIB, 2014).
29 O caso da pesca ar tesanal na Ilha do Maio, Cabo Verde, em perspectiva etnográfica
de 5 centavos de euro que a União Europeia pagará à Cabo Verde pelo quilo
de atum: “Os cabo-verdianos pagam 600 escudos [5,40 euros] por um quilo de
atum e nós estamos a vendê-lo à União Europeia a seis escudos [cinco cêntimos]
o quilo. Você que é cabo-verdiano acha que isso é justo? Você que é europeu
acha que isso é justo?”. 2
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BELHABIB, Dyhia. West african fisheries: past, presente and ‘futures?’. – Tese de
Doutorado. The Faculty of Graduate and Postdoctoral Studies, The University
British Columbia, 213p. 2014.
CABRAL, Iva; Santos; SANTOS, Maria Amelia; SOARES, Maria João; TORRÃO,
Maria Manuel: Uma Experiência Colonial Acelerada (Sec. XVI-XVII). Portal do
Conhecimento, 2012.
CABO VERDE. Direção Geral das Pescas. Plano de Gestão dos Recursos da Pesca.
In: Segundo Plano de Acção Cacional para o Ambiente: 2004-2014. v. 6. Praia,
2004.
GARCIA, João Carlos; RODRIGUES, Victor Luís Gaspar; TORRÃO, Maria Manuel
Ferraz. Ilhas, Portos e Cidades: Cartografia de Cabo Verde (Séculos XVIII-XX).
Lisboa ,UNI-CV/IICT, 2010.
SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia São
Paulo: Companhia das Letras, 2015.
SILVA, Hiliana Dolly Moniz. Pesca artesanal em Cabo Verde – Arte de pesca
linha-de-mão – MT. Dissertação de Mestrado. Departamento de Biologia,
Universidade de Aveiro, 51p. 2009.
SILVA, João Paulo Araújo. Homens e mulheres de “riba mar”: a pesca artesanal
de porto inglês, cabo verde, em perspectiva etnográfica – MT. Dissertação de
Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Antropologia e Arqueologia da
Universidade Federal de Minas Gerais, 140p. 2018.
Mas afinal, existe mulher pescando? Essa pergunta vem à cabeça da maioria
das pessoas quando citamos a existência dessas trabalhadoras. Segundo a
literatura (ALENCAR, 1990, BECK, 1991, WOORTMANN, 1992) sabemos que há
uma divisão sexual do trabalho nas comunidades pesqueiras e que esse modelo
se caracteriza pela ênfase que é dada a distinção das atividades e dos espaços
de acordo com os gêneros. A pesca de captura de forma embarcada, ou seja,
estar nas águas e não em terra, é tida como a atividade mais significativa para
a economia do grupo, a mais valorizada, a que requer força e coragem e,
portanto, acaba por ser atribuída aos homens.
3. O Capítulo IV da Lei 11.959, em seu artigo 8º, classifica pesca como I. Comercial: a) artesanal: quando
praticada diretamente por pescador profissional, de forma autônoma ou em regime de economia familiar,
com meios de produção próprios ou mediante contrato de parceria; podendo utilizar embarcações
de pequeno porte; b) industrial: quando praticada por pessoa física ou jurídica e envolver pescadores
profissionais, empregados ou em regime de parceria por cotas-partes, utilizando embarcações de pequeno,
médio ou grande porte, com finalidade comercial.
4. Os estuários são ecossistemas costeiros semifechados que possuem ligação livre com o mar e onde a
água marinha mistura-se com água doce oriunda das áreas terrestres. O estuário da Lagoa dos Patos ocupa
uma área de 963,8km² correspondendo, aproximadamente, a um décimo da área total da lagoa. Apresenta
um volume de 1,67x10 9m³, sendo um ambiente raso, com profundidade média de 1,74m. Cerca de 76%
de sua área tem profundidade inferior à 2m. O estuário tem uma importante função social e econômica
para as comunidades que vivem em seus arredores, onde são encontrados muitos pescadores artesanais,
algumas indústrias de pescados e um potente pólo industrial. Também, serve como corredor de escoamento
fluvial da produção interna do estado e do país através do Super Porto (um dos maiores de exportação da
América Latina) (SCHWOCHOW & ZANBONI, 2007). A Lagoa Mirim faz parte do sistema lagunar Patos-
Mirim, localizada no sul do Rio Grande do Sul com parte de seu limite fazendo fronteira com o Uruguai.
Assentada, sobre a planície costeira, possui uma área aproximada de 3.750 Km2 de área de superfície, destes
2.750 Km2 em território brasileiro e 1.000 Km2 em território uruguaio. No lado brasileiro compreende os
municípios de Santa Vitória do Palmar e Rio Grande em sua margem leste, e os municípios de Arroio Grande
e Jaguarão em sua margem oeste, e as províncias de Cerro Largo, Treinta y Tres e Rocha do lado uruguaio
(PIEDRAS et al., 2012).
5. Na classificação das pescadoras barcos seriam as embarcações maiores, medindo entre 8 e 15 metros,
construídas em madeira, com motor, consideradas Barco/Casa com as quais fazem os grandes deslocamentos
até os lugares de acampamento. Nessas embarcações encontram-se a cozinha, as camas, os mantimentos,
roupas, e os freezers para o armazenamento do pescado. Os botes e caícos seriam as embarcações menores,
medindo entre 3 e 5 metros, também de madeira, com ou sem motor que servem para o trabalho diário da
pesca, nessas embarcações são levadas as redes para o lançamento, boia, âncora e caixas de plástico para
armazenar os peixes que puxados (safados) das redes.
41 Socioantropologia de Povos e Comunidades Tradicionais Costeiras e Ribeirinhas
Figura 4 - Betinha com o filho e a mãe Marta no momento da conversa com a autora
Fonte: Foto da autora
“Ninguém sabe que a gente existe“: reflexões antropológicas com pescadoras 46
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
DUARTE. Constância Lima. Feminismo uma história a ser contada. In: Pensamento
Feminista Brasileiro: formação e contexto. Org. Heloisa Buarque de Holanda. RJ:
Bazar do Tempo, 2019.
FREIRE. Paulo. Pedagogia do Oprimido. , 13.ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983.
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação &
Realidade, v. 20, n. 2, p. 71-99, jul/dez. 1995.
Márcio Filgueiras
Instituto Federal do Espírito Santo
INTRODUÇÃO
Seu box atual, Wilson passou para uma conhecida. Disse que a
princípio não queria receber, mas ela insistiu, e ele também precisou de
dinheiro. Falou também que a Prefeitura lhe ofereceu um box no novo mercado
e que está considerando aceitar porque o filho dele quer trabalhar vendendo
peixes.
A REFORMA
PEIXARIA DO WILSON
ADMINISTRANDO CONFLITOS
Cerca de três meses depois, Wilson me disse que Paula não estava
mais atendendo seus telefonemas, já que os pacotes de 1kg que entregamos
tinham, na verdade, 450 gramas. Wilson se justificou para mim dizendo: “Mas
era o camarão que eu tinha pra trabalhar”. Como me explicou, “antigamente o
mercado não aceitava congelado, hoje já aceita”. Segundo Wilson, o camarão
congelado seria mais fácil de ter sua origem, qualidade e peso manipulados:
“Não é um comércio de sabedoria, é um comércio para acompanhar o mercado
hoje”... “Ninguém tá roubando, tá comprando do mercado”. Interpretei que o
comércio “de sabedoria” é aquele em que, através de uma rede de relações
estáveis e confiáveis, você consegue controlar a qualidade da mercadoria que
está negociando. Hoje, por outro lado, o máximo que consegue é “acompanhar
o mercado”, ou seja, tem que trabalhar com “o que tem”.
O CRÉDITO
A RECIPROCIDADE GENERALIZADA
comprar uma cama hospitalar para um rapaz que ficou tetraplégico, vítima de
um acidente, e outro para consertar o telhado de uma amiga que não possuía
condições financeiras; e a outra ação foi um almoço beneficente para ajudar
na compra de remédios para uma moça recém-operada12. E existe também a
realização de outros eventos beneficentes para ajudar pescadores em situação
de vulnerabilidade. Segundo ela, na ação feita para restaurar o telhado da casa
de sua amiga, muitas pessoas que não podiam contribuir diretamente com
quantias em dinheiro (por motivos religiosos, por exemplo), doaram materiais
de construção, como telhas, cimento, etc. contribuindo da forma que podiam.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
CID, E. & DIAS, Y. Recontando a história da pesca de Piúma. IN: CID. Et al (Org.).
Abordagens territoriais e práticas pedagógicas em territórios pesqueiros.
Cousa. Vitória, 2018.
MAUSS, M. 1974. Ensaio sobre a dádiva. Forma e razão da troca nas sociedades
arcaicas. In : _. Sociologia e Antropologia. v. II. São Paulo : Edusp. 1974.
INTRODUÇÃO
Joaquim Maia.
O MAPEAMENTO SOCIAL...
6. Cf. FERRETTI, Sérgio F. Querebentâ de Zomadônu: Etnografia da Casa das Minas do Maranhão. 3ª ed. Rio
de Janeiro: Pallas, 2009. (Original: 1983, 1ª ed. UFMA: 1986, 2ª ed. EDUFMA: 1996)
8. Conforme Almeida (1996, p.30), é o “conjunto de realidades factuais em que pessoas, grupos domésticos,
segmentos sociais e/ou etnias são obrigados a deixar suas moradias habituais, seus lugares históricos de
ocupação imemorial ou datada, mediante constrangimentos, inclusive físicos, sem qualquer opção de se
contrapor e reverter os efeitos de tal decisão, ditada por interesses circunstancialmente mais poderosos”.
O cajueiro: uma releitura etnocar tográfica do processo de territorialidade 80
a arrastar camarão, tirar caranguejo no igarapé. Ela diz não aceitar alimentos
congelados, ou seja, alimentos que deixam de ter propriedade natural. Além da
pesca, dona Maria quebrava coco babaçu para o sustento da família.
CAJUEIRO EM CONTEXTO...
CONCLUSÃO
REFÊRENCIAS
INTRODUÇÃO
5. Para aprofundar o tema, ler: (LEITÃO, 2009); (LEITÃO, 2010); (LEITÃO, 2012);
(LEITÃO, 2013); (LEITÃO, 2019).
9. Houve uma pausa, na qual o boletim deixou de ser publicado entre os anos
de 1993 a 1997.
93 O leme: histórias e lutas das pescadoras
Ainda nesse sentido, em novembro, Ano 10, trouxe uma edição sobre
o encontro entre as pescadoras e os agentes do CPP, ocorrido em 10 de outubro
daquele ano, com o objetivo de discutir sobre saúde e plantas medicinais (O
LEME, 1982). O tema das questões sanitárias continua na pauta e no cotidiano
das pescadoras.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
LOWY, Ilana. (2009). Ciências e gênero. In: Hirata, H. et al., Dicionário crítico do
feminismo. São Paulo, Editora da Unesp, p. 40-44.
SCOT. Joan. (1995). Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação &
Realidade. Porto Alegre, vol. 20, nº 2, jul/dez, pp. 71-99.
INTRODUÇÃO
Outra unidade familiar merece destaque por ser formada pelo único
ostreicultor com curso superior em nutrição (UnB) e o pai, já que a metade
dos ostreicultores Potiguara possui apenas o ensino fundamental. Esta unidade
revelou potencialidade de aprimorar o sistema produtivo no sentido de
melhorar a qualidade sanitária e nutricional das ostras. E, devido à proximidade
dos outros produtores, poderá influenciar os demais a aprimorar os cultivos, e
concretizar planos do ostreicultor nutricionista, como a criação de uma festa da
ostra local para divulgar o produto.
Figura 2 – Sistema suspenso fixo tipo mesa adotado em Porto Novo no Estuário do Rio Mamanguape (A);
preparação da mesa feita de varões de madeira fixados em cordas e rede náilon (B); Vista dos cultivos
submersos (C); Vista aérea (VANT-drone) de Porto Novo com as construções (D).
