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POEMAS LUSITANOS
Reservados todos os direitos de harmonia com a lei
Edição da
FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN
Av. de Berna I Lisboa
2008
ISBN 978-972-31-1233-7
Folha de rosto dos Poemas Lusitanos de António Ferreira
POEMA S
L VSIT ANO S -
oo DOVT OR
ANTONIO FERRE.IR.A.
1JB1>ICADOS PO(J{_ SEP FILHO
Miguel Leite Ferreira, ao Principt V.
PHlLIPP E nojfo finhor.
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EM LI S B O A.
Imprcfrocom licença, Por Pedro Cr~,becck.
M. D. X C V 111.
Com Priuilcsio, Aculb d~ E1leuáo LopezLiurciro.
Lisboa, 1598
ANTÓNIO FERREIRA
POEMAS LUSITANOS
EDIÇÃO CRÍTICA, INTRODUÇÃO E COMENTÁRIO DE
T. F. EARLE
3
PREFÁCIO
T. F. Earle
4
PREFÁCIO À SEGUNDA EDIÇÃO
Esta edição dos Poemas Lusitanos de António Ferreira saiu pela primeira
vez em 2000. Graças ao empenhamento do Serviço de Educação e Bolsas da
Fundação Calouste Gulbenkian surge agora a segunda impressão.
1
António Cirurgião, 'António Ferreira diz não à morte e sim à vida' , in O Amor das letras
e das Gentes: ln Honor ofMaria de Lourdes Belchior Pontes, editado por João Camilo dos Santos
e Frederick G Williams (Santa Barbara: Center for Portuguese Studies, 1995), pp. 63-83 .
2
Luís F. de Sá Fardilha, 'A celebração poética em Portugal do casamento de Maria e
Alexandre ' , in D. Maria de Portugal Princesa de Parma (1565-15 77) e o seu tempo: as relações
culturais entre Portugal e Itália na segunda metade de Quinhentos (Porto . Instituto de Cultura
Portuguesa, 1999), pp. 29-48; Vanda Anastácio, ' Poetas e príncipes: algumas considerações acerca
de dois epitalâmios dedicados ao casamento de D. Maria de Bragança com Alessandro Farnese',
Revista Camoniana, 3." série, 17 (2005), pp. 233-52.
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INTRODUÇÃO
i. O humanismo e a Universidade
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INTRODUÇÃO
Ferreira, que parece ter feito uma óptima carreira ao serviço do rei, chegou
ao importante posto de desembargador da Casa do Cível em 1567. Morreu dois
escassos anos mais tarde, na grande peste de 1569. Contudo, os primeiros anos em
Lisboa foram para ele uma espécie de exílio, em que não havia vida intelectual,
nem as amizades nem o amor que tinham contribuído para as alegrias dos seus
anos de estudante. Perto do fim da carta ao amigo Sampaio imagina um idílio,
todo feito de amor e da poesia, passado nas margens do Mondego:
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INTRODUÇÃO
idade da poesia lírica e dramática. Havia, porém, uma excepção. Como se sabe, o
renascimento da literatura clássica começou na Itália no século XIV e só chegou
a Portugal relativamente tarde. Foi por isso que Ferreira também aceitou como
clássicos vários escritores italianos, principalmente Petrarca, e alguns outros que
viveram depois dele e que se exprimiam em latim, como Iacopo Sannazaro e
Girolamo Angeriano. Fora deste âmbito greco-romano e italiano não havia litera-
tura, porque Ferreira a concebia exclusivamente em termos livrescos. É notório, por
exemplo, o seu desprezo pela literatura popular, que condena na carta a D. Simão
da Silveira. Na sua opinião a literatura moderna, portuguesa, não podia ser mais
que uma recriação da literatura antiga porque, na sua concepção altamente huma-
nística, a Beleza era una e derivava de uma única fonte greco-romana. A tarefa
que ele assumiu, com toda a solenidade, era a de recriar essa beleza para o Por-
tugal de quinhentos.
A esta recriação, comum a muitos autores humanísticos, dá-se normalmente
o nome de imitação. Ferreira era, sem dúvida nenhuma, um poeta imitativo: todos
os géneros literários que tentou existiam já, ou na época greco-romana ou na Itália
de Petrarca, e quase não há poesia nos Poemas Lusitanos que não se reporte, por
minimamente que seja, a uma fonte clássica. Assim, os sonetos de Ferreira deri-
vam dos de Petrarca, e os epigramas das supostas odes do poeta grego Anacreonte
ou do poeta novilatino Angeriano. As odes são todas horacianas, com a excepção
de 1.2, inspirada num poema de Catulo. Não se associava a elegia, género mais
fluído, com um único escritor clássico, mas algumas das de Ferreira baseiam-se
nos Anacreóntica. Virgílio, inevitavelmente, é a divindade titular das éclogas, en-
quanto as duas longas poesias que as seguem nos Poemas Lusitanos, dedicadas a
Santa Comba dos Vales e ao casamento da Princesa D. Maria de Bragança com
Alessandro Farnese, são, respectivamente, um epyllion e um epitalâmio, ambos
eles géneros muito bem conhecidos dos antigos. Nos dois livros de cartas Ferreira
voltou ao exemplo de Horácio, e no pequeno grupo dos epitáfios ao de Ausónio,
poeta romano da época tardia. A fonte principal de Castro são as tragédias de
Séneca.
Contudo, na época, imitar não significava decalcar, embora haja entre as
poesias de Ferreira uma ou outra que não passem de traduções . Ele tinha um forte
sentido histórico e sabia muito bem a distância que o separava a ele, português e
cristão, dos gregos e romanos. Para recriar a beleza da poesia dos antigos numa
língua moderna era necessário ter "arte e ingenho", como ele muitas vezes dizia.
Mas às vezes é bem sucedido e consegue dar uma forma renovada, portuguesa, às
velhas concepções clássicas. Há certos momentos privilegiados nos versos de
Ferreira em que o mundo antigo parece ren ascer perante os olhos do leitor, como
por exemplo nestas linhas bem conhecidas em que exprime quanto admirava a
obra literária do seu mestre, Sá de Miranda:
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INTRODUÇÃO
Aqui renasce uma paisagem ideal de um tipo muito caro aos poetas romanos,
o locus amoenus. Graças ao talento literário de António Ferreira, porque na realidade
as palavras citadas nada devem a Sá de Miranda, é concedida ao leitor a visão de
um mundo da imaginação, muito mais belo que o mundo físico que nos cerca. Fer-
reira insiste no poder transformativo da poesia: o mundo que imagina é um mundo
novo. A transformação está em íntima ligação com o renascimento ou a ressurreição,
como se vê nas linhas acerca da primavera, época da renovação da natureza. E tudo
isto aconteceu, segundo o poeta, porque alguns anos antes Sá de Miranda tinha
introduzido em Portugal o "doce canto" dos italianos e dos romanos. Eis aqui uma
prova muito clara da concepção humanística da força da palavra escrita.
É principalmente na poesia pastoril de Ferreira que se vê com mais clareza
o poder mágico da literatu:i:a para transformar o mundo e os homens. A écloga foi
outro género clássico introduzido por Sá de Miranda a que Ferreira deu uma
forma mais apurada. Logo no princípio de Arquigâmia, a primeira das doze que
escreveu, encontra-se uma oitava em louvor do Portugal renovado pela acção
benéfica de D. João III:
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INTRODUÇÃO
O sol que desaparece para renascer ainda mais belo não é unicamente uma
imagem patriótica. A mesma metáfora solar se aplica à écloga como um todo, em
que o pastor Serrano, que morrera de amores na serra perto de Coimbra, renasce
por um processo mágico nas margens do Tejo, onde presencia o espectáculo
magnífico da chegada da princesa D. Joana, noiva de D. João, herdeiro do trono
de Portugal. Como se sabe, o jovem príncipe morreu pouco depois do casamento,
desastre nacional lamentado na segunda écloga, Jânio. Mas no mundo literário da
écloga a morte não constitui o fim, e numa outra poesia da série D . João, disfar-
çado sob o pseudónimo de Dáfnis, anuncia dos céus o nascimento dum herdeiro,
o futuro rei D. Sebastião:
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INTRODUÇÃO
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INTRODUÇÃO
A "boa fortaleza", como vimos, é uma das virtudes estóicas, e o poeta não
deixa de mencionar todas as outras, sempre com a ideia de criar no espírito de
Afonso uma atitude calma e reflectida perante os problemas que ia enfrentar. Os
conselhos que Ferreira dava ao próprio vice-rei ou ao Conde de Redondo, que
sucedia a D. Constantino no cargo, eram praticamente os mesmGS. Mas nestas
poesias, como sempre acontece, há uma conexão íntima entre a moral e a estética.
A estrutura e algumas das palavras da ode a Vaz Caminha derivam de uma ode de
Horácio (111.4) porque, para um humanista, todo o moralismo é ineficaz se não for
comunicado com a eloquência necessária.
Se a estética influencia a moral, a moral por seu turno influencia a estética.
Ferreira, preceptor de uma geração, dava aos poetas conselhos artísticos que eram
ao mesmo tempo lições de filosofia estóica. Vejam-se por exemplo estes versos
da carta a Diogo Bernardes:
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INTRODUÇÃO
É notável a semelhança dos últimos versos deste trecho com a ode a Afonso
Vaz Caminha citada há pouco. O poeta que se precipita para a composição sem
ter lido as obras dos grandes mestres é tão culpável como o soldado que ataca o
inimigo irreflectidamente. A ambos falta uma das virtudes estóicas, a prudência.
Ferreira não deixa de se referir, implicitamente, às outras: a justiça, no desejo do
poeta de ter a opinião de alguém que "com juízo, e sem paixão me leia" e a tem-
perança, no conselho de evitar todo o tipo de extremismo. Quanta à fortaleza, ela
é visível na serena indiferença do escritor perante os críticos que zombam dele,
"os que levemente se me rim (riem)", e no resto do poema sempre que Ferreira
insiste em como o poeta deve falar em público, apesar dos ataques a que possa
estar sujeito. A referência à "veia natural" também tem importantes conotações
estóicas, porque para autores como Cícero ou Horácio termos como "virtude",
"razão", "natureza" e "Deus" eram, se não propriamente sinónimos, pelo menos
aspectos de uma única verdade.5 Era em parte por 1s~o mesmo que Ferreira detes-
tava a vida citadina de Lisboa e ansiava por voltar às mai~ens do Mondego.
Ferreira tinha, portanto, uma concepção muito alta da sua vocação. Sabia
que, como humanista, tinha acesso privilegiado à sabedoria antiga e considerava
ser seu dever disseminar os seus conhecimentos da filosofia moral e política a um
público tão vasto quanto possível. O público em questão devia dominar o por-
tuguês porque, como se sabe, o poeta sempre se recusou a escrever em outra lín-
gua.6 Dele estavam automaticamente excluídos todos os que não sabiam apro-
veitar os ensinamentos do poeta, ou por falta de cultura ou por depravação moral.
Estes últimos, o "odioso profano vulgo", são muitas vezes criticados asperamente
pelo poeta. Mesmo assim, Ferreira não era o poeta dum círculo restrito de inicia-
dos. O próprio título das suas obras poéticas, os Poemas Lusitanos, revela o seu
desejo de se dirigir a todos os "bons ingenhos" da pátria, como ele se lhes referia.
Não é difícil saber quem eram os "bons ingenhos", já que quase todas as com-
posições do poeta têm uma dedicatória, através das quais se pode chegar a uma
5 Para um tratamento mais extenso deste tópico, ver T. F. Earle, "O estoicismo e o culto das
Comentário.) Porém, nunca escre veu em espanhol, nisto diferindo da maioria dos contemporâneos.
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INTRODUÇÃO
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INTRODUÇÃO
Mais tarde, em versos em louvor dos heróis da história pátria, volta à ideia
da batalha ganha sem sangue :
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INTRODUÇÃO
mar com a razão é para ele também uma limitação do poder dos reis, como diz ao
jovem D. Sebastião:
Com efeito, Ferreira tinha pouco entusiasmo por heróis. Alexandre Magno,
que tipifica o ideal militar, era uma figura da antiguidade clássica por quem o
poeta sentia um fascínio misturado com horror. Referiu-se-lhe inúmeras vezes nos
Poemas Lusitanos, quase sempre para o criticar. Na carta ao padre jesuíta Luís
Gonçalves da Câmara, mestre ou preceptor de D. Sebastião, reporta-se três vezes
ao rei macedónio, indicando de cada vez a sua discordância com o ideal que repre-
sentav a. Numa ocasião diz dele:
7 Ver as o itav as "Como nos vossos ombros tão constantes", e m Luís de Ca mões, Lírica
Completa. ed. por Mari a de Lurdes Sarai va, 3 vo ls (Li sboa : Imprensa Nac ional-Casa da Moeda,
1980-81 ), vol. 3, pp. 219-26.
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INTRODUÇÃO
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INTRODUÇÃO
É mais do que evidente que o poeta que "dirá" estas coisas sanguinolentas
não vai ser António Ferreira. Na verdade, será Pero de Andrade Caminha, um
grande amigo, para quem Ferreira prevê uma carreira de épico. Ao escrever para
João Lopes Leitão, soldado que militava na Índia, mais uma vez tenta combinar
armas e letras:
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INTRODUÇÃO
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INTRODUÇÃO
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INTRODUÇÃO
programa moralista que tem em vista não só a regeneração pessoal mas também
a construção de um Portugal novo, civilizado e racional. A coerência dos Poemas
Lusitanos alarga-se à própria organização do livro, como veremos oportunamente.
Vista como um todo, a obra de Ferreira, com a sua tonalidade optimista da rege-
neração e da renovação, constitui a expressão mais perfeita do Renascimento
literário português .
22
INTRODUÇÃO
c'o co'a
c'os co'as
23
INTROD UÇÃO
Supressão de monossílabos
24
INTRODUÇÃO
13 O mesmo fenómeno manifesta-se num trecho conhecido d ' Os Lusíadas, Canto III, est.
120, na edição de 1572: "Estauas, linda Ines, posta em socego/De teus annos colhendo doce frui to".
Depois de colhendo há o artigo o, não escrito mas presente. Ver Paul Teyssier, recensão crítica de
Roger Bismut, António Ferreira, /e plagiaire malgré /ui, em Arquivos do Centro Cultural Por-
tuguês, 32 (1993), 417-76 (465-6). Há muitos exemplos em PL. Teyssier (ibid) chama a atenção
para Castro 1.755.
14 Ver Paul Teyssier História da língua portuguesa,
trad . por Celso Cunha (Lisboa. 1984)
pp. 54-6.
15 Deus constitui excepção, porque no séc. XVI o e tónico ainda não se tinha
fechado . Ver
Edwin B. Williams, From Latin to Portuguese, 2• ed. (Philadelphia: University of Pennsylvania
Press, 1962) § 34.7.
25
INTR ODUÇÃO
colocando no seu lugar as grafias actuais. Segue-se a mesma regra no caso de -ee ,
que aparece em palavras como recees e prantees (Ecl 1 11.346- 7). Na edição pre-
sente substituem-se por receies e pranteies.
Pode-se argumentar que as rimas de um poeta não são um guia infalível à
pronúncia, porque há sempre a possibilidade de uma má rima. Edwin B. Williams
julgava que o número de rimas falsas cresceu nos séculos XVI e XVII, porque os
poetas, acostumados à leitura de livros impressos, eram cada vez mais influencia-
dos pelo aspecto visual das palavras e não pelas suas características auditivas,
como anteriormente.16 Contudo, Ferreira costumava rimar bem. Entre as centenas
de palavras rimadas de PL, há muito poucas a que se podiam levantar objecções.
Um exemplo é dê-os, que em Ci2 ll.1-15 rima com meios e esteios. 11 A variação
quanto à forma do conjunctivo do verbo estar, que é normalmente estê mas que
pode às vezes ser esté (ver Ell 1.1 13-7, onde rima com é e fé) , não é necessaria-
mente uma indicação de falta de capacidade da parte do poeta, que podia ter pro-
nunciado a palavra de duas maneiras.
Ortografia etimológica
16 Williams§ 100.2.
17 Castilho criticou algumas das rimas de Écll : 11.173-7 vivo-sirvo-cativo e 191 -5 palavra-
/avra-abra e de Ci3 , II. 122-6 sirva-viva-altiva. Rimas deste tipo encontram-se unicamente empoe-
sias da primeira fase da carreira do poeta.
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INTRODUÇÃO
18 Mantém-se o -se- de nasce e palavras afins, porque a rima não fornece evidência conclu-
27
INTRODUÇÃO
apensos a livros quintentistas. Nem tudo o que lá se diz será verdade mas, de igual
forma, nem tudo é falso. Depois de se referir ao exemplo importante constituído
por Sá de Miranda, Miguel Leite escreve acerca da carreira literária de António
Ferreira nestes termos: " ...meu pai, que então estava nos estudos, pretendeu com
a variedade destes seus manifestar como a língua portuguesa, assi em cópia de
palavras, como em gravidade de estilo, a nenhua é inferior. E com mor honra desta
nação mostrara esta verdade, se não fora impedido com o serviço dei-rei no
desembargo, e a morte tão anticipada lhe não cortara o fio a mores esperanças,
deixando-me em tal idade que o não conheci. Esteve este livro por espaço de
quarenta anos, assi em vida de meu pai, como despois do seu falecimento, ofere-
cido por vezes a se imprimir, e, sem se entender a causa que o impedisse, não
houve efeito".
Miguel Leite Ferreira não errou em dizer que o pai tinha começado a escre-
ver versos enquanto estudava em Coimbra, já que muitas das suas poesias datam
de antes de 1555/56, quando se fixou em Lisboa. Mas as suas palavras levantam
várias dificuldades, a começar pelo período de tempo que, segundo o filho do
poeta, medeou entre a composição de PL e a sua publicação. A dedicatória traz a
data de 15 de Maio de 1598. Porém, podia ter sido composta no ano anterior,
como as licenças e o alvará régio que a acompanham. Se assim fosse, regressando
40 anos chegaríamos a 1557, momento muito significativo na vida do poeta, em
que chegou a amar Maria Pimentel e ser amado por ela, e a planear a edição do
seu primeiro livro de poesias . Foi também em 1557 que ele fez 29 anos, como nos
explica na parte final do primeiro dos sonetos:
Ferreira dedicou o soneto ao seu próprio livro que, mau grado o seu autor,
ia ser lançado ao mundo. Mas quantas poesias teria incluído neste livro que fin-
gia não querer editar? Certamente não os poemas lusitanos todos, nem mesmo os
dois livros de sonetos, porque muitas das poesias do segundo livro foram escritas
depois de 1557. Dos muitos "livros" de que PL se compõe só estariam prontos em
1557 o primeiro livro dos sonetos e, possivelmente, o primeiro livro das odes.
Ferreira podia ter escrito a poesia liminar "Aos bons ingenhos" para acompanhar
os sonetos, já que naquela poesia, como também em Oi 1, fala de si próprio unica-
mente como poeta de amor.
O filho do poeta diz-nos outra meia verdade ao afirmar que o trabalho
literário do pai foi "impedido com o serviço dei-rei no desembargo". Ferreira foi
nomeado desembargador da Casa do Cível em 14 de Outubro de 1567, mas é de
presumir que tenha desempenhado alguma outra função inferior antes daquela
28
INTRODUÇÃO
data, talvez a partir de 1560, porque desde então a sua produção poética diminuiu
muito. Contudo, não acabou por completo: duas das suas composições mais
extensas, o Epitalâmio e a História de Santa Comba, são da década de 1560, como
também Cii2 e 12-13, El4 e várias poesias curtas. A actividade literária de
Ferreira durante este período não se limitou à escrita de algumas poesias novas,
porque é muito provável que ele tenha revisto as obras compostas na década ante-
rior. Talvez a afirmação de Barbosa Machado com respeito aos anos passados na
Casa do Cível seja mais correcta do que a de Miguel Leite : "Entre o laborioso
ministério de desembargador nunca interrompeu o comércio das Musas, antes
suavizava grande parte do contínuo trabalho e aplicação daquele estudo com as
delícias poéticas, reformando as obras que compusera em idade muito verde, ou
produzindo outras ... ".20
É evidente que Miguel Leite Ferreira admirava a obra do pai. Chamou a si
o encargo de encontrar um editor de PL e escreveu a dedicatória a Filipe II . Tinha
pelo menos algum interesse nos aspectos técnicos da tipografia. Isto verifica-se no
parágrafo, aparentemente anónimo, que, em PL, se segue à lista de errata. Co-
meça por dizer que a maioria dos erros tipográficos foi eliminada no decurso úa
impressão e passa logo depois a discutir os sonetos que "meu pai" escreveu na lin-
guagem medieval do tempo de D. Dinis. Isto prova que o parágrafo é da autoria
de Miguel Leite e que ele se deve ter ocupado, talvez pessoalmente, da correcção
do texto. Sabe o número do fólio em que aparecem Sii33-4, e é provável que tenha
escrito o seu comentário sobre eles para avisar o leitor que a linguagem pouco
ortodoxa das poesias é da responsabilidade do poeta que as escreveu, e não do
revisor. Mas dos progenitores só conhecia a mãe e quando comenta outro soneto,
Si43, é para enaltecer Maria Leite, mesmo à custa de uma má interpretação do
texto. 21 Além disso, os erros ou meias verdades da dedicatória dão a impressão de
alguém que se sentia bastante afastado das circunstâncias da vida do pai. O teste-
munho de Miguel Leite é, portanto, ambíguo e por si só não indica se ele inter-
feriu ou não no texto de PL.
Contudo, é certo que Miguel Leite se esforçou por nos legar um texto bem
corrigido. PL é notável pelo seu elegante aspecto tipográfico e ainda mais pela sua
falta de erros . Não é fácil contar gralhas porque, como sabemos, algumas delas
foram eliminadas durante a impressão. Como consequência, não há exemplares de
20 Citado por Adrien Roi g. António Ferreira: Études sur sa vie e/ s011 oeuvre (Paris :
Fundação Calouste Gulbenkian. 1970) ( 1970) p. 136.
21 Ver a di scussão desta poesia no Comentári o.
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INTRODUÇÃO
PL idênticos, e alguns deles são mais apurados do que outros. 22 Mesmo assim, e se
eliminarmos os erros mencionados na errata, ficamos com cerca de 50 gralhas que
passaram despercebidas pelos tipógrafos de Pedro Craesbeeck nos exemplares que
chegaram até nós. No caso de quase todas elas, o leitor não tem a mínima dificul-
dade em chegar à leitura certa. Só em Ecl2 1.46 foi necessário recorrer a uma
emenda drástica. Num volume de 235 fólios, isso é uma estatística impressionante.
PL não impressiona só pela sua falta relativa de lapsos tipográficos. Não
existe nenhum autógrafo da obra poética de Ferreira mas, mesmo assim, o leitor
sente-se na presença de um livro com base num manuscrito cuidadosamente
preparado e, é de presumir, pelo próprio poeta. Para além da ausência de gralhas,
há muito poucos daqueles erros de sintaxe ou de métrica, passos obscuros e rimas
estropiadas tão frequentes em outras colectâneas poéticas do período. Isto é ver-
dade mesmo se admitirmos que a sintaxe de Ferreira nem sempre é fácil de des-
trinçar. Às vezes parece ceder em face de uma emoção poética muito forte, como
em Si33 e Ci 13 11.25-42, ou, com menos justificação, perante a necessidade de
encontrar uma rima, como em Cii2 1.132. O gosto latinizante do poeta (inversão
de frases, imitação do ablativo absoluto) também torna difícil a compreensão ime-
diata de certos trechos. Mas passos confusos ou realmente obscuros são muito
raros, se não inexistentes. 23 Encontra-se outra evidência da mão do próprio cria-
dor dos Poemas Lusitanos nas estâncias longas e complexas de algumas das odes.
