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Ana Patricia Oliveira da Silva (patriciagragnnel03@gmail.

com), Breno
Mario Silva Perrone (brenoperrone@ufam.edu.br) , Giovana Picanço
Alvarenga (giovana25alvarenga@gmail.com) e Victoria Melice Grana
Barbosa (victoriamelice@gmail.com)

ANÁLISE DE CICLO DE VIDA DA CAIXA DE MADEIRA


UTILIZADA PARA ARMAZENAR FRUTAS

RESUMO 
A avaliação do ciclo de vida (ACV) é uma ferramenta que avalia os aspectos ambientais e os impactos
potenciais ao longo do ciclo de vida de um produto, desde a aquisição de matérias-primas, passando por
produção, uso e disposição. Um setor que costuma ser alvo deste tipo de análise é o de embalagens, por
possuir o período de uso muito curto e não necessariamente ligado ao produto embalado. Neste trabalho,
a metodologia de avaliação do ciclo de vida (ACV) é aplicada à indústria de embalagens descartáveis
para frutas, com a finalidade de avaliar o desempenho ambiental de caixas de madeira. A metodologia
para realização da ACV utilizada está de acordo com o descrito na família de normas ISO 14040, sendo
dividida em quatro etapas: definição de objetivo e escopo, análise de inventário, avaliação de impacto e
interpretação dos resultados.A discussão dos resultados evidencia que os processos que mais contribuem
para os impactos, estão relacionados à extração da madeira, produção de energia e disposição dos
resíduos sólidos. A partir dos resultados obtidos, constata-se que a embalagem de madeira possui
comportamento ambiental inferior para o cenário-base avaliado e recomenda-se a sua substituição por
embalagens biodegradáveis. 

Palavras-chave: Avaliação do ciclo de vida. Gestão ambiental. Embalagens para frutas. Madeira.

ABSTRACT
Life Cycle Assessment (LCA) is a tool that assesses environmental impacts and potential impacts

throughout a product's life cycle, from acquisition of raw materials, through production, use and disposal.
A sector that is usually the target of this type of analysis is packaging, as it has a very short period of use
and is not necessarily linked to the packaged product. In this work, the life cycle assessment (LCA)
methodology is applied to the disposable fruit packaging industry, in order to assess the environmental
performance of wooden boxes. The methodology for carrying out the LCA used is in accordance with
what is described in the ISO 14040 family of standards, being divided into four stages: definition of
objective and scope, inventory analysis, impact assessment and interpretation of results. The discussion of
the results shows that the processes that most contribute to the impacts are related to wood extraction,
energy production and solid waste disposal. From the results obtained, it appears that the wooden
packaging has a lower environmental behavior for the base-scenario evaluated and its replacement by
biodegradable packaging is recommended.

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Keywords: Life cycle assessment. Environmental management. Packaging for fruits. Wood.
1. INTRODUÇÃO
É de conhecimento geral que as embalagens são responsáveis por boa parte da
carga ambiental de um produto, especialmente quando não são retornáveis. Isto porque
a embalagem, enquanto produto, possui período de uso muito curto e que não está
necessariamente ligado à mercadoria embalada. Além disso, a produção de embalagens
envolve diversos subsistemas que colaboram de diferentes formas na carga ambiental do
sistema de produto. Quando se considera um artigo que não é processado e, por isso,
possui menor impacto ambiental associado, a embalagem passa a ser a principal
contribuição deste ciclo de vida. Este é o caso das embalagens descartáveis para
acondicionar e transportar frutas.
A aplicação da ACV na gestão de embalagens descartáveis para frutas revela-se
de grande potencial para a melhoria da eficiência ambiental no acondicionamento
destes produtos, permitindo a identificação das etapas críticas do processo; avaliação
dos efeitos ambientais e identificação da necessidade de pesquisa na área. Além disso,
pode prover as bases para introduzir os princípios do sistema de normas ISO 14000 nas
indústrias e identificar processos passíveis de alteração, com a finalidade de redução de
impactos negativos na concepção do produto. Do mesmo modo, a avaliação da conduta
ambiental de embalagens permite identificar a adequação das mesmas ao mercado de
frutas, enfatizando o custo ambiental embutido ao longo do ciclo de vida das mesmas. 
Em vista disso, este trabalho se propõe a analisar um estudo ambiental com o
uso da ferramenta de avaliação de ciclo de vida para avaliar o comportamento ambiental
de caixas de madeira para o transporte de frutas. Foi baseado em um estudo de caso
desenvolvido para o aprofundamento no conhecimento da técnica ACV, avaliando o
desempenho ambiental deste tipo de caixa em uma indústria de frutas.
Após esta introdução, foi desenvolvido no item 2 uma revisão bibliográfica
sobre a avaliação do ciclo de vida e seus aspectos relevantes para o desenvolvimento do
trabalho. O item 3 aborda os materiais e métodos utilizados. No item 4 é apresentado o
desenvolvimento da ACV e seus resultados de inventário e impacto, bem como a
discussão dos resultados obtidos. Finalmente, nos itens 5 e 6 são apresentadas as
conclusões e referências deste trabalho.
2. REFERENCIAL TEÓRICO