A B
C D
Fonte das fotos (figura 2): Fotos A, B, C (Fabiana Bezerra Marinho, 2018); D (André Luis da Silva);
Sistema de
Densid. / Tamanho do cultivo Produção
cultivo Fonte de renda
prod. (aprox. m2) (n) média
2006).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
ASPECTOS TEÓRICOS
RESULTADOS
DIVERSIDADE ECONÔMICA
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
FREIRE, A. L. B. F.; MILLER, F. S.
End of the jungle: how do the collectors and fishermen from patané (rn/Brazil)
perceive the scarcity of some plants?. SOCIOLOGY INTERNATIONAL JOURNAL.
, v.3, p.135 - 136, 2019.
MILLER, F. S.
Pescadores e Coletoras de Patané/Camocim. Natal/RN: EDUFRN, 2012, v.01.
p.190.
SAUER, S.; BORRAS JR, S. ‘Land grabbing’ e ‘Green grabbing’: Uma leitura da
‘corrida na produção acadêmica’ sobre a apropriação global de terras. Revista
Campo-Território, v. 11, n. 23, p. 06–42, 2018.
SAUER, S.; CASTRO, L. Lutas pela terra no Brasil: sujeitos, conquistas e direitos
territoriais. Revista sobre acesso à justiça e direitos nas Américas. v.2, 2017.
APÊNDICES
A Ilha do Combu é formada por cinco comunidades (figura 2), são elas:
Comunidade Beira Rio Guamá, Comunidade Igarapé do Combu, Comunidade
Furo da Paciência, Comunidade Igarapé do Piriquitaquara e Comunidade
Furo do Benedito. Atualmente moram, aproximadamente, 560 famílias nessas
comunidades, o que corresponde a mais de 2.000 pessoas.
157 Socioantropologia de Povos e Comunidades Tradicionais Costeiras e Ribeirinhas
extrativismo, mesmo que até o momento este último continue sendo uma
importante atividade econômica no local, inclusive abastecendo os bares/
restaurantes.
7. Ainda não há uma única definição usada para o turismo, em grande parte
devido o fato de ser um fenômeno complexo e por este ter se tornado objeto de
estudo de várias disciplinas relativamente recente.
Turismo e agência entre os ribeirinhos: a casa de chocolate da Ilha do Combú - PA 160
Foi uma questão de tempo para seus produtos ficarem famosos e sua
casa começar a receber muitos visitantes curiosos, inclusive chefs de fora do país.
Diante dessa movimentação de pessoas decidiram transformar a sala de sua casa
em uma loja para demonstração e venda de seus produtos (figura 6).
Turismo e agência entre os ribeirinhos: a casa de chocolate da Ilha do Combú - PA 166
Figura 6 – parte da sala da Dona Nena transformada em loja dos seus produtos
Viviane, filha da Dona Nena, que também trabalha com a mãe, revelou
que são em média 600 visitantes em apenas um dia do final de semana. Assim,
foi preciso aumentar o quadro de funcionários, pois somente a família não daria
conta de toda a demanda, como destaca Dona Nena:
REFERÊNCIAS
Breves, sede do lócus desta pesquisa, está localizada nos “Marajós” das
águas e florestas, à margem esquerda do Rio Parauaú, distante 160 km em linha
reta da capital Belém, trajeto esse que pode ser feito por meio de transporte
fluvial com duração média de 12h de viagem em navios ou balsas ferry boat
e de 6h em lanchas tipo catamarã, tendo opção também por via aérea em
aeronaves monomotoras fretadas com tempo de até 45 minutos. As viagens
fluviais acontecem diariamente e quase sempre se iniciam no final da tarde, às
18h, momento em que se encontram as águas do rio e o pôr do sol. Os navios
ou balsas transportam cargas e passageiros que têm a opção de viajar em redes2,
que são atadas umas ao lado das outras montando um arco-íris de sobreposição
de variadas cores ou podem se acomodar em camarotes com duas ou quatro
camas.
pinturas, outras não, cobertas por telhas de fibrocimento, de barro ou, ainda,
por palhas retiradas das matas. A maior parte das famílias que residem na
comunidade passam por dificuldades financeiras sérias e possuem como “renda”
principal os valores repassados pelo PBF.
