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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Christiane Grace Guimarães da Silva

O protagonismo feminino no projeto missionário do metodismo norte-


americano no Brasil: uma análise do "Woman's Missionary Advocate"
(1880-1910)

Doutorado em Educação

São Paulo
2017
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP

Christiane Grace Guimarães da Silva

O protagonismo feminino no projeto missionário do metodismo norte-


americano no Brasil: uma análise do "Woman's Missionary Advocate"
(1880-1910)

Tese apresentada à Banca Examinadora da


Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
como exigência parcial para a obtenção do título
de DOUTORA em Educação: História, Política,
Sociedade sob a orientação do Prof. Dr. Mauro
Castilho Gonçalves.

Doutorado em Educação

São Paulo
2017
Banca Examinadora

___________________________________________

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___________________________________________

___________________________________________

___________________________________________
Dedico a Gabriella Moreno Azevedo Carvalho
Pela generosidade e carinho
AGRADECIMENTOS

Foi difícil. Muito difícil e trabalhoso. Por ser uma longa trajetória, este
espaço certamente está livre das normas e exigências acadêmicas.
Meu primeiro agradecimento é para minha família, especialmente meus
pais, Luiz e Sonia, e minhas irmãs, Priscila e Daniela. São, certamente, meus fãs numero um.
Alguns amigos e familiares foram importantes nessa trajetória e não poderei
citar todos para não correr o risco de esquecer alguém. Mas em nome do meu querido primo,
Nelson Geraldo, que no início me auxiliou carinhosamente nas traduções, agradeço a todos
eles.
Agradeço especialmente ao Eduardo, meu companheiro de vida, por garantir
que todos os meus compromissos, fora da elaboração desta pesquisa, pudessem acontecer
mesmo na minha ausência. Sem contar as reflexões e sugestões a cada capítulo finalizado.
Ao Prof. Dr. Mauro Castilho Gonçalves, meu orientador, pelo
acompanhamento próximo e cuidadoso. Mais do que um orientador, um amigo.
Em nome do Prof. Mauro, agradeço todos os professores do Programa de
Pós-Graduação em Educação: História, Política, Sociedade. Sentirei saudades de todos
aqueles que de maneira direta ou indireta, contribuíram para que eu pudesse concluir este
trabalho.
Agradeço aos professores participantes da minha banca: Prof. Dr. Daniel
Ferraz Chiozzini, pelos comentários esclarecedores e pontuais feitos no meu projeto, e
também pelas aulas enriquecedoras durante o curso; Profª. Dra. Helenice Ciampi, que também
foi avaliadora do meu projeto, e que muito me ajudou na descoberta dos caminhos da minha
pesquisa, além é claro, da companhia simpática e agradável nos congressos; Prof. Dr.
Norberto Dallabrida, por quem tenho um carinho muito especial, pois além de ser um ser
humano generoso, traz consigo outra figura incrível, a Profª. Dra. Gladys Mary Ghizoni
Teive; Prof. Dr. César Romero Amaral Vieira, pelas críticas construtivas e esclarecedoras
feitas na minha qualificação, que me ajudaram imensamente na construção deste trabalho
final.
Faço outro agradecimento especial a Profª. Dra. Katya Mitsuko Zuquin
Braghini, que também participou da minha qualificação. Não tenho palavras para agradecer
tamanho primor nas considerações. Boa parte dos momentos que fiquei defronte ao
computador, eram as palavras da professora Katya que não me faziam esquecer dos aspectos
mais importantes.
Aproveito para agradecer a queridíssima Betinha (Elizabete Adania),
secretária do Programa, por todo o apoio, carinho e profissionalismo com o qual me
acompanhou durante toda a minha trajetória, desde a minha primeira aula no mestrado.
Agradeço também à Senhora Edith Long Schisler, neta de James Lillbourne
Kennedy, pelo apoio em agradáveis conversas telefônicas entre Taubaté e Vermont.
Nesse caminho fiz muitos amigos. Entre eles, dois foram particularmente
especiais: Tiago Donizette da Cunha e Eduardo Norcia Scarfoni. Tiago, pelas conversas
agradabilíssimas envolvendo política, vida, sociedade, estudos etc., nas nossas caminhadas
PUC/Metrô e pelo apoio irrestrito ao meu trabalho na docência e na pesquisa. Ao Eduardo
pelas conversas proveitosas sobre nossas pesquisas e pelo apoio mútuo nos diversos
congressos que participamos juntos. Em nome deles, agradeço a todos os colegas do EHPS.
Agradeço também a Professora Luciana Guimarães Castro que me
assessorou nas traduções, por ter ido além daquilo que pedi, se integrando ao conteúdo do
meu trabalho, o que tornou tudo mais fácil e prazeroso.
Foi difícil e trabalhoso, mas terminar de escrever estas linhas e poder ver o
trabalho pronto é a melhor sensação de ―dever cumprido‖ que poderia sentir.
Finalizo com meu agradecimento à CAPES pela bolsa concedida, apoio
imprescindível para a realização desta pesquisa.
RESUMO

Idealizado pela Sociedade Missionária Estrangeira da Mulher da Igreja Metodista Episcopal


do Sul, o periódico Woman‟s Missionary Advocate, publicado nos Estados Unidos
mensalmente e sem interrupções entre 1880 e 1910, recebia informações das missionárias que
relatavam suas experiências em diversas partes do mundo, inclusive do Brasil. Iniciando seu
primeiro número em junho de 1880 com 16 páginas e tendo sua última edição publicada em
dezembro de 1910 com 47 páginas, o periódico, baseado na máxima ―da mulher para a
mulher‖, era dirigido integralmente por mulheres e mantido com assinaturas anuais.
Divulgava, além das ações das missões no campo educacional, a íntegra das reuniões anuais
do Conselho Missionário Estrangeiro da Mulher e as diversas atividades missionárias
realizadas nos campos de missão. No final do século XIX, diversas sociedades foram
organizadas com o objetivo de tornar mais eficiente e estruturada a atividade de expansão do
metodismo. Mesmo que o movimento fosse liderado por homens, considerando que os
missionários eram casados e suas esposas, por consequência, estavam igualmente envolvidas
nesse projeto, o cenário muda após o incremento das Sociedades Missionárias Femininas, que
se tornaram um alvo de grande interesse na Igreja para ocupar diferentes posições e trabalhos,
especialmente na fundação das escolas. Esta pesquisa se propõe a examinar o movimento
missionário metodista norte-americano no Brasil, no que tange seu aspecto educacional,
tomando como base a participação da mulher. Com procedimentos de análise baseados na
perspectiva da História Cultural, ampara-se nos estudos de Roger Chartier sobre noções de
práticas e representações, e de Michel de Certeau na distinção das categorias denominadas
como táticas e estratégias, no estudo das práticas culturais. O Woman‟s Missionary Advocate,
como um periódico difusor do movimento missionário metodista, especialmente no que
concerne à educação escolar, foi um espaço privilegiado de divulgação e defesa dos ideais
missionários metodistas dentro de uma historicidade que destaca o papel da mulher. Seu
estudo permitiu defender a tese do protagonismo feminino no movimento missionário
metodista no Brasil, mostrando a participação efetiva das mulheres para além da atuação
direta nas escolas.

Palavras-chave: Educação metodista, protestantismo, gênero, periódico.


ABSTRACT

Idealized by the Woman's Foreign Missionary Society of the Methodist Episcopal Church,
South, the periodical ―Woman‟s Missionary Advocate‖, published monthly in the United
States and without any interruptions between 1880 and 1910, used to receive information
from the missionaries who reported their experiences in several parts of the world, including
Brazil. Its first number was started in July, 1880 with 16 pages and its last edition was
published in December, 1910 with 47 pages. The newspaper based on the saying ―from
woman to woman‖ was totally managed by women and supported by annual subscriptions.
Besides the actions of the missions in the educational field, it published, in full, the annual
meetings of the Woman‘s Board of Foreign Mission and the several missionary activities
accomplished in the mission fields. In the end of XIX century, several societies were
organized with the purpose of becoming the activity of expanding Methodism more efficient
and structured. Even the movement being led by men and considering the missionaries were
married and their wives were consequently equally involved in this project, the scenario
changes after the increase of the Woman's Missionary Societies that became an objective of
great benefit at Church to take different positions and tasks, mainly in the establishment of
schools. The purpose of this research is to study the North-American Methodist Missionary
Movement in Brazil, in reference of the educational aspect, based on the woman's
involvement. Through analysis procedures based on the Cultural History perspective, it is
supported in the studies of Roger Chartier about practical notions and representations, and of
Michel de Certeau in the distinction of the categories called tactics and strategies, in the study
of the cultural practices. The Woman‟s Missionary Advocate, a diffusing newspaper about the
Methodist missionary movement, especially with regard to the school education, was a
privileged place of dissemination and defense of the Methodist missionary ideals in a
historicity that highlights the women's role. Through its study was possible to defend the
theses about the female protagonism in the Methodist missionary movement in Brazil,
showing the women's effective involvement more than the direct action at schools.

Keywords: Methodist Education, Protestantism, gender, periodical.


SUMÁRIO

Introdução 01
Objetivo dos colégios e das missões 02
Religião e Americanismo 06
A participação das mulheres no movimento missionário metodista e o
Woman‟s Missionary Advocate 11
A busca pela fonte 17
O estudo sobre missionarismo feminino a partir das questões de gênero 18
Fontes e procedimentos de pesquisa 21
Procedimentos de análise 26

Capítulo 1
O protestantismo de missão e a criação das Sociedades Missionárias Femininas 30
1.1 Os primeiros movimentos e a chegada dos missionários 30
1.2 As Sociedades Femininas: criação e atuação 41
1.3 A Sociedade Missionária Estrangeira da Mulher – detalhes de sua
organização 49

Capítulo 2
Woman‘s Missionary Advocate: um periódico ―da mulher para a mulher‖ 54
2.1 O movimento de criação do periódico e sua caracterização 54
2.2 As contendas envolvendo o periódico e a criação do Conselho 62
2.3 O Brasil nas páginas do Advocate – as representações de um projeto
missionário 65
2.4 Monarquia, República e o movimento missionário metodista nas
páginas do Advocate 72

Capítulo 3
Religião, educação e proselitismo: o periódico como propagador do movimento
missionário e a atuação das mulheres 75
3.1 Formação das missionárias 75
3.2 Missionárias para o Brasil – apelos e resistências 76
3.3 As representações femininas como propagadoras do ideal
norte-americano 79
3.4 A atuação das mulheres e a organização das Sociedades e Ligas
associativas 84
3.5 O embate entre metodismo e catolicismo a partir da atuação das
missionárias 90
3.6 Os caminhos do proselitismo metodista, traçados pelas missionárias 92
3.7 Outros aspectos ligados às escolas metodistas: escola pública, bolsas de
estudos e formação de professoras 96

Capítulo 4
Os Colégios Metodistas do Conselho da Mulher – espelhos de um projeto
missionário 101
4.1 Colégio Piracicabano 101
4.2 Colégio para meninas no Rio, Escolas Diárias e Colégio Americano
Fluminense 104
4.3 Colégio Americano de Petrópolis 108
4.4 Colégio Americano de Taubaté 110
4.5 Colégio Mineiro de Juiz de Fora – Colégio Isabella Hendrix 111
4.6 Escola Metodista de Ribeirão Preto 113
4.7 Colégio Americano de Porto Alegre 117

Conclusão 119
Referências Bibliográficas 124
Anexos 133
1

Introdução

Quando iniciei a pesquisa para o Mestrado, resultando na Dissertação A


laicização do ensino. Um debate na imprensa de Taubaté-SP acerca do novo modelo
republicano de educação (1891-1905), envolvi-me com o tema metodismo e educação. Ao
estudar o período do final do século XIX, tendo como fonte principal os periódicos que
circulavam na cidade, constatei um conflito entre católicos e protestantes a partir da instalação
do Colégio Americano de Taubaté, criado por James Lillbourne Kennedy, inaugurado no dia
05 de março de 1890. Iniciava-se, então, uma série de discussões encontradas nas páginas dos
jornais, que tinham como escopo questões ligadas ao novo modelo republicano de educação,
que poderia, em última análise, estar representado (ou não) no modelo pedagógico implantado
pelos protestantes e, concomitantemente, a possibilidade do proselitismo realizado dentro do
Colégio, que poderia ameaçar as estruturas católicas da cidade.
Os protestantes (especialmente presbiterianos e metodistas) foram ora
acusados de perverter a ordem existente e usar a educação de maneira proselitista, ora
exaltados pela possibilidade de trazer ao país novas tendências e perspectivas educacionais
diante do que era denominado atrasado e conservador no âmbito escolar. Segundo Hilsdorf
(1977), os colégios americanos de confissão protestante se tornaram influentes por conta do
―jogo das forças vivas do pensamento político-cultural da época e no entrechoque das
diferentes posturas religiosas, políticas e pedagógicas de então‖.
A partir dos primeiros estudos, que enfatizavam o metodismo no Vale do
Paraíba paulista e especialmente em Taubaté/SP, comecei a perceber a dimensão desse projeto
missionário e sua intrínseca ligação com a educação escolar. Interessante verificar que os
conflitos criados com o início do Colégio Americano de Taubaté e com os demais colégios de
confissão metodista instalados no final do século XIX e início do XX, foram recorrentes e
possuíam características semelhantes, diferenciando-se especialmente pela permanência ou
não nas cidades onde se instalaram.1

1
Apesar de não apresentar um levantamento completo dessas instituições indicando a manutenção ou não das
mesmas, Mesquida (1994) aponta uma tese interessante. Para o autor, a formação de uma elite urbana imbuída
de novos ideais econômicos e políticos, ligada a temas como positivismo, republicanismo, individualismo e
maçonaria, que acreditava no modelo da sociedade norte-americana representada pelos missionários protestantes,
especialmente os metodistas, garantiu, mesmo que indiretamente, a permanência e manutenção de muitos
colégios.
2

Objetivo dos colégios e das missões

Alguns trabalhos auxiliaram no entendimento dos objetivos metodistas com


a criação de colégios e missões para a difusão de sua doutrina no Brasil. Em artigo publicado
na Revista de Educação do COGEIME,2 Demandas e desafios para a educação metodista
contemporânea no Brasil, Santana (2012) examina permanências, rupturas e continuidades
históricas no projeto educacional metodista brasileiro. Citando a atuação dos pioneiros da
educação metodista no Brasil, como o Rev. Junius E. Newman, Rev. John James Ransom,
Miss3 Martha Watts, Rev. James William Koger, Rev. James L. Kennedy e tantos outros que
vieram em seguida para a missão em terras brasileiras, no final do século XIX, a autora relata
que eles estavam convencidos da necessidade de realizar essa missão pela via da educação.

A propagação do evangelho de Cristo, na tradição wesleyana, implicava numa


preparação e transformação do ser humano para receber a Palavra de Deus e
experimentar uma vida de santificação, de aperfeiçoamento social e moral, com
vistas a um mundo bom e justo, sinal do Reino de Deus na terra. E nessa
perspectiva, a educação do ser humano se mostrava um caminho muito promissor
(SANTANA, 2012, p. 96).

Assim, os metodistas fundaram colégios e escolas paroquiais, projetaram


creches, jardins de infância e escolas noturnas para jovens trabalhadoras. Segundo a
pesquisadora, esses dados ajudam a compor um quadro, revelando que o metodismo no Brasil
teve como base um projeto educacional em três ramos principais: a educação cristã,
desenvolvida pelas escolas dominicais e sociedades; a educação teológica, ministrada nos
seminários; e a educação secular, realizada pelos colégios. Para a autora, a identidade
metodista está, desde a origem, inseparavelmente ligada a um projeto educacional.
Para Mendonça (1995), no clássico livro sobre a história do protestantismo
no Brasil, O Celeste Porvir, os princípios norte-americanos como democracia,
individualismo, igualdade de direitos, responsabilidade social, liberdade intelectual e
religiosa, que encerram todo um complexo ideológico, eram abstratos demais para serem
transmitidos com sucesso nas práticas religiosas. Era necessário um mecanismo mais
2
COGEIME – Instituto Metodista de Serviços Educacionais, fundado em 22 de abril de 1967, com o nome de
Conselho Geral das Instituições Metodistas de Ensino, é uma associação sem fins lucrativos que tem como
objetivos fundamentais planejar, coordenar, supervisionar, integrar, acompanhar e controlar todas as unidades
Metodistas de Educação. A partir de 2006, passou a ser também uma entidade de serviço que atua como agência
de apoio a essas instituições, integrando-as. Assessora, ainda, os órgãos da Igreja Metodista, na área da
educação. http://www.cogeime.org.br/institucional/historico/
33
O pronome de tratamento das missionárias será tema de análise no capítulo 3 desta Tese. Doravante usarei os
pronomes Senhorita (Srta.) para Miss e Senhora (Sra.) para Mrs.
3

apropriado para atingir a camada social dirigente, que dificilmente seria participante das
reuniões religiosas protestantes. Isso só seria possível se a educação protestante comprovasse
sua superioridade, o que aponta a intenção dos metodistas no investimento na educação
escolar.
Nascimento (2005), na sua Tese de Doutoramento, Educar, curar, salvar:
uma ilha de civilização no Brasil tropical, analisa as estratégias de implantação do que
chamou de ―projeto civilizador‖ dos missionários presbiterianos no Brasil, a partir da criação
de igrejas, escolas, hospitais e escolas de enfermagem, estudando especificamente uma
instituição escolar no interior da Bahia. A autora destaca a pesquisa de Hilsdorf (1977), a qual
considera um marco no campo da pesquisa sobre educação protestante no Brasil, pois, além
de investigar ―como e porque tornou-se possível o surgimento, êxito e influência daquelas
escolas‖, ainda demonstrou que ―apesar da configuração da época constatou-se a evidência de
fissuras em sua aparente solidez conservadora e germes de renovação, que facilitaram a
atuação pedagógica protestante em São Paulo‖ (p. 22). Afirma ainda que houve, portanto, um
alargamento das fronteiras da História da Educação e seu diálogo com outros campos,
resultando numa nova configuração do campo da historiografia da educação, por isso a
importância dos estudos sobre as escolas protestantes no Brasil.
Cordeiro (2008), em sua Tese de Doutoramento, Metodismo e educação no
Brasil: as tensões com o catolicismo na primeira República, que analisa o desenvolvimento
do projeto educacional da Igreja Metodista Episcopal do Sul dos Estados Unidos na região
Sudeste, afirma que,

Sendo o metodismo uma confissão religiosa protestante que se estabeleceu no


Brasil, sobretudo pela influência do seu projeto educacional junto às elites liberais e
progressistas brasileiras, os colégios metodistas não foram poupados da oposição da
Igreja romana, seja por meio da fundação de colégios católicos, seja através dos
documentos oficiais e de artigos veiculados na imprensa ultramontana. Uma vez que
os metodistas pretendiam difundir no Brasil, por meio do seu projeto educacional, os
valores religiosos protestantes e os valores culturais norte-americanos, visando
assegurar a hegemonia ideológico-cultural da sociedade, eles reagiram à ofensiva
católica, ora respondendo aos ataques sofridos, ora denunciando o não cumprimento
da legislação republicana, tanto por parte das autoridades católicas como por parte
das autoridades governamentais (p. 06).

Essa oposição da Igreja Romana, como dito anteriormente, foi significativa


entre o final do século XIX e início do XX, sendo tema recorrente inclusive nos autores que
escreveram livros considerados clássicos sobre o assunto.
4

Kennedy (1928), no livro Cinquenta anos de metodismo no Brasil, mesmo


numa perspectiva desvinculada da realidade social brasileira, aponta a resistência e os
conflitos que os missionários enfrentaram no Brasil, especialmente com a instalação das
escolas. Léonard (1981),4 em O protestantismo brasileiro, que também não problematizou as
questões sociais brasileiras, mas apresenta um caráter mais objetivo e foge do que pode ser
chamado ―triunfalismo eclesiástico‖, dedicou um capítulo inteiro ao assunto intitulado As
reações católicas. Vieira (1980), em O protestantismo, a maçonaria e a questão religiosa no
Brasil, também aborda a questão ao contar a trajetória dos missionários no Brasil,
especialmente destacando a atuação do escocês Richard Holden.
Posteriormente, outros trabalhos, que também marcaram o campo de
pesquisa sobre a história protestante no Brasil, trataram do assunto, como Mendonça (1995),
em O Celeste Porvir, já citato anteriormente. Para o autor, o protestantismo teve um êxito
inicial, em boa parte devido a sua proposta religiosa que tendia a ocupar espaços deixados
pela religião oficial e cultural, devido à fraqueza momentânea desta.

Sem dúvida, o ímpeto polêmico foi uma grande força. Mas com a arregimentação de
suas próprias forças por parte da Igreja Católica, que começa ainda neste século XIX
e se estende pelas primeiras décadas da República, no sentido de substituir o
catolicismo ibérico, acomodado e, em muitos pontos, sensivelmente liberal por um
outro tridentino e agressivo, as adesões ao protestantismo não continuaram tão
fáceis. Por outro lado, as próprias inadequações entre proposta protestante e a
realidade social deram a sua contribuição para o arrefecimento do ímpeto
conversionista (p. 2014).5

Restaria, então, segundo o autor, um último reduto protestante: a educação.


Mas, segundo ele, a secularização das escolas e a expansão da educação oficial que
acompanhou a política laicizante republicana que atingiu todo o sistema educacional
religioso, inclusive o católico, acabou por esvaziar também este último reduto da estratégia
missionária protestante, situação que abordaremos posteriormente.
Para Salvador (1982), no livro A história do metodismo no Brasil, as
ameaças e perseguições sofridas pelos metodistas tanto com relação à instalação de igrejas
como na implantação de escolas, foram recorrentes. Já para Mesquida (1994), em Hegemonia
norte-americana e educação protestante no Brasil, o apoio dado pela elite intelectual e

4
1ª edição de 1963.
5
As colocações do autor podem ser identificadas no discurso das missionárias ao relatarem no periódico, fonte
desta pesquisa, as dificuldades no trabalho realizado no Brasil dentro e fora das escolas. Aspectos que serão
abordados no decorrer da pesquisa.
5

política da época à prática educativa dos metodistas, gerou uma reação imediata dos
ultramontanos católicos.
Alguns trabalhos mais recentes abordam diretamente o assunto. Borin
(2010), em sua tese Por um Brasil católico: tensão e conflito no campo religioso da
República, tendo como fonte os jornais da época, analisa que no período entre os séculos XIX
e XX, na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, houve, por conta da disputa pelo que
ela chama de ―espaço do sagrado‖, um conflito entre católicos e protestantes, especialmente
no campo educacional e na construção de templos. Para Santos (2010), em dissertação
intitulada Católicos e protestantes: escolas confessionais fundadas por missionários
estrangeiros. Belo Horizonte, MG – 1900-1950, os protestantes viveram em Minas Gerais
conflitos parecidos com as de outras regiões, não apenas brasileiras, mas mundiais, com
relação às suas tentativas de expansão religiosa por terras tradicionalmente dominadas pelo
ideário do catolicismo, especialmente no que concerne à instalação de escolas. Vasconcellos
(2010), com sua tese As Boas Novas pela palavra impressa: impressos e imprensa protestante
no Brasil (1837-1930), abrangendo presbiterianos e batistas, apresenta os conflitos entre
católicos e protestantes com relação à instalação das instituições de ensino e o caráter
proselitista dos protestantes.
Outros trabalhos, ao terem como tema mais específicos a instalação das
escolas ou personagens protagonistas dessas instituições, também apresentam essas
contendas, como Ramires (2009), em A contribuição de Mlle. Maria Rennotte na construção
e implantação do projeto educacional metodista no Colégio Piracicabano; Moreira (2011),
em Em nome da República: escolas e tradições modernas; Plácido (2014), em Uma leitura do
colégio Isabela Hendrix em Belo Horizonte no início do século XX: implantação, fixação e
consolidação; Soares (2014), em Representações de uma escola protestante na imprensa:
Colégio Piracicabano (1881-1886); Pinheiro (2015), em O Granbery em Juiz de Fora:
primórdios da educação metodista no Brasil (1889 a 1905); e Silva (2015), em A figura de
Horace Lane: lutas e representações e a formação da rede de escolas americanas no Brasil
(1885-1912).
Talvez uma pergunta possa ser feita diante do que foi exposto até aqui: em
tudo isso, onde se inserem a questão religiosa, articulada à educação, ambas formadoras de
identidades e unificadoras de comportamentos?
6

Religião e americanismo

Para Almeida (2011), no século XIX e boa parte do século XX, tanto a
educação como a religião foram marcos fundamentais sobre os quais se assentavam as
aspirações, os costumes, as tradições, a política, a cultura, a vida social e a economia. Sob
suas sombras se modelavam as identidades, os comportamentos, hábitos e costumes e se
normatizava a vida social e a sexualidade. Com o advento das ideias liberais e positivistas
veiculadas pelos ilustrados antes e depois da República, o panorama social do Brasil se
transformou. A educação fez parte integrante do projeto civilizador republicano e o poder da
religião católica foi ameaçado com sua separação do Estado, agora laico, juntamente com a
relativização de sua influência no campo escolar, num processo que havia se estruturado
desde o Segundo Império. Esse poder também foi parcialmente ameaçado com a inserção do
protestantismo que trouxe ao País, a partir da segunda metade do século XIX, ―um novo
sentido ético-religioso com notável cunho político, evidenciado naquilo a que Max Weber
definiu como a ética protestante e o espírito do capitalismo‖ (p. 146).
Usando o termo ―religião da república‖, utilizado pelo historiador Phillip
6
Jordan, Mesquida (2016) afirma que o metodismo esforçou-se para modelar a sociedade
americana, sobretudo pelas instituições voluntárias7 e pelas obras educacionais, a ponto de vê-
la como o modelo de civilização cristã que deveria ser imitado e seguido por outras nações,
―pois se tratava de uma civilização que caminhava na direção da vitória e do
aperfeiçoamento‖ (p. 189). A Igreja Metodista, como igreja dominante, estava fortemente
ligada a essa concepção de destino8 dos Estados Unidos. Por isso, os metodistas estavam
convencidos de que, dentre os povos de língua inglesa, os EUA eram a expressão mais
elevada da civilização anglo-saxônica, destinada a conquistar o mundo.
A tese defendida por Mendonça (1995) de que a luta dos protestantes por
um espaço religioso na sociedade brasileira foi embasada em três níveis: o polêmico, o

6
Para Jordan, metodismo e democracia eram pensamentos tão inseparáveis que todas as grandes mudanças na
política metodista durante o final do século XIX e início do século XX, eram destinadas a promover essa
―religião da república‖. Immigrants, Methodists, and a 'Conservative' Social Gospel, 1865-1908. Disponível em
http://archives.gcah.org:8080/handle/10516/4732. Acesso em dez. 2016.
7
Ligas e Associações. Assunto que será abordado posteriormente.
8
Fundamentos do chamado Destino Manifesto. A expressão ―Destino Manifesto‖ surgiu pela primeira vez em
1845, em artigo do jornalista John O. Sullivan sobre a anexação do Texas. Meses depois, tornar-se-ia popular ao
ser reutilizada em editorial sobre a controvérsia opondo EUA e Inglaterra a respeito do território de Oregon. O
editorial, publicado pelo jornal New York Morning News, afirmava que a reivindicação norte-americana ao
Oregon ―era legítima pelo direito de nosso Destino Manifesto de possuir e povoar a totalidade do continente que
a providência divina nos deu para o desenvolvimento de nossa grande experiência de liberdade e governo
federativo‖. Um conceito originalmente criado para justificar a expansão territorial em direção ao oeste, mas que
logo passaria a englobar fronteiras cada vez mais distantes, tanto em termos geográficos como, anos mais tarde,
ideológicos (Fonseca, 2007).
7

educacional e o proselitista — parece se confirmar. Segundo o autor, o nível polêmico reside


nas contendas envolvendo católicos e protestantes; o educacional se desenvolveu em dois
espaços distintos: os colégios americanos e as escolas dominicais. Por fim, o nível proselitista,
ou seja, o esforço dos protestantes em converter os católicos num confronto direto com o
catolicismo, uma vez que se tratava da tentativa de substituição de princípios de fé e
procedimentos religiosos ―profundamente arraigados em três séculos livres de concorrência‖
(p. 86).
Para Schulz (1989), a educação protestante tinha maior possibilidade de ser
uma alternativa frente à educação tradicional e as novas tendências e perspectivas
educacionais, mas também demonstra que a educação protestante estava subordinada nos seus
fundamentos básicos ao projeto global das missões norte-americanas, e este, comprometido
com sua missão de mundo e com sua versão ideológica: o liberalismo. A estratégia
protestante era ideológica e cultural, o mesmo defendido por Novaes (2003), ao afirmar que
as ideias básicas da filosofia liberal como democracia e liberdade individual, não só
apareceriam na catequese metodista, mas também norteariam todo o seu projeto educacional.
Esse debate político-religioso também foi tema de tese de Pereira (2008)
que objetiva discutir as ideias religiosas e suas relações com a política, no Brasil do século
XIX e também analisar o pensamento do protestantismo missionário que chegou aqui nesse
mesmo período e dialogou com a sociedade brasileira.
Segundo Martins e Cardoso (2005), para poder identificar o papel
civilizatório dos imigrantes missionários que se estabeleceram no Brasil, é preciso seguir o
conceito de civilização formulado por Norbert Elias, como sendo uma ―grande variedade de
fatos: ao nível da tecnologia, ao tipo de maneiras, ao desenvolvimento dos conhecimentos
científicos, às ideias e aos costumes‖ (p. 01). Para os autores, a partir do entendimento dessa
teoria, entende-se a educação vista pelos missionários protestantes, como meio de se atingir esse
processo civilizatório.
Eles afirmam:

Assim, com as melhorias nas condições de produção, pela implementação de novas


tecnologias, com a implantação de escolas baseadas em métodos pedagógicos de
vanguarda para a época e, finalmente, com a possibilidade de aperfeiçoar a conduta
e estabelecer valores e práticas pelo novo modelo religioso, é possível percebermos
que a presença dos imigrantes e missionários americanos no Brasil propiciou meios
para um processo civilizador (p. 2).
8

Para entender com um maior detalhamento esse ―processo civilizador‖, é


importante citar o artigo de Novaes (2003), pois, para explicar a concepção de civilização
protestante, o autor esclarece que, durante o século XIX, mais precisamente durante a
unificação americana após a Guerra de Secessão, difundiu-se a ideia de que a religião e a
civilização estavam unidas na visão de América Cristã. Enfatizava-se que a ação de Deus no
mundo se fazia por intermédio de povos especialmente escolhidos e que os povos de língua
inglesa receberam ―por destino‖ a ―vocação de Deus para propagar as ideias de uma
civilização cristã que ruma no destino da perfeição‖ (p. 116). O progresso da ciência e da
tecnologia, bem como as reformas democráticas, a expansão da indústria e das obras de
filantropia, eram interpretadas pelas autoridades religiosas como produtos do aperfeiçoamento
da civilização cristã e sinais da chegada do reino de Deus. Para o professor, é dentro desse
contexto ideológico, político e cultural que se situa a empresa missionária metodista. Ele diz:

Para entendermos a filosofia que permeou a educação protestante implantada na


América Latina no final do século XIX, é imprescindível que estejamos atentos à
ideologia dos missionários porque, sem a menor dúvida, missão e expansionismo
foram questões interligadas e, não raras vezes, encontramos textos nos quais o
expansionismo é encarado como ―missão de Deus‖ e o povo norte-americano, sua
cultura e sua filosofia vistos como os ―escolhidos‖ para a salvação-dominação da
humanidade (NOVAES, 2003, p. 116-117).

Com base na máxima do ―Destino Manifesto‖, o autor faz alguns


questionamentos acerca das relações entre educação e o metodismo, e pergunta: o que
buscavam os educadores metodistas, ao deixarem na terra distante a segurança econômica, a
facilidade de estudo para os filhos, o convívio de amigos e parentes, para enfrentar as
dificuldades de um país de clima, língua, religião e costumes tão diferentes, de epidemias
periódicas nas quais muitos pereceram? Qual a motivação extraordinária que os fazia escrever
para os EUA solicitando mais obreiros, mais professores, quando seus corações ainda
guardavam luto pela morte de um filho, da esposa ou de um companheiro de missão recém-
vitimado pela febre amarela? Tomando como fonte o jornal Expositor Christão,9 ele afirma:

A primeira constatação se resume na palavra fé. Não apenas a fé como conceito


corriqueiro, sinônimo de simples crença. A fé que motivou os missionários foi a fé
não apenas no Deus cristão protestante, mas a fé na nação norte-americana, nas suas
instituições políticas e econômicas, na superioridade de seu povo sobre os demais, a

9
Fundado pelo Reverendo John James Ransom, a primeira edição do jornal data de 1º de janeiro de 1886. De
início intitulado Methodista Catholico, o nome não agradou parte do grupo de metodistas e, no ano seguinte, foi
rebatizado como Expositor Christão.
9

crença de terem sido escolhidos por Deus para proclamar a verdade (NOVAES,
2003, p. 122).
.
O autor conclui, portanto, que foi a fé, não apenas na religião, mas no poder
da mensagem civilizatória norte-americana, como projeto de vida para as outras nações, que
motivou o trabalho missionário no Brasil. Encerra afirmando que a proposta educacional
metodista chega juntamente com a missão religiosa de evangelizar. ―Evangelização e
educação sempre estiveram interligadas. Educar era um bom método de evangelizar e
evangelizar pressupunha educar‖ (p. 125).
Esse projeto de vida a que se refere o autor encontrou ressonância na
sociedade brasileira à época. Os Estados Unidos eram vistos como modelo a ser seguido.
Modelo de civilização, educação, comportamento, modo de vida. Padrões constitutivos da
almejada cultura nacional que primeiramente se voltava para a Europa como modelo a ser
seguido, especialmente o francês e que em meados do século XIX passou a se voltar para os
Estados Unidos10 (MENDONÇA, 1995).
No Brasil, se recuarmos ao período da independência, encontraremos
intensos debates entre aqueles que defendiam o poder moralizador, disciplinador e industrioso
que se observava na educação escolar que se disseminava nos países europeus em
contraposição à miséria intelectual e moral a que estava entregue nossa juventude.
Comparações entre os chamados ―povos avançados‖ em contraposição a
uma sociedade corroída pelo verme e pela praga da ignorância foi um discurso que se
manteve entre meados do século XIX e início do XX quando, na disputa entre diferentes
padrões culturais, foi-se produzindo a hegemonia cultural norte-americana, pela criação
imaginária de que os Estados Unidos ofereciam o melhor espelho para a modernidade do
Brasil: pela difusão na crença de que lá, mais do que em qualquer lugar do mundo ocidental,
estava concretizada a esperança no ―homem novo‖, ou seja, o homem subjetivamente
necessário à modernidade, cunhando o termo americanismo como a hegemonia dos Estados
Unidos sobre o mundo externo (WARDE, 2000).
Gramsci (2008) referia-se aos Estados Unidos ao falar do americanismo,
mas também se referia, indiretamente, à organização de um novo padrão de organização da
vida material e simbólica, um novo padrão não europeu. O americanismo, para Gramsci, foi
uma mudança de toda uma cultura e seu sucesso só foi possível nos Estados Unidos por não

10
A influência de modelos estrangeiros na sociedade contemporânea embasado em termos como ―cultura de
empréstimo‖ ou ―empréstimos culturais‖ é tema de debate entre historiadores (sobre o assunto, ver Burke, 1997).
Não entrarei aqui nessa discussão, restringindo minha análise ao conceito de ―Espelho do Próspero‖, base dos
estudos de Warde (2000) a partir do termo cunhado pelo brasilianista Richard Morse.
10

precisar carregar ―como uma capa de chumbo‖ as velhas tradições culturais, políticas e
estatais europeias. Outro fator preponderante foi o de ser uma filosofia que se afirmava na
ação, de maneira tão eficaz, que estava produzindo um ―homem novo‖.
Dentro desse contexto, para o autor, o americanismo é resultado da
americanização que, para acontecer, requer um dado ambiente numa determinada estrutura
social — ou a vontade de criá-la — em um certo tipo de Estado. Este Estado é liberal, mas
não no sentido de liberdade política efetiva, mas no sentido mais fundamental da livre
iniciativa e do individualismo econômico que colaboram com meios próprios, como
sociedade civil, para o seu próprio desenvolvimento.
O termo americanismo será tratado aqui, segundo a concepção de Gramsci,
como mudanças no modo de ser e de viver numa perspectiva educacional, pois foi por meio
da educação que o americanismo criou raízes e a manteve como sua grande bandeira.
Ao relatar a presença de Oscar Thompson na Exposição de St. Louis, em
1904, Warde (2002) expõe como os representantes dos Estados Unidos pensavam na
organização e classificação da exposição — o método da disposição daquilo que era exposto
— para melhor representar seu sistema nacional de ensino. A tarefa era explicar o papel
civilizatório e educativo que os Estados Unidos exerciam sobre os ―aquinhoados por Deus‖.
Estavam lá, como uma universidade, como uma possibilidade de arrancar os outros povos
daquilo que eles consideravam como estágio cultural primitivo em que se encontravam. Em
vez da força bruta, estavam oferecendo educação, completando assim a ―tarefa da natureza
para aqueles, cuja evolução ainda não havia sido realizada‖ (p. 419).
Diante do exposto, é possível articular a relação entre educação,
protestantismo e americanismo no contexto da missão metodista no Brasil, especialmente pela
educação escolar.
Minhas perguntas passaram a ser as seguintes: para além do projeto
metodista, de sua proposta educacional, de sua missão religiosa, estão os sujeitos,
protagonistas de um processo que envolve estratégias embasadas em publicações periódicas,
em conferências de organização e divulgação das atividades metodistas e do estabelecimento
de instituições educacionais. Quem eram esses sujeitos? De que maneira contribuíram para
esse projeto missionário já descrito anteriormente?
Essas perguntas me levaram então à definição do tema desta tese, que
explico a seguir.
11

A participação das mulheres no movimento missionário metodista e o Woman’s


Missionary Advocate

No VIII CBHE (Congresso Brasileiro de História da Educação), ocorrido


em Maringá, em julho de 2015, apresentei um trabalho intitulado O Projeto Cultural do
Metodismo Americano no Brasil: Circulação e Atuação de Missionários na Imprensa
Periódica e na Educação Escolar (1867-1930), fruto do meu Projeto de Tese de
Doutoramento. Na elaboração da apresentação, quis dar um destaque aos sujeitos envolvidos,
no que eu acreditava ser um projeto cultural do metodismo americano no Brasil, dando ênfase
às suas trajetórias a partir dos estudos feitos nas disciplinas envolvendo autores como Sirinelli
(1996), para explicar a relação de sociabilidade dos indivíduos; Gramsci (2001), para a noção
do intelectual como o indivíduo que intervém nos episódios da cultura, que tem a capacidade
de organizar o tecido social, refletir sobre si mesmo e sobre a relação com a sociedade; e
Thompson (1987), com sua ênfase nos aspectos culturais ativos dos sujeitos. Nesse momento,
me chamou a atenção um fato que, por diversas vezes, pareceu rotineiro e menos importante:
a participação das mulheres.
Em um primeiro momento, a atuação das mulheres metodistas no projeto
missionário, a partir dos arquivos e trabalhos pesquisados, parecia ser significativa do ponto
de vista de um possível protagonismo. Nomes como de Sara Kelley, Annie Newman, Maria
Rennote, Marcia Brown reiteradas vezes são citados em trabalhos sobre o metodismo norte-
americano no Brasil. Entretanto, em muitos casos, as missionárias eram descritas como
mulheres dos pastores líderes do movimento missionário, convocadas para darem aula e
atuarem no contato direto com as famílias. A figura que diversas vezes é citada com um papel
relevante nesse projeto missionário é Martha Hite Watts,11 que chegou ao Brasil na missão
Ransom juntamente com James Lillbourne Kennedy, conforme dito anteriormente. Fundadora
do Colégio Piracicabano, que se tornou um modelo educacional de propagação do metodismo,
Martha Watts é uma figura bastante estudada no meio acadêmico. Existem diversos trabalhos
a respeito do Colégio Piracicabano e de sua atuação como diretora,12 mas, em busca de mais
informações sobre ela, um fato me chamou a atenção: Watts havia sido enviada para o Brasil
pela Sociedade Missionária da Mulher (Woman‟s Missionary Society), o órgão missionário
das mulheres metodistas nos Estados Unidos.

11
Originalmente Mattie Hite Watts. Sua biografia estava tão intrinsicamente ligada ao Brasil que, mesmo em
trabalhos publicados nos EUA, seu nome é registrado como Martha.
12
Zuleica (2001), Silva, (2008b), Ramires (2009), Vieira (2011), Lopes (2010), Hilsdorf (2002).
12

A partir da (re)leitura do livro Evangelizar e Civilizar. Cartas de Martha


Watts, 1881-1908, publicado em 2001 e organizado pela professora Zuleika Mesquita, me
interessei em ter mais informações sobre um periódico, dessa mesma sociedade missionária
intitulado Woman‟s Missionary Advocate,13 periódico em que foram publicadas as cartas de
Martha Watts, organizadas então na referida publicação. Na busca de informações desse
periódico para enriquecer minha própria pesquisa acerca dos indivíduos que fizeram parte
desse movimento missionário, encontrei, no antigo prédio onde funcionou originalmente o
Colégio Piracicabano e que hoje abriga o Centro Cultural Martha Watts,14 os números
utilizados pela professora Zuleika Mesquita para organizar o livro. Material que foi trazido ao
Brasil pelo Rev. Duncan A. Reily, que reproduziu dos originais apenas as passagens que
citavam o país e, por decorrência, as cartas de Martha Watts. O periódico era destinado a
noticiar os trabalhos das diversas missões educativas sustentadas pela Sociedade Missionária
das Mulheres Metodistas, em várias partes do mundo. Segundo Zuleica Mesquita, ―ao serem
recebidas, as missivas das missionárias eram em seguida divulgadas através desse órgão
informativo, por isso mesmo elas eram destinadas, em sua maior parte, à Sra. Butler,
secretária executiva e editora da Sociedade‖ (p. 09).
Ao ter acesso ao material, percebi sua riqueza sob dois aspectos
principalmente. O primeiro, por ser um periódico que descrevia com detalhes o movimento
missionário metodista que acontecia em lugares como China, Japão, Cuba, México.15 O
segundo, por ser dirigido e organizado pelas mulheres metodistas, intitulado numa tradução
livre como ―defensor da mulher missionária‖.
Não encontrei trabalhos que tratassem a questão da participação das
mulheres no projeto missionário metodista tendo como fonte principal o periódico em questão
e, tampouco, sendo usado com objeto de pesquisa, que poderia, em tese, trazer informações
acerca de sua criação, forma de publicação, número de exemplares, periodicidade etc. Nos
trabalhos pesquisados, quando citado, o periódico era utilizado como fonte secundária de
arquivos esparsos.
Hilsdorf (2002), ao estudar a atuação das mulheres metodistas, afirma ser
inegável a participação das mesmas na educação brasileira a partir do século XIX e que a
história tem muitos relatos a respeito da entrada do protestantismo no nosso país por meio
dessas educadoras. Aponta especialmente o pioneirismo de Martha Watts e Maria Rennotte

13
Doravante farei referência ao periódico apenas como Advocate, salvo exceções necessárias para melhor
entendimento do texto.
14
O Centro Cultural Martha Watts é um espaço de cultura, memória e história, localizado na cidade de
Piracicaba/SP (Brasil). Disponível em: http://www.unimep.br/ccmw/index.php. Acesso em jun. 2015.
15
Mesmo tendo registros apenas do Brasil, em algumas páginas reprografadas, havia artigos citando esses
países.
13

como figuras emblemáticas da estratégia cultural desenvolvida pelo protestantismo de missão


norte-americano para modernizar a sociedade brasileira a partir da cultura escolar, mas não
cita o Advocate.
Em sua Tese de Doutorado, Ramires (2009) se aproxima dessa perspectiva
com relação à mulher metodista ao descrever a atuação protagonista de Maria Rennotte,
professora do Colégio Piracicabano. Um trabalho que contribui do ponto de vista da atuação
feminina no movimento, traz citações do Advocate, mas que não tem o periódico como
principal fonte de pesquisa.
O trabalho de Ribeiro (2008) se destaca entre aqueles que abordam a
participação da mulher no movimento metodista. Mesmo circunscrito ao período de 1930,
para provar o papel atuante das mulheres, ela relata a trajetória das mesmas especialmente a
partir da criação das Sociedades Femininas. Em determinado momento afirma:

Há indícios de que a participação das mulheres na gênese e no desenvolvimento do


protestantismo no Brasil é bem mais significativa do que a historiografia do
protestantismo deixa transparecer. Há suspeitas de que em diversas situações as
mulheres foram protagonistas e pioneiras na história do protestantismo.
Contudo, este protagonismo é pouco tematizado na historiografia do protestantismo
brasileiro, o que nos leva a formular a hipótese de um processo de silenciamento das
mulheres e/ou ocultamento dos seus rostos. Como não foi absoluto este ocultamento,
a investigação historiográfica é possível e necessária para, a partir dos rastros,
vislumbrar os rostos destas mulheres (p. 16)

Afirma, portanto, que há indícios de que a participação das mulheres na


gênese e no desenvolvimento do protestantismo é bem mais significativa do que a
historiografia deixa transparecer. A autora, ao explicitar a origem do movimento das mulheres
na Igreja Metodista, também não faz referência ao Advocate.
Silva (2008b), ao analisar as relações entre gênero, religião e trabalho
missionário de mulheres solteiras entre o final do século XIX e inícios do XX, também
destaca a figura da missionária metodista norte-americana Martha Hite Watts, fazendo apenas
citações de trechos do Advocate na edição de maio de 1889.
Em outro artigo da mesma autora, publicado em 2011, ela aborda as
relações entre religião, cultura e papéis de gênero entre 1870 e 1920, tendo como objeto de
estudo as missionárias protestantes americanas durante colonialismo e imperialismo. Mesmo
não citando diretamente essas missionárias, com exceção para Martha Foster Crawford, faz
uma abordagem sobre a questão de gênero dentro do que ela chama de ―cruzamentos
14

culturais‖ com base em uma perspectiva história, racial, social e religiosa. Uma importante
análise que considera as colonizações culturais resultantes da atuação das missionárias
protestantes sob o seguinte aspecto, ―a mesma missão que converteu o Outro trouxe o Outro
para dentro de si e construíram novas culturas e fronteiras e relações entre gênero e religião‖
(p. 21). Um artigo que embasa a tese da importância das mulheres nesse projeto missionário,
que nesta pesquisa será sustentada pela publicação do Advocate.
No âmbito das pesquisas publicadas em outros países, considerei alguns
procedimentos analíticos. Diante das inúmeras instituições de ensino superior nos Estados
Unidos, listei as principais universidades metodistas,16 que poderiam, em tese, facilitar a
busca pelo tema. Não havia, entretanto, nas respectivas universidades, repositórios abertos.
Todas, sem exceção, tinham o acesso restrito à comunidade acadêmica. Minha opção então
foi a busca em portais tais como Ebsco host – Reserach Databases, caminho em que acessei o
site OopenDissertations.com, PQDT Open, a NDLTD – Networked Digital Library of Theses
and Dissertations e o site da Biblioteca Victor de Sá da Universidade Lusófona de
Humanidades e Tecnologias que possui um link para os repositórios científicos internacionais.
Esses portais possuem acesso aberto cujos autores disponibilizam suas
produções para o público em geral. Nessa busca, encontrei os seguintes trabalhos referentes
ao tema missionarismo feminino metodista e/ou ao Advocate.
Amaral (2009), uma pastora metodista ordenada no Rio de Janeiro, ao tratar
da liderança feminina contemporânea dentro da igreja metodista, faz um histórico da
participação das mulheres no movimento missionário no Brasil afirmando que ―a história da
liderança feminina no Brasil começou no final de 1800 quando as mulheres americanas
missionárias abriram novas avenidas para todas as mulheres nessa nova aventura dentro do
ministério‖ (p. 03). A autora faz uma descrição das mulheres metodistas que atuaram no
Brasil e as escolas onde trabalharam como professoras e/ou diretoras. A intenção da autora é
explicar como foi se construindo um espaço de atuação das mulheres dentro da igreja
metodista no Brasil, a partir da vinda das primeiras missionárias e a resistência do que ela

16
Allen University; American University; Anderson University; Baker University; Baldwin Wallace University;
Bethune-Cookman University; Centenary University; Central Methodist University; Claflin University; Clark
Atlanta University; Dakota Wesleyan University; DePauw University; Drew University; Duke University;
Emory University; Hamline University; High Point University; Illinois Wesleyan University; Indiana Wesleyan
University; Iowa Wesleyan University; Kansas Wesleyan University; McKendree University; McMurry
University Methodist University; MidAmerica Nazarene University; Mount Vernon Nazarene University;
Nebraska Wesleyan University; Northwest Nazarene University; Ohio Northern University; Ohio Wesleyan
University; Oklahoma City University; Oklahoma Wesleyan University; Olivet Nazarene University; Otterbein
University; Pfeiffer University; Reinhardt University; Seattle Pacific University; Shenandoah University;
Southern Methodist University; Southern Nazarene University; Southern Wesleyan University; Southwestern
University; Spring Arbor University; Tennessee Wesleyan University; Texas Wesleyan University; The
University of Findlay; Trevecca Nazarene University; University of Evansville; University of Indianapolis;
University of Mount Union; Warner University; Wilberforce University; Willamette University.
15

chamou de ―setores ligados ao machismo‖. Não há nenhuma referência ao Advocate ou a


outros periódicos metodistas.
Já Shaver (2006) apresenta como as mulheres acabaram conquistando um
espaço dentro da igreja e do movimento missionário ao examinar dois periódicos populares da
Igreja Metodista produzidos durante o período antes da guerra civil:17 a revista mensal
Methodist Magazine e o periódico semanal Christian Advocate.18 Para a autora, houve várias
tentativas dos homens da igreja em ―conter as mulheres na esfera doméstica‖, causando, no
entanto, um efeito colateral de resistência na atuação das mesmas. A participação delas em
organizações religiosas e benevolentes, escolas dominicais e missões, fez com que a igreja
acabasse reconhecendo esses esforços para além da esfera doméstica. Usando a expressão
―empoderamento‖, a autora mostra que, através de suas publicações, a igreja
institucionalmente acabou sancionando e disseminando as vozes e ações das mulheres para
audiências muito além de suas casas, congregações e comunidades. Por se tratar de um
período anterior à criação do Advocate, não faz menção ao seu nome, porém oferece
elementos importantes de análise para esta pesquisa.
Coleman (2002), ao tratar do tema do missionarismo feminino protestante
na Índia entre 1876 e 1920, mesmo não abordando especificamente o metodismo, apresenta
os jornais protestantes como ―as fontes mais proeminentes e prolíficas para pesquisa‖ (p. 15).
Que durante o final do século XIX e início do século XX os jornais foram as principais
formas de comunicação entre as missionárias e sua casa. Nesses periódicos, relatavam toda a
sua rotina com riqueza de detalhes, o que contribuiu para o fortalecimento do papel da mulher
no movimento missionário. Movimento parecido ocorrido com a publicação do Advocate.
A pesquisa de Bennett (2009) apresenta algumas questões importantes a
serem analisadas como suporte deste trabalho. Ao discorrer sobre o tema da mulher, das
missões e das eleições nos Estados Unidos entre 1870 e 1934, a autora aborda o tema pela
perspectiva da atuação das mulheres nas sociedades femininas organizadas para o projeto
missionário protestante. Para ela, durante o final do século XIX e início do século XX,
homens e mulheres lutaram para determinar quais papéis as mulheres deveriam desempenhar
na igreja. O mais controverso e persistente desses debates dizia respeito aos papéis
determinados para elas no trabalho missionário. Mulheres em quase todas as denominações
protestantes americanas se uniram durante este período para formar grupos regionais ou
nacionais para arrecadar dinheiro e apoiar missões. Cita, então, a criação de dois periódicos
que foram feitos por e para as mulheres: o Our Homes e o Advocate. Segundo a autora,

17
A autora usa o termo antebellum, que designa esse período pré-Guerra Civil nos Estados Unidos.
18
Um dos mais importantes jornais metodistas já publicado. Durou 147 anos, de 1826 a 1973.
16

periódicos que representavam um espaço que estavam sendo conquistados por essas mulheres.
Algumas das perguntas de pesquisa levantadas foram: quanta autonomia seria concedida a
essas mulheres em gastar o dinheiro que haviam levantado? Até que ponto o Conselho de
Missões poderia direcionar suas ações? Seriam essas mulheres capazes de representar essas
organizações nos países estrangeiros?
Fica evidente no trabalho de Bennett que a participação em sociedades
missionárias encorajou as mulheres a irem além dos padrões familiares e convencionais de
suas vidas mudando comportamentos e a representatividade das mesmas dentro e fora da
igreja. Mesmo não falando especificamente dos Metodistas,19 e tendo como foco a discussão
da participação das mulheres nas sociedades missionárias e sua influência no destino político
da sociedade norte-americana, o trabalho de Bennett aponta discussões importantes que
podem colaborar para a análise desta Tese.
As autoras Zikmund e Dries (1984) apresentam a importância das primeiras
sociedades femininas organizadas nos Estados Unidos. Afirmam que as mulheres que queriam
organizar clubes, conselhos ou sociedades independentes, especialmente nas igrejas, não
foram encorajadas e, portanto, demandou um processo de lutas e conquistas. Em uma das
citações do artigo, há a reprodução das palavras de uma religiosa:

É difícil nestes dias perceber quanta oposição existia em relação a qualquer


organização independente de mulheres. Provavelmente teria sido impossível, por
causa desta atitude geral de espírito, ter empreendido qualquer esforço comum antes
do que este [1868]. Não se supunha que as mulheres fossem capazes de fazer tal
trabalho fora de casa. A ideia de dirigir um negócio, manter livros ou realizar o
trabalho de uma grande organização era inédita (apud DAVIS, 1926, tradução
nossa).

As autoras concluem que a criação dessas sociedades trouxe três


consequências importantes: transformou a consciência missionária nas igrejas, melhorou a
situação das mulheres envolvidas e criou um clima que, de certa maneira, apoiou o avanço da
participação das mulheres.

Diante do exposto, me deparei com as seguintes questões: todas as


pesquisas supracitadas evidenciam a importância da participação das mulheres especialmente

19
A autora analisa quatro denominações protestantes: os Presbiterianos do Norte (mais tarde, Igreja
Presbiteriana dos Estados Unidos), A Igreja Metodista Episcopal do Sul (metodistas contemplados nesta
pesquisa), Os Discípulos de Cristo (fazia parte do Conselho de Missões das Mulheres Cristãs, que não se
limitava a apenas uma denominação protestante) e A convenção Batista do Sul.
17

nos espaços conquistados nas sociedades femininas missionárias e apontam para uma
discussão sobre o tema gênero dentro da história do movimento missionário metodista. Além
disso, diante da ausência de trabalhos que tratassem da questão da participação da mulher no
movimento metodista a partir da organização do periódico, percebi a importância da minha
fonte de pesquisa. Um periódico, organizado por mulheres, para mulheres, e dedicado à
divulgação do movimento missionário metodista dentro e fora dos Estados Unidos. Um
material capaz de revelar aspectos significativos sobre o movimento missionário metodista a
partir da participação das mulheres dentro dos seus espaços de atuação, as Sociedades
Missionárias Femininas, tendo como escopo a educação escolar.
Afinal, o projeto missionário do metodismo norte-americano no Brasil,
contou com a participação efetiva das mulheres para além da atuação direta nas escolas? O
periódico que contém as informações e discussões sobre todo o movimento missionário
metodista e, especialmente, sobre a criação das escolas, seria capaz de evidenciar o
protagonismo feminino nesse projeto missionário? Quem eram essas mulheres que aparecem
como protagonistas na organização do periódico?

A busca pela fonte

O Instituto Educacional Piracicabano da Igreja Metodista (IEP) é a entidade


mantenedora da Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP), que, através do Centro
Cultural Martha Watts (CCMW), dispõe para pesquisadores o acervo CEPEME - Centro de
Estudos e Pesquisa sobre Metodismo e Educação, depositário dos números disponíveis do
periódico. Nesse acervo estão os seguintes números:

Período Fotos de
páginas20
Setembro 1880 a março de 1889 93
Julho de 1889 a outubro de 1900 72
Janeiro de 1901 a agosto de 1907 37
Setembro de 1907 a dezembro de 1910 29
Relatório - Woman's Foreign Missionary Society 45
Relatório - First Annual Report 1910 - 1928 45

20
Referem-se às fotos tiradas das páginas que continham assuntos sobre o Brasil.
18

Os arquivos disponíveis no CCMW,21 mesmo incompletos, considerando a


totalidade do material que compõe o periódico, já apontavam uma análise sobre o projeto
missionário do metodismo norte-americano no Brasil. Entretanto, considerei que somente
uma investigação da totalidade das publicações poderia garantir um quadro mais completo e
consistente desse projeto missionário e, especificamente, embasar o papel do protagonismo
feminino. Com esse objetivo, fiz uma primeira busca pela internet, inicialmente, entre
trabalhos publicados no mais diversos bancos de dados (livros, dissertações e teses) e,
posteriormente, uma pesquisa geral com o uso literal do termo. Sem obter sucesso na busca
pela totalidade dos números do periódico, fui então navegar em banco de dados estrangeiros,
especialmente nos Estados Unidos. Encontrei a lista de todos os volumes do periódico na
biblioteca da Cornell University, localizada em Ithaca, NY. São 31 volumes publicados
mensalmente (sem interrupções) entre julho de 1880 e dezembro de 1910, totalizando 354
números. No site da biblioteca da Universidade, descobri que o acesso aos volumes era
restrito a usuários da própria instituição ou pelo sistema chamado Interlibrary Loan, que
disponibiliza o acervo das universidades e bibliotecas dos Estados Unidos à comunidade
acadêmica. Iniciei, então, uma série de contatos com os responsáveis pelo acervo, sem obter
sucesso. Tentei, então, um contato institucional via Biblioteca da PUC. Depois de algumas
semanas entre mensagens trocadas e nenhum resultado, finalmente descobri, a partir do
Interlibrary Loan, que os volumes estavam em microfilme e também disponíveis em outras
instituições. Consegui, então, por meio de um contato pessoal, o envio dos arquivos, já
convertidos em PDF (5.672 páginas), pela Library of the University of New Haven - West
Haven, Connecticut,22 tendo então acesso a todos os números e volumes,23 cujos
procedimentos de análise e pesquisa serão descritos nesta introdução.

O estudo sobre missionarismo feminino a partir das questões de gênero

Preocupei-me em abordar o trabalho a partir da questão de gênero, com a


cautela de não realizar uma escrita militante a partir das dicotomias envolvendo as discussões
entre homem/mulher, masculino/feminino. Uma tentativa de fugir de uma abordagem restrita

21
Os números do periódico trazidos para o Brasil e hoje disponíveis no Centro Cultural Martha Watts não
possuem a indicação da numeração original. As primeiras publicações não apresentam o mês e ano de
publicação, que só aparecem a partir de julho de 1888. Mesmo assim, após essa data, não há nas cópias
reprográficas indicação precisa dos respectivos volumes — informação que consegui posteriormente ao ter
acesso a todos os volumes do periódico. O repositório também não possui a totalidade os números do Advocate
que apresentam notícias ou notas sobre o Brasil.
22
Localização: New Haven, Conn.: Research Publications. 4 microfilm reels; 35 mm. (Women's periodicals,
18th century to the great depression; reel R6-R9).
23
A organização dos números e volumes está apresentada no Anexo I.
19

a um ponto de vista do movimento feminista e da efetiva participação das mulheres, em


contraponto a uma opressão masculina nos mais diversos aspectos sociais, políticos e
culturais. Alguns autores embasaram essa escolha.
Para Louro (1997), é difícil, dentro do mundo acadêmico, realizar pesquisa
científica sobre as mulheres sem se embaraçar pelo que ela chama de ―adjetivação feminista‖.
As problematizações levantadas pelo feminismo fizeram mais do que exigir um acréscimo das
mulheres aos estudos, uma descoberta de suas histórias e de suas vozes. Essas
problematizações desafiaram a própria forma de fazer ciência até então hegemônica. Para a
autora, historicamente, ao tornar a mulher como sujeito/objeto de estudos, ―ela que fora
ocultada ou marginalizada na produção científica tradicional‖ (p. 147), ocorreram lacunas,
desvios ao incorporar as relações de gênero às interpretações das grandes teorias.

Algumas dessas tentativas de integração atingiram conceitos-chaves ou categorias


centrais e, na opinião de certos/as críticos/as, descaracterizaram as vertentes a que
buscavam se filiar. Mas tanto admiradores/as como adversários/as acabam por
admitir que os Estudos Feministas trazem temas, questões e procedimentos novos
para o mundo acadêmico (ainda que seguramente suas opiniões quanto à relevância
e os efeitos dessa incorporação tenham sido muito distintos) (p. 147).

Para Matos (2009), a perspectiva de inclusão do que ela denomina como


―categorias socialmente marginalizadas‖ dos processos históricos instigou os pesquisadores a
estudarem fenômenos acerca das relações entre homens e mulheres em sociedade. Ainda
segundo a autora, as abordagens dos trabalhos acadêmicos durante muito tempo excluíram a
presença feminina, invisibilizando a sua participação, colocando-as como passivas e
condicionadas às atribuições ideologicamente e socioculturalmente constituídas, e que, por
sua vez, se materializavam em práticas sociais de opressão. Evidenciava-se assim, o
compromisso acadêmico de ―trazer à luz‖ as experiências femininas, incorporando trajetórias
e lutas aos processos históricos.
O que pretendo aqui é uma análise que escape dos argumentos puramente
biológicos e culturais da desigualdade que, costumeiramente, têm o masculino como ponto
referencial. Fazer um rompimento com esse pensamento dicotômico, feminino em oposição
ao masculino, conforme defende Louro (1997),

Os sujeitos que constituem a dicotomia não são, de fato, apenas homens e mulheres,
mas homens e mulheres de várias classes, raças, religiões, idades etc. e suas
solidariedades e antagonismos podem provocar os arranjos mais diversos,
20

perturbando a noção simplista e reduzida de "homem dominante versus mulher


dominada" (p. 33).

Para Scott (1990), as preocupações teóricas relativas ao gênero como


categoria de análise se destacam na segunda metade do século XX. O gênero surge assim
como um novo tema, um novo campo de pesquisa histórica, ou seja, particularmente, a
história das mulheres, em suas múltiplas funções, ocupações e sentidos, passa a constituir um
importante campo sobre os estudos de gênero, especialmente o gênero feminino e sua
ambivalência em relação ao conceito do gênero masculino.
A historiografia passou também a eleger como protagonistas as mulheres,
destacadas ou anônimas, e suas contribuições tanto para a história do seu tempo como aquelas
que colaboraram para a consolidação dos conceitos de sexo e gênero. Até então, as mulheres
eram descritas principalmente quando se tratavam de nobres, santas e heroínas ou, ainda, seu
oposto, as mulheres ―más‖, que transgridem as leis e as regras que lhes são impostas pela
sociedade por causa do seu sexo (VASCONCELLOS, 2011).
Neste caso, o conceito de gênero baseado nas considerações de Scott (1990)
atende as considerações colocadas anteriormente. Para a autora, cuja principal virtude é a de
conceituar o gênero enquanto uma categoria útil à história e não apenas à história das
mulheres, os estudos envolvendo gênero devem abordar as diferenças entre os sexos
abrangendo relações sociais e políticas, representações culturais construídas em determinados
momentos históricos. Somente assim é possível historicizar os paradigmas sobre a análise do
termo fugindo de subjetividades baseadas nas diferenças entre os sexos que acabam por
determinar relações apenas assimétricas e desiguais.
Numa perspectiva alinhada com as análises de Scott, Souza (2010), ao
analisar gênero como categoria de estudos, revela o processo de modelagem social dos sexos
na medida em que nos mostra que os que chamamos de homem e mulher não são produtos do
sexo biológico, mas sim de relações sociais baseadas em distintas estruturas de poder. Ao
desnaturalizar os sexos, o gênero permite a desconstrução das hierarquias sexuais.
Nesta pesquisa, pretendo analisar a participação das mulheres como
protagonistas no movimento missionário metodista, especialmente concernente à educação
escolar, tendo como fonte o periódico Woman‟s, Missionary Advocate, numa perspectiva que
escape dos argumentos puramente biológicos e culturais da desigualdade, rompendo com esse
pensamento dicotômico, do feminino em oposição ao masculino, mas destacando a atuação
dessas mulheres, as disputas e enfrentamentos em espaço de poder dentro do próprio
movimento missionário metodista.
21

Fontes e procedimentos da pesquisa

Importante esclarecer o uso do termo imprensa nesta pesquisa. Os estudos


sobre periódicos geralmente abordam o tema usando os conceitos como sinônimos: jornal,
periódico, imprensa e imprensa periódica. Camargo (1971) usa os termos como sinônimos ao
falar sobre a imprensa periódica como fonte para a História do Brasil. Nascimento (2002), ao
discorrer sobre a palavra ―impressa‖ como estratégica de difusão do protestantismo no Brasil
no século XIX, adota o termo impressos protestantes para se referir a jornais, revistas,
folhetos distribuídos gratuitamente ou vendidos, com periodicidade ou não. Já Vasconcelos
(2010) ,em sua Tese de Doutorado, apresenta vários tipos de publicações protestantes usando
―periódico‖ e ―jornal‖ como sinônimos, mas estabelecendo jornais e revistas semanais como
―arquivos do cotidiano‖. Vidal (2008) foca a imprensa pedagógica especificamente, mas
aponta os impressos em geral como fontes que abrem possibilidades de conhecer uma,

(...) realidade impregnada, não apenas no campo dos acontecimentos e fatos


educacionais, mas sobre todos os ocorridos que se desenrolaram naquele momento,
e que podem ou não, estarem associados aos episódios ligados à educação. (...) A
pesquisa não se restringe apenas a investigar impressos produzidos por professores,
alunos ou pessoas ligadas ao setor educacional, mas a tudo o que se refere ou trás
informação sobre esse setor de pesquisa, seja de uma instituição privada ou pública,
feita pelo Estado, Sindicatos, Associações, Igreja ou qualquer outro setor (p. 04).

Considerando que jornais, revistas e imprensa periódica, de fato, podem ser


usados como sinônimos, os procedimentos de análise e pesquisa também podem ser utilizados
da mesma forma, dentro de uma perspectiva própria. Utilizarei o termo periódico para me
referir ao Advocate, por se tratar de uma publicação periódica, com um caráter específico, que
a distingue dos jornais e revistas como ―arquivos do cotidiano‖ e que apresenta
especificamente o movimento missionário protestante metodista da Igreja Metodista
Episcopal do Sul.
Segundo o IBICT (Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e
Tecnologia) periódico é,

(...) um tipo de publicação seriada que se apresenta sob forma de revista, boletim,
jornais etc., editadas em fascículos com designação numérica e/ou cronológica, em
intervalos pré-fixados (periodicidade), por tempo indeterminado, com a colaboração
22

de diversas pessoas, tratando de assuntos diversos, dentro de uma política editorial


definida (IBICT).24

Nóvoa (2002), ao analisar publicações periódicas portuguesas na área da


educação e ensino, afirma que é uma importante fonte para compreender as relações entre a
teoria e a prática, entre os projetos e as realidades, entre a tradição e a inovação. A
proximidade em relação ao acontecimento, o ―caráter fugaz e polêmico‖, a vontade de intervir
na realidade, são características próprias desse meio e que lhe conferem esse estatuto único e
insubstituível como fonte para estudo histórico e sociológico da educação e da pedagogia.
Outro aspecto destacado por ele é o fato de a imprensa ser um meio em que emergem vozes
que têm dificuldade em se fazerem ouvir em outros espaços sociais, como a academia ou os
livros impressos. Mesmo apresentando um procedimento de análise diferente do que será
realizado neste trabalho,25 as reflexões do autor corroboram para a defesa do estudo do
periódico como fonte privilegiada nesta pesquisa.
Ao organizar a coletânea que trata da História de educação pela imprensa,
mesmo dando ênfase às publicações que se enquadram no modelo imprensa como ―arquivos
do cotidiano‖, Shelbauer e Araújo (2007) indicam a importância de estudos dos materiais que
se destacam do ponto de vista de periodização. Afirmam que, se a educação é uma prática
social que se estrutura pelo que é veiculado pela cultura, a imprensa tem seu lugar na
educação dos homens e da sociedade. Tomar um dado periódico como fonte histórico-
educacional implica ampliar os horizontes para além da educação escolar.
Para Cruz e Peixoto (2007),

Transformar um jornal ou revista em fonte histórica é uma operação de escolha e


seleção feita pelo historiador e que supõe seu tratamento teórico e metodológico no
decorrer de toda pesquisa desde a definição do tema à redação do texto final. A
Imprensa é linguagem constitutiva do social, detém uma historicidade e
peculiaridades próprias, e requer ser trabalhada e compreendida como tal,
desvendando, a cada momento, as relações imprensa /sociedade, e os movimentos de
constituição e instituição do social que esta relação propõe (p. 260)

Para Luca (2006), na década de 1970, ainda era relativamente pequeno o


número de trabalhos que se valiam de jornais e revistas como fonte para o conhecimento da
história do Brasil e que não era nova a preocupação de se escrever a História da imprensa,
24
Disponível em http://www.ibict.br/informacao-para-ciencia-tecnologia-e-inovacao%20/centro-brasileiro-do-
issn/faq/#9. Acesso em jan. 2016.
25
Nóvoa estabelece como procedimentos a elaboração de ―fichas de análise‖, a organização de ―repertório‖ a
partir de análise de coleções, a organização de tipologia das publicações etc.
23

mas relutava-se em escrever a História por meio da imprensa. Ela faz um histórico de como
foi se concretizando a pesquisa por meio da imprensa e sua ligação com a História Cultural,
que considera um movimento que está no centro das renovações historiográficas.
Segundo a autora, isso só foi possível devido à renovação do marxismo,
particularmente marcante nos estudos de Raymond Williams, Perry Anderson, Christopher
Hill, Eric Hobsbawm e, sobretudo, E. P. Thompson, pois apontaram o abandono da ortodoxia
economicista e trouxeram para o centro da cena a experiência de grupos e camadas sociais
antes ignorados, conforme analisado por Rago (1999), ao discorrer sobre a chamada ―nova‖
historiografia brasileira, destacando a importância de Thompson na acepção de que ―as
classes se fazem tanto quanto são feitas‖.
Neste caminho, o que ocorre é o fortalecimento da História Cultural, a partir
de estudos sobre temas e objetos variados; e novas problematizações, que mobilizaram os
historiadores a buscarem fontes alternativas, a partir de procedimentos analíticos e
metodológicos que alteraram o modo de inquirir os textos.26
Ao fazer um estudo sobre as missionárias protestantes americanas, Silva
(2011) afirma que a história cultural problematiza o texto diretamente como mediação,
desafiando o historiador a confrontar o que havia sido até então ―realidade‖, partindo dos
documentos com o poder das representações da escrita, da materialidade textual. Trata-se,
pois, de refletir sobre os sentidos da História, analisando eventos do passado, construídos a
partir de uma variada documentação e do próprio discurso histórico. A busca dos sentidos
organizadores dos textos como formas de conhecimento que produzem a verdade,
racionalizando o passado e referendando situações e sistemas, destacando os esquemas
geradores de classificações e percepções de cada grupo social, tendo como objeto a
compreensão das formas e motivos, ou seja, as representações do mundo social, descrevendo
a sociedade como pensam ser, ou como gostariam que fosse.
As práticas que objetivam fazer reconhecer uma identidade social,
representadas por uma maneira própria de estar no mundo, dotadas de sentidos e significados
simbólicos, se estabelecem de tal maneira que representantes, de instâncias coletivas ou
particulares, marcam de forma visível e perpetuada a existência de um grupo, de uma classe
ou de uma comunidade (CHARTIER, 2002).
No caso das missionárias metodistas, é preciso considerar ainda que a
identidade religiosa também estabelece parâmetros culturais que influenciam as práticas
cotidianas, as relações, os lugares, as posições hierárquicas e as representações. Trata-se de
destacar o papel que a identidade religiosa exerce na construção de papeis de gênero e sua
26
Sobre o assunto, ver Burke (2005)
24

influência nos valores e sentidos no movimento missionário metodista a partir da referência


de uma intenção em que o proposto e idealizado adquire algum sentido.
É sempre oportuno enfatizar como a História Cultural tem se oferecido cada
vez mais como campo historiográfico aberto a novas conexões com outras modalidades
historiográficas e campos de saber, ao mesmo tempo em que tem proporcionado aos
historiadores um rico espaço para a formulação conceitual (BARROS, 2011).
Dentro dessa perspectiva de análise sobre a importância da História Cultural
como um alargamento temático e reflexões em torno de procedimento, Carvalho (2003) avalia
uma enorme capacidade de renovar temas e instigar o olhar do pesquisador, pondo em cena
novas categorias de análise, reconfigurando os objetos de investigação. Ao eleger o periódico
como fonte privilegiada desta pesquisa, destaco as observações de Barreira (2004) ao afirmar
que, ao eleger os periódicos como fonte, o historiador amplia suas fontes tradicionais e passa
a ter acesso a dispositivos discursivos que configuram determinados campos do saber.
Esses estudos mostram a importância de um procedimento de pesquisa do
periódico em sua totalidade, desde sua caracterização até suas intencionalidades dentro de um
contexto histórico, social e político.
Justifico, portanto, a importância do estudo de um periódico, publicado por
uma sociedade missionária de mulheres metodistas dos Estados Unidos, que apresenta, além
da trajetória do movimento missionário em diversas partes do mundo, incluindo o Brasil, uma
série de outros aspectos importantes desse movimento como:
 Descrição completa das reuniões da Sociedade Missionária da Mulher (Woman‟s
Missionary Society)27
 Descrição completa das reuniões anuais da Sociedade Missionária Estrangeira da
Mulher da Igreja Metodista Episcopal do Sul (Woman‟s Foreign Missionary Society of
The Methodits Episcopal Church). Um total de 32.
 Descrição de diversas conferências realizadas dentro e fora dos Estados Unidos
 Relatórios financeiros de todo o movimento missionário dentro e fora dos Estados
Unidos
 Orientações na condução dos estabelecimentos de escolas
 Orientações nos procedimentos para o estabelecimento de igrejas
 Orientações geográficas e culturais sobre os países envolvidos nas missões
 Orientações específicas na formação de crianças e jovens

27
No capítulo 1, apresentarei o histórico da formação das Sociedades Missionárias femininas.
25

 Cartas enviadas contendo aspectos positivos e negativos das missões, especialmente


no tocante ao estabelecimento de escolas.
Além dos itens relacionados anteriormente, destaco que as reuniões e
conferências realizadas pela Sociedade Missionária da Mulher publicadas no Advocate
carregam uma representatividade importante para entender a estrutura desse projeto
missionário e um possível protagonismo das mulheres.
Sendo uma publicação destinada aos leitores nos Estados Unidos escrita na
língua nativa (inglês), com 354 números, cuja tradução completa seria impossível no espaço
de tempo disponível e, não sendo eu uma especialista no idioma inglês, elaborei um plano de
trabalho da seguinte forma:
 Identificação e separação de notícias/artigos/trechos que envolviam todo e qualquer
assunto relacionado ao Brasil;
 Identificação e separação de notícias/artigos/trechos que envolviam todo e qualquer
assunto relacionado ao movimento da Sociedade Missionária da Mulher e seus
tentáculos;
 Identificação e organização de todas as missionárias enviadas ao Brasil, citadas no
Advocate;
 Identificação e organização de todas as mulheres envolvidas na elaboração do
Advocate;
 Identificação e organização de todas as escolas fundadas e sustentadas pelo Conselho
da Mulher (Woman‟s Board);
 Tradução literal de todos os trechos considerados indispensáveis para compreensão do
tema da pesquisa;
 Interpretação de todo o restante da publicação organizada.
Por possuir certa facilidade na leitura de textos em inglês, não foi difícil
interpretar os trechos que considerei importantes na elaboração deste trabalho. Com relação às
traduções, o cuidado precisaria ser redobrado, em se tratando de uma publicação do século
XIX, em outra língua que, como afirma Sanches (1940), esta em constante evolução. Para
garantir a qualidade e veracidade das traduções, contei com o apoio de uma professora
especialista em tradução da língua inglesa que fez a revisão de todas as traduções e
acompanhamento dos trechos interpretados por mim.
Somente o trabalho de um tradutor não seria capaz de garantir a qualidade
do trabalho. Importante destacar o trabalho conjunto entre o especialista em tradução da
língua, capaz de identificar e interpretar palavras e expressões, e o trabalho do historiador,
26

capaz de entender o contexto que envolve o documento traduzido, fator indispensável para a
qualidade do trabalho final. Registro que todos os trechos transcritos neste trabalho retirados
do Advocate passaram obrigatoriamente pela revisão da especialista em tradução.

Procedimentos de análise

Bacellar (2006), mesmo não abordando especificamente a pesquisa com/nos


periódicos, ao discorrer sobre o trabalho do historiador com suas fontes, apresenta alguns
pressupostos importantes para uma metodologia de análise. Para ele, uma questão essencial é
entender as fontes no contexto da época, o que inclui também o significado de palavras e
expressões, e poder perceber algumas imprecisões que podem demonstrar os interesses de
quem as escreveu, sendo indispensável discutir os critérios possivelmente adotados por quem
as produziu, de modo a melhor decifrar a informação que ela nos fornece.
Retomo o trabalho de Luca (2006), para elencar alguns procedimentos de
análise importantes que serão utilizados nesta pesquisa. Mesmo dando destaque à imprensa
jornalística, também como ―arquivos do cotidiano‖, a autora aponta questões essenciais na
análise de uma publicação periódica. Alguns aspectos ligados à materialidade,28 como sua
aparência física (formato, tipo de papel, qualidade de impressão, capa, presença/ausência de
ilustrações), à estruturação e divisão do conteúdo, às relações que manteve (ou não) com o
mercado, a publicidade, o público a que visava a atingir e os objetivos propostos. É preciso
dar conta também de analisar as motivações que levaram à decisão de dar publicidade ao
periódico, o destaque conferido a determinados conteúdos. Além disso, os discursos adquirem
significados de muitas formas, inclusive pelos procedimentos tipográficos, ênfase em certos
temas, natureza dos conteúdos. Há sempre uma intencionalidade, daí a importância de analisar
o processo que envolveu a organização, o lançamento e a manutenção do periódico.
Aproprio-me das analises de Cruz e Peixoto (2007) no pressuposto de que,
nos procedimentos de pesquisa do periódico, é importante apreender seu espaço de articulação
na configuração de uma determinada conjuntura e os fios que a remetem para outras
dimensões e que constituem a historicidade daquele tempo.
Destacando a importância da análise das fontes na perspectiva da História
Cultural, Viana e Cortelazzo (2009) concordam que esse movimento historiográfico parte de
uma dupla recusa à antiga história das ideias: não acredita na liberdade absoluta de criação do
sujeito, desligada das condições históricas de possibilidade; e não aceita a existência
autônoma das ideias descoladas dos sujeitos históricos. Destacando os estudos de Roger
28
Sobre o assunto ver Chartier (1994).
27

Chartier e Michael de Certeau, mostram a relevância desses procedimentos de pesquisa que se


propõem a compreender a racionalidade dos discursos na historicidade de sua produção e das
relações que estabelece com outros discursos.
Para Barros (2011), Roger Chartier e Michel de Certeau são influências
importantes para os aspectos discursivos e simbólicos da vida sociocultural. Para ele,
recolocar a noção de discurso no centro da História Cultural é considerar que a própria
linguagem e as práticas discursivas que constituem a substância da vida social embasam uma
noção mais ampla de Cultura. ―Comunicar‖ é produzir Cultura, e, de saída, isto já implica na
duplicidade reconhecida entre Cultura Oral e Cultura Escrita. O autor destaca uma
especificidade de Michel de Certeau que merece ser analisada: o seu interesse pelos sujeitos
produtores e receptores de cultura — o que abarca tanto a função social dos intelectuais de
todos os tipos, até o público receptor, o leitor comum, ou as massas capturadas modernamente
pela chamada indústria cultural, que também pode ser relacionada como uma agência
produtora e difusora de cultura. Agências de produção e difusão cultural também se
encontram no âmbito institucional: os sistemas educativos, a imprensa, os meios de
comunicação, as organizações socioculturais e religiosas.
Estas instâncias — produção, difusão e consumo — e os papéis,
respectivamente, de produtor, distribuidor e consumidor guardam naturalmente interações de
todos os tipos. Considerar o Advocate como um periódico difusor de um projeto missionário
que mantinha seus membros informados sobre as ações do metodismo, especialmente
concernente à educação escolar, sendo um espaço privilegiado de divulgação e defesa desses
ideais dentro de uma historicidade que destaca o papel da mulher no movimento, parece
apontar um caminho esclarecedor para provar a hipótese de um protagonismo feminino no
movimento missionário metodista.
Um aspecto ligado à Certeau (1998) que merece ser apreciado e que pode
contribuir na análise do periódico é a distinção das categorias que ele denomina como táticas
e estratégias no estudo das práticas culturais. As estratégias correspondem a um cálculo de
relação de forças empreendido por um sujeito detentor de algum tipo de poder que, por esta
via, ―(...) postula um lugar capaz de ser circunscrito como um próprio e, portanto, capaz de
servir de base a uma gestão de suas relações com uma exterioridade distinta‖. As táticas, por
sua vez, são apresentadas pelo autor como ações desviacionistas, que geram efeitos
imprevisíveis. Em oposição às estratégias — que visam a produzir, mapear e impor —, as
táticas originam diferentes maneiras de fazer. As estratégias institucionais e de poder não dão
conta de todos os meandros e matizes da vida, pois elas contam com um jogo de cálculos
objetivos que abrem mão de interlocução detalhada e permanente com os sujeitos. Daí a
28

reação por meio daquilo que este autor chamou de ―táticas‖, que são exatamente estas
atitudes/resistências/ressignificações em relação ao que foi imposto e determinado.29 Mesmo
não considerando a análise do periódico sob o ponto de vista da produção, difusão e consumo,
obrigatoriamente nessa ordem, os conceitos apresentados também podem contribuir para uma
melhor compreensão do periódico como produtor e difusor de um projeto missionário, a partir
da análise das publicações das atividades no Brasil.
Outro aspecto importante a ser considerado como procedimento de análise
neste trabalho refere-se aos conceitos de práticas e representações apresentados por Chartier
(2002). Mesmo considerando que o trabalho de Roger Chartier tem uma centralidade na
transferência entre a cultura oral e cultura escrita, mostrando como indivíduos não letrados
podem participar da cultura letrada através de práticas culturais diversas (leitura coletiva,
literatura de cordel), e ainda considerando que seus estudos discutem as práticas culturais que
aparecem na construção dos livros tanto do ponto de vista autoral (modos de escrever, de
pensar ou expor o que será escrito), editorial (reunir o que foi escrito para constituí-lo em
livro), ou ainda artesanal (a construção do livro na sua materialidade, dependendo de estarmos
na era dos manuscritos ou da impressão), a produção de um bem cultural impresso (neste
caso, o Advocate), está necessariamente inscrita em um universo regido, primeiramente, por
estes dois polos que são as práticas e representações, pois, para o autor, esses discursos
produzidos

não são de forma alguma discursos neutros: produzem estratégias e práticas (sociais,
escolares e políticas) que tendem a impor uma autoridade à custa de outras, por elas
menosprezadas, a legitimar um projeto reformador ou a justificar, para os próprios
indivíduos, as suas escolhas e condutas (p. 17).

São representações como práticas culturais, isto é, estratégias de pensar a


realidade e construí-la. Essa noção de representação remete ao problema da apropriação, isto
é, a forma pela qual os indivíduos reinterpretam e utilizam-se de modelos culturais impostos e
em circulação num determinado momento.
Para Barros (2005),

As noções complementares de ―praticas e representações‖ são bastante úteis, porque


através delas podemos examinar tanto os objetos culturais produzidos, os sujeitos
produtores e receptores de cultura, os processos que envolvem a produção e difusão
cultural, os sistemas que dão suporte a estes processos e sujeitos, e por fim as

29
Dois estudos merecem uma apreciação sobre o assunto: Pereira e Sarti (2010) e Cruz (2014).
29

normas a que se conformam as sociedades quando produzem cultura, inclusive


através da consolidação de seus costumes (p. 11).

Precisamente são procedimentos importantes do ponto de vista


metodológico para compreender a elaboração, produção e difusão do periódico e, por
consequência, entender a atuação das mulheres nesse projeto missionário.
Diante do exposto, este trabalho foi organizado em três capítulos.
No primeiro capítulo, intitulado O protestantismo de missão e a criação das
Sociedades Missionárias Femininas, será apresentado um histórico das missões protestantes
metodistas que vieram para o Brasil entre a chegada do Rev. Foutain Elliot Pitts, em 1835, até
o estabelecimento da Missão Ransom, em 1876, que efetivamente estabeleceu as bases do
metodismo no país, para entender como se deu esse projeto missionário, seu cotejamento com
a criação das Sociedades Missionárias Femininas e sua importância.
O segundo capítulo, intitulado Woman‟s Missionary Advocate: um periódico
“da mulher para a mulher”, é dedicado à apresentação do periódico, os objetivos da sua
criação e as representações da missão brasileira. Intrinsicamente ligado à formação das
primeiras sociedades missionárias femininas, o capítulo apresentará aspectos ligados à
identificação dos sujeitos participantes da publicação, as condições técnicas de produção,
periodicidade, e para além da materialidade, as motivações que levaram à decisão de dar
publicidade ao periódico, a ênfase em certos temas e a natureza dos conteúdos com toda a sua
intencionalidade.
No terceiro capítulo, intitulado Religião, educação e proselitismo: o
periódico como propagador do movimento missionário e a atuação das mulheres, serão
apresentadas as formas como as mulheres, através da publicação do periódico, conquistaram
espaços dentro do movimento missionário. Do planejamento na criação dos colégios à
participação efetiva num projeto amplo que abarcou vários segmentos da sociedade.
No quarto e último capítulo, intitulado Os colégios metodistas do Conselho
da Mulher: espelhos de um projeto missionário, será apresentada a trajetória dessas
instituições. Considerando que a identidade metodista esteve, desde sua origem, ligada a um
projeto educacional, o capítulo trará os detalhes da criação de cada colégio, a relação do
Conselho com as missionárias na criação dos mesmos, as dificuldades e sucessos alcançados e
os desafios das mulheres no comando dessas instituições.
30

CAPÍTULO 1

O protestantismo de missão e a criação das Sociedades Missionárias Femininas

1.1 Os primeiros movimentos e a chegada dos missionários

Nos estudos sobre protestantismo no Brasil, tem sido utilizada uma tipologia
que subdivide o campo em dois grandes grupos: os protestantes de imigração, que tem nos
luteranos alemães seu grupo mais representativo, que objetivava preservar seu patrimônio
cultural e religioso sem caráter proselitista, e os protestantes de missão, especialmente
metodistas, presbiterianos e batistas, que vieram com o objetivo de implantar suas respectivas
igrejas e escolas, imbuídos de um projeto evangelizador, expansionista e civilizador
(CARDOSO, 2003). As missões, em geral, eram organizações administrativas, muitas delas
organizadas pelas Juntas ou Conselhos, pertencentes a um conjunto de comunidades
religiosas, sendo constituídas em sociedades, com o objetivo de manter a propaganda
evangélica no país e no estrangeiro ou em comissões oficiais criadas pela autoridade
eclesiástica das comunidades para a divulgação da fé (NASCIMENTO, 2005).
Segundo Barclay (1949), é impossível desenhar uma linha nítida de
diferenciação entre a história geral da Igreja e suas atividades missionárias. O movimento
Metodista como um todo foi missionário na concepção, na motivação e no método.
Quando a Igreja Metodista organizou-se em Baltimore (Maryland), em
1784, o bispo Francis Asbury enviou três dos seus 81 pregadores para a missão fora dos
Estados Unidos. Somente em 1820 foi oficializada sua sociedade missionária, que enviou seu
primeiro missionário, Melville Beveridge Cox para Libéria (África), em 1833. Em 1828, a
Conferência Geral já havia recomendado uma pesquisa sobre a viabilidade de uma missão
metodista na América do Sul. Somente em 1835 o bispo James Osgood Andrew comissionou
o jovem pregador Foutain Elliot Pitts para fazer uma viagem de reconhecimento às mais
importantes cidades da costa ocidental: Rio de Janeiro, Montevidéu e Buenos Aires. Pitts
efetivamente fez a viagem, chegando a organizar pequenos grupos metodistas no Rio de
Janeiro e Buenos Aires (REILY, 2003). Em carta, recomendando o estabelecimento de uma
missão metodista no Brasil, ele afirma:

Estou nesta cidade (Rio de Janeiro) há duas semanas, e lamento que minha
permanência seja necessariamente breve. Creio que uma porta oportuna para a
pregação do Evangelho está aberta neste vasto império. Os privilégios religiosos
31

permitidos pelo governo do Brasil são muito mais tolerantes do que eu esperava
achar em um país católico... (...) Porque esse governo avança tão rapidamente no
comércio e nas artes, porque é o mais liberal de todos os países católicos do mundo
na tolerância religiosa e porque abarca diversos portos populosos, tais como São
Salvador, Rio Grande e Rio de Janeiro, esta última a maior cidade da América do
Sul, sou da opinião que ele apresenta um campo perante os servos do Senhor Jesus
Cristo que pode ser corretamente descrito como ―pronto para ceifa‖ (REILY, 2003,
p. 100-101)

Pitts parece elaborar um discurso estratégico de convencimento das


autoridades monárquicas, entendendo que o Brasil destacava-se em termos internacionais,
terra fértil para a missão. A tolerância religiosa descrita por ele é confirmada em Mendonça
(2008), associando a questão da liberdade religiosa com a Constituição de 1824 que, embora
continuasse mantendo a religião católica como a religião do Estado e a única a ser mantida
por ele, reconhecia o Brasil como nação cristã em todas as suas comunhões e estabelecia que,
respeitada a religião oficial, ninguém seria perseguido por questões religiosas.
Para o autor, nesse momento, houve certa tolerância ao movimento
protestante por diversas razões; ―as principais devem ter sido o espírito liberal e o
enfraquecimento da Igreja Católica debaixo do regime do padroado‖ (p. 43).
A Constituição de 1824, nos seu artigos 5º e 179º, apresentava a seguinte
redação:

Art. 5. A Religião Católica Apostólica Romana continuará a ser a Religião do Império. Todas
as outras Religiões serão permitidas com seu culto doméstico, ou particular em casas para
isso destinadas, sem fôrma alguma exterior do Templo.

Art. 179 Item V – Ninguém poderá ser perseguido por motivo de Religião, uma vez que
respeite a do Estado e não ofenda a Moral Pública.

Certamente, a nova Constituição do Império produziu uma pequena abertura


para outras religiões se instalarem no Brasil. Uma redação que levou o Reverendo Pitts a
declarar a suposta ―liberdade religiosa‖ no país. Importante entender que, nesse momento
histórico, ainda não havia no Brasil o estabelecimento de uma missão metodista com bases
educacionais, sociais e de caráter proselitista. Esta pesquisa, assim como outros trabalhos já
indicados, comprovam que, no momento em que o protestantismo, em particular o
32

metodismo, iniciou seu trabalho missionário no Brasil, sofreu intensos ataques, especialmente
conduzidos pela Igreja Católica.
Em resposta à recomendação do Reverendo Pitts, estabeleceu-se, segundo
Mendonça (2008), a primeira missão metodista no país, que não leva o seu nome, que retorna
aos Estados Unidos em 1836, mas de seu sucessor, Justin Spaulding.
Justin Spaulding e sua família chegam ao Brasil em 29 de abril de 1836,
após uma viagem de 37 dias. Começando com o pequeno grupo reunido por Pitts, organiza
uma escola dominical e, antes de completar um mês de permanência no país, organiza
também uma escola diária.30 Em carta relatório enviada aos Estados Unidos, descreve que

Conseguimos organizar uma escola dominical, denominada Escola Dominical


Missionária Sul-Americana, auxiliar da União das Escolas Dominicais da Igreja
Metodista Episcopal. Mais de quarenta crianças e jovens se tornaram interessados
nela. Vieram, voluntariamente, com seus vinténs, a fim de contribuir para o mesmo
objetivo [isto é, compra de livros para a escola dominical, pois nessa época
inexistiam revistas], e continuam até agora.
(...) Sob recomendação e pedido de alguns dos meus amigos aqui, abri uma escola
diária. Geralmente crê-se que o estabelecimento de escolas de aprendizagem sobre
princípios largos e liberais será um dos meios mais diretos de acesso ao povo deste
país. Há muitos que valorizam o aprendizado e, porque não podem educar os filhos
aqui, mandam-no a outros países. Se pudéssemos prestar-lhes esse serviço, creio
que, com a benção de Deus, talvez pudéssemos nos aproximar deles para prestar-
lhes um serviço maior, sim o maior dos serviços, o de encaminhá-los ao ―cordeiro de
Deus, que tira o pecado do mundo‖ (REILY, 2003, p. 102-103).

O trecho da carta demonstra o proselitismo metodista em realizar a missão


pela via da educação, compondo o quadro apresentado por Mattos (2000), ao afirmar que a
identidade metodista está, desde a origem, inseparavelmente ligada a um projeto educacional.
Justin Spaulding recomenda à Igreja-Mãe31 o envio de mais um missionário
a fim de viajar pelo território e verificar onde se deviam instalar escolas e novos pontos de
evangelização. Chega ao Brasil em 1837, no Rio de Janeiro, o jovem Daniel Parish Kidder
com sua esposa Cynthia Harriet (Russel) Kidder.32 Segundo Salvador (1982), o missionário

30
A definição de escola diária e escola dominical será feita nos capítulos posteriores.
31
Denominação dada à Igreja Metodista Episcopal dos EUA. A Igreja Metodista no Brasil só se torna autônoma
em 1930.
32 Alguns nomes dos missionários e missionárias que vieram ao Brasil sofreram modificações por conta da
adaptação à língua. Por esse motivo, há discrepâncias nos registros dos nomes nos diversos trabalhos
pesquisados. Nesta pesquisa, os nomes foram atualizados do original, tendo como fonte registros biográficos dos
Estados Unidos, encontrados em diversas publicações disponíveis online como o Biographical Dictionary of
Christian Missions de Gerald H. Anderson, ou aqueles encontrados no Internet Archive, disponível em
33

não ficou restrito às atividades na capital do Império, viajou para a Província de São Paulo e
ao interior, sempre com o objetivo de verificar as condições de cada lugar, distribuir a Palavra
de Deus e fazer novas amizades. Em São Paulo, ainda segundo o autor, entrou em contato
com o ex-presidente da província, Rafael Tobias de Aguiar, com o Senador Vergueiro, com o
Padre Feijó, com o Conselheiro Brotero, presidente em exercício da Faculdade de Direito,
com os Andradas e com outras ―pessoas ilustres‖ (p. 24).
Com a morte da esposa, Kidder retorna aos Estados Unidos em 09 de maio
de 1840, encerrando seus trabalhos no país. Com a volta de Justin Spaulding, em 1841,
encerra-se temporariamente o movimento missionário metodista no Brasil, que só voltaria a
acontecer com a chegada, em 1867, do Reverendo Junius Eastham Newman. Importante
destacar que o movimento migratório entre Estados Unidos e Brasil continua durante esse
período. Havia, segundo Mesquida (1994), grupos de apoio à imigração de cidadãos do Sul
dos Estados Unidos por acreditarem que os imigrantes sulistas, com sua experiência, seus
conhecimentos, seu sistema de valores, seu espírito de progresso, poderiam injetar ―sangue
novo nas veias esclerosadas no país‖33 (p. 38). Seria ingênuo acreditar que o trabalho
realizado pelos primeiros missionários, não tivesse tido nenhuma influência durante esse
período de ausência oficial da missão.34
Esse ―lapso‖ de 26 anos, expressão usada por Kennedy (1928) para explicar
a ausência de qualquer efetivo trabalho no Brasil nesse período, pode ser justificado por
vários fatores. Para Reily (2003), os documentos apontam como algumas das causas a falta de
pessoal missionário, a dificuldade de acesso ao povo brasileiro devido à superstições e
limitação da liberdade religiosa e o arrocho financeiro provocado pela depressão econômica
nos Estados Unidos, o chamado Pânico de 37.35
Outro fator que precisa ser levado em consideração é a intensificação dos
conflitos dentro da Igreja no tocante à escravidão, tema importante da Guerra Civil americana
(1861-1865), que traz como consequência a divisão da Igreja Metodista em 1844.

https://archive.org/, que dispõe de diversas pesquisas biográficas dos missionários protestantes. A única exceção
é o de Martha Hite Watts, cujo nome original era Mattie Hite Watts, conforme já explicado.
33
Palavras citadas por Aureliano Cândido Tavares Bastos, político, escritor e jornalista brasileiro. Defensor do
federalismo, acreditava na contribuição do imigrante europeu e do norte-americano, como indispensável para
que o Brasil se transformasse em uma nação civilizada. Fonte: A Contribuição do Imigrante na Visão
Civilizadora de Aureliano Cândido Tavares Bastos (1861-1873), Josefa Eliana Souza. Disponível em
http://apl.unisuam.edu.br/legis_augustus/pdf/ed2/artigo_04.pdf Acesso em abr. 2017.
34
Nesta pesquisa, para entender o protagonismo feminino no projeto missionário norte-americano no Brasil
considerou-se como essencial a participação de missionários e missionários enviados oficialmente pela Igreja-
Mãe.
35
Crise oriunda da falta de ouro e prata nos bancos, bem como pelo fechamento do Segundo Banco dos Estados
Unidos. (ALVES, 2011)
34

Segundo Reily (2003), Sul e Norte eram muito mais do que designações
geográficas nos Estados Unidos. Historicamente, as duas regiões tinham como tema principal
a questão da escravidão e dentro da igreja metodista o movimento não foi diferente. A
Conferência Geral de 1808 já discutia o assunto e chegou à conclusão de que a escravidão não
tinha remédio, porque as autoridades civis e muitos membros da Igreja estavam ―contentes
com leis tão contrárias à liberdade‖. Ficou definido, então, que nenhum dono de escravos
poderia ser oficial da Igreja, se residissem em Estados que permitissem a emancipação e a
liberdade de trabalho ao escravo alforriado (BUYERS, 1945, s/p). A passagem demonstra os
conflitos existentes entre os defensores da emancipação do trabalho escravo e aqueles que
defendiam sua manutenção. Vinte anos depois, em 1828, em outra Conferência Geral, houve
a escolha de dois bispos, que representavam, respectivamente, os interesses do Norte e do Sul,
no que se referia à questão da escravidão. Para Buyers (1945), as duas correntes continuaram
fortes por mais dezesseis anos, em meio a disputas de espaço e aprovações de resoluções
gerais.
A Conferência Geral de 1844, por se recusar a aceitar James Osgood
Andrew (o mesmo que autorizou a vinda de Fountain Elliot Pitts ao Brasil), como bispo, por
ter o mesmo se tornado dono de escravos por herança, iniciou o processo da cisão formal da
Igreja. Os metodistas do Norte simplesmente não toleravam a possibilidade de um bispo
possuir escravos (REILY, 2003). Em 1846, foi criada oficialmente a Igreja Metodista
Episcopal do Sul, que estabeleceria efetivamente as bases da missão protestante metodista no
Brasil.
O fim da Guerra Civil e a derrota do Sul trouxeram como consequência,
além da terrível mortandade, prejuízos irreparáveis à agricultura e a ocupação de territórios
sulistas. Essa ocupação, em muitos casos, incluiu também a ocupação de igrejas e sua entrega
a pastores do Norte. Derrotados e arruinados financeiramente, muitos sulistas procuraram
recuperar suas vidas em outras partes, ―onde ainda fosse legal possuir escravos‖ (REILY,
2003, p. 105). No Brasil, os sulistas da Igreja Metodista Episcopal do Sul que imigraram para
o Brasil, se estabeleceram primeiramente em Santa Bárbara do Oeste (SP). Seu principal
fundador e obreiro foi Junius Eastham Newman, que chega ao Brasil em agosto de 1867,
conforme dito anteriormente.
Em carta endereçada aos ―Metodistas do Sul‖, publicada no New Orleans
Christian Advocate, em 23/01/1867, Newman escreve suas impressões sobre o país:

A liberdade religiosa aqui, na prática, é quase tão completa como nos Estados
Unidos e, legalmente, mais ou menos como na Inglaterra. A imprensa é tão livre
35

como nos Estados Unidos, ou mais ainda, (...) e as provisões constitucionais são tão
boas como em qualquer parte do mundo – e devo acrescentar que esta liberdade é
usada livremente pelos brasileiros. (...) aqui acharão ―liberdade para adorar a Deus‖
(REILY, 2003, p. 107).

Essas impressões do Reverendo Newman demonstram uma tolerância


religiosa equivalente às apresentadas por Foutain E. Pitts, em carta recomendando o
estabelecimento de uma missão metodista no Brasil. Tolerância, que como já explicitado, não
se dará a partir da ação mais efetiva dos missionários.
Oito meses depois do seu desembarque, Newman volta aos Estados Unidos
para buscar a família, desembarcando no Rio de Janeiro em maio de 1868. Em abril de 1869,
muda-se para Saltinho, nas redondezas de Limeira, Província de São Paulo, onde organiza
uma pequena igreja metodista (REILY, 2003). Certo da limitação da sua obra, e entendendo
que era legítima a missão do metodismo atingir o maior número de pessoas no Brasil, apela
repetidamente aos bispos da Igreja-Mãe para o envio de missionários. Os bispos Atticus
Greene Haygood e Holland Nimmons McTyeire, junto com David Campbell Kelley,
secretário do Conselho de Missões, interessaram-se por seus apelos e quando a Conferência
Geral se reúne, em 1874, resolvem enviar o Reverendo John James Ransom como missionário
oficial do Conselho de Missões da Igreja Metodista Episcopal do Sul (LOPES, 2012).
O Reverendo Newman ficou na superintendência da missão até ao fim de
1879. A sua esposa falece em 1877 e ele resolve mudar-se de Saltinho, em maio de 1879,
fixando residência na cidade de Piracicaba. Entre 1879 e 1880, suas filhas Annie e Mary
Newman organizam um internato e externato para meninas. O Colégio Newman é
considerado a gênese do Colégio Piracicabano, uma das instituições mais significativas na
história da educação metodista em terras brasileiras (LOPES, 2012). Segundo Vieira (2010), a
transferência da família Newman para Piracicaba ocorreu devido ao apoio dos irmãos Manoel
e Prudente de Moraes Barros, eminentes advogados que exerciam grande influência na região,
com o objetivo de abrir uma escola que se dirigisse à instrução da mocidade daquela localidade.
Ainda segundo o autor, apesar do otimismo inerente a esta empreitada a escola permaneceu em
atividade por menos de um ano.
John James Ransom chega ao Brasil em fevereiro de 1876. Passa o primeiro
ano estudando português e ensinando inglês e grego no Colégio Internacional de Campinas.36
No segundo ano, viaja por diversas partes do país para estudar a situação e ver onde melhor

36
Em 1871, George Nash Morton e Edward Lane, pastores da Igreja Presbiteriana do Sul dos Estados Unidos,
organizaram em Campinas o Colégio Internacional, que se tornou referência entre os colégios de confissão
protestante no país (NASCIMENTO, 2005).
36

poderia iniciar seu trabalho. Em 1879, casa-se com a filha do Reverendo Newman, Annie
Ayers Newman, que, segundo Salvador (1982), possuía boa instrução e sabia o português
tanto quanto o inglês. Muitas famílias da Província já a conheciam, pois lecionara no Colégio
Internacional, de 1872 a 1875, e, a seguir, no Colégio do Dr. Francisco Rangel Pestana, em
São Paulo.
Um destaque especial deve ser dado ao trabalho missionário de Annie Ayers
Newman. Segundo Dawsey (1998), foi a primeira pessoa que iniciou as traduções da
literatura metodista no Brasil, e apesar de Ransom ser o nome mais associado ao início das
publicações metodistas em português no país, por exemplo a publicação do Compêndio da
Igreja Metodista (1878), foi Annie que realizou as primeiras traduções. Ainda segundo o
autor, o papel de Annie em começar a escola Metodista de Piracicaba foi muitas vezes
esquecido, pois o protagonismo da escola missão (termo do autor), independente de qualquer
outro, ficou a cargo de seu pai Junius Newmans e John Ransom. Para o autor ―foi Annie
Newman que realmente abriu as portas para a Educação Metodista no Brasil‖ (p. 127), e
justifica:

Annie Ayres Newman Ransom foi a chave para a solidificação do metodismo e da


educação metodista no Brasil. Suas relações com os irmãos Barros foram
importantes. Além disso, os modelos de educação que ela reuniu do Colégio
Internacional e do Colégio Pestana foram significativos para definir o padrão da
educação metodista no Brasil (p. 128).

O papel de Annie Newman parece demonstrar um protagonismo feminino


dentro do movimento missionário metodista, que muitas vezes fica restrito a uma atuação
circunscrita aos colégios e muitas vezes ofuscada pela historiografia das missões.
Apesar do empenho de Annie Newman para o sucesso do colégio, o Colégio
Newman perde uma professora, e, por deficiências econômicas, também perde alunos.
Segundo Salvador (1982), havia uma oferta financeira prometida pela Sociedade Missionária
da Mulher, que poderia revolver a situação. Como fonte para a afirmação, o autor indica o
primeiro número do Advocate, publicado em junho de 1880. Na verdade a publicação, uma
carta do Reverendo Newman enviada à secretária da Sociedade, demonstra que Newman
recebeu a ajuda financeira, mas que outros fatores estavam impedindo o crescimento da
escola.

Para a Sociedade Missionária da Mulher da Igreja Metodista Episcopal do Sul,


oferecemos nossos sinceros agradecimentos pela ajuda prestada. Nos esforçaremos
37

para usar os fundos que nos foram dados da melhor maneira possível para ajuda no
permanente estabelecimento da boa escola sob o patrocínio dessa Sociedade. Há
sérias dificuldades no caminho do nosso sucesso – por exemplo: muitas dessas
pessoas são fervorosos católicos romanos; e a maioria frequenta a principal igreja na
cidade. E alguns bem decididos em hostilizar nossa escola. Para minha surpresa, não
há um único Irmão nesta cidade disposto a patrocinar nossa escola, e há entre 800 e
1000 Irmãos na cidade. Há cinco ou seis escolas publicas na cidade, mas não são
mais do que escolas apenas no nome, como são desprovidas de livros, os alunos,
portanto, não podem avançar.
Nossa escola conta agora com 16 alunos. Na sessão anterior tínhamos 37. Desde a
remoção de uma professora, que ensinava português, temos sido incapazes de
empregar outra, de modo competente, mas agora a sua contribuição nos permitirá
fazê-lo. Estamos tentando construir uma escola para meninas, e desejamos educá-las
para serem professoras. Nós devotamente oramos para que a bênção de Deus
repouse sobre nossa obra. J. E. Newman. Piracicaba, Brazil, S.A. March 16, 1880.
(WMA37, jul.1880, p. 06)

O trecho já demonstra a importância da Sociedade Missionária da Mulher


como promotora das missões metodistas no Brasil, ou seja, um espaço de articulação na
configuração dos projetos missionários.
A carta do Reverendo Newman aponta dificuldades enfrentadas por eles na
manutenção do Colégio Newman e as promessas de melhoria não se concretizaram. Em julho
de 1880, falece sua filha Annie, recém-casada com Ransom e sua outra filha Mary, acometida
de uma enfermidade, precisou afastar-se do ensino de modo que a escola não conseguiu se
manter e acaba por fechar suas portas (SALVADOR, 1982). Após a morte da esposa, Ransom
retorna aos Estados Unidos e inicia um trabalho de divulgação das possibilidades de sucesso
da missão metodista no Brasil. O Conselho de Missões da Igreja Metodista Episcopal do Sul o
credencia para visitar as conferências apresentando as possibilidades positivas do
fortalecimento da missão no Brasil.
Para Salvador (1992),

Tal foi o interesse despertado, que algumas Conferências logo adotaram medidas
práticas. Duas dentre elas, a do noroeste do Texas e a da Carolina do Sul decidiram
pagar o sustento dos missionários que fossem para o Brasil. O mesmo resolveu a
Sociedade Missionária de Senhoras quanto à professora que atendesse ao apelo.
Também, reuniram-se fundos para a obra em Piracicaba e Rio de Janeiro. Sucede,
outrossim, que por esse tempo, a Igreja Metodista Episcopal do Sul experimentava

37
Nas citações, irei me referir ao periódico pelas iniciais: WMA. Todas as citações do periódico são traduções
livres desta autora, conforme já descritos nos procedimentos de pesquisa.
38

um novo ardor missionário, pois o secretário do Conselho, dr. Wilson, recém-eleito


pela Conferência Geral, e a Sociedade missionária de Senhoras, organizada pelo
mesmo conclave, estão empenhados na evangelização de outros povos. O trabalho
na China e no México mostrava, por sua vez, ótimos frutos, e o Brasil não lhes
ficaria atrás (p. 66).

Quando Ransom partiu de Nova York rumo ao Brasil, no dia 26 de março, via
Europa, trouxe consigo outros dois missionários, os reverendos James William Koger e James
Lillbourne Kennedy e a educadora Martha Hite Watts, que, com trinta e seis anos de idade,
deixava sua terra natal. O itinerário incluiu Londres, Portugal, Ilha da Madeira, São Salvador da
Bahia e, por fim, o Rio de Janeiro, onde desembarcaram no dia 16 de maio, chegando a Piracicaba
pela via inglesa e Ituana, no dia 19 de maio de 1881 (VIEIRA, 2010).
Notícias sobre o Brasil já circulavam entre os metodistas como forma de
incentivar a vinda para o Brasil. Em setembro de 1880 (primeiro ano de edição do Advocate), é
publicada uma longa descrição sobre o país apontando aspectos geográficos, históricos, culturais e
sociais, e convocando missionários para o trabalho.

Maravilhosa terra do Brasil! País de lenda dos mares do sul! Que terra maravilhosa,
no extremo sul para nós, se assenta entre os escolhidos, o mais rico do Continente da
América do Sul. Em extensão, o Brasil está entre os três maiores impérios do
mundo, perde apenas para Russia e China. Seu tamanho é quase a extensão da
Europa. Se excluirmos o Alaska da nossa área, é tão grande quanto os Estados
Unidos. O país é divido em vinte províncias. Sete delas tão grandes quanto a Grã-
Bretanha e Irlanda. O Brasil poderia facilmente ser dividido de modo a se tornar
sessenta e três Inglaterras e teria o suficiente para fazer duas Bélgicas. (...) O Brasil
está quase igualmente dividido em terras baixas e terras altas. Estes últimos são na
parte sul e leste. (...) As planícies mais extensas do mundo ocupam a Bacia
Amazônica, e cobrem uma área igual a sete vezes o tamanho da França (WMA,
out.1880, p. 06).

Além da imensidão do país, há também descrições sobre a economia


colonial, que explica a origem das riquezas do Brasil desde a exploração do ouro até o café,
que ―em um único ano ultrapassou a quantia de vinte e oito milhões de dólares‖ (p. 07).
Também descreve a chegada de Cabral, a maioridade de D. Pedro II, o governo dos regentes e
uma nota sobre o imperador dizendo que ―ele tem agora cinquenta e cinco anos, é um erudito
e um liberal, e tem feito muito em benefício do país‖. E, ainda, que

O governo é uma mistura de princípios republicanos e monárquicos. É uma


monarquia constitucional hereditária. A constituição foi criada por quatro poderes:
39

legislativo, executivo, judiciário e real (moderador). Os três primeiros lembram um


pouco nosso próprio governo. (...) Se me for permitido, no próximo mês poderemos
falar mais especificamente sobre a mulher do Brasil e em que grau as mulheres
cristãs do nosso próprio país já tem condições de assisti-las. Mrs R. E. Scarrit.
(WMA, out. 1880, p. 07).

Em dezembro do mesmo ano, Sra. Scarrit continua o artigo sobre o Brasil


descrevendo a formação étnica do povo, dizendo que ―pertencem a três diferentes raças:
índios, negros e brancos‖. Fala sobre a dominação dos índios por parte dos portugueses e
afirma que ―os jesuítas tentaram e falharam na conversão dos índios. Outros missionários,
com o espírito de John Elliot,38 tem trabalho fielmente entre eles; mas o fruto tem sido
comparativamente fraco‖ (p. 14).
Ela ainda aponta os esforços do governo brasileiro em incentivar a
imigração dos irmãos protestantes, destacando que terras estão sendo oferecidas em
―condições bem liberais‖ e que parte da passagem é paga pelo próprio governo. Referia-se à
imigração subvencionada criada no segundo reinado como forma de incentivar a imigração.
Para então, convocar missionários para o trabalho no Brasil, Sra. Scarrit tece
algumas considerações sobre o catolicismo no país:

O catolicismo no Brasil não é como na América (EUA). Aqui é controlado. Os


padres são mais chocantemente ignorantes e corruptos. Toda forma de pecado,
orgias e motins vem despudoradamente afundando as pessoas mais e mais na escala
moral. (...) As mulheres no Brasil são como crianças crescidas tolas, ignorantes,
supersticiosas, e em grande parte sob controle dos padres. (...) O pobre povo é
indolente e preguiçoso, trabalhando apenas por algum dinheiro para suprir suas
necessidades imediatas. É assim que o catolicismo vai elevar a nação? Seremos
inocentados se não enviarmos o evangelho para essa Nínive moral? (WMA, dez.
1880, p. 15)

A narrativa empregada por Sra. Scarrit indica um aspecto interessante sobre


qual era o papel da mulher no movimento missionário metodista. Havia a necessidade de
emancipar e educar as mulheres brasileiras, prepará-las por meio da educação para a
emancipação e independência financeira e religiosa que permitisse o acesso ao verdadeiro
evangelho cristão das missionárias, como um meio de combater os erros do catolicismo.
Somente pessoas instruídas e esclarecidas, com grandes habilidades de compreensão de

38
Missionário Puritano que se notabilizou pela conversão dos índios nos EUA (ADAMS, 1847).
40

sentidos, de raciocínio lógico e coerente, habituadas à reflexão, poderiam abandonar a Igreja


Católica e buscar a fé salvadora do protestantismo (SILVA, 2008a).
Após descrever os trabalhos realizados pelo Rev. Newman e o início do
trabalho missionário do Rev. Ransom, Sra. Scarrit finaliza fazendo um apelo às missionárias:

Muito ainda precisa ser feito e muito a oferecer para a redenção do Brasil. Minhas
irmãs, o que vamos fazer para as mulheres e crianças do Brasil? Qual oferta faremos
para nosso Senhor? Ele não morreu apenas por nós, mas para todos os pobres que
perecem no lindo Brasil, temos o dever de trazer o conhecimento e dever de trazer
para eles a preciosa herança da vida por nós mesmos (WMA, dez. 1880, p. 16).

As citações do Advocate parecem apontar para um esforço consistente de


garantir a missão protestante metodista no Brasil, o importante papel da mulher e a liderança
da Sociedade Missionária da Mulher nessa organização.
Um exemplo do esforço em garantir o sucesso da missão no Brasil acontece
em 1886. Para completar a organização do metodismo brasileiro e criar um órgão que servisse
como depositário das propriedades metodistas no Brasil, uma forma de legalizar as
propriedades adquiridas aqui, a Conferência Geral da Igreja Metodista Episcopal do Sul
autorizou a transformação da Missão Brasileira em Conferência Anual. O bispo John Cowper
Granbery foi enviado para visitar os campo missionário e organizar a Conferência. Mesmo
considerando que era muito pequeno o grupo dos missionários-pastores para constituir-se uma
Conferência, mudou de ideia à medida que se identificava com os problemas da Missão.
Constatou ser esse o único recurso para obter a legalização das propriedades que se
adquirissem no futuro. Era preciso transferir os nomes dos integrantes das conferências
originais (com base nos Estados Unidos), para o Brasil. A missão, portanto, daria um lugar a
um novo organismo eclesiástico (REILY, 2003).
Assim, em 16 de setembro de 1886, o Bispo reuniu-se na capela do Catete
com o Reverendo James Lillbourne Kennedy, transferido da Conferência de Holston,
Reverendo John William Tarboux, transferido da Conferência da Carolina do Sul e o
Reverendo Hugh Clarence Tucker , transferido da Conferência do Tennessee. Plenamente
autorizado pela Conferência Geral da Igreja-Mãe, organizou então a Conferência Anual
Brasileira. Foi ela a mais ―sui generis de todas as conferências do metodismo, pois arrolou
apenas três membros e atirou sobre seus ombros grandes responsabilidades‖39 (p. 125).

39
Os três missionários-pastores (Kennedy, Tucker e Tarboux) ficaram conhecidos na literatura metodista como o
―trio de ouro‖ por conta dessa participação na Primeira Conferência Anual Brasileira da Igreja Metodista
Episcopal do Sul.
41

Nessa ocasião, foi confirmada a divisão territorial da organização metodista


em dois distritos: o do Rio de Janeiro e o de São Paulo. O do Rio abrangendo duas igrejas
(congregações) com 63 membros e os circuitos de Juiz de Fora, Rio Novo e Mar de Espanha,
e o de São Paulo, que abrangia a capital bandeirante, Piracicaba e Santa Bárbara. Também
foram confirmadas as nomeações de pastores para atuação no projeto missionário metodista
(SALVADOR, 1982). Mesmo tendo sido realizada, a Conferência Anual não conseguiu
garantir a oficialização dos seus estatutos pelo governo e, assim, legalizar suas propriedades.
Isso só viria a acontecer com o advento da República em 1889, porém o fato já demonstra o
esforço dos líderes do movimento missionário em garantir a empreitada no Brasil.
Essa primeira Conferência Anual estabelece o fim da chamada Missão
Ransom, cujo afastamento do movimento missionário não fica claro nos trabalhos analisados.
Para Salvador (1982), Ransom desfrutava de certa ascendência sobre os colegas, por estar no
país há mais tempo e por ser o pioneiro no trabalho com a língua nacional. Em 1882, ele
renunciou à superintendência da Missão e, em 1886, não compareceu à primeira Conferência.
Depois de ter fundado o primeiro jornal metodista em língua portuguesa no Brasil, o
Methodista Catholico,40 e abrir o que se tornou a Editora Metodista do Brasil, Ransom volta
para os Estados Unidos, em 1886 (DAWSEY, 1998).
Entre a chegada do Reverendo Foutain Elliot Pitts, em 1835, até o
estabelecimento da Missão Ransom, em 1876, considerada a missão que efetivamente
estabeleceu as bases do metodismo no Brasil, já é possível entender esse projeto missionário
metodista norte-americano, baseado na necessidade de realizar a missão pela via da educação;
na sua influência junto aos grupos que vislumbravam a educação protestante como uma
alternativa à educação tradicional; na ideia de que a religião e civilização estavam unidas na
visão de uma América cristã e no poder da mensagem civilizatória norte-americana como
projeto de vida para outras nações.
E, afinal, qual o papel das Sociedades Missionárias Femininas nesse
projeto?

1.2 As Sociedades Femininas: criação e atuação

Conforme apontado na introdução desta tese, diversos trabalhos citam o


movimento missionário feminino metodista. Porém, antes abordar as Sociedades Femininas
no âmbito da Igreja Metodista, é preciso mostrar as trajetórias dessas organizações para
entender na gênese, como se deu sua constituição.
40
Ver nota página 8.
42

Na busca de informações mais detalhadas do assunto, duas obras foram


essenciais por apresentarem a criação e organização das Sociedades Femininas da Igreja
Metodista Episcopal do Sul. Uma escrita pela Sra. Sarah Frances Stringfield Butler,41 editora
por trinta anos do Woman‟s Missionary Advocate, intitulada History of Woman‟s Foreign
Missionary Society – Methodist Episcopal Church, South; e outra da pesquisadora Norren
Dunn Tatum, intitulada A Crown of Service. Esta segunda, especialmente, contribuiu muito
para entender a estrutura das Sociedades, as resistências encontradas para sua criação e os
embates enfrentados por essas mulheres para garantir esse espaço dentro da Igreja Metodista.
Segundo Tatum (1960), o registro mais antigo da história das Sociedades
Femininas é a organização em Boston (Massachusetts), da Boston Female Society for
Missionary Purposes, em 9 de outubro de 1800, inaugurando assim um século marcado pela
crescente preocupação pelos direitos das mulheres e pelo crescimento da empresa missionária,
dois movimentos, segundo a autora, intimamente relacionados. Esta primeira sociedade era
composta por mulheres das Igrejas Batista e Congregacional. A fim de ―acomodar as pessoas
de ambas as denominações‖, dizia o início do estatuto:

(...) listas separadas de nomes serão mantidos, e subscrições e doações dos que o
solicite serão dedicados ao apoio das missões da ordem Congregacional, e aqueles
que desejam o contrário, para o apoio de missões da denominação Batista (p. 13)

Na Igreja Metodista, o movimento começou com a criação da Female


Missionary Society no Seminário Wesleyano, em 5 de julho de 1819, em Nova Iorque.
Funcionou como uma Sociedade auxiliar da General Missionary Society da Igreja Metodista,
e os fundos arrecadados eram enviados para o Conselho Principal a fim de apoiar projetos
específicos. No início, foram levantadas verbas para apoiar as atividades missionárias entre
tribos indígenas nos Estados Unidos e Canadá. Gradualmente, o interesse expandiu-se para
incluir o trabalho para mulheres em ―outras terras‖. Embora a Sociedade deixasse de existir
em 1861, serviu de modelo para a organização de outros grupos. Para Tatum, essa Sociedade
de certa forma ajudou a sedimentar, tanto as missões em geral como o trabalho da mulher, que
na época ―não eram bem recebido pelas pessoas chamadas metodistas‖.

41
Casada com F. A. Butler. De maneira geral, as mulheres citadas nos trabalhos e livros sobre o assunto são
apresentadas com o nome do marido (no caso das Mrs. - Senhoras), inclusive nas próprias publicações do
Advocate. Para facilitar a busca dos nomes por pesquisadores interessados neste trabalho, nos casos em que foi
possível a identificação completa do nome dessas mulheres, haverá uma nota de rodapé indicando o nome do
marido.
43

Até a divisão da Igreja Metodista, em 1844, outras sociedades femininas


surgiram nos Estados Unidos, ligadas ou não ao movimento missionário. Em Jonesboro42
(Tennessee), foi organizada uma Sociedade Feminina Missionária em 1824 para arrecadar
fundos para apoiar o trabalho evangélico na Conferência de Holston. Em 1832, foi organizada
a Female Missionary Society de Lynchburg (Virgínia), para dar suporte às ações missionárias
no estrangeiro. Em St. Louis (Missouri), em 1839, foi organizada a Centenary Female Society
para arrecadar fundos para a construção de uma Igreja.
A intenção de incrementar o movimento missionário após a separação da
Igreja Metodista em 1844 e a criação então da Igreja Metodista Episcopal do Sul aconteceu
concretamente com o envio em 1847 dos primeiros missionários para a China, o Reverendo
Charles Taylor com sua esposa Charlotte Jane e o Reverendo Benjamin Jenkins e esposa. Era
o início de um projeto missionário para além das fronteiras norte-americanas.
Em 1848, é instituída a Sociedade de Baltimore que, segundo Tatum (1960),
deveu-se ao esforço da Sra. A. L. Davidson que após um sermão na Conferência do Dr.
Stephen Oliln o procurou e lamentou não haver uma ―avenida para o trabalho da mulher na
Igreja‖. Segundo a autora, ele lhe respondeu: ―Crie uma!‖. Após o encontro com diversos
pastores e mulheres da Igreja de Baltimore, finalmente é criada a Ladies' China Missionary
Society, no mês de abril do mesmo ano. Em 16 de fevereiro de 1869, as mulheres da Igreja
Metodista Episcopal do Sul retiraram-se dessa Sociedade e organizaram a Trinity Home
Mission que em 1870 passa a se chamar Trinity Bible Mission.
Ainda segundo Tatum (1960), não havia ainda dentro da igreja estrutura
organizacional de apoio aos missionários enviados para fora dos Estados Unidos. O início
dessa organização começa a se concretizar a partir das ações de uma mulher, Sra. Margareth
Lavínia Kelley. Em 4 de julho de 1858, ela organiza um dia de oração, num esforço
concentrado para arrecadar fundos para a missão na China, como forma de enviar recursos
para a família Taylor e Jankins e também para a família Lambuth e Allen,43 O evento
agregou as Sociedades do Lebanon (Tennessee), a qual ela fazia parte, e as Sociedades
Missionárias de Natchez e Woodville, ambas no Mississipi, constituindo os primeiros
esforços registrados de mulheres da Igreja do Sul para apoiar missões estrangeiras.
Não há registros, nas duas obras analisadas, que mostrem exatamente o que
aconteceu com as diversas sociedades missionárias existentes no início da Guerra Civil em
1861. O certo é que, mesmo nesses fatídicos anos, e embora os esforços das mulheres fossem

42
Atualmente Jonesborough.
43
James William e Mary Isabella (McClellan) Lambuth (foram para a China em 1854) juntamente com o casal
Dr. Young John Allen e Mary Houston.
44

transformados em trabalho de socorro aos feridos da guerra, uma carta da Sra. E. C. Dowdell,
do Alabama ao bispo James Osgood Andrew, escrita em 1861, é indicativo do espírito das
mulheres na obtenção de um espaço próprio dentro do movimento missionário.
Na carta, ela descreve o empenho e sofrimentos das mulheres sulistas na
guerra e, em determinado momento, pergunta ao Bispo sobre uma possível reunião da
Sociedade Feminina com a Conferência Geral:

O que eu particularmente quero perguntar é se não acha que seria produtivo uma
reunião coletiva entre a Sociedade Missionária de Conferência e a Sociedade
Missionária da Mulher44 na mesma hora e lugar? Muitas das esposas de nossos
ministros sem dúvida entrariam alegremente nesta obra. Alguns dirão que elas já
têm muitos afazeres. Eu sei disso, no entanto creio que o espírito missionário assim
difundido por elas seria transformado de forma a aliviá-las de muitos dos fardos que
agora tem que suportar.
(...) Ó, que eu possa viver para ver o dia em que este grande campo possa ser dado
aos cuidados das mulheres Metodistas do Sul, e que elas sejam fortalecidas no
Senhor para fazer esta obra nobre! (Tatum, 1960, p. 16).

Durante a carta, ainda insiste várias vezes, pedindo ao Bispo atenção


especial à causa do trabalho missionário feminino dentro da Igreja Metodista.

Bispo dê-nos o trabalho. Podemos fazê-lo, não de uma vez, talvez, mas vamos
começar. Se falharmos, poderemos tentar de novo e, se finalmente tivermos provado
que foi bom ter continuado o trabalho da forma como era, ninguém ficará
machucado no esforço de fazer o bem. (...) Bispo, se nossas irmãs metodistas dos
Estados Confederados dessem ao senhor apenas um décimo de seu dinheiro, só isso
aliviaria os gastos de muitos missionários (Id. Ibd., p. 16).

Em 1872, parte do fruto desse trabalho aparece a partir das ações de duas
mulheres: Sra. Juliana Gordon Hayes, de Baltimore (Maryland) e a já citada Sra. Margareth
Lavínia Kelley, de Nashville (Tennessee.).
Como presidente da Trinity Bible Mission, Juliana Hayes, em resposta a um
pedido de ajuda do Dr. James Willian Lambuth, convoca uma reunião em 29 de março de
1872 para considerar a união de todas as sociedades da igreja na Woman‟s Bible Mission,
considerando as missões dentro e fora dos Estados Unidos. A primeira reunião anual acontece

44
Do Alabama. Esse destaque se faz importante para esclarecer que já havia, em diversos Estados/Condados nos
Estados Unidos, Sociedades femininas. A criação da uma Sociedade Feminina que agremiasse todas as já
existentes só iria acontecer em 1878.
45

em 28 de maio de 1873. O principal objetivo dessa sociedade era garantir, especialmente, a


manutenção dos missionários na China.45 (BUTLER, 1904).
Margareth Kelley sai da cidade de Lebanon e vai para Nashville, ambas no
Tennessee, por conta do retorno do seu filho vindo da China, Dr. David Campbell Kelley, que
trabalhava com a família Lambuth. Em Nashville, ela iniciou uma série de visitas sistemáticas
para garantir a criação de uma sociedade nos moldes daquela que havia criado em Lebanon.
Depois de meses de atraso e incerteza, foi organizada, em 1873, a Bible Woman's Mission
tendo a Sra. Margareth Lavínia Kelley, presidente, a Sra. Willie Harding McGavock,46
secretária correspondente, a Srta. Lucie Ross, Secretária e a Sra. T. Fite, tesoureira. Uma vice-
presidente e uma gerente — uma de cada uma das diferentes igrejas na cidade foi eleita.
Várias reuniões foram realizadas antes que a sociedade estivesse inteiramente pronta para o
trabalho sistemático e regular.
Para Tatum (1960), muitas vezes Baltimore e Nashville são citadas como
localidades importantes no fortalecimento das sociedades femininas dedicadas ao trabalho
missionário no estrangeiro. Para a autora, independentemente desse crédito, comparações
importantes podem ser feitas entre as duas localidades. A Sociedade de Baltimore começou
com um objetivo doméstico e, mais tarde, abraçou o trabalho estrangeiro. Foi essencial para a
compra do primeiro prédio escolar em Nanziang, China. Já em Nashville, que começou com
―um punhado de mulheres tímidas e inexperientes‖ (p. 19), cuja líder principal era a Sra.
Kelley, através de uma participante ativa que posteriormente teria papel fundamental na
criação da Woman‟s Missionary Society, a Sra. Willie McGavock, tornou possível a
instalação da segunda escola na China, denominada Qopton School, em Xangai.
Uma análise é fundamental para entender o papel dessas duas cidades na
história das sociedades missionárias femininas: ambas incentivavam-se e ajudavam-se
mutuamente e contribuíram fortemente para tornar possível os primeiros passos que levaram à
criação da Sociedade Missionária da Mulher na Conferência Geral de 1878.
A ideia de sociedades missionárias femininas interligadas entre as mulheres
metodistas do Sul começou a germinar antes mesmo da divisão na Igreja, mas, para Tatum
(1960) e Butler (1904), a demanda por tal organização surgiu de quatro fontes distintas.
 O interesse da Sra. Margareth Lavínia Kelley que não se limitava de modo algum à
formação de sociedades isoladas. Ela viu a força e o poder que poderiam ser
adquiridos unindo-as como sociedades auxiliares a uma organização executiva central.

45
Na ocasião, ocorreu a primeira doação para a Sociedade. Srta. Achsah Wilkins, de Baltimore, fez uma doação
de $1.000
46
Casada com H. D. McGavock.
46

 A atuação da Sra. Juliana Hayes que, da mesma forma, tentou estender a sociedade da
Woman‟s Bible Mission para além dos limites de uma única congregação em
Baltimore.
 O exemplo ocorrido em Warren (Arkansas), quando a Sra. H. D. McKinnon,
juntamente com a Sra. Emma Van Volkenburg, organizaram a Sociedade Missionária
da Mulher em 7 de setembro de 1874. Os oito membros se comprometeram a enviar
cinquenta dólares por ano a Sra. Mary Isabella (McClellan) Lambuth pela educação de
uma menina chinesa. A Sra. McKinnon escreveu ao Bispo Haygood, secretário do
Conselho Geral de Missões, descrevendo um plano para a organização das sociedades
femininas como auxiliares da obra missionária da igreja. Em pouco tempo, sete
sociedades regularmente organizadas, federadas como auxiliares, funcionavam na
Conferência de Little Rock (Arkansas).
 A organização de uma Sociedade Missionária Feminina em Broad Street Church em
Richmond (Virgínia), em 1875, também com o objetivo de garantir a conexão entre as
Sociedades. O ministro, o Rev. S. A. Steele, conhecendo as sociedades de Nashville,
Baltimore e Arkansas, convidou as mulheres da sua igreja para se reunirem. A Sra.
Juliana Hayes, sabendo da atividade, veio de Baltimore para ajudar. Ela, juntamente
com o Reverendo e a esposa, elaboraram o estatuto e os regulamentos do que seria
uma sociedade que pudesse agremiar todas as outras sociedades missionárias
femininas.
Em 1874, houve a primeira tentativa de aprovar na Conferência Geral a
criação de uma Sociedade Feminina que pudesse agremiar todas as Sociedades Femininas do
Sul dos Estados Unidos como forma de garantir a unificação do movimento missionário
feminino e certa autonomia de atuação. Um memorial foi convenientemente encaminhado ao
Comitê de Missões para sua aprovação e, segundo Butler (1904), ―nunca mais viu a luz do
dia‖.
Para a autora, a ―obstrução silenciosa, mas autoritária sobre o trabalho da
mulher, como uma força organizada, resultou numa calma determinação em avançar‖. E
completa:

Esse espírito invencível se tornou um poder crescente na igreja. Essas sinceras


mulheres não fizeram a consulta ao conselho a ―ferro e fogo‖, elas não haviam
entrado nessa nova obra de maneira improvisada e sem a devida consideração, mas
sim a partir de uma reflexão paciente e uma compreensão clara de seus deveres e
também de seus privilégios (BUTLER, 1904, p. 50).
47

As palavras de Butler e a citação demonstram a resistência ao protagonismo


feminino dentro da Igreja Metodista. Não significava um posicionamento contrário ao
trabalho das mulheres nas missões, visto que era indispensável, especialmente no trabalho
realizado nas escolas, mas um posicionamento contrário a um protagonismo que poderia, em
tese, estar representado a partir da aprovação de uma Sociedade que teria autonomia de
atuação.
A próxima Conferência Geral aconteceria somente em 1878. Nesse
intervalo, a causa missionária da mulher recebeu força de várias fontes. A visita do Mr. e Sra.
J. W. Lambuth aos Estados Unidos em 1875 criou uma atmosfera de entusiasmo na igreja
sobre missões estrangeiras quando relataram as possibilidades missionárias na China e a
necessidade do trabalho das mulheres, especialmente como professoras e diretoras das
escolas. Para Bulter (1904), ―agora, mais do que nunca, o interessa aumentou e o trabalho da
mulher para a mulher tinha se tornado algo definitivo, embora não autorizado como tal pela
nossa igreja‖ (p. 55).
O Bispo Enoch Mather Marvin e o Dr. Eugene Russel Hendrix,47 em
viagem pelo mundo acompanhando as missões metodistas, especialmente no Oriente, em
1877, encorajaram as mulheres em seus esforços, sugerindo caminhos apropriados de serviço
para elas, relatam o número reduzido de trabalhadores para a igreja, da necessidade de
professoras nas escolas recém-criadas, da falta de médicos, de mulheres da bíblia etc.
Ajudaram assim a sedimentar uma opinião geral mais favorável em relação ao direito delas de
se unirem para o trabalho missionário No final de 1877, Sra. McGavock escreve:

A Igreja Metodista Episcopal do Sul parece estar despertando para o fato de que as
mulheres são capazes e dispostas a prestar um serviço eficaz na evangelização do
mundo. Quase todas as semanas, recebemos cartas de mulheres de diferentes
Estados, pedindo informações referentes às sociedades organizadas, sobre as
melhores indicações para gastar fundos já coletados e o canal pelo qual esses fundos
devem ser enviados. As mulheres da nossa amada Igreja estão despertas para esse
trabalho. Esforço unido, ação organizada, é tudo o que falta nas mulheres do
Metodismo do Sul. Elas estão dispostas, são generosas e vitalmente espirituais; Mas
se mantêm distantes deste dever, cada uma esperando a outra para liderar, sugerir e
adotar planos que irão fazer avançar o movimento missionário (TATUM, 1960, p.
23).

47
Que se tornaria, posteriormente, Bispo da igreja e responsável pela missão no Brasil.
48

A própria Sra. McGavock, juntamente com Sra. Hayes, começou então, no


mesmo ano, uma campanha em busca de mais uma missionária para o trabalho na China,
como assistência ao trabalho de Sra. Lambuth. Decidiram então fazer um chamado através do
periódico Christian Advocate, ao mesmo tempo em que enviavam cartas para homens e
mulheres dentro da igreja descrevendo a importância do trabalho missionário das mulheres e a
necessidade de uma organização capaz de sistematizar a ação de todas as Sociedades
femininas espalhadas pelo país, ligadas evidentemente à Igreja Metodista Episcopal do Sul.
Como resultado dessa publicação, Srta. Lochie Rankin, de Milan
(Tennessee), ofereceu seus serviços. As qualificações e recomendações de Srta. Rankin48
eram tais que ela ganhou a aprovação do Conselho de Missões. A pedido das mulheres
missionárias, foi recomendada pelo Bispo Holland Nimmons McTyeire em abril de 1878,
como representante do Conselho de Missões para a China.
Quando chegou a hora de apresentar seu segundo memorial à Conferência
Geral, em maio de 1878, as mulheres líderes do movimento pela criação de uma Sociedade
das Mulheres estavam mais confiantes em si mesmas e do sucesso da empreitada. Elas sabiam
que tinham uma escola para meninas na China, a Clopton School,49 com uma missionária
indicada e aprovada para o trabalho, Srta. Lochie Rankin, e que havia dinheiro suficiente no
tesouro para apoiá-la por um ano. Elas também sabiam claramente o que queriam: autoridade
para equipar e enviar mulheres como missionárias para campos já ocupados pelo Conselho
Geral, para abrir pensionatos, escolas diárias, hospitais e casas, comprar e construir, apoiar
missionários, professoras, médicos e garantir bolsas de estudos.
Quando a Conferência Geral se reuniu em 1878, o Dr. David Campbell
Kelley, apresentou o relatório nº 4 na Comissão das Missões recomendando que as mulheres
da igreja fossem autorizadas a organizar o trabalho missionário sob um estatuto. O relatório é
aprovado.
Em 23 de maio de 1878, na Conferência Geral ocorrida em Atlanta
(Geórgia), foi criada a Sociedade Missionária da Mulher da Igreja Metodista Episcopal do
Sul, depois rebatizada de Sociedade Missionária Estrangeira da Mulher da Igreja Metodista
Episcopal do Sul. 50
Segundo Haskin (1920),

48
A Família Ranking possuía duas irmãs missionárias que foram para a China, Lochie em 1878 e Musadora
(Dora) em 1879. Ambas aparecem em trabalhos sobre o assunto como Miss Ranking.
49
Que se tornaria, ainda no século XIX uma escola de formação de professoras (Trinning School).
50
Foi acrescentado o termo ESTRANGEIRA para se diferenciar das Sociedades Missionárias da Mulher
espalhadas pelos diversos Estados e/ou condados dos EUA.
49

A necessidade do campo era tão evidente e a capacidade das mulheres para ajudar a
encontrá-lo tão evidente que, finalmente, os grilhões do conservadorismo foram
suficientemente soltos para permitir a aprovação unânime do relatório (p. 20).

Para Butler (1904), a ação favorável da Conferência Geral, diante das ações
das mulheres que empreenderam todos os seus esforços para a criação da Sociedade, não foi
nenhum surpresa, mas certamente foi reconfortante para todas que tinham acreditado e
trabalhado fielmente por essa causa.
A liderança de mulheres como as senhoras Margareth Lavínia Kelley,
Juliana Gordon Hayes e Willie Harding McGavock, incluindo o trabalho das Sociedades de
Baltimore e Nashville, trouxe como resultado o início de uma nova estrutura do trabalho
missionário dentro da Igreja Metodista Episcopal do Sul, que englobava as missões
domésticas, realizadas dentro dos Estados Unidos, mas, especialmente, as missões
estrangeiras. O início dessa organização se deu a partir a aprovação do seu Estatuto.

1.3 A Sociedade Missionária Estrangeira da Mulher – Detalhes da sua organização

O relatório apresentado ao Conselho Geral para aprovação da Sociedade


Missionária Estrangeira da Mulher apresentava suas diretrizes gerais. O estatuto completo que
foi prometido na Conferência foi aprovado apenas em 24/05/188251 e novamente aprovado
em 190652 com três pequenas modificações (realizadas entre 1882 e 1906): a atualização do
nome, a inclusão de três vice-presidentes e a também a inclusão da Editora do Woman‟s
Missionary Advocate como membro do corpo diretivo.
A Sociedade ficou assim estruturada:

51
Publicada integralmente no Advocate em julho de 1882.
52
Íntegra do Estatuto no Anexo II.
50

Conselho Principal
Parent Board

Conselho da Mulher
Woman‟s Board

Sociedade de
Conferência Conselho de Missões Estrangeiras da
Conference Society
Mulher
Woman‟s Board of Foreign Missions
E
Sociedade Missionária Estrangeira
da Mulher
Woman‟s Foreign Missionary Society

Organograma elaborado pela autora

 Conselho Principal: Conselho hierarquicamente acima das Sociedades Femininas,


formado por homens que também integravam a Conferência Geral que determinava os
rumos da Igreja Metodista Episcopal do Sul;
 Conselho da Mulher: Conselho que direcionava as ações das Sociedades Femininas
dentro e fora dos Estados Unidos.
 Conselho de Missões Estrangeiras da Mulher e Sociedade Missionária Estrangeira da
Mulher: Composta pelos mesmos membros. A Sociedade era chamada de Conselho
quando acontecia a reunião anual para decidir os rumos das missões estrangeiras a
partir dos relatórios e solicitações enviadas dos campos de missão.
 Sociedade de Conferência: podem ser chamadas de organizações regionais da Igreja
Metodista Episcopal do Sul. Cada Estado/Condado/Cidade podia organizar uma
Sociedade de Conferência.53
Segundo seu estatuto, o objetivo do CMEM54 deveria ser essencialmente o
de enviar o Evangelho para mulheres e crianças em terras estrangeiras através do
agenciamento de mulheres como missionárias, professoras, médicas, diaconisas55 e leitoras da
bíblia.

53
As candidatas ao trabalho missionário eram enviadas para o Conselho de avaliação das Missionárias da
Sociedade Missionária Estrangeira pelas Sociedades de Conferência.
54
Doravante irei me referir ao Conselho de Missões Estrangeiras da Mulher pelas iniciais CMEM.
55
O papel da Diaconisa foi formalmente reconhecido pela Igreja Metodista Episcopal do Sul em 1888.
Especialmente pela atuação de Lucy Rider Meyer. Sobre o assunto ver
51

O corpo diretivo seria assim estabelecido:


 uma presidente
 três vice-presidentes
 duas Secretárias de Correspondência
 uma tesoureira
 uma Secretária de Registro
 Editora do Woman‟s Missionary Advocate
 duas gerentes
 Secretárias de Correspondência ou suplentes das Sociedades de
Conferência
As reuniões seriam anuais para determinar quais campos seriam ocupados,
as pessoas empregadas em cada um desses campos, e para estimar a quantia de dinheiro
necessária para auxiliar as missões sob o comando do Conselho da Mulher. Decisões que
obrigatoriamente exigiriam a maioria do quórum. Nos intervalos das reuniões anuais os
negócios deveriam ser conduzidos por um Comitê Executivo composto por funcionárias do
CMEM, gerentes e a editora do Advocate. Todas as decisões tomadas nesse comitê deveriam
ser endossadas pela reunião anual do Conselho.
Os fundos para a Sociedade deveriam ser de origem privada, de associados,
taxas de membros honorários vitalícios, de testamentos e heranças, e de coletas públicas em
reuniões em nome da Sociedade. As verbas dos fundos deveriam ser enviadas para o campo
indicado pelo Conselho e todas as missionárias ou pessoas empregadas por ele, indicadas para
os diversos campos estrangeiros, deveriam obrigatoriamente ter a aprovação do Bispo
responsável por aquele campo.
Só poderia haver algum trabalho em solo estrangeiro realizado pelo CMEM
onde já existisse um trabalho missionário aberto pelo Conselho Principal e conduzido sob os
auspícios e aprovação das Secretarias de ambos os Conselhos.
O CMEM ficaria autorizado a manter uma escola de treinamento bíblico —
Scarrit Bible and Trainning School —, onde as mulheres pudessem ser treinadas como
missionárias ou para trabalhos cristãos de evangelização. A arrecadação da Sociedade das
Mulheres não deveria ser usada para essa escola de treinamento, a não ser em casos onde a
doação fosse específica.
As diretoras das escolas e médicas responsáveis pelos hospitais
estabelecidos pelo CMEM deveriam enviar cópias exatas dos seus relatórios para as

http://www.unitedmethodistwomen.org/what-we-do/service-and-advocacy/deaconess-and-home-missioner-
office/news-resources/warnerlaceye. Acesso em jun. 2015.
52

Conferências Anual e Distrital dentro dos limites que se encontram situadas. Relatórios das
Secretarias de Conferência deveriam ser enviados para as Conferências Anuais,56 relatórios
das Secretarias Distritais enviados para as Conferências Distritais e os relatórios das
Sociedades Auxiliares para as Conferências Trimestrais.57
O estatuto também estabelecia os deveres das seguintes integrantes do
Conselho:
 Presidente: promover os interesses da Sociedade através de viagens,
correspondências, e todos os meios possíveis. Convocar e presidir as
reuniões e contabilizar todos os projetos do tesouro. Na sua
ausência, uma das Vice-Presidentes deverá presidir. E se nenhuma
delas estiver presente, uma presidente será eleita;
 Secretárias de Correspondência: deverão gerir as correspondências e
cuidar dos negócios legais do Conselho, preparar relatórios anuais,
publicar declarações trimestrais sobre a condição do trabalho, tanto
do campo estrangeiro como nos EUA, e promover os interesses do
trabalho nos EUA nas viagens para as Conferências. Quando julgado
necessário pelo Conselho, uma das Secretárias deverá visitar as
estações de missão no campo estrangeiro sob o controle do
Conselho. Elas deverão residir onde o Conselho das Missões está
localizado.
 Tesoureira: deverá guardar os fundos do Conselho em local seguro,
cujo depósito deverá ser feito por ela como Tesoureira, sujeito a
rascunhos autenticados. Ela deverá fornecer relatórios anuais e
trimestrais para serem publicados junto com os da Secretária Sênior,
e suas contas serão auditadas pelo Conselho de Missões por um
auditor eleito trimestralmente pelo Conselho da Mulher em sessão
anual.
 Secretária de Registro: deve manter as atas de todas as sessões num
arquivo permanente e obter as assinaturas de aprovação da
Presidente. E também deverá publicar as notícias da Sessão Anual
do CMEM em todos os jornais da Igreja.

56
A conferência anual era composta por um pastor (nos campos estrangeiros, quando possível, contavam com a
presença do Bispo responsável por aquele campo) e quatro representantes leigos de cada distrito. Os membros
leigos eram escolhidos anualmente pela Conferência Distrital.
57
As conferências trimestrais aconteciam em cada igreja onde então eram escolhidos os representantes para a
conferência distrital. Os distritos eram formados pela agremiação de várias igrejas das localidades próximas.
53

Essa estrutura organizacional idealizada com a criação da Sociedade


Missionária Estrangeira da Mulher em 1878 e seu periódico, o Advocate em 1880, passou a
ser responsável pelas diversas missões estrangeiras espalhadas pelo mundo, especialmente
China, Brasil e México. Missões que iniciaram seus trabalhos sob a autoridade do Conselho
de Missões da Igreja, mas que agora também seriam geridas pelas Sociedades Femininas.
54

CAPÍTULO 2

Woman’s Missionary Advocate: um periódico “da mulher para a mulher”

2.1 O movimento de criação do periódico e sua caracterização

Uma das primeiras ações da Sociedade Missionária Estrangeira da Mulher


era a de garantir a divulgação das ações do movimento missionário e propagandear a
importância da criação de uma Sociedade capaz de organizar todo esse movimento da Igreja
Metodista Episcopal do Sul dentro e fora dos Estados Unidos.
Na Conferência de 1878, não houve nenhum debate sobre a criação de
periódico capaz de satisfazer as necessidades de divulgação do movimento missionário sob os
auspícios do Conselho da Mulher, apenas a primeira reunião de organização dos encontros
mensais do setor responsável pelos ―negócios e comunicação de inteligência‖, incluindo a
organização dos círculos de leitura — produção e indicação de leitura para a formação das
missionárias e das mulheres participantes das Sociedades Femininas.
Em maio de 1879, no seu primeiro relatório anual à Associação Executiva,
Sra. McGavock escreveu:

Trabalhamos sob uma grande desvantagem, em não ter nenhum órgão ou meio
credenciado para a disseminação das informações missionárias relacionadas
especialmente com o trabalho da mulher (TATUM, 1960, p. 71).

Na segunda reunião anual do Conselho Geral, em 1880, em Nashville


(Tennessee), o assunto foi apresentado oficialmente pela Secretária, Sra. McGavock. Durante
a discussão sobre a criação do periódico, o Reverendo A. R. Ravens sugeriu que seu jornal,
publicado havia vários anos na Carolina do Norte, fosse prontamente adotado pelo Conselho
da Mulher. A proposição não foi acolhida, pois, no discurso da Sra. McGavock e das
mulheres que representavam o Conselho da Mulher, o objetivo não era apenas criar ou adotar
uma publicação, mas obrigatoriamente criar ou adotar uma publicação já existente desde que
fosse feita e dirigida por mulheres. A máxima ―da mulher para a mulher‖, que se tornaria o
discurso do Advocate, começou a se firmar a partir da derrota da proposição do Reverendo
Ravens.
A determinação das mulheres do Conselho em não adotar um jornal já
existente, com o argumento de garantir uma produção criada e destinada para mulheres,
55

dentro de uma estrutura hierárquica liderada por um Conselho Principal, composto por
homens, sem a intenção de modificar essa estrutura e sim garantir a efetiva participação das
mulheres, demonstra o que Matos (2009) apresenta como o espaço de visibilidade da mulher
dentro de um contexto que inviabilizava uma participação que estava condicionada a
atribuições culturalmente constituídas, ou seja, conforme Souza (2010), relações sociais
baseadas em distintas estruturas de poder.
Segundo Tatum (1960) outras publicações foram sugeridas para serem
utilizadas pelo Conselho da Mulher, mas rejeitadas pelo mesmo motivo. Ainda segundo a
autora, as senhoras Wightman, Butler, McDonald, Callaway, Bumpass e senhoritas Baker e
Linfield nomearam um comitê de publicação que prontamente sugeriu nome, tamanho, estilo
de papel, preço e onde seria publicado. O relatório com todas as informações foi
unanimemente adotado, deixando para o Comitê de Publicações as medidas necessárias para
início dos procedimentos de publicação. A rapidez na apresentação do referido relatório
demonstra que as representantes do Conselho da Mulher já o tinham elaborado para ser
apresentado na reunião do Conselho Geral, indicando que havia uma intenção de criar um
novo periódico exclusivamente feito pelas mulheres.
Em julho de 1880 é publicado o primeiro número do Woman‟s Missionary
Advocate que, já na primeira edição, fornecia os meios pelos quais as sugestões mensais de
programas, estudos de missão e informações relacionadas a cada fase do trabalho da mulher
pudessem ser disponibilizadas às Sociedades de Conferência.
Publicado mensalmente sem interrupções entre julho de 1880 e dezembro de
1910, seu primeiro número continha 16 páginas e as seguintes seções:

 Foreign Correpondence – publicava cartas enviadas pelas


missionárias acerca do movimento metodista no mundo,
essencialmente China, Japão, México (ações na fronteira e no país),
Brasil e Índia. Publicava também o movimento missionário
metodista nos territórios indígenas nos Estados Unidos.
 Children‟s Department – publicava ações realizadas com jovens no
movimento missionário nos Estados Unidos e eventualmente em
outras partes do mundo. Manteve-se nos trinta anos de duração do
periódico apenas com mudança no nome.
 Woman‟s Missionary Advocate (WMA) – uma seção dedicada
especialmente a relatar notícias sobre a Sociedade da Mulher e sobre
o próprio periódico como história do seu desenvolvimento, número
56

de assinaturas, questões financeiras etc. Tinha como responsável sua


editora Sarah Frances Stringfield Butler.58 Mantém esse cargo até
junho de 1910, seis meses antes da publicação do último número,
quando assume a Sra. Janie McTyeire.
 Home Correspondence – publicava correspondências do movimento
missionário dentro dos Estados Unidos.
 Miscellany – apresentava notícias diversas sobre o movimento
missionário, destaques para alguma ação específica no país ou no
estrangeiro, comentários sobre publicações em outros periódicos
sobre o movimento metodista etc.
O periódico sofre modificações no decorrer do tempo:
 A primeira edição é publicada com 16 páginas, aumenta para 31 em
julho de 1890, para 39 em maio de 1902 e para 47 em agosto de
1906.
 As seções sofrem as seguintes mudanças:
- A seção Children Department muda para Juvenille Department em
julho de 1881, para For the Children em julho de 1889, para For our
Young People em agosto de 1892, para Four our Golden Links em
1904, para Young People Department, até agosto de 1910, quando
muda para Young People‟s Meeting, permanecendo até o último
número em dezembro de 1910.
- A partir de julho de 1881, o periódico passa a apresentar um
Sumário (Contents of this number) e Notas Editoriais (Editorial
Notes).
- Em abril de 1883 é criada uma nova seção denominada Business
Department, que passa a publicar gastos e doações recebidas pelo
movimento missionário, nos Estados Unidos e no estrangeiro. Esta
sessão também sofre modificações, ora se apresenta como Business
Department and Memorial Fund, ora como Memorial Fund.
- Há sempre inclusão de algumas seções que esporadicamente são
publicadas e outras que se mantêm por algum tempo, como a
Mission Studies que, apresenta alguns históricos das missões
metodistas no mundo e no final de cada publicação, uma lista de

58
Assinava sempre como Sra. F. A. Butler, o nome do marido.
57

perguntas; ou também a Miscellaneous Department - Home and


Foreign que apresenta notícias sobre o movimento dentro e fora dos
Estados Unidos; ou ainda as seções publicadas dentro de outras
seções como a Missionary Drill que apresentava em forma de
perguntas e respostas o trabalho das missões nos EUA e nos
estrangeiro.59
 Em agosto de 1910, quatro meses antes da publicação do último
número, duas seções que se mantiveram em todas as edições mudam
de nome: a Foreign Department para Foreign News e a Home
Department para Home News.
 As capas do periódico também sofrem modificações durante os
anos60 e, a partir de maio de 1902, apresentam, em cada edição, a
imagem e o nome de uma missionária estrangeira.61 O último
número nesse formato é o de agosto de 1910.
 A partir da edição de agosto de 1906, o periódico apresenta um
histórico minucioso das missões em determinados países. A capa
apresenta um título que se refere ao país tema do periódico. Entre
agosto e setembro de 1906, Cuba; entre outubro e novembro de 1906
e entre janeiro e abril de 1907, México; entre maio e junho e entre
agosto e setembro de 1907, Brasil; entre janeiro e junho de 1908,
China.

A publicação do periódico, sem interrupções por 30 anos, com um


incremento crescente no número de páginas, sinaliza uma solidez capaz de demonstrar a
relevância do uso desse periódico como instrumento de sustentação e consolidação do
trabalho do Conselho da Mulher e sua Sociedade no movimento missionário da Igreja
Metodista Episcopal do Sul.
As representantes do Conselho e as missionárias conclamavam as mulheres
para assinarem o periódico como pressuposto básico para o fortalecimento da própria
Sociedade da Mulher e seu Conselho. Não havia, no periódico, uma seção exclusiva
indicando o número de exemplares publicados em cada ano e sua relação com o número de

59
Tanto a sessão Mission Studies como Missionary Drill foram criadas com o objetivo de formação das leitoras
para que pudessem ter um conhecimento maior do movimento missionário organizado e patrocinado pelo
Conselho da Mulher.
60
Cf. Anexo VI
61
Cf. Anexo III
58

assinaturas,62 mas foi possível através dos artigos apontar um aumento desses números. Em
outubro de 1883 há uma indicação da circulação de 9.250 exemplares, e um chamamento para
angariar um maior número de assinantes.
Para a comemoração do centenário do metodismo nos Estados Unidos, em
1884, há a seguinte publicação:

Amigos! A circulação do Woman‟s Missionary Advocate ainda não atingiu o


cobiçado número de 10.000. (...) Você vai ajudar? Você pode induzir uma pessoa a
assinar? Vamos ter um forte, unido esforço, para que o centenário do metodismo nos
Estados Unidos possa encontrar o Woman‟s Missionary Advocate com uma lista de
10.000 assinantes (WMA, nov. 1883, p. 01).

Em setembro de 1884, a notícia é que a circulação aumenta para 10.000. Em


setembro de 1888, Butler afirma:

Este é o órgão oficial da Sociedade e o meio mais direto de convergir informações


recentes do campo onde nossas missionárias estão trabalhando. A circulação é de
12.000. Se auto sustenta e é o favorito entre os jornais da Igreja. É oportuno, neste
contexto, citar algumas palavras da carta do Bispo McTyeire. ―Seu periódico e
folheto literário fez muito mais do que representar e promover o interesse
missionário da sua Sociedade, informou e despertou toda a igreja para a questão das
missões‖ (WMA, set. 1888, p. 11-12).

O editorial de 1889 pede ajuda para que possam assegurar 15.000 cópias
antes do fechamento do próximo ano.
Na edição de junho de 1892, Srta. Isabell D. Martin destaca a importância
do Advocate que praticamente nasceu junto com a Sociedade da Mulher, lembrando que em
suas páginas há o relato de todo o movimento missionário da Igreja.

Não é incrível que custe apenas cinquenta centavos? Você é assinante e um leitor
fiel do WMA? Se não, pode se dar ao luxo de prescindir esta ajuda para sua
inteligência, seu coração, sua consciência? Você não é responsável diante de Deus
se negligenciar e aproveitar-se dessa potente influência bem colocada para você?
(WMA, jun. 1892, p. 329)

62
Não há registro da relação entre a quantidade publicada e número de assinantes. Em uma das edições de 1882,
o periódico informa que cada assinante tinha direito a doze exemplares, quantidade que diminui em 1886,
segundo referência localizada na própria fonte.
59

No mesmo número em artigo intitulado ―como podemos tornar nossas


sociedades mais efetivas?‖, Sra. Gowdy questiona se as mulheres da igreja efetivamente
conhecem o trabalho missionário e faz algumas perguntas como: onde a Igreja esta fazendo o
trabalho missionário? Quem são os missionários? Há quanto tempo estão na China, no Brasil
ou no México? Como está sendo conduzido o trabalho missionário? Como nosso dinheiro
alcança e ajuda o campo de missão? Quanto dinheiro nós enviamos no ano passado? Há boas
razões para nos sentirmos desanimados com nosso trabalho?
Para ela, 1/3 dos assinantes não leem o WMA com cuidado, mas que se
cada membro soubesse bem sobre o trabalho missionário que realizam, seria muito melhor.
Segundo ela, conseguiriam mais resultados.

Uma mulher que doa um dólar só porque alguém disse, daria dois se tivesse clareza
do seu dever com Deus. Se conhecesse os missionários pelo nome e soubesse bem o
trabalho que realizam, também seria uma missionária. Você pergunta: Como
devemos aumentar o conhecimento entre nossas mulheres e assim aumentar a
eficácia? A resposta não está longe (WMA, jun. 1892, p. 363).

Relata muitas ações que podem ser feitas para informar a todos sobre o
movimento missionário, como dispender um tempo com um mapa na mão para conhecer onde
estão os campos de trabalho, ou durante uma reunião, parar por alguns minutos para destacar
alguma coisa importante que foi publicada no Advocate. Que se esse trabalho for efetivo,
haverá um crescimento significativo da Sociedade.
Em janeiro de 1895, Butler desafia as mulheres a aumentarem o número de
assinaturas.

Temos ficado paradas, ou melhor, nossas perdas e ganhos tem sido os mesmos por
muitos anos, e é necessário, absolutamente necessário, um novo impulso que pode
ser dado por alguns meios. 13.000 é um número que já estamos cansados de relatar.
Queremos mudar de 3 para 5, e estamos ansiosas para dizer que temos uma
circulação de 15.000. Quando isso acontecer será fácil mudar de 1 para 2 e em
seguida ler 25.000 (WMA, jan. 1895, p. 191).

Em março de 1896, há a indicação de 15.000 assinantes e, mais uma vez, as


mulheres são chamadas a se comprometerem com o periódico.
60

O Woman’s Missionary Advocate pertence a você. (grifo meu) Para você e para
todas as mulheres metodistas ele está estabelecido e deve continuar. Desejamos
seriamente seu nome na nossa lista. Você virá nos ajudar?
(WMA, mar. 1896, p. 260)

Há uma intencionalidade em transformar o Advocate num representante do


Conselho da Mulher e, especialmente, num instrumento de todas as mulheres participantes da
Sociedade. Um posicionamento que vai ao encontro daquilo apontado por Nóvoa (2002), ao
falar sobre a importância do periódico em ser um meio em que emergem vozes que têm
dificuldades em se fazerem ouvir em outros espaços sociais. Através do Advocate, o Conselho
acabou sancionando e disseminando essas ―vozes‖ que, segundo Shaver (2006) representam
um empoderamento das ações dessas mulheres dentro da Igreja.
A trajetória de publicação do Advocate contou com alguns momentos
difíceis. Em janeiro de 1898, a Secretária de Correspondência do Conselho da Mulher afirma
que a indiferença diante do Advocate como grande causa da missão estrangeira é um desastre.
Que as próprias representantes das Sociedades de Conferência não se empenham na coleta de
assinaturas. Para ela, sem informação não pode haver sucesso no prosseguimento dos
trabalhos na Sociedade da Mulher e sem o Advocate, necessariamente não haverá divulgação
dessa informação. Em fevereiro do mesmo ano, Butler chama a atenção para o fato de que
muitas assinaturas expiraram no final de 1897 e não foram renovadas e apela para a ação das
mulheres,

Não podemos nos dar ao luxo de perder uma única assinatura (...). Woman‘s
Missionary Advocate precisa de você, e você precisa das informações que ele
fornece. Olhe para a etiqueta em sua revista e, por favor, renove sua assinatura
imediatamente. Não espere que continuemos a enviá-la além do tempo exato,
evitando assim, aborrecimentos e custos desnecessários. Uma cordial lembrança das
vantagens de nossa revista em enviar renovações a tempo e garantir novos
assinantes, aumentaria, em poucos meses, nossa lista para 20.000, número este tão
desejado e esperado para o novo século que se anuncia
(WMA, fev. 1898, p. 225).

Em agosto de 1900, há a indicação de que número de assinaturas cai para


10.500. Butler descreve em várias linhas a importância do jornal e questiona que muitas
mulheres, mesmo dentro da Sociedade, ignoram muito do que é publicado pelo periódico, e
termina:
61

Nosso excelente e indispensável órgão, com 10.500 assinantes, não está se auto
sustentando. Todo ano há um débito a ser pago para a Casa de Publicação pelo
Conselho. Com 15.000 assinantes, não conseguiria ser autossustentável, mas
colocaria uma soma além no tesouro geral. (...) Agora que o pedido é para que
tenhamos 15.000 assinantes, para manter nossa reputação e nossas obrigações,
devemos aumentar o número de 1.299 assinantes para 1.500 (..) eu realmente
gostaria de saber quantas destas representantes prometerão trabalhar para conseguir
um determinado número de assinantes antes do fechamento deste primeiro trimestre
do novo ano fiscal. Vocês terão um mês e meio para trabalhar depois desta reunião.
Pergunto às representantes: quantas assinantes vocês prometem tentar conseguir?
(WMA, ago. 1900, p. 37).

Essa campanha para arregimentar assinantes continua no ano seguinte. Na


edição de novembro de 1901, há a transcrição de um artigo publicado no Alabama Christian
Advocate,63 escrito pela Sra. Catherine Elizabeth Baker, que relata a história do periódico,
dizendo que a bandeira da Sociedade da Mulher na criação de um jornal feito exclusivamente
por mulheres e dirigido para as mulheres, foi hasteada com o lema ―Ela fez o que pôde‖. Que
―dias negros chegaram e a editora teve que enfrentar oposição e indiferença, inclusive na
‗casa de seus amigos‘‖, e completa:

Alguma coisa precisa ser feita para trazer luz e vida para nossa letargia (...)
informação é a primeira necessidade e a fonte mais fiel para a leal mulher da nossa
igreja é o Advocate. Ele colocará vocês nas casas na Korea, China, México, Cuba e
no Brasil. Lhes mostrará as escolas, hospitais, e outras cenas dos trabalhos das cultas
mulheres que estão dando suas vidas pela ignorância, tristeza e sofrimento. (...) Mais
uma sugestão: Que cada assinante leve um número para uma mulher que considere
íntegra e a traga para ser assinante (WMA, nov. 1910, p. 171).

Em 1902, Butler, em artigo intitulado Faremos 20.000, referindo-se ao


número de assinantes, indica que houve críticas feitas ao Advocate. Sem indicar a fonte dessas
críticas, afirma:

Nossos amigos observarão o que é dito sobre os periódicos missionários de nossa


Igreja. Para dizer o mínimo, parece um pouco injusto que o Woman's Missionary
Advocate seja apresentado como abaixo do padrão, e em um tom que poderia ser
desencorajador caso não soubessem que o escritor não foi um assinante por mais de
dois anos (...) diz que é preciso que "se torne mais atraente por meio de ilustrações".
Se mais ilustrações fossem usadas, mais que agora, não haveria espaço suficiente

63
Periódico mensal da Igreja Metodista Episcopal do Sul publicado no Alabama entre 1881 e 1956.
62

para o material de leitura, o que é uma necessidade. Nos dê as quarenta mil


assinaturas e você verá como as limitações atuais podem ser superadas. (...) Cada
organização deveria cuidar de seus próprios periódicos, e seus valores reais se darão
na proporção exata à sua força propulsora com aqueles que os leem (WMA, set.
1902, p. 88).

No trecho, Butler sinaliza distensões internas ao questionar o uso que cada


organização deveria fazer de seu próprio periódico e, certamente, se opõe às críticas que vinha
sofrendo, dentro da própria igreja, na elaboração do Advocate. Contendas que serão analisadas
no próximo item deste capítulo.
Entre 1902 e 1910, último ano de publicação do Advocate, não há mais
registros de notícias envolvendo assinaturas ou exemplares em circulação. Mas, em agosto de
1910, num editorial homenageando Butler pelos trinta anos dedicados ao periódico, há a
indicação de que, em agosto do mesmo ano, chegou-se ao número de 22.000 assinaturas.
O último número do Advocate é publicado em dezembro de 1910. No ano
seguinte é unificado a outro periódico, também criado pelo Conselho da Mulher, intitulado
Our Homes64 passando a se chamar Missionary Voice.65

2.2 As contendas envolvendo o periódico e a criação do Conselho

Assim como a campanha de coleta de assinaturas e as dificuldades


enfrentadas com o periódico, é possível identificar também, nas páginas do Advocate,
resistências à criação do jornal e da autonomia dada ao Conselho da Mulher dentro do
movimento missionário.
Na apresentação do primeiro número, a editora, Sra. Butler, dá as boas
vindas e afirma que a criação do Advocate é uma resposta aos anseios daqueles que queriam
um periódico que pudesse divulgar o trabalho da Sociedade Missionária da Mulher.

Uma oportunidade mais ampla que nunca antes existiu. Uma porta mais larga que
nunca foi aberta antes para as mulheres da Igreja Metodista Episcopal do Sul, e
garantimos àquelas que se sentiram sem vontade de participar, temendo serem

64
Criado em 1892 pelo Conselho da Mulher. Exclusivamente dedicado a publicar ações do Conselho dentro dos
Estados Unidos.
65
Publicado entre 1911 e 1932, passou a ter dois editores: Dr. G. B. Winton e Sra. A. A. Marshall. Em 1932
torna-se World Outlook, com o objetivo de aumentar a divulgação mundial das missões dentro e fora dos EUA.
Em setembro de 1940, por ação do Comitê de Missões e Extensão da Igreja, se transformou numa revista da
Igreja Metodista mantendo o mesmo nome (TATUM, 1960).
63

retiradas desta Sociedade por orientação da superintendência desta Igreja, não


precisam hesitar mais.
É a firme convicção daqueles que agora se dedicam que as melhores oportunidades
para o sucesso estão na edificação do trabalho da mulher lado a lado com nosso
próprio conselho de missões. Não deve existir conflito aqui. Pela ajuda mútua cada
um fortalecerá o outro.
O estabelecimento de um jornal missionário pelo Conselho é considerado requisito
essencial para o sucesso permanente do nosso trabalho (WMA, jul. 1880, p. 08)

Esclarece que foi feito um contrato de publicação com a Southern Methodist


Publishing House e que, portanto, foi criada a oportunidade para que cada mulher da Igreja
pudesse se abastecer com todas as informações sobre o trabalho missionário na China, Brasil
e na fronteira mexicana.
As palavras de Butler já indicam uma resistência na criação da Sociedade e
do Conselho da Mulher ao apontar que houve, possivelmente, ameaças àquelas que quisessem
participar da Sociedade, agora oficialmente institucionalidade pela Igreja. Essa resistência
aparece diversas vezes no Advocate.
Na mesma edição, a Sra. Mary Stuart Smith publica um artigo explicando a
finalidade do periódico diante das críticas de alguns homens dentro da Igreja que afirmavam
ser desnecessário mais um Advocate, pois afinal já recebiam Advocates66 de toda forma e
tamanho e perguntavam: ―Porquê outro? Uma vez que este novo é feito por e para as
mulheres deve ser mais um fracasso‖! Como resposta, Smith afirma: ―estamos determinadas a
não voltar atrás‖. Indicava que 2.500 nomes foram enviados por pessoas que assim
manifestaram o seu desejo de ter um jornal que deveria especialmente representar a causa da
obra das ―nossas mulheres para as mulheres‖ (p. 08), e que outras estavam se apresentando
para provar a seriedade com que o periódico seria tratado.
Na edição de setembro do mesmo ano, Ammie Allen, presidente da
Conferência da Geórgia, também aponta resistências na criação do jornal.

Somos gratos pelas entusiastas, devotadas, hábeis mulheres que decidiram entrar
neste importante empreendimento, não obstante tantas palavras desencorajadoras de
oposição, e a hesitante aprovação de amigos temerosos. Deixe-nos completar a
coragem e resolução delas pelo nosso próprio entusiasmo e perseverança
(WMA, Set. 1880, p. 12).

66
O termo Advocate intitulava inúmeros jornais e revistas publicados pelos metodistas.
64

Diante das ―palavras desencorajadoras de oposição‖, Ammie aproveita e


convoca as mulheres da Igreja para se empenharem em dar ao periódico a mais ampla e
possível circulação, não apenas para assinantes da própria Sociedade, mas para ―qualquer
lugar que seja bom‖. Reitera a importância de que todas as mulheres da Igreja tenham
conhecimento do movimento missionário:

Por toda a parte nesta terra, fervorosas calorosas mulheres podem nos ajudar com
trabalho e oração, se pudermos remover de suas mentes a indiferença causada pela
sua total ignorância do empreendimento missionário (WMA, set. 1880, p. 12).

Em maio de 1886, Butler publica um questionamento intitulado: ―Foi um


erro?‖, falando sobre a criação do Conselho da Mulher. Em um longo texto, a editora do
Advocate afirma que o trabalho missionário projetado e levado pela Igreja é apenas uma parte
do plano de ―trazer o mundo todo para Cristo‖ e que tais interesses demandam vigilância, zelo
e energia para descobrir e utilizar todos os meios possíveis para garantir esse fim.
Para ela, esse era um momento único, pois as oportunidades eram muito
favoráveis para a realização do trabalho ―da mulher para mulheres‖ e que nunca houve uma
realidade tão promissora em que o poder das mulheres devotas pudesse ser tão significativo.
Como forma de dirimir qualquer notícia de que pudesse existir algum conflito entre o
Conselho da Mulher e o Conselho Principal, reitera não haver entre eles nenhuma hostilidade
e que trabalham em ―perfeita harmonia‖. Seu texto termina com a pergunta: a Conferência
Geral cometeu um erro quando organizou a Sociedade Missionária de Mulheres?
Na edição de março do mesmo ano, Butler lembra mais uma vez a oposição
encontrada dizendo: ―A fé dessas mulheres não conhecia limites‖. E, ainda: ―os sábios
homens da igreja olhavam de lado essa corajosa aventura e muitos previam seu fracasso
completo‖ (p. 259). Ao falar sobre o fim do segundo quadriênio da criação da Sociedade,
Butler afirma que mais um ciclo se completou, porém,

(...) não sem críticas rudes que foram compreendidas embora em algumas mentes
fervorosas no trabalho de Deus poderia haver maus pressentimentos e aflições pelas
possibilidades e contingências que poderiam surgir e enfraquecer se não destruir este
poder, e pela reação ferir a grande causa pela qual todos os cristãos suplicam
continuamente – mas tem resistido ao intenso teste para manter sempre sua
vitalidade no crescimento e no despertar de qualquer outro poder para o bem que
veio de sua influência (WMA, jun. 1886, p. 09).
65

Crítica que também aparece na edição de maio de 1890, na seção escrita por
ela intitulada Woman‟s Missionary Advocate:

O Woman‘s Missionary Advocate foi oficializado como órgão da Sociedade


Missionária da Mulher da Igreja Metodista Episcopal do Sul, em Nashville, Tenn.,
na reunião anual realizada lá me maio de 1880. (...) Os irmãos olharam para nós com
um sorriso sob suas pálpebras e murmurando ―Deixe-as sozinhas, brevemente
falharão. Coitadas. Deixem elas tentarem, mas sabemos que irão falhar‖.
Não tínhamos dinheiros em mãos e a promessa de muitos assinantes foi obtida pelas
Secretárias de Conferência e isso era tudo. Depois disso, Dr. McFerrin e Senhor L.
D. Palmer da Casa de Publicação, vieram ajudar, e disseram para as senhoras que
poderiam publicar o jornal e esperar pelo pagamento até que o dinheiro fosse obtido
dos assinantes (WMA, mai. 1890, p. 08).

O crescimento da circulação do jornal, o incremento das suas edições e a


atuação protagonista da Sociedade da Mulher no movimento missionário, certamente,
contribuíram para o arrefecimento das críticas e movimentos de oposição disponíveis nas
páginas analisadas do Advocate.
Se é possível verificar esse arrefecimento de críticas e de oposição
publicadas no Advocate, é possível também notar a intencionalidade do fortalecimento do
jornal, do movimento de arregimentação de assinaturas e a concretização do mesmo como
instrumento indispensável de sustentação do movimento missionário patrocinado pelo
Conselho da Mulher. E qual a relação do periódico com o Brasil? De que forma sua análise
poderá demonstrar o protagonismo feminino no projeto missionário do metodismo norte-
americano no país?

2.3 O Brasil nas páginas do Advocate – As representações de um projeto missionário

Dos 336 exemplares publicados do periódico entre julho de 1880 e


dezembro de 1910, há notícias envolvendo o Brasil em 245 números, distribuídos da seguinte
forma:
66

Tabela 1 – Registro de notícias envolvendo o Brasil


Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
1880 ### ### ###
1881 ### ### ### ###
1882 ### ### ###
1883 ### ###
1884 ### ###
1885 ### ### ###
1886
1887 ###
1888
1889 ### ###
1890 ### ###
1891 ###
1892 ### ###
1893 ###
1894 ### ### ###
1895 ### ### ###
1896 ### ###
1897 ### ### ### ### ###
1898 ### ### ###
1899 ### ### ### ### ###
1900 ### ### ### ### ###
1901 ### ### ###
1902 ### ### ### ###
1903 ### ### ### ### ###
1904 ### ### ###
1905 ### ### ### ### ### ###
1906 ### ### ### ### ### ###
1907 ###
1908 ### ### ### ###
1909 ### ### ### ### ###
1910 ###

### - Edições que não publicaram notícias sobre o Brasil


Tabela elaborada pela autora

Entre essas edições, há informações diversas sobre o país, desde dados sobre
sua história, características geográficas, aspectos políticos, sociais e econômicos, condições
acerca da possibilidade de trabalho missionário, contendas envolvendo os católicos, criação
67

de Sociedades Auxiliares aqui no país, relatórios completos das escolas administradas pelo
Conselho da Mulher, vida cotidiana das missionárias, notícias sobre conversões, construção
de igrejas e visitações das chamadas Mulheres da Bíblia (responsáveis em realizar visitas
periódicas para divulgação do Evangelho e conversão de fiéis).
As formas como as mulheres, através da publicação do periódico,
conquistaram espaços dentro do movimento missionário, do planejamento na criação dos
colégios à participação efetiva num projeto amplo que abarcou vários segmentos da
sociedade, serão apresentadas no próximo capítulo. Neste momento, é interessante
compreender o papel do Advocate como elemento estratégico de organização da chamada
Missão Brasileira (Brazil Mission) e o uso do periódico como importante na compreensão das
relações entre a teoria (aquilo que as missionárias entendiam como objetivo de uma missão) e
a prática (o que de fato aconteceu), entre os projetos (as estratégias) e as realidades (táticas) e
entre a tradição (aquilo que estava posto) e a inovação (o que se apresentava como moderno),
conforme as proposições de Nóvoa (2002) com relação aos procedimentos de análise do
periódico e de Certeau (1998) com relação a compreender as atitudes, resistências e
ressignificações àquilo que estava sendo imposto e determinado no projeto missionário a ser
desenvolvido no Brasil.
Além disso, as páginas do Advocate, com sua peculiaridade em ser o
primeiro periódico da Igreja Metodista do Sul criado ―por mulheres para as mulheres‖,
guarda, segundo Chartier (2002), práticas que objetivam fazer reconhecer uma identidade
social, representadas por uma maneira própria de estar no mundo, dotadas de sentidos e
significados simbólicos, descrevendo a sociedade como pensam ser ou como gostariam que
fosse.
Em cartas publicadas no periódico, as missionárias descreviam os aspectos
econômicos, políticos e sociais do Brasil objetivando informar as leitoras sobre o país em uma
estratégia de convencimento sobre a importância da manutenção da missão.
Em dezembro de 1881, Watts escreve uma longa carta descrevendo os
costumes brasileiros, continuando uma publicação que já havia sido feita em outubro do
mesmo ano, com riqueza de detalhes. Fala sobre as igrejas, as escolas, as lojas que existem, e
aspectos muito particulares do cotidiano, como em dizer que ―as pessoas ao chegarem na casa
de outras pessoas batem palmas ao invés de bater na porta‖ (p. 05).
Em janeiro de 1882, Sra. McGavock publica outra carta enviada por Watts
relatando o esforço para educar meninas para serem professoras, mas que não conseguia fazer
mais por falta de meios. Que tinha várias estudantes promissoras para o ofício. Segundo ela,
era preciso orar a Deus pedindo o envio de mais alunas para investir no treino deste ―grande
68

trabalho‖, que no futuro deveria ser feito por brasileiras. Para ela, um dos objetivos do
trabalho missionário estrangeiro, era ―organizar e formar outros para o trabalho‖.
Como resposta, McGavock diz:

Querida Miss Watts, não sentimos que estamos aqui para educar este povo, eles têm
suas escolas, academias e universidades. Claro, seu sistema precisa passar por uma
renovação, mas isso virá com o tempo. Vamos fazer nossas escolas decididamente
cristãs, onde trabalhadores deverão ser treinados para o puro campo de
colheita (grifo meu). Nosso conselho constantemente nos força por não termos um
grande número de estudantes, mas para tentar tê-los, temos que escolher crianças
que queiram ser trabalhadores cristãos se treinados; mas isto, veja você, é porque
não temos muito dinheiro para gastar nas escolas, e eles acham que este é o melhor
caminho para alcançar o maior número de pessoas. Temos agora meninas vindas de
lugares distantes que provavelmente retornarão para suas casas e abrirão escolas.
Faça todo o possível, querida Miss Watts, para fazer esse povo ler a bíblia. Deus tem
honrado muito seu trabalho no Brasil. Onde quer que tenha sido ensinado, ou
mesmo lido, foi abençoado pela conversão das almas (WMA, jan. 1882, p. 03).

McGavock reforça o caráter proselitista da missão brasileira. Relembra


Watts da importância não apenas da formação de professoras, mas a formação de professoras
cristãs. Além disso, critica o Conselho Principal que, segundo ela, está mais preocupado em
ter grande número de alunas matriculadas não se preocupando se terão efetivamente uma
formação cristã.
Ainda sobre o Brasil, em edição publicada em fevereiro de 1883, na seção
Studies for Auxiliaries,67 16 perguntas eram feitas sobre o país, tais como ―Quando o Brasil
foi descoberto e por quem?‖, ―Qual a população desse Império?‖, ―Porque a Igreja Metodista
Episcopal do Sul possui peculiar interesse nesse país?‖, ―Qual a religião desse império?‖ e,
ainda, ―Há sinais de que os grilhões que há tanto tempo prendem este povo a sua religião
estão cedendo diante de uma forma pura de cristianismo?‖.
Havia, em seguida, uma série de informações sobre o Brasil, suas
possibilidades e necessidades. Essa descrição do país algumas vezes era acompanhada da
questão do Brasil já ser um país cristão e, portanto, não haveria a necessidade de uma missão
cristã, afinal os brasileiros já conheciam o evangelho.
Em abril de 1887, Fannie Koger publica um artigo intitulado ―Um apelo de
uma ex-missionária para o Brasil‖. Deixa claro que ―algumas pessoas‖ questionam a
manutenção da missão no Brasil por considerar que o país é católico romano e já tem o

67
Seção que esporadicamente aparecia nas edições até o ano de 1884.
69

evangelho. Ela mesma rebate dizendo que é difícil afirmar que a Igreja Romana prega o
evangelho na sua pureza e relata algumas passagens de sua experiência no Brasil
demonstrando o quão vazio, segundo ela, é o cristianismo no Brasil. E vai além:

Eu acho que muitas pessoas inteligentes não sabem que a Igreja e o Estado são
unidos, e que a religião do Estado é a Católica Romana. O Imperador, que ascendeu
ao trono, é obrigado por juramento a dar apoio a todas as instituições da igreja
católica. Agora, qualquer um que estudar o assunto sabe que a igreja proíbe a leitura
da bíblia, exceto algumas passagens lidas por seus padres, que é o contrário do que
ensinou Jesus, que disse ―procure nas escrituras (...)‖ (WMA, fev. 1887, p. 06).

A referência ao imperador demonstra um engessamento da realidade


brasileira com relação à religião, sentido como um complicador entre os metodistas. Fato que
é verificado posteriormente com a grande comemoração entre eles no momento da
proclamação da República pela condição laica do país, pois projetavam assim uma possível
liberdade de atuação.
Fannie Koger ainda esclarece para as leitoras do Advocate:

Não há espiritualidade, minhas irmãs, na igreja romana. São materialistas. Porque


levar o evangelho para o Brasil? (...) Por que há almas que não estão salvas neste
país, e o comando vem dos servos de Deus ―Vá e preguem meu evangelho‖. Se em
nossa esclarecida terra há a necessidade de ensinar e pregar semana a semana, dia
a dia, quanto mais é necessário numa terra pisada pelos padres que ―ensinam suas
doutrinas para comandar os homens!‖ (grifo meu) (WMA, fev. 1887, p. 06).

Significativa a menção da superioridade norte-americana na expressão


―nossa esclarecida terra‖. Destaque que reiteradas vezes aparece nas notícias vinculadas ao
Brasil, e corroboram com os autores como Mesquida (2006; 2016), Novaes (2003), Mendonça
(1995) e Warde (2000) citados nesta Tese, sobre os metodistas estarem convencidos de que,
dentre os povos de língua inglesa, os Estados Unidos eram a expressão mais elevada de uma
civilização destinada a conquistar o mundo.
Em setembro de 1888, outro artigo escrito pela missionária Srta. Márcia
Marvin, que, na ocasião, era a governanta do Colégio em Piracicaba, também rebate as
críticas de que não haveria necessidade de uma missão metodista no Brasil.

Temos muitas vezes ouvido essa questão nos Estados Unidos: ―Porque é necessário
enviar missionários para o Brasil – os brasileiros não precisam de pregadores do
70

evangelho, eles conhecem Cristo, não conhecem? Conte a história da Cruz ás nações
que nunca ouviram falar do nosso Redentor‖ (WMA, set. 1888, p. 03).

Depois de discorrer sobre o que considera como erros dentro da doutrina


cristã no Brasil, como adoração de imagens e rituais da Semana Santa, afirma que não se pode
pensar nem por um momento que ―eles sabem alguma coisa sobre ser cristãos‖. Sobre os
festejos da ―malhação do Judas‖, ela diz, ―Pobre judas, seu chapéu e sapatos, voando pela
cidade‖ (p. 02) .
A mesma temática também aparece cinco anos depois, na edição de
dezembro de 1893, na sessão Mission Studies. Em resposta a questionamentos sobre
evangelização de locais que já conhecem o evangelho, mesmo que sob a autoridade do
catolicismo, o artigo sem indicação da autora, faz uma longa descrição sobre o cristianismo na
América do Sul, especialmente o Brasil desde o processo de colonização até a proclamação da
República. Depois de descrever todo um histórico da missão no Brasil, termina afirmando que
o trabalho da Igreja Metodista Episcopal do Sul é possivelmente o mais extenso e próspero
entre todas as outras igrejas protestantes na América do Sul. E termina: ―Sim, é sobre todos os
cristãos da América, sobre todos nós da Igreja Metodista Episcopal do sul e sobre todas nós
da Sociedade Missionária da Mulher! (p. 166)‖.
Cinco anos depois, em artigo publicado em janeiro de 1898, Srta. Layona
Glenn, que na época era missionária em Petrópolis junto com a Srta. Watts, responde a um
questionamento da necessidade da missão no Brasil. Depois de discorrer longamente sobre os
chamados ―hábitos cristãos‖ dos brasileiros, incluindo adoração a imagens, adoração à Maria,
mãe de Jesus, como mediadora dos pedidos ―da mãe para o filho‖, de afirmar que o imenso
número de igrejas católicas não significa um imenso número de cristãos pois, além de não
terem uma vida dedicada a esses ensinamentos, não têm noção do que é ser um cristão
verdadeiro. Termina dizendo: ―Este é um dos muitos absurdos ensinados pela igreja católica
em nome da religião; e a pior parte é que as pessoas aceitam e acreditam nisso. Isso mostra
como as missões são importantes para o Brasil‖ (p. 205).
Esses registros demonstram resistências na manutenção das missões em
países já considerados cristãos, como o Brasil, e argumentos das missionárias em defesa da
manutenção e incremento do movimento. Não há, a partir dessa data, nenhuma outra menção
a algum questionamento sobre a necessidade da missão no Brasil ou em outro país
estrangeiro.
Os valores destinados às missões estrangeiras publicados no Advocate,
mesmo não contemplando todos os anos entre 1880 e 1910, demonstram que esses
71

investimentos foram regulares e tiveram um incremento a partir do início do século XX, com
exceção da chamada Missão Indígena, que ocorria nos territórios indígenas dentro dos
Estados Unidos.
No gráfico a seguir é possível vislumbrar esse cenário.
Gráfico 1 – Investimento das missões

$160.000

$140.000

$120.000

$100.000
Brasil
$80.000 China

$60.000 México
Missão Indígena
$40.000

$20.000

$0
1882
1883
1885
1886
1887
1888
1891
1892
1893
1894
1895
1897
1898
1902
1906
1908
Gráfico elaborado pela autora 1910

Tabela 2. Investimentos específicos no Brasil


Ano Valor em
dólar ($)
1882 $12.500
1883 $4.750
1885 $16.000
1886 $13.150
1887 $16.480
1888 $10.550
1891 $15.650
1892 $11.600
1893 $35.600
1894 $9.270
1895 $17.895
1897 $15.090
1898 $17.345
1902 $22.275
1906 $62.500
1908 $33.465
1910 $141.200
Total $455.320
Tabela elaborada pela autora.
72

Com relação ao Brasil, ao analisarmos a tabela é possível constatar que há


uma regularidade nos valores entre 10.000 e 20.000 dólares, com exceção dos anos de 1883 e
1894, abaixo desse valor, e um aumento a partir de 1902 chegando ao ápice em 1910.
Não foi possível identificar os motivos pontuais que levaram às variações
dos valores apresentados, mas é possível afirmar que a publicação das cartas e relatórios das
missionárias no Advocate foram imprescindíveis para determinar quais seriam os
investimentos e de que forma seria aplicados.

2.4 Monarquia, República e o movimento missionário metodista nas páginas do


Advocate

O posicionamento das missionárias com relação às características políticas


do país também aparece reiteradas vezes, especialmente no que se refere à relação entre
sistema político e religião. Relação indispensável para entender as estratégias adotadas pelo
movimento missionário metodista diante das mudanças políticas que ocorriam no Brasil a
partir das informações enviadas pelas missionárias do Conselho da Mulher, publicadas no
Advocate.
Conforme autores citados na introdução desta Tese como Hilsdorf (1977),
Mendonça (1995), Nascimento (2005), Cordeiro (2008), Salvador (1982), Mesquida (1994) e
Almeida (2011), no final do século XIX e início do XX, educação e religião foram marcos
fundamentais sobre os quais se assentavam as aspirações, os costumes, as tradições, a política,
a cultura, a vida social e a economia. Sob suas sombras se modelavam as identidades, os
comportamentos, hábitos e costumes e se normatizava a vida social e a sexualidade. Com o
advento das ideias liberais e positivistas veiculadas pelos ilustrados antes e depois da
República, o panorama social do Brasil se transformou. A educação fez parte integrante do
projeto civilizador republicano e o poder da religião católica foi ameaçado com sua separação
do Estado, agora laico, juntamente com a relativização de sua influência no campo escolar,
num processo que havia se estruturado desde o Segundo Império. Os metodistas
vislumbraram então esse momento político, como uma forte possibilidade de expandir sua
missão no Brasil.
Na edição de setembro de 1888, a Srta. Watts, em carta enviada ao Advocate
explica que

A questão agora é a separação da igreja do estado. Rezem, amigos, que isso pode
acontecer dentro em breve, pois até então esse povo dominado pelos padres, não
73

pode aproveitar a liberdade, pois eles são impedidos de servir à Deus como eles
gostariam, se fossem ousados. Deixe-os estar em liberdade para vir e ouvir, e irão
―acreditar‖ e se ―converter‖. Estamos orando para que esse dia chegue logo (WMA,
set. 1888, p. 04).

Na edição de fevereiro de 1890, logo após a Proclamação da República, o


Reverendo Tarboux afirma que o decreto que extingue o padroado é uma oportunidade de
ouro. Que ―depois de um longo tempo e tanta oração pelos missionários, nosso tempo chegou.
(...) a porta e o coração dos brasileiros está aberto. Completa dizendo que é um fato que ―a
Igreja Católica não tem a confiança das pessoas sensatas do Brasil‖. Diz ter recebido várias
cartas e irmãos que estão no campo dizendo que esse é o momento. Que o irmão Landers
escreve de Juiz de Fora que ―Em todo o lugar existe a expectativa da perfeita liberdade de
consciência‖. E aproveita para pedir investimentos por parte do Conselho da Mulher para as
escolas, ―o que seria 40 ou cinquenta contos (30 ou 35 mil dólares) para nossas escolas
agora!‖ (p. 02).
O Irmão E. A. Tilley, sabendo que Tarboux está nos Estados Unidos
escreve, na mesma edição:

Estou tão feliz que esteja nos Estados Unidos agora, então você pode apresentar o
assunto não somente antes para o Conselho de Missões, mas ainda antes para a
Conferência Geral. Agora é a hora de levar o Brasil para Cristo, de fazer o
Metodismo uma força neste país. Será que nossa Igreja irá tirar vantagens desta
grande oportunidade? Entrará na porta que agora está aberta? (WMA, fev. 1890, p.
02).

Termina ressaltando que agora o Brasil é uma República, que a Constituição


está sendo feita, que o sucesso da República norte-americana é um exemplo para o Brasil, que
certamente ―este é o melhor momento‖.
Quatro anos depois, um fato contribuiu para que os metodistas acreditassem
ainda mais no sucesso da missão no Brasil: a eleição de Prudente de Moraes 68 como
Presidente. Na edição de março de 1894, o Reverendo Ramson descreve com detalhes a
relação da família Moraes Barros com os metodistas e o apoio incondicional ao Colégio
Piracicabano. Afirma que, mesmo o irmão do atual presidente, Manuel de Moraes Barros, ter
tido uma relação muito mais próxima com o Colégio e com as missionárias, Prudente de
Moraes também enviou suas filhas e filhos para estudarem no Colégio e sempre se dispôs a
apoiar o desenvolvimento do mesmo. Segundo Ransom, ―o Império foi banido, o imperador
68
Presidente entre 1894 e 1898.
74

está morto, o Brasil é uma República, e meu amigo, acho que posso arriscar o epíteto –
Prudente de Moraes é o presidente eleito da vasta República do Brasil!‖ (p. 345).
Em 1902, em carta enviada ao Advocate, Srta. Lily A. Stradley, diretora do
Colégio Piracicabano, apresenta um discurso de Prudente de Moraes realizado em Piracicaba
por ocasião do aniversário do Colégio. Para ela, uma prova dos efeitos que o trabalho das
missionárias está fazendo na ―mente dos brasileiros‖. No discurso Prudente de Moraes
destaca os papéis da Srta. Watts e de Maria Rennotte na consolidação do Colégio e diz:

Alguns dizem que o motivo da vinda dos metodistas não era educacional, mas
religioso. E qual o problema? Não é a religião de Cristo? Não foi essa religião que
trouxe progresso para os EUA? Nosso modelo de educação e de política é copiado
dos EUA. A primeira reforma da instrução pública começou em São Paulo com a
escola normal dirigida por uma senhora educada nos EUA tendo como assistente a
senhoria Brown (WMA, janeiro 1902, p. 206-207).

O trecho corrobora com a postura afirmativa dos EUA como modelo a ser
copiado. Prudente de Moraes, ao citar o fator religião, indica apoio irrestrito aos missionários
diante dos ataques à questão protestante. Cita que a reforma da instrução pública realizada em
São Paulo em 1890 por Cesário Motta e Caetano de Campos foi baseada no modelo norte-
americano. Que todos os seus filhos, meninos e meninas estudaram no Colégio Piracicabano e
que, portanto, os fatos demonstram a competência da condução do Colégio pelos metodistas
e, segundo ele, um modelo que deveria ser seguido.
Em 1902, com a morte de Prudente e seu irmão Manuel de Moraes Barros, a
editora do Advocate, Sra. Butler, discorre sobre a perda dos irmãos para o apoio ao trabalho
missionário no Brasil, mas afirma que tantos anos de missão já foram suficientes para
consolidar esse trabalho e que muito ainda está por vir. A partir de 1903 não há mais nenhuma
menção ao sistema político do Brasil, apenas as vicissitudes com relação à oposição católica,
as doenças que afligiam o país e o andamento dos colégios.
No decorrer do próximo capítulo, será possível verificar o movimento no
número de missionárias e escolas, as necessidades diante das adversidades, as estratégias
usadas por elas para um aumento nos investimentos na missão diante da constatação, a partir
do início do século XX, de que a conversão dos brasileiros pela via da educação não estava
efetivamente acontecendo.
75

Capítulo 3

Religião, educação e proselitismo: o periódico como propagador do movimento


missionário e a atuação das mulheres

3.1 Formação das missionárias

Para se candidatar ao cargo de missionária no Conselho da Mulher, a


apresentação ou indicação deveria ser feita por uma Sociedade de Conferência. A partir daí
poderia ser aceita como professora ou missionária.69 Em qualquer caso, seu salário70 poderia
ser pago pelo Conselho, através das arrecadações das próprias Sociedades de Conferência ou
pelo trabalho das Ligas e Associações.
No Brasil, as missionárias ligadas às suas Sociedades de Conferência,
também poderiam ter seus salários pagos pelas respectivas Sociedades. As missionárias
nativas71 recebiam salários do Conselho brasileiro que arrecadava dinheiro através de diversas
atividades, incluindo as atividades das Ligas e Associações.
A partir de 1890, para se tornar missionária e/ou professora enviada para os
campos de missão, a indicada deveria obrigatoriamente passar por uma escola de treinamento
(Training School), posteriormente denominada Scarrit Bible and Training School72. Eram
formadas para serem missionárias, professoras e a escola possuía ainda um curso de
enfermagem para o trabalho dentro e fora dos Estados Unidos. Em 1901, diante dos pedidos
enviados ao CMEM, de mulheres não formadas pela escola de treinamento, uma resolução da
23ª Reunião Anual determinou que os Comitês Executivos das Sociedades de Conferência
não recomendassem mais candidatas que não tivessem preparação e ―alta qualificação
educacional na Training School‖ (Jul. 1901, p.17). A resolução informava que todas as
missionárias indicadas para os campos de missão eram graduadas pela escola.

69
A distinção entre professora e missionária muitas vezes estava restrita ao salário, pois ela poderia atuar nas
duas funções ao mesmo tempo. Havia também o que o Conselho chamava de Missionária Integral, geralmente
referindo-se à missionária que atuava em todos os cargos (diretora da escola, secretária do conselho, agente etc.),
exceto o de professora.
70
Salários que variavam entre $600 a $950 anuais (eventualmente havia o incremento de valores para as agentes)
71
Brasileiras que trabalhavam na missão, mas não eram ligadas institucionalmente ao Conselho da Mulher.
72
Idealizada pelo Reverendo Nathan Scarrit, que sempre trabalhou para a fundação de um instituto para treinar
missionárias, enfermeiras e professoras para as missões dentro e fora dos Estados Unidos. Seu esforço deu
origem a Scarrit Bible and Training School. Fonte: https://dnr.mo.gov/shpo/nps-nr/78001660.pdf Acesso em 23
nov. 2016.
76

3.2 Missionárias para o Brasil – Apelos e resistências

A necessidade de arregimentar jovens para trabalhar no Brasil como sendo


prerrogativa essencial para o sucesso da missão é tema recorrente no periódico a partir de
1886. Na edição de janeiro de 1887, com o retorno de Watts para os Estados Unidos, Mattie
Jones, então responsável pelo Colégio Piracicabano, implora pela vinda de missionárias e
questiona o Conselho em colocar nas mãos de Watts praticamente toda a reponsabilidade pelo
trabalho missionário nas escolas. Em março de 1887, em artigo intitulado, Missionárias para
a China e o Brasil, a Sra. McGavock fala das dificuldades das missões e questiona as
mulheres da Igreja em não ajudarem quem está no campo.
Em Piracicaba, Sallie Phillips, na edição de abril de 1891, publica o seguinte
apelo:
O que nossa gente está fazendo em casa? O que está fazendo aqui nos Estados
Unidos? O que e como podemos fazer mais? Será que o Conselho de Missões da
Mulher vai se decepcionar em não receber mais ajudantes? Como iremos ter
sucesso, aumentar o trabalho no campo se não recebemos mais ajudantes? Que cada
uma possa engendrar esforços para enviar missionárias para os campos estrangeiros
este ano. No Brasil precisamos de mais seis mulheres e estou constrangida de pedir
que todos os leitores do Woman‟s Missionary Advocate levem nosso interesse no
Brasil para o fundo do coração, rezando e trabalhando para nós. Especialmente
solicito ajuda das mulheres cristãs da minha leal Louisiana (WMA, Abr. 1891, p.
301).

Em janeiro de 1893, em matéria especial intitulada Um chamado pra quatro


missionárias para o Brasil, o bispo Wilson relata as dificuldades da missão e solicita que as
mulheres das diversas Sociedades de Conferência se apresentem para esse trabalho. No mês
seguinte, há o mesmo chamado, com o seguinte apelo:

Deve haver na nossa Escola de Treinamento em Kansas City ao menos 25 jovens


mulheres se preparando para o trabalho nos campos de missão. (...) Não há razão
pela qual a Sociedade Missionária da Mulher da nossa igreja não possa sempre fazer
um recrutamento enérgico para alguma emergência que possa surgir em qualquer
um dos nossos campos de missão. Quando uma missionária estiver cansada, outra
pode estar pronta para tomar seu lugar e de revezar de dois em dois ou mais se
necessário. Pensem nessas coisas! (WMA, fev. 1893, p. 225).

Para Amélia Elerding, em publicação de novembro de 1897, ―a colheita é


boa, mas onde estão as trabalhadoras?‖. Em maio de 1898, Willie Bowman faz um relato dos
77

problemas enfrentados pelas missionárias por conta do acúmulo de trabalho, dizendo que a
falta de mão de obra é algumas vezes desanimador. Para Mary Pescud em janeiro de 1901,
falando de Petrópolis,

Em muitas direções novas oportunidades se abrem diante de nós, e as pessoas estão


elas mesmas se movendo no que diz respeito à educação cristã.
(...) Então, permanecemos com pouca ajuda. Oh, precisamos de mais trabalhadoras
no Brasil. A rápida evangelização deste país depende, humanamente falando, de
força suficiente para ocupar os pontos de vantagem que se abrem diante de nós
(WMA, jan. 1901, p. 210-211).

O mesmo pedido feito por Stradley em janeiro de 1902: ―o trabalho aqui


necessita de muitas mãos‖. Em janeiro de 1903, Watts reitera o apelo ao afirmar que ―há
muitos lugares para entrar, mas não podemos. Porque? Por que faltam mulheres e dinheiro‖
(p. 448).
Parece ter havido certa resistência por parte das mulheres participantes das
Sociedades de Conferência, na indicação de missionárias para atuarem no Brasil.
Fannie Koger, viúva do Reverendo Koger, em carta enviada ao Advocate
intitulada, Um apelo ao Brasil por uma ex-missionária, na edição de abril de 1887, diz que
ficava entristecida quando ouvia de irmãos nos Estados Unidos, frases como ―tenho dúvidas
sobre a missão no Brasil‖, e ―qual a utilidade de enviar homens para pregar o evangelho? Eles
são católicos romanos e já tem o evangelho‖ (p. 06). Fannie Koger responde argumentando
que a Igreja romana não ensina o puro evangelho, que os brasileiros, na verdade, são vítimas
de uma Igreja que não ensina, apenas amedronta, e completa:

Não há espiritualidade, minhas irmãs, na igreja romana. São materialistas. Porque


levar o evangelho para o Brasil? (...) Por que há almas que não estão salvas neste
país, e o comando vem dos servos de Deus ―Vá e preguem meu evangelho‖. Se em
nossa esclarecida terra há a necessidade de ensinar e pregar semana a semana, dia a
dia, quanto mais é necessário numa terra pisada pelos padres que ―ensinam suas
doutrinas para comandar os homens!‖ Ouvi uma senhora dizer alguns dias atrás, que
ela tinha certeza absoluta que se os brasileiros não acreditassem que pudessem
serem salvos com a ajuda dos missionários, então deveriam morrer e serem privados
da salvação. Desejo que irmã seja salva! (WMA, abr. 1887, p. 06).
78

Além do destaque feito à superioridade da ―esclarecida terra‖, a missionária


reitera os argumentos da salvação pela fé, objetivo primordial dos metodistas. Marcia Marvin,
na edição de setembro de 1888, ao enviar notícias de Piracicaba, levanta a mesma questão,

Temos muitas vezes ouvido essa questão nos Estados Unidos: Porque é necessário
enviar missionários para o Brasil. Os brasileiros não precisam de pregadores do
evangelho, eles conhecem Cristo, não conhecem? Conte a história da Cruz ás nações
que nunca ouviram falar do nosso Redentor (WMA, set. 1888, p. 2-3).

Marvin também utiliza os argumentos de Fannie para justificar a missão, ao


afirmar que, se as mulheres que questionam o envio de missionárias ao Brasil conhecessem a
realidade do cristianismo ensinado pela igreja romana, não teriam nenhuma dúvida do envio
dessas missionárias e, certamente, também se candidatariam.
Na edição de dezembro de 1893, na seção Mission Studies, em resposta a
um questionamento sobre a existência de uma missão no Brasil por ser um país cristão, há
uma longa descrição dos costumes brasileiros ligados à formação católica e ―seus absurdos‖,
justificando o empreendimento missionário, isso depois de longa descrição sobre a história da
América do Sul e do processo de colonização no continente. Há uma referência ao trabalho de
Colporteurs73 do Reverendo Tucker e o fortalecimento da sociedade bíblica americana em
distribuir bíblias e mostrar ao povo analfabeto a importância do conhecimento da leitura para
poder ler a palavra de Deus. Termina afirmando que o trabalho da Igreja Metodista Episcopal
do Sul é, possivelmente, o mais extenso e próspero entre todas as outras igrejas protestantes
na América do Sul, e exclama: ―Sim, é sobre todos os cristãos da América, sobre nós da Igreja
Metodista Episcopal do Sul, sobre nós da Sociedade Missionária da Mulher!‖ (p. 166).
Com o título Catolicismo no Brasil, Layona Glenn responde a uma amiga
que pergunta sobre a necessidade da missão no Brasil, sendo que ―tem tantas igrejas
católicas‖ e, portanto, já são cristãos.

A única resposta está nas palavras do Mestre, ―Minha casa é chamada de casa de
oração? Mas ainda sim fizeram dela um covil de ladrões‖? A igreja católica carrega
o nome de Cristo, mas tem escondido sua palavra, e tem enterrado a benção do
Senhor sobre um lixo de lendas, cerimônias, santos e imagens onde as pessoas nunca
encontrarão o amor, o afeto e a compreensão. (...) Eles possuem diversas

73
Expressão francesa que significa, ―pessoa que vende objetos de casa em casa‖. Nos Estados Unidos ficaram
conhecidos por serem aqueles que vendiam bíblias e publicações religiosas nas ruas. Fonte:
http://www.larousse.fr/dictionnaires/francais/colporteur_colporteuse/17341 e
http://www.irishancestors.ie/?page_id=6861 Acesso em jul. de 2016.
79

representações da ―Mãe de Deus‖- como eles chamam Maria, e algumas centenas de


santos, para quem pedem perdão (WMA, jan. 1898, p. 205-206).

Traduzindo na íntegra um panfleto que ela afirma ter sido distribuído pela
Igreja Católica, Layona Glenn faz apontamentos dos erros de uma Igreja que se diz cristã e
termina dizendo, ―isso mostra como as missões são importantes para o Brasil‖.
Os trechos destacados no Advocate demonstram as resistências para com a
missão no Brasil e o apelo das missionárias com argumentos indicando as falhas na formação
moral e cristã no país. A partir de 1898 não há mais registros de questionamentos sobre a
missão, informação que não é suficiente para afirmar que não havia mais resistências aos
investimentos na missão. O fato é que os valores financeiros anuais destinados à missão no
Brasil continuaram estáveis, com um aumento a partir de 1906.74

3.3 As representações femininas como propagadoras do ideal norte-americano

Quando o Advocate foi criado, em 1880, conforme citado na introdução, já


havia um artigo descrevendo os aspectos políticos, econômicos e sociais do Brasil, e um
destaque especial à situação da mulher: ―as mulheres do Brasil são como crianças crescidas
tolas, ignorantes, supersticiosas e, em grande parte, sob controle dos padres‖ (dez. 1880, p.
14). A representação sobre o papel da mulher brasileira e o idealizado pelas missionárias,
identificado na necessidade que elas entendiam em emancipá-las e educá-las, prepará-las por
meio da educação para a emancipação e independência financeira, aparece reiteradas vezes no
periódico.
Segundo Silva (2008b), as missionárias se apresentavam como pessoas
instruídas e esclarecidas, com grandes habilidades de compreensão de sentidos, de raciocínio
lógico e coerente, habituadas à reflexão, as mulheres brasileiras poderiam então abandonar a
Igreja Católica e buscar a fé salvadora do protestantismo. Além disso, é possível identificar
que as mulheres solteiras eram as principais agentes do movimento missionário como um
todo, incluindo àquelas que vieram para o Brasil.
Na primeira edição do Advocate, há um artigo que aborda o tema:

Cinquenta e duas mulheres solteiras tem saído para as missões, quase duzentas
professoras nativas e mulheres da bíblia tem sido empregadas na divulgação da
verdade cristã e numerosas escolas diárias e dominicais, supervisionadas pelas

74
Cf. Tabela da página 71
80

esposas dos missionários, tem se estabelecido e dado suporte em todos os campos.


(...) 2.291 sociedades auxiliares composta de 60.269 membros atesta o vigor com o
qual o interesse em missões estrangeiras tem sido estendido entre as mulheres da
Igreja Metodista (WMA, set. 1880 p. 13).

Um aspecto que vai ao encontro da tese formulada por Silva (2008b), ao


afirmar que as mulheres missionárias, bem preparadas intelectualmente e inteiramente
dedicadas à causa da expansão do cristianismo por meio da educação, procuravam garantir
seu espaço na esfera pública. Eram solteiras, sozinhas, se mostravam cheias de objetivos, ação
e trabalho. As missionárias e/ou professoras que vieram para o Brasil seguiram diversas
trajetórias, atuando muitas vezes em diferentes escolas e em atividades ligadas aos campos de
missão, como os chamados trabalhos de visitação. Eram transferidas a partir da indicação do
bispo responsável. A decisão do bispo, de maneira geral, era embasada nas orientações da
Agente da Missão que conhecia os detalhes das necessidades do campo e, especialmente, dos
colégios.75
Silva (2008b) ainda destaca que todas as denominações religiosas
protestantes que vieram para a América no final do século XIX dependiam do trabalho dessas
mulheres solteiras. As educadoras e missionárias americanas que chegavam, reforçavam essa
representação do papel da mulher e, em alguns casos, de fato, viam o casamento e todos os
compromissos de uma mulher casada como um fardo, uma barreira para a carreira intelectual
feminina e, no caso das educadoras protestantes, um empecilho para a dedicação em tempo
integral ao trabalho missionário em terras distantes. Ainda segundo a autora,

O trabalho das missionárias floresceu não apenas por conta de convicções


espirituais, que eram importantes, mas porque encontravam imensa satisfação e
realização pessoal com seus esforços, trabalho, contatos sociais e liberdade. Foram
fundamentais para a atividade de conversão e pregação, fizeram parte deste jogo de
representações dos papéis de gênero feminino no final do século XIX e inícios do
XX. (...) Para muitas dessas mulheres, um trabalho missionário em outros países,
distantes e exóticos, podia ser visto como um desafio acrescido de deveres
religiosos, uma satisfação pessoal e um comprometimento especial com a fé.
Educação, oração, pregação e missionarismo integravam a sua identidade e
garantiam valores morais, regras de conduta e respeitabilidade em lugares distantes e
longe de suas comunidades de origem. Sendo estrangeiras, habitando em espaços
culturais distintos como americanas protestantes solteiras, as ―misses‖ tinham um
status diferente das brasileiras (SILVA, 2008b, p. 34).

75
O Anexo IV apresenta um resumo da trajetória dessas missionárias no período de análise desta pesquisa.
81

Essa representação do papel da mulher, solteira, dentro do movimento,


conforme apontado pelas proposições de Silva (2008b), possibilita destacar o papel que a
identidade religiosa exerce na construção de papéis de gênero e sua influência nos valores e
sentidos no movimento missionário metodista, a partir da referência de uma intenção em que
o proposto e o idealizado adquire algum sentido. Uma identidade religiosa que estabelece
parâmetros culturais que influenciam as práticas cotidianas, as relações, os lugares, as
posições hierárquicas e as representações, conforme postulado por Chartier (2002).
Encontrar publicações no Advocate aliando a representação do papel da
mulher como precursora de mudanças, ao discurso da América como redentora das nações
não civilizadas, não é uma tarefa difícil. Em fevereiro de 1886, James L. Kennedy transcrevia
no Advocate uma matéria publicada no Jornal A Gazeta de Notícias, de autoria do então
Conselheiro Francisco Bellisário,76 intitulada A educação da Mulher no Brasil. Para o
conselheiro a educação da mulher era um assunto que deveria seriamente preocupar os
brasileiros afirmando que no país, salvo exceções, a mulher era sempre um fardo para o
homem, ―mais um peso do que uma companheira‖, e que o analfabetismo entre as mulheres
prejudicava a condição de criar seus filhos. Como referência, cita Alexis de Tocqueville,
afirmando que ―a prosperidade dos Estados Unidos77 deve ser atribuída à incontestável
superioridade das mulheres‖ (p. 5). James L. Kennedy, ao comentar as palavras do
Conselheiro, reafirma a importância do papel das mulheres no movimento missionário e
aproveita para cobrar a necessidade da compra de um terreno no Rio de Janeiro para a
instalação de um Colégio para meninas na cidade.
Em setembro de 1887, outro artigo reforça a relação entre o papel da mulher
e a ―salvação‖ de uma nação considerada moralmente atrasada e, segundo a visão das
missionárias, consequência da influência de uma igreja autoritária que subjugava o papel da
mulher, referindo-se à Igreja Católica. Intitulado Salve as mulheres e você salva o Brasil,
mostra com números o elevado índice de mulheres analfabetas no país e que, ao entrar em
contato com as missionárias e o que elas representam, se deparavam então com ―ideias de
civilizações avançadas‖ e suas posições então, segundo elas, se tornavam mais elevadas.

76
Foi ministro da Fazenda do Conselho de Ministros de 1885 (Gabinete de 20 de agosto de 1885). Fonte:
http://www.fazenda.gov.br/acesso-a-informacao/institucional/galeria-dos-ministros/pasta-imperio-segundo-
reinado-dom-pedro-ii/pasta-imperio-segundo-reinado-dom-pedro-ii-ministros/francisco-belisario-soares-de-
souza. Acesso em 22 abr. 2017.
77
As palavras do ministro vão ao encontro do conceito de Espelho do Próspero desenvolvido por Warde (2000).
Os Estados Unidos como um espelho no qual o Brasil deveria se mirar. Um modelo que, para seus defensores,
representava o melhor dos horizontes, pois oferecia a todos as chances de uma vida de progresso e democracia.
82

Os fatos então mostram que se oferecer a elas educação, uma religião, você dá a elas
uma ideia de sua verdadeira mobilidade e ela brevemente atinge o nível em que isso
é um direito natural. Elevando as mulheres você eleva o Brasil, como disse uma
escritora francesa, ―O futuro da nação repousa na educação das mulheres‖. Seguindo
esta ideia então, salve as mulheres e você salva o Brasil (WMA, set. 1887, p. 03-04).

Martha Watts, ao escrever para Sra. Butler de Petrópolis, reforça a relação


entre o papel da mulher no Brasil e Igreja Católica, que ela chama de anticristo. Para ela ―esta
besta, o anticristo, teve o Brasil por quase quatrocentos anos e fez do povo o que eles queriam
que fosse‖. E completa: ―As mulheres geralmente acreditam nos ensinamentos dos padres, os
homens menos. Eles disseram que não acreditam nos padres nem nos seus ensinamentos, mas
são católicos por que seus pais foram (Jul. 1897, p.27)‖. Para Watts, essa dependência das
mulheres aos ensinamentos dos padres e o domínio da Igreja Católica são empecilhos para a
emancipação da mulher e, consequentemente, de toda uma nação. Seis anos depois, na edição
de abril de 1903, Willie A. Bowman reforça as palavras de Watts, ao dizer que as mulheres
brasileiras ―continuam subjugadas pelos padres, e achando que o que eles dizem é a lei‖. Na
mesma edição, Maidee Smith completa: ―entre as mulheres brasileiras há muita ignorância,
inclusive nas comunidades mais cultas‖ (p. 370).
Em janeiro de 1907, Layona Glenn, em artigo intitulado Uma chamada para
mulheres e crianças do Brasil, também aponta o que considera um atraso na formação das
mulheres no país:

As mulheres no Brasil não tem liberdade. (...) estão presas às pressões dos padres, e
não tem liberdade para ler a bíblia e nem poderiam, pois não sabem ler! (...) A
educação é geral nos EUA, mas o que vocês pensariam se eu lhes dissesse que nem
cinco por cento das mulheres no Brasil são capazes de ler e escrever? É um número
muito grande diante de uma população de 18 milhões. (...) elas normalmente seguem
o que o marido quer. Acho que poderia ser dito que o catolicismo da América Latina
não permitiu às mulheres avançarem ao longo da linha da educação. (...) Essa massa
de mulheres está afundada na ignorância e superstição (WMA, jan. 1907, p. 321-
322).

Além de reforçar a dicotomia catolicismo X atraso apresentada por Watts,


ainda faz uma longa descrição do que ela chama de superstições dos rituais católicos. Desde a
adoração de imagens até a ―veneração‖ à Virgem Maria. Para ela, uma nação só pode crescer
com a ajuda das mães, mas ―como uma nação pode crescer com mães apegadas a superstições
que ensinam isso aos seus filhos?‖. E finaliza:
83

Minhas amigas dos Estados Unidos. Cristo morreu pelas mulheres no Brasil assim
como para vocês. O que estão fazendo para salvá-las? Imploro para que não
esqueçam quem vive ao seu lado. (…) porque a América do Norte precisa salvar a
América Latina através de Cristo (WMA, jan. 1907, p. 322).

Ao visitar uma plantação de café em Barra Mansa, em março de 1899, e


conhecer as residências dos trabalhadores, Willie Bowman descreve suas impressões sobre a
questão do analfabetismo feminino no Brasil:

Eles não podem dizer que existe alguma vida familiar nas casas, no sentido que
usamos a palavra ―casa‖. As mulheres são iletradas, algumas delas sabem ler ou
cuidar de suas casas e crianças, parecem contentes em gastar seus dias em
ociosidade, fumando para matar o tempo (WMA, jul. 1899, p. 371).

Aproveita, então, para cobrar o envio de missionárias para o Brasil,


especialmente para o Rio de Janeiro. A justificativa de Bowman e de outras missionárias
reside no argumento de que a única saída para a redenção das mulheres brasileiras e do país
está no investimento, por parte do Conselho da Mulher, na instalação das escolas. Na edição
de agosto do mesmo ano, a própria Bowman, ao falar do trabalho de visitação no Rio de
Janeiro, reforça a importância da educação das mulheres ao dizer que ―muitas mulheres não
sabem ler, e quando vem para nossa igreja como membros elas não sabem nada da bíblia e de
seus ensinamentos‖ (p. 48-49).
Na edição de julho de 1909, Louida Shaffer relaciona a educação das
mulheres no Brasil para além da questão meramente espiritual. Para ela, haveria de se fazer
também, de alguma maneira, a ―preparação para as batalhas da vida‖,

Está ficando claro, sem sombra de dúvidas, que o bem-estar e felicidade das
mulheres do Brasil dependerá muito do que estivemos aptas a fornecer para elas
enquanto nossas alunas. Primeiramente, a natureza espiritual deve ser desenvolvida,
mas esta necessidade não pode enfraquecer de maneira alguma a preparação material
para as batalhas da vida. As meninas brasileiras devem aprender como cozinha e
lavar, costurar, varrer e colocar as coisas no lugar, não menos devem aprender a
tocar piano e falar francês (WMA, jul. 1909, p. 32).

Para as missionárias, o analfabetismo das mulheres brasileiras, aliado ao


controle de uma religião que os protestantes consideravam causadora do retrocesso em que se
encontrava o país, foi responsável pela construção de um cenário obscuro que só poderia ser
revertido a partir do investimento da Igreja Metodista Episcopal do Sul através da atuação e
84

sustentação financeira do Conselho da Mulher, com toda a sua estrutura organizacional, nas
escolas.
A questão da representação do papel da mulher em uma sociedade que
buscava o que as missionárias consideravam um aprimoramento de uma nação é apenas um
dos aspectos encontrados no Advocate e que indicam o protagonismo dessas mulheres no
movimento missionário no Brasil, especialmente a partir da atuação das mesmas na direção,
organização e administração das escolas, bem como em toda a estrutura missionária.

3.4 A atuação das mulheres e a organização das Sociedades e Ligas associativas

Os colégios metodistas certamente formam o cerne do movimento


missionário organizado e dirigido pelo Conselho da Mulher a partir do seu Conselho de
Missões Estrangeiras. Essas instituições de ensino serviram de base para a criação das
chamadas Sociedades e/ou Ligas que objetivavam uma maior participação de jovens e adultas
nos diversos espaços de atuação da igreja metodista.
Entre as associações e ligas mais conhecidas que também foram organizadas
no Brasil, temos:

 Liga Epworth (Epworth League)

Os ministérios da juventude dentro da Igreja Metodista tiveram origem no


século XIX. Uma razão para a sua ascensão foi porque, à medida que os jovens migraram
para as cidades para trabalhar nas fábricas, líderes religiosos estavam preocupados com o
efeito urbano sobre os ideais cristãos da juventude. Havia diversas organizações de jovens,
como os movimentos YMCA (Young Men's Christian Association) e YWCA (Young
Women's Christian Association) além do Christian Endeavor (igreja congregacional) e
Epworth League (igreja metodista).
A Liga Epworth foi formada em 1890 e, ao contrário das escolas
dominicais, onde meninos e meninas eram ensinados separadamente, mantinha a coeducação.
A Liga possuía duas divisões:
 Liga Júnior (entre 10 e 12 anos)
 Liga Sênior (entre 13 e 18 anos)
85

A finalidade da Liga era treinar novos membros para uma vida religiosa,
pessoal e para a liderança futura da Igreja. Os membros da Liga Epworth tinham estudos
bíblicos, organizavam eventos sociais e arrecadavam dinheiro.78

 Sociedade de Auxílio às Senhoras (Ladi’es Aid Society)

Durante as décadas de 1860 e 1870, as senhoras tornaram-se famosas por


acolher pessoas da Igreja nas conhecidas ―reuniões de chá‖ ou as chamadas ―Soirees‖ — uma
festa noturna formal, que, muitas vezes, incluía uma performance musical. Os anúncios eram
frequentemente colocados no jornal local, convidando o público em geral a juntar-se aos
membros da igreja para uma boa conversa e vários programas compostos de leituras e música.
As pessoas eram convidadas a participar a partir de uma pequena taxa nominal. Na década de
1880, a igreja entrou em dificuldades financeiras e num esforço de fortalecer a Igreja esses
encontros de mulheres foram oficializados em uma Sociedade, criando-se assim a Sociedade
de Auxílio à Senhoras.79
Nas edições do Advocate, é possível encontrar, ainda, Liga Infantil, Liga
Juvenil, Joias de Cristo, Sociedade de Auxílio à Mulher, União de Temperança Cristã da
Mulher no Brasil80 e a Sociedade das Crianças. Percebe-se que, no Brasil, houve alguma
modificação nas nomenclaturas das Sociedades, mas todas elas derivadas das duas principais:
Liga Epworth e Sociedade de Auxílio às Senhoras.
O primeiro registro dessas organizações pode ser encontrado na edição de
julho de 1893, na seção que descreve as determinações da 15ª Reunião Anual do CMEM. Na
ocasião, Sra. Brelsford ―trouxe, do Brasil, saudações da União de Temperança Cristã da
Mulher no Brasil‖, possivelmente criada em Piracicaba por ser seu local de atuação.
Na edição de abril de 1897, Amélia Elerding, ao relatar o trabalho de
visitações das chamadas Mulheres da Bíblia, afirma:

78
Sobre o assunto, ver: Igreja Metodista – Sociedade de Conferência de Nova Iorque
(http://www.nyac.com/theepworthheralddec2009) e http://www.epworthleague.org/ Acesso em 02 de fev. de
2017.
79
Sobre o assunto, ver: https://www.trinityunitedkw.ca/our-history-1/2016/10/19/the-ladies-aid-society Acesso
em 02 de fev. 2017.
80
A União de Temperança Cristã da Mulher (WCTU) foi fundada em Cleveland, Ohio, em novembro de 1874.
Ela surgiu da ―Cruzada da Mulher‖ do inverno de 1873-1874. Inicialmente, grupos em Fredonia (Nova York) e
Hillsboro e Washington Court House (Ohio) realizaram, após uma palestra, protestos não violentos contra os
perigos do álcool. Normalmente, as donas de casa silenciosamente caíam de joelhos em orações em salões locais
e exigiam que a venda de bebidas alcoólicas fosse interrompida. Em três meses, as mulheres haviam levado
bebidas alcoólicas de 250 comunidades e, pela primeira vez, sentiram o que poderiam conseguir estando unidas
em uma organização.
Sobre o assunto, ver: http://scholarship.law.wm.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1273&context=wmjowl e
https://www.wctu.org/history.html Acesso em 19 mar. 2017.
86

Em outubro organizamos a Sociedade de Auxílio às Senhoras da congregação


brasileira. Nos encontramos a cada duas semanas. Nosso foco é promover os
interesses espirituais, sociais e financeiros da Igreja e ao mesmo tempo conceder às
irmãs algo preciso para ser feito para que elas possam ser preparadas e moldadas
para serem ativas trabalhadoras cristãs (WMA, abr. 1897, p. 303-304).

Segundo Watts, em edição de junho de 1888, em cada lugar que existisse


uma mulher sediada, havia sociedades de auxílio nas igrejas e escolas. A arrecadação
financeira dessas Sociedades ajudava a sustentar projetos, investir em construções de igrejas e
escolas e ainda ajudar a pagar o salário de professoras e missionárias.
Ainda segundo Watts, em 1898, Petrópolis possuía duas Sociedades de
Auxílio à Senhoras, uma inglesa e outra brasileira e que arrecadaram em 1897, 5 contos de
réis, ―cerca de $2.500 que hoje pelo Cambio deve ser cerca de $700‖ (jul. p. 365). Em
setembro de 1898, Lily A. Stradley confirma o sucesso das Sociedades afirmando que
―continuam a prosperar e acredito que seja um dos nossos melhores trabalhos (p. 83)‖. As
mulheres que participavam da Sociedade de Auxílio às Senhoras também participavam das
visitas com as missionárias, conforme depoimento de Amelia Elerding sobre as visitações em
São Paulo (Nov. 1900 p. 137-140).
Na edição de fevereiro de 1909, Fannie Brown apresenta um relatório da
Sociedade das Senhoras de Piracicaba, descrevendo seu funcionamento. Segundo ela, a
natureza do trabalho parte de um princípio fundamental: promover os interesses espirituais,
sociais e financeiros da Igreja e da causa evangélica. Mas, segundo a missionária, mesmo
considerando as regras gerais criadas para essas sociedades, era difícil implantá-las
plenamente no Brasil, pois os membros nativos tinham muita dificuldade em fazer o trabalho
como elas gostariam, pois, além de serem mulheres muito pobres e ignorantes, não sabiam
nem ao menos ler e escrever.
Também relata que, naquele momento, o principal objetivo da Sociedade
era arrecadar dinheiro para o presbitério e que, vagarosamente, conseguiram acumular
algumas centenas de dólares. A divisão da arrecadação ficaria assim: 50% para o presbitério,
30% para os pobres, 10% para a educação de ministros nativos no Seminário Granbery em
Juiz de Fora e 10% para um fundo geral para aquilo que achassem necessário. Completa
dizendo que não poderia deixar de mencionar o trabalho das LIGAS. Que mesmo na ausência
do pastor, a igreja nunca fechava, pois seus membros faziam um bom serviço. Cita que a Liga
Sênior, Liga Junior, Sociedade de Ajuda às Senhoras, a Escola Dominical e a Igreja
trabalhavam juntas para reformar a igreja e aumentar o espaço de uma sala, antes da
87

Conferência Anual que se realizaria em Piracicaba no mesmo ano. Além das Sociedades
citadas, informava ainda a existência na cidade um Comitê de Caridade para assistência aos
pobres e necessitados.
A primeira referência à Liga Epworth no Advocate data de dezembro de
1899, quando Willie A. Bowman, ao falar desse trabalho no Rio de Janeiro, diz:

Nossa Epworth League tem sido uma grande ajuda. Algumas de nossas jovens que
nunca fizeram nada, hoje lideram reuniões e estão prontas para liderar orações
quando são chamadas (WMA, dez. 1899, p. 183-4).

As Ligas e Sociedades dos jovens se responsabilizavam também pela


arrecadação de fundos para o sustento de missionárias, assim como pela organização e apoio
nas reuniões e conferência. Na edição de novembro de 1902, Watts afirma, ―A Liga Epworth
e a sociedade das crianças, Joias de Cristo, vão apoiar nossa Conferência missionária
(p.175)‖, em Juiz de Fora. Em abril do ano seguinte, Helen Johnston, indica que a Liga
Epworth e a Sociedade Juvenil de Piracicaba eram responsáveis pelo sustento de uma
missionária. Em agosto de 1903, ao escrever o relatório dos trabalhos de visitação no Rio de
Janeiro, Maria Gomes afirma:

A Liga Júnior da qual eu sou a diretora, está fazendo um bom trabalho também. Os
pequenos são interessados, e ficam muito felizes em arrecadar dinheiro para
continuar no trabalho pelo evangelho (WMA, ago. 1903, p. 59-60).

Em outra edição, de novembro do mesmo ano, em nota de primeira página


intitulada Boas notícias do Brasil, há a referência de que as Ligas sustentavam as missionárias
nativas, que recebiam cerca de $950 por ano de salário.
Maidee Smith em Piracicaba, na edição de agosto do ano seguinte, relata
estar interessada especialmente no Departamento Missionário do Trabalho da Liga, que
―sustenta uma missionária e se esforça para aumentar seu salário todos os anos‖ (p. 53).
Em junho de 1907, há uma seção especial dedicada ao Brasil, com um
resumo de todo o trabalho missionário realizado no país até aquele ano. Em determinado
momento, há um registro sobre o trabalho da Liga Epworth e da Sociedade de Auxílio às
Senhoras de Juiz de Fora:

Um bom número de alunas se tornou membro da Liga Epworth e da Sociedade de


Auxílio à Senhoras. Um sala foi alugada na parte central da cidade onde são dadas
instruções para 136 crianças, de graça, cujas despesas são pagas pela Liga, pela
88

Sociedade e por contribuintes particulares. Uma atenção especial está sendo dada ao
treinamento domestico das alunas, um fator tão negligenciado na educação da
maioria das meninas no Brasil.
(...) estão emancipando as meninas tirando do controle dos padres. Libertando-as.
(WMA, jun. 1907, p. 539-545).

Belo Horizonte também possuía suas Ligas Juvenis. Na edição de setembro


de 1907, Branche Howeell registra a existência das Ligas Sênior, Júnior e da Sociedade de
Auxílio às Senhoras. Na mesma edição, diz que as Ligas realizaram uma festa e arrecadaram
$45, mesmo não cobrando entrada. Segundo ela, os participantes doaram espontaneamente.
―Todas as Sociedades da Igreja estão se esforçando para acabar com os débitos da Igreja, e
acho que faremos isso em Julho‖ (p. 111).
No relatório do Colégio Americano Fluminense há a seguinte descrição
sobre os participantes da Liga Júnior:

A escola do Jardim Botânico perdeu muitos alunos por conta da ação dos padres,
mas duas salas pequenas estão cheias e a escola continua seu bom trabalho. Essas
crianças se interessaram pelo trabalho na Liga Júnior (esta Sociedade realiza as
reuniões aqui na escola) e perguntaram se não poderiam se organizar em tal
sociedade. Claro que ficamos contentes com esse desejo deles e fizemos o máximo
para ajudá-los. Estranho dizer que 27 dos 30 membros fundadores eram crianças
católicas, então seu trabalho tem uma pequena diferença das outras Ligas. Eles
resolveram arrecadar fundos para terminar a base da Nova Igreja Metodista
Episcopal naquela seção. Considerando que essas crianças eram de famílias
católicas muito pobres, onde a ignorância e superstição imperavam, é incrível o que
eles querem fazer pela causa (WMA, abr. 1908, p. 472-478).

O trecho demonstra o interesse na participação das Ligas, mas não na


conversão desses jovens, e apresenta uma estratégia bastante comum entre as missionárias:
garantir a participação dos jovens nas atividades, mesmo considerando sua não conversão,
aceitando inclusive formas de atuação diferentes daquelas adotadas nas ligas compostas por
indivíduos convertidos.
Na escola diária do Rio, os jovens participantes da Liga Epworth chegaram
a realizar reuniões literárias nas escolas. Segundo relatório de Maidee Smith,

Pouco antes de a escola abrir, a Liga Epworth realizou uma reunião literária em
nossa casa; e para um observador americano comum certamente seria uma
incongruente mistura de tipos (para brancos e negros, bem vestidos mal vestidos,
89

cultos e ignorantes foram representados), foi uma ocasião muito agradável e todos
pareceram aproveitar.
Depois do programa literário houve uma conversa sobre a história do Brasil com
música, café e bolo (WMA, ago. 1903, p. 59-60).

Além das atividades elencadas anteriormente, outro aspecto interessante


precisa ser abordado. Houve, por parte das missionárias, a aplicação de outra estratégia para
atrair as alunas para atuarem nas Ligas criadas nas escolas e nas igrejas: o investimento em
aulas de música.
Na edição de abril de 1908, Fannie Brown ao falar de Piracicaba diz:

Muitas que não são da Igreja tem se tornado membro da Liga. Muitas delas são
muito afeiçoadas à música e me disseram que isso as atraiu para participar. Diante
desses fatos, tenho as convidado para ajudar na nossa música, e parece que está
sendo bom para elas assim como para os outros (WMA, abr. 1908, p. 475-478).

O interesse pelas aulas de música por parte das alunas e o investimento feito
pelas missionárias para que essas aulas atraíssem as jovens para a escola e para a Igreja é
evidente e pode ser constatado em diversas edições do Advocate (dezembro/1892, maio/1893,
junho/1894, julho/1895, novembro/1899, janeiro/1901, junho/1903, Agosto/1903,
Agosto/1904, outubro/1904, julho/1905, novembro/1906, abril/1908, dezembro/1908 e
janeiro/1909).
Em julho de 1894, Sallie Phillips escreve de Piracicaba dizendo: ―gostaria
de chamar a atenção para uma necessidade que estamos sentindo na escola (Piracicaba). Os
brasileiros gostam de aulas de artesanato tanto quanto aulas de música. Precisamos de
professores para isso! (p. 361)‖. Stradley, também em Piracicaba, conta, entusiasmada, que
―as aulas de música só crescem! Tivemos que contratar outra professora assistente e comprar
outro piano‖ (nov. 1899, p. 144). Em junho de 1903, falando de Juiz de Fora, uma missionária
pergunta, ―Não há um talento musical consagrado na Igreja Metodista do Sul? Precisamos de
professoras de música! (p.449)‖. Em relatório do dia 31 de março de 1903, Elizabeth Davis,
em Piracicaba, afirma que ―as aulas de música tem 40 alunas‖ e por isso teve que comprar
mais um piano. Considerando que a escola abriu o trimestre com 60 alunas, parece
significativo o investimento nessas aulas.
Fica clara a estratégia das missionárias em garantir a participação das jovens
alunas nas Ligas também com o incentivo das aulas de música, evidenciando a importância
dos dois empreendimentos dentro das escolas.
90

As Ligas e Sociedades da Igreja Metodista Episcopal do Sul, sediadas nos


Estados Unidos, também contribuíam financeiramente com a missão aqui no Brasil. Além do
pagamento de salario de missionárias e professoras, patrocinavam bolsas de estudos e
enviavam dinheiro diretamente àquelas que representavam determinada Sociedade de
Conferência.
A estrutura de funcionamento dessas organizações ligadas ao Conselho da
Mulher objetivando financiar, organizar, estruturar e apoiar a missão metodista no Brasil
através de sua influência nas igrejas, mas especialmente nos colégios, é mais uma constatação
do protagonismo do movimento feminino dentro da Igreja Metodista no seu projeto
missionário.

3.5 O embate entre metodismo e catolicismo a partir da atuação das missionárias

O conflito entre católicos e protestantes no período entre o final do século


XIX e início do século XX é matéria largamente estudada, conforme já analisado na
introdução desta pesquisa. Entretanto, para entender como se deu o estabelecimento da missão
metodista no Brasil a partir da participação das mulheres buscando um possível protagonismo
nesta ação, é importante conhecer como essa contenda aparece nas páginas do Advocate e de
que maneira influenciaram na atuação dessas missionárias, especialmente dentro das escolas.
A relação religião e desenvolvimento era comumente usada pelas
missionárias estabelecendo a dicotomia catolicismo versus atraso em contraponto ao
protestantismo versus desenvolvimento. Uma concepção de mudanças baseada em um modo
de ser e de viver considerado como um ideal de civilização, postura própria da discussão
sobre americanismo e destino manifesto.
Em 1884, há a reprodução no Advocate de um artigo publicado em outro
periódico, o Wesleyan Christian Advocate sobre o Colégio para meninas no Rio. Nele, a
afirmação de que ―o colégio segue uma ampla e semelhante filosofia Cristã Protestante‖ com
o sonho de ―purificar, restaurar e realmente salvar do pecado e da morte qualquer país
inteiramente Católico Romano. A Igreja Cristã Protestante deve educar as crianças, libertar a
mente e, especialmente, libertar o instinto materno‖ (p. 9), neste ponto referindo-se à
formação da mulher.
Na edição de abril de 1889, Watts afirma:

Em todo o lugar que vou é possível ver as falácias ditas pela igreja romana e como
as pessoas os seguem. Nos Estados Unidos os rituais são mais civilizados, polidos,
91

as cerimônias ficam dentro dos templos e não fazemos ―paradas‖ nas ruas. Mas nós,
protestantes, não temos o poder de lidera-los (WMA, abr. 1889, p. 4-5).

A primeira reunião do Conselho da Mulher no Brasil reafirma as palavras de


Watts. O relatório elaborado pela Secretária Mattie Jones aponta as discussões realizadas na
reunião.

A política do catolicismo é para cegar e degradar e é sustentada pela ignorância do


povo. (...) Estabelecer uma escola do lado de nossas igrejas (referindo-se à prática
dos protestantes), é o testemunho vivo de que nossa religião educa, eleva e não tem
medo da luz intelectual (WMA, mai. 1899, p. 4-6).

Em artigo intitulado As crianças do Brasil, a autora, depois de descrever


alguns costumes envolvendo as crianças no Brasil, afirma que sobre a religião não aprendem
para se desenvolverem intelectualmente ou reforçar seu caráter, mas ―para repetir orações‖.
Que, quando os pais são ricos, os filhos vivem com as governantas, mas que a maioria é pobre
e ―vivem na escuridão de casas sujas‖. Que as crianças não têm modos e se divertem
brincando nas ruas. Que quando mais jovens, são lindas, mas que rapidamente perdem a
beleza devido à situação precária em que vivem. Critica os rituais brasileiros diante da morte
de uma criança. Lamenta que os brasileiros não saibam nada sobre ―o bom Pai e Salvador‖, e
completa:

De fato, a América do Sul é quase uma terra de pagãos. A maioria acredita numa
religião cheia de idolatria, o romanismo católico. Este é o vislumbre das vidas
estreitas levadas por essas pessoas no apego forte da idolatria e superstições. Agora
olhe para a América do Norte, com sua Bíblia aberta, seu puro evangelho, sua fé
protestante. Essas duas nações mostram para o mundo a pura religião de Cristo em
contraste com a negra superstição de um povo dominado por seus sacerdotes. A
América do Norte é um poder na civilização do mundo. A América do Sul é
servil e ignorante. (grifo meu)
(...) A Bíblia é um livro proibido, Cristo é escondido pela superstição e obstinação
dos padres, e as massas do povo estão quase tão longe de Jesus como são as nações
da Índia (grifos meus) (WMA, dezembro 1906, p. 248-249).

As palavras em destaque da autora ratificam o caráter civilizador da religião


protestante com relação ao Brasil e também o significado da missão para essas missionárias,
especialmente com relação à necessidade da formação pela educação escolar. Formar e
converter país e cidadãos a fim de levá-los para o caminho da elevação moral e salvação. Uma
92

máxima que também pode ser resumida nas palavras da missionária Eunice Andrew,
referindo-se ao trabalho realizado nas igrejas e escolas, ―certamente o país é carregado de
superstição, adoração aos santos e à Virgem Maria. Este é um bom país. O que é realmente
necessário aqui é a redenção do evangelho‖ (jul. 1908, p. 22).

3.6 Os caminhos do proselitismo metodista, traçados pelas missionárias

Já foi exposto nesta pesquisa o proselitismo metodista em realizar a missão


pela via da educação. Dentro da discussão que está sendo feita neste capítulo, alguns trechos
publicados no Advocate são essenciais para entender de que maneira ocorreu esse
proselitismo a partir da ação das missionárias nas escolas.
Os colégios metodistas instalados no país possuíam semelhante estrutura de
organização. Havia uma orientação do Conselho Principal de que não poderia haver a
instalação de escolas sem que antes um pastor ou grupo de missionários (em conjunto com
missionárias ou não) tivesse iniciado o trabalho religioso, independentemente da construção
ou não de igrejas. Após esse trabalho inicial, ficava autorizada a instalação de um colégio (em
prédio próprio ou alugado) e obrigatoriamente após ou concomitantemente à construção do
mesmo deveria haver a construção de uma igreja.
Reiteradas vezes as missionárias e professoras faziam questão de registrar as
possíveis conversões realizadas nas escolas, mas também relatavam as dificuldades
encontradas nessas conversões, especialmente pela resistência dos pais.
Na edição de setembro de 1885, Jennie Kennedy enfatiza que ―o trabalho
entre os brasileiros ainda não produziu visíveis frutos‖ e que o ―terreno entre estas pessoas é
realmente muito difícil de cultivar.‖ Completa lamentando a necessidade dos brasileiros na
adoração aos santos, assunto reiteradas vezes publicado no Advocate. Mas, termina sua fala
relatando conversões que aconteceram e diz ―orar para que mais pessoas se convertam‖ (p. 3).
Em novembro de 1886, Mary Bruce diz que recebeu um pai reclamando de
que não deveriam ensinar religião na escola, que ―isso era obrigação dos pais‖. Afirma ter
perdido alguns alunos por esse motivo e completa, ―ficamos impacientes em ver os resultados
algumas vezes, e ficamos sem acreditar que voltarão depois de algum tempo‖ (p. 4).
Afirmação também é feita quando transferida para Piracicaba, quando afirma ter perdido
alguns alunos por conta da oposição feita pelos padres católicos e também pela resistência dos
pais, que acreditavam no modelo educacional do Colégio, mas resistiam ao protestantismo.
Watts, na edição de junho de 1892, ao falar sobre as aulas da Bíblia
ministradas no Piracicabano, diz que as crianças ―ficam impressionadas em conhecer as
93

verdades da bíblia, mas que os pais combatem qualquer influência que conseguimos ter sobre
os alunos‖ e que ―nosso trabalho sofre pressão e influência dos pais, mas devemos olhar para
os resultados futuros!‖ (p. 369). Ainda em Piracicaba, na edição de dezembro do mesmo ano,
Sallie Phillips desabafa: ―temos um grande número de alunos católicos, suspiramos para que
mais deles não sejam. Tudo o que podemos fazer é ter fé e esperar. Rezem por nós e para
essas 109 almas sob nossos cuidados‖ (p. 168).
Em janeiro de 1893, Watts reclama da saída de alunos do Piracicabano e
que ―as crianças são facilmente vencidas para Jesus, mas os pais somente o querem na cruz ou
numa figura de gesso‖. E completa:

Temos uma bela congregação e sempre convidamos dois ou três para participarem,
mas muitos não aguentam o suficiente para se tornarem membros efetivos. Isso
custa muito a eles, e é quase como um ostracismo social. Quando persistem, dividem
a família. Alguns não conseguem suportar o calor escaldante de perseguição e assim
desistem (WMA, jan. 1893, p. 203).

Nas páginas do Advocate, é possível constatar uma necessidade das


missionárias em convencer os membros do Conselho da Mulher e da igreja do sucesso nas
conversões, mas, ao mesmo tempo, as publicações também demonstram o fracasso dessa
empreitada.
Em junho de 1893, Mary Bruce conta com alegria que algumas alunas
foram para a Igreja, e que uma dela apresentou até uma autorização do pai em resposta ao seu
pedido de se tornar metodista. Em dezembro do mesmo ano, um extenso artigo intitulado
História da Igreja Metodista no Brasil relata a história de um homem que se converteu e toda
a sua saga para confirmar sua fé. Em agosto de 1896, Watts conta a história da conversão de
uma aluna e toda a alegria em torno do fato, mas termina lamentando que a conversão não se
efetivou, pois a aluna não teve o apoio da família para que fosse aceita na igreja.
Em junho de 1888, Watts lamenta que, depois de conseguir mais de
cinquenta matrículas de uma vez no Colégio em Petrópolis, por diversos motivos os alunos
saíram da escola, mas esclarece que um desses motivos residia no fato de que na escola, a
Bíblia obrigatoriamente era lida. Em fevereiro de 1900, ainda em Petrópolis, Watts diz estar
feliz com a conversão de dois alunos, mas posteriormente afirma que os mesmos ainda não
perderam suas superstições e passaram da fé infantil para ―alguma coisa melhor‖.
Na edição de abril de 1901, ao falar sobre a missão no Brasil, Watts afirma:
94

O Colégio Piracicabano não converteu todos seus alunos, não porque as crianças não
quiseram, mas porque os pais disseram "não", mas certamente o Colégio fez algo
ótimo para as garotas daquela cidade. Poderia parecer motivo de orgulho para minha
pessoa contar o que eu vi lá, mas fiquei contente mesmo enquanto sentia uma forte
frustração porque muitas delas não eram Cristãs Protestantes. Orei fervorosamente
no início para que eu pudesse ter todas as almas que vieram até mim e assim, não
perder a esperança, mas esperarei na outra margem por aquele dia feliz, para ver
quantas dessas almas a Ele foi permitido salvar (WMA, abr. 1901, p. 299).

Em janeiro de 1904, L. A. Stradley de Piracicaba afirma: ―no próximo


domingo três ou quatro de nossas meninas serão recebidas na igreja e mais três são
candidatas, mas não recebemos ordens de seus pais para torna-las protestantes‖. Na mesma
edição, falando de Ribeirão Preto, Ada May Stewart diz:

Três dos quatro que se retiraram da escola, tenho certeza que saíram por causa das
lições da bíblia. Não faz muito tempo, um de nossos antigos alunos me disse que sua
mãe queria que ele fosse dispensado dessas lições. Obviamente ele disse que
continuaria. (...) Os pais sabem que ensinamos a Bíblia, ainda sim enviam seus
filhos, normalmente por apenas um mês, e de repente, sem nenhuma palavra eles
desaparecem.
Na opinião dos pais, os versos e histórias da bíblia que os pequenos aprendem são
perigosos demais. (WMA, jan. 1904, p. 257)

Em novembro de 1904, a mesma Ada May Stewart, falando de Ribeirão


Preto diz: ―quando olho ao redor e não vejo comparativamente resultados espirituais nos
alunos, sinto que não estou fazendo meu dever, que muito está faltando‖ (p. 183). Na edição
de julho de 1905, Helen Johnston publica que uma aluna de Piracicaba disse: ―essa é uma
escola muito boa, pena que seja uma escola protestante‖ (p. 29).
Na edição de dezembro de 1907, Emma Christine em Juiz de Fora afirma:
―se o trabalho for julgado por apenas os resultados de um dia o um período é motivo de
desânimo. Mas, comparando o progresso com os anos anteriores, então estão realizando na
escola o propósito do Senhor‖ (p. 282).
Nas edições de dezembro de 1909, além de janeiro, junho, agosto, outubro e
novembro de 1910, há relatos das missionárias falando de conversões nas escolas que não se
realizaram, pois as alunas não conseguiram autorizações dos pais.
95

As missionárias trabalhavam em conjunto nas escolas e nas igrejas na


tentativa de conversão dos alunos e da comunidade em geral. As escolas dominicais81
(característica marcante das religiões protestantes, em especial a metodista), por exemplo,
serviam como locais de evangelização e doutrinação. No Brasil, com a dificuldade encontrada
pelas missionárias em converter os indivíduos, também se tornaram espaços de socialização,
oração, leitura do evangelho e entonação de hinos religiosos, como um caminho para a
conversão. Para as missionárias, era necessário levar os alunos a participarem das escolas
dominicais.
Para Jennie Wallace, na edição de novembro de 1884, uma das estratégias
para atrair alunos para a escola dominical era doar roupas e objetos para a caridade e, assim,
―trazer crianças para nossa escola dominical para ficarem sob nossa influência, creio que não
poderiam chegar de outra forma‖ (p. 3). Em janeiro de 1899, Amélia Elerding, em São Paulo,
desabafa que seu desejo era que os dez alunos, entre meninos e meninas, da escola dominical
aceitassem Cristo e se tornassem cristãos ativos. Em fevereiro de 1894, no relatório da Escola
Diária no Rio, Ella Granbery indica outra estratégia para se aproximar das famílias brasileiras
e assim facilitar esse relacionamento para, segundo ela, esclarecer ao máximo os brasileiros
sobre o caráter emancipador do metodismo: induzir os alunos para participarem da escola
dominical. Maidee Smith, em relatório do Colégio Piracicabano, em agosto de 1904, afirma:

As jovens da cidade que compõe minha escola dominical não são muito
espiritualizadas, muitas não são membros da igreja, mas eu as amo, e mostram
perseverança em seu nome. A fé dará a vitória (WMA, ago. 1905, p. 53).

Analisando as publicações no Advocate, nas notícias relacionadas com o


Brasil, é possível perceber o seguinte movimento: o projeto missionário metodista no Brasil
partia do princípio de que as escolas, que eram consideradas pelos brasileiros como modelos
educacionais que mereciam ser copiados, se constituíam no espaço privilegiado de conversão
dos mesmos, considerando essencialmente que seus quadros eram compostos de

81
A ideia de uma escola religiosa para crianças pobres e sem instrução começou na Inglaterra no final do século
XVIII. Evangélicos visionários como Robert Raikes conceberam um plano para reunir crianças pobres e sem
instrução nas aulas de educação aos domingos, o único dia de melhorar o futuro da sociedade e de conter a
delinquência desenfreada. Embora nem evangelismo nem treinamento religioso fossem os objetivos expressos
das novas escolas, havia a esperança de que a moralidade ensinada, baseada nas verdades das Escrituras, pudesse
trazer uma transformação no coração das crianças. No início dos anos 1800, as metas das escolas dominicais
estavam mudando, passando a ensinar o evangelho e a doutrina protestante para as crianças. A escola dominical
torna-se então o principal braço de evangelização da Igreja.
Sobre o assunto, ver: http://www.christianitytoday.com/history/2008/august/when-did-sunday-schools-start.html.
Acesso em 02 mar. 2017.
96

representantes das ―melhores famílias‖ das regiões onde foram instaladas. O início do período
republicano contribuiu para a disseminação dessa ideia entre as missionárias. Com o passar
dos anos, sentindo que esse proselitismo não se concretizava, foram usadas outras estratégias,
primeiramente ligadas aos colégios, como as Associações, Ligas e Escolas Dominicais, e
posteriormente, aos trabalhos das ―Mulheres da Bíblia‖, cujas líderes, em sua maioria, eram
missionárias que trabalhavam nas escolas, mesmo que os trabalhos de visitações não
estivessem diretamente ligados às ações nos colégios e visassem especialmente à população
mais pobre.
Os trabalhos de visitações, segundo as publicações no Advocate, começaram
sem caráter oficial em 1886. Em dezembro de 1894, há a publicação do primeiro relatório
intitulado Trabalho da Mulher no Rio de Janeiro. Em janeiro de 1896, Amélia Elerding,
principal missionária responsável pelos trabalhos de visitações no Rio de Janeiro e São Paulo,
faz uma longa descrição desse trabalho nos cortiços e afirma: ―é uma das funções mais
importantes para a evangelização dessa grande capital do Brasil‖. A partir dessa publicação,
os relatórios de visitações são constantes, em seção especial dedicada ao assunto. De 1903 em
diante, o trabalho de visitação aparece em destaque nos chamados Relatórios Escolares,
continuando assim até 1910. Um dado significativo, pois indica, pela primeira vez, o trabalho
de visitações nas páginas do Advocate hierarquicamente mais importante do que os relatórios
sobre as escolas.
Esse movimento missionário que começa nas escolas passa pelas
organizações das Ligas e posteriormente fortalecido pelos trabalhos de visitações foi resultado
da atuação das missionárias do Conselho da Mulher na missão metodista no Brasil. O relato
desse trabalho nas páginas do Advocate, revelando possibilidades, desafios e fracassos, além
de encaminhamentos feitos por parte do CMEM, demonstram o poder de decisão dessas
mulheres e seu protagonismo no projeto missionário do metodismo norte-americano no
Brasil.

3.7 Outros aspectos ligados às escolas metodistas: escola pública, bolsas de


estudos e formação de professoras

Um dos marcos discursivos do movimento republicano era a regeneração da


nação via educação a partir da disseminação da escola primária pública, laica e gratuita,
simbolizada pelos chamados Grupos Escolares. Sem entrar do debate acerca das
representações produzidas pela historiografia sobre a educação escolar republicana, é fato que
97

o período da chamada Primeira República se caracterizou pelas políticas de


institucionalização, disseminação e democratização da educação escolar no Brasil.82
Os colégios metodistas não passaram incólumes por esse momento
histórico. Além dos problemas relacionados à manutenção das alunas nos colégios por conta
das questões religiosas, esse momento de incremento da escola pública no Brasil também
dificultou o trabalho das missionárias.
Em junho de 1898, há o primeiro registro das dificuldades que começam a
ser encontradas por elas na concorrência com a escola pública. Para Watts, ―o sistema de
escola pública em Piracicaba melhorou muito, e muitos das nossas alunas foram atraídas para
ela‖ (p. 364).
Na edição de abril de 1902, Elizabeth Speed, ao relatar as dificuldades
encontradas em Piracicaba, afirma: ―as escolas públicas são os maiores obstáculos para nosso
trabalho aqui, mas sabemos que elas são uma grande benção para as pessoas pobres que não
podem pagar por educação‖. Não termina sem antes dizer: ―Na verdade, o sistema público
escolar do Estado de São Paulo, que é o melhor do Brasil, se deve à existência da instrução
americana‖ (p. 303), referindo-se à reforma da instrução pública de São Paulo realizada em
1890 que partir de pressupostos baseados no modelo norte-americano de educação.83 Em abril
de 1903, Layona Glenn conta sobre a dificuldade de manter as professoras nas escolas do Rio
de Janeiro diante das vantagens da escola pública:

É muito difícil por diversas razões, preparar bons professores cristãos. Há


comparativamente poucas mulheres cristãs capazes de ensinar. Destas, muitas vão
trabalhar nas escolas públicas, pois é a profissão mais lucrativa para a mulher aqui, a
média de salário de uma professora assistente é de sessenta dólares por mês, e para
uma professora formada, cem dólares com moradia. Todas as graduadas na Escola
Normal podem ser uma professora da escola pública, e ter um salário vitalício. Claro
que é uma grande tentação para as mulheres cristãs. Não podemos pagar tal salário
ou oferecer tais incentivos, portanto é difícil conseguir boas professoras. (...)
Somente aquelas que estão verdadeiramente interessadas na evangelização de seu
país, ou que não conseguiram o diploma da escola normal, estão dispostas a aceitar o
salário que podemos oferece pelo trabalho na nossa escola (WMA, abr. 1903, p.
370).

Na edição de outubro de 1907, Watts lamenta a saída de alunos do Colégio


Isabella Hendrix, em Belo Horizonte, por conta da abertura de novas escolas públicas, ―neste

82
Sobre o assunto, ver Schueler e Magaldi (2009).
83
Sobre o assunto, ver Vieira (2006).
98

trimestre um bom número de alunos foi retirado e eles podem se matricular na escola pública‖
(p. 161). O mesmo lamento aparece na edição de janeiro de 1909. Blanche Howell, de Belo
Horizonte, escreve para o Advocate, edição de julho do mesmo ano, dizendo que ―o governo
continua tentando fazer da escola pública a melhor possível‖ e que ―um moderno sistema de
educação está sendo implementado, mas ainda está no começo‖ (p. 39). Trulie Richmond, de
Piracicaba, diz:

Há 28 anos atrás quando nossa escola começou, não existia outra escola na cidade.
Agora há uma dúzia ou mais de escolas públicas, primárias e secundárias, além das
escolas católicas.
(...) É verdade que os métodos de ensino e de administração estão longe do ideal dos
Estados Unidos, mas estão dando um grande passo no avanço (WMA, jul. 1904, p.
30-31).

Hellen Hickman, ao reclamar para o Conselho da má qualidade das


instalações do Colégio Americano Fluminense, diz:

Podemos esperar que os pais católicos mandem seus filhos para essas escolas, que
são gratuitas, ou para nossos prédios sem atrativos e inadequados?
Pode o Conselho da Mulher pagar pelo melhor tipo de escola americana nesta
capital do Brasil? É o único tipo que pode se contrapor ao catolicismo romano. (...)
É triste pensar que esta escola está morrendo, mas sob essas condições é inevitável.
(...) Que parte devemos servir para dar uma religião de esperança e alegria às
mulheres do Rio? Uma cidade que precisa de Cristo, pois está envolta em pecados
não mencionáveis (WMA, fev. 1910, p. 288).

As publicações demonstram como se deu o movimento das escolas


metodistas diante dos investimentos nas escolas públicas brasileiras no período da Primeira
República. Esses ajustes para a manutenção e sucesso das escolas também passaram por
questões ligadas à formação dessas professoras e o investimento nas bolsas de estudos, meios
que poderiam incrementar o funcionamento dos colégios.
As missionárias preocupavam-se com a formação de professoras nativas
para a continuidade do trabalho educacional e de conversão nas escolas instaladas no Brasil.
Uma das estratégias para a formação dessa mão de obra era o investimento na formação
dessas meninas a partir do financiamento por bolsas de estudos, das Sociedades de
Conferência originárias das missionárias, ou de qualquer outra fonte destinada pra tal fim.
Estratégia pensada apenas a partir de 1901, quando Layona Glenn afirma que no Rio de
99

Janeiro, elas possuem meninas estudando de graça na condição de continuarem a trabalhar na


escola como professoras, no final de sua formação. Argumenta então que é uma solução para
a formação das professoras, mas que traz despesas para a escola. Diz, então, o seguinte: ―Se
alguém ou alguma sociedade pudesse pegar algumas dessas meninas para uma bolsa de
estudos, nos ajudaria imensamente!‖ (out. 1901, p. 115-116).
Na edição de agosto de 1903, já há o registro de Bolsas de Estudos
financiadas por particulares ou Sociedades. Em Petrópolis, Eliza Perkinson agradece a Annie
Ship e Jennie Shepherd pelas duas bolsas de estudos, afirmando que as contempladas estão
―colhendo os benefícios da ajuda‖. Na mesma edição, há a publicação de um relatório
descritivo das bolsas em Piracicaba, feito por Elizabeth Davis,

Bolsas de estudo mantidas em Piracicaba


- Inez Carterberry, de Fayetteville e Bentonville Juvenile Societies em Arkansas,
dada a Roemi Andrade. Dinheiro recebido no último mês de junho de 1902. Bolsa
de estudo dada para a escola em outubro de 1900.
- Georgetown, Tex. Dado para Valeria Volmer. Ultimo pagamento recebido em
Junho de 1902. Bolsa de estudo dada para a escola em Outubro de 1901.
- ―Ethel Witt Childress‖, dado pela senhora Newton Allen, de Pulaski, Tenn. Em
Junho de 1901. Ultimo pagamento recebido em Junho de 1902. Bolsa de estudos
dada para Adelina D´Almeida. Esta menina, espero, se tornará uma mulher da bíblia.
- ―Mary Finlay Montgomery‖, mantida pela Liga Epworth, Grenville, Recebido em
Junho de 1902 e dado para Anna de Mattos. Uma criança promissora, se sua saúde
não falhar.
- ―Tillman Page Memorial‖, mantida pela Liga Eptworth, Greenville, Recebida em
Junho de 1902 e dada para Maria de Mattos.
(WMA, ago. 1903, p. 63-64).

Na edição de outubro de 1904, Layona Glenn reforça o pedido de bolsa para


as alunas reiterando a importância de que se formarão professores para continuarem atuando
nos colégios. Em agosto de 1906, há a publicação de outro relatório sobre a distribuição e
bolsas na missão brasileira.
Em julho de 1907, na 29ª reunião anual do CMEM, determina-se o valor de
$40 para bolsas de estudos em todas as missões do Conselho: a relação bolsas de estudos e
formação de professoras indica mais uma estratégia da missão estrangeira metodista no Brasil
na estrutura e organização das escolas no país e o movimento inicial de entusiasmo e
posteriormente de preocupação no inicio do período republicano. Entusiasmo com as
mudanças que poderiam ser propícias para a inserção do metodismo no Brasil e a
100

preocupação com a perda de alunos diante dos investimentos nas escolas públicas.
Acontecimentos registrados nas páginas do Advocate capaz de mostrar como se deu a atuação
das mulheres missionárias nesse empreendimento.
101

Capítulo 4

Os Colégios Metodistas do Conselho da Mulher – Espelhos de um projeto missionário

As pesquisas de Hilsdorf (1977), Mesquida (1994), Mendonça (1995),


Nascimento (2005), Vieira (2006), Cordeiro (2008), Borin (2010), Santana (2012), Plácido
(2014), Pinheiro (2015) e Silva (2015) permitem afirmar que, no período entre o final do
século XIX e início do século XX, o Brasil possuía terreno fértil para o investimento do
movimento missionário protestante, especialmente o metodista, no concernente à educação. A
identidade metodista esteve, desde sua origem, inseparavelmente ligada a um projeto
educacional e as missionárias estavam convencidas da necessidade de realizar essa missão
pela via da educação.
O tema educação já fazia parte do discurso civilizador do movimento
republicano antes mesmo da proclamação. Com o advento da República e do Estado laico, as
estruturas educacionais, sustentadas pela influência da Igreja Católica, sofrem um abalo
significativo com a inserção do protestantismo que trazia para o país possibilidades de uma
alternativa frente à educação tradicional, com novas tendências e perspectivas, especialmente
por representarem um modelo norte-americano idealizado para modernizar a sociedade
brasileira a partir da educação escolar.
A abertura de escolas pelo CMEM poderia passar por dois caminhos: uma
indicação do próprio Conselho — nesses casos havia um trabalho direcionado na arrecadação
de fundos e sustentação do projeto —; ou indicação das missionárias e também de presbíteros
e/ou pastores de determinada região. Lembrando que havia uma orientação do Conselho
Principal de que não poderia ocorrer a instalação de uma escola sem que antes houvesse a
―abertura de serviços‖ na localidade.
Mas, de que forma se deu a atuação das missionárias em cada colégio
sustentado pelo Conselho da Mulher? A seguir, alguns aspectos específicos dessa atuação
para corroborar com a hipótese de um protagonismo feminino na ação missionária dentro
dessas instituições de ensino.

4.1 Colégio Piracicabano

Por ser considerado como o mais próspero colégio metodista instalado no


país, resultado, conforme diversas vezes noticiado no Advocate, devido à atuação de Martha
102

Watts, o Piracicabano já foi tema de diversas pesquisas.84 Entretanto, alguns dados coletados
do Advocate podem contribuir para a comprovação da hipótese de um protagonismo feminino
na atuação das missionárias no movimento metodista no Brasil.
Segundo Vieira (2011),
.
As sementes do Colégio Piracicabano foram plantadas em 1879, através da iniciativa
das irmãs Newman, filhas do imigrante norte-americano rev. Junius Eastham
Newman, morador na região de Piracicaba desde 1869, que com apoio dos irmãos
Manoel e Prudente de Moraes Barros - eminentes advogados que exerciam grande
influência na região - recebeu o convite para se transferir para Piracicaba, a fim de
abrir uma escola que se dirigisse à instrução da mocidade daquela localidade (p.
283).

Tendo como gênese o Colégio criado por Junius Newman, o Piracicabano


foi inaugurado em 13 de setembro de 1881, já sob os cuidados de Martha Watts. Sua
concepção inicia-se com a destinação, pela Sociedade Missionária da Mulher, da quantia de
$1500, integralmente colocados na ordem do tesouro da missão do Brasil para esse objetivo.
Neste valor, incorporados $125 do enxoval e despesas da Srta. Watts, e até julho do mesmo
ano a Sociedade enviou para Piracicaba mais $1000 (Jun. 1881, p. 08-14).
Na edição de julho de 1882 é publicada a notícia da compra do terreno para
a construção de prédio próprio para a instalação do Colégio. Na edição de setembro do
mesmo ano Watts afirma já ter 20 alunos.85
Watts publicava no Advocate trechos das notícias do jornal Gazeta de
Piracicaba em apoio ao Colégio e utilizava esse prestígio para pedir dinheiro e missionárias
para a missão no Brasil, especificamente para Piracicaba. A edição de abril de 1883 apresenta
uma dessas reproduções do Gazeta. Depois da descrição do colégio há uma referência
especial ao trabalho das mulheres missionárias e aos Estados Unidos:

Hoje o Colégio Piracicabano tem três professoras, duas assistentes, e trinta e duas
alunas. Uma Sociedade de Senhoras dos Estados Unidos tem grande interesse em se
estabelecer em bases firmes. Esta Sociedade opera sob o nome de Conselho de
Missões da Mulher da Igreja Metodista Episcopal do Sul. A construção do edifício

84
Zuleica (2001), Hilsdorf (2002), Silva, (2008b), Ramires (2009), Vieira (2011), Lopes (2010).
85
Alunos mencionados por Watts: Maria Escobar, Nora Smith (americana), Maria das Dores Oliveira, Anna
Maria de Moraes Barros, Margarida Diehl, Mary Prestridge (americana), Otto Kiefert (alemão - 6 anos), Dona
Hilaria Santos (aluna-professora), Isabel de Almeida Barros, Eliza de Moraes Barros. Disciplinas mencionadas
por Watts: Álgebra, Aritmética, Geometria, Alemão, Leitura em alemão, Francês, Leitura em francês, Inglês,
Gramática Inglesa, Leitura em Inglês, Gramática Portuguesa, Leitura em Português, Ditado em português,
História Brasileira, História Universal, Ortografia, Escrita, Desenho, Geografia, Botânica.
103

está a cargo do Sr. W. Häusller por mais de $30.000. Terá dois andares e espaço
suficiente para acomodar mais de 30 pensionistas. Eis o brilhante exemplo que nos
dá os Estados Unidos, representado por algumas de suas filhas (WMA, abr. 1883, p.
09).

Os argumentos apresentados no jornal valorizam a criação do Colégio como


uma possibilidade de mudanças no modo de ser e de viver a partir da adoção de um modelo
educacional eleito como transformador: o norte-americano.
Em janeiro de 1884, Watts levanta uma questão por diversas vezes
publicada no Advocate. O prejuízo de não poderem emitir diplomas, procedimento, segundo
ela, não permitido às escolas particulares, e que de certa forma, prejudicava a manutenção das
matrículas nos colégios.
Em abril do mesmo ano, Watts relata com detalhes a visita de Manuel de
Moraes Barros, à época presidente da Câmara Municipal de Piracicaba. Insiste na importância
dos patronos ligados à família Moraes de Barros como fator preponderante de sucesso do
colégio. Em agosto, descreve detalhes do novo prédio e agradece o apoio do Conselho da
Mulher no empreendimento.
Como já dito, contendas envolvendo os pais que questionavam a escola por
ser protestante, são comuns nas páginas do Advocate, assim como a descrição de problemas
relativos à falta de professores, pagamentos de mensalidades, formação de professoras etc.
Mas o fato de Watts ter começado a escola com apenas uma aluna por três meses,
rapidamente aumentando para 32 em menos de um ano e ter 45 alunas matriculadas na
abertura do novo edifício escolar, aumentando no primeiro ano para 70, é motivo de júbilo
nas páginas do Advocate e também exemplo a ser seguido.
O Piracicabano, mesmo considerando as dificuldades enfrentadas pelo
colégio nos aspectos já destacados nesta pesquisa, manteve-se como a principal instituição
educacional metodista no Brasil e como modelo de organização que deveria e poderia ser
implementado em outras escolas no Brasil. Mas, certamente, o trabalho de Martha Watts e seu
prestígio perante o Conselho da Mulher é tema de destaque. No início como missionária,
depois como agente da missão brasileira sua atuação é ressaltada nos relatórios apresentados
nas reuniões anuais do Conselho e nas cartas das missionárias. Em março de 1910, em artigo
intitulado Tributo à Senhorita Watts, Maria Layng Gibson86 escreve:

Por vinte e oito anos, a vida e os trabalhos de senhorita Watts bateu recordes na
história da Igreja Metodista Episcopal do Sul. Uma das primeiras missionárias da

86
Uma das fundadoras da Scarrit Bible and Training School.
104

Sociedade Missionária Estrangeira da Mulher foi sua responsabilidade moldar e


desenvolver uma política de extensão e direção do Reino de Deus no Brasil. Em
todos esses anos teve dificuldades como uma boa soldada de Jesus Cristo. Sua
influência é imortal
(WMA, Mar. 1910, p. 412-413).

Em relatório de março de 1910, publicado na edição de agosto do mesmo


ano, L. A. Stradley menciona que é urgente o envio do dinheiro para a construção do Anexo
Martha Watts no Piracicabano, como uma homenagem à memória da missionária.

4.2 Colégio para meninas no Rio, Escolas Diárias e Colégio Americano


Fluminense

Reverendo Ransom foi o primeiro incentivador da instalação de um


internato para meninas no Rio de Janeiro. Fazia campanhas de arrecadação e publicava no
Advocate os motivos da importância dessa empreitada. Fez a indicação de que esse colégio
poderia ser o Monumento Centenário de Comemoração no Brasil. O ano de 1884 marcava o
centenário de chegada dos primeiros metodistas na América. Segundo a Conferência
Metodista da Igreja Episcopal do Sul, todos os continentes atendidos pelas missões, deveriam
construir ou indicar um prédio escolar que representaria a comemoração desse centenário.
Em fevereiro de 1884, Kennedy publica um apelo no Advocate convocado todos a ajudarem
na construção do Colégio.
O primeiro apoio dado por uma Sociedade de Conferência aparece na edição
de maio de 1884.

Para as mulheres da Sociedade de Conferência do Sudoeste do Missouri:


Na reunião de novembro do Conselho de Missões da Mulher, ações foram tomadas
no que diz respeito às ofertas do centenário que foram feitas pela nossa Sociedade.
O Conselho pensou que seria melhor concentrar essas ofertas para uma grande
finalidade, ao invés de dividir e espalhá-las por muitos assuntos de menor
importância. Em comum acordo recomendaram o aumento do fundo de $50.000
para o estabelecimento de um colégio para meninas na cidade do Rio de Janeiro,
Brasil. Esta ação foi aprovada pelo Conselho Principal e esperamos que nossa
Sociedade possa fazer parte desse grande trabalho (WMA, Mai. 1884, p. 09).
105

Na sequência, a publicação indica as resistências ainda enfrentadas pelas


mulheres por uma participação mais ativa nas decisões do Conselho Principal. Reafirmando a
vontade de fazer parte desse grande trabalho, mas pedindo mais autonomia, afirmam:

Deixe nossas mulheres se unirem aos homens no ―Dia do centenário‖ e nas reuniões
do centenário da conferência distrital, e também em grandes reuniões que podem ser
realizadas pelo presbítero em cada distrito, e deixe o vice-presidente do distrito
sendo ele presbítero ou pastor, apresentar nosso monumento centenário (este é o
nome do nosso fundo para o colégio no Brasil), como um dos assuntos que tem
clamado sobre nosso povo. De modo que aqueles, que assim desejarem, possam ter
o privilegio de contribuir nesse assunto.
Vamos ambos adotar esse método e poder transmiti-lo fielmente. Se fizermos isso,
não tenho dúvidas que nossa pequena Sociedade de Conferência manterá alta sua
bandeira do Evangelho (WMA, mai. 1884, p. 09).

Na edição de junho de 1884, é publicado no Advocate trechos do periódico


Wesleyan Christian Advocate, destacando a importância da construção do Monumento
Centenário no Rio de Janeiro e a necessidade da participação de todas as Sociedades na
arrecadação de verbas para um investimento de $50.000. Segundo a notícia, o Comitê Central
das Missões da Igreja indicou o Colégio do Rio oficialmente como uma das alternativas às
doações generosas vindas de todas as partes dos Estados Unidos para a comemoração do
centenário do metodismo na América, mas que a competência do empreendimento não
competia exclusivamente ao Conselho da Mulher, precisando haver por parte do Conselho
Principal empenho para reunir verbas e garantir uma alta arrecadação.
Na 7ª reunião do CMEM, de 1885, há a informação de que o Conselho não
teria condições financeiras de suplementar o Fundo Centenário para a construção da escola.
No relatório da reunião apresentado no mesmo ano, há uma primeira indicação de resistências
à construção, especialmente por conta da concorrência com o Piracicabano. Assunto que já
aparecia na edição de janeiro do mesmo ano quando Srta. Bruce afirmava que, ―o Colégio no
Rio não irá afetar o Piracicabano pois são longe um do outro. A distância é maior do que
Nashville a St. Louis!‖(p. 3-4).
Em março de 1886, James Kennedy publica uma carta do Advocate
afirmando que todo o dinheiro arrecadado pela Sociedade no Brasil será destinado para a
compra ou construção de um prédio para o Colégio para meninas no Rio. Lamenta não ter
visto mais essa discussão nos jornais.
106

Uma publicação especial do Conselho de Missões da Mulher, sobre o


assunto, aparece na edição de julho de 1886,

O Conselho de Missões da Mulher deseja chamar sua atenção para o assunto sobre o
colégio para meninas no Rio. Dois anos e meio se passaram desde que o trabalho foi
idealizado pelo Conselho de Missões da Mulher baseado em boa fé no entendimento
que este Conselho poderia suplementar a soma levantada pela Sociedade
Missionária para o valor necessário para o estabelecimento do colégio. Na última
reunião anual houve uma insatisfação expressada por não haver nada definido e feito
pelo Conselho de Missões, e o sentimento de muitos foi de abandonar o
empreendimento e usar o dinheiro arrecadado para as urgentes necessidades do
trabalho, mas a moção foi rejeitada a tempo, com o desejo que, em mais um ano,
algum entendimento definitivo seja alcançado. A soma que agora está no Tesouro do
Conselho de Missões para o Colégio no Rio está em $17.298,46 (WMA, jul. 1886,
p. 07).

Diante da resolução do Conselho, as missionárias pedem uma indicação


pontual para o estabelecimento do Colégio, pois, caso contrário, não poderiam efetivamente
iniciar os trabalhos para sua instalação. Não há a publicação de alguma resposta ao pedido,
mas, em julho de 1887, James Kennedy informa sobre a compra de uma propriedade para a
escola. Depois de problemas na obtenção da licença de funcionamento,87 a escola abre em 20
de fevereiro de 1888. As notícias do funcionamento da escola não escapam dos problemas
comuns enfrentados pelos metodistas nos colégios, como falta de professores, falta de verbas,
mas especialmente as dificuldades encontradas devido às epidemias, especialmente de febre
amarela, motivo que levaria ao fechamento do colégio, definitivamente em 1894.
O primeiro relato de dificuldades por conta da febre amarela aparece no
relatório apresentado pela Srta. Bruce publicado em julho de 1891 e não cessam até 1894,
quando, uma nova propriedade é comprada em Petrópolis para realizar a transferência.
Uma publicação de junho de 1895 relata o fato,

O ―Colégio Centenário‖ no Rio - que foi fechado por conta da febre amarela que se
tornou endêmica na cidade – será transferido para Petrópolis, e a senhorita Watts,
nossa missionária pioneira no Brasil irá abrir a escola com os equipamentos obtidos
no campo, até que possa ser reforçado. Senhorita Watts conhece muito bem o chefe
do executivo no Brasil, o Presidente Moraes de Barros, cujas filhas e sobrinhas
foram educadas na escola em Piracicaba. Acreditamos que esse novo trabalho terá

87
Licença concedida em 03/02/1888.
107

uma posição e influência evangélica, pois é verdadeiramente uma cidade edificada


sobre um monte, cuja luz não pode ser escondida (WMA, jun. 1895, p. 359-360).

O fechamento do Colégio Centenário não encerra as atividades educacionais


dos metodistas no Rio de Janeiro. Nas páginas do Advocate, não há uma indicação precisa,
mas indícios de haver três escolas diárias (Escola Diária do Rio, Escola do Catete e Escola
Diária do Jardim), além do Colégio Americano Fluminense, que parece ser a manutenção do
Colégio Centenário, sem o status que lhe foi imputado. Não há uma descrição precisa do
cotidiano desses colégios. Ora são publicados relatórios conjuntos, ora separados. Ora as
escolas diárias aparecem com seus respectivos nomes, ora não. Até 1907 é impossível
identificar claramente as três escolas diárias, mas é possível perceber algumas diferenciações.
As escolas diárias possuíam a vantagem de não possuir pensionatos, o que,
segundo as missionárias, facilitava nos períodos de epidemias, quando a escola precisava ser
fechada. Segundo uma de suas diretoras, Srta. Elerding na edição de novembro de 1895, o
maior problema do Colégio Centenário era garantir o bem estar das pensionistas diante dos
fechamentos constantes do mesmo. Com a transferência da instituição e a manutenção de uma
escola diária, o problema foi minimizado.
A edição de junho de 1907 há um esclarecimento sobre essas escolas no
Rio:

O trabalho escolar no Rio agora comporta três escolas:


O Colégio Americano Fluminense cujo ensino abrange tudo o que é ensinado em
todos os colégios da missão e onde moram representantes do Conselho de Missões
Estrangeiras da Mulher.
A Escola Diária do Catete e a Escola Diária do Jardim88, onde são ensinadas
apenas disciplinas em português e lições sobre a Bíblia.
(WMA, jun. 1907, p. 540-41).

O Colégio Americano Fluminense é o único do Rio de Janeiro cujos


relatórios são mais específicos. Em documento publicado em outubro de 1901, Layona Glenn
escreve:

Nosso colégio atende atualmente 69 alunos.


O espaço está ficando pequeno para nós. Se Deus continuar nos abençoando com
matrículas, onde vamos ficar? O que devemos fazer?

88
Há indícios de que se localizava no Jardim Botânico.
108

Nossa escola está ganhando a confiança das pessoas. Está se tornando conhecida
com um programa escolar, como a única escola do Rio que funciona com princípios
americanos e devagarinho estamos convencendo as pessoas de que a escola
protestante não é do demônio.
Contamos entre nossos alunos, filhos de alguns dos mais proeminentes homens do
país, de modo que estamos alcançando uma classe de pessoas que não poderia ser
alcançada por visitações; uma classe que nunca iria cerrar as portas para a igreja
protestante, ou qualquer outra igreja em muitos casos, e consequentemente nunca
poderia ouvir o evangelho exceto como é levado a eles pelos seus pequenos. Temos
um número de meninas cristãs que estão sendo educadas de graça com o combinado
de que depois, elas sejam professoras e paguem pouco a pouco sua conta. Desta
forma estamos formando nosso futuro corpos de professoras. Se alguém ou alguma
sociedade pudesse pegar algumas dessas meninas para uma bolsa de estudos, nos
ajudaria imensamente. Que o conselho venha em socorro às missionárias ou nosso
navio vai afundar! (WMA, out. 1901, p. 115-16).

O trecho aponta além do proselitismo caraterístico da empresa missionária


metodista, outros aspectos importantes relacionados também às outras escolas instaladas no
Brasil pelo Conselho da Mulher, o financiamento de bolsas e a formação de professoras.
O apelo de Layona Glenn parece ter obtido sucesso. Na penúltima edição do
Advocate, de novembro de 191, há um relatório detalhado dos trabalhos realizados na escola e
o registro de 41 alunos frequentes.89 Não há mais registros das escolas diárias a partir de
1907. Em 1906, há a notícia do fechamento da Escola do Catete por sérios problemas
relativos à administração.

4.3 Colégio Americano de Petrópolis

Com uma média de 37 alunos entre a data de sua fundação (07/05/1895) até
o ano de 1899 e um incremento dessa média para 51 entre 1900 e 1910, o Colégio Americano
de Petrópolis, cuja origem foi o fechamento e transferência do Colégio Centenário do Rio de
Janeiro, iniciou suas atividades sob muitas expectativas:

No Brasil, a duas horas de viagem do Rio de Janeiro, uma grande propriedade foi
comprada na cidade de Petrópolis. Essa cidade era a antiga casa de verão do ultimo
imperador Dom Pedro. Pela linda localização, entre as montanhas, ótimo clima e
agua pura, não pode ser superada

89
Um levantamento do número de alunos nos colégios assistidos pelo Conselho da Mulher pode ser visto em
forma de gráfico Cf. Anexo V.
109

(WMA, jun. 1895, p. 359-360).

No texto há elogios sobre a construção da escola e a notícia de que poderá


acomodar mais de 100 alunos e professores. Na edição de julho do mesmo ano, Martha Watts
descreve o início dos trabalhos na escola:

O Colégio Americano de Petrópolis se tornou uma reconhecida instituição de ensino


no dia 7 de maio de 1895 quando três alunos assumiram seus lugares. Uma aluna
francesa chegou para fazer matrícula e desistiu, pois havia apenas três alunas
(WMA, jul. 1895, p. 12-16).

Ela relembra então o começo em Piracicaba, quando tinha apenas uma


aluna.

Aqui, a localização é três vezes melhor do que a de Piracicaba. O que precisamos


agora é de dinheiro para o mobiliário e para outras despesas. Precisamos
impressionar as famílias para sejam patrocinadores da escola (WMA, jul. 1895, p.
12-16).

Apesar das expectativas e de não sofrer com as epidemias, tão comuns na


cidade do Rio de Janeiro, o Colégio Americano de Petrópolis não ficou imune às críticas por
serem metodistas. Em edição de julho de 1899, Watts relata oposições aos ensinamentos do
colégio:

Nós em Petrópolis temos muitas coisas que nos desanimam e nos sentimos
humilhadas, mas com a graça de Deus, não seremos destruídas. Fomos indo bem até
quando as pessoas descobriram que não estávamos aqui apenas para ensinar línguas,
mas ensinar seriamente, e que a bíblia era um livro. A partir daí eles ficaram com
medo, e muitos retiraram seus filhos. Esperamos nos manter até eles descubram que
a nossa escola é a melhor da cidade
(WMA, jul. 1899, p. 12-13).

Não há mais registros a partir dessa data de problemas enfrentados pelo


Colégio, apenas questões pontuais, como a diminuição do número de alunos quando
Petrópolis deixa o status de capital.90 Segundo Eliza Perkinson, muitos pais eram funcionários
do governo e tiveram que se mudar para Niterói. Em agosto de 1907, Sra. Butler apresenta um

90
Petrópolis foi capital do Rio de Janeiro entre 1894 e 1902, período em que Niterói esteve ameaçada pela
Revolta da Armada. Fonte: http://cidades.ibge.gov.br. Acesso em mai. 2017.
110

resumo dos relatórios recebidos do Brasil e enaltece o crescimento do colégio depois das
dificuldades encontradas.

4.4 Colégio Americano de Taubaté

Na edição de abril de 1880 há os primeiros registros da necessidade de


abertura de uma escola em Taubaté. Mary Kennedy escreve:

Um novo trabalho que precisa ser aberto em Taubaté, uma vila a algumas horas da
estrada central de São Paulo. Senhor Tilly esteve lá há três meses, e está
maravilhado com as perspectivas e ações feitas. Não há nenhuma outra igreja
protestante nesse lugar. Ele foi enviado por um comitê de mais de vinte dos
melhores e mais ricos cidadãos da cidade para implorar às senhoras metodistas – as
professoras americanas protestantes estavam em sessão – a abrir uma escola naquela
cidade assim como feito pela Senhorita Watts em Piracicaba. Eles fizeram ótimas
ofertas e pela urgência, senhorita Watts organizou uma comissão para falar sobre o
assunto. Irmão Jimmie (J. L. Kennedy) e senhor Tilly acham que é uma
oportunidade que não deveria ser desperdiçada, e a senhorita Watts tentará encontrar
uma professora extra para abrir a escola até primeiro de março (WMA, ago. 1890, p.
03-04).

Inaugurado em 05 de março de 1890, o Colégio91 abre suas portas com uma


matrícula de 20 alunos, segundo James L. Kennedy, ―muito melhor do que a abertura do
Piracicabano‖. As notícias envolvendo a abertura foram animadoras. Para Jennie Kennedy,
―temos muitas razões para ficarmos esperançosas, nenhuma das nossas escolas começou tão
bem. Algumas pessoas acham que teremos 30 novos alunos depois da Semana Santa‖. Em
janeiro de 1891, afirma terem 50 alunos e ainda, ―a população é muito católica e acha que
esse é um passo muito difícil para eles. Vejo que cada vez mais eles têm menos medo da
nossa religião‖ (p. 201). O número de alunos aumenta para 60 em fevereiro do mesmo ano.
Na edição de Julho de 1891, Srta. Bruce relata:

Não preciso dizer uma palavra sobre Taubaté. A escola fala por si mesma. Nunca
existiu no Brasil um desenvolvimento tão rápido mostrando que o Senhor se
estabeleceu lá quando abriram a porta (WMA, jul. 1891, p. 24).

91
Assim como a Escola Metodista de Ribeirão Preto (que será descrita ainda neste capítulo), o Colégio
Americano de Taubaté não nasceu da indicação do Conselho da Mulher, e sim dos pedidos do Rev. James
Lillbourne Kennedy. O Conselho não era então responsável pela manutenção do Colégio, obrigação que ficava a
cargo do próprio Kennedy e das missionárias enviadas para a instituição, que tinham autonomia para realizar
campanhas de arrecadação de fundos, tendo apenas a obrigatoriedade de relatar toda a movimentação financeira
ao Conselho.
111

Em Taubaté, a oposição da Igreja Católica à instalação do Colégio também


se fez presente, especialmente na pessoa de Antônio do Nascimento Castro, vigário da cidade.
Na edição de junho de 1890 há a publicação da resposta a uma carta de Fernando de Mattos 92
enviada a Prudente de Morais sobre o Colégio Metodista,

Ao cidadão Fernando de Mattos: em resposta a sua carta do dia 6, eu posso dizer que
considero excelente cada ponto de vista estabelecido pelo colégio em Piracicaba
pelos metodistas da Igreja Episcopal do Sul, e dirigido pela senhorita M. Watts uma
senhora como qualificações excepcionais para esta posição tão difícil. Esta é a
opinião de todos os pais, que como eu, confiou a educação de seus filhos para aquele
colégio, o qual sempre emprega os melhores professores. A cidade de Taubaté tem
muito a ganhar se tiver sucesso o estabelecimento de um colégio como o de
Piracicaba. Você tem liberdade para usar esta carta como desejar (WMA, jun. 1890,
p. 02).

Segundo Silva (2008a), o acirramento das críticas ao colégio acontecem a


partir de 1892, período em que não há mais nenhum registro encontrado no Advocate. Mesmo
gozando de prestígio e com elevado número de alunos, o colégio fecha suas portas e é
transferido para São Paulo em 1894. Os reais motivos do encerramento de suas atividades
ainda não foram esclarecidos.

4.5 Colégio Mineiro de Juiz de Fora – Colégio Isabella Hendrix

Já havia, por parte das missionárias, pedidos de abertura de uma escola em


Juiz de Fora. Mary Bruce, na edição de julho de 1891, ao falar do Colégio Americano de
Taubaté, faz referência à necessidade da abertura de um colégio nas mesmas características,
em Juiz de Fora. Inaugurado em setembro de 1891, o Colégio Mineiro de Juiz de Fora se
manteve por 11 anos, quando é rebatizado de Colégio Isabella Hendrix de 1902 até 1904,
quando volta a se chamar Colégio Mineiro, após a instalação do Isabella Hendrix em Belo
Horizonte.
Com uma média de 60 alunos, em maio de 1894, há um pedido para que o
Conselho da Mulher invista em uma construção adequada para a escola. Pedido reiterado em
janeiro de 1895, quando Senhoria Ross apela para a compra de uma ―casa maior e melhor‖.

92
Fernando de Mattos, nascido em Taubaté em 1852, forma-se engenheiro na França. Volta a Taubaté e exerce a
função de jornalista e político. Foi escritor, produtor rural, abolicionista, delegado de polícia e ofereceu apoio
irrestrito à instalação e manutenção do Colégio Americano de Taubaté (SILVA, 2007).
112

Em outubro de 1897, há referência do aluguel de uma casa maior e o registro de 166


matrículas. Outros pedidos para o incremento das instalações da escola são feitos nas edições
de fevereiro e abril de 1898.
Na 20ª Reunião do CMEM é aprovada a resolução do envio de $15.000 que
devem ser destinados para a compra de um prédio para a escola. Destes, $5.000 seriam
enviados imediatamente e $5.000 das três Sociedades de Conferência do Missouri, pois as
professoras do Colégio Mineiro eram originárias dessas Sociedades. Na edição de Janeiro de
1899, Eliza Perkinson afirma que ―os melhores interesses para a escola é uma construção
próxima do centro da cidade, mas nessa região é muito caro e $15.000 não irão suprir essa
necessidade!‖ (p. 208). A discussão sobre o novo prédio para o Colégio se estende até a
decisão da 23ª reunião do Conselho, que resolve:

(...) assim que as condições sanitárias em Juiz de Fora forem asseguradas, que sejam
tomadas medidas para a construção de um prédio adequado para o Lar e Escola
Isabella Hendrix (WMA, Jul. 1901, p. 21).

A primeira vez que o Colégio Mineiro aparece no Advocate com o nome


Isabella Hendrix, é na edição de janeiro de 1902, ainda sem prédio próprio. Em junho de
1903, na seção Missionary Drill, há a seguinte menção:

Onde estava localizado o terceiro colégio do Conselho da Mulher no Brasil?


- Em Juiz de Fora
Quem é agora a diretora?
- Senhorita Mattie Watts
Qual é a necessidade urgente na Escola Isabella Hendrix neste momento?
- Um prédio permanente para ser a propriedade do Conselho da Mulher (WMA,
Jun. 1903, p. 458-459).

Na mesma edição, Srta. Watts também chama a atenção do Conselho para a


necessidade da compra de um edifício próprio. Essa compra não acontece, mas sim a
discussão sobre a transferência do Isabella Hendrix para Belo Horizonte devido, segundo
Watts, à urbanização pela qual passava a cidade no início do Século XX. Vislumbrando o
crescimento da mesma, o Conselho decide então abrir o Colégio Isabella Hendrix em Belo
Horizonte em 05 de outubro de 1904, sob a direção da Srta. Watts. A 27ª reunião do CMEM
resolve que ―O Instituto Isabella Hendrix será construído imediatamente, com o apoio da
Sociedade de Conferência do Missouri‖ (p. 10). Em agosto de 1905 é publicado o primeiro
relatório do Colégio. No 28ª Relatório da reunião anual do Conselho de 1906, há o registro de
113

que a maior apropriação feita pelo Conselho no Brasil foi pela destinação de $30.000 para a
construção do Colégio Isabella Hendrix em Belo Horizonte. Construção que se estende de
1906 a 1908.
O último relatório do Colégio com número de matrículas é publicado na
edição de agosto de 1910 como registro de 106 alunas.

4.6 Escola Metodista de Ribeirão Preto

Como dito anteriormente, a abertura de uma escola pelo CMEM poderia ser
feira a partir da indicação das missionárias e também de presbíteros e/ou pastores de
determinada região. Este foi exatamente o caso de Ribeirão Preto.
Em agosto de 1899, Bispo Hendrix (responsável pela missão no Brasil)
esteve em Ribeirão Preto e o reverendo E. E. Joiner, presbítero do Distrito, persistiu em suas
solicitações para a abertura de uma escola na região. O Bispo autoriza então a instalação da
escola, desde que não houvesse nenhum gasto para o CMEM. Srta. Leonora Smith é indicada
para a empreitada. A escola abre em 05 de setembro de 1899 com 11 alunas. A
responsabilidade sobre o funcionamento e manutenção da escola, neste caso, não estava
exclusivamente a cargo do Conselho da Mulher. As arrecadações para essa manutenção e
investimentos deveriam partir das próprias missionárias e da Igreja em Ribeirão Preto, que
tinham autonomia para realizar campanhas de arrecadação de fundos, relatando toda a
movimentação financeira ao Conselho. Vale lembrar que tendo sido enviada pelo Conselho da
Mulher, o trabalho de Leonora Smith estava estritamente ligado às orientações do mesmo.
Sobre o início dos trabalhos na escola, ela relata:

Não havendo dinheiro para um aluguel, a igreja foi usada por dois meses. Então o
pastor, Reverendo Jovelino Camargo, gentilmente pegou a escola e as missionárias
para sua própria casa pela mesma quantia que eu estava pagando para o meu
conselho. Desta forma a escola ficou lá até janeiro de 1900, quando, sendo
necessária uma assistente, uma pequena casa foi alugada. Esta serviu por dois meses
para a escola e a missão.
Mudando para uma casa maior, que felizmente foi garantida pelo mesmo aluguel,
ficamos felizes por ter uma pequena sala para respirar, mas a alegria durou pouco
pois após a entrada de novos alunos estávamos novamente cheios. Após as férias de
dois meses, a escola foi reaberta em uma casa que achamos ser suficiente para
acomodar a todos por meses, mas em um curto espaço de tempo, estava cheia como
nunca. Um pensionato parece indispensável, e acredito que na próxima reunião
anual do Conselho enviarão outras missionárias para ajudar a suportar a
114

responsabilidade na escola que está crescendo muito rapidamente como nenhuma


outra dentro dos nossos limites não obstante as dificuldades que encontramos em
cada trimestre. (...) Ribeirão Preto é um distrito quase tão grande quanto o Alabama
e uma das mais ricas regiões de plantação de café no Brasil. Não existe um bom
pensionato para meninas e meninos na região e esses ricos fazendeiros são obrigados
a enviar os seus filhos a escolas distantes, enquanto que muitos não podem pagar e
precisam deixar seus filhos crescerem na ignorância. Precisamos agarrar as
oportunidades apresentadas, a fim de fincar os pés antes que a luta comece. Quem
irá nos ajudar? Você a quem o Senhor confiou seus tesouros, não irá contribuir mais
da sua riqueza para a causa das missões? E você que te apenas um rendimento
moderado, ou, como você pensa, um rendimento escasso, não pode fazer algum
grande sacrifício e fazer parte desse glorioso trabalho para o Senhor? Faça isso por
causa Dele (WMA, mai. 1901, p. 327-329).

A missionária estabelece uma relação direta com o sucesso da escola e a


possibilidade de conquistar patrocinadores entre as famílias mais importantes da cidade,
cenário perfeito para o aumento do número de alunas e as possibilidades de conversão.
Mesmo diante dos relatórios de boas perspectivas da escola, as resoluções
da 22ª Reunião do Conselho são negativas com relação à abertura da mesma em prédio
próprio, mas informa que ―logo que possível o Conselho dará os passos necessários nessa
direção‖ (jul. 1900, p. 09).
Em relatório publicado em janeiro de 1901, há indícios de que Leonora
Smith pediu orientações para o Conselho, pois necessitava alugar uma casa maior para
instalar a escola. Ela afirma ter aguardado essas orientações por semanas, e diante do silêncio
do Conselho, alugou uma casa por no valor de $30 mensais. Descreve todos os gastos que
teve e finaliza o relatório dizendo, ―nossos patronos são representantes das mais importantes
famílias da cidade. A fama da nossa escola excedeu as expectativas, o que irá requerer muito
trabalho e habilidade para manter esse bom nome‖ (p. 210).
As resoluções da 23ª Reunião do Conselho, mais uma vez, não são
satisfatórias diante dos pedidos de Leonora Smith. Há novamente a recusa na compra de uma
propriedade para a escola.
A cidade de Ribeirão Preto é afetada por uma forte epidemia de febre
amarela entre 1903 e 1904 que muda os destinos da escola. A epidemia causa o fechamento
da instituição por diversas vezes e o que poderia ser, portanto, o fim do empreendimento,
acaba se tornando um trunfo. Diante do que foi chamado de ―flagelo em Ribeirão‖ e do
elevado número de mortos e atingidos pela doença, o trabalho das missionárias que atendiam
na Escola Metodista, ajudando a cuidar dos doentes voluntariamente no hospital, de certa
115

forma trouxe apoio da comunidade e do próprio Conselho da Mulher, culminando no sucesso


da instituição.
A edição de junho de 1903, na 25ª Reunião Anual do Conselho, há a
aprovação da seguinte moção,

Que o amor e simpatia deste Conselho seja concedido a nossas corajosas


missionárias que tem trabalhado fielmente durante o flagelo da febre amarela em
Ribeirão Preto, ainda que o Conselho recomende que nossas missionárias não devam
se expor desnecessariamente à epidemia (WMA, jun, 1903, p. 17).

Na edição de agosto de 1903 há o relato das condições em Ribeirão Preto,

Em Ribeirão Preto as irmãs abriram a escola com brilhantes expectativas, e alguns


dias depois tiveram que fechar e as pessoas ficaram apavoradas com a febre amarela
na cidade. Em alguns dias a cidade ficou deserta. O hospital ficou cheio e as irmãs
ofereceram ajuda – Senhoritas Bowman e Stewart. Desde então não pararam de
trabalhar ajudando quem precisava (WMA, ago. 1903, p. 62).

Srta. Bowman, na edição de novembro do mesmo ano, faz seu próprio relato
sobre os acontecimentos,

Eu não sabia o que fazer. Fui para o hospital em 22 de fevereiro (1903). Usei Todas
as lições de enfermagem que aprendi na Training School. Trabalhei muito e os
médicos ficaram muito agradecidos pelo serviço, pois trabalhei com amor e
dedicação. Dificilmente uma família que permaneceu na cidade escapou de ter um
membro da família doente.
Os jornais daqui e de outras cidades ao redor nos elogiaram pelo trabalho que
estamos fazendo, e até jornais do Rio e de São Paulo falam em termos elogiosos,
mencionando o fato que somos protestantes e estamos fazendo o trabalho por amor à
Deus e à humanidade.
Com medo da febre, foi difícil encontrar enfermeiras e empregados para o trabalho.
Então a senhorita Stewart veio ajudar no dia 22 de março. Não há mulheres cristãs
entre as enfermeiras e nem entre os doentes. Eles ficam pedindo aos seus santos.
Senhorita Stewart foi para casa em abril e eu fiquei, todo o mês de maio, até o
último caso. Muitos homens de negócio da cidade foram perguntar se precisávamos
de ajuda e o que eles poderiam fazer para tornar nossa vida melhor. (...) Deus
abençoou nossos esforços que nunca precisaremos fazer uma introdução do nosso
trabalho em Ribeirão Preto e todos entendem agora o que estamos fazendo e a
natureza do trabalho que estamos tentando fazer (WMA, nov. 1903, p. 169-175).
116

Não há registros, nas páginas do Advocate, das decisões tomadas pelo


Conselho depois desses acontecimentos, mas na edição de janeiro de 1904, há a publicação de
um relatório feito em 30 de setembro de 1903 em que Srta. Stewart afirma que foi acertada a
decisão de ter duas casas, uma para a escola e outra para os dormitórios das pensionistas. Que
depois de seis meses de ausência estava feliz em reabrir nessas condições. Layona Glenn,
agente da missão em 1904, faz uma visita a Ribeirão Preto e também relata com entusiasmo o
progresso do trabalho na escola, e completa, ―o trabalho que as senhoritas Stewart e Bowman
fizeram no hospital não foi em vão. Ricos e pobres falam bem delas. Até o padre reconheceu e
falou sobre nós com mais polidez‖ (p. 134).
Na 27ª reunião anual do Conselho, em 1905, é aprovada a compra de um
lote em Ribeirão Preto para a construção de um prédio próprio, ―assim que houver
possibilidades financeiras‖. No relatório publicado da 28ª reunião, há uma menção de que ―a
compra de um loto em Ribeirão Preto foi apressada‖. Na 29ª Reunião em 1907 o Bispo Hoss
ao falar sobre o Brasil, pede urgência na compra do terreno para a construção de um edifício
melhor para a escola.
A última notícia sobre Ribeirão Preto publicada no Advocate em setembro
de 1907, na sessão Missionary Drill, confirma o envio de verbas do Conselho da Mulher para
a Escola, confirmando a transferência de sua responsabilidade para a Sociedade das Mulheres.

Qual a quantia de dinheiro destinada pelo Conselho da Mulher na última reunião


anual para o Brasil?
- $32.125
Quem é a diretora da Escola em Ribeirão Preto?
- Senhorita Leonora Smith
Quanto foi destinado para aquela escolar este ano?
- $3.600
Dê o número de alunos
- 87
(WMA, set. 1907, p. 119-120).

O histórico da fundação e manutenção da Escola Metodista de Ribeirão


Preto é peculiar ao retratar um movimento incomum na criação de uma escola no Brasil,
resultado de uma indicação que não partiu do Conselho da Mulher, e a atuação das
missionárias responsáveis pelo empreendimento num esforço pelo sucesso da instituição,
evidenciando, em alguns momentos, certa resistência do próprio Conselho.
117

4.7 Colégio Americano de Porto Alegre

Segundo Reily (1980) as origens do Colégio Americano de Porto Alegre


remontam a chegada, em 1885, da Professora Carmem Chaccon e de João Corrêa, filiado à
Igreja Metodista Episcopal. Os dois criaram uma igreja e uma escola. Com o falecimento da
professora, o CMEM assume a instalação e envia a Srta. Pescud para iniciar a organização da
escola.
A edição do Advocate de 1907 traz um pequeno resumo do fato,

Em 1900, quando o território ocupado no Rio Grande do Sul pela Igreja Metodista
do Norte foi transferido para a Igreja Metodista Episcopal do Sul e a missão escolar
com cerca de 40 alunos em Porto Alegre foi para o Conselho de Missões
Estrangeiras da Mulher, Senhorita Mary Pescud foi transferida de Petrópolis para
assumir a escola (WMA, set. 1907, p. 103).

Segundo publicação na edição de setembro de 1901, o Conselho da Mulher


―tomará providências, assim que for possível, para erguer e equipar uma casa e escola em
Porto Alegre, uma vez que a construção que agora está ocupada é úmida e escura‖ (p. 21). O
primeiro relatório, de 30 de setembro de 1902, aponta o número de 23 alunos matriculados.
Em julho de 1903, o número já sobe para 41 alunos.
A primeira vez que um relatório apresenta o nome de Colégio Americano de
Porto Alegre é na edição de novembro de 1903, com o registro de 58 alunos matriculados. Em
outubro de 1909, outro relatório informa a existência de dois Anexos ao Colégio Americano:
Anexo I e Anexo II. A edição de agosto de 1910 esclarece que os anexos acomodam as
escolas diárias. Senhoria Della Wright, explica que Porto Alegre possui então três escolas: um
pensionato e duas escolas diárias. Os relatórios dos anexos apresentam 174 alunas
matriculadas em junho de 1909, 150 e janeiro de 1910 e 151 em abril do mesmo ano. Já o
Pensionato, cujos relatórios aparecem como Colégio Americano de Porto Alegre, apresenta
uma média de 80 alunas matriculadas entre novembro de 1904 e outubro de 1910, última
edição com referência ao Colégio. O único registro da construção de um novo prédio para a
instituição data de setembro de 1907 quando Sra. W. S. Butler, depois de fazer um pequeno
resumo da história do Colégio, afirma que ―foi garantida a construção de uma casa bem
construída em um local de boas condições sanitárias. Uma construção grande o suficiente para
abrigar ao mesmo tempo a casa e a escola pelos anos seguintes‖ (p. 104).
Criados a partir de indicações do Conselho da Mulher ou por solicitação das
missionárias e pastores da igreja, os Colégios Metodistas instalados no Brasil, acompanhados
118

pelos relatórios publicados no período de vigência do Advocate, demonstram com detalhes a


atuação das missionárias nesse projeto missionário. Uma atuação pontual capaz de indicar os
direcionamentos dos investimentos realizados pelo Conselho e o modus operandi da missão.
119

CONCLUSÃO

Com o advento das ideias liberais e positivistas veiculadas pelos ilustrados


antes e depois da República, o panorama social do Brasil se transformou. A educação fez
parte integrante do projeto civilizador republicano e o poder da religião católica foi ameaçado
com sua separação do Estado, agora laico, juntamente com a relativização de sua influência
no campo escolar, num processo que havia se estruturado desde o Segundo Império. Esse
poder também foi parcialmente ameaçado com a inserção do protestantismo que trouxe ao
país, a partir da segunda metade do século XIX, possibilidades frente a uma educação
considerada tradicional, pois apresentava novas tendências e perspectivas, especialmente por
representarem um modelo norte-americano idealizado como importante para a modernização
do sistema educacional e consequentemente da nação.
Comparações entre os chamados ―povos avançados‖, em contraposição a
uma sociedade considerada atrasada, foram um discurso que se manteve entre meados do
século XIX e início do XX quando, na disputa entre diferentes padrões culturais, foi-se
produzindo a hegemonia cultural norte-americana, pela criação imaginária de que os Estados
Unidos ofereciam o melhor espelho para a modernidade do Brasil: pela difusão na crença de
que lá, mais do que em qualquer lugar do mundo ocidental, estava concretizada a esperança
no homem novo, ou seja, o homem subjetivamente necessário à modernidade cunhando o
termo americanismo, como a hegemonia dos Estados Unidos sobre o mundo externo
(WARDE, 2000).
Os metodistas estavam convencidos de que, dentre os povos de língua
inglesa, os Estados Unidos eram a expressão mais elevada da civilização anglo-saxônica,
destinada a conquistar o mundo, revelando a concepção do destino manifesto representada no
poder da mensagem civilizatória norte-americana. Um projeto baseado na necessidade de
realizar a missão pela via da educação; na sua influência junto aos grupos que vislumbravam a
educação protestante como uma alternativa à educação tradicional; na ideia de que a religião e
civilização estavam unidas na visão de uma América cristã e no poder da mensagem
civilizatória norte-americana como modelo de vida para outras nações. Projeto que encontrou
ressonância na sociedade brasileira à época.
A chegada de John James Ransom em fevereiro de 1874 marca o início da
chamada Missão Ransom, que efetivamente fincou as bases missionárias metodistas no
Brasil. O reverendo traz consigo outros dois missionários, James William Koger e James
Lillbourne Kennedy, além da primeira missionária enviada pela Sociedade Missionária
Estrangeira da Mulher, a Srta. Mattie Hite Watts.
120

Aprovada em 1878 pela Conferência Geral, a Sociedade Missionária


Estrangeira da Mulher (ligada diretamente ao Conselho da Mulher), teve papel fundamental
na organização das missões estrangeiras da Igreja Metodista Episcopal do Sul. Missões que
iniciaram seus trabalhos sob a autoridade do Conselho de Missões da Igreja e que agora
também seriam geridas pelas Sociedades femininas. Trabalho missionário intrinsicamente
ligado à criação de escolas. As missionárias e/ou professoras eram enviadas para o Brasil, e
também para outros campos de missão, a partir de uma indicação de uma Sociedade de
Conferência, para que assim pudesse ser aprovada na Reunião Anual do Conselho de Missões
Estrangeiras da Mulher (CMEM).
Em 1880, essa mesma Sociedade cria seu próprio periódico, o Woman‟s
Missionary Advocate, para garantir a divulgação das ações do movimento missionário e
propagandear a importância da criação de uma Sociedade capaz de organizar todo o
movimento missionário da Igreja Metodista Episcopal do Sul.
Publicado nos Estados Unidos mensalmente e sem interrupções entre 1880
e 1910, recebia informações das missionárias que relatavam suas experiências em diversas
partes do mundo, inclusive do Brasil. Iniciando seu primeiro número em junho de 1880 com
16 páginas e tendo sua última edição publicada em dezembro de 1910 com 47 páginas, o
periódico, baseado na máxima ―da mulher para a mulher‖, era dirigido integralmente por
mulheres e mantido com assinaturas anuais. Divulgava, além das ações das missões no campo
educacional, a íntegra das reuniões anuais do CMEM e as diversas atividades missionárias
realizadas nos chamados campos de missão.
A análise do periódico revelou temas importantes que envolveram o
trabalho das missionárias no Brasil: as facilidades e dificuldades na instalação das escolas, a
adaptação das mesmas, conflitos com os católicos, manutenção dos colégios, relação com os
alunos, episódios de conversão, organização das Sociedades femininas no país, organização
de Ligas Juvenis e Infantis e Associações, problemas com a falta de professoras, discussões
sobre a formação de professoras, dificuldades com as doenças na época, convergências e
divergências nos rumos da missão, importância das bolsas de estudos financiadas pelas
Sociedades de Conferência dos Estados Unidos, entre outros.
Foi possível constatar o seguinte movimento: o projeto missionário
metodista no Brasil partia do princípio de que as escolas, que eram consideradas pelos
brasileiros como modelos educacionais que mereciam ser copiados, se constituíam no espaço
privilegiado de conversão dos mesmos, considerando essencialmente que seus quadros eram
compostos de representantes das ―melhores famílias‖ das regiões onde foram instaladas. O
início do período republicano contribuiu para a disseminação dessa ideia entre as
121

missionárias. Com o passar dos anos, sentindo que esse proselitismo não se concretizava,
foram usadas outras estratégias, primeiramente ligadas aos colégios, como as Associações,
Ligas e Escolas Dominicais, e posteriormente, aos trabalhos das ―Mulheres da Bíblia‖, cujas
líderes, em sua maioria, eram missionárias que trabalhavam nas escolas, mesmo que os
trabalhos de visitações não estivessem diretamente ligados às ações nos colégios e visassem
especialmente à população mais pobre.
Esse movimento missionário que começa nas escolas, passa pelas
organizações das Ligas e posteriormente fortalecido pelos trabalhos de visitações, foi
resultado da atuação das missionárias do Conselho da Mulher na missão metodista no Brasil.
O relato desse trabalho nas páginas do Advocate, revelando possibilidades, desafios e
fracassos, e os encaminhamentos feitos por parte do Conselho, demonstram o poder decisório
dessas mulheres e seu protagonismo no projeto missionário do metodismo norte-americano no
Brasil.
O último número do Advocate é publicado em dezembro de 1910, quando
então é unificado a outro periódico também criado pelo Conselho da Mulher intitulado Our
Homes passando a se chamar Missionary Voice.
O ano de 1910 também marca o fim do CMEM quando em 14 de maio
ocorre a unificação dos Conselhos Missionários da Igreja Metodista Episcopal do Sul. Na
edição de julho de 1910 há uma publicação de uma carta assinada por Maria Laying Gibson,
Belle H. Bennet, Sra. R. W. MacDonell e Sra. J. B. Cobb informando às mulheres que

Nós, mulheres que assinamos nossos nomes no relatório da Comissão, fizemos com
a convicção de que o plano apresentado trará grandes resultados para o bem da
Igreja e para a evangelização do mundo. Nossos corações estão pesados hoje,
sobrecarregados com esta responsabilidade ao passo que nos lembramos da aflição e
da comoção que a aprovação deste relatório trará para centenas de milhares de
mulheres a quem representamos. Este plano, agora diante de vocês, foi elaborado
com atenção e oração, e se aprovado sem sérias correções, acreditamos que
comandará e atrairá a lealdade das mulheres, que por mais de um quarto de século
colocaram coração, espírito e vigor no trabalho de expandir o reino de Jesus Cristo
nosso Senhor. Não somos negligentes com todas essas mulheres dedicadas e
capazes, mas também lembramos da grande angústia que atingirá as mulheres da
Igreja assim que mudarmos da vida antiga para a nova (WMA, jul. 1910, p. 597).

No trecho final, diz:


122

Suplicamos que, vocês, entretanto, não façam mudanças radicais no relatório do


Comitê de Missões a respeito das mulheres, do trabalho especial, da
responsabilidade e da arrecadação e do rumo do dinheiro contribuído por elas
(WMA, jul. 1910, p. 597).

Em outro momento, na mesma edição, há outro pedido das mulheres


participantes do Conselho:

Uma carta de esclarecimento será enviada para os Comitês Executivos após a


reunião. Suplicamos para que vocês fiquem conosco para garantir as mulheres que o
trabalho de nossa Sociedade não esta sendo obstruído, mas ampliado e que iremos
adiante com o nosso trabalho para Deus.
Com amor e companheirismo,
Miss M. J. Gibson, Presidente;
Miss. J. B. Cobb, Secretária geral.
(WMA, jul. 1910, p. 597).

Em artigo publicado no site da West Virginia University, no Programa The


American Religious Experience, o professor Jane Donovan afirma que, entre 1910 e 1964,
praticamente todas as organizações missionárias de mulheres protestantes quase autônomas
foram cooptadas e absorvidas pelos Conselhos Gerais que eram dominados por homens.93
Para a professora Dana L. Robert, da Boston University School of Theology,
em seu livro, American Women in Mission: a social history of their thought and pratice,
houve um declínio do movimento missionário da mulher a partir de 1910 com as fusões dos
Conselhos. Para ela, mesmo diante dos avanços, as conferências gerais promulgavam
legislações sobre a relação das mulheres com as missões, embora elas não tivessem direito à
fala, conquistado apenas em 1918.
A atuação das mulheres e a autonomia dos seus Conselhos dentro da Igreja
Metodista Episcopal do Sul a partir de 1910, ano da fusão dos Conselhos e o fim do Advocate,
são temas frutíferos a serem investigados. Entretanto, no recorte cronológico desta pesquisa,
considerando as páginas do Advocate, é possível comprovar a ação protagonista das mulheres,
missionárias, ligadas ao Conselho da Mulher no projeto missionário do metodismo norte-
americano no Brasil entre 1880 e 1910.
O estudo e análise dos trinta anos de publicação do periódico permitem
perceber que, a atuação das mulheres nas missões estrangeiras se tornou de tal forma ativo e

93
Disponível em http://are.as.wvu.edu/MissionPaper.htm#_ftnref19. Acesso em Mar. 2017.
123

importante, que a fusão dos Conselhos e o fim do CMEM se configurou em uma estratégia
para conter a liderança das mesmas no movimento missionário.
124

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ANEXO I
Organização do periódico em volume, edição e data.
Volume 1 Volume 17
Volume 1, Issue 1, July, 1880 [Volume 17, Issue 1], July, 1896
Volume 1, Issue 2, August, 1880 [Volume 17, Issue 2], August, 1896
Volume 1, Issue 3, September, 1880 [Volume 17, Issue 3], September, 1896
Volume 1, Issue 4, October, 1880 [Volume 17, Issue 4], October, 1896
Volume 1, Issue 5, November, 1880 [Volume 17, Issue 5], November, 1896
Volume 1, Issue 6, December, 1880 [Volume 17, Issue 6], December, 1896
Volume 1, Issue 7, January, 1881 [Volume 17, Issue 7], January, 1897
Volume 1, Issue 8, February, 1881 [Volume 17, Issue 8], February, 1897
Volume 1, Issue 9, March, 1881 [Volume 17, Issue 9], March, 1897
Volume 1, Issue 10, April, 1881 [Volume 17, Issue 10], April, 1897
Volume 1, Issue 11, May, 1881 [Volume 17, Issue 11], May, 1897
Volume 1, Issue 12, June, 1881 [Volume 17, Issue 12], June, 1897
Volume 2 Volume 18
Volume 2, Issue 1, July, 1881 [Volume 18, Issue 1], July, 1897
Volume 2, Issue 2, August, 1881 [Volume 18, Issue 2], August, 1897
Volume 2, Issue 3, September, 1881 [Volume 18, Issue 3], September, 1897
Volume 2, Issue 4, October, 1881 [Volume 18, Issue 4], October, 1897
Volume 2, Issue 5, November, 1881 [Volume 18, Issue 5], November, 1897
Volume 2, Issue 6, December, 1881 [Volume 18, Issue 6], December, 1897
Volume 2, Issue 7, January, 1882 [Volume 18, Issue 7], January, 1898
Volume 2, Issue 8, February, 1882 [Volume 18, Issue 8], February, 1898
Volume 2, Issue 9, March, 1882 [Volume 18, Issue 9], March, 1898
Volume 2, Issue 10, April, 1882 [Volume 18, Issue 10], April, 1898
Volume 2, Issue 11, May, 1882 [Volume 18, Issue 11], May, 1898
Volume 2, Issue 12, June, 1882 [Volume 18, Issue 12], June, 1898
Volume 3 Volume 19
Volume 3, Issue 1, July, 1882 [Volume 19, Issue 1], July, 1898
Volume 3, Issue 2, August, 1882 [Volume 19, Issue 2], August, 1898
Volume 3, Issue 3, September, 1882 [Volume 19, Issue 3], September, 1898
Volume 3, Issue 4, October, 1882 [Volume 19, Issue 4], October, 1898
Volume 3, Issue 5, November, 1882 [Volume 19, Issue 5], November, 1898
Volume 3, Issue 6, December, 1882 [Volume 19, Issue 6], December, 1898
Volume 3, Issue 7, January, 1883 [Volume 19, Issue 7], January, 1899
Volume 3, Issue 8, February, 1883 [Volume 19, Issue 8], February, 1899
Volume 3, Issue 9, March, 1883 [Volume 19, Issue 9], March, 1899
Volume 3, Issue 10, April, 1883 [Volume 19, Issue 10], April, 1899
Volume 3, Issue 11, May, 1883 [Volume 19, Issue 11], May, 1899
Volume 3, Issue 12, June, 1883 [Volume 19, Issue 12], June, 1899
Volume 4 Volume 20
Volume 4, Issue 1, July, 1883 [Volume 20, Issue 1], July, 1899
134

Volume 4, Issue 2, August, 1883 [Volume 20, Issue 2], August, 1899
Volume 4, Issue 3, September, 1883 [Volume 20, Issue 3], September, 1899
Volume 4, Issue 4, October, 1883 [Volume 20, Issue 4], October, 1899
Volume 4, Issue 5, November, 1883 [Volume 20, Issue 5], November, 1899
Volume 4, Issue 6, December, 1883 [Volume 20, Issue 6], December, 1899
Volume 4, Issue 7, January, 1884 [Volume 20, Issue 7], January, 1900
Volume 4, Issue 8, February, 1884 [Volume 20, Issue 8], February, 1900
Volume 4, Issue 9, March, 1884 [Volume 20, Issue 9], March, 1900
Volume 4, Issue 10, April, 1884 [Volume 20, Issue 10], April, 1900
Volume 4, Issue 11, May, 1884 [Volume 20, Issue 11], May, 1900
Volume 4, Issue 12, June, 1884 [Volume 20, Issue 12], June, 1900
Volume 5 Volume 21
Volume 5, Issue 1, July, 1884 [Volume 21, Issue 1], July, 1900
Volume 5, Issue 2, August, 1884 [Volume 21, Issue 2], August, 1900
Volume 5, Issue 3, September, 1884 [Volume 21, Issue 3], September, 1900
Volume 5, Issue 4, October, 1884 [Volume 21, Issue 4], October, 1900
Volume 5, Issue 5, November, 1884 [Volume 21, Issue 5], November, 1900
Volume 5, Issue 6, December, 1884 [Volume 21, Issue 6], December, 1900
Volume 5, Issue 7, January, 1885 [Volume 21, Issue 7], January, 1901
Volume 5, Issue 8, February, 1885 [Volume 21, Issue 8], February, 1901
Volume 5, Issue 9, March, 1885 [Volume 21, Issue 9], March, 1901
Volume 5, Issue 10, April, 1885 [Volume 21, Issue 10], April, 1901
Volume 5, Issue 11, May, 1885 [Volume 21, Issue 11], May, 1901
Volume 5, Issue 12, June, 1885 [Volume 21, Issue 12], June, 1901
Volume 6 Volume 22
Volume 6, Issue 1, July, 1885 [Volume 22, Issue 1], July, 1901
Volume 6, Issue 2, August, 1885 [Volume 22, Issue 2], August, 1901
Volume 6, Issue 3, September, 1885 [Volume 22, Issue 3], September, 1901
Volume 6, Issue 4, October, 1885 [Volume 22, Issue 4], October, 1901
Volume 6, Issue 5, November, 1885 [Volume 22, Issue 5], November, 1901
Volume 6, Issue 6, December, 1885 [Volume 22, Issue 6], December, 1901
Volume 6, Issue 7, January, 1886 [Volume 22, Issue 7], January, 1902
Volume 6, Issue 8, February, 1886 [Volume 22, Issue 8], February, 1902
Volume 6, Issue 9, March, 1886 [Volume 22, Issue 9], March, 1902
Volume 6, Issue 10, April, 1886 [Volume 22, Issue 10], April, 1902
Volume 6, Issue 11, May, 1886 Volume 22, Issue 11, May, 1902
Volume 6, Issue 12, June, 1886 Volume 22, Issue 12, June, 1902
Volume 7 Volume 23
Volume 7, Issue 1, July, 1886 Volume 23, Issue 1, July, 1902
Volume 7, Issue 2, August, 1886 Volume 23, Issue 2, August, 1902
Volume 7, Issue 3, September, 1886 Volume 23, Issue 3, September, 1902
Volume 7, Issue 4, October, 1886 Volume 23, Issue 4, October, 1902
Volume 7, Issue 5, November, 1886 Volume 23, Issue 5, November, 1902
135

Volume 7, Issue 6, December, 1886 Volume 23, Issue 6, December, 1902


Volume 7, Issue 7, January, 1887 Volume 23, Issue 7, January, 1903
Volume 7, Issue 8, February, 1887 Volume 23, Issue 8, February, 1903
Volume 7, Issue 9, March, 1887 Volume 23, Issue 9, March, 1903
Volume 7, Issue 10, April, 1887 Volume 23, Issue 10, April, 1903
Volume 7, Issue 11, May, 1887 Volume 23, Issue 11, May, 1903
Volume 7, Issue 12, June, 1887 [Volume 23, Issue 12], June, 1903
Volume 8 Volume 24
Volume 8, Issue 1, July, 1887 [Volume 24, Issue 1], July, 1903
Volume 8, Issue 2, August, 1887 Volume 24, Issue 2, August, 1903
Volume 8, Issue 3, September, 1887 Volume 24, Issue 3, September, 1903
Volume 8, Issue 4, October, 1887 Volume 24, Issue 4, October, 1903
Volume 8, Issue 5, November, 1887 Volume 24, Issue 5, November, 1903
Volume 8, Issue 6, December, 1887 Volume 24, Issue 6, December, 1903
Volume 8, Issue 7, January, 1888 Volume 24, Issue 7, January, 1904
Volume 8, Issue 8, February, 1888 Volume 24, Issue 8, February, 1904
Volume 8, Issue 9, March, 1888 Volume 24, Issue 9, March, 1904
Volume 8, Issue 10, April, 1888 Volume 24, Issue 10, April, 1904
Volume 8, Issue 11, May, 1888 Volume 24, Issue 11, May, 1904
Volume 8, Issue 12, June, 1888 Volume 24, Issue 12, June, 1904
Volume 9 Volume 25
Volume 9, Issue 1, July, 1888 Volume 25, Issue 1, July, 1904
Volume 9, Issue 2, August, 1888 Volume 25, Issue 2, August, 1904
Volume 9, Issue 3, September, 1888 Volume 25, Issue 3, September, 1904
Volume 9, Issue 4, October, 1888 Volume 25, Issue 4, October, 1904
Volume 9, Issue 5, November, 1888 Volume 25, Issue 5, November, 1904
Volume 9, Issue 6, December, 1888 Volume 25, Issue 6, December, 1904
Volume 9, Issue 7, January, 1889 Volume 25, Issue 7, January, 1905
Volume 9, Issue 8, February, 1889 Volume 25, Issue 8, February, 1905
Volume 9, Issue 9, March, 1889 Volume 25, Issue 9, March, 1905
Volume 9, Issue 10, April, 1889 Volume 25, Issue 10, April, 1905
Volume 9, Issue 11, May, 1889 Volume 25, Issue 11, May, 1905
Volume 9, Issue 12, June, 1889 Volume 25, Issue 12, June, 1905
Volume 10 Volume 26
Volume 10, Issue 1, July, 1889 [Volume 26, Issue 1], July, 1905
Volume 10, Issue 2, August, 1889 Volume 26, Issue 2, August, 1905
Volume 10, Issue 3, September, 1889 Volume 26, Issue 3, September, 1905
Volume 10, Issue 4, October, 1889 [Volume 26, Issue 4], October, 1905
Volume 10, Issue 5, November, 1889 Volume 26, Issue 5, November, 1905
Volume 10, Issue 6, December, 1889 Volume 26, Issue 6, December, 1905
Volume 10, Issue 7, January, 1890 Volume 26, Issue 7, January, 1906
Volume 10, Issue 8, February, 1890 Volume 26, Issue 8, February, 1906
Volume 10, Issue 9, March, 1890 Volume 26, Issue 9, March, 1906
136

Volume 10, Issue 10, April, 1890 Volume 26, Issue 10, April, 1906
Volume 10, Issue 11, May, 1890 Volume 26, Issue 11, May, 1906
Volume 10, Issue 12, June, 1890 Volume 26, Issue 12, June, 1906
Volume 11 Volume 27
Volume 11, Issue 1, July, 1890 Volume 27, Issue 1, July, 1906
[Volume 11, Issue 2], August, 1890 Volume 27, Issue 2, August, 1906
[Volume 11, Issue 3], September, 1890 Volume 27, Issue 3, September, 1906
[Volume 11, Issue 4], October, 1890 Volume 27, Issue 4, October, 1906
[Volume 11, Issue 5], November, 1890 [Volume 27, Issue 5], November, 1906
[Volume 11, Issue 6], December, 1890 Volume 27, Issue 6, December, 1906
[Volume 11, Issue 7], January, 1891 [Volume 27], Issue 7, January, 1907
[Volume 11, Issue 8], February, 1891 Volume 27, Issue 8, February, 1907
[Volume 11, Issue 9], March, 1891 Volume 27, Issue 9, March, 1907
[Volume 11, Issue 10], April, 1891 Volume 27, Issue 10, April, 1907
[Volume 11, Issue 11], May, 1891 Volume 27, Issue 11, May, 1907
[Volume 11, Issue 12], June, 1891 Volume 27, Issue 12, June, 1907
Volume 12 Volume 28
[Volume 12, Issue 1], July, 1891 Volume 28, Issue 1, July, 1907
[Volume 12, Issue 2], August, 1891 Volume 28, Issue 2, August, 1907
[Volume 12, Issue 3], September, 1891 Volume 28, Issue 3, September, 1907
[Volume 12, Issue 4], October, 1891 Volume 28, Issue 4, October, 1907
[Volume 12, Issue 5], November, 1891 Volume 28, Issue 5, November, 1907
[Volume 12, Issue 6], December, 1891 Volume 28, Issue 6, December, 1907
[Volume 12, Issue 7], January, 1892 Volume 28, Issue 7, January, 1908
[Volume 12, Issue 8], February, 1892 Volume 28, Issue 8, February, 1908
[Volume 12, Issue 9], March, 1892 Volume 28, Issue 9, March, 1908
[Volume 12, Issue 10], April, 1892 Volume 28, Issue 10, April, 1908
[Volume 12, Issue 11], May, 1892 Volume 28, Issue 11, May, 1908
[Volume 12, Issue 12], June, 1892 Volume 28, Issue 12, June, 1908
Volume 13 Volume 29
[Volume 13, Issue 1], July, 1892 Volume 29, Issue 1, July, 1908
[Volume 13, Issue 2], August, 1892 Volume 29, Issue 2, August, 1908
[Volume 13, Issue 3], September, 1892 Volume 29, Issue 3, September, 1908
[Volume 13, Issue 4], October, 1892 Volume 29, Issue 4, October, 1908
[Volume 13, Issue 5], November, 1892 Volume 29, Issue 5, November, 1908
[Volume 13, Issue 6], December, 1892 Volume 29, Issue 6, December, 1908
[Volume 13, Issue 7], January, 1893 Volume 29, Issue 7, January, 1909
[Volume 13, Issue 8], February, 1893 Volume 29, Issue 8, February, 1909
[Volume 13, Issue 9], March, 1893 Volume 29, Issue 9, March, 1909
[Volume 13, Issue 10], April, 1893 Volume 29, Issue 10, April, 1909
[Volume 13, Issue 11], May, 1893 Volume 29, Issue 11, May, 1909
[Volume 13, Issue 12], June, 1893 Volume 29, Issue 12, June, 1909
Volume 14 Volume 30
137

[Volume 14, Issue 1], July, 1893 Volume 30, Issue 1, July, 1909
[Volume 14, Issue 2], August, 1893 Volume 30, Issue 2, August, 1909
[Volume 14, Issue 3], September, 1893 Volume 30, Issue 3, September, 1909
[Volume 14, Issue 4], October, 1893 Volume 30, Issue 4, October, 1909
[Volume 14, Issue 5], November, 1893 Volume 30, Issue 5, November, 1909
[Volume 14, Issue 6], December, 1893 Volume 30, Issue 6, December, 1909
[Volume 14, Issue 7], January, 1894 Volume 30, Issue 7, January, 1910
[Volume 14, Issue 8], February, 1894 Volume 30, Issue 8, February, 1910
[Volume 14, Issue 9], March, 1894 Volume 30, Issue 9, March, 1910
[Volume 14, Issue 10], April, 1894 Volume 30, Issue 10, April, 1910
[Volume 14, Issue 11], May, 1894 Volume 30, Issue 11, May, 1910
[Volume 14, Issue 12], June, 1894 Volume 30, Issue 12, June, 1910
Volume 15 Volume 31
[Volume 15, Issue 1], July, 1894 Volume 31, Issue 1, July, 1910
[Volume 15, Issue 2], August, 1894 Volume 31, Issue 2, August, 1910
[Volume 15, Issue 3], September, 1894 Volume 31, Issue 3, September, 1910
[Volume 15, Issue 4], October, 1894 Volume 31, Issue 4, October, 1910
[Volume 15, Issue 5], November, 1894 Volume 31, Issue 5, November, 1910
[Volume 15, Issue 6], December, 1894 Volume 31, Issue 6, December, 1910
[Volume 15, Issue 7], January, 1895
[Volume 15, Issue 8], February, 1895
[Volume 15, Issue 9], March, 1895
[Volume 15, Issue 10], April, 1895
[Volume 15, Issue 11], May, 1895
[Volume 15, Issue 12], June, 1895
Volume 16
[Volume 16, Issue 1], July, 1895
[Volume 16, Issue 2], August, 1895
Volume 16, Issue 3, September, 1895
Volume 16, Issue 4, October, 1895
[Volume 16, Issue 5], November, 1895
Volume 16, Issue 6, December, 1895
[Volume 16, Issue 7], January, 1896
[Volume 16, Issue 8], February, 1896
[Volume 16, Issue 9], March, 1896
[Volume 16, Issue 10], April, 1896
[Volume 16, Issue 11], May, 1896
[Volume 16, Issue 12], June, 1896
138

ANEXO II

Estatuto do Conselho de Missão Estrangeira da Mulher

Artigo I. Esta organização deve ser chamada de Sociedade Missionária Estrangeira da Mulher
da Igreja Metodista Episcopal do Sul.
Artigo II. O objetivo dessa Sociedade deve ser enviar o Evangelho para mulheres e crianças
em terras estrangeiras através do agenciamento de mulheres como missionárias, professoras,
médicas, diaconisas, e leitoras da bíblia.
Artigo III. Para prover este trabalho as sociedades devem ser organizadas em cada cargo,
Sociedade de Conferência e cada Conferência, todo o trabalho deve ser controlado por um
órgão executivo reconhecido como o Conselho de Missões Estrangeiras da Mulher.
Artigo IV. O Conselho deverá ter uma presidente, três vice-presidentes, duas Secretárias de
Correspondência, uma tesoureira, uma Secretária de Registro, editora do Woman‟s
Missionary Advocate, duas gerentes, e as Secretárias de Correspondência ou suplentes das
Sociedades da Conferência.
As Secretárias do Conselho Geral devem ser membros honorários do Conselho da Mulher.
As funcionárias e editoras devem ser eleitas quadrienalmente pelo Conselho da Mulher na
primeira Sessão Anual após a sessão da Conferência Geral.
Artigo V. O Conselho de Mulher deverá se reunir anualmente para determinar quais campos
serão ocupados, as pessoas empregadas em cada um desses campos, e para estimar a quantia
de dinheiro necessária para auxiliar as missões sob seu comando. O quórum deverá ter
maioria para determinar os negócios.
Artigo VI.
Seção 1. Os negócios do Conselho nos intervalos das Sessões Anuais deverão ser conduzidos
por um comitê chamado Comitê Executivo, sendo composto por funcionárias do Conselho,
gerentes e a Editora do WMA. Sete constituem um quórum. Se necessário, a Secretária do
Conselho Geral pode fazer uma convocação para um quórum ou consulta. O comitê
Executivo deverá eleger uma Secretária em cada reunião, e na ausência da Presidente e Vice-
Presidente os membros deverão indicar uma presidente. As atas dessas reuniões deverão ser
apresentadas por uma das Secretarias de Correspondência na sessão anual.
Seção 2. Os negócios das referidas reuniões deverão ser apresentados para a próxima reunião
do Conselho para decisão final. Nenhum novo trabalho deverá ser projetado e nenhum
dinheiro fora do que foi estipulado pelo nosso fundo deverá ser usado nessas reuniões.
139

Quando ocorrerem ausências no Comitê Executivo, serão preenchidas pelo referido comitê até
a próxima sessão anual do Conselho.
Artigo VII. Os fundos para esta Sociedade deverão ser de origem privada, de associados,
taxas de membros honorários vitalícios, de testamentos e heranças, e de coletas públicas em
reuniões em nome da Sociedade. As verbas dos fundos deverão ser apenas das sessões anuais,
e deverão ser enviadas para o campo indicado pelo Conselho da Mulher.
Artigo VIII. Missionárias e todas as pessoas empregadas pelo Conselho de Mulher deverão
ser indicadas ao serviço em cada campo ou estação onde o Conselho decidir, com a aprovação
do Bispo responsável nesse campo.
Artigo IX. O trabalho deste Conselho em terras estrangeiras deverá estar localizado onde já
exista trabalho missionário aberto pelo Conselho Geral e deverá ser conduzido sob os
auspícios e aprovação das Secretarias de Ambos os Conselhos.
Artigo X. Dentro de trinta dias após as sessões anuais do Conselho da Mulher, A Secretária
de Correspondência Sênior deverá enviar a Secretária do Conselho Geral relatório completo
dos planos e operações do referido Conselho para que possa ser considerado e posto em
prática, e também que um resumo de todo o trabalho seja publicado como uma declaração
completa do que está sendo feito nas missões estrangeiras pela Igreja.
Artigo XI. O Conselho da Mulher está autorizado a estabelecer e manter a Training School
sob seu controle e administração, onde as mulheres possam ser treinadas como missionárias
ou para outros trabalhos cristãos. A arrecadação da Sociedade Missionária Estrangeira da
Mulher não deverá ser usada para esta escola, exceto se tais fundos forem doados para esse
propósito.
Artigo XII. As diretoras das escolas e medicas responsáveis pelos hospitais estabelecidos
pelo Conselho de Missões estrangeiras da Mulher, deverão enviar cópias exatas dos seus
relatórios para as Conferências Anual e Distrital dentro dos limites que se encontram situadas.
Relatórios das Secretarias de Conferência deverão ser enviados para as Conferências Anuais,
relatórios das Secretarias Distritais enviados para as Conferências Distritais, e os relatórios
das Auxiliares para as Conferências Trimestrais.

Deveres das funcionárias

Artigo XIII. A presidente do Conselho de Missões Estrangeiras da Mulher deverá promover


os interesses da Sociedade através de viagens, correspondências, e todos os meios possíveis.
Deverá ser seu dever convocar e presidir as reuniões e contabilizar todos os projetos do
140

tesouro. Na sua ausência, uma das Vice-Presidentes deverá presidir. E se nenhuma delas
estiver presente, uma presidente será eleita.
Artigo XIX. As Secretarias de Correspondência deverão gerir as correspondências e cuidar
dos negócios legais do Conselho, preparar relatórios anuais, publicar declarações trimestrais
sobre a condição do trabalho, tanto do campo estrangeiro como nos EUA, e promover os
interesses do trabalho nos EUA nas viagens para as Conferências. Quando julgado necessário
pelo Conselho, uma das Secretárias deverá visitar as estações de missão no campo estrangeiro
sob o controle do Conselho. Elas deverão residir onde o Conselho das Missões está
localizado. A Secretaria Sênior deverá comandar o Tesouro. Na sua ausência, esse trabalho
deve ser realizado por outra Secretária. Quando for preciso, a Secretária Sênior terá o poder
de convocar uma reunião do Comitê Executivo para tratar de negócios. Dentro de trinta dias
após cada sessão anual a Secretária de Correspondência Sênior deverá enviar para a Secretaria
do Conselho Geral todos os planos do Conselho e as providências conforme o Artigo 10 da
Constituição.
Artigo XV. A tesoureira deverá guardar os fundos do Conselho em local seguro, cujo
depósito deverá ser feito por ela como Tesoureira, sujeito a rascunhos autenticados. Ela
deverá fornecer relatórios anuais e trimestrais para serem publicados junto com os da
Secretária Sênior, e suas contas serão auditadas pelo Conselho de Missões por um auditor
eleito trimestralmente pelo Conselho da Mulher em sessão anual.
Artigo XVI. A Secretaria de Registro deve manter as atas de todas as sessões num arquivo
permanente e obter as assinaturas de aprovação da Presidente. E também deverá publicar as
notícias da Sessão Anual do Conselho de Missões Estrangeiras da Mulher em todos os jornais
da Igreja.
141

ANEXO III
Lista com as edições e nomes das missionárias
Edição Missionária
1902
Maio Miss Lochie Rankin, China
Junho Miss Dora Rankin
Julho Miss Martha H. Watts
Agosto Miss Rebeca Toland
Setembro Miss Anna J. Muse Brown
Outubro Miss Nammie E. Holding
Novembro Miss Laura A. Haygood
Dezemrbo Miss Jennie M. Atkinson
Edição Missionária
1903
Janeiro Miss Josephine P Campbell
Fevereiro Miss Josephine Hounshele
Março Miss L. Elizabeth Hugues
Maio Miss Layonna Glenn
Junho Miss Lizzie Wilson
Principal of Collegio Palmore Chihuahua, México
Julho Miss Alice Waters
Sungkiang, China
Agosto Miss Martha Pyle
Setembro Miss Julia A. Gaither
Outubro Miss Emma Gary
Novembro Miss Amelia Elerding
Dezembro Miss Delia Holding
Edição Missionária
1904
Janeiro Miss Layona Glenn
Rio de Janeiro, Brazil
Fevereiro Miss Esther Case
San Luís Potosí, México
Março Miss Viola Blackburns
Maio Miss Mary Tarrant
Junho Miss Clara B. Fullerton
Porto Alegre, Brazil
Agosto Miss Fannie B. Moling
Setembro Miss Elizabeth Davis
Rio – Brazil
Outubro Miss Laura V. Wright
São Luís Posotí, México
Novembro Miss Lena Newman
Saltillo, México
Dezembro Miss Margareth Polk M.D.
Edição Missionária
1905
Fevereiro Miss Elen B. Tydings
Maio Miss Eliza Perkinson
142

Junho Miss Willie Brown


Julho Miss Lily Stradley
Piracicaba
Agosto Miss Edith Park
Laredo, Texas
Setembro Miss Leonora D. Smith
Ribeirão Preto, Brazil
Outubro Miss Arrena Carrol
Korea
Novembro Miss June Nicholson
China
Dezembro Miss Sue Ford
Cuba
Edição Missionária
1906
Janeiro Miss Mary Cessna
Cuba
Fevereiro Miss Ida Anderson
China
Março Miss May Treadwell
Durango, México
Abril Miss Ella Leveritt
Maio Miss Blanche Howell
Junho Miss Della Wright
Porto Alegre, Brazil
Julho Miss May Treadewell
Agosto Miss Emma Christine
Juiz de Fora, Brazil
Setembro Miss Norwood Wynn
Outubro Miss Elzabeth Claiborne
Novembro Miss Mattie M. Ivery
Edição Missionária
1907
Fevereiro Miss Leila Roberts
Março Miss Ara Riggins
Abril Miss Norwood Wynn
Maio Miss Mattie H. Watts
Belo Horizonte, Brazil
Junho Miss Emma Christine
Julho Miss Martha Ivie Batey
Agosto Miss Eunice Fletcher Andrew
Setembro Miss Leonora D. Smith
Outubro Miss Maria L. Gibson
President of Woman‘s Board
Novembro Miss Emma Irene Steger
Dezembro Miss Nell D. Drake
Edição Missionária
1908
Janeiro Miss Reubie Lilly
Fevereiro Miss Linnie Boyer Barkroft
Março Miss Sophia Manns
143

Abril Miss Nettie Peacook


Maio Miss Mary Lou White
Junho Miss Emma S. Lester
Suchow, China
Julho Miss Ruby Kendrick
Korea
Agosto Miss Mary Culler White
Setembro Miss Irene S. King
China
Outubro Miss Lilian Nichols
Korea
Novembro Miss Eleanor Dye
Korea
Dezembro Miss Mary Myers
Edição Missionária
1909
Janeiro Miss Kate Cooper
Fevereiro Miss Lily Stradley (também em julho de 1905)
Brazil
Março Miss Lochie Rankin (também em maio de 1902)
China
Abril Miss Minnie Bomar
Huchow, China
Maio Miss Ellasue Wagner
Korea
Junho Miss Margareth Polk M.D. (também em dezembro de 1904)
China
Julho Miss Trulie Richmond
Agosto Miss Julia A. Gaither (também em setembro de 1903)
China
Setembro Miss Clara Park
China
Outubro Miss Rebecca Toland
Novembro Miss Della Wright (também em junho de 1906)
Porto Alegre, Brazil
Dezembro Miss Augusta May Dye
Rio de Janeiro, Brazil
Edição Missionária
1910
Janeiro Miss Martha Pyle (também em agosto de 1903)
Fevereiro Mrs. S. C. Trueheart
Corresponding Secretary of our Board
Março Miss Belle H. Bennett
Abril Miss Mattie Ivey
Maio Miss Bessie Buie
Junho Miss Lelia Judson Turtle
Julho Mrs. Mary L. Hargrove
Agosto Mrs. F. A. Butler
144

ANEXO IV
Trajetória das missionárias e/ou professoras sustentadas pelo Conselho da Mulher

A. Marchant, Senhorita
A primeira publicação com seu nome é em novembro de 1896 como assistente da Senhorita
Glenn em Juiz de Fora, e em setembro no mesmo ano já estão juntas na Escola do Rio.
Segundo palavras da própria senhorita Glenn, ―Marchant é uma doce garota cristã e uma
boa professora, parece muito interessada na escola como se fosse dela‖. Em maio de 1899
adoece com febre amarela, mas consegue se recuperar. É indicada, na 30ª reunião do
Conselho em 1908, para ser responsável pela Missão Central na cidade do Rio de Janeiro
com salário de 600 dólares. No ano seguinte, na 31ª reunião do CMEM, é instruída a fazer
um relatório trimestral para a Secretaria e cumprir os termos em que seu salário foi firmado
pelo Conselho da Mulher. No cumprimento das condições, recomendam um aumento no
salário de $740 para dedicar todo o tempo para a missão e enviar dos relatórios trimestrais.
Em maio de 1909 participa da Primeira Convenção Regional das Escolas Dominicais do Rio
de Janeiro ocorrida entre 21 a 24 de maio nas dependências da Associação Cristã de Moços.
Em relatório apresentado em setembro de 1909, Gabriella Salles diz ter assumido o cargo na
Escola Diária da Missão Central no Rio de Janeiro das mãos da Senhorita Marchant. Seu
último relatório do Rio de Janeiro data de 30 de junho de 1909.
Ada May Stewart, Senhorita
Da Sociedade de Conferência da Flórida. Se graduou em 1901 na Scarrit Bible and
Trainning School de Kansas City (Missouri), no mesmo ano que foi indicada para o Brasil na
23ª Reunião do Conselho de Missões Estrangeiras da Mulher (CMEM). Chega ao Rio de
Janeiro em 09 de agosto. Em relatório de dezembro de 1901 está em Ribeirão Preto. Teve
problemas de saúde em Ribeirão. Na edição de Junho de 1903 ajudava a senhorita Bowman
no hospital da cidade. Volta para os Estados Unidos em abril de 1903, retornando ao Brasil
em setembro do mesmo ano. Na edição de outubro de 1905 se diz triste por sair de Ribeirão e
se mudar para o Rio de Janeiro. ―É meu dever e estou pronta para ir‖. Na 29ª reunião do
Conselho em 1907 é autorizada a voltar para os EUA.
Ada Parker, Senhorita
Da Sociedade de Louisiana. É indicada para o Brasil na 26ª Reunião do CMEM. Em 1905
estava no Rio de Janeiro, em 1908 assina um relatório do Colégio Americano de Petrópolis e
em maio de 1908 está em Ribeirão Preto. Em setembro de 1909 vai para os EUA descansar.
Um ano depois, volta para o Brasil.
145

Amelia Elerding, Senhorita


É aceita como missionária em Junho de 1892. Embarca em 11 de julho chegando ao Rio de
Janeiro em 09 de agosto do mesmo ano. Em setembro de 1893 registra que é a única
representante do Conselho da Mulher no Rio de Janeiro. Em maio de 1895 teve quer assumir
a Escola Diária no Rio, mas com a condição de não deixar o trabalho de visitação na cidade.
Dividia seu tempo entre a escola e o trabalho de visitação. Na edição de janeiro e junho de
1896 relata detalhes de seu trabalho de visitação, e que se tornaria uma rotina até a última
edição do Advocate. Em 19 de agosto de 1897 embarca para os Estados Unidos chegando em
18 de setembro em Chicago, onde viviam seus irmãos. Em 05 de julho de 1898 retorna ao
Brasil na companhia da família Kennedy e segue para São Paulo. Na edição de agosto de
1907 há um resumo da trajetória de Eleding nesse período: ―no outono de 1898 senhorita
Amelia Elerding foi transferida do Rio de Janeiro para São Paulo, onde, apesar de o
Conselho da Mulher não possuir nem escola nem propriedade nesse lugar ela fez um
interessante e bem sucedido trabalho de evangelização‖. Retorna para os Estados Unidos em
data desconhecida. Está presente na 28ª Reunião do Conselho onde fica deliberado que:
1. Que a senhorita Elerding retorne para São Paulo o mais breve possível e que procure uma
ajuda adequada para lhe ajudar no trabalho de evangelização, e que possa viver com ela na
mesma casa. A soma de $375 será enviada como salário e para o aluguel adicional.
2. Que o trabalho até então conduzido pela senhorita Elerding continue em São Paulo, e que
logo que possível outra pessoa seja indicada para um trabalho evangélico no Rio, assim
facilitando o trabalho que já foi inaugurado na cidade.
Sai de Nova Iorque em 19 de junho de 1906. Chega em São Paulo no dia 17 de julho depois
de passar quatro dias no Rio de Janeiro. Além do trabalho de visitação, também desenvolve
um trabalho missionário na Escola Dominical da Missão Italiana em São Paulo desde janeiro
de 1907. O último registro do seu trabalho no Advocate é um relatório elaborado por ela
sobre a Conferência da Missão Brasileira datado de 26 de agosto de 1910.
Augusta May Dye, Senhorita
Na edição de abril de 1908 é noticiada sua vinda para o Brasil. No mesmo ano já apresenta
relatório dos trabalhos no colégio do Rio de Janeiro. Não trabalha na escola, mas na missão
com visitações. Seu trabalho se divide entre Rio de Janeiro e Ribeirão Preto. Em maio de
1908 vai para Ribeirão Preto ajudar a senhorita Parker. No mesmo ano já apresenta relatório
do seu trabalho. Em outubro de 1908 já estava de volta ao Rio de Janeiro. Nesse ano termina
seus estudos do curso de língua portuguesa. Na 31ª Reunião do CMEM de 1909 é indicada
para a Missão Central (Ribeirão Preto) para o trabalho de evangelização e é aprovado na
146

mesma reunião que tenha uma verba de cerca de $300 para poder ter um quarto suprir outras
despesas necessárias, especialmente por conta de seu trabalho ser longe do prédio escolar. Na
edição de dezembro do mesmo ano apresenta relatório de visitações no Rio de Janeiro,
cidade onde se casa em 1911 com Claude Livington Smith.
Bessie Moore, Senhorita
Sai de Nova Iorque em 01 de Agosto de 1893 e chega ao Rio de Janeiro em agosto. Ficou
uma semana no Rio e depois vai para São Paulo. Em 3 de setembro chega a Piracicaba e
assume duas classes. Dá aulas de Inglês (gramática) e também assume uma aula de costura
para as meninas (uma hora nas terças à tarde). Na edição de maio de 1894 diz ter recebido
uma notícia do Conselho de que deveria ir para o Colégio Mineiro de Juiz de Fora para
ajudar as senhoritas Ross e Littlejohn por conta da partida da Senhorita Bruce. Em 1895 se
casa passando-se a se chamar Bessie Moore Watson.
Blanche E. Howell, Senhorita
Originária da Conferência de Sociedade da região Oeste da Carolina do Norte, é indica para
o Brasil na 24ª reunião do CMEM de 1902. Vem de Nova Iorque na companhia da Senhorita
Watts em agosto do mesmo ano. Já assina relatório do Colégio Americano de Petrópolis em
novembro de 1902. Fica na cidade até 1904 quando então é transferida para Belo Horizonte,
para trabalhar na instalação da nova escola para o Conselho da Mulher, o Isabella Hendrix,
juntamente com James Lillbourne Kennedy e a senhorita Watts. Segundo Howell, ―fomos os
primeiros missionários a fixar residência aqui‖. Fica em Belo Horizonte até o dia 01 de julho
de 1908 quando retorna aos EUA para descansar. Em relatório do Colégio Isabella Hendrix
assinado em março de 1909 já está de volta a Belo Horizonte. O último relatório publicado
no Advocate assinado por Howell data de 30 de junho de 1910.
Clara Fullerton, Senhorita
Indicada pela 21ª Reunião do Conselho em 1899. Em outubro vai para o Colégio Mineiro de
Juiz de Fora, assumindo a vaga deixada pela senhorita Pescud. Assina o relatório do dia 30
de julho de 1901 do colégio Isabella Hendrix, em Juiz de Fora. Em 1903 além do trabalho na
escola, relata trabalhos de visitação. Na conferência realizada pelo Conselho da Mulher do
Brasil em 1903, é indicada para trabalhar no Rio Grande do Sul. Em 29 de agosto chega a
Porto Alegre e imediatamente assume o cargo de Diretora do Colégio Americano. Em 1905
também assume os trabalhos de visitação. Na 30ª Reunião do CMEM de 1908, é autorizada a
voltar para os Estados Unidos para uma temporada de descanso.
Daisy E. Pyles, Senhorita
É indicada na 30ª Reunião do Conselho em 1908, chegando ao Brasil no mesmo ano. Em
147

outubro de 1909 vai para Juiz de Fora substituir a senhoria Christine (de licença). A última
publicação no Advocate com referência ao seu nome é um relatório de Juiz de Fora datado de
31 de março de 1910.
Della V. Wright, Senhorita
Originária da Carolina do Sul é indicada para a missão no Brasil na 23ª Reunião do CMEM,
em 06 de junho de 1901. Em dezembro do mesmo ano é enviada para trabalhar em Porto
Alegre, onde em 30 de setembro de 1902 assina o relatório do Colégio Americano. Em 31 de
março do mesmo ano, também assina relatório de visitações. No primeiro trimestre de 1903,
Senhorita Fullerton é enviada para Porto Alegre para ajudar a senhorita Wright que ―estava
sentindo que não podia trabalhar sozinha‖. Em relatório do dia 30 de setembro de 1903
afirma: ―Nunca fujo de responsabilidades e com prazer carrego qualquer fardo que me é
dado, mas desde quando estive responsável pela escola, sinto que outra pessoa poderia fazer
muito mais por ela que eu porque eu não tenho o que os brasileiros chamam de geito. A
palavra mais próxima que temos para isso, suponho, seja "competência" e ainda não
expressa o significado de geito em sua íntegra‖. Na 26ª reunião do Conselho, recebe uma
licença para fazer visitações em Porto Alegre, desde que dedique duas horas do dia para a
escola, ―se a saúde estiver boa‖. Na edição de agosto de 1905 assina o relatório de visitações.
Na 29ª Reunião do CMEM, recebe autorização para voltar para os Estados Unidos. Em
relatório publicado na edição de outubro de 1909 assina como diretora do Colégio
Americano de Porto Alegre. Seu último relatório publicado no Advocate data de outubro de
1910.
Emma E. Brelsford, Senhora
Originária de Princeton, Kentucky, é aceita com missionária pelo Conselho da Mulher e
indicada pelo Bispo John Cowper Grambery (encarregado da missão no Brasil), para o
trabalho em Piracicaba, em 7 de março de 1890. Chega em maio do mesmo ano e assume o
Departamento Primário e Jardim da Infância no Colégio Piracicabano. Na bagagem, traz
além da experiência de ensino em Louisville (Kentucky), a participação efetiva na Woman‟s
Christian Temperance Union (União da Temperança Cristã da Mulher) – participação que
lhe valeu a indicação para o trabalho missionário. Fica em Piracicaba até o final de 1892
quando volta para os Estados Unidos para descansar. Em 1893 continua nos Estados Unidos
e na 15ª reunião do CMEM traz saudações da União de Temperança Cristã da Mulher no
Brasil. No mesmo encontro, pede demissão das atividades missionárias
Eliza B. Perkinson, Senhorita
Originária do Missouri, sua solicitação para o Conselho da Mulher foi aceita em maio de
148

1895. Embarca em Nova York no dia 22 de junho do mesmo ano e chega ao Rio de Janeiro
em 12 de julho. Vai para Juiz de Fora, depois de passar alguns meses em Petrópolis com a
senhorita Watts. Em 31 de dezembro do mesmo ano, já assina um relatório do Colégio
Americano de Juiz de Fora. No final de maio de 1900, aceita o convite da senhorita Watts
para uma viagem para Edimburgo (Escócia) antes do retorno para os Estados Unidos.
Presente na 23ª Reunião do CMEM nos Estados Unidos, participa ativamente. Assina uma
carta de pedidos para a missão no Brasil e reitera a necessidade da compra de uma casa para
a escola de Juiz de Fora. Em setembro de 1901 já está em Petrópolis assumindo o Colégio
Americano. É autorizada a voltar para os Estados Unidos em 1907 na 29ª Reunião do
Conselho. Em 08 de outubro de 1907 escreve uma carta para o Advocate afirmando que está
se preparando para voltar ao campo de trabalho, o que acontece no mês de setembro.
Reassume o Colégio Americano de Petrópolis. Volta para os Estados Unidos em 01 de abril
de 1910.
Elizabeth Lamb. Senhorita
Originária da Carolina do Norte, é indicada para o Brasil na 28ª Reunião do CMEM em
1906. Chega em Belo Horizonte em 03 de agosto. Em 30 de junho de 1909 assina como
diretora do Colégio Americano de Porto Alegre. Na edição de outubro de 1910, Senhorita
Wright afirma que a Senhorita Lamb é a diretora do Pensionato em Porto Alegre. Por conta
da saúde, renuncia ao cargo de missionária em 1915.
Elizabeth Speed Davis, Senhorita
Originária da Sociedade da Conferência da Carolina do Norte, é indicada como missionária
para trabalhar no Brasil na 22ª Reunião do CMEM em 1900, com a orientação de que fosse
nomeada para o Rio de Janeiro. Entretanto, no ano seguinte, em relatório do dia 30 de junho
já está em Piracicaba responsável pelas aulas de inglês. Em relatório de 30 de setembro de
1902 está a cargo do Piracicabano com a saída da Senhorita Stradley. No final de 1903 é
enviada, por ordens do Bispo Wilson, para o Rio de Janeiro. Na edição de julho de 1904
assina o relatório do Colégio Americano Fluminense e da Escola Diária do Rio. No final do
mesmo ano casa-se e passa a se chamar Senhora Elizabeth Davis Borchers. Em maio de 1910
ainda permanece no Rio de Janeiro. Falece em 07 de janeiro de 1964 em São Paulo.
Ella Granbery, Senhorita
Veio com o pai, o Bispo John Cowper Granbery em 1886 e permaneceu por um ano
lecionando no Colégio Piracicabano. Retorna aos Estados Unidos e se candidata como
missionária ao CMEM. Depois de aceita, retorna como representante da Sociedade da
Conferência de St. Louis em 23 de junho de 1888. Chega ao Rio de Janeiro, trabalha em
149

Piracicaba por alguns meses retornando ao Rio no mesmo ano. Em 1890 leciona na Escola
do Alto (RJ) e se casa em 16 de julho de 1891 como Reverendo Hugh Clarence Tucker
passando a se chamar, Ella Ganbery Tucker. Em outubro do mesmo ano teve que voltar para
os Estados Unidos por conta de problemas com a família. Em maio de 1893 já esta
responsável pela Escola Diária do Rio. Na edição de dezembro de 1895 ainda permanece no
Rio de Janeiro. Em sua lápide na cidade de Delaware County, Pensilvânia, há uma descrição
de que foi missionária no Brasil por 60 anos. Falece em 11 de janeiro de 1953.
Emma May Christine, Senhorita
Da Sociedade de Conferência de St. Louis (Missouri), é indicada para ser missionária no
Brasil na 25ª Reunião do CMEM em 1903. Começa a trabalhar em Piracicaba, mas na
reunião da Conferência da Mulher no Brasil é indica para trabalhar como assistente da
Senhorita Watts em Juiz de Fora. Em 31 de março de 1904 assina um dos relatórios do
Colégio Isabella Hendrix de Juiz de Fora. Na edição de janeiro de 1910 aparece como
responsável pelas Mulheres da Bíblia. Em outubro de 1908 volta para os Estados Unidos. Na
edição de janeiro de 1910 há uma nota de boas vindas pelo seu retorno. Continua em Juiz de
Fora. A última edição que trata do seu trabalho na cidade data de novembro de 1910.
Estelle Hood, Senhorita
Originária da Geórgia do Norte é indicada para o Brasil na 28ª Reunião do CMEM em 1906.
Começa o trabalho em Porto Alegre e no final de 1909 é indicada para o Rio de Janeiro, onde
―deveria receber um trabalho leve para ter oportunidade de estudar a língua‖. Fica na
cidade até sua transferência em 1910 para Piracicaba.
Eunice Fletcher Andrew, Senhorita
Em publicação de julho de 1907, na seção Missionary Drill há a primeira indicação de que
foi enviada para Ribeirão Preto. Em 05 de outubro de 1907 vai para Belo Horizonte. Em
relatório do dia 31 de março de 1910 está em Ribeirão Preto. Em julho de 1910 torna-se
diretora do Colégio Metodista de Ribeirão Preto. Em agosto do mesmo ano também fica
responsável pelo trabalho evangélico em conexão com a Igreja Portuguesa Metodista de São
Paulo. No último número do Advocate em dezembro de 1910 ainda há referência ao seu
trabalho em Ribeirão Preto.
Fannie Kennedy Brown, Senhora
Viúva e irmã do pioneiro missionário James Lillbourne Kennedy, aceita o convite do irmão
para ensinar música no Colégio Americano de Taubaté em 1893. Quando a escola foi
fechada serviu como professora missionária na nova escola de Petrópolis. Na edição de
agosto de 1898 há a notícia que estava nos Estados Unidos e saiu de Nova Iorque junto com
150

o irmão e sua família em 05 de julho para assumir as aulas de música ―em uma das escolas
do Conselho da Mulher‖. Chegam em 27 de agosto e Fannie segue para o Colégio
Piracicabano. Em 1903 volta para os Estados Unidos para descansar. A edição de 1904
publica a notícia de que ―a Senhora Fannie Brown não poderá voltar para casa por conta da
doença de sua mãe‖. Participa da 27ª Reunião do CMEM em 1905 e é aceita como
missionária para voltar ao Brasil. Retorna a Piracicaba. Em carta datada de 14 de Julho de
1909 diz estar a cargo da Sociedade de Auxílio às Senhoras de Piracicaba. A edição de
novembro de 1910 publica a notícia de que ela voltará para os Estados Unidos. Atua como
missionária até o ano de 1917 quando, por questões de saúde, se aposenta dessa atividade.
Hellen Hickman, Senhorita
É indicada na 31ª Reunião do CMEM em 1909. Vai para o Rio de Janeiro trabalhar com
Layona Glenn no Colégio Americano Fluminense. A última edição com a indicação do seu
trabalho, ainda no Rio, data de novembro de 1910.
Helen Johnston, Senhorita
Originária de Opelousas (Louisiana) é indicada para o Brasil na 23ª Reunião do CMEM em
1901. Na edição de janeiro de 1902 já apresenta o relatório do Colégio Americano
Fluminense. Afirma que organizou, juntamente com a Senhora Kennedy, um Lar de
Crianças da Sociedade Missionária (Children's home Mission Society) passando a ser sua
assistente. Em setembro de 1903 está em Piracicaba, auxiliando a senhorita Elizabeth Davis.
Em 01 de agosto de 1908 volta para os Estados Unidos para descansar. Na 31ª Reunião do
CMEM em 1909, é recomendado que volte ao Brasil, desde que sua saúde tenha sido
restabelecida. Na edição de janeiro de 1910 já está trabalhando em Ribeirão Preto, depois de
uma pequena temporada em Piracicaba. Na última edição do Advocate, há uma publicação
em que clama ao CMEM por um novo prédio para o Colégio em Ribeirão Preto.
Jennie Wallace Kennedy, Senhora
Esposa do Reverendo James Lillbourne Kennedy. Fazia parte do Conselho da Mulher, mas
não era missionária indicada pela Conferência. A primeira indicação de sua presença no
Brasil no Advocate data de abril de 1884 quando fala das dificuldades em aprender o
Português. Relata as maravilhas do Jardim Botânico e a notícia de que estão de partida para
Piracicaba. Organiza em 05 de julho de 1884 a primeira Sociedade Missionária de Mulheres
da Igreja Metodista Episcopal do Sul no Brasil. Em julho de 1885 estava em Juiz de Fora e
no final do mesmo ano no Rio de Janeiro. Em relatório publicado em março de 1886 relata o
trabalho da Sociedade da Mulher no Brasil. No mesmo ano segue para os Estados Unidos por
problemas de saúde. Volta em 27 de julho de 1887 para Piracicaba. Em setembro segue com
151

o marido para São Paulo. Em 1890 vai para Taubaté auxiliar o marido na instalação do
Colégio Americano. Com o fechamento do Colégio em 1894 segue para Petrópolis. Na
edição de agosto de 1898 há a notícia que estava nos Estados Unidos e saiu de Nova Iorque
junto com o marido em 05 de julho, chegando ao Rio de Janeiro em 27 de agosto. Organiza o
Lar de crianças da Sociedade Missionária (Children's home mission Society) tendo como
assistente a senhorita Johnston. Em 30 de novembro refere-se à Senhora Butler (editora do
Advocate) como tia e descreve as conquistas da Sociedade Joias de Cristo (Christ‘s Jewels)
que criou no Rio de Janeiro. Em setembro de 1904 seu marido é nomeado para Belo
Horizonte. Mudam-se para lá e, segundo a senhorita Howell, foram os primeiros missionários
a fixar residência na cidade. Em 1905 Fannie está nos Estados Unidos e participa da 27ª
Reunião do CMEM quando é aceita como missionária para voltar para o Brasil. A edição de
agosto de 1905 indica que ela organizou uma Liga Epworth em Belo Horizonte. Há uma
indicação que voltou dos Estados Unidos em 1908, indo para São Paulo. Em 1911 é
diagnosticada com diabetes e volta para os Estados Unidos, falecendo em 31 de janeiro do
mesmo ano.
Layona Glenn
Nascida no Estado da Geórgia, em 1893 entrou na Scarritt Bible and Training School e foi a
primeira a receber um diploma dessa instituição. Chega em Piracicaba em agosto de 1894
juntamente com a senhorita Watts que realizava uma de suas viagens de retorno ao país. Em
05 de abril de 1895, depois de uma pequena temporada em uma escola presbiteriana em São
Paulo, aprendendo os métodos de ensino, segue para Petrópolis. Em junho de 1896 é
transferida para o Rio de Janeiro para ficar a cargo da escola. Fica no Rio de Janeiro até o
final do ano de 1899 quando volta para os Estados Unidos para descansar. Estava presente na
22ª reunião do CMEM em 1900. Em relatório do dia 30 de setembro de 1900, a senhorita
Pescud demonstra estar feliz pelo retorno da senhorita Glenn ao Rio de Janeiro. Na edição de
janeiro de 1902 assina o relatório do Colégio Americano Fluminense e fala como Agente da
Missão Brasileira. Em fevereiro de 1902 é publicado seu primeiro relatório de visitação no
Rio de Janeiro. Na 26ª reunião do CMEM há uma orientação para que, sendo Secretária da
Missão no Brasil, dedique mais tempo para suas tarefas como Secretária e Tesoureira como o
trabalho exige e dedique um tempo para ensinar posteriormente. Na mesma edição apresenta
os Relatórios Escolares do Brasil como Secretária da Missão. Estava presente na 28ª reunião
do CMEM em 1906. Participa relatando o trabalho no Brasil e a necessidade de mais
missionárias. Na edição de setembro de 1907 já está a cargo das escolas do Rio de Janeiro.
Em novembro de 1910 há uma nota sobre seu trabalho: ―Senhorita Glenn, que provou sua
152

eficiência em todas as emergências, dividiu seu tempo entre Rio e Petrópolis. Mesmo com
todas essas dificuldades, a escola caminha por si mesma, professoras e alunas igualmente
permanecem leais a esses interesses‖.
Leonora D. Smith, Senhorita
Em 1868 seus pais foram para o Brasil e se estabeleceram entre os americanos de Santa
Bárbara. Para a família era quase impossível garantir uma educação de qualidade no Brasil, e
em 1884 ela retornou aos Estados Unidos e entrou no Nashville College for Young Ladies.
Depois frequentou o Alabama Female College, se formando em 1887. Ficou decepcionada
em não poder voltar imediatamente para o Brasil, o que só aconteceria nove anos depois. Em
1896 foi aceita e enviada para o Brasil pelo Conselho da Mulher em 5 de agosto, chegando
no Rio de Janeiro no dia 25. Em 3 de setembro segue para Piracicaba se hospedando na Casa
das Senhoras Missionárias. Em 15 de agosto de 1899 é transferida por ordens do Bispo
Hendrix para a Escola Metodista de Ribeirão Preto. Na edição de fevereiro de 1900 já
publica seu primeiro relatório. Envia um pedido para ser analisado na 23ª Reunião do CMEM
solicitando a compra de uma propriedade para a escola, o que não é concedido. Não é
possível averiguar a data em que volta para os Estados Unidos para descansar, mas na 26ª
reunião do Conselho, em 1904, recebe autorização para voltar ao Brasil (Ribeirão Preto). Em
relatório assinado em 18 de março de 1905 já está no país. Em 1907, como diretora da Escola
Metodista de Ribeirão Preto, torna-se oficialmente missionária do CMEM. Em março de
1908 pede demissão do cargo de missionária.
Lily A. Stradley, Senhorita
É aceita como missionária do CMEM e segue para o Brasil em 05 de agosto de 1896,
chegando ao Rio de Janeiro no dia 25 (junto com a Senhorita Smith). Em seguida vai para o
Colégio Americano de Petrópolis com a Senhorita Watts. Na edição de julho de 1898 é
publicada uma resolução transferindo-a para Piracicaba para suprir a ausência da Senhorita
Moore. Em julho de 1901 assina relatório como diretora do Piracicabano. Em 1902 segue
para os Estados Unidos para descansar. Participa da 25ª Reunião do Conselho em 1903.
Volta para Piracicaba no final de 1903. Em 1905 sua irmã, Jennie Stradley, vem para o Brasil
trabalhar como professora. Em maio de 1907 recebe autorização para iniciar a fundação de
um anexo no Piracicabano batizado de Anexo Marttie Watts, ―em homenagem a fundadora
da nossa missão no Brasil‖. Em novembro de 1910, última edição com notícias da
missionária, há a menção de que voltará para os Estados Unidos: ―A licença da Senhorita
Lilly Stradley estava prevista para dois anos, mas ela ficou heroicamente no seu trabalho por
não ter ninguém para assumir‖.
153

Lizzie B. Murphy, Senhorita


No final de 1908 chega ao Brasil com o Bispo Hoss e segue para Ribeirão
Preto como professora de música. Em relatório do dia 30 de setembro de 1908 continua em
Ribeirão e assume uma aula de inglês e uma de aritmética. Declara ter problemas com a
língua portuguesa e afirma ―Quero aprender rápido, pois poderei fazer parte de todos os
trabalhos da igreja.‖ Em relatório assinado em janeiro de 1910 há um registro da Senhorita
Murphy como responsável pelo departamento de música do Colégio Metodista de Ribeirão
Preto.
Louida A. Shaffer, Senhorita
Originária do Missouri. Em relatório datado de 02 de setembro de 1896, Watts relata que
Shaffer está no Colégio Americano de Juiz de Fora. Em outubro de 1897 assina relatório da
escola. Em janeiro de 1902 assina o relatório do Colégio Isabella Hendrix de Juiz de Fora.
Mesmo depois de ter recebido, em 1901, autorização voltar para os Estados Unidos, decide
permanecer na cidade retornando para sua terra natal apenas no final de 1902. Em relatório
publicado em julho de 1904, ―Senhoritas Watts e Christine aguardam o retorno da senhorita
Shaffer em Juiz de Fora, para que assim a Senhorita Watts possa ir para Belo Horizonte‖.
Em 31 de março de 1905 Shaffer já assina relatório do Colégio Americano. Em 15 de
setembro de 1909 volta para os Estados Unidos. Na edição de 1910 é publicada a notícia de
que Shafer não voltará ao Brasil até o começo do próximo ano, pois passará alguns meses
estudando, ―provavelmente na Universidade de Chicago‖.
Lula M. Ross, Senhorita
Aceita pelo Conselho da Mulher em 1889, embarcou para o Brasil no dia 06 de julho,
chegando ao Rio de Janeiro em 05 de agosto. Em fevereiro já estava em Piracicaba onde
ficou até o dia 16 de Julho de 1890 quando seguiu para o Rio de Janeiro para ficar a cargo da
escola. Por conta da epidemia de varíola, segue para Juiz de Fora em meados de 1892. Na 15ª
reunião do CMEM em 1893 é apontada para ficar com a senhorita Bruce em Juiz de Fora.
Fica como diretora do Colégio até o seu retorno para os Estados Unidos em julho de 1896.
M. Alice Moore, Senhorita
Em 1891 faz o curso de estudos no New England Deaconess Home and Training School.
Segue para o Brasil em 10 de julho de 1892 e chega em 20 de agosto em Piracicaba. Com a
ausência da Senhorita Watts, que segue para Petrópolis, fica responsável pela escola em abril
de 1895. Em meados de 1898 segue para os Estados Unidos e no ano seguinte participa da
21ª Reunião do CMEM e fala sobre o trabalho das missionárias no Brasil. Não volta mais
para o país. Em carta publicada em abril de 1901 Watts afirma tê-la encontrado nos Estados
154

Unidos e que a mesma seguia para o México.


Maidee Smith, Senhorita
Originária da Geórgia, a primeira notícia publicada de sua presença no Brasil é em Petrópolis
na edição de novembro de 1900. Na 23ª reunião do CMEM, em 06 de junho de 1901, há a
indicação de que ela passe de ―Professora Missionária‖ para ―Missionária Integral‖. Em
dezembro do mesmo ano já está na Escola Diária do Rio. Em 2 de fevereiro de 1903
participa da abertura do Colégio Americano Fluminense e cinco dias depois fica doente com
febre amarela. Segundo relatório de Layona Glenn, ―por dez dias sua vida ficou por um fio‖.
O último relatório com menção ao seu nome data de agosto de 1904 em Piracicaba.
Mamie A. Fenley, Senhorita
Segundo publicação na edição de julho de 1907, ―é ex-aluna do Piracicabano e está
ajudando em Ribeirão Preto, como professora de música‖. Há indícios que estava em
Ribeirão desde 1902. Faz uma viagem de descanso em 1907 para os Estados Unidos e volta
em setembro de 1908. Em 1909 assina mais um relatório do Colégio Metodista de Ribeirão
Preto. Em fevereiro de 1910 é enviada para Belo Horizonte.
Marcia Marvin, Senhorita
Originária da Sociedade de Conferência de St. Louis (Missouri), a primeira referência ao seu
nome aparece na edição de julho de 1887 noticiando que navegará para o Brasil em 27 de
julho, juntamente com a senhora Kennedy, para trabalhar em Piracicaba. Filha do bispo
Marvin, assume o posto de Governanta da escola. Em setembro de 1888 está no Rio de
Janeiro e em 1891 assina relatório discorrendo sobre a escola. Em meados de 1892 volta para
os Estados Unidos. Estava presente na 15ª reunião do CMEM em 1893. Não há registros no
Advocate de seu retorno ao Brasil.
Mary T. Pescud, Senhorita
Gradua-se em 1884 no Peabody Normal College, em Nashville (Tennessee). Em junho de
1898 é aceita como missionária para trabalhar no Brasil. Embarca em 05 de julho do mesmo
ano em Nova Iorque e desembarca no Rio de Janeiro em 27 de julho. Em 1899 está em Juiz
de Fora trabalhando com a senhorita Perkinson. Em relatório do dia 30 de setembro,
Perkinson relata que imediatamente após a Conferência no Brasil, Pescud é indicada para o
Rio de Janeiro no lugar da senhoria Glenn. Em 31 de março de 1900 assina o relatório da
Escola Diária no Rio. Na 22ª Reunião do CMEM em 1900, é indicada para ficar no lugar da
Senhorita Watts, que volta para os Estados Unidos, como diretora da escola em Petrópolis e
também como Agente da missão. Em relatório do dia 30 de setembro de 1900 ainda
apresenta relatório das escolas como Agente da Missão. Em 14 de janeiro de 1901 está em
155

Porto Alegre não mais como Agente. Em 1902 volta para os Estados Unidos para descansar.
Participa da 25ª Reunião do CMEM de 1903 onde é autorizado seu retorno ao Brasil, o que
só acontece em 1905. Segundo publicação de setembro de 1904, o atraso do seu retorno foi
devido a problemas de saúde. Em fevereiro de 1906 está no Colégio Americano de
Petrópolis. Não há registros da data de sua viagem para os Estados Unidos, mas na edição de
outubro de 1910 há uma notícia de sua volta para o Brasil no dia 03 setembro de 1910.
Mary W. Bruce, Senhorita
Quando o Conselho da Mulher divulga uma vaga para uma professora de música no Brasil,
Senhorita Bruce envia sua solicitação e é aceita em fevereiro de 1884. Navega para o Brasil
em 20 e agosto do mesmo ano, chegando ao Rio de Janeiro em 17 de setembro. Originária de
Pittsburg (Missouri), chega em Piracicaba para trabalhar em 03 de outubro do mesmo ano.
Em relatório datado de 10 de agosto de 1886 assina como diretora do Colégio Piracicabano
(substituindo Senhorita Watts que retorna aos Estados Unidos). Segundo Mattie Jones, em
1887, falando de Piracicaba, ―Senhorita Bruce estava executando as tarefas de diretora,
professora de música, governanta, e chefe de família, assim como uma gerente de negócios.
Além disso, está sujeita a constantes exigências urgentes como missionária num pastorado
repentinamente privado de pastor com a morte do Reverendo Mr. Koger‖. Em novembro de
1886, o Conselho decide que ―não havendo nenhuma missionária para esse trabalho no Rio,
foi decidido que a Senhorita Bruce e Senhorita Jones irão fazer esse trabalho tão logo a
senhorita Watts esteja bem de saúde para voltar para Piracicaba‖. No Rio de Janeiro, em
agosto de 1887, tem dificuldades em receber a licença para abrir a escola, o que acontece em
setembro do mesmo ano. Em 1891 é enviada para Juiz de Fora e abre uma escola em
setembro do mesmo ano. Em 1894 volta aos Estados Unidos para cuidar do pai e participa da
16ª Reunião do CMEM. Não há registros no Advocate de seu retorno ao Brasil. Segundo
suas próprias palavras, ―minha vida no Brasil teve muitas dificuldades, provações e muita
saúde, mas eu olho para trás como os melhores e mais felizes dez anos de toda a minha vida,
e quando os outros falam de sacrifício eu gosto de pensar em meu privilégio de ter tido a
oportunidade de fazer algo pelo meu Mestre‖.
Mattie Bethune Jones, Senhorita
Originária de Noscross (Geórgia), inicialmente é nomeada para a Missão do México Central
em janeiro de 1884. Posteriormente é transferida para a Missão no Brasil e desembarca no
Rio de Janeiro em 23 de abril de 1886. No dia seguinte segue para Piracicaba. Em 1887 é
transferida para o Rio de Janeiro. ―"Depois de um ano em Piracicaba, onde o jardim de
infância foi o meu especial cargo, fui nomeada com Miss Bruce para abrir o trabalho no Rio
156

de Janeiro". Junto com a senhoria Bruce se empenha para conseguir a licença para abrir a
escola. Em março de 1891 navega para os Estados Unidos, com a expectativa de retornar,
esperando ser acompanhada por sua mãe. Como não foi possível, ela permanece nos Estados
Unidos. Presente na 13ª Reunião doCMEM, fala sobre o trabalho da missão no Rio de
Janeiro. Não há no Advocate qualquer registro sobre seu retorno ao Brasil.
May M. Umberger, Senhorita
Em maio de 1892 se oferece como candidata missionária e para isso, passa mais de um ano
no Centenary College para sua formação. No outono de 1893, entra na Scarritt Bible and
Training School e em maio de 1895 é aceita pelo Conselho da Mulher e indicada para
trabalhar no Brasil. Em 22 de junho do mesmo ano embarca para o país chegando ao Rio de
Janeiro em 12 de julho. Depois de três dias na cidade, é enviada para Petrópolis, onde
começa a ensinar inglês. Retorna para os Estados Unidos em 1899 e volta para o Brasil três
meses depois. Em outubro de 1901 casa-se com o Senhor Terrel em Petrópolis (RJ). O último
registro de sua atuação no Advocate data de agosto de 1907, quando há a notícia de que ela e
a senhoria Maidee Smith fizeram visitas a hospitais no Rio de Janeiro.
Mattie Hite Watts, Senhorita
Possivelmente a biografia de Mattie H. Watts seja a mais abundante entre as pesquisas envolvendo a educação
metodista e protestante no Brasil. Sendo o Piracicabano considerado o “Colégio-Mae” da missão metodista
realizada no país, o destaque se justifica. Não pretendo reescrever aqui dados biográficos e trajetórias que já
foram feitas, mas sim transcrever a trajetória de Watts a partir dos registros feitos no Advocate como forma de
contribuição a todos os pesquisadores da missionária educadora.
A edição de julho de 1902 do Advocate traz uma pequena biografia de Martha Watts: ―Seu
pai foi Elijah Seracy Watts que nasceu em Versailles, Kentucky, e sua mãe, Elizabeth
Paxley, de Newcastle, Kentucky (Watts faz a correção do local de nascimento dos pais na
edição de novembro de 1902). Bispo Kavanaugh foi seu amigo e pastor e fez o sermão no
funeral de seus pais. Senhorita Watts diz que ‗foi a nona de doze irmãos nascidos de pobres
pais`. Ela iniciou seus estudos no Bardstown Female Institute, e com nove ou dez anos de
idade já podia ler, escrever, contar e escrever números.(...) Quando tinha dezesseis anos ela
se uniu à Igreja mas não se converteu. Sua família logo de mudou para Louisville e ficava
longe da igreja (...).No verão de 1874 eu decidi fazer melhor e buscar o Salvador.(...) A
senhorita Maria Gibson a tirou do ‗fosso lamacento` e a senhorita Mary Helm lhe chamou
para vir para o Brasil. Foi aceita CMEM em 1881 e enviada para o Brasil em 26 de março do
mesmo ano na companhia de Ransom, Kennedy e Koger (e esposa). Chegaram no Brasil em
17 de maio e em 23 de setembro abriram as portas do Piracicabano‖
A edição de março de 1881 apresenta sua indicação para o Brasil. Originária de Louisville
157

(Kentucky), se oferece como candidata missionária desejando ir para o Brasil. Nas edições de
agosto e dezembro do mesmo ano já publica cartas relatando as características e costumes do
Brasil e de Piracicaba. Em 23 de novembro o Colégio é transferido para uma casa maior. Em
1883, ―depois de quase dois anos de uma vida sedentária em Piracicaba‖, resolve fazer sua
primeira viagem no país e segue para Santos. Em 1886 retorna aos Estados Unidos para uma
temporada de descanso em companhia da Mlle Rennotte. Embarca de volta para o Brasil em
23 de abril de 1887 e reinicia seu trabalho no Piracicabano. Na 1ª reunião do Conselho da
Mulher no Brasil, ocorrida em 26 de dezembro de 1888, é uma das quatro representantes do
Conselho, juntamente com as senhoritas Mary w. Bruce, Mattie B. Jones e Ella W. Granbery.
O primeiro registro de Watts como Agente da Missão data de janeiro de 1892. A edição de
abril de 1892 há uma descrição da festa de aniversário feita pela escola para Watts (13/02).
Na 14ª Reunião anual do CMEM em 1892, é autorizada a voltar para os Estados Unidos,
viagem que acontece entre março e abril de 1893. Em 02 de junho de 1893 já está nos
Estados Unidos participando da 15ª Reunião Anual do CMEM. Com uma experiência de 12
anos de trabalho missionário no Brasil, relata com detalhes todo o trabalho desenvolvido nas
diversas escolas financiadas pelo Conselho. Em 19 de março de 1894 está em Greencastle
(Indiana) onde escreve uma carta publicada no Advocate fazendo uma descrição de sua
viagem nos Estados Unidos. Em determinado momento afirma, ―durante o mês de janeiro
frequentei a escola normal de Louisville e lá aprendi sobre a „nova educação‟ e como as
ciências são usadas para desenvolver conceitos dos estudos menores‖. A edição de agosto
do mesmo ano explica o atraso do seu retorno ao Brasil por conta da morte da irmã, Senhora
Greer, de Bloomfield, Ky, que morre algumas horas antes da sua partida. Retorna em agosto
de 1894 e segue para Petrópolis para a (re)abertura do Colégio que originariamente foi
inaugurado no Rio de Janeiro mas que é transferido por conta da epidemia de febre amarela.
Na edição de julho de 1895, segundo palavras da senhorita Littlejohn, ―depois da compra da
propriedade em Petrópolis, senhorita Watts achou necessário fazer algumas mudanças com
os trabalhadores. Então eu fui enviada para Piracicaba para ajudar a senhorita A. Moore
no Colégio Piracicabano‖. Watts abre o Colégio Americano de Petrópolis no dia 07 de maio
de 1895. Em 1896 reclama que as ocupações do Colégio não a estão deixando viajar como
queria, considerando seu posto de Agente da Missão. Justifica que, por conta disso, seus
relatórios são resultados de cartas enviadas pelas missionárias. Em fevereiro de 1900 reclama
da saúde, diz sofrer de reumatismo e completa, ―três dias atrás completei 52 anos, 19 desses
anos dados à missão no Brasil‖. Uma resolução da 22ª Reunião anual do CMEM decide que,
―a Senhorita Davis seja nomeada para o Rio e senhorita Pescud fique no lugar da senhorita
158

Watts como diretora da escola de Petrópolis e Agente da Missão, enquanto senhorita Watts
vai para casa‖. Em 03 de agosto de 1900 escreve de Liverpool (Inglaterra) e descreve sua
viagem pela Europa. Em 05 de março de 1901 se encontra em Oak Park (uma aldeia
localizada no estado americano de Illinois, no Condado de Cook) e em maio de 1901 vai para
Asheville, na Carolina do Norte. Participa da 23ª Reunião Anual do CMEM em junho de
1901 e em setembro escreve uma carta para o Advocate datada de 5 de setembro de 1901 em
sua terra natal, Louisville (Kentucky). Em setembro de 1902 já está em Juiz de Fora para
participar da Conferência Anual no Brasil e assina o relatório do Colégio Isabella Hendrix
em Juiz de Fora. Na edição de novembro de 1904, Layona Glenn afirma que deve viajar para
Belo Horizonte logo após a Conferência para, ―ajudar senhorita Watts „espiar a terra´ e
planejar nosso trabalho lá‖. Em julho de 1904 Watts segue para fixar residência em Belo
Horizonte e em outubro abre a escola que se tornaria o Colégio Isabella Hendrix agora em
Belo Horizonte (nome que aparece a primeira vez em relatório do dia 31 de março de 1905).
Na 30ª Reunião anual do CMEM de 1908 fica decidido:
1. Que o pedido da senhorita Watts foi atendido. Que ela fará trabalho de visitação, passando
algum tempo em cada estação e escola. Também que faça visita a cada casa de famílias
brasileiras quando possível, desse modo fazendo um trabalho de evangelização. Algumas de
nossas missionárias ficarão responsáveis pelo Instituto Isabella Hendrix para que o trabalho
da senhorita Watts seja possível
2. Que ela continuará recebendo salário, com duzentos dólares adicionais para as despesas
com as viagens, que o relatório do seu trabalho seja enviado para o Conselho.
Em maio de 1909 já está nos Estados Unidos. Morre em 10 de janeiro de 1910 em sua terra
natal, Louisville (Kentucky).
Mollie Florence Brown, Senhorita
Aceita como missionária na 13ª Reunião do CMEM em 1891. Embarca para o Brasil em 09
de julho chegando em 14 de agosto no Rio de Janeiro. Por conta da febre amarela segue
imediatamente para Juiz de Fora. Na edição de fevereiro de 1892 apresenta relatório como
professora no Colégio Mineiro de Juiz de Fora. Antes mesmo de terminar o ano, retorna aos
Estados Unidos por motivo de saúde. Não pode voltar ao Brasil por ter que cuidar da mãe
inválida.
Sallie M. Phillips, Senhorita
Originária de Louisiana, chega ao Brasil em novembro de 1889. Segue para o trabalho em
Piracicaba. Em maio de 1891 visita o Colégio Americano de Taubaté. Na edição de
dezembro de 1892 está a cargo do Conselho Escolar do Colégio em Piracicaba na ausência
159

da Senhorita Watts. Casa-se em 1893 passando a se chamar Sallie Phillips Hamilton. Deixa o
CMEM para fazer parte do Conselho Principal da Igreja.
Sarah Marne, Senhorita
Indicada na 31ª Reunião do Conselho em 1909. Saiu de Nova Iorque em 20 de agosto do
mesmo ano com destino ao Rio de Janeiro. Segue para Petrópolis. Em agosto de 1910
assume o controle do Colégio Americano de Petrópolis. O último registro de sua atividade no
Advocate data de novembro de 1910 indicando sua manutenção em Petrópolis.
Sloss, Senhorita
Chega ao Brasil em 1899 como professora de música e, segundo Senhorita Watts, para um
período de trabalho de cinco anos. Primeiramente atua em Piracicaba seguindo para
Petrópolis. Embarca de volta para os Estados Unidos em 3 de setembro de 1901. Não há
registros no Advocate sobre o motivo do seu retorno para a terra natal. Segundo Jennie
Kennedy, ―Senhorita Sloss fez um bom trabalho, não só na escola, mas na igreja também,
sentimos muito sua ida. Esperamos que ela ainda possa se sentir chamada a voltar para o
Brasil depois do descanso de um ano‖.
Susan Littlejohn, Senhorita
―Sai de Newport News (Virgínia), em 15 de julho de 1892, chegando ao Rio no dia 9 de
agosto, e em Juiz de Fora no dia 11. Eu estava ansiosa para começar a estudar português,
mas isso eu não poderia fazer até a Conferência, que se reuniu no dia da minha chegada em
meu novo lar‖. Na edição de janeiro de 1893, Senhorita Bruce exalta a chegada de Littlejohn
para trabalhar no Colégio Mineiro de Juiz de Fora, onde fica até 1895 quando segue para
Piracicaba. Também conhecida como Susanna pelos moradores da cidade, Littlejohn fica
responsável, além das aulas, pela organização do Colégio e contratação dos professores. Fica
cinco anos no Brasil retornando para os Estados Unidos em 1897.
Trulie A. Richmond, senhorita
É indicada para o Brasil na 31ª Reunião anual do CMEM em 1909. Chega ao Brasil e
começa a trabalhar em Piracicaba. Segue para o Rio de Janeiro em 1910.
Valéria Vollmer, Senhorita
Indicada para professora missionária no Brasil na 31ª Reunião anual do CMEM de 1909,
chega em 1910 e segue para Porto Alegre. Além das aulas no Colégio, também dá aulas na
Escola Dominical e ficou a cargo do Segundo Departamento da Liga Epworth (responsável
pelas visitas a pobres e doentes). O último registro no Advocate da sua atuação data de
outubro de 1910 ainda em Porto Alegre.
Willie Ann Bowman, senhorita
160

Dois anos depois de entrar na Scarritt Bible and Training School, embarca para o Brasil em
22 de junho de 1895, chegando ao Rio de Janeiro no dia 12 de julho, junto com as senhoritas
Perkinson e Umberger. Uma semana depois é designada para continuar a trabalhar no Rio
para ajudar no trabalho de visitação e estudar a língua. Na edição de julho de 1897 relata que
trabalha com duas sociedades de mulheres no Rio, uma para senhoras que falam inglês e
outra para senhoras que só falam português. Justifica as sociedades dizendo que a dificuldade
da língua, para ambos os grupos, prejudica o trabalho de evangelização. Em 27 de julho de
1898 segue para Piracicaba por um mês. Retorna ao Rio para seu trabalho de visitação. Em
outubro de 1900 se prepara para voltar para casa. Esteve presente na 23ª Reunião anual do
CMEM em junho de 1901 nos Estados Unidos. Volta para o Brasil em setembro de 1901.
Trabalha como braço direito da senhorita Glenn no Rio de Janeiro. Em setembro de 1902
está em Ribeirão Preto e afirma, ―o trabalho maior neste momento é no internato da Escola
Metodista. Faço visitações depois das 16h‖. Uma resolução aprovada na 26ª Reunião do
CMEM em 1904 decide que: ―Se a senhorita Leonora Smith retornar para Ribeirão Preto,
que à senhorita Bowman seja permitido o maior tempo possível para visitações‖. Junto com
a senhorita Stewart, presta ajuda no hospital de Ribeirão Preto por conta da epidemia de
febre amarela. O último registro no Advocate indica sua permanência em Ribeirão e a
continuidade dos trabalhos de visitação em 1907.

* Os dados apresentados neste anexo referem-se àqueles encontrados nas edições do Advocate. Em
alguns casos foram incluídas informações do livro Missionary Cameos, obra indicada nas
Referências.
161

ANEXO V

Gráficos: número de alunas matriculadas nos colégios metodistas entre 1880 e 1910
conforme relatórios publicados no Advocate.

160
140
120
100
80
60
40
20
0

ago/03

dez/08
nov/00

jan/04

jul/05

jan/10
07/1889
11/1882

01/1884

08/1884

12/1884

08/1885

11/1886

07/1887

12/1888

02/1890

05/1890

07/1891

01/1892

12/1892

10/1893

10/1897
Piracicabano

140
120
100
80
60
40
20
0
10/1898 01/1899 fev/00 jun/00
Escola Diária do Rio

100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
03/1892
12/1887

07/1888

12/1888

03/1889

06/1890

10/1890

06/1891

09/1891

07/1894

Colégio para meninas no Rio


10
20
30
40
50
70
80
90

60

0
100
07/1895
11/1895
04/1896

10
30
40
50
60
70

0
20
06/1896

10
20
30
40
50
60
70
80
90

0
08/1896
01/1897
12/1895

05/1890
04/1897
07/1897
04/1896
10/1897
04/1898

06/1890
10/1897
01/1899
04/1899 09/1898
11/1899

01/1891
fev/00 out/01
jun/00

Colégio Americano de Taubaté


nov/00 abr/03

02/1891
Colégio Americano Fluminense

Colégio Americano de Petrópolis


jan/02
fev/03 jul/04
ago/04

05/1891
nov/04 nov/10

ago/05
nov/06
dez/08
jan/09
162

dez/09
nov/10
163

180
160
140
120
100
80
60
40
20
0

dez/08

ago/10
fev/00
nov/00

nov/10
jan/02
jan/04

jan/09
jul/09
03/1892
06/1892
05/1893
06/1893
09/1893
03/1894
06/1894
05/1895
12/1895
04/1896
01/1897
04/1897
07/1897
10/1897
02/1898
04/1898
10/1898
01/1899
04/1899
08/1899
Colégio Mineiro Juiz de Fora

66

64

62

60

58

56

54

52
jan/02 fev/03 jun/03 nov/03
Isabella Hendrix Juiz de Fora

160
140
120
100
80
60
40
20
0
mar/05 ago/05 jul/06 nov/06 set/07 jan/09 jan/10
Isabella Hendrix BH
164

140
120
100
80
60
40
20
0
fev/00 jun/00 nov/00 jan/01 jul/08 jul/09 jan/10 ago/10
Colégio Ribeirão Preto

120

100

80

60

40

20

0
fev/03 jul/03 jan/04 nov/04 ago/05 jul/09 out/09 jan/10 out/10
Colégio Americano de Porto Alegre

180
175
170
165
160
155
150
145
140
135
out/09 jan/10 abr/10
Colégio Americano de Porto Alegre - ANEXOS

Não é possível afirmar qual o número de alunos que efetivamente frequentava os colégios. Os relatórios
apresentavam, ora somente o número de matrículas, ora somente número de alunos frequentes, sem contar que
não havia uma frequência linear durante o ano. Os números, entretanto, podem indicar o fluxo de frequência de
cada instituição.
165

ANEXO VI

Capas do periódico – Modificações

Julho de 1880
166

Agosto 1889

* A capa muda em Julho de 1889, mas por estar com defeitos de impressão, não foi colocada.
167

Julho 1890
168

Setembro 1895
169

Maio 1902

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