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Neste trabalho serão abordados aspectos a avaliação do ciclo de vida
(ACV) os quais se apresentam como fundamentais para análise. Na ordem de
apresentação serão feitos os conceitos fundamentais relativos à ACV, buscando
alinhar com o que é definido pelas normas ISO 14040 (International Organization
for Standardization - ISO, 2006a). Para COLTRO (2007)
Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) é uma ferramenta que
permite avaliar o impacto ambiental potencial associado a
um produto ou atividade durante seu ciclo de vida. A ACV
também permite identificar quais estágios do ciclo de vida
têm contribuição mais significativa para o impacto ambiental
do processo ou produto estudado
2.1 Avaliação do Ciclo de Vida
Afim de verificar quais impactos ambientais de um determinado produto, é
necessário fazer uma escolha metodológica do qual possa agregar resultados para
o ciclo de vida. A metodologia de avaliação do ciclo de vida (ACV) leva em
consideração todas as interrelaçoes do objeto de estudo e seus mais diversos
impactos no meio ambiente, sendo assimum instrumento capaz de analisar e
categorizar os impactos ambientais de um produto, processo ou atividade.
Com a crise do petróleo que levou a sociedade a se questionar sobre o
limite da extração dos recursos naturais, especialmente de combustíveis fósseis e
de recursos minerais se deu início as questões ambientais conhecidas como ACV.
Seus estudos deram-se na década de 60, os quais seus primeiros estudos tinham
por objetivo calcular o consumo de energia e como essas energias contribuíam
para o impacto do meio ambiente. Nas palavras de COLTRO (2007, pag. 11)
Estes estudos envolviam a elaboração de um fluxograma de
processo com balanço de massa e de energia. Logo, dados
sobre consumo de matérias primas e de combustíveis e sobre
os resíduos sólidos gerados eram contabilizados
automaticamente. Por esta razão, alguns analistas se referiam
a estes estudos como “análise de recursos” (resource
analysis) ou “análise do perfil ambiental” (environmental
profile analysis).

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Após a sinalização do uso desta análise por algumas empresas como
ferramenta de gestão ambiental, a análise de ciclo de vida passa a ganhar destaque
importante nos estudos do meio ambiente. C om o co ns eq uê nc i a de s s e
d es ta qu e n o s e to r am b ie n t al o in t er e s s e p or es s a m e to do l og i a qu e
i ni c i a lm e n te s e m an t i a m ma is f or te m en t e ao s i nt e re s s es de
g er en t es in du s t ri a is q ua i s ti nh a m c o mo in tu i to comprovar que seus
produtos seriam ambientalmente melhores que dos demais. A seguir, os
consumidores começam a se interessar por produtos viáveis ambientalmente
criando assim um ciclo de interesses que levam ao aprimoramento da metodologia
de impacto ambiental por ACV. Atualmente, a comparação ainda é o objetivo de
muitos grupos, porém, o uso da ferramenta para melhorar o perfil ambiental de um
produto é a maior motivação ao se conduzir uma ACV (Curran, 1996).

2.1.1 O ciclo de vida apresentada de forma discritiva.


Quando falamos estamos nos referindo a todas as etapas e processos de um
sistema de produtos ou serviços, dos quais englobando toda a cadeia de
produção e consumo, considerando aquisição de energia, matérias primas e
produtos auxiliares; aspectos dos sistemas de transportes e logística;
características da utilização, manuseio, embalagem, marketing e consumo; sobras
e resíduos e sua respectiva reciclagem ou destino final.
De acordo com ABNT (1996), são elementos que podem interagem com
o meio ambiente e às modificações do meio ambiente como consequência dessa
interação.
Mediante as considerações da ABNT temos como descrição de impactos:
 A compilação de um inventário de entradas e saídas pertinentes de
um sistema de produto;
 A avaliação dos impactos ambientais potenciais associados a
essas entradas e saídas;
 A interpretação dos resultados das fases de análise de inventário e
de avaliação de impactos em relação aos objetivos do estudo.
Realizar uma divisão descrevendo as indicações de entradas e saídas do sistema
é uma forma de organizar e direcionar os resultados, caracterizando os elementos
evidenciados como impactantes no processo. Segundo a norma NBR 14040 (ABNT,
2001), esta análise pode ser dividida em quatro fases distintas: definição de objetivo e
escopo, análise do inventário, avaliação de impacto e interpretação dos resultados.

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3. MATERIAIS E MÉTODOS
A metodologia estabelecida para aplicação das ferramentas de ACV no presente
trabalho é a preconizada pela ABNT (2001) e está dividida em quatro etapas que serão
descritas posteriormente. O uso de recursos computacionais são necessários devido à
grande quantidade de dados coletados e à necessidade de mesclar dados de outros ciclos
de vida, o uso de software facilita o uso e modificação dos dados; além de analisar os
dados de acordo com diferentes métodos, também é possível associar os dados a
diferentes categorias de impacto do ciclo de vida. O uso de ferramentas computacionais
também permite que outros usuários obtenham resultados, permitindo a atualização. O
software GaBi versão 4 (LBP, PE, 2007) foi escolhido porque o sistema estudado é de
fácil visualização e opera em módulos.

3.1 Definição de objetivos e escopo


Nesta fase, são definidos os principais aspectos da ACV. Foram feitas visitas à
indústria de embalagens de frutas e visitas complementares às empresas fornecedoras
para observação da utilização de diferentes caixas, considerando sua logística de
transporte; os procedimentos adotados e as especificidades das mesmas. Por meio
dessas visitas e da bibliografia revisada, define-se o escopo desta ACV.

3.2 Definição de Sistema de Produto


O sistema selecionado possui seus limites na região sul do Brasil, mais
especificamente nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Todavia, podendo
ser aplicado em outros locais com realidade similar no Brasil.

3.3 Definição de Cenário Base


O cenário base da ACV está estabelecido de acordo com o observado na revisão
bibliográfica, considerando sua taxa de reciclagem é de 50% no uso das caixas, a matriz
energética utilizada é a da região em estudo (RS e SC) e as caixas não recicladas são
dispostas em aterro.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Objetivo e Escopo
Nesta fase, definiu-se os principais aspectos da ACV. Primeiramente, definiu-se
que o objetivo da análise é avaliar e comparar o desempenho ambiental das caixas de
madeira utilizadas para o armazenamento de frutas. Pela imensa variedade de tipologias

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e tamanhos destas caixas disponíveis no mercado, optou-se por avaliar as embalagens
tipo platô, com capacidade de 6 kg de frutas.
A etapa de utilização destas caixas inicia no produtor de frutas, passa por seu
transporte e, finalmente, é exposta ao consumidor final, conforme se observa nos
grandes supermercados.
Na figura 1 está representado o modelo de caixa de madeira utilizada para a
ACV. Na figura 2 está representado pelo fluxograma o ciclo de vida para a caixa de
madeira.

Figura 1. Caixa de madeira para a ACV

Figura 2. Caixas de madeira para armazenar frutas

4.2 Inventário de Ciclo de Vida


Para esta etapa, os dados foram inventariados junto a uma madeireira da região
em estudo.
Após a inserção dos dados e dos procedimentos de alocação no software é
realizado o balanço, onde os dados são agregados e convertidos à unidade funcional
(2000 caixas de frutas com capacidade de 6 kg). Os resultados do inventário são
visualizados, a seguir, na Tabela 1, para entradas, e Tabela 2, para saídas.