Alguém - e porque não António Ferreira? - se assegurou de que os diferentes
esquemas métricos destas poesias tinham sido seguidos com rigor desde o princí-
pio até ao fim de cada ode. É um trabalho que vai muito além do que se podia
esperar de um simples revisor e sugere, uma vez mais, que antes de morrer o poeta
tinha preparado uma versão emendada das suas obras . A plausibilidade da hipó-
tese mantém-se mesmo em face das muitas confusões e incertezas de PL em tudo
o que se relaciona com a história e a mitologia greco-romanas. Quem não sabia,
ou fingia não saber os pormenores da vida das personagens da literatura clássica
não era o impressor, incapaz de compreender o texto que tinha em mãos, mas o
poeta, cujas convicções católicas não lhe permitiam penetrar muito fundo nas "fá-
bulas vãs" dos antigos.2 4
Torna-se ainda mais evidente que PL está baseado numa cópia fidedigna das
obras de Ferreira quando se comparam as composições incluídas no livro de 1598
com as variantes manuscritas e impressas que chegaram até nós. Destas há 14:
22 Em Ecl3 1. 7 I encontra-se um erro grave, que não aparece na erra/a mas que os tipógrafos
notaram e corrigiram em certos exemplares . Onde o exemplar de Oxford tem "fortua··. palavra sem
sentido, os exemplares da BNL, mais apurados, têm " furtava" .
V Uma excepção deve ser feita no caso de C ii 1011.4-6, que Castilho confessou não entender.
24 Por "fábulas", ver Santa Comba 11.13. 293 e Cii 1 1.81 . Pela atitude profundamente ambí-
gua de Ferreira perante a Antiguidade em geral. ver Ci7 11.31-6. Ci 1 1 11.124-6 etc.
30
INTRODUÇÃO
31
INTRODUÇÃO
25 T. F. Earle, 'A Portuguese Sonnet Sequence of the Sixteenth Century ' , Bulletin of His
-
panic Studies, 53 (1986), pp. 225-34, e Rita Marnoto, O petrarquismo português do renascimento
e do maneirismo (Coimbra: Universidade de Coimbra, I 997 ) pp. 385-429.
26 Sii36 é outro soneto em que o número 29 assume grande importância.
27 Citado por Berardinelli in Luís de Camões, Sonetos,
ed. por Cleonice Serôa da Motta
Berardinelli (Paris: Jean Touzout, 1980) p. 15 .
32
INTRODUÇÃO
33
INTRODUÇ ÃO
29 Os doi s li vros mais pequenos. dos epigramas e dos epitáfios. também poss uem uma estru-
tura coerente (ver Comentário). A dos epitáfios, bastante complexa. é parec ·da com a de Sii 14-44 .
34
INTRODUÇÃO
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INTRODUÇÃO
PL como Epig2. Na opinião de Roig,3 2 a poesia latina também deve ser de Fer-
reira, mas a evidência torna a hipótese duvidosa. Sempre que podia, o organizador
da edição de 1574 identificava os autores das muitas poesias liminares e, quando
eles escreveram duas , como no caso de Pedro Landim, Luís Álvares Pereira e
D. Jorge de Meneses, a autoria da segunda composição é indicada por uma fór-
mula como "do mesmo" . O facto de o epigrama em latim não possuir uma fór-
mula equivalente sugere que o organizador não sabia quem o escreveu. 33 Já que
não dispomos de outra informação acerca da poesia, parece prudente continuar a
considerá-la como anónima.
A "Elegia a Sílvia" é uma poesia em tercetos de 142 linhas. 34 Veio até nós
numa única cópia manuscrita conservada no Cancioneiro Fernandes Tomás (CFT),
onde é atribuída a Ferreira. Carolina Michaelis de Vasconcelos aceitou a atri-
buição, depois de uma certa hesitação inicial , mas sem justificar a sua opinião.35
A elegia é tema de um importante estudo de Maria Helena da Rocha Pereira, que
encontra semelhanças inquestionáveis entre a elegia e várias poesias de Bernar-
des, principalmente as éclogas 14 e 18. 36 Deste facto ela tira a conclusão de que
a "Elegia a Sílvia" deve ser uma imitação feita por Ferreira das composições do
seu amigo. Parece, porém, mais provável que seja mesmo de Bernardes, por
várias razões.
Como afirma a Prof. Rocha Pereira,37 a imitaria foi um aspecto essencial da
teoria literária quinhentista, e especialmente de Ferreira. Mas para ele a imitaria
significava a imitação de obras clássicas ou italianas, não das dos seus contem-
porâneos. Em PL não há uma única imitação de uma poesia portuguesa, se excep-
tuarmos sonetos como Sii 13, feito "pelas mesmas consoantes" de um outro soneto
de D. Simão de Silveira. É claro que a elegia não é uma poesia deste tipo. De vez
em quando aparece em PL uma ou outra frase tirada de Sá de Miranda, mas
Ferreira nunca imitou uma poesia inteira dele, apesar de o venerar como mestre.38
Além disso, na elegia há muitas palavras que não se encontram em outra obra de
Ferreira, por exemplo: aljôfar, caramelo, empenhado, rouxinol, laçaria, lenha,
36
INTRODUÇÃO
sobegidão, afogado, freixo, viola, Loba, grã (no sentido de escarlate). Muitos des-
tes vocábulos são utilizados na descrição do mundo natural, área temática muito
mais significante na obra de Bernardes do que na de Ferreira. Em contrapartida,
falta inteiramente à elegia aquele interesse pela poesia como tal, aquele louvor das
Musas e da vida literária, que parece um aspecto indispensável de quase todas as
composições extensas de PL. Finalmente, a fonte da atribuição da elegia a Fer-
reira é suspeita. O CFT, que contém a única cópia da elegia que conhecemos, não
é isento de erros relativos à identidade de autores. Atribui dois sonetos, que são
com toda a probabilidade de Ferreira (Si3 e 5), a outros poetas, e a própria Carolina
Michaelis de Vasconcelos criticou o organizador do cancioneiro por se ter enga-
nado no caso de poesias de Bernardes, Andrade Caminha e outros. 39 A "Elegia a
Sílvia" pode muito bem ser uma bela poesia, como afirmam os críticos, mas não
é de Ferreira.
37
INTRODUÇÃO
sível, dada a novidade da edição da 1587, que no século XX tinha sido vista ape-
nas por um punhado de especialistas. Porém, mais de um quarto de século decor-
reu desde o aparecimento da edição de Roig, e já é possível encarar a Castro de
1587 de outra forma, como a primeira versão de uma obra que só chegou à sua
forma definitiva na edição de 1598. Esta opinião é partilhada, em parte, pelo
próprio Roig, que confessa que a edição de 1587 "paraft bien infé rieure au point
de vue technique de l'impression ". 42 Os estudos de Nair de Nazaré Castro Soares
mostram que as revisões de PL não são unicamente tipográficas: Ferreira melho-
rou a tragédia, tal como melhorou as outras composições de que possuímos mais
de uma versão. 43 Por esta razão, parece legítimo tratar a primeira versão da Castro
exactamente como as primeiras versões de Cii 1, Cii2 etc., em notas de rodapé,
que revelam como a edição de 1587 é muitas vezes inferior à de PL em termos de
métrica, de sintaxe e de vocabulário. Mesmo assim, PL não é um texto sagrado, e
não hesitamos em emendar a versão da Castro contida nele, às vezes utilizando
leituras tiradas da edição de 1587.
Uma consequência menos feliz do trabalho de Roig foi o renascer da velha
crença segundo a qual o verdadeiro autor da Castro seria não Ferreira, mas o dra-
maturgo galego Jerónimo Bermúdez que editou uma peça, Nise Lastimosa, baseada
na história de Inês, em 1577, isto é, dez anos antes da primeira edição portuguesa
da tragédia. Na verdade, há um parentesco muito estreito entre Nise Lastimosa e
a Castro de 1587, e é certo que uma das tragédias é uma tradução da outra. Em
tempos modernos é o professor francês Roger Bismut que mantém a hipótese de
que o autor original tenha sido Bermúdez. Segundo Bismut, a Castrq de 1587, que
apareceu sem indicação de autor, será uma tradução de Nise Lastimosa e a versão
de PL nada menos que um plágio feito por Miguel Leite Ferreira que, para escon-
der a sua falta de inspiração, se terá servido de palavras e de frases tiradas das
poesias de Camões para compor uma obra que resultou muito inferior à tragédia
primitiva. Bismut defende a sua tese numa série de artigos e num livro inteiro. 44
Ninguém, porém, ficou convencido e vários autores têm criticado duramente as
posições que ele assumiu, principalmente Adrien Roig, Aníbal Pinto de Castro e
Paul Teyssier. Este último dedicou ao livro de Bismut uma recensão crítica, muito
extensa, em que examina os seus argumentos, um por um, para chegar à conclusão
de que 'M. Bismut s 'est efforcé de justifi.er ce qu 'il faut bien appeler une erreure
crítica feita por Paul Teyssier do livro de Bismut, Arquivos do centro cultural português, 32 ( 1993 ),
pp. 417-76 (419-20).
38
INTRODUÇÃO
initiale par des arguments ultérieurs qui, quand on les analyse attentivement, ne
menent à rien '. 45 Na verdade, não há nenhuma razão para duvidar da autoria da
Castro de Ferreira.
Um dos aspectos mais curiosos da teorização de Bismut é que ele se recusa
a acreditar que Ferreira podia ter revisto a sua própria obra. Diz: 'l'auteur de
Castro [a versão de 1598] s'est comporté en lecteur critique du texte de Tragédia
[a versão de I 587], et dane en était distinct '.46 Contudo, a revisão constitui um
elemento importante na teoria estética de Ferreira, e na parte lírica de PL, cuja .
autoria ninguém contesta, há muitos textos que o poeta leu criticamente para
depois os alterar. No fim da secção seguinte desta Introdução encontra-se uma
outra observação relativa aos argumentos do Prof. Bi smut.
5. A métrica de PL
45 Teyssier, p. 476.
46 Roger Bismut, António Ferreira, /e plagiaire malgré fui (Louva in-la- Neuve: Uni ve rsité de
Louvain, 1989), p. 483 .
47 Paul Teyssier, ·La Castro est bien d' Antóni o Ferreira' , Arquivos do centro rnltural portu-
(Lisboa: João Sá da Costa, 1985). p. 456, es te esquema chama-se '"decass íl abo sáfi co". Porém, não
de ve confundir-se coin os ve rsos sáfi cos dos coros de Castro, em que há um a ace ntu ação adi cional.
na 1.' sílaba, e um a cesura depois da 5• síl aba.
39
INTRODUÇÃO
outras sílabas acentuadas, mas não há regra que determine a sua posição. Pode-
mos tomar como exemplo a primeira poesia de PL, "Aos bons ingenhos", em que
as sílabas tónicas são marcadas com negrita:
40
INTRODUÇÃO
O verso pode ser lido de duas maneiras. Se estados tem só duas sílabas 'sta-
dos, o verso não apresenta nenhuma dificuldade. Se tem três, o que é mais prová-
41
INTRODUÇ.Ã.O
vel, temos a fusão de uma vogal nasal átona com a vogal seguinte. O poeta trata
a vogal idêntica da mesma forma em Ecl 1, 1.400: "el aol Teljo ol tralzilam ai sei
bainhar".
Seria possível aduzir muitos exemplos mais. Mas não seria necessário, por-
que não há nada na versificação de Castro que não seja típico do seu autor,
António Ferreira.
6. Nota ao leitor
42
ABREVIATURAS
43
POEMAS LUSITANOS
Aos bons ingenhos
2
Aquela, cujo nome a meus escritos,
que a meu amor dará melhor ventura,
toda virtude, toda formosura,
qu' após si leva os olhos, e os espritos;
49
LIVRO I DOS SONETOS
CFT foi. 149r. Título : De Luís de Camões Soneto 2: assi entregado 4: omite de 7: e tal me é
forçado 8: ir-me trás ela em vão. triste 14: e água
50
LIVRO I DOS SONETOS
51
LIVRO I DOS SONETOS
52
LIVRO I DOS SONETOS
2: Pl Avia,
10
53
LIVRO I DOS SONETOS
11
12
54
LIVRO I DOS SONETOS
13
14
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LIVRO I DOS SONETOS
15
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LIVRO I DOS SONETOS
17
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LIVRO I DOS SONETOS
19
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LIVRO I DOS SONETOS
25
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LIVRO I DOS SONETOS
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LIVRO I DOS SONETOS
29 ·
30
3 Pl: a
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LIVRO I DOS SONETOS
31
7: PL a gente
32
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LIVRO I DOS SONETOS
33
34
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LIVRO I DOS SONETOS
35
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LIVRO I DOS SONETOS
37
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LIVRO I DOS SONETOS
39
40
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LIVRO I DOS SONETOS
41
42
11 : PL E alma
69
LIVRO I DOS SONETOS
43
44
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LIVRO I DOS SONETOS
45
46
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LIVRO I DOS SONETOS
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LIVRO I DOS SONETOS
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LIVRO I DOS SONETOS
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LIVRO I DOS SONETOS
55
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LIVRO I DOS SONETOS
57
58
77
LIVRO II DOS SONETOS
2
Ó alma pura enquanto cá vivias,
alma lá onde vives já mais pura,
porque me desprezaste? Quem tão dura
te tomou ao amor que me devias?
5 Isto era o que mil vezes prometias,
em que minh'alma estava tão segura:
que ambos juntos üa hora desta escura
noite nos soberia aos claros dias?
Como em tão triste cárcer me deixaste?
10 Como pude eu sem mim deixar partir-te?
Como vive este corpo sem sua alma?
Ah, que o caminho tu bem mo mostraste
por que correste à gloriosa palma!
Triste de quem não mereceu seguir-te. (f. 16)
PL 13: a gloriosa
79
LIVRO II DOS SONETOS
80
LIVRO II DOS SONETOS
PL 13 : ma
81
LIVRO li DOS SONETOS
82
LIVRO II DOS SONETOS
Pl I: Co alma
10
83
LIVRO II DOS SONETOS
11
12
De D. Simão da Silveira
84
LIVRO li DOS SONETOS
13
A D. Simão da Silveira
PL 10: as
14
PL 4: a 7: a
85
LIVRO li DOS SONETOS
15
PL3: a
16
86
LIVRO li DOS SONETOS
17
18
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LIVRO li DOS SONETOS
19
PL3 : a 12: a
20
88
LIVRO II DOS SONETOS
21
22
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LIVRO li DOS SONETOS
23
24
90
LIVRO li DOS SONETOS
25
RV 1: Bemaldez ... spira 2: doce verso 4: será à glória 10-14: em vez destes versos, RV tem os
seguintes:
que esconde suas cinzas, um lumioso
raio saia, de luz nova, luz tal
que aclare a nuve que nos cobre e cerra
aquela vida, que inda que mortal
de doce amor, despoja (sic) saudoso.
26
91
LIVRO li DOS SONETOS
10: a vida gasto em esperar 11 : meu fado cruel me está 13: teu doce som iria ao meu
27
28
92
LIVRO II DOS SONETOS
29
Gloriosos espritos, coroados
dos louros imortais, que cá ganhastes,
quando c' o claro sangue bem comprastes
esses assentos que vos lá são dados
PLXXX
30
?LXXXI
93
LIVRO li DOS SONETOS
31
PL XXXII
32
94
LIVRO li DOS SONETOS
PL XXXIII
33
PL XXXIII! Título: E Soneto Do Infante Dom . P.º a Vasco do Libeira do que fez PPR Do
mesmo (livro). Infante D. Pedro I: E Bom Basco bom Bas PPR D. Basco de Lobeira e do grão sem
2: E do prão que nos PPR do prão 3: E Amadis enamorado 4: E ende de quedar item PPR de con-
tar item 5: E porém tanto PPR Pero tanto 6: E que vos sereis PPR sempre seres 7: E e PPR omitem
e PPR homens E bom contado 8: E e ora !em PPR odiante 9: E Mas PPR Mas pero nos figuestes
(sic) 10: E entoado no na amarom PPR amar hu a nom amaron 11 : E cambrai PPR cambai E e PPR
omitem e 12: E porque eu PPR perque eu ei her 13 : E e sagram bondade 14: E e porque ao fim não
lho pagaram PPR e porque her enfim non lho pagaron
95
LIVRO li DOS SONETOS
34
PL XXXV
35
PL XXXVI
96
LIVRO li DOS SONETOS
36
PL XXXVII
37
97
LIVRO 11 DOS SONETOS
38
PL XXIX
39
PLXL
98
LIVRO II DOS SONETOS
40
PLXLI
41
PL XLII
99
LIVRO li DOS SONETOS
42
PL XLIII
43
PL XLIIII 2: a névoa
100
LIVRO li DOS SONETOS
44
10 1
LIVRO DOS EPIGRAMAS
A Jerónimo Corte-Real
1: SCD ó grão
3
De Anacreonte
103
EPIGRAMAS
De grego
A Lésbia
104
EPIGRAMAS
A um retrato de Dido
l : PLA
A Vénus e Cupido
Fermosura
105
EPIGRAMAS
10
Marte namorado
106
LIVRO I DAS ODES
107
LIVRO I DAS ODES
108
LIVRO I DAS ODES
109
LIVRO I DAS ODES
110
LIVRO I DAS ODES
os apetites seus.
50 Ditosos nós, que tão alto subimos,
que nos céus um tesouro
temos, qual esses teus
olhos, bom João, vem. Após este imos,
tu de palma, e de louro
111
LIVRO I DAS ODES
112
LIVRO I DAS ODES
A soberba coroa
20 dos Reis, que medo e espanto
põe ao sogeito povo, que os adora!
Mas quanto império, tanto
em má fortuna, ou boa,
mal seguro tremendo está cada hora.
113
LIVRO I DAS ODES
Assi a poderosa
deosa de Chipre, e os dous irmãos de Helena,
claras estrelas, e o grã rei dos ventos,
segura nau, e ditosa,
5 te levem, e te tragam sempre com pequena
tardança aos olhos que te esperam atentos;
Esprito furioso
20 que não temeu o pego alto revolvido
(entregue aos ventos, posto todo em sorte)
do sempre tempestoso
Áfrico, nem os vaus cegos, e o temido
Cita infamado já com tanta morte!
114
LIVRO I DAS ODES
Um o céu cometeu;
outro o ar vão exprimentou com penas
45 não dadas a homem; outro o mar reparte
que por força rompeu.
Senhor, que tudo vês, que tudo ordenas,
pera a Ti só chegarmos dá-nos arte.
A Manuel de Sampaio
Sampaio, tu lá só
de mim estás, não das Musas, não do santo,
fresco, são, e brando ar que as Graças criam,
nessa feiice terra
5 regada da torrente graciosa
dum novo Tibre, ou Pó,
que nova glória e espanto
ao grande oceano leva: claro rio,
manso Mondego meu, onde soíam (f. 36)
115
LIVRO I DAS ODES
36: PL y tristes
116
LIVRO I DAS ODES
A D. António de Vasconcelos
11 7
LIVRO I DAS ODES
118
LIVRO I DAS ODES
11 9
LIVRO II DAS ODES
121
LIVRO li DAS ODES
122
LIVRO li DAS ODES
50 Espritos gloriosos
que desta baixa terra
fostes morar aos céus, em clara alteza,
ditosos vós, ditosos,
que já vitoriosos
55 de tão mísera guerra,
despistes esta nossa vil baixeza.
123
LIVRO li DAS ODES
A Francisco de Sá de Meneses
Eu tomo só o intento
20 da piadosa gente,
que honra justa quis dar ao claro esprito.
Não fazem anos cento,
mas o alto feito, ou dito,
um homem de mil homens diferente.
124
LIVRO li DAS ODES
O sucessor de Júlio,
que três vezes fechou (f. 42)
de Jano o templo, em paz de todo o mundo,
40 em que idade o grã Túlio,
com seu saber profundo,
por príncipe do mundo o nomeou ?
125
LIVRO II DAS ODES
PL 5:Fouorauel
126
LIVRO II DAS ODES
PL 64: bem
127
LIVRO li DAS ODES
A António de Sá de Meneses
72: bens
128
LIVRO li DAS ODES
30 os tornam graciosos
aqueles amorosos (f. 45)
olhos de Vénus, faces de Cupido,
criando em toda parte um Ch ipre, um Gnido.
129
LIVRO li DAS ODES
PL 72: bem
130
LIVRO DAS ELEGIAS
18: PL co alma
131
ELEGIAS
132
ELEGIAS
133
ELEGIAS
134
ELEGIAS
2
Na morte de Diogo de Betancor
10: PL pôde
135
ELEGIAS
136
ELEGIAS
68: PL éssas
137
ELEGIAS
A Maio
138
ELEGIAS
4: PL a riso
139
ELEGIAS
140
ELEGIAS
141
ELEGIAS
I: PL visto sol
142
ELEGIAS
143
ELEGIAS
65: PL vagaroso
144
ELEGIAS
145
ELEGIAS
146
ELEGIAS
147
ELEGIAS
148
ELEGIAS
149
ELEGIAS
150
ELEGIAS
Amor Perdido
de Anacreonte
- Abre-me - diz - quem quer qu' és, qu ' aqui moras, (f. 60)
qu' eu sou Cupido, que perdido ando
por esta escura noite assi a desoras.
21: PL Sirvo
151
ELEGIAS
152
ELEGIAS
153
ELEGIAS
PL 56: co alma
154
ELEGIAS
122: PL e alma
155
ELEGIAS
156
LIVRO DAS ÉCLOGAS
1
ARQUIGÂMIA
Casti1io, Serrano (f. 63v 0 )
157
ÉCLOGAS
158
ÉCLOGAS
159
ÉCLOGAS
PL 124: serra
160
ÉCLOGAS
CASTÍLIO
PL 148: spiráram
161
ÉCLOGAS
SERRANO
CASTÍLIO
Que hás?
SERRANO
CASTÍLIO
Onde te vás?
SERRANO
CASTÍLIO
SERRANO
190 Não sei que ora isto foi , que bem te ouvia,
mas não saberei dar fé de palavra.
Em outro mundo estava, outro céu via. (f. 67v 0 )
162
ÉCLOGAS
163
ÉCLOGAS
CASTÍLIO
164
ÉCLOGAS
SERRANO
165
ÉCLOGAS
CASTÍLIO
SERRANO
166
ÉCLOGAS
167
ÉCLOGAS
168
ÉCLOGAS
169
ÉCLOGAS
CASTÍLIO
Dize, amigo
(assi nunca em perigo ver te queira
475 tua Lésbia), que maneira, que arte tinha
esse canto?
SERRANO
170
ÉCLOGAS
171
ÉCLOGAS
JÂN/0
Piério, Aónio
PIÉRIO
172
ÉCLOGAS
AÓNIO
173
ÉCLOGAS
174
ÉCLOGAS
PIÉRIO
175
ÉCLOGAS
AÓNIO
PIÉRIO
AÓNIO
Deus renove
outro tempo mais ledo; mas oh, quando?
A noite vem-se escura, e neva, e chove.
PL 127: A.A
176
ÉCLOGAS
TÍTIRO
TÍT/RO
!77
ÉCLOGAS
SERRANO
CASTÁLIO
178
ÉCLOGAS
SERRANO
CASTÁLIO
SERRANO
CASTÁLIO
SERRANO
CASTÁLIO
179
ÉCLOGAS
SERRANO
CASTÁLIO
SERRANO
CASTÁLIO
SERRANO
CASTÁLIO
180
ÉCLOGAS
SERRANO
CASTÁLIO
SERRANO
CASTÁLIO
181
ÉCLOGAS
TÍTIRO
4
LÍLIA
antes de 134: PlomiteTítíro. CFTfol. 173v.-l74v. 5: e alma 9: o não ouve 11 : com teus 14:
toda a parte 15 : e na mor ira se adormece 16: em tudo fermosa 17 : omite eu 18: Se Amor 19: é só
20: ou sol 24: tudo
182
ÉCLOGAS
31: festa, riso 39: for tão desprezado 40: rústico sou eu 47: de ti partir 48: sospirando ... si-
guiste 49: Branca Philis 50: omite ó 52: de hera 53: por minha 54: não os rústicos dons
183
ÉCLOGAS
184
ÉCLOGAS
5
TÉV/0
Aónio, Víncio, Tévio
AÓNIO
VÍNCIO
89: cingira 91: omite o 93: em vãos desejos mouro 95 : aos ventos 96: se se. TÉV/O 4 PL:
Serana a menhã veio, alegre dia
185
ÉCLOGAS
AÓNIO
VÍNCIO
AÓNIO
V{NCIO
186
ÉCLOGAS
TÉVIO
AÓNIO
VÍNCJO
AÓNIO
VfNCIO
AÓNJO
187
ÉCLOGAS
VÍNCIO
AÓNIO
VÍNCIO
AÓNIO
VÍNCIO
AÓNIO
188
ÉCLOGAS
VíNCIO
TÉVIO
MÁGICA
Lícidas, Ménalo
189
ÉCLOGAS
LÍCIDAS
190
ÉCLOGAS
191
ÉCLOGAS
MÉNALO
192
ÉCLOGAS
193
ÉCLOGAS
DÁFNIS
Eurilo, Lícidas
EURILO
LÍCIDAS
EURILO
LfCIDAS
194
ÉCLOGAS
EURILO
195
ÉCLOGAS
196
ÉCLOGAS
LICIDAS
197
ÉCLOGAS
198
ÉCLOGAS
EURILO
8
FLÓRIS
199
ÉCLOGAS
200
ÉCLOGAS
201
ÉCLOGAS
202
ÉCLOGAS
MIRANDA
Alcipo, Andrógeu
ALCIPO
ANDRÓGEU
ALCIPO
Deus a guarde.
ANDRÓGEU
203
ÉCLOGAS
ALCIPO
ANDRÓGEU
ALCIPO
ANDRÓGEU
204
ÉCLOGAS
ALCIPO
ANDRÓGEU
ALCIPO
ANDRÓOEU
ALCIPO
ANDRÓGEU
205
ÉCLOGAS
ALCIPO
Divino
verso é, e não de humana mão cortado.
ANDRÓGEU
ALCIPO
ANDRÓGEU
ALCIPO
ANDRÓGEU
206
ÉCLOGAS
ALCIPO
207
ÉCLOGAS
ANDRÓGEU
ALCIPO
208
ÉCLOGAS
10
SEGADORES
Silvano, Falcino
209
ÉCLOGAS
210
ÉCLOGAS
SILVANO
FALCINO
SILVANO
FALCINO
211
ÉCLOGAS
SILVANO
FALCINO
SILVANO
212
ÉCLOGAS
FALCINO
SILVANO
FALCINO
SILVANO
PL 151 : censigo
213
ÉCLOGAS
FALCINO
SILVANO
FALCINO
214
ÉCLOGAS
SILVANO
FALCINO
SJLVANO
FALCJNO
215
ÉCLOGAS
11
ANDRÓGEU
216
ÉCLOGAS
217
ÉCLOGAS
218
ÉCLOGAS
12
NATAL
219
ÉCLOGAS
JOÃO
CASTÍLIO
SERRANO
220
ÉCLOGAS
CASTÍLIO
SERRANO
CASTÍLIO
SERRANO
CASTÍLIO
SERRANO
CASTÍLIO
221
ÉCLOGAS
SERRANO
CASTÍLIO
SERRANO
CASTÍLIO
SERRANO
CASTÍLIO
70 PL: seu
222
ÉCLOGAS
SERRANO
CASTÍLIO
SERRANO
CASTÍLIO
SERRANO
CASTÍLIO
SERRANO
223
ÉCLOGAS
CASTÍLIO
SERRANO
CASTÍLIO
SERRANO
CASTÍLIO
SERRANO
CASTÍLIO
224
ÉCLOGAS
SERRANO
CASTÍLIO
SERRANO
CASTÍLIO
SERRANO
CASTÍLIO
122 PL: Os
225
ÉCLOGAS
SERRANO
JOÃO
226
Aos Príncipes de Parma
EPITALÂM/0
227
EPITALÂMI O
228
EPITALÂMIO
229
EPITALÂMIO
230
EPITALÂMIO
PL 176: em qu alma
231
EPITALÂMIO
193: amiginações
232
EPITALÂMIO
233
EPITALÂMIO
234
EPITALÂMIO
NEREIDAS
235
EPITALÂMIO
TRITÕES
NEREIDAS
TRITÕES
NEREIDAS
236
EPITALÂMIO
TRITÕES
PL 364: e Amor
237
História de Santa Comba dos Vales
BNL Título: História de Sta Comba de Lamas de Orelhão. Autor António Ferreira. Omite a
dedicatória. 6: de cujos nomes o mundo se espanta 12: Columba ... contadas 13: fábulas profanas 14:
em choros 18: omite e 22: a quem eu 27: omite basta
239
HISTÓRIA DE SANTA COMBA
28: PL sphera 32: BNL viva 35: o arco 39-40: um Copido o grão deus, outro o rei mouro/ que
roubar lhe não pode seu tesouro 46: nem valia 47: PL pôde 49: PL omite em BNL em que 50: da triste
Espanha ainda 52: dos povos 53: omite e 55 : antre 57: em penedia 63: e o cardo 64: se converte
240
HISTÓRIA DE SANTA COMBA
65: se via ua di vindade 69: Cabelo de ouro, ela na flor da idade 70: nem o sol a queima nem
corta o vento 71: de pomba 72 dem ... ô nome 75 : ali nasce a erva 76: nace ua fo nte 77 : omite a 80:
ao mundo 83: nas pastoras, e nos pastores 84: os ciúmes ... de amor 88: omite e 89: que outro cuida-
do 91 : de vosso 92: omite e ... da calma
241
HISTÓRIA DE SANTA COMBA
103: de sua fama 106: Tua que ocupava 108: de grosso 113: um cruel 115: grande e mem-
brudo como usso 116: e iia orelha de Mida 119 PL: Pode 121: BNL Todo o que tinha de gado e
riqueza 123: omite e 124: a porá a qual outra nunca 125: a ira e pureza 127: mais firme aos céus,
tímida em toda parte 129: Teme a pastora, teme seu perigo 132: de seu gado
242
HISTÓRIA DE SANTA COMBA
133: A cada pedra ou tronco vê um imigo 142: donde 144: a vós só chora, a vós sospira e
clama 149: sostentará 150: me segura 151: Por vós me é doce a aspereza e serra 155: üa pastora 157:
omite grande 159: são ... são 164: Divinas rezões 168: ela ficava em seu doce cudado
243
HISTÓRIA DE SANTA COMBA
169: Crece entretanto 175: que tal o seu desejo é: o seu amor era 180: que per antre altos 183:
contra os céus, contra Amor 184: omite a 187: que ou po1 força 188: de baxo 195: Nem peço nem
quero 196: omite assi 198: numa frágua 199: isto só peço 202: Os olhos de rei nunca a ninguem
empecem
244
HISTÓRIA DE SANTA COMBA
203: nada há enfim 204: omite não vês 210: estas riquezas 211 : omite e 214: que em ti 217:
Pois tanto esta terra 219: a roda 225: Mas se 233: são ... omite és 235: ser 238: pareço eu
245
HISTÓRIA DE SANTA COMBA
246
HISTÓRIA DE SANTA COMBA
278: me não asegure 281 : Ouvido foi dos céus o santo rogo 282: em um som doce 288: mas
assim 289: da sua fonte 290: Anteão 294: Comba 295: nem tanto sua honra ela própria estimava
297 : mostrou 301 : Não vás por tua profia mais avante 308: e todo mundo ante ele 309: a mim mais
baixa 310: omite hoje 312: e todo
247
HISTÓRIA DE SANTA COMBA
313: omite fica 314: o raio furioso 316: negro a todos 317: esmorece cai 318: que queimado
é do fogo temeroso 319: e quando torna em si 322: santa moça 324: omite e 325: do coração 327: os
céus 328: omite e 330: e fiado 336: omite e 337: omite e 339: são 342: não me podes fazer teu imigo
345: tu és a dura
248
HISTÓRIA DE SANTA COMB A
348: paga 351 : Não faças estrago duns tais cabelos 354: eu só da vida ... omite a 357: Espera-
-me ... omite os 359: Espera-me 361 : pola alta serra 364: cabelos soltos 366: forças 369: Nem com
tanto furor, nem pressa tanta 370: ao pastor 371 : pranta 383: mudando ... omite a 384: já a alcança
249
HISTÓRIA DE SANTA COMBA
386: fez cousa 394: donde 395: donde olho 397: chegava 399: Colomba 403 : omite e 404:
omite a 406: o pé 416: PL stripado BNL deitou 420: e é castíssima e pura hoje em dia
250
HISTÓRIA DE SANTA COMBA
423: omite e 427: que a sentiram PL que o sentiram 431 : BNL dão bem prova 433: Ali mil
cruzes 434: Chova ora neve 435: aos seus devotos 438: omite pedir 440: PL omite os BNL os
moços ... as moças 448: tais plantas 454: cantamos 455 : o sol e a lua 456: da Tua
251
CARTAS
LIVRO I
253
LIVRO I DAS CARTAS
254
LIVRO I DAS CARTAS
81 : PL chememos
255
LIVRO I DAS CARTAS
256
LIVRO I DAS CARTAS
257
LIVRO I DAS CARTAS
258
LIVRO I DAS CARTAS
3
A Pero de Andrade Caminha
10: PL â antiguidade
259
LIVRO I DAS CARTAS
260
LIVRO I DAS CARTAS
261
LIVRO I DAS CARTAS
97: PL quanto
262
LIVRO I DAS CARTAS
263
LIVRO I DAS CARTAS
264
LIVRO I DAS CARTAS
PL 58: omite é
265
LIVRO I DAS CARTAS
266
LIVRO I DAS CARTAS
267
LIVRO I DAS CARTAS
268
LIVRO I DAS CARTAS
269
LIVRO I DAS CARTAS
270
LIVRO I DAS CARTAS
271
LIVRO I DAS CARTAS
272
LIVRO I DAS CARTAS
273
LIVRO I DAS CARTAS
274
LIVRO I DAS CARTAS
275
LIVRO I DAS CARTAS
276
LIVRO I DAS CARTAS
277
LIVRO I DAS CARTAS
278
LIVRO I DAS CARTAS
279
LIVRO I DAS CARTAS
13: PL emprsta
280
LIVRO I DAS CARTAS
281
LIVRO I DAS CARTAS
282
LIVRO I DAS CARTAS
283
LIVRO I DAS CARTAS
284
LIVRO I DAS CARTAS
285
LIVRO I DAS CARTAS
286
LIVRO I DAS CARTAS
PL 249: abjeito
287
LIVRO I DAS CARTAS
288
LIVRO I DAS CARTAS
289
LIVRO I DAS CARTAS
290
LIVRO I DAS CARTAS
291
LIVRO I DAS CARTAS
10
292
LIVRO I DAS CARTAS
293
LIVRO I DAS CARTAS
294
LIVRO I DAS CARTAS
295
LIVRO I DAS CARTAS
296
LIVRO I DAS CARTAS
297
LIVRO I DAS CARTAS
11
A Diogo de Betancor
10: PL nua
298
LIVRO I DAS CARTAS
299
LIVRO I DAS CARTAS
76: PL pôde
300
LIVRO I DAS CARTAS
301
LIVRO I DAS CARTAS
302
LIVRO I DAS CARTAS
12
A Diogo Bernardes
OL Resposta do Doutor António Ferreira 1: o meu ...á doce 2: o meu 3: no fogo 17: fengir
19: em tanto aviso
303
LIVRO I DAS CARTAS
24: e eu de quem 27 : nossos mores danos 33: traz ele 34: Aquele vive só a quem 35: o som
da frauta 38: PL e OLA doce vida 39: OL quebra a força 40: a mil forças 41 : quebrarieu 43: ó
Bernardes 44: ser de mim só senhor 46: quão docemente 50: OL e sem força
304
LIVRO I DAS CARTAS
54: teus versos ... heroas 57: todo o humilde 61 : que triste 66: de um morto, imortal de outro
faz o escrito 68: omite e 74: o inculto 77: mais muito mais co ingenho
305
LIVRO I DAS CARTAS
85: De bem escrever 87: de que 99: aparece 101 : PL verso arte OL a arte
306
LIVRO I DAS CARTAS
11 3: ingenho e arte e doutrina 114: da inveja 115: ano, um 117: o tempo, despois 121: o que
124: PL Sirva própria OL Sirva própria palavra o bom intento 126: Da prática apressada, o pensa-
mento 127: o estilo 128: venha tudo tão igual 132: em tão
307
LIVRO I DAS CARTAS
143: OL mas afeitado? 148: a lima cruel que inda use PL língua ... ouse 152: OL vir às ore-
lhas ... e esperto 154: omite e 155: da prazer-se 157: por isso 168: e o que ... desaprazia 171 : omite eu
308
LIVRO I DAS CARTAS
13
Ao senhor D. Duarte
309
LIVRO I DAS CARTAS
310
LIVRO I DAS CARTAS
311
LIVRO I DAS CARTAS
312
CARTAS
LIVRO II
A el-Rei D. Sebastião
Título: L A el-rei Dom Sebastião nosso senhor E Elegia a el-rei Dom Sebastião nosso senhor.
1: E que 4: C de Deus formosa planta 6: LE de nossa C bem nosso só, de nossa vida vida 7: Cesta
11: E crecentamento 12: LEC de outras terras 15: LEC a elas 16: E enlevado 17: Etemeraria 18: E tanto
C espero 21 : E toda Berberia LC berberia
313
LIVRO li DAS CARTAS
26-7 : C Musas, que levam os Reis a esta alta glória / tendo por armas só velas ligeiras
28: E contra 30: LE aos mais pequenos deixaram já a vitória C Deixaram aos mais pequenos a
vitória 34: C subjigam 35: PLEL a força 38: L que da 43: E formosura C nem dobras 44: E de que
45 : L humilde nüa E humilde nua 46: E não em L não há 48: L tudo o que E que en tudo o que a
vontade mal se entrega C que é tudo o que à vontade mal se entrega
314
LIVRO II DAS CARTAS
52: E enganos que in La figura 54: E nu cruel 55: La si mesmo 57: C fazem homem 63 : E
saimos C comum igual 65 : E o céus 66: LEC tanto caminho 71 : C vemos a cega 72 L omite e 74: E
apago C nele é perdido 75: C e a 77 : La poder alto logo C do que 78: C é já por bem
315
LIVRO II DAS CARTAS
81 : LE per 83: C veio 84: E obscura 86: LEC e guarda 87: LEC o cego 92: LE todos seus
poderes C comum todos poderes 93: LEC obediência e fieldade 98: E a boa 99: C da mesma luz
101 : LE por os E e violência C da injúria e violência 103 C será juiz 104 C preceite 105: LE faz 107:
E troce a falsa
316
LIVRO II DAS CARTAS
111 : C ao seu desejo 114: PL vaõ LE vau 115: LEC não valem ali 116-7: Pl e LEC omitem
a antes de arte 117: LE arte vence sem cadeia o fero Marte C arte sem ferro vence o fero Marte
118: E espantosa 120: E vencem 122: LEC teu poder 124: C à sua vontade ordena 127: C nem favor
128: E tanto mal 132: EC o teu fim 134: L e verás
317
LIVRO II DAS CARTAS
140: LEC e o fogo 142: E brando fogo 143: LEC ou à igualdade 144: C nem se 146: E não
há 147: LE seria C omite que C fora 149: LEC se a justa lei e rezão 150: L naça a injustiça E nace
a injustiça 151 : LE Cada um pinta em seu peito C Cada um pinta em seu peito aquela 152: LE a qual
mal ou bem 157: PL pôde 158: E o louvor C a honra e louvor crece 161 : PL pôde L e quem 162: E
todo o bom 163: LEC Que injustiça 165: LE polo 167: C está o bem
318
LIVRO II DAS CARTAS
170: LEC e julgar 171: C todo o ânimo 175: LEC grande Augusto 179: E engenho tem as estre-
las bem cantando 183: C sua estrela 185: C Do tempo e idade 186: LEC trás dos santos reis Depois de
186: LE fim 187: E de ir acostumando 190: C inteiro e humano aos grandes e aos pequenos
319
LIVRO II DAS CARTAS
320
LIVRO II DAS CARTAS
42: Lo rico o pobre o seu o peregrino 47: que ao bem e ao mal '49: L: quando Elio 52: L E
quando Nero .. , e essa Roma 55 : em festas, em jogo 58: omite maus 61 : parece
321
LIVRO II DAS CARTAS
75: direito 78: e morte 83: antre 89: se às 94: as rezoõs 95: se vem 96: línguas mil
322
LIVRO II DAS CARTAS
105: aconselham 109: na gente 112: contra nós 114: de justiça 116: se a 117: engenho 129: PL
â 132: L omite mal
323
LIVRO II DAS CARTAS
135: a nenhum saber 141: põe 144: Archilles 145: nem tão santo 146: omite e ... pende 158: cris-
tianíssimos 159: ao passado o presente 161: quem há 162: de tal glória
324
LIVRO II DAS CARTAS
175: Detremine .. . rezão 178: inda a rezão ata 180: mais vai o ouro e não se deixa a prata
181-201 : em vez destas 21 linhas, L tem as 9 linhas seguintes:
Nem tira a mor virtude outra virtude
seu preço, e mais deleita o entendimento
iia cousa. Para que a que vem amiúde?
Fazem-se ali e aqui doutores cento,
nace o poeta que o céu tarde dá.
Assi se apagará em seu nacimento?
Cesse, senhor, openião tão má.
Renaça um novo Homero, um novo Maro,
que só honra e favor o criará.
325
LIVRO II DAS CARTAS
212: tão acostumadas depois de 213: em vez destas 4 linhas, L tem as seguintes:
Também caçam e jogam os doutores,
melhor jogo é o que as mesmas letras dão.
Dem-se aos bons exercícios seus louvores,
que engenhos há que pera tudo são.
326
LIVRO II DAS CARTAS
327
LIVRO II DAS CARTAS
328
LIVRO II DAS CARTAS
329
LIVRO II DAS CARTAS
330
LIVRO II DAS CARTAS
PL 159: s'nflãma
331
LIVRO II DAS CARTAS
A Diogo de Teive
332
LIVRO li DAS CARTAS
333
LIVRO II DAS CARTAS
334
LIVRO II DAS CARTAS
Ó bem-aventurados os pastores,
se seus bens conhecessem! A quem dá a terra
105 à vida mantimento, aos olhos flores!
335
LIVRO II DAS CARTAS
336
LIVRO II DAS CARTAS
337
LIVRO II DAS CARTAS
A António de Sá de Meneses
186: PL em nova
338
LIVRO II DAS CARTAS
Pl 25 : A virtude
339
LIVRO II DAS CARTAS
340
LIVRO II DAS CARTAS
341
LIVRO II DAS CARTAS
A António de Castilho
342
LIVRO II DAS CARTAS
343
LIVRO II DAS CARTAS
344
LIVRO II DAS CARTAS
345
LIVRO II DAS CARTAS
346
LIVRO II DAS CARTAS
347
LIVRO II DAS CARTAS
PL 36: partaraõ
348
LIVRO II DAS CA RTA S
349
LIVRO II DAS CARTAS
350
LIVRO II DAS CARTAS
A Francisco de Sá de Miranda
351
LIVRO II DAS CARTAS
De ti fugiste , e lá de ti voaste,
lá longe, onde teu esprito, alto sobindo,
30 achou esse alto bem que tanto amaste.
352
LIVRO II DAS CARTAS
353
LIVRO II DAS CARTAS
PL 113: a glória
354
LIVRO II DAS CARTAS
355
LIVRO II DAS CARTAS
356
LIVRO li DAS CARTAS
10
A D. Simão da Silveira
357
LIVRO II DAS CARTAS
358
LIVRO II DAS CARTAS
359
LIVRO II DAS CARTAS
360
LIVRO II DAS CARTAS
361
LIVRO II DAS CARTAS
11
362
LIVRO II DAS CARTAS
363
LIVRO II DAS CA RTAS
364
LIVRO li DAS CARTAS
12
A Vasco da Silveira
365
LIVRO II DAS CARTAS
366
LIVRO II DAS CARTAS
367
LIVRO II DAS CARTAS
13
A Francisco de Sá de Meneses
368
LIVRO II DAS CARTAS
PL 52: segue
369
LIVRO II DAS CARTAS
370
LIVRO DOS EPITÁFIOS
A el-Rei D. Dinis
A el-Rei D. João l
371
EPITÁFI OS
Ao mesmo
A el-Rei D. João li
372
EPITÁFIOS
A el-Rei D. Manoel
Ao Príncipe D. João
6: PL a te Oriente
373
EPITÁFIOS
10
11
12
A António de Sá de Meneses
374
EPITÁFIOS
13
14
A Diogo de Betancor
15
A D. Ângela de Noronha
375
EPITÁFIOS
16
À mesma
17
18
A Maria Pimentel
376
EPITÁFIOS
19
À mesma•
377
CASTRO
TRAGÉDIA
Pessoas da tragédia
Castro
Ama
Coro das moças de Coimbra
Ifante D. Pedro
Secretário seu
El-rei D. Afonso IV
Pero Coelho
Diogo Lopez Pacheco
[Filhos de Castro]
Messageiro
BLib Intrelocutores
379
..
ACTO I
[Cena 1]
CASTRO
AMA
CASTRO
AMA
381
CASTRO ACTO I
CASTRO
AMA
CASTRO
AMA
CASTRO
AMA
CASTRO
E ao prazer doces.
AMA
CASTRO
AMA
382
CASTRO ACTO I
CASTRO
PL 45 : grande
383
CASTRO ACT0 1
AMA
CASTRO
384
CASTRO ACTO 1
AMA
CASTRO
O meu medo.
AMA
CASTRO
O medo ousa
125 às vezes mais que o esforço. Tomo os filhos
co' as lágrimas nos olhos, rosto branco,
a língua quasi muda, em choro solta
ant' ele assi começo: - Meu senhor,
soam-me as cruéis vozes deste povo,
130 vejo dei-rei a força, e império grave
armado contra mim, contra a constânci a
que em meu amor tégora tens mostrado.
Não receio, senhor, que a fé tão firme
queiras quebrar a quem tua alma deste;
385
CASTRO ACTO 1
AMA
CASTRO
148: PL arancar
386
CASTRO ACTO I
AMA
CASTRO
AMA
No real esprito
não se deve esperar leve mudança.
Ajuda tua estrela c'o bom siso.
Muitas vezes a culpa empece ao fado .
185 Prudência, e bom conselho o bem conserva;
a soberba o destruí, e em grã mal muda.
CASTRO
AMA
CASTRO
N'alma o tenho.
387
CASTRO ACTO I
AMA
CASTRO
[Cena 2]
!Jante Coro
IFANTE
Cena 2. Não aparece em BLib. Na versão primitiva, a tragédia abre com um monólogo do
infante. Ver Ap2(ii).
388
CASTRO ACTO I
CORO
[Cena 3]
SECRETÁRIO
BLib 239: pnder (sic) PL e BLib com água 240: mesturar 242: rezão
389
CASTRO ACTO 1
IFANTE
SECRETÁRIO
lFANTE
SECRETÁRIO
lFANTE
BLib 243 : este lijongeria a lealdade 244: Um amor 248: do céu 250: pelos 251 : honra e vir-
tude 255: resistir quiser o mau 258: secretairo 260: PL dar-te BLib dar-ta 265: PL e BLib a fortuna
390
CASTRO ACTO 1
SECRETÁRIO
lFANTE
SECRETÁRIO
391
CASTRO ACTO I
IFANTE
SECRETÁRIO
IFANTE
392
CASTRO ACTO 1
SECRETÁRIO
IFANTE
SECRETÁRIO
Julgaste-te a ti mesmo.
IFANTE
Em que, ou como?
SECRETÁRIO
324: e julgarás 325: omite bem 327: contraira 330: c'os que ... presegue 331 : Inf A mi? E
como? 333: heróico e divino e em todo mundo 334: honrado e milagroso dos reis altos 336-9: em
vez destes 4 versos, Blib tem os 5 seguintes:
juntando-se com outro diferente
tanto dele como é o baixo e bastardo
de Inês Pires de Castro, que vem de outros
vassalos teus. nascidos e criados
pera só te servirem e obedescerem
393
CASTRO ACTO 1
CORO
IFANTE
394
CASTRO ACTO I
373: o que eu creio 380: eu só ser 381 : quisera ter mil mundos, pera todos 382: de que tanto
383: Mais baixa 384: em vez deste verso, BLib tem os 3 seguintes:
pera aquela cabeça. Deus me mostra
cá nos meus pensamentos cousas grandes
que despois verão. Olha o que mando
depois de 385, Blib tem o verso seguinte: não uses mais de minha paciência 387: porque não posso 389-
-99: os versos de Blib que correspondem a este trecho vêm da tirada do Infante que forma a Cena I
do Acto I. 389: Arranca-me 390: arranca-me 391 : então acabarás o que começas 392: Não cuides 395:
e a terra 397: a lya dará o dia, e todo o mundo 398: andará o contrairo 399: que eu te deixe, meu bem,
395
CASTRO ACTO 1
SECRETÁRIO
IFANTE
SECRETÁRIO
IFANTE
SECRETÁRIO
IFANTE
396
CASTRO ACTO 1
SECRETÁRIO
Mas sirvo.
IFANTE
SECRETÁRIO
Manda o justo.
IFANTE
Deos só me julga.
SECRETÁRIO
E a razão te obriga
IFANTE
SECRETÁRIO
Cativo
É, quem de si se vence.
IFANTE
Inda importunas?
SECRETÁRIO
IFANTE
Eu te livrarei deles.
397
CASTRO ACTO 1
SECRETÁRIO
A Deus temo.
Tu no corpo só podes, ele n'alma.
420 Eu aconselhar-te posso, forçar não.
Testemunha me é Deus, e tu também .
Amor em ti só reina, amor te manda
peçonha doce d'alma, d'honra, e vida.
Mas porque te não movem tantos choros
425 da rainha tua mãe? Os tantos rogos
dei-rei teu pai? Os tão leais conselhos (j. 212 (PL 112))
de quantos a teus pés estão lançados
pedindo-te piedade deste reino,
que ameaçado está assi da fortuna?
430 Não te declararás por honra tua,
e prova pera o mundo, que t'infama
com nome de pecado pertinaz?
Eu choro de assi ver üa molher fraca
mais forte contra ti, que quantas forças
435 de Deus, do mundo estão por ti tirando.
IFANTE
420: omite eu 423 : BLib da alma, da honra 432: de de pecado 435: de todo o mundo 436:
perseguição 439: sem-rezão 441 : tamanho amor 442: divido, a quem o mundo 443: em vez deste verso,
BLib tem os 3 versos seguintes: a quem tu, Portugal, a quem vós todos/ que assi me perseguis deveis
a honra/ de antre vós parescer cousa tão bela 445-6: em vez destes 2 versos, BLib tem os 3 seguintes:
vede bem o que eu vejo, então vereis
a cegueira em que estais. Que império ou reino
daquele rostro belo não será
398
CASTRO ACTO 1
CORO
IFANTE
SECRETÁRIO
IFANTE
SECRETÁRIO
IFANTE
448: que tanto aborreceis, não é divino 449: Blib omite 450: a tão fermosa alma 452: tachas
455-6: Em Blih estes versos aparecem. em ordem invertida, 11a tirada do lfa111e da Cena I do Acro
/. 455: mais cru o ódio e menos justo 456: mais enveja 457-9: Blib dá estes 3 versos ao Secrerârio
458: num só descuido 460: Por onde 462: o que não posso 463: puseste
399
CASTRO ACTO I
SECRETÁRIO
IFANTE
SECRETÁRIO
IFANTE
SECRETÁRIO
IFANTE
SECRETÁRIO
O mal persigo.
IFANTE
SECRETÁRIO
Um príncipe antes
há-de ter seu esprito tão alçado
475 da terra, que dela erga o pensamento
ao baixo povo seu, pera que o siga.
O esprito há-de ser puro: um ouro limpo
469: puderam 475: de terra, que dela erga os pensamentos 477 : PL Esprito BLib O esprito
400
CASTRO ACTO 1
IFANTE
SECRETÁRIO
[CORO]
Coro 1
482 : não te senão Com a excepção de 5 versos, as odes corais de BLib seio completamente
diferentes das de PL. Ver apêndice 2.
401
CASTRO ACTO 1
Coro 2
402
CASTRO ACTO I
Júpiter transformado
em tão várias figuras,
570 deixando desprezado
o céu, quão baixo o mostram mil pinturas !
Poderosas branduras
que assi as almas convertem
no que amam! Assi sovertem
575 por manha a grande alteza
do esprito, que s' enterra em vil fraqueza!
403
CASTRO ACTO I
404
ACTO II
[Cena 1]
El-rei D. Afonso IV
Peró Coelho Diogo Lopes Pacheco: conselheiros
REI
Blib 601: a força de sangue fogo 603-4: Blib inverte a ordem destes versos 603: com
grandeza 607: omite: 608: o resplandor destoutro
405
CASTRO ACTO li
COELHO
PACHECO
REI
406
CASTRO ACTO 11
PACHECO
REI
Forte cousa
endurecer-se assi aquela vontade!
PACHECO
REI
COELHO
REI
PACHECO
Senhor, moura
por salvação do povo.
REI
Não é crueza
matar quem não tem culpa?
407
CASTRO ACTO li
COELHO
Muitos podes
mandar matar sem culpa, mas com causa.
REI
PACHECO
REI
PACHECO
Da ocasião.
REI
COELHO
REI
COELHO
Nisto: moura.
408
CASTRO ACTO 11
PACHECO
Moura.
REI
Üa inocente?
COELHO
REI
PACHECO
Não o temos.
REI
COELHO
Ei-lo queimado.
REI
COELHO
O amor voa.
Este fogo, senhor, não morre logo.
Quanto lhe mais resistes, mais s'acende.
Contra amor que lugar darás seguro?
669: Não o tomes 670-1: 671 vem antes de 670 673: mais lhe
409
CASTRO ACTO 11
REI
PACHECO
REI
PACHECO
REI
PACHECO
REI
COELHO
678: pelo 679: omite 682: quanto pod.! 683: a rezão, a justiça 685 : aqueles que os seus
686: e o seu 687: pelo 688 : omite o 689: não os louvo 691: do que deram
410
CASTRO ACTO 11
REI
COELHO
REI
Mal parece
695 matar üa inocente.
PACHECO
Não é mal,
que a causa o justifica.
REI
COELHO
REI
COELHO
695-6: Não no é / que causa justifica. Rei Antes quer Deus 700: se fundam mal ou bem
411
CASTRO ACTO li
REI
COELHO
PACHECO
716: do que tu és a cabeça 720: ... de que ela usa em todo um corpo 727: se atalha ... ao diante
depois de 728 intercala os 4 versos seguimes:
Pois, por salvar um reino que em perigo
tem esta só molher. não é justiça
que moura, pola paz. sossego e bem
de todos e castigo de teu filho?
412
CASTRO ACTO II
REI
PACHECO
COELHO
731 : pelo 732 omite assi 736: de quantos 737: romanos 740: omite tão 742: Blib da outra 746:
PL ponha Blib ponho 752: me leva ela me me salve 755: PL e Blib tomo. Blib atribui este verso a
Pacheco. Depois de 755 intercala 6 versos de Coelho:
Sobre quem te aconselha o que não deve
caia dos céus um furioso raio,
a terra trema e se abra e assi o engulo,
que em corpo e alma ao mais profundo centro
o leve e ponha entre as escuras sombras,
sombras cruéis, que vinguem teu engano.
413
CASTRO ACTO II
REI
[Cena 2)
REI
414
CASTRO ACTO II
CORO
[Coro 1]
791 : é grã trabalho 792: com nome 795 : e esperança 800: ou não ouso punir. Não ousa um
rei 802: cousas que algum dos seus não sofreria
antes de 815: Coro. Sáficos
415
CASTRO ACTO li
820: pegas 824: pisais-nos 826: livre 827: altos montes 828: árvores caem 830: as mores tor-
res 832: mais descanso 833: em mor medo 835: bolvem 837: omite e 839: me podesse só 840: não
queria 847: Rei Dom Afonso 848: ter sceptro 849: pelo peso dalma;
416
CASTRO ACTO li
[Coro 2]
antes de 851 Coro ii. Mea rithma 856: a el-rei 863 : rezão 865 : pera ela 878: per outro
881 : pelo
417
CASTRO ACTO li
418
ACTO III
[Cena 1)
CASTRO
BLib Antes de 904 Dona Inês de Castro. No princípio de todas as outras intervenções desta
personagem D. Inês 909: com sobras vãs 910: em medo me deixaste, tal que cria 913: filhos meus
914: em quem 915: rostro 920: ditosos fados e melhor dita 921: meus filhos 923: piquenos, ai meus
filhinhos 926-7: e verei eu/ pisardes estes campos
419
CASTRO ACTO Ili
[Cena 2)
AMA
CASTRO
Ó ama minha,
940 vi a morte esta noite, crua e fera. (f. 221)
AMA
CASTRO
935: Blib está já esperando, em vós os olhos PL está esperando 936: fincarei 937: omite eu
941 : Entre sonhos, senhora, te ouvi chorar 943: a minha 946: deixar-me aqui
420
CASTRO ACTO Ili
AMA
421
CASTRO ACTO III
CASTRO
AMA
CASTRO
AMA
977: omite te 979: que sintira o meu bem com minha morte 984: como me agora 992: dezia
995: abraçado
422
CASTRO ACTO III
CASTRO
Não sei que est' alma vê, que tanto teme. (f. 222)
AMA
CASTRO
AMA
CASTRO
AMA
CASTRO
1003: deixa essas sombras vãs, deixa esses medos depois deste verso, intercala os 10 seguintes:
falsos com que te assombra e engana amor.
D. Inês Ó senhor, meu senhor, quem te ora vira!
Quem vira esses teus olhos, porque os meus
agora não choraram como choram!
Não entendo estas lágrimas: parece
que alma se me derrete e se me arranca
como em sinal de grande apartamento.
Ama Ai, não te agoures mal, que melhor fado
o teu será. Senhora, porque choras?
Senhora, filha minha, porque choras?
1006: não pode estar sem ela depois de 1007, Castro intercala: Tira-me tu as causas de ser
triste 1008: que eu receio
423
CASTRO ACTO III
AMA
CASTRO
424
CASTRO ACTO III
AMA
1014: Mas também dos secretos que parecem 1015: os homens que os não vem 1016: julgam
1017: basta só a 1019: esta é, senhora, a prova da alma 1025-7: em vez destes 3 versos, tem os 19
seguintes:
do que vos este dá, pera então verem
os que tão mal vos julgam como há causa
de vos melhor julgarem do que cuidam.
D. Inês Se os ânimos desculpam obras, posso
as minhas desculpar c'o meu, mas temo
que este ânimo não baste. Porém, baste,
ó Senhor piadoso, esta fraqueza
desculpar a si mesma; baste quanto
trabalhei por livrar-me destes ferros
tão fones em que estou, conformada
a vontade com aquela que cativa
assi me tem, em o mais santo e puro
do matrimónio, com que me segura.
Ou havendo entre nós apanamento,
dos maus erros passados pera sempre
isto vejam meus olhos, Senhor: veja
esta alma livre.
Ama Livre a varás cedo
se esperas, se confias, se te queres
guardar pera aquela hora tão ditosa
1028: Entretanto, semhora, vive, vive 1030: em quem toda a sua está
425
CASTRO ACTO Ili
CASTRO
AMA
1032: o meu 1036: omite a 1039: Ai, pensamentos 1041-3: em vez destes 3 versos, tem o
verso seguinte: Quem a tristeza chama, mal a pode 1046: estes anjos, teus penhores 1049: alegra
estes teus olhos que desfazes 1051: rostro 1052: ligrymas 1053: não agraves teus olhos. Ai, não
vejam 1062: PL alegte
426
CASTRO ACTO III
[Cena 3]
CORO
AMA
CORO
CASTRO
De que choras?
1069 Blib de teu bem antes de 1070 Inês tem os 7 versos seguintes:
Ai, ama minha, se te não tivera
mal pudera sofrer meus acidentes.
Bem vejo que são sombras, que são ventos
que amor me representa.
Mas agora parece que entristeço
mais do que costumava; agora mais
temo, e não sei que temo.
1072: Coitadinha de ti, ó coitadinha 1073: a crua morte
427
CASTRO ACTO III
CORO
Vejo
esse rosto, esses olhos, essa ...
CASTRO
Triste
de mim, triste! Que mal, que mal tamanho
é esse que me trazes?
CORO
É tua morte.
CASTRO
CORO
CASTRO
Ó novas tristes!
Matam-me o meu amor? Porque mo matam?
CORO
AMA
1078: Coro Mal de morte depois de 1078, BLib intercala o verso seguinte: D. Inês Mal
grande! Coro Todo teu sobre te vindo 1079: ifante 1081: Ama Como, por que razão? D. Inês Porque
mo matam?
428
CASTRO ACTO Ili
CORO
CASTRO
Ó coitada,
só, triste, perseguida! Ai, meu senhor,
1095 onde estás, que não vens? El-rei me busca?
CORO
El-rei.
CASTRO
Porque me mata?
CORO
Rei cruel!
Cruéis os que o moveram a tal crueza!
Por ti vem perguntando. Esses teus peitos (f. 223v 0 )
vem só buscar, pera com duro ferro
1100 serem furiosam~nte traspassados.
AMA
429
CASTRO ACTO III
CASTRO
Sonhos tristes!
Sonhos cruéis! Porque tão verdadeiros
me quisestes sair? O esprito meu,
como não creste mais o mal tamanho
1105 que crias, e sabias? Ama, fuge,
fuge desta ira grande que nos busca.
Eu fico, fico só, mas inocente.
Não quero mais ajudas, venha a morte.
Moura eu, mas inocente. Vós, meus filhos,
1110 vivireis cá por mim: meus tão pequenos,
que cruelmente vem tirar de mim.
Socorra-me só Deus, e socorrei-me
vós, moças de Coimbra. Homens, que vedes
esta inocência minha, socorrei-me.
1115 Meus filhos, não choreis: eu por vós choro.
Lograi-vos desta mãe, desta mãe triste,
enquanto a tendes viva. E vós, amigas,
cercai-me em roda todas, e podendo,
defendei-me da morte que me busca.
CORO
[Coro 1)
1106: PL qne Blib 1110-1: vivireis cá por mim, quando tão crua/ a morte for que vos de
mim aparte 1115: não choreis, que ainda há tempo antes de 1120: Choro. Saphycos. 1122: corendo
1128: omite e
430
CASTRO ACTO III
[Coro 2]
1136:Iguala 1138: tudo alcança e pisa 1141 : PL tarbalhos BLib antes de 1152: Choro ii.
Mea rithma 1152: Após amor a morte 1154: ou da alma 1157: rezão 1163: bons avisos
431
CASTRO ACTO III
432
CASTRO ACTO 111
1204: daquele belo corpo 1206: de tanta gentileza 1207: ifante triste 1213: Ai, que tardas
1214: omite o
433
ACTO IV
[Cena 1)
PACHECO
REI
Esta é, que a mim se vem: ó rosto dino
1220 de mais ditosos fados!
CORO
Eis a morte
vem. Vai-te entregar a ela: vai depressa,
terás que chorar menos.
CASTRO
Vou, amigas.
Acompanhai-me vós, amigas minhas,
ajudai-me a pedir misericórdia.
1225 Chorai o desemparo destes filhos
tão tenros, e inocentes. Filhos tristes,
vedes aqui o pai de vosso pai .
BLib 1215: o seguro 1216: é grã crueza 1217: Çarra 1219: Esta é que aqui se vem, ó ros-
tro dino
435
CASTRO ACTO IV
CORO
CASTRO
Meu senhor,
esta é a mãe de teus netos. Estes são
filhos daquele filho que tanto amas.
1235 Esta é aquela coitada molher fraca,
contra quem vens armado de crueza.
Aqui me tens. Bastava teu mandado
pera eu segura, e livre t'esperar,
em ti, e em minh ' inocência confiada.
1240 Escusaras, senhor, todo este estrondo
d'armas e cavaleiros: que não foge,
nem se teme a inocência da justiça.
E quando meus pecados me acusaram
a ti fora buscar: a ti tomara
1245 por vida em minha morte. Agora vejo
que tu me vens buscar. Beijo estas mãos
reais tão piadosas, pois quiseste
por ti vir-te informar de minhas culpas.
Conhece-mas, senhor, como bom rei,
1250 como clemente, e justo, e como pai
de teus vassalos todos, a quem nunca
negaste piedade com justiça.
Que vês em mim, senhor? Que vês em quem
em tuas mãos se mete tão segura?
1255 Que fúria, que ira esta é, com que me buscas?
Mais contra imigos vens, que cruelmente
t' andassem tuas terras destruindo
a ferro, e fogo. Eu tremo, senhor, tremo
de me ver ante ti como me vejo,
1229: as mãos 1233: omite a depois de 1234 intercala: único subcessor de teu estado 1239: em
li e minha I 241: de cavaleiros 1246: bejo essas 1249: Conhece-me 1256: cruamente I 257: tua terra
436
CASTRO ACTO IV
REI
CASTRO
Antes ditosa,
senhor, pois que me vejo ante teus olhos
em tempo tão estreito: põe-nos ora,
como nos outros sóis, nesta coitada,
1280 enche-os de piedade com justiça.
Vens-me, senhor, matar? Porque me matas?
REI
1266: seuhor 1267: falar-te-ão 1279: cuitada depois de 1280 Inês intercala os 5 versos
seguintes:
Não te peço injustiça, que não quero
ajudar-me de meios piadosos.
Puro rigor te peço; neste fundo
toda minha justiça. Não te podes
com justiça escusar do que te peço.
437
CASTRO ACTO IV
CASTRO
REI
PACHECO
1286:Blib da alma 1287: ao Deus 1288 PL e Blib podendo 1290-1: ... ·como tu fazes/como
fizeste sempre depois de 1292 intercalam-se 17 versos:
Pach Senhor, foge-te o tempo. EIR Tu bem sabes
porque te busca a morte: tua dureza
não podia esperar senão dureza.
D. Inês Eu em que te fui dura? A que mandado
teu não obedeci? Que disse ou fiz,
que cuidei contra ti, contra teu reino?
EIR Ten-lo posto em perigo de cair
com destruição cruel geral de todos.
D. Inês Que forças, que poderes, que tesouros,
possuídos de mim, a ti roubados,
te dão causa a esse medo? Rei prudente,
conhece os maus enganos que te trazem
contra quem claro vês que não merece
magoar. Elia assi basta, esta pena
injusta que me dás pera remédio
do que eu adiante simplesmente
podera errar. Téqui em que te errei?
1293: outras mais vidas 1294: em vez de este verso, dado ao rei e a Pacheco, há 2, divididos
entre o rei e lnês:pedindo com clamores. Não tens tempo/ Dona Inês, que te foge . Inês Ó mal fadada
438
CASTRO ACTO IV
CASTRO
PACHECO
1296: Abranda essa tua ira, não na sigas 1297: Nunca aconselhou 1298-9: de remédio a algum
mal. Arrependimento/ traz e desgosto sempre sem remédio depois de 1300 intercalam-se os 5 versos
seguintes:
EIR Sacrifica-te a Deus, pois te é forçado
partires-te pera ele. Grã prudência
é fazer de vontade o necessário.
D. Inês E quem me põe em tal necessidade?
EIR Tuas culpas. Inês Que culpas? Não as vejo.
1305 E estas são depois de 1306, intercalam-se os 11 versos seguintes:
EIR Se em tua consciência te parece
que não mereces morte, o bom conselho
é tomar esta morte por marteiro.
D. Inês Crueza é isso logo, e não justiça.
Porque queres comigo ser cruel,
cruel contra teu sangue? Este marteiro
como mo podes dar? Senhor, rei és:
olha teu alto nome, olha este ceptro.
Pera que Deus to deu? Quando tu mesmo
cometes tal crueza, como podes
castigar sem vergonha outras cruezas?
1308: esse tua 1309: prestemente 1310: chorá-la mais que a morte
439
CASTRO ACTO IV
CASTRO
COELHO
440
CASTRO ACTO IV
CASTRO
REI
Que me queres?
CASTRO
441
CASTRO ACTO IV
1363: en minha 1370: tredores 1371: descubrisse 1373: Bem que forças 1374: taminhas
1376: defenderas-me 1380: agora fala é a 1381 : ele te pede 1382: pera 1391 : omite e 1394: omite
eu 1395: pareça 1398: que cortar-lhe ora queres. Meus filhinhos 1399: os altos 1400: mesericordia
442
CASTRO ACTO IV
REI
Ó molher forte!
Venceste-me, abrandaste-me. Eu te deixo. (f. 229)
Vive, enquanto Deus quer.
CORO
Rei piadoso,
vive tu, pois perdoas: moura aquele
1425 que sua dura tenção leva adiante.
1405: das tetas 1406: estas 1407: desampara 1409: tão sós, tão órfãozinhos depois de 1411,
Inês intercala os 4 versos seguintes:
Esta tapiçaria será a sua.
Ir-se-á onde eu andava passeando:
não me verá, não me achará no campo,
nem no jardim ou câmara. Ei-lo morto
1412: Ai ... meu bem, por mim 1418: tantos danos
443
CASTRO ACTO IV
[Cena 2)
PACHECO
REI
PACHECO
Mor crueza
fazes agora ao reino; agora fazes
1435 o que faz a pouca água em grande fogo;
agora mais s' acende, arderá mais
o fogo de teu filho. A que vieste?
A pôr em mor perigo teu estado?
REI
COELHO
444
CASTRO ACTO IV
REI
PACHECO
REI
COELHO
REI
COELHO
REI
Sou homem.
1448: rezões 1451 : efecto 1455: ou antes não vieras 1459: escondeu 1462: Peq
445
CASTRO ACTO IV
COELHO
Porém rei.
REI
O rei perdoa.
PACHECO
REI
COELHO
1465: em vez deste l'erso, Pacheco e o rei têm este verso: Pach Perdoa com rezão. EIR Que
mais rezão 1466: que ver iia inocente 1468: PL salvas lh' alma BLib salvas lha alma 1470: restituis-
nos a honra 1471: tredores 1472: e sobre nós já se tecia 1473: poblicas 1475: o remédio 1476: cousas
1478: no que cometes, no que deixas 1479: sobre ti 1481 : de fazer 1482: A ti ficam teus netos
1483: assi amasarás a ira o ifante
446
CASTRO ACTO IV
REI
COELHO
[Cena 3]
Coro Rei
CORO
1485: pelo amor de teu povo 1486: pelo 1487: por vida, honra e estado de teu filho 1489: em
vez deste verso BLib tem os 2 versos seguintes: herdeiro sobre quem isto carrega / ifante Dom
Fernando, cuja vida 1491: desta molher. E mais por vida tua 1492: pela constacia 1493: acudiste
1494: que nisto agora amostres e te movam 1495: razões todas 1497: pPrdendo a ocasião que tens
agora 1498-9: Eu lavo minhas mãos deste inocente/ sangue. Vós o fazei, se vos parece 1500: mar-
lar 1501 : nos basta Cena 3. Não se encontra em BLib
447
CASTRO ACTO IV
REI
CORO
REI
CORO
REI
Que temes?
CORO
REI
448
CASTRO ACTO IV
CORO
1526-64: em BLib, a sestina é divida entre Coro l e Coro 2 1532: comerá 1536: glória, honra
e vida 1537: o qual 1540: seplutada 1542: antre 1546: os belos olhos 1548: sem que ... o amor 1549 sem
que ó quão triste, ifante, é a tua vida 1553: quão triste to tomou a crua morte 1556: Nem verá
449
CASTRO ACTO IV
SÃFICOS
1559_: estará escrito 1564: esses mais terão vida 1568: no belo corpo vai 1570: desampara
1573: pudara 1574-8: em Blib estes versos aparecem no Coro 1 do Acto I (ver Ap2(ii) 11.6-10) 1575:
onde se o sol 1576: o fervente 1578: Pstão sogeitas, suas frechas sentem 1579: cuitada 1583: suas
tetas 1584: viram 1585: curas 1586: pudestes 1587: PL vo-las Blib vo-los; antes de 1589: Coro
primeiro
450
CASTRO ACTO II
1590: não abrandara aquele rostro belo 1591 : tornara mansa 1592: fui palavra daquela 1594:
aqueles belos seus depois de 1599 intercalam-se os 2 versos seguinres: Que mais podiam fazer
bravos turcos/ ou que fizeram mais a fortes caíres? 1601-2: em vez destes 2 versos, Blib tem o verso
seguinte: daquele sangue, que te está pedindo vingança
451
ACTO V
[Cena 1)
/Jante
IFANTE
Em BLib, o Acto V abre com uma fala de 45 versos, em meia ritma, de D. Pedro que é
inteiramente omitida em PL (ver Ap2 (iii)). O novo Acto V começa com versos tirados do princípio
da tragédia de 1587. 1605: mais claro e fennoso 1606: Ai , onde não parecem os dous belos 1608:
omite só 1611 : Daqueles raios 1614: que de dia 1619: O Mondego soberbo de tal vista 1620: que co
mar 1622: que faz alegres os que ali vivem
453
CASTRO ACTO V
454
CASTRO ACTO V
[Cena 2]
Messageiro /Jante
MESSAGEIRO
IFANTE
MESSAGEIRO
IFANTE
1651 : armado contra tudo depois de 1651 BLib intercala os 7 versos seguintes:
lf Não te entendo. Declara-te. Mess. Que cuidas
que pode agora ser o que trago.
Faze conta que perdeste teu estado,
que te morreu teu filho, nosso ifante,
que abrasou todo o reino um novo fogo
que caiu lá dos céus, e tu só ficas
pera este mal chorares sem remédio.
455
CASTRO ACTO V
MESSAGEIRO
IFANTE
MESSAGEJRO
IFANTE
É morta?
MESSAGEIRO
Si.
IFANTE
Quem ma matou?
MESSAGEIRO
456
CASTRO ACTO V
IFANTE
1662: nem teus 1663: nem aquela 1666: que lho dava 1671-2: omite 1677: pudesse 1680: Eu
me vejo morto 1681 : PL rompas'alma Blib rompa-se a alma 1683: que me detém por força vida
minha 1684: ah minha alma 1686: omite 1688: frrmosa, casta e limpa 1689: deixou teu belo corpo.
De teu sangue 1690: omite De teu sangue 1692: aü como 1693: Como teveram forças, como brios
1694-5: ... contra carnes/ tão belas e tão brandas. R~i cruel
457
CASTRO ACTO V
MESSAGEJRO
IFANTE
Tristes honras!
Outras honras, senhora, te guardava,
outras se te deviam. Ó triste, triste!
1720 Enganado, nascido em cruel signo,
quem m'enganou? Ah cego, que não cria
aquelas ameaças! Mas quem crera
que tal podia ser?
Como poderei ver aqueles olhos
1725 cerrados pera sempre? Como aqueles
cabelos já não de ouro, mas de sangue?
1699: desse meu 1701: matereis-me e vivira 1705: Blib limpa, casta 1706: PL mrecia (sic)
1708: Blib da alma ... que vedes 1711 : sorvestes 1713: sostenta 1717: aas honras 1723-4: em BLib
estes 2 versos aparecem como um só
458
CASTRO ACTO V
1729: peitos belos 1733: e feio posso ver 1742: nunca se ouça depois de 1745 BLib intercala
os 5 versos seguintes:
Vós ninfas que habitais em aquelas águas
nunca mais pareçais ledas sobre elas.
Chorai aquela ninfa tão fermosa,
celebrai pera sempre suas obséquias
com vozes tristes lá debaixo da água
1746: ajudai-me 1749: omite te 1750: cruamente 1753: PL Par'a a isto BLib Pera isto 1757:
persiguirei 1759: decepados 1760: verás os teus amigos
459
CASTRO ACTO V
1764: de minha ira 1765: conhecerei 1769: lá vou 1774: até que 1776: a descansar contigo
460
APÊNDICE 1
(i) Soneto
(ii) Epigrama
461
APÊNDICES
(iii) Elegia
462
APÊNDICES
463
APÊNDICES
464
APÊNDICES
465
APÊNDICES
466
APÊNDICE 2
Vi viremos,
amor meu, neste amor tão casto e puro,
que os céus o querem; e quando a morte
(ó morte triste, que assi me intristeces)
5 se vier por um de nós, leve-nos ambos.
Não fique eu, senhora, só sem mi;
não fique eu triste cá, de ti tão só.
Mas Deus não te fez tal, pera que logo
te levasse da terra que tanto honras,
IO que isto seria não te dar ventage
sobre as outras molheres; que quem pode
tão diferente delas ser, parece
que alguns estremos mais lhe são devidos,
inda que a morte sempre o milhor busca,
15 e tu és o milhor que nós cá temos.
Os tristes deixa, deixa os que não fazem
sombra no mundo; a nossa luz nos leva.
Quer-se-nos mostrar grande e poderosa
em desfazer as cousas excelentes,
20 espanto e maravilha destes olhos.
Mas esta está guardada de ti, morte;
nesta te foi mandado não tocares,
senão quando quisesses juntamente
deixar a Portugal sem honra e glória,
25 a todo mundo mágoa e nojo triste,
e tirar-me a mi esta vida cruelmente.
De ti, senhora, vivo e por ti mouro;
quem me de ti tirar, tira-me a vida.
Meu pai ma tirará se isso me manda,
467
APÊNDI CES
[l]
Sáficos hendecasílabos
468
APÊNDICES
[2]
Coro mea rithma
469
APÊNDICES
470
APÊNDICES
Mea rithma
3: ves 8: chamaudo
471
APÊNDICES
472
APÊNDICE 3
JANIUS
Lycidas Mycon
LYCIDAS
MYCON
473
APÊNDICES
LYCIDAS
474
APÊNDICES
MYCON
LYCIDAS
FINIS
66: scisa
475
..
COMENTÁRIO
..
AOS BONS INGENHOS
SONETOS
LIVRO I
10-11 Quem te move ... danos: referência a alguém de quem o poeta espera
protecção, talvez a Musa, a própria amada ou algum mecenas.
479
COMENTÁRIO
1 Eu não ... choro: Castilho nota que três sonetos de Petrarca, Canz. 229,230
e 252, começam pela oposição de canto a choro.
2-3 de ter-me ... em parte tal: de ter-me obrigado a amar uma dama tão altiva.
11 me deixa ... mágoa: o verso não é tão obscuro como Castilho julgava.
Significa: o Amor tem piedade do meu triste estado e por isso deixa-me. O Amor
que vai e vem é um topos frequente na poesia quinhentista. Ver por exemplo
Ecl I O, 1.8.
13 afronta: anseia-se. Morais documenta o uso intransitivo de afrontar em
dois autores do século XVI, Fr. João de Lucena e Francisco de Morais. Não são
necessárias, portanto, as modificações drásticas da pontuação do soneto propostas
por Berardinelli.
Marnoto vê nesta poesia uma recordação do início de Canz. 125, onde Pe-
trarca busca uma linguagem poética adequada aos seus pensamentos (pp. 404-5) .
Contudo, o soneto de Ferreira retoma também a temática do fogo e da água de
Si3, 1.14. A existência de um elo entre os dois sonetos é indicada pela palavra
igualmente de Si4 1.1. Em Si3 o poeta fala do seu mundo interior; na poesia
seguinte tenta exteriorizar os seus sentimentos.
480
COMENTÁRIO
a poesia que se lhe segue. Com efeito, segundo nota Marnoto, pp. 393-4, tanto Si5
como Si6 são sonetos em louvor da mulher amada, cuja natureza divina se realça.
3-4 qual... estrela: a amada é comparada com a lua também em Si38. A ori-
gem da comparação encontra-se em Horácio, Odes, 1.12, 11.47-9, micat... velut
inter ignes !una minores.
Soneto famoso, pela ligação que possa ter com a biografia do poeta. Foi
Castilho o primeiro a notar que a repetição de S 'erra podia ser uma maneira de se
referir a uma dama com o apelido de Serra. A grafia de PL, S'erra, torna mais
provável a hipótese. Até agora, tem sido impossível identificar a amada de Fer-
reira (Roig ( 1970) pp. l 03-7), mas a importância simbólica da palavra na obra do
poeta é inegável (Earle (1990) pp.152-8). Em 1.14, ele tentar culpar a amada dos
efeitos da sua paixão, mas a palavra S 'erra/Serra, repetida tantas vezes, sugere
que havia no espírito do poeta alguma dúvid:i quanto à moralidade dos amores
profanos . A técnica deriva dos jogos de Petrarca com o nome de Laura, que pode
significar !'aura (brisa) ou lauro (louro/loureiro) .
481
COMENTÁRIO
1 Odiana: Guadiana.
2 Mondego... Lima: PL lê Avia, rio cuja existência não foi possível verificar.
Além disso, a inclusão do Avia faria um verso de 11 sílabas, já que Ferreira nunca
escande um -i- tónico seguido por outra vogal como uma única sílaba. O Ave é
um rio conhecido do Minho que caberia no esquema métrico do verso.
4 Hidaspe e Tana: respectivamente, o nome clássico de um afluente do Indo
e do Don.
5 enzinho: azinho/azinheira
8 do terceiro céu: de Vénus.
10
Este soneto, tal como Si9, com que forma par, exprime a confiança do poeta
na grandeza do seu amor. Há também no soneto, como em muitos outros, uma
estreita ligação entre os sentimentos do poeta e a sua expressão literária. Ferreira
está convencido de que os seus versos vão conferir imortalidade ao seu sofrimento.
11
Soneto ligado com Si43, em que Ferreira imagina as águas do Tejo levadas
ao Oriente, e com Si46-7, em que o poeta, já contente com um novo amor, regressa
ao Mondego. Ver também Castro ll.1619~20: HO soberbo Mondego, com tal vista
[de Inês]/parece que ao grã mar vai fazer guerra".
É possível que esta poesia tenha sido enviada a algum amigo desconhecido
do poeta na Índia ( ver II. 9- l 4 ).
482
COMENTÁRIO
l vás: vais.
9 Tétis: divindade marítima, mulher de Oceano, que aparece também n 'Os
Lusíadas.
12
13
14
12-13 por quem ... por quem: pelos quais. Na linguagem de Ferreira, quem
não é unicamente pronome pessoal.
483
COMENTÁRIO
15
16
6 se corre: envergonha-se.
17
Soneto cujo começo é uma imitação de Canz. 64, 11.1-2. No resto do poema,
Ferreira afasta-se da linguagem do original, mas o seu pensamento continua muito
semelhante ao de Petrarca (Fucilla, pp.287-8, Marnoto, p.405). Ambos os poetas
utilizam a constância de sentimentos para tentar persuadir a amada a não rejeitar
o seu amor. Marnoto considera, com alguma verdade, que Si 17 é um dos sonetos
"mais dolorosos", mas nele, tal como em Si 16, Ferreira não deixa de proclamar a
sua imortalidade.
7 desposto: disposto a.
19
9-1 O Antes ... tomaram: 1.9 tem uma estrutura quiástica, pela qual tanto al-
vura como cor são o complemento directo de tomaram .
484
COMENTÁRIO
20
2 aparece: parece.
11 então... salteais: volta subitamente a pensar em vós.
21
2 arço: ardo.
2-3 quem ... cantando: construção elíptica. Quem viu alguém cantar, vivo e
ledo, ao aproximar-se da morte? ·
4 desvario: a palavra reaparece, na mesma posição no verso, em Si46, 1.4.
6 vás: vais.
12-13 Tristes ... arde: construção elíptica, parecida com a de Si33, 11.1-3, na
qual parece faltar um verbo à oração relativa. Talvez seja possível pensar na frase
como se fosse um ablativo latino, quibus correntibus, o que significaria: tristes
lágrimas ... , por causa do correr das quais mais o peito arde.
22
3-4 teu lume ... tiveste: o sol recebe a luz dum sol maior, i.e., da amada. Há
o mesmo conceito em Si 13 e 18. vás: vais.
485
COMENTÁRIO
9-1 O tu ... podias: podias tornar a tua planta branda para ti, apesar de ela per-
tencer à dura terra.
23
24
Como nota Mamoto (p.397), o incipit deste soneto é uma imitação de Canz.
198 ll.1-2. A imagem de Amor que faz um laço ou uma rede dos cabelos da amada
encontra-se em várias composições de Petrarca.
Este soneto forma par com Si25, também dedicado aos cabelos da amada. A
associação da amada com o sol é uma imagem usada em vári9s sonetos, como
Sil2-13 etc.
7-8 e parecia ... dece: quando os cabelos da amada se soltam ao vento o sol
parece aproximar-se da terra.
25
Este soneto, dedicado aos cabelos da amada, forma par com o anterior. Além
disso, retoma também o modelo construtivo utilizado em Si 14 (Marnoto, p. 398).
8 arço: ardo.
26
Neste soneto Ferreira associa, mais uma vez, os seus amores e os anseios
literários. Assim, alude ao seu medo da crítica hostil e injusta, tópico tratado também
em várias das cartas. A imagem do poeta alado (11.5-6) aparece em Oi5, 11.1-12.
486
COMENTÁRIO
5 com que: o pronome relativo remete para 1.2: com ter levantado o nome
da amada o poeta teria asas.
8 assome: aqui com valor transitivo, fazer assomar.
13-14 dela ... a: os pronomes são ambíguos, podendo remeter ou para a vista
da dama ou para a língua do poeta, indicação da íntima relação neste soneto, e em
muitos outros, entre literatura e amor. Ver Si30 1.14.
27
4 como ... desejo: como morro (mouro) de a não ver quando desejo vê-la.
9 vivera: teria vivido.
12 fora ... perdera: teria sido ...tivesse perdido.
28
29
5-8 Ou corra ... inspire: nesta enumeração tumultuosa das forças da natu-
reza Ferreira perde um pouco a disciplina retórica que lhe é habitual e, consequen-
temente, não é fácil pontuar o quarteto. Adaptamos uma pontuação que respeita a
métrica, mas seria possível suprimir o ponto-e-vírgula depois de espire (assim se-
guindo PL). Igualmente, poder-se-ia ler no oriente com sol roxo. 7-8 na luzente ...
Amor: Vénus, a estrela vespertina.
30
487
COMENTÁRIO
31
Este soneto está ligado tematicamente com Si27, em que o poeta também
lamenta o seu nascimento (Marnoto, p.427), mas Si3 l chega a uma conclusão
triunfante. As referências ao dia natalício e o uso de palavras como céus e sorte
são indicações do interesse do poeta pela astrologia, que é visível também em
Si37 e nalguns sonetos do Livro II, como Siil0, 27 e 36.
32
Outro soneto com remate optimista, em que Ferreira fala do seu amor com
uma convicção quase religiosa.
33
Soneto importante, porque marca o início da série das poesias do amor novo
que só acaba, após algumas peripécias, com a reunião triunfante dos dois amantes
no final do Livro I. Castilho, porém, (1, pp.40-1) acha que a série começa com
Si34. É tentador ver nestas poesias uma ·nota biográfica, a expressão do amor do
poeta pela futura mulher, Maria Pimentel. Contudo, há precedentes literários para
a mudança de um baixo amor para sentimentos mais elevados, na Vita Nuova de
Dante (Mamoto, pp.411-2) e nos sonetos de Boscán, que Ferreira certamente co-
nhecia (Earle (1986) p.233 ).
488
COMENTÁ RIO
34
35
Soneto em que Ferreira declara que o seu amor novo terá uma expressão
nova. Com efeito, vários dos sonetos da sequência triunfante desenvolvem tópi-
cos enunciados pela primeira vez em sonetos anteriores. No caso presente, Si35
pode ser considerado uma re-escrita em termos optimistas de Si26.
36
489
COMENTÁRIO
8 olhei e vi: há hiato de olhei e e, mas a leitura de MdeV, pela qual o hiato
desapareceria, não é necessariamente superior. O nosso poeta não temia os hiatos,
e neste mesmo soneto há hiato de o e achei (1.3) e de que e ai (1.14).
37
Poema que marca uma etapa nova na série dos sonetos de triunfo. Em Si33-
-36 persistia ainda uma nota, ténue embora, de desconfiança relativa ao amor
novo, mas a partir do soneto presente, até Si4 l, todas as dúvidas desaparecem.
Aqui a amada faz parte dum mundo bucólico, tranquilo, contrastando com as poe-
sias de amor não correspondido, por exemplo, Si29.
8 estrelas e fados: talvez a estrela infeliz sob a qual o poeta nasceu. Ver Si3 l .
38
5 a branca Délia: a lua. Délia foi um dos nomes da deusa Diana que, segundo
a mitologia greco-romana, se identificava com a lua.
7 tempestosas: tempestuosas.
39
40
490
COMENTÁRIO
41
4 faro: farol.
12 arço: ardo.
14 botas: sem fio, rombas e, portanto, inúteis.
42
43
491
COM ENTÁ RIO
Rio Tejo para que receba não o poeta, mas as suas lágrimas, e que as mostre à
amada. Mamoto, pp. 413-14, nota a semelhança entre este soneto e Canz. 208,
Rapido fiume che d'alpestra vena, em que Petrarca pede ao rio Ródano que leve
uma mensagem de amor a Laura, naquela altura residente em Avinhão, cidade que
se encontra na margem esquerda do Ródano, la tua riva manca (1.10) . Se tomar-
mos o soneto de Ferreira ao pé da letra, a amada morava não no Porto, mas no que
parece ser a Serra de Sintra, que se encontra à margem direita do Tejo "à destra
mão da tua praia"(!.! 0). A mudança da esquerda para a direita é sugestiva e indica
que Ferreira tinha em mente uma localidade geográfica precisa. O soneto talvez
seja de 1556 ou 1557, data por volta da qual o poeta se tinha mudado para Lisboa.
44
13 ou que não sinta: entende-se "ou força é que não sinta". Se o poeta não
chorasse, não sentiria a dor.
45
46
Este soneto, como Si47, marca uma nova etapa na narrativa da vida emo-
cional do poeta, que volta ao Mondego e lá evoca os seus antigos amores fracas-
492
COMENTÁRIO
sados com a cruel Serra, aos quais chama desvario, palavra utilizada num soneto
anterior dedicado ao rio, Si2 l. A experiência leva-o a celebrar o contentamento
que o novo amor lhe proporciona em linguagem que tem um paralelo em Si38. A
volta à cena de um antigo amor é um tópico petrarquiano (ver Canz. 301).
13 rim: riem.
47
Neste soneto, como no anterior, Ferreira visita o sítio dos seus antigos amo-
res com Serra.
48
12-3 Ditosas ... penas: as aves são ditosas porque podem voar até onde mora
a amada.
49
493
COMENTÁRIO
50
51
52
494
COMENTÁRIO
leva-nos à mesma conclusão, porque não há razão para separar a planta de 1.7 do
tronco de 1.9. Além disso, o soneto não parece ser uma poesia de amor. Falta a
paixão dos outros sonetos de Livro I, em que nunca aparece a palavra dama, que
o poeta deve ter considerado demasiado fria e respeitosa. (Serve-se sempre do
termo senhora ao dirigir-se à amada). É possível que a dama seja D. Ângela de
Noronha, jovem quase desconhecida ligada por parentesco aos Sá de Meneses,
cuja morte Ferreira chora em Sii22 e Epitl5-16. Porém, em Si52 ela parece estar
viva, ou Ferreira não teria usado o tempo presente em 1.7. Podemos concluir uni-
camente que, nesta poesia, Ferreira lamenta não encontrar no Porto uma senhora
desconhecida ligada à família dos Sá de Meneses. De qualquer forma, o soneto
não destoa dos outros que o cercam, porque é, como eles, uma poesia em que se
lamenta a ausência de alguém. Ferreira talvez o tenha incluído no Livro I por
razões numerológicas.
53
A partir deste soneto, o poeta exprime um desejo cada vez mais veemente
de rever a amada. Efectivamente, em Si58, última composição do livro, os dois
amantes encontram-se de novo.
54
12-14 Faça ... veja: o contraste parece ser entre os desejos múltiplos do cobi-
çoso e a atitude do poeta, que só quer contemplar a amada.
55
12 olhos meus... fontes: tradução da 1.4 de Canz. 161, 1.4 (Marques Braga),
mas em outros aspectos as duas composições têm pouco em comum.
56
495
COMENTÁRIO
57
58
Não é impossível que Ferreira tenha alterado ll.l 3-14 depois da morte de
Maria Pimentel. Em 1557 quando, segundo ele, o Livro I dos ~onetos se acabou
de escrever, Maria ainda estava viva, e Si58 podia ter tido uma conclusão menos
dramática.
LIVRO II
Sii 1-13 são todos poemas em que se lamenta a morte da amada e primeira
mulher do poeta, Maria Pimentel. Sii 1 serve como introdução à colecção. Petrarca
também tinha dividido o Canzoniere em dois livros, de que o primeiro consistia
496
COMENTÁRIO
A vida de casada de Maria foi muito breve (ver o soneto presente, 1.9, Sii3
11.10-11 etc) . Não se sabe a data exacta do seu enlace com o poeta, provavelmente
entre 1557 e 1559, nem a da sua morte prematura. (Ver as notas a El5.)
1 Almonda: o rio Almonda passa por Torres Novas, onde vivia a família
Pimentel, a que pertencia Maria (ver Roig (1970) pp. 109-10).
6 alma ... dina: inspirado em Canz. 267, 1.7 (Castilho).
7-8 iia hora ... nos soberia: saberia (subiria) tem sentido activo : üa hora for-
nos-ia subir. Ver Sii 11 1.8. O desejo de morrer ao mesmo tempo que a amada
encontra-se também em Sii8.
9 cárcer: cárcere.
3 volta: voltada.
497
COMENTÁRIO
Soneto em que se sente o ambiente de Sii2. Maria aparece como guia para
os céus, mas o poeta continua a ser "perdido peregrino no deserto". A poesia
segue de perto Canz. 306 (Fucilla, pp. 290-2; Mamoto, p. 419-20), mas este facto,
como nota Fucilla, não impede Ferreira de descrever um estado de espírito que lhe
é próprio. O primeiro quarteto faz lembrar Si38, ll.3 e to.
Nesta poesia Ferreira volta a uma dor sem limites. Contudo, o soneto é bem
equilibrado, porque nas estrofes 1 e 3, em que há reminiscências de Si2 l, ele lem-
bra as emoções sentidas durante a vida da amada, enquanto nas estrofes 2 e 4
pensa na finalidade da morte.
Neste soneto, o poeta levanta, mais uma vez, a possibilidade de uma reunião
espiritual entre os dois amantes (11.12-14).
Há uma discussão útil deste soneto em Mamoto, pp.422-4. Ela nota que no
livro ln Morte do Canz. são várias as poesias em que Laura fala com Petrarca.
Podemos acrescentar que, em todas elas, Laura fala com o amigo de além do
túmulo. Contudo, no soneto de Ferreira, temos as últimas palavras de Maria
enquanto ainda estava viva, uma indicação da ortodoxia do nosso poeta, que aqui
498
COMENTÁRIO
10
Soneto, como Sii7, em que Ferreira mais uma vez sucumbe à fraqueza e con-
fessa o desejo de morrer.
11
12
499
COMENTÁRIO
4 deu: aconteceu.
11 sembrante: semblante, rosto.
13
9 Foi ... desatino: o desatino foi um remédio porque levou Silveira a dar con-
selhos ao amigo Ferreira.
14
Apesar do que dizem Castilho e Roig ( 1970) p.128, este soneto não faz parte
da sequência amorosa. O uso da 2ª pessoa do singular, e não do plural (como é o
caso invariável em todos os sonetos dedicados à mulher amada), e a ausência de
referências aos sentimentos pessoais de quem escreve indicam que a poesia é
dirigida a alguma figura pública da época (ver Earle (l 986) pp. 233-4 ). A desti-
natária é provavelmente a Princesa D. Joana, e a data da composição Dezembro
de 1552, quando ela atravessou o Tejo para ir ao encontro do futuro marido, o
Príncipe D. João. Na écloga Arquigâmia, da mesma época, a princesa é também
associada à deusa virgem Diana.
15
O soneto não tem dedicatória, mas é evidente que o rei é D. Sebastião, que
atingiu a maioridade com a idade de catorze anos em 20 de Janeiro de 1568, data
presumível do poema. Naquele dia o Cardeal D. Henrique prestou contas da sua
500
COMENTÁRIO
16
17
O soneto não tem dedicatória em PL. Castilho (1, p.84) julgou que nela Fer-
reira se dirigiu a todos os membros da família real portuguesa da época. Marques
Braga, sem alegar razões, diz que é dedicado aos príncipes D. João e D. Joana. Os
paralelismos temáticos entre o soneto e Oi2, certamente dedicada ao par real, suge-
rem que a opinião de Marques Braga é correcta. No soneto e na ode, 11.16-27,
Ferreira refere-se a uma obra de arte, provavelmente uma escultura, que ia ser
feita dos príncipes, e não é difícil chegar à conclusão de que as duas poesias foram
compostas na altura do casamento de D. João e D. Joana em Dezembro de 1552.
501
COMENTÁRIO
18
D. Jorge nasceu em 1547 ou mais tarde (ver notas a Sii20). Não há referên-
cias ao casamento antes de 1570, ano em que nasceu a sua única filha, D. Juliana
(Neves, p.27). O enlace devia ter-se realizado pouco antes, em 1568 ou 69, de
forma que Sii 18-19 devem ser entre as últimas composições poéticas de Ferreira.
19
502
COMENTÁRIO
soneto está emparelhado com o que o precede e que Ferreira enviou à esposa do
jovem fidalgo. Assim Siil8-20 formariam uma série de três, todos dirigidos aos
filhos do Duque de Aveiro.
20
Castilho (1, p.111) e Marques Braga afirmam que este soneto foi destinado
a D. Pedro Dinis, irmão do Marquês de Torres Novas, o que é provável mas não
absolutamente certo. Ferreira chama ao destinatário do poema Dom Pedro, e não
D. Pedro Dinis, mas utiliza a forma abreviada do nome em SC 1.32, narrativa que
foi destinada com certeza aos dois irmãos. Do destinatário a poesia nada nos diz
além do nome e do facto de ele ser ainda muito novo. O Duque de Aveiro, D. João
de Lencastre, casou-se em 22 de Fevereiro de 1547, de forma que o segundo filho,
D. Pedro Dinis, não podia ter nascido antes de 1548. Em 1560, porém, o pai
deixou-lhe no testamento a capitania de Porto Seguro no Brasil, facto prometedor
que podia ter ocasionado o soneto de Ferreira.
21
O soneto vem logo a seguir a uma série de três dedicada a membros da casa
ducal de Aveiro. O título honorífico de Dom indica que, como eles, D. Diogo per-
tencia à alta nobreza, mas não consta que houvesse alguém com este nome entre os
Lencastre. O que é certo é que não pode ser identificado com Diogo de Betancor,
amigo do poeta que morreu jovem e que era de uma família sem grande distinção.
É evidente que D. Diogo era mais uma pessoa que Ferreira queria recrutar
para o grande projecto dos "bons engenhos".
22
503
COMENTÁRIO
único António conhecido do poeta que estava relacionado com o Douro e o Lima.
Vivia no Porto e era casado com D. Inês de Noronha, filha de D. Francisco de
Lima, Visconde de Vila Nova de Cerveira. O pai de António, João Rodrigues,
casou-se pela segunda vez com D. Catarina de Noronha, irmã de D. Inês (Silva
Terra, pp.19-20). É de presumir que a Ângela da 1.14 seja D. Ângela de Noronha,
a quem Ferreira dedicou Epit 15 e 16. Não se sabe exactamente quem ela era, mas
podia muito bem ter sido filha ou neta de António que morreu nova (Silva Terra,
p.46). Silva Terra provou, com documentação abundante, que não era mulher de
António de Sá de Meneses, o que é um erro repetido por muitos críticos.
23
O poeta Pero de Andrade Caminha teve várias irmãs (ver Vasconcelos (1982)
pp.64-5). Uma delas, D. Ana de Toar ou de Tovar, não gozava de boa saúde (ver
o epitáfio 26 em Andrade Caminha, ed. Anastácio, p. 1049) e pode, portanto, ser o
assunto deste soneto. Morreu em data desconhecida, mas depois dos pais, que
faleceram entre 1553 e 1556. Ferreira dedicou-lhe Epit 17.
5-6 e quantos passos ... casa: uma referência a uma promessa de peregrina-
ção que o poeta cumpriu durante a doença da irmã (Vasconcelos (1982) p. 65n.) .
A "casa" será o reino dos céus (pela metáfora, ver S. João 14:2).
12-14 que ... em santo fogo: suspiro (1.9) que me veja arder quieto em santo
fogo, ao sol claro, à doce sombra, livre üa hora deste duro jugo que ora tiro.
Ferreira manipula a sintaxe da frase para colocar "santo fogo" no último verso,
onde faz um belo contraste com "votos santos" em 1.1.
24
504
COMENTÁRIO
25
Uma versão deste soneto, que foi escrito em resposta a um soneto de Diogo
Bernardes, "Se dona Inês de Castro presumira" (Rimas Várias (1985) p. 151 ),
encontra-se no mesmo livro de Bernardes, p. 152. Damos às leituras desta versão
a abreviatura de RV. Como quase sempre é o caso, quando aparecem versões
alternativas de poesias de Ferreira, a incluída em Pl é a melhor.
26
Outro soneto de que há uma versão em kV, p.153 . A poesia, que parece per-
tencer ao mesmo período atribulado que Sii23-4, forma par com o soneto antece-
dente, por ser dedicado à mesma pessoa, e também com o que se lhe segue.
505
COMENTÁRIO
6 Citereia: Vénus.
7-8 em companhia ... clima: talvez signifique que as poesias de Bernardes
já eram lidas por pessoas que estavam no Oriente.
27
Forma par com Sii26, por ser dedicado a um indivíduo disfarçado sob um
pseudónimo, indecifrável no caso de Sii27, e pela presença em ambas as poesias
de Vénus, deusa do amor e estrela sob a qual o poeta nasceu , como nos informa
em 1.5. Porém, enquanto os amigos Limiano e Víncio se regozijam, Ferreira sofre,
exprimindo-se em termos que, mais uma vez, fazem lembrar os sonetos dolorosos
do Livro I. O nome Víncio reaparece em Sii28 e Écl5 .
Sii27, que celebra a conjunção de Vénus com Júpiter, "o pai" de 1.3, é uma
das poesias que revela, com mais clareza, as preocupações astrológicas do poeta
(um outro exemplo é Sii36).
28
3 duas: lê-se como se fosse uma sílaba. Ver também Si45 1.6, Cii7 1.59 etc.
29
É possível que este soneto, como Epig2, tenha sido escrito para acompanhar
o Sucesso do segundo cerco de Diu, epopeia de Jerónimo Corte-Real, editada em
1574, depois da morte de Ferreira. Corte-Real desenhou uma série de estampas
506
COMENTÁRIO
para ilustrar a sua poesia, e assim deu "vida no verso, vida na pintura". O epigra-
ma de Ferreira foi incluído na edição de 1574, sem o soneto. As duas poesias,
porém, constituem um par, como tantos outros em PL, porque o soneto é em lou-
vor de uma obra artística, enquanto o epigrama foca o autor dela. Além disso,
Sii29 tem semelhanças estruturais com a poesia liminar que Andrade Caminha
contribuiu para a obra de Corte-Real, o soneto "Espritos valerosos e esforçados" .
Em Oii2, 11.50-6, outra poesia dedicada a um poeta, desta vez o próprio Caminha,
aparece uma estrofe cuja linguagem é muito parecida com a de Sii29, 11.1-4.
30
Quem era o João do soneto? Ferreira dedicou poesias a muitas pessoas deste
nome. Castilho conjectura que o destinatário é D. João III, por três razões: a lin-
guagem de "respeitosa cortesia" do soneto, o epíteto "felicíssimo", que ele julga
próprio da corte, e o último verso que "só a um Rei se podéra dirigir". A primeira
razão não parece de grande peso, já que Ferreira utiliza uma linguagem respeitosa
sempre que se dirige a um indivíduo importante. É verdade, porém, que Ferreira
muitas vezes aplica o adjectivo "feliz" ou "feiice" e os seus derivados a reis. Há,
porém, excepções, Oi7 1.4, em que Ferreira chama a Coimbra "terra feiice" e Écl 12,
1.20, em que os pastores humildes que viram Cristo têm o epíteto de "felicíssimos".
Na nossa opinião, nem a um rei se poderia dirigir o último verso, excepto se ele
estivesse morto, e neste soneto o poeta não fala de morte. Contudo, um religioso
que tivesse deixado o mundo pela vida conventual podia estar fora do alcance da
fortuna. Ferreira conhecia um religioso de nome João, D. João de Lencastre, filho
do Duque de Aveiro, que em 1557 professou e tomou o nome de Fr. João Furtado
(ver notas a Oi3), perdendo assim o título de Dom. Como vimos, Ferreira empre-
gou o superlativo "felicíssimo" pelo menos uma vez num contexto religioso. Há
também uma notável coincidência de temática e de linguagem entre Oi3 11.35-41,
também dirigido a João de Lencastre, e Sii3011.7-8 (para que Marques Braga chama
a atenção), outro factor que nos leva a pensar que o soneto tenha sido dedicado ao
filho do duque. Mas, como Castilho também confessa, tudo isto são conjecturas.
31
507
COMENTÁRIO
32
O soneto não tem título, mas é evidente que é dedicado ao amigo do poeta
Diogo de Betancor, que morreu ainda jovem, possivelmente em 1557 ou 1558.
Ver as notas à Ci l l.
33
Este soneto, e o que se lhe segue, tiveram um impacto maior que quaisquer
outros de Ferreira nos espíritos dos seus contemporâneos, como se vê do número
de variantes. O facto deve-se ao uso feito pelo poeta do português medieval, à liga-
ção entre Sii33 e 34 e o famoso romance Amadis de Gaula e à crença errónea de
que os dois sonetos fossem obra de membros da família real, o Príncipe D. Afonso
(mais tarde D. Afonso IV) ou o Infante D. Pedro. Foram também objecto de vários
comentários, entre outros, do filho do poeta, Miguel Leite Ferreira. Em tempos
modernos o melhor estudo é o de Roig ( 1978a).
Logo depois da errata de PL Miguel Leite Ferreira escreve: "Os dous sone-
tos que vão às fól.24 fez meu pai na linguagem que se costumava neste reino em
508
COMENTÁRIO
tempo dei-rei D. Dinis, que é a mesma em que foi composta a história de Amadis
de Gaula, por Vasco de Lobeira, natural da cidade do Porto, cujo original anda na
casa de Aveiro. Divulgaram-se em nome do infante D. Afonso, filho primogénito
dei-rei D. Dinis, por quão mal este príncipe recebera (como se vê da mesma
história) ser a fermosa Briolanja em seus amores tão mal tratada". Miguel Leite
fez este comentário em parte para explicar ao leitor a ortografia pouco ortodoxa
dos sonetos em questão, mas também porque queria reclamar para o pai a honra
de os ter composto. Tinha um interesse também em associar poesias famosas com
a cidade do Porto, onde a família dos Leite tinha relações, e com a família real
portuguesa. Na verdade, as críticas de D. Afonso a Amadis de Gaula são referi-
das no Livro I, cap.40. A afirmação do filho de que o pai foi o autor das poesias
também parece fora da dúvida. Ferreira tinha um interesse muito vivo pelo século
XIV, como provam as muitas referências na sua obra a D. Dinis, à mulher, a
Rainha Santa Isabel (ver as notas a Epit2 e Sii 16), e ao filho, D. Afonso IV, per-
sonagem de Castro. Tinha também ligações estreitas com a casa de Aveiro. Além
disso, a versão dos sonetos que aparece em PL é nitidamente superior a todas as
outras, o que indica que Ferreira os considerava como seus e os retocava com a
finalidade de, um dia, os poder editar.
509
COMENTÁRIO
2 de prão: certamente.
4 ende... rem: há uma certa redundância de expressão neste verso, segundo
Roig, porque tanto "ende" como "i" significam "en cet endroit, à ce sujet''. rem:
[qualquer] coisa.
5 aprougue: aprouve. a tão bem: tão bem.
1O endoado: em vão.
11 cambade: mudai .
12 Cá: porque.
14 er: também.
34
Soneto, como Sii33, "na antiga língua portuguesa". Nele Briolanja vinga-se
do Amor que, no soneto anterior, a tinha tratado injustamente. A meu ver, tanto
Michaelis de Vasconcelos como Roig (1978a., p.207-8) se enganaram ao pensar
que a fonte do soneto fosse o Trionfo della Pudizia de Petrarca (Earle ( 1990)
p. 204). É uma composição frívola , com evidentes paralelismos temáticos, como
aliás nota Roig, com alguns dos epigramas de Ferreira.
1 trebelhando: brincando.
3 ledice: substantivo derivado de ledo.
5 a sazom: naquele momento. sia: era (de ser). Ver também 1.9.
7 filha: furta.
1O er: ainda. me hás falido: me tens enganado.
11 vendita: vingança.
13 catando a sa sestra: olhando ao lado esquerdo [do corpo] . endoado: em
vão.
35
Sii35 forma par com o soneto que se lhe segue, que é de 1557. Ambas são
poesias de arrependimento, e em ambas Ferreira pede um guia que o leve ao céu.
510
COMENTÁRIO
36
Neste soneto, como em Sil, Ferreira comemora o ano de 1557, em que fez
29 anos. Foi um ano significativo na vida de Ferreira, porque foi o dos amores
com Maria Pimentel, e é difícil resistir à impressão de que ll.5-6 se referem aos
problemas emocionais daquela época. Na poesia, que tem, como Sii27, ressonân-
cias astrológicas, há uma certa hesitação entre uma crença nas estrelas e a fé orto-
doxa cristã de li. 9-14.
37
38
39
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COMENTÁRIO
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41
512
COMENTÁRIO
42
Foi Júlio de Castilho quem sugeriu que este soneto celebra os cinco mártires
de Marrocos, hipótese que parece muito provável. Em 1218 ou 1219 S. Francisco
enviou cinco frades para converter os muçulmanos de Marrocos. Os missionários
foram martirizados em 1220 e, mais tarde, algumas relíquias suas foram deposi-
tadas no Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. A edição, em Coimbra, em 1568 do
Tratado da vida e martírio dos cinco mártires de Marrocos enviados por S. Fran-
cisco indica que o culto estava muito vivo em Coimbra no século XVI.
14 grã coroa ... louro: aqui Ferreira afirma que mesmo o prémio tradi-
cionalmente dado os poetas, "coroa ...de louro" é inferior à vida imortal.
43
44
Não há dedicatória em PL, mas é evidente que neste soneto Ferreira se dirige
a todos os santos. A poesia é parecida com um soneto de Fr. Agostinho da Cruz
(1994), p.120. Ambos os poetas fazem um tipo de listagem de santos a quem
depois pedem a intercessão por toda a humanidade pecaminosa. No caso de Fer-
reira, os santos alistados são os apóstolos e outros escritores religiosos, ll.5-6, os
eremitas, 11.7-8 e, mais vagamente, os mártires, 1.10.
É de notar como Ferreira insiste, como sempre, na fé como a base da reli-
gião, ll.5-6.
513
COMENTÁRIO
9-1 O vossos despojos ... mortes: todos estes substantivos constituem o com-
plemento directo de presentai (1.12).
11 que a essa: a omissão de um monossílabo antes de uma palavra que
começa com uma vogal diferente é rara em PL. O único paralelo encontra-se em
El2 1.68, onde PL lê éssas que representa a essas. Aqui temos unicamente qu'essa,
em vez de qu ' éssa, mas possivelmente havia dificuldades tipográficas na época
em fazer seguir um apóstrofo por um e acentuado.
O pequeno livro dos epigramas tem uma estrutura simples, mas coerente.
Com efeito, depois de duas poesias dedicadas a pessoas conhecidas do poeta, as
restantes oito são todas traduções ou imitações de originais gregos ou novilatinos.
Para a importância dos epigramas como uma das primeiras manifestações do
interesse pela literatura grega em Portugal, ver Earle (1990) pp. 191-200.
Uma das irmãs do poeta Pero de Andrade Caminha· que se fez freira
(Vasconcelos ( 1982) p.65), acontecimento a que Ferreira se refere, 11. 7-8. Dedicou
também Epit13 e 17 e Oii.2 e 4 a membros da família do amigo.
2 mas só ... Caterina: Ferreira exprime aqui a sua convicção de que as artes
plásticas eram incapazes de retratar a alma duma pessoa, sendo por isso inferiores
à literatura. Ver também Ci8 11.47-51 e Si45.
O epigrama foi editado pela primeira vez em 1574, quando apareceu a epo-
peia de Corte-Real, Sucesso do segundo cerco de Diu (abreviada a SCD). É pos-
sível que Sii29 também seja em louvor da mesma obra. Corte-Real retribuiu o
gesto do amigo, escrevendo-lhe um soneto que mais tarde (morreu em 1588) foi
incluído em PL.
514
COMENTÁRIO
De Anacreonte
De grego
É uma tradução dos Anacreontea, n. º 26. Duas versões em latim deste epi-
grama apareceram em 1556, da responsabilidade de Henricus Stephanus e de
515
COMENTÁRIO
7 despadace: despedace.
A Lésbia
A um retrato de Dido
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COMENTÁRIO
-102r. A poesia latina foi traduzida por Andrade Caminha, com a rubrica "De
Dido, traduzido d' Ausónio", (ed. Anastácio, p. 695). A versão de Ferreira é bas-
tante livre, o que torna a questão da fonte algo melindrosa. Contudo, o facto de o
amigo do nosso poeta ter traduzido um original latino sugere a possibilidade de
que Ferreira tenha feito a mesma coisa.
A Vénus e Cupido
Fermosura
É uma versão livre dos Anacreontea n. 0 24. A poesia foi traduzida para latim
por Stephanus (em 1556) e por Relias Andreas. ·
10
Marte namorado
É uma versão livre dos Anacreontea n. º 28. A poesia foi traduzida por
Stephanus em 1554, pp. 106-7, e em 1556, p. 119, e por Relias Andreas, pp. 40-1,
sendo provável que Ferreira tivesse seguido a versão de Andreas, que foi editada
sem o texto original grego. Com efeito, no passo correspondente a 1.6 do epigrama
português, Andreas escreve: "Et Amoris elevabat / Leviora tela ridens". Stephanus
tem simplesmente: "Tela elevans Amoris", aqui seguindo mais de perto o grego, em
que falta também a referência ao riso de Marte. É mais uma indicação que Ferreira
só conhecia a literatura grega através de traduções feitas para latim (ver Epig3).
2 Forjava... de Vénus o marido: Vulcano, deus das forjas , era casado com
Vénus. A ilha de Lemno era-lhe consagrada.
8 Marte jaz: os amores adúlteros de Marte e Vénus eram famosos .
517
COMENTÁRIO
ODES
LIVRO I
A ode tomou-se talvez a mais popular de todas as poesias do nosso autor por
causa do amor à língua portuguesa que nela se exprime. É a única que não tem
dedicatória a um indivíduo determinado, porque Ferreira visa toda a comunidade
de poetas que, como ele, seguiam o novo canto. Serve como introdução aos dois
livros de odes, e pode ser comparada com a poesia liminar dedicada aos bons
ingenhos. Desconhece-se a data da ode, mas o facto de Ferreira nela se conside-
rar unicamente poeta de amor sugere que a poesia fosse escrita em 1557 ou ante-
riormente. Depois de 1557, ano em que acabou o livro l. 0 dos sonetos, Ferreira
parece ter abandonado a lírica de amor.
3 a brandas Musas: Marques Braga emenda para "as brandas Musas", mas
desnecessariamente. Ferreira canta as Musas também em Abi, 1.2 e em Cii9, 1.190.
Aqui Musas pode significar simplesmente poetas e ser portanto equivalente aos
"espritos dados ... ao novo canto". Mas a palavra pode também se referir a toda a
tradição da poesia clássica e italiana (ver Earle (1990) pp.46-8).
6 nunca ouvido... passados: a temática da falta de cultura do Portugal
medieval é frequente em Ferreira. É o assunto principal de Ci2, por exemplo.
12 do fogo ... renova: é o fogo da inspiração poética que renova o mundo.
Ver a mesma ideia em Cii9, 11.31-45 e em outras poesias.
18 do mundo... mundo: Ferreira joga com a palavra mundo, nos dois senti-
dos de planeta e de gente.
518
COMENTÁRIO
519
COMENTÁRIO
Pelo contrato do casamento, D. João, como bastardo, não podia suceder ao mor-
gado que ia ser criado, o que pode ter ocasionado as queixas contra a fortuna a que
Ferreira se refere na ode (Provas da história genealógica, Tom. 6, Pte. l , p. 73).
D. João entrou no Colégio de Jesus da Universidade de Coimbra em 1546 e estu-
dou também no Colégio das Artes. Foi-lhe conferido o grau de licenciado em 30
de Novembro de 1554, pouco mais de sete meses antes de Ferreira. Parece que
D. João era um jovem de convicções religiosas profundas mas não isento de dúvi-
das. Passou a ser noviço da Companhia de Jesus em 1547, mas pouco depois
abandonou a ordem. Mais tarde, fez-se frade dominicano e morreu em Castela
(Brandão vol.11, pp. 35-6). É, pois, muito provável que ele seja o senhor D. João
da carta de 30 de Junho de 1557 escrita em prosa de Lisboa a António de Castilho.
Deste senhor D. João diz o poeta, "é já professo e se chama Frei João Furtado"
(Brito Rebelo (1903) p. 145). Fr. João Furtado foi um dominicano espanhol que,
a convite de D. Manuel, em 1513 começou a reforma da província portuguesa (Fr.
Luís Cacegas (1678) pp. 3-7). Era natural que D. João de Lencastre tomasse o
nome de uma figura importante da ordem em que tinha ingressado.
Três vezes o poeta anima o jovem aristocrata a crer que a felicidade religiosa
está quase à mão (ll.l 6-18, 30-2 e 60-2), mas a poesia deve ter sido escrita antes
de 1557. Na ode (ao contrário de Ci9) Ferreira e D. João parecem estar juntos em
Coimbra. Ora Ferreira doutorou-se em 14 de Julho de 1555, saindo da Univer-
sidade para Lisboa mais tarde, numa data desconhecida mas de qualquer forma
anterior à carta a Castilho. Assim, não podemos atribuir à ode uma data posterior
a 1555 ou, possivelmente, 1556, se o poeta ficou algum tempo em Coimbra de-
pois do doutoramento.
520
COMENTÁRIO
constitutem a temática estóica da ode de Ferreira. Assim, ele aceita certos aspec-
tos do pensamento antigo, embora faça a crítica de outros, como a deificação da
fortuna (11.35-49). Além disso, consegue evitar em toda a poesia a imagística de
clara inspiração pagã ou cristã. A composição possui um equilíbrio perfeito entre
o mundo greco-romano e o mundo católico de quinhentos.
Ao contrário do que afirma Silva Dias, p.821, a ode exprime não tanto o
ideário da cruzada contra o infiel como o anseio de uma união pacífica entre
cristãos. Ferreira espera a restituição pia e cristã da "cabeça do Oriente", 11.6-9, e
521
COMENTÁRIO
5
A D. Afonso de Castel Branco
Marques Braga diz, numa nota, que a ode "é dedicada ao Bispo de Coimbra,
D. Afonso". Porém D. Afonso só veio a ser bispo de Coimbr~ em 1585, muitos
anos depois da morte do poeta (Fortunato de Almeida, vol. II, p.655). O pequeno
lapso foi o suficiente para despistar outros investigadores, como Rocha Pereira
(1972), p.52, e Earle (1990), pp.71-2. Silva Dias, p. 923n., evita este erro, mas cai
em outro, já que atribui a data de 1577 à poesia, oito anos depois de Ferreira ter
morrido. Com efeito, bem pode ser que a ode pertença à primeira fase da carreira
de Ferreira, enquanto ainda estava em Coimbra. D . Afonso tinha quase a mesma
idade que o poeta (nascera em 1522) e estudou humanidades na Universidade. Na
altura em que Ferreira lhe escreveu, D. Afonso podia ainda não ter começado os
estudos teológicos a que se dedicou mais tarde, já que na ode se fala unicamente
da literatura profana (as Musas, 1.7, o monte de Apolo, 11.40-1). Depois de ter ido
para Lisboa, Ferreira sentia muito a ausência dos amigos universitários, mas aqui
não há referência a uma tal separação. É possível, portanto, que o poema tenha
sido escrito antes de 1555-56.
522
COMENTÁRIO
Para Garcia Fróis Ferreira ver as notas a Écl8. Pelas razões ali expostas,
podemos dar à ode a data tentativa de 1557.
1-9 Assi ... vivo e são: quase uma tradução de Horácio, 11.1-8. Horácio explica
que Virgílio ia para Atenas, mas Ferreira não nos diz o destino da viagem do
irmão, talvez para dar à ode uma nota mais universalista, menos particular. assi:
a sintaxe latinizante da prece, introduzida por assi, baseia-se no passo correspon-
dente da ode de Horácio. Ver também Si50. a ... deusa de Chipre: Vénus, nasci-
da da espuma do mar. os ... irmãos de Helena: Castor e Pólux, heróis transforma-
dos em estrelas, protegiam os marinheiros . o... rei dos ventos: Éolo.
523
COMENTÁRIO
I 3-16 Quem cometeu ... peito: segue de perto Horácio, 11.9-12. enzinho:
azinho/azinheira.
22-4 do sempre ... morte: o África, mencionado por Horácio, 1.12, era o
vento que soprava da África, i.e., do sudoeste. Contudo, Horácio nada diz acerca
de Cila, monstro que infestava o estreito entre a Sicília e a Itália. Segundo
Castilho, Ferreira queria, com esta modificação, indicar a rota de Garcia Fróis no
Mediterrâneo. Porém é igualmente possível que tenha querido simplificar o ori-
ginal, introduzindo uma figura mitológica bem conhecida em vez das referências
recônditas de Horácio, 11.13-14. Mesmo assim, Ferreira, que tinha pouco interesse
nos pormenores da mitologia, cometeu um erro ao supor que Cila era do sexo
masculino. os vaus cegos: baixios perigosos.
25-36 A que mal... crueza: segue Horácio, 11.17-26, omitindo a referência
erudita de l.20. 26-7 quem ... viu: quem viu com secos olhos os monstros que vão
nadando no mar.
27-30 quem ... perto: a pergunta retórica depende de 1.25.
36 roubo e crueza: e a roubo e a crueza.
42 o que ... espantoso: o mar.
43 Um ... cometeu: segundo Marques Braga, o gigante Tifeu, mas é mais
provável que seja simplesmente uma tradução da frase imprecisa de Horácio
"caelum ipsum petimus ", 1.38.
44-5 outro... homem: Dédalo, que voou de Creta para a Itália. O passo cor-
responde a Horácio, ll.34-5.
45-6 outro ... rompeu: mais uma vez, Ferreira evita dar indicações mitológi-
cas precisas. Segundo Rocha Pereira, ele teria modificado a referência horaciana
(1.36) à descida de Hércules aos infernos, substituindo-a por outra façanha do
herói, a colocação das Colunas de Hércules.
A Manuel de Sampaio
524
COMENTÁRIO
8
A D. António de Vasconcelos
Castilho confessa não saber quem era o destinatário desta ode, e Marques
Braga não diz nada a respeito dele. Contudo, um D. António de Vasconcelos e Mene-
ses era irmão mais novo de D. Luís Fernandes de Vasconcelos, a quem Ferreira
dirigiu a Elegia 4, e filho de D. Fernando de Vasconcelos, arcebispo de Lisboa
525
COMENTÁRIO
(Caetano e Sousa, Hist. Gen. vol.12, pte. 1, p.80). Talvez ele seja identificável com
o jovem poeta da ode. Existe um epigrama de Andrade Caminha (ed. Anastácio, p.
672) dedicado a D. António, em que o poeta lhe chama "Vasconcelos, raríssimo
entr' as Musas" , l.3. Segundo Caetano e Sousa, D. António serviu o príncipe D. João
como gentilhomem em 1551 . Mais tarde foi combater em África, em data desco-
nhecida mas depois da composição da poesia de Ferreira (ver ll.40-2).
526
COMENTÁRIO
rar. Foi um dos últimos actos de D. João III, que morreu em 12 de Junho do
mesmo ano. É evidente de ll.3 l-3 que o rei, tio de D. Duarte, ainda estava vivo
quando Ferreira compôs a ode. (Para mais informações acerca de D. Duarte, ver
as notas à Cil3).
A ode é uma imitação estrita da Ode I, 6 de Horácio (ver Earle (1990) pp.
80-1 ). A linguagem da poesia, especialmente da 4ª estrofe, é de uma violência
pouco característica de Ferreira, amante da razão e da arte. Porém Ferreira, tal
como Horácio, não se considerava capaz de poesia heróica, e na ode propõe cons-
tantemente que o seu amigo Andrade Caminha, camareiro de D. Duarte, cante as
grandezas futuras do patrão. O que é mais característico de Ferreira é a sua
insistência em que a poesia tem uma paridade absoluta com os feitos militares,
ideia que repete em cada uma das seis estrofes da ode. O que lhe interessa não é
tanto uma guerra na África como a criação de uma obra de arte acerca daquela
mesma guerra.
4-6 que à glória ... Duarte: já que teu ânimo, Duarte, inspira a Caminha um
favor igual à glória ou a que ele (Caminha) já aspira ou a que teu ânimo já aspira.
Há uma certa ambiguidade nestes versos, mas mesmo assim exprimem bem a
necessidade de um equilíbrio perfeito entre os feitos bélicos e a poesia que os
comemora.
13-14 vivo ... grã nome: deixando teu grã nome vivo na terra. O poeta An-
drade Caminha é o sujeito de toda a frase.
29-34 Enquanto não tento ... não faça: enquanto não tento e Apolo veda
que eu não faça menores os tão altos louvores devidos a ti e ao rei, teu tio ...
39-40 Comece ser... a voz: pela tua influência, pelo estímulo que dás a Cami-
nha, comece a ser ouvida a sua voz.
O poeta Pero de Andrade Caminha (ver as notas à Ci3) teve dois irmãos,
Afonso Vaz Caminha e Gaspar de Sousa Caminha (Vasconcelos ( 1982) pp.64-5).
O assunto desta ode fúnebre é a morte de um deles. Ambos morreram durante a
vida de Andrade Caminha (ver, na ed. Anastácio, o epitáfio em memória de Afonso
(p. 1058) e o em memória de Gaspar (p. 1063). Desconhece-se a data da morte de
Gaspar, cavaleiro da Ordem de Malta. Afonso foi para a Índia na armada de D.
Constantino de Bragança, em 1558, e lá faleceu , com a idade de vinte anos apenas,
527
COMENTÁRIO
A Francisco de Sá de Meneses
528
COMENTÁRIO
vários passos (ver 11.13-15, 25-30, 49-51 e 64-6), mas Ferreira parece desejar con-
solar o amigo e, provavelmente, protector, por algum desgosto sofrido na sua car-
reira pública. Segundo o esboço biográfico de Michaelis de Vasconcelos ( 1885),
p. 750, houve um peóodo de 4 anos, entre 1554 e 1558, em que Sá de Meneses
não teve nenhum cargo oficial, e pode ser que a ode tenha sido escrita naquela
época. De qualquer forma, o terminus a quo da data da ode é 1554, ano da morte
do príncipe D. João, mas é provável que pertença a um ano posterior, já que em
11.46-7 Ferreira diz que Sá de Meneses "inda" sentia o desaparecimento do jovem
que tinha servido como camareiro-mor.
3-6 nem igual verão... inspirado: Sintaxe latinizante. O sentido é: Deus nem
reparte igualmente o verão e o inverno, nem concede a todas as almas o mesmo
fogo de inspiração, dom que vem do céu.
7-10 Ora um ... mora: segundo a astrologia, a psicologia das pessoas é
influenciada pelo planeta sob o qual nasceram. Aqui são mencionados Saturno,
Júpiter, Sol (Febo) e Lua, cada um com o adjectivo que define o respectivo tipo
psicológico.
13-5 Eis um ... canto: possivelmente Cipião Africano que, apesar das vitó-
rias (ver 11.31-6), vivia no exílio e Licurgo, o legislador espartano expulso pelos .
seus conterrâneos, cuja história Ferreira narra em Ci3, 11.85-9.
25-30 O raio ... história: tudo o que se diz nesta estrofe se pode aplicar a
Alexandre Magno, figura com a qual Ferreira estava obcecado (para um exemplo
nas odes, ver Oi2, 11.24-5). Morreu com a idade de 32 anos.
31-6 Olha ... antigo: foi com a idade de 32 anos que Cipião Africano destro-
çou o exército do cartaginense Aníbal na batalha de Zama, pondo assim fim a uma
guerra prolongada que tinha ameaçado a própria existência de Roma. Já antes
disto Cipião tinha dado mostras de génio militar.
37-42 O sucessor... nomeou: o sucessor de Júlio César foi Augusto, que
entrou na cena política com 19 anos apenas. O velho Cícero (Túlio) disse dele que
era "divinum adulescentem " (Phil.5, 43, citado por Syme p.181) mas não propria-
mente princeps, o que teria contrariado os seus princípios republicanos.
43-8 viste... vencia: o póncipe D. João morreu quando tinha 16 anos. Ver El 1.
49-51 E tu ... entre tantos: segundo Barbosa Machado (Biblioteca Lusitana, II,
p. 248) "em os primeiros crepusculos da idade era tal a prudencia do juízo, e gravi-
529
COMENTÁRIO
dade do aspecto .. .que o elegeo [D. João III) para Criado do Príncipe D. João". Foi
em 1537, quando Sá de Meneses tinha entre 22 e 24 anos.
61-4 Té quando ... rei: os motivos reais dos maus conhecem-se pelos seus
actos, ou pelos seus frutos, como ensina a Bíblia (Mateus 7.16-20), conselho que
o rei deve seguir.
65-6 Já ... lume: é o mesmo pensamento de 11.22-4. Há jovens com a maturi-
dade de velhos.
Afonso Vaz Caminha era irmão mais novo do poeta Pero de Andrade Caminha
(Roig (1970) p. 122). Segundo a carta do irmão (ed. de Anastácio, p. 951), estava na
Índia ao mesmo tempo que D. Constantino de Bragança, que para lá partiu como
vice-rei em 1558. Roig, citando T. Braga, atribui a data de 1557 ou 1558 à ode, mas
1559 é mais provável, se, efectivamente, Caminha acompanhou o vice-rei a Goa.
A armada chefiada por D. Constantino chegou à Índia em menos de cinco meses
(7 de Abril a 3 de Setembro de 1558), o que, na época, era considerado rapidíssimo.
A viagem de Caminha também foi fácil (1.5), o que leva a supor que ele fosse
membro da mesma expedição. Normalmente as viagens eram de seis a oito meses
(Boxer ( 1959) pp. 6-7). As notícias do bom sucesso da armada não podiam ter
chegado a Portugal antes de 1559. Caminha morreu só com 20 anos, provavel-
mente na Índia (ver o epitáfio de Andrade Caminha, ed. de Anastácio, p. 1058).
530
COMENTÁRIO
5
A António de Sá de Meneses
A ode, uma das mais belas, começa com uma invocação da primavera (ll. l-50)
e depois passa a ser uma prece a Apolo, deus da Medicina, para a restauração da
saúde de António de Sá de Meneses (ll.56-77). A poesia é habilmente construída. A
invocação da primavera está relacionada com os cuidados do poeta pelo estado físico
e espiritual do amigo, porque as alegrias da natureza devem ser um alívio para o
doente. Para unificar a poesia Ferreira emprega também um jogo mitológico, tratan-
do Apolo, ou Febo, simultaneamente como sinónimo do sol e como deus da Medi-
cina e da Poesia. Nas últimas estrofes da ode Ferreira medita sobre a passagem das
estações e sobre a inevitabilidade da morte, dando assim, à moda de Horácio, uma
tonalidade triste após as alegrias do começo. Na invocação da primavera nota-se a
influência de nada menos de três odes de Horácio: I, 4, IV, 7 e IV, 12 (Costa Ramalho,
1969b, pp. 319-29. Ver também Earle (1990) pp. 75-8). Como observa Costa Rama-
lho, p. 326, a ode acaba numa nota cristã e moralista mas, mesmo assim, há em quase
toda ela uma atmosfera pagã, como em Cii5, também dedicada a António de Sá de
Meneses, o que sugere que ele apreciava a literatura e o pensamento clássicos.
531
COMENTÁRIO
14 o frecheiro: Cupido.
33 um Chipre, um Gnido: a ilha de Chipre e a cidade de Gnido ou Cnido
na Ásia Menor eram lugares consagrados a Vénus.
39-40 ou Progne ... Títiro: na mitologia romana, Progne personificava a
andorinha e Filomena ou Filomela o rouxinol. Títiro é o sujeito da frase. O nome
é tirado das Éclogas de Virgílio, mas aqui designa, vagamente, qualquer pastor.
44 Clóris: nome, de origem grega, de uma ninfa ou pastora. Nas éclogas vir-
gilianas não aparece nenhuma Clóris como amante de Títiro, mas Ferreira era
indiferente aos pormenores da mitologia.
47 e mil odes cantemos: não há prova de que António de Sá de Meneses
tenha sido poeta (Silva Terra, pp. 35-9), mas "era homem dado a letras" (Castilho,
I, p. 90). Ver também 11.73-4.
54 Nise: D. Inês de Noronha era mulher de António de Sá de Meneses (Silva
Terra, pp. 31-2). Nise é anagrama de Inês.
58 ó movedor segundo: Deus é o primeiro movedor (motor) do universo.
Ele dá luz e vida ao mundo através do sol, que assim se toma o movedor segundo.
60 crespo Apolo: a palavra crespo sugeria a beleza clássica à imaginação do
poeta. Só a empregou em contextos mitológicos, para descrever os cabelos de Apolo
e de Cupido, ou os da dama amada, com os quais Cupido costumava brincar.
64-6 o mau Saturno ... força inteira: No Renascimento a astrologia e a medi-
cina estavam intimamente relacionadas. Ferreira espera que o sol (Apolo), planeta
benéfico, afaste a influência maligna de Saturno, planeta associada à doença, à
velhice e à melancolia e restaure a Sá de Meneses a perfeita saúde. luz primeira:
aqui em sentido metafórico. Ferreira espera que o amigo recobre a serenidade
espiritual da juventude.
70 Sabá: (assim escrita em PL) cidade da Arábia famosa pelas suas plantas
aromáticas.
73-4 a quem ... adora: Sá de Meneses, que adorava a poesia, uma arte asso-
ciada com ,Febo, ou Apolo.
75 Douro: Sá de Meneses vivia no Porto.
ELEGIAS
532
COMENTÁRIO
3 que meio ... posesse: moderar, assim formando um contraste com fim ...
pedisse de 11.4-5 (Castilho).
17 vá-la: vai-la.
27 te lanças: te deitas (Castilho).
31-6 Deixa o pranto ... honrando: o argumento destes tercetos é que Sá de
Meneses não precisa de chorar tanto, já que todo o mundo lamenta o desapareci-
mento do príncipe.
46 acipreste: cipreste.
56-7 quanto ... roubado: quanto mais ias prometendo dele ao mundo a que
foi roubado.
59 que o informavas: aqui tem o sentido quinhentista de "dar forma a". Ver
a nota a 1.83.
68-72 viveras ... ficara ... conheceras ... temeras: vivesses ... teria ficado ...
terias conhecido ... terias temido.
79-81 Isto... triste sorte: isto refere-se a "o que ...triste sorte". A dor de Sá
de Meneses é maior porque uma parte do espírito do preceptor morreu com o
príncipe (ver 11.82-4).
83 a nova ideia de rei: a palavra ideia só aparece quatro vezes na poesia de
Ferreira (aqui e em Cii 1, 1.151, Cii3, 1.11 e Si 19, 1.8). O sentido varia um pouco
de poesia para poesia, mas em termos Jatos pode-se dizer que significa "conceito" .
Na mentalidade de Ferreira, a noção de ideia era inseparável da de forma ou
feição (ver 1.84 "conforme a teu esprito" ): uma ideia só se pode manifestar na
533
COMENTÁRIO
vida real se tiver a devida forma . As ideias de Ferreira não são, portanto, as ideias
transcendentais de Platão, que existem sem a necessidade de uma forma corpórea.
nova (ver também 1.54): significa "jovem", "nunca vista antes" mas não neces-
sariamente "diferente". Podemos, portanto, parafrasear 11.82-4 assim: conheceste-
te bem a ti (o que, segundo os humanistas, sempre conferia autoridade) e reconhe-
ceste que no espírito do jovem príncipe existia uma consciência da sua própria
realeza. Isto esperavas, para poder moldá-lo, formá-lo , em conformidade com a
grandeza do teu próprio espírito.
94-5 Quem ... tantos anos: D. João viu e viveu muito, apesar dos seus
poucos anos, porque tinha beneficiado da experiência e dos conhecimentos de Sá
de Meneses. tanta viu: tanta vida viu.
104-5 Vês o rei ... diferente: Ferreira exprime a mesma ideia na carta a D.
Sebastião, Cii 1, 11.133-4.
117 esté: esteja. O -e- de estê é normalmente fechado, mas aqui rima com é
efé.
119 se lha ... desejo: se invejarmos a glória de D. João, no céu, é porque o
amamos e o desejamos rever.
120 mas tal amor... culpa: D . João é o sujeito dos verbos desta frase .
139-41 já se cria ... subirá: já se cria alguém a quem tu serás Néstor e que
da terra subirá ... Néstor: na Ilíada, o velho que dava conselhos aos heróis gregos.
Para este jovem amigo de Ferreira ver as notas à Ci 11, também dedicada a
Betancor. Betancor morreu ainda novo, 1.2, e é, portanto, legítimo atribuir à ele-
gia uma data pouco posterior à da carta, 1557 ou 1558. Castilho vê na poesia a
influência de Horácio, Ode I, 24, a meu ver sem justificação.
É de notar nesta elegia o uso feito por Ferreira das formas verbais com ter-
minação em -ra, -ras etc., por exemplo alçaras, 1.19, e dera, 1.24, sempre com
valor de conjuntivo ou condicional. Na linguagem de Ferreira, tais formas verbais
só raramente têm valor de mais-que-perfeito, por ex., em El9 11.20-1.
534
COMENTÁRIO
19-27 alçaras ... se cantara ... dera ... fora coroado: terias alçado, se teria
cantado, teria dado, teria sido coroado.
29 laureiro: loureiro.
31-33 quem a Mântua ... soa! : Virgílio era natural de Mântua. O rio Arno
passa por Florença, grande centro da literatura italiana. fizera: teria feito. dera:
teria dado.
34 doce facúndia e bom despejo: eloquência e facilidade.
35-39 soara ... correra: teria soado, tivesse corrido.
70-84 Quantos vales... mais duraras: em Ci 11, dedicada a Betancor,
Ferreira tinha dito: "vai-te à natureza/ em que aprendeste bem filosofar", ll.119-20.
Aqui evoca as lições.
76-81 Outra hora ... quedos: a frase depende sintacticamente de ll.70-71.
As últimas palavras, "estando quedos", contrastam com o princípio da frase ante-
rior, "Quantos vales pisámos".
84 duraras: tivesses durado.
94-6 cortara ... voara: cortasse ... voasse.
97 cárcer: Ferreira emprega sempre esta palavra sem o -e final.
A Maio
Não é possível atribuir uma data certa à elegia. Deve ter sido escrita depois
de 1556, data em que, provavelmente, Ferreira chegou a conhecer os Anacreontea
535
COMENTÁRIO
(ver notas a Epig3). Em ll.1-2 aparece uma construção latina (ver notas) exacta-
mente paralela a Écl 11 1.62, que pertence a 1558 ou a um ano posterior. A imagís-
tica de 11.8-11 faz pensar num dos melhores sonetos de Ferreira, Si38, que é de 1557.
2 as frontes coroado: com as frontes coroadas (de mil ervas, etc.). A cons-
trução é latina, o chamado acusativo de respeito. Aparece também na Écl 11 1.62,
e na elegia presente, 1.34.
10-12 Sai ... saudosas: Diana, deusa da lua, enamorou-se do belo pastor
Endimião enquanto ele dormia.
16 as Graças: as três Graças eram as filhas de Vénus.
17 ao filho mil espritos: como em 11.13 e 15, é necessário subentender um
verbo, aqui talvez andam.
26 a triste: a Afeição.
28 encruece: torna-se cruel.
34 Aos olhos ... atado: com os olhos atados (ver 1.2).
49 Ela ... ouro: Vénus despe-se e solta os cabelos louros.
A elegia é uma das poucas poesias, se não a única, em que Ferreira celebra
o regresso de um herói do ultramar. Ele era muito mais o poeta da aspiração e da
esperança que do triunfo material e mundano. E era precisamente porque nada
tinha de triunfante que celebrou o regresso de D. Luís. Em 1557, ao sair do Tejo,
a nau em que ia como capitão-mor de uma armada afundou-se, e na viagem de
volta, em 1559, sofreu um segundo naufrágio perto de Madagáscar. Ferreira alude
a estes acidentes, 11.7 e 28-9. Só chegou a Portugal, "tão falto de cabedaes, como
abundante de desgraças" (Barbosa Machado (1736), III, 335) em Junho de 1561.
A poesia, em que Ferreira fala do valor do trabalho sofrido com coragem, deve ter
sido escrita pouco depois. Ver também Couto, Década VII, fois 88v., 1O1v., 143v.-
- l 45r., l 63r. e Boxer ( 1968), pp.27-8. D. Luís era o filho mais velho do Arcebispo
de Lisboa, D. Fernando de Vasconcelos. Oi8 é dedicada ao terceiro filho, D. An-
tónio de Vasconcelos e Meneses.
536
COMENTÁRIO
Ferreira respondeu com esta poesia à Elegia 3 de Andrade Caminha, "A Antó-
nio Ferreira. Na morte de Maria Pimentel sua molher", ed. de Anastácio, pp. 954-8.
Não se sabe ao certo a data nem do casamento do poeta nem da morte de Maria.
É possível, contudo, que dois sonetos, ambos de 1557, se lhe refiram. Si58, o último
do primeiro livro, descreve o encontro dos dois amantes, e o soneto astrológico,
Sii36, também menciona, sem entrar em pormenores, um acontecimento feliz na
vida do poeta. O que é certo é que Maria morreu pouco depois. O próprio Ferreira
o diz, Sii I li. 9- 11 e Andrade Caminha também, p.124. A elegia presente será, por-
tanto, do período 1557-9. A afirmação de Marques Braga segundo o qual o poeta
enviuvou ao terceiro ano de casado não tem fundamento.
Na elegia, que foi muito admirada por Camilo (citado por Marques Braga),
vê-se de uma forma especialmente dramática o conflito entre a dor ocasionada
pela morte de Maria e a necessidade da resignação cristã. Pode-se dizer, até, que
o conflito não se resolve. Com efeito, nos últimos versos da elegia Marília, ou
Maria, aparece numa visão para dar ao poeta uma lição de paciência e de fé, mas
a própria visão é o produto do desejo impaciente de Ferreira de rever a mulher.
Nota-se na poesia a presença de várias imagens muito semelhantes às de alguns
dos sonetos do livro I, e o poeta parece referir-se à colecção, 1.39. Dedicou tam-
bém Epit 18 e I 9 à memória da mulher, além de Sii 1- I 3.
537
COMENTÁRIO
538
COMENTÁRIO
4 o teu branco carvalho: foi Roig ( 1970) p.132 que primeiro decifrou este
verso, embora o cite erradamente. Com efeito, Ferreira deriva Albuquerque, por
uma etimologia falsa, do latim alba quercus, em português branco carvalho.
6 seu real tronco: a família dos Albuquerque vem de um filho bastardo de
D. Dinis que se casou com uma neta de D. Sancho III de Castela (Albuquerque
( 1990) p.2).
11 do grande macedónio: Alexandre Magno.
14-18 a tua nua ... pura: na verdade, o estilo dos Comentários é notável pela
sua simplicidade e elegância (ver Albuquerque (1990), pp.39-40).
20 oriente: a palavra aparece aqui como adjectivo, pela única vez na poesia
de Ferreira.
25 o Hidaspe: o rio Indo ou, falando com rigor, um afluente do Indo.
28-30 De Meca ... conquistadas: Ferreira parece referir-se aqui à incursão
de Albuquerque no Mar Vermelho, descrita na Parte IV dos Comentários. Como
sempre, as referências históricas são vagas. As "portas de Meca" talvez sejam o
Estreito de Bab AI Mandab, chamado às vezes pelos portugueses Estreito de Meca,
por onde Albuquerque passou no decurso da sua malograda expedição, durante a
qual, ao contrário do que afirma Ferreira, não fez nenhuma conquista.
32-3 quantas minas ... encobertas: outra referência histórica pouco precisa.
A fonte principal do ouro do Estado da Índia eram as minas do sul da África,
donde era exportado através de portos como Sofala, Quíloa, Mombaça etc. Albu-
querque passou só alguns meses nesta região, no princípio da sua carreira, e não
fez lá nenhuma descoberta de nota.
38-9 se a morte ... fermoso: Albuquerque morreu em 1515, ainda no Oriente.
cortara: tivesse cortado. deras: terias dado.
43-5 Não pode... dura: os sentimentos de inveja que Albuquerque provo-
cava nos seus colegas formam um tema insistente dos Comentários (ver Albu-
querque (1990) pp.45-7).
49-51 Inda hoje... adora: ainda hoje lemos relatos sobre capitães romanos
e gregos que receberam um tratamento injusto (prémios escuros) durante a vida,
mas que foram honrados depois da morte. O exílio a que vários heróis da antigui-
dade clássica foram condenados é um tema que interessou Ferreira (ver Oii3 ll.13-
-15 e Ci3 ll.85-90).
58 Louvou-se... espanta: as palavras marcam a transição do louvor do livro
de Albuquerque filho, que ocupa a primeira parte da elegia, para a lição moral a
ser tirada da carreira do pai, que é a temática de 11.58-67.
66 Fábio: Quinto Fábio Máximo, tomado aqui como exemplo de uma grande
figura militar romana.
73-5 nenhum estado... ganhado: Ferreira exprime aqui uma dúvida, tipica-
mente humanista, acerca do valor dos títulos herdados. estado: posição social.
539
COMENTÁR IO
Amor Fugido
de Masco
2 dos pés nua: descalça. Em latim, o adjectivo nudus é muitas vezes seguido
pelo ablativo, construção que Ferreira imita aqui.
16 Camenas: Musas.
24 doam ... mágoas: o conjuntivo tem valor condicional: temperarei as frias
neves, etc., sob a condição de as minhas mágoas vos doerem.
26 faunos : divindades pastoris, muitas vezes amantes das ninfas.
36 encruece: toma-se cruel.
47-8 De que... cante: como sempre em Ferreira, os pormenores mitológicos
são pouco precisos, mas a ideia é que se sente o amor mesmo no reino dos mortos.
Prosérpina foi raptada por Plutão, rei do Hades, e o amor de Orfeu por Eurídice
foi tanto que, depois da sua morte, ele a seguiu para debaixo da terra. Para a acen-
tuação de Prosérpina, ver Écl6, 1.11 O.
53 cheia a terra: estando cheia a terra. A omissão do particípio presente do
verbo estar é um latinismo.
67 Que vos prometa: embora vos prometa, mesmo se vos prometa. Ver tam-
bém Ci8, 11.58-60 e Sii39, 11.3-7.
68 bejo: beijo. Em El8, 1.19 aparece a forma verbal.
540
COMENTÁRIO
Amor Perdido
de Anacreonte
Aqui Ferreira imita Anacreontea n.º 33, seguindo-a bastante de perto. Rocha
Pereira ( 1972) p.56 nota uma certa falta de dramatismo na versão do nosso poeta,
porque Cupido revela quem é no princípio da sua fala. Porém, a poesia de Ferreira
acaba com uma antítese brilhante que falta no original (citado por Ribeiro Rebelo,
p. 257). A elegia deve ser de 1556, ou de uma data posterior (ver notas a Epig3).
3 Boote Ursa: Bootes, palavra grega que significa boieiro, nome de uma
constelação próxima da Ursa Maior.
19 bejo: beijo. Ver El7 1.68.
30 Fica embora: é uma fórmula de despedida, "fica com felicidade". Aqui
é uma ironia (Marques Braga).
541
COMENTÁRIO
ÉCLOGAS
ARQUIGAMIA
542
COMENTÁRIO
Tal como Écl6, 1O e 12, a poesia começa com uma introdução, em oitavas,
pronunciada por uma figura anónima.
543
COMENTÁRIO
544
COM ENTÁRIO
545
COMENTÁRIO
exprime o medo de Serrano, que inicialmente é grande, mas que logo desaparece.
rosto mortal: perturbado, angustiado. Sá de Miranda ( 1885) fala de suores mor-
tais na écloga "Encantamento", 11.171-2 e 465.
397-8 conheceras ... poseras: conhecerias ... tivesses posto.
409 a partes: em várias partes do vestido.
413-16 No carro ... a ele: a imagem poética parece ter sido inspirada na
iconografia real da época. Ver Deswarte ( 1977) p.68 .
417 tritões: divindades do mar.
418 dões: dons.
422 Tétis: na mitologia clássica, rainha do mar.
435-6 o tão nomeado Duque ... João: D. João de Lencastre, Duque de
Aveiro, chefe da família que Ferreira tanto admirava. D. João III encarregou-o de
acompanhar a princesa D. Joana da fronteira espanhola até Lisboa.
444-7 Neto ... e digno: D. João de Lencastre era filho de D. Jorge, mestre de
Santiago e filho bastardo de D. João II. 11.446-7 referem-se à morte de D. Jorge,
ocorrida em 1550. Do mundo... espanto: uma frase quase idêntica encontra-se
em Epit6, dedicado a D. João II, 1.3.
450 Vulcano e Marte: o deus das forjas e o deus da guerra. Assim Ferreira
consegue incluir na sua cena mitológica uma referência à artilharia.
455 trunfas: turbantes.
471-4 viam ... areias: uma referência ao mito segundo o qual há ouro nas
areias do Tejo.
513-16 Tal vem ... Diana sai: Diana é o sujeito de "invejosa lhe pode ser".
527-8 Que príncipe... nascerá: D. Sebastião. É possível, como sugere
Castilho, que esta estrofe tenha sido acrescentada depois da composição do resto
da écloga.
534 Júlios, Paulos, Drusos: famílias a que pertenciam várais figuras con-
hecidas da história romana.
535 as Parcas: divindades romanos do fado. O fio representava a duração
da vida humana. Castilho nota neste verso a influência de Virgílio, Écloga IV,
11.46-7.
JÂNIO
546
COMENTÁRIO
Fucilla, p. 268, seguido por Roig (1970), p.91 n., foram mais longe que Cas-
tilho, identificando Aónio com António (Ferreira) e Piério com Pero (de Andrade
Caminha). Mas Aónio e Piério são também nomes das Musas. Aónio deriva de
Aonius ou Aonis, ambos epítetos das Musas, que viviam numa zona da Boécia
antigamente chamada Aonia. Piério vem de Pieris ou Pierius, adjectivos forma-
dos à base de Pieros, na mitologia pai das nove irmãs. Os nomes clássicos são
uma indicação clara de que Ferreira não queria representar-se a si próprio, nem ao
seu amigo, como contemporâneos do príncipe na vida real, mas como poetas,
vates inspirados que dariam fama imortal ao seu nome. Por esta razão o Jânio da
poesia é muito mais uma divindade pastoril do que um homem de carne e osso.
547
COMENTÁRIO
3
TÍTIRO
A écloga levanta, mais uma vez, a questão dos criptónimos. Nela se encon-
tram, como habitualmente, indivíduos disfarçados mas mencionam-se também,
sem qualquer máscara, dois poetas conhecidos, Francisco de Sá de Miranda e
Francisco de Sá de Meneses (11.18-20). Serrano representa um aspecto da persona-
548
COMENTÁRIO
O pseudónimo mais célebre da poesia é Magálio, o mau poeta. Tem sido iden-
tificado com Camões, o que não passa de uma hipótese (para a bibliografia, ver Ro-
cha Pereira (1972) p. 67, a que se deve acrescentar Costa Ramalho (1992) pp. 9-12).
O ódio ao mau poeta é uma constante por toda a poesia de Ferreira: é visível até em
Ciil2, ll.19-24, escrita em 1567, mais de uma década depois da viagem de Camões
para o Oriente. Em Écl3, Magálio corresponde ao Codro da Écloga 7 de Virgílio,
também mau poeta, o que sugere que aqui Ferreira não fez mais que imitar (hipótese
que não diminui em nada a sinceridade de Ferreira ao atacar o que ele considerava
ser a má literatura). Mas porque mudou Ferreira Codro em Magálio? Costa Ramalho
dá uma explicação engenhosa, embora tentativa, mas pode-se tratar simplesmente
de mais um erro da parte do nosso poeta na transcrição de nomes clássicos.
549
COMENTÁRIO
28-30 Aconteceu ... metida: o pormenor não vem em Virgílio. Talvez seja
uma referência simplificada ao brasão de armas de Coimbra: "N'elle se ve repre-
sentada uma donzella coroada, com as mãos postas e erguidas, mettida n' uma
copa, ou caliz, tendo de um lado um leão e do outro uma serpente, ou seja dragão"
(Michaelis de Vasconcelos (1885) p. 819).
31-7 Aconteceu ... assenta: o mesmo incidente em Virgílio, Écloga 7, 11.6- IO.
46 referta: altercação.
50-7 Musas ... fala: adaptação de Virgílio Écl.7, 11.21-8, em que dois poetas
portugueses, "meu Sá" e o misterioso Magálio, substituem o poeta romano Codro.
58-63 Meus versos ... te cante: Ferreira não distingue entre os dois Sás, de
Miranda e de Meneses, maneira de lisonjeá-los a ambos. Este trecho tem a sua
origem remota no louvor de Polião na Écl.3 de Virgílio, 11.84-7.
64 rompa-se ... rompa: Virgílio, Écl.7, 1.26.
70-3 Crinaura ... falava: adaptação de Virgílio, Écl.3 , 11.64-5.
74-7 Que me aproveita ... chamas: adaptação livre de Virgílio, Écl.3, 11.74-5,
de que Ferreira transforma a nota homossexual numa referência a Lésbia, a amante
de Serrano de Écl l .
78-85 Triste ... veio: é o equivalente bastante exacto de Virgílio, Écl.3, 11.80-3,
mas aqui também o jovem Amyntas é substituído por uma donzela, Fílis.
86-9 De duas... queres: como nota Rocha Pereira, Ferreira combina aqui
passos de duas éclogas virgilianas: 2, 11.40-4 e 3, 11.68-9.
90- l Dez maçãs ... tenho: a ideia vem de Virgílio, Écl.3, 11.70-1.
102-3 Olha ... enchendo: a técnica compositiva pela quài o último verso de
cada estrofe é repetido no princípio da estrofe seguinte deriva ou de Sá de Miranda,
Alejo, 11.446-82, ou da fonte comum, a Écl.2 da A readia de Sannazaro, 11.81-100.
114-17 e teu peito ... crece: para a compreensão desta frase, é necessário
subentender tal depois de parece (1.114).
125 Crescerá ... amores: Virgílio, Écl.10, 1.54.
134-7 Isto só ... fontes: Títiro dá o prémio a Castálio, tal como, na Écl. 7 de
Virgílio, Melibeu o dá a Córidon, 11.69-70.
LÍLIA
550
COMENTÁRIO
5
TÉV/0
551
COMENTÁRIO
pp. 265-6). Para Aónio ver as notas a Écl2. A identidade de Víncio é desconhecida.
Há uma ligação forte entre Tévio e Sii28, em que se referem as aventuras de
Aónio, Víncio, Célia e Lília à beira-mar.
Nesta écloga Ferreira utiliza dois esquemas métricos, tercetos (11.1-39 e 94-
-100) e quartetos (11.40-93). Desta maneira separa a contenda literária entre Aónio
e V íncio do resto da poesia.
MÁGICA
552
COMENTÁ RIO
mas as correspondências não são tão íntimas como podem parecer à primeira
vista. Na verdade, o nosso poeta segue de perto a estrutura da poesia virgiliana,
mas reescreve-a, permitindo-se um número relativamente reduzido de traduções
ou de paráfrases (ver as notas) . Além disso, introduz uma nota pessoal na fala de
Ménalo, que pronuncia um encantamento cujo fim é o de reunir os dois amantes
Alcipo e Marília, muito possivelmente o próprio Ferreira e a sua primeira mulher,
Maria Pimentel. No encantamento de Ménalo, Ferreira inclui histórias de morte e
ressurreição que não se encontram no texto virgiliano e que aumentam o ambiente
mágico-religioso da écloga portuguesa. Mágica talvez pertença ao mesmo ano
( 1557) que o primeiro livro de sonetos, cuja temática é, muitas vezes, a separação
do poeta da sua amada.
1-4 De Lícidas ... detido: para chegar à compreensão desta frase elíptica é
necessário suprir certas palavras que faltam. Pode-se parafrasear 11.1 -4 assim: Eis
o novo canto ... que foi tal que, tendo sido ouvido por Amor, enquanto ia ... com os
Amores, se diz que ele [Amor] foi detido pelo brando som ...
14 de outras tuas: é necessário subentender "de outras tuas partes".
22 rompia ... cerrava: o sujeito de rompia é a lua (1.19) e de cerrava é outra
(se. nuvem).
41 Ao rústico ... Flora: adaptação de Virgílio, 1.26, "Mopso Nysa datur",
mas, mesmo assim, Ferreira muda os nomes das personagens para Flora e Serpilo.
Serpil ou serpilho são formas alternativas de serpão, planta indigna de uma moça
com o nome divino de Flora. A imitação deste passo da écloga virgiliana conti-
nua em 1.50.
46 Quem ... forçada : a referência é à roda da fortuna.
50 Que ... amamos: tradução do resto de Virgílio, 1.26 (ver 1.41).
73-9 Muitas ... vistes: paráfrase de Virgílio, 11.37-41.
81-4 Ah, já sei ... natureza: paráfrase de Virgílio, 11.43-5.
89-94 Pastores ... tristes: no passo correspondente de Virgílio, 11.58-60, o
pastor Damon ameaça suicidar-se. Lícidas acaba numa nota mais optimista, a
primeira indicação de que, nos últimos versos da écloga, a noite e a tristeza vão
ceder o lugar ao dia e à alegre reunião dos amantes .
96 Ménalo: personificação do monte Ménalo, na Arcádia, referido frequen-
temente pelo pastor Damon da écloga de Virgílio.
105-11 Só falecem ... trazia: ver Virgílio, 11.67 e 69-71. Ao poder da poesia
sobre a lua e as serpentes, mencionado por Virgílio, Ferreira acrescenta a capaci-
dade da arte de dar vida aos mortos e de renovar os campos. Desta capacidade dá
um exemplo, a conhecida história de Orfeu e Eurídice.
117-9 Piadosa ... Febo: a mãe é Vénus, o filho é Amor (ou Cupido) e Febo
é Apolo.
553
COMENTÁRIO
121-3 Ata ... amores: paráfrase de Virgílio, 11.77-8. Depois de 1.126 é evi-
dente que é Marília quem fala e não já Ménalo, que parece desaparecer da cena
logo que o seu encantamento começa a dar resultados.
130-2 eis derramo ... nasce: esta história de morte e ressurreição não vem
no original virgiliano.
137-43 Qual... queria: a mesma imagem em Virgílio, 11.85-9.
115-51 Este limo... fazia: trecho inspirado por Virgílio, 11.95-9. Ferreira acres-
centou as referências ao Nilo e a Horilo, Orrilo, ou Orilo, monstro egipciano,
descrito por Boiardo e Ariosto, que se recuperava milagrosamente das feridas que
lhe foram feitas. Ver Orlando Innamorato, Livro III, Canto 2, estr. 46-8 e Orlando
Furioso, Canto 15, estr.64-90.
153-4 Aqui ... despojos: tradução de Virgílio, 11.91-2. É possível que os des-
pojos sejam a roupa do ausente, guardada como garantia do seu regresso.
156 Esta ... creio: Man1ia acredita no que está escrito na árvore.
167 É Alcipo... fantesia: inspirado em Virgílio, 1.108.
DÁFNIS
Foi Castilho que viu que Dáfnis, tal como Jânio , tem como assunto a morte
do Príncipe D. João. No caso de Dáfnis dificilmente pode haver poucas dúvidas
de que 11.46-66 descrevem a morte do príncipe, ocorrida em 2 de Janeiro de 1554,
a mágoa da princesa e o nascimento de D. Sebastião, 18 dias mais tarde.
554
COMENTÁRIO
7 Lícida: o nome Lícidas, como muitos outros nomes pastoris, vem de Vir-
gílio e ultimamente do poeta grego, Teócrito. Virgílio conservou as flexões destes
substantivos gregos, de que o vocativo acaba em -a. Ferreira imita Virgílio nisto,
mas sem consistência (ver 11.1 , 31 etc.), o que revela ou um conhecimento pouco
profundo do grego da parte do poeta, ou uma falta de compreensão dos tipógrafos
de PL. dera: daria.
9 fizera: faria.
16 da branca Marília: Roig ( 1970) p.109 vê aqui uma referência a Maria
Pimentel, 'le grand amour d'António Ferreira'. Mas neste caso, quem é Lícidas,
que em Écl6 ama a cruel Flora? É uma indicação da arbitrariedade dos pseudó-
nimos, que não devem ser tomados à letra (ver Earle (1990) p. 165).
19-26 Rústico Mévio ... Bávio deleite: Bavius e Maevius (dos quais nada se
sabe) aparecem como exemplos de maus poetas na écloga 3 de Virgílio. Eurilo
tenta inspirar Lícidas com a sua crença no valor da boa poesia, tal como Ferreira
inspira Andrade Caminha em Ci8 ll.121-6.
34-6 Nunca o cheguei. .. bem guardado: 11.34 e 36 são uma tradução de
Virgílio, Écloga 3, 1.43, linha que Virgílio repete em 1.47.
35 tégora: até agora.
42 Pafo e Gnido: Pafo (na ilha de Chipre) e Gnido (ou Cnido, cidade da
Ásia Menor) eram lugares consagrados a Vénus.
46 Adónis: amante de Vénus. Na Écl.l de Bernardes D. João tem o nome
pastoril de Adónis.
51 a piedade: a correcção foi feita por Castilho.
55 Lucina: deusa do parto.
58 às douradas Horas: deusas das estações e da fertilidade, muitas vezes
presentes no parto de deuses e de heróis.
61 às ninfas: a correcção foi feita por Castilho.
63 Proteu: profeta que vivia no mar. Ferreira invoca-o aqui para realçar o
destino marítimo de D. Sebastião.
69 Eucrito: tal como Eurilo, é um nome pastoril inventado por Ferreira.
83-6 Que fontes ... piadosas: uma reminiscência da Écl.1 Ode Virgílio, 11.9-10.
Ferreira transforma as náiades do poeta romano em Musas.
91-4 Tinha-vos ... encobrido: Pindo era um monte consa~rado às Musas. o
vosso monte: o monte Pamasso. Ferreira continua a seguir a Ecl. l O de Virgílio,
11.11-2, nacionalizando a fonte Aganippe no Mondego.
96 Tempe: belo vale da Tessália, onde Apolo viveu durante algum tempo.
99- 100 Dáfnis ... choraram: o choro dos leões vem do lamento virgiliano
por Daphnis, Écl.5, 11.27-8.
107-10 cita ... geta ... parto: segundo os romanos, povos que viviam afasta-
dos do mundo civilizado.
555
COMENTÁ RIO
111 o cruel cometa: os cronistas Faria e Sousa (Europa portuguesa II, p. 614)
e Barbosa Machado ( 1736, I, p. 7) falam de presságios muito mai s extravagantes.
Segundo Machado, "appareceo sobre a Sé de Lisboa huma exhalação de fogo, que
tinha a fórma e a grandeza de hum ataGde meyo aberto".
115 Ovílio pastor... Tibre: deriva do latim ovilis ou ovillus, adjectivos que
significam "de ovelhas". A referência é, evidentemente, ao Papa, na época, Júlio III.
117-20 Quem levará ... acrescenta: é uma adaptação de Virgílio, Écl.5 ,
11.24-6.
123-6 Vinham outros ... atinas: as referências contidas na écloga a acon-
tecimentos na vida pública justificam uma leitura política deste passo. Em 1552
havia guerra na Alemanha entre as tropas do Império "pastores ... das serras" e de
França "das campinas". Um tema constante de toda a poesia de Fen:_eira é a
abstenção de Portugal de tais conflitos. (Ver, nas éclogas, Ecl 1, 11.1-16 e Ecl9, 11.3
e 11-12).
131-6 Não tanto... chamou: segundo os romanos, o delfim, o rouxinol (Filo-
mela) e o cisne eram todos animais com dotes musicais. Ariadne chorou o seu
abandono por parte de Teseu, Eco a indiferença de Narciso.
139-45 Dáfnis ... devemos: tanto nestas linhas como em Virgílio, Écl 5,
11.29-34, Dáfnis é visto como deus pastoril, que ensina várias artes aos homens.
Porém, Ferreira não segue o poeta romano de perto.
157 vira: visse.
168 enova: renova.
171-7 Ficai ... amemos: a fala de Dáfnis é inspirada no epitáfio de Virgílio,
Écl.5, 11.43-4 mas, tal como em 11.139-45 , Ferreira trata a fonte com muita liber-
dade.
179-80 Mel puro ... favos são: na écloga 5 de Virgílio, Menalcas louva Mop-
sus, que tinha cantado a morte de Daphnis, 11.45-7. A fala de Eurilo ocupa uma
posição equivalente na écloga de Ferreira, mas as palavras que usa parecem vir do
Jdílio Ide Teócrito, 1.146, como vê Michaelis de Vasconcelos, nas suas anotações
manