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Para compreendermos melhor o meio ambiente, não apenas como um conjunto de
elementos naturais interagindo entre si, mas envolvendo a interação destes elementos tendo a
ação do homem como principal agente transformador, consideramos que algumas formas
dessas relações podem causar danos ambientais irreparáveis ou irreversíveis se não forem
controladas ou amenizadas através de medidas racionais visando sua conservação. Simmons
(1982) destaca que o uso crescente do processamento dos recursos naturais está criando uma
série de problemas ambientais. Por conseguinte, nos dias de hoje, o final do processo de
produção e o descarte no uso doméstico de alguns desses mesmos recursos, transformados em
produtos, estão causando sérios problemas de tratamento e disposição final dos resíduos para
a gestão ambiental.
A série ISO 14000 foi criada pela Organização Mundial de Normatizações (ISO -
International Organization for Standardization). Esta instituição foi criada em 1946 com o
caráter de promover o desenvolvimento de normas internacionais com características
voluntárias na indústria, comércio e serviços. A série inicialmente formulada pela ISO/TC
(International Organization for Standardization/ Technical Committees) 207 em 1993 tinha
como meta principal a elaboração de normas de gestão ambiental promovendo um enfoque
comum ao gerenciamento ambiental para aprimorar métodos de desempenhos ambientais e
facilitar o comércio entre os países (CAVALCANTI apud FREIRE, 2000 p.20). De acordo
com os seus conceitos, a organização que pretende implantar um Sistema de Gestão
Ambiental, deve implantar parâmetros como políticas ambientais, identificação e controle dos
seus aspectos ambientais, metas e objetivos, treinamentos contínuos, monitoramentos e
verificação do desempenho ambiental, redução dos impactos ambientais referentes aos seus
aspectos ambientais, entre outros.
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Segundo a ISO 14001 após a primeira etapa do cumprimento das suas determinações
que é o estabelecimento da política ambiental, a próxima etapa é o levantamento dos aspectos
ambientais que potencialmente podem ocasionar impactos no meio ambiente, sendo ele de
forma direta ou indireta. Nos laboratórios estudados, os aspectos ambientais que oferecem
maior destaque é a geração de resíduos líquidos proporcionados por diversas áreas de
atividade. Cada área de atuação possui uma característica intrínseca quanto aos tipos de
produtos utilizados e aos tipos de amostras analisadas, ou seja, para cada tipo de amostra são
necessários produtos diferentes para estabelecer os resultados esperados. Dentro da etapa do
levantamento dos aspectos ambientais, segundo o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas (2006), é necessária a classificação e a quantificação destes resíduos. Ao partirmos
deste conceito, foi desenvolvido um sistema de classificação e subclassificação dos resíduos
químicos gerados para o seu futuro levantamento para se cumprir a determinação da
quantificação destes resíduos.
Além do ponto principal que é o cumprimento das determinações exigidas pela ISO
14001, os laboratórios estudados possuem atividades diretamente ligadas ao bem estar
humano, tais como análise de fármacos e análise de resíduos de alimentos, portanto, é
necessário que o sistema de gerenciamento de resíduos seja adequado à resolução da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) número
306/04, pois a sua abrangência enfoca laboratórios de análises de produtos para saúde, além
de outras normas e leis como as da ABNT- NBR 10004, NBR 12235, NBR 7500, NBR 13221
e da Comissão Nacional de Energia Nuclear – (CNEN) NE- 6.05, entre outras. Assim como
exige na ISO 14001, como na RDC 306/04, é necessário após o levantamento dos aspectos
ambientais, a aplicação do seu manejo segundo outros requisitos legais aplicáveis. No caso da
RDC 306/04, são citados quais os requisitos legais que devem ser seguidos, já na ISO 14001
ficam abertos para as adequações conforme a realidade dos aspectos e seus impactos
decorrentes. Ambas corroboram para a melhoria do bem estar social visando à implantação de
técnicas que conservem e preservem o meio ambiente. Especificamente a RDC 306/04 é o
requisito legal que mais se aproxima da realidade estudada dos laboratórios da área química,
portanto, o sistema de gerenciamento que consiste em caracterizar, classificar, segregar,
transportar, armazenar, tratar e destinar, além das suas quantificações que consiste em
desenvolver “instrumentos de avaliação e controle, incluindo a construção de indicadores
claros, objetivos, auto-explicativos e confiáveis, que permitam acompanhar a eficácia do
PGRSS implantado” (RDC 306/04 item 4.2.1 p.6) contribuem para o fornecimento de dados
para o estabelecimento de metas de redução da geração de resíduos, e, conseqüentemente, da
diminuição dos riscos e impactos ambientais adversos.
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2.0 Definição da área de estudo e a metodologia aplicada para o levantamento dos
compostos de resíduos gerados
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A metodologia aplicada para o gerenciamento dos resíduos químicos consiste em
caracterizar, segregar, armazenar e destinar de forma correta e legal os resíduos gerados
(JARDIM, 1998; CUNHA, 2001). Para Jardim (1998), esta forma de gerenciamento é figura
de mérito para qualquer plano de gerenciamento e também propõe uma hierarquia de medidas
visando uma otimização da “Unidade Geradora”, com intuito de proporcionar a minimização
dos resíduos e a redução dos custos das análises, meta comum a ser cumprida por qualquer
tipo de Sistema de Gestão Ambiental.
Para a quantificação dos resíduos gerados nestes laboratórios, foi necessário que os
operadores e técnicos seguissem um sistema implantado de registros de descartes, e através
destes registros pôde-se quantificar periodicamente as principais composições de resíduos. O
sistema implantado através da formulação de livros de registros para atividades específicas de
descarte foi baseado na norma ISO17025 - Requisitos gerais para competência de laboratórios
de ensaio e calibração.
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4.1 Técnicas para o levantamento dos dados
Antes dos registros em livros específicos de descarte de resíduos, foi necessário criar
um sistema de identificação e rotulagem dos frascos coletores. Através de normas internas de
meio ambiente, ficou estabelecido que frascos coletores considerados de atividades de
geração rotineira de resíduos teriam uma capacidade máxima de 5 litros. As informações da
rotulagem destes frascos foram baseadas na Ficha de Caracterização de Resíduos aplicadas no
Programa de Gerenciamento de Resíduos da Universidade Federal de São Carlos
(UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS, 2005). A identificação deste tipo de
descarte é “Descarte Usual” que contém: o grupo de descarte e o código da fonte geradora1,
informações pertinentes às características do resíduo, a data, a rubrica e vencimento de
utilização do frasco:
Descarte Usual
Ácido Básico
Inflamável Aquoso
Explosivo Radioativo
Metais pesados Material biológico infeccioso
Oxidante energético Redutor Energético
Contém agroquímicos Outros:
Data: ______________ Vencimento 4 meses
Rubrica: _____________
Após o uso destes frascos coletores com os descartes gerados rotineiramente em locais
de uso comum que ficam geralmente próximos a bancadas ou equipamentos, baseando-se no
sistema implantado de segregação, estes resíduos são transferidos em frascos coletores
maiores, como bombonas de 50 litros. Estes frascos maiores, em geral, ficam em locais
afastados do interior dos laboratórios, como as salas de lavagens. Este tipo de descarte recebe
o nome de “Descarte Temporário”. A rotulagem destes recipientes foi desenvolvida
internamente, contendo informações pertinentes ao grupo de descarte, e outro código que no
caso é identificado com o código do laboratório em um número seqüencial:
Descarte Temporário
1. Definido pelo levantamento na planilha de Identificação de Resíduos e Mapeamento das suas Fontes Geradoras (IRMFG)
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O procedimento que envolve a transferência de um volume menor de resíduo coletado
nos frascos de “Descarte Usual” para os frascos de maior capacidade designado como
“Descarte Temporário”, deve ser registrado em um livro de registro criado pelo sistema
implantado, intitulado de “Registro de Identificação do resíduo gerado na fonte para o
armazenamento temporário no laboratório”, de acordo com a figura 3. Este livro coleta
informações para a quantificação dos dados referentes à geração dos resíduos nos
laboratórios. Neste livro são informados: o volume descartado; a pessoa que descartou; o
horário; o código da fonte pela qual procede este resíduo identificado na etiqueta de
“Descarte Usual”, e o código do coletor pelo qual o resíduo está sendo transferido,
encontrado no rótulo do recipiente de “Descarte Temporário”. Dentro das informações
contidas neste livro de registro é que os dados são coletados para tabular e quantificar o total
de resíduos gerados divididos em determinado períodos de tempo.