Tabela 1. Dados de Entrada do ICV. Valores em kg

Compartilhamento Fluxo Madeira


Petróleo 121,64
Carvão natural 136,57
Cascalho 138,12
Rocha inerte 857,86
Recursos Agregado natural 8,07
Água 11.755,35
Ar (não especificado) 1.514,64
CO2 3.930,16

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Minério de ferro 21,99

Tabela 2. Dados de Saída do ICV. Valores em kg

Compartilhamento Fluxo Madeira


Resíduo sólido de demolição 0,76
Excedente de produção 854,27
Resíduos sólidos Outros resíduos sólidos 4,17
Solo Óleo 0,49
Inorgânicos CO2 1.003,48
CO 2,14
HCl 0,09
Emissões NOx 4,46
atmosféricas Vapor 511,75
SO2 6,62
Orgânicos NMVOC 0,71
CH4 2,96
Outros Ar 0,7
Efluentes (meio Inorgânicos Cl 1,93
aquático) SO42- 0,16
Outros Água (excedente) 11.254,20
Escória de acearia 3,5

De acordo com os resultados de inventário obtidos, os insumos mais relevantes,


são: água, ar e dióxido de carbono (CO2). O CO2 absorvido no ciclo de vida é
consumido no crescimento das árvores. Já o ar é utilizado quase que em sua totalidade
pelas usinas termelétricas. A água é empregada na produção energética em
termoelétrica.

4.3 Análise de Impacto

Depois de concluído o ICV, foi realizada a análise de impacto de ciclo de vida, a


partir dos dados de inventário. Na análise de impacto optou-se por utilizar uma
ferramenta que abrangesse de forma mais satisfatória os compartimentos ar, água e solo.
A ferramenta selecionada foi a IMPACT 2002+ (Humbert, 2005), ou I02+, no nível de
caracterização e dano normalizado.
A Tabela 3 descreve a participação de cada unidade de processo nos valores de
impacto de caracterização
Tabela 3. Impactos Ambientais causados pela caixa de madeira. Valores em percentual
Categorias de Corte Fabricaçã Disposição Plantio Caminhão Extraçã Termo- Hidro- Prod Prod Total
Caracterização da o em aterro da o elétrica elétrica de grampos
madeira da caixa madeira madeira madeira Diese
l
Acidific. água 0 0 0 0 0 1 95 0 3 1 100
Ecotox. água 4 9 1 0 0 55 10 0 11 10 100
Eutrof. água 1 2 0 0 0 11 1 0 85 1 100
Carcinogênicos 0 0 0 0 0 1 74 12 13 0 100

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Mudanças 0 1 3 0 30 3 30 26 3 3 100
climáticas
Radiaç. 0 0 0 0 0 0 8 6 86 0 100
Ionizantes
Não- 1 5 1 0 1 15 62 5 12 0 100
carcinogênicos
Acidific. terra 0 7 10 1 50 7 39 0 2 100
Ecotox. terra 0 0 0 0 0 7 69 2 7 100
Extração de 0 6 0 0 0 0 0 1 1 99 100
minerais

Dentre as unidades de processo que colaboraram de forma significativa para os


impactos ambientais, destaca-se: Produção de energia na termoelétrica: (95% do escore
de acidificação nos corpos d’água, 74% dos carcinogênicos); Produção de grampos:
(nesta etapa são extraídos com 99% dos recursos minerais demandados); Produção de
diesel (86% do escore da radiação ionizante e 85% da eutrofização aos corpos d’água);
Utilização do modal caminhão (responsável por 50% dos impactos de acidificação e
nutrificação do solo).
Analisando a tabela pode-se concluir que, apesar de ser responsável por apenas
32% da energia elétrica produzida, a usina termoelétrica é a maior responsável pelos
impactos ambientais.

5. CONCLUSÃO
A partir dos dados obtidos e dos resultados discutidos anteriormente, conclui-se
que as embalagens de madeira tipo platô (6 kg) tem uma maior vantagem
ambientalmente. Sendo importante salientar que os resultados obtidos demonstram que
a ACV pode ser inclusa a realidade, seguindo alguns cuidados. O desenvolvimento de
um banco de dados de inventário nacional facilitará a adoção desta ferramenta em nível
local. No entanto, é necessária uma metodologia nacional, levando em consideração as
especificidades locais, para tomar decisões válidas por meio do uso da ferramenta ACV.
Como sugestão, a empresa pode adotar a política da logística reversa, fazendo a coleta
das caixas a fim de reutilizá-las, outra medida que pode ser adotada é a substituição de
caixas de mateira por sacolas biodegradáveis oriundas de resíduos de frutas.

6. REFERÊNCIAS
CURRAN, M.A. Environmental life cycle assessment. New York: McGraw-
Hill, 1996. 431 p. Avaliação do ciclo de vida como instrumento de gestão /
Leda Coltro (Org.). Campinas: CETEA/ITAL, 2007. [on-line]. 75 p.: il.

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Bibliografia ISBN 978-85-7029-083-0

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