Assim, apesar dos valores repassados pelo benefício não serem altos,
no entanto, as famílias procuram proporcionar aos seus familiares alimentos
diferenciados ao que costumam ter na comunidade, então: “o consumo se
concentra na alimentação (53%) que em geral compõe os produtos da cesta
básica local: açúcar, café, sabão em pedra, óleo de soja, leite em pó, sal farinha
e bolacha” (Corrêa, 2010:101). Deste modo, com o recebimento do benefício, os
moradores de Santa Luzia passaram a priorizar a aquisição de variados produtos
por meio da compra nos comércios da cidade. Fato este que ficou evidente
nas oficinas realizadas na escola com mais 150 alunos, que apresentaram os
produtos e alimentos que mais e menos consomem antes e após o recebimento
dos valores do benefício, dando destaque a cadernos, lápis, frango, mortadela,
bolacha, feijão, arroz, macarrão, café, açúcar.
INFLUÊNCIAS NA PESCA
Muitas mães ao saírem para pescar ou caçar levam consigo seus (suas)
filhos (as) mais velhos (as), para que ajudem e aprendam, como explica D. Maria:
“Os nossos a gente começa a puxar desde pequenino, para ir nos ajudando,
ensinando e aprendendo porquê de repente eu ou o teu pai morre e aí como
vocês vão fica para aprender no mundo? Eu aprendi com meus pais”. Na figura
1 abaixo, um momento de transmissão de saberes nas águas do rio Tauaú, em
que um avô pesca com sua neta, numa inter-relação de ensino e aprendizagem.
É dessa forma que, na maioria das vezes, as crianças da comunidade aprendem a
como se manter com os produtos que a natureza disponibiliza.
EXTRATIVISMO
alimentos nas principais refeições. Algumas frutas são cultivadas nos próprios
quintais, como explicou Seu Manoel (interlocutor da pesquisa): “A gente tem uma
árvore de pupunha, é no inverno que dá. Tem aqui atrás (no quintal), também, o
açaí, tem algum cachinho, mas está verde. É só no verão que dá mais! Nós não
planta!”.
8. Gamela, é uma vasilha, tigela ou bacia, usada de várias formas, como prato ou
para por comida na mesa, como recipiente para colocar comida para animais,
para usar em banhos ou lavagens, pode ser oval ou redonda, é geralmente feita
de madeira.
Socioantropologia de Povos e Comunidades Tradicionais Costeiras e Ribeirinhas 190
Por muitos anos o Rio Tauaú foi a única rota de entrada e saída da
comunidade, utilizada pelos primeiros moradores, que usavam pequenas canoas
a remo movidas pela força humana, que dependendo do destino poderia ter a
duração de várias horas. Atualmente, os ribeirinhos que ainda utilizam o rio como
caminho de entrada e saída da comunidade, ou para pescar, possuem, em sua
maioria, suas próprias canoas e/ou rabetas, poucos chegam a ter barcos a motor,
e somente alguns donos de sítios/balneários possuem voadeiras, para realizar
viagens que duram no mínimo 01h de Breves à comunidade ou vice-versa.
Figura 8 - Casa de ribeirinhos no rio Tauaú, com casco a remo e rabetas para locomoção
dos moradores.
do uso do rio para locomoção, que era algo que afligia muitos moradores.
Assim, com o valor do benefício e a abertura da estrada, a alimentação se
diversificou, tendo a maior entrada de produtos industrializados, como mostrado
anteriormente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
OLIVEIRA I. A. de; Mota Neto, J. C. da. 2008. Saberes da terra, da mata e das
águas, saberes culturais e educação. In: Cartografias Ribeirinhas: Saberes e
representações sobre práticas sociais cotidianas de alfabetizando amazônidas.
Belém: EDUEPA. 2ª Edição. Pp. 63-80.
SOBRE ORGANIZADORES
E AUTORES
Organizadores
Autores