Fig. 3 - Registro de Identificação do resíduo gerado na fonte para o armazenamento temporário no Laboratório.
Fonte: BIOAGRI LABORATÓRIOS, 2005.
Da mesma forma pela qual é feito o “Descarte Usual” (sempre que se esgota a
capacidade do recipiente, o seu conteúdo deve ser transferido para o “Descarte Temporário”),
o procedimento de registro se repete quando o recipiente de “Descarte Temporário” esgota a
sua capacidade de armazenamento e passa a ser descartado. Neste livro, a todo o momento
que o próprio pessoal responsável do laboratório coleta os resíduos e encaminha para o
armazenamento na Área Central de Armazenamento Temporário de Resíduos da instituição, a
atividade é registrada, informando a identificação do recipiente que leva o código do
laboratório e o seu número seqüencial; a quantidade aproximada do volume existente no
coletor; algumas observações; e o destino do coletor, como mostra a figura 4. Com as
informações contidas neste livro é possível estabelecer o período de geração de resíduos, ou
seja, em qual espaço de tempo é gerado aproximadamente 50 litros de resíduos por
laboratório, e com isso estabelecer através de planilhas de cálculos, a variação mensal e diária
dos tipos e do total de resíduos gerados:
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O último procedimento de registro estruturado pelo sistema é quando um dado lote de
resíduos recebe uma determinada forma de tratamento, ou é destinado a um local de
destruição ou deposição permanente. O livro de registro de “Destinação Final” (fig.5) é
utilizado quando os resíduos são destinados para aterros sanitários especializados, co-
processamento ou incineração. Através do sistema de gestão implantado nos laboratórios, os
resíduos são segregados previamente, de acordo com a sua composição. Tendo em vista a
característica dos estudos desenvolvidos nos laboratórios inclusos no sistema, determina-se
qual o seu melhor destino, por onde são armazenados separadamente por local de origem na
“Área Central de Armazenamento Temporário de Resíduos”:
Atualmente, a maior parte dos resíduos gerados nestes laboratórios tem o potencial de
co-processamento para queima em equipamentos industriais. Segundo laudos técnicos
efetuados por análises de classificação, eles são caracterizados de acordo com o seu poder
calorífico acima de 3500 cal/kg e uma baixa concentração de cloro livre, o que potencializa o
uso para este tipo de destinação. Para Rocca et al. (1993), este tipo de alternativa pode
garantir uma destinação aceitável referente aos custos e à própria proteção ambiental.
Como todo sistema de gerenciamento, além da organização da sua gestão, como foi
citada nos itens pertinentes a estas aplicações, os dados levantados através dos inventários de
resíduos devem ser analisados e tratados conforme os seus riscos correlacionados ao meio
ambiente e o seu potencial de minimização. A metodologia aplicada para qualificar os
resíduos, foi baseada em um estudo desenvolvido por Cercal (2000) apud Souza (2005 p.48).
Este estudo consistiu em criar subsídios para a priorização da minimização da sua geração em
uma indústria alimentícia de Curitiba. Nele, são avaliados para aplicação três modelos de
análises para se estabelecer uma classificação para os rejeitos:
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Neste estudo, a principal análise efetuada para estabelecer formas de minimização da
sua geração foi a análise do resíduo por facilidade de minimização. A minimização desta
geração é o principal instrumento econômico para propiciar fundamentos de incentivos do
desenvolvimento do sistema de gerenciamento pela alta diretoria de certas empresas deste
ramo. Ao contabilizar a quantidade de resíduos gerados pelos laboratórios, relacionando estes
dados com o total de insumos mais utilizados nas análises, e a quantidade de estudos
desenvolvidos em um mesmo período de tempo, foi possível traçar curvas rítmicas destas
variáveis. De acordo com o desempenho destas curvas foi possível definir os momentos em
que os insumos estavam sendo utilizados com eficiência, se estava havendo algum tipo de
desperdício ou havendo um maior consumo de insumos em relação ao estudo desenvolvido.
Durante um determinado período de tempo a variação destes três fatores foi monitorada e
analisada para estabelecer o desempenho da dinâmica deste sistema no período de um ano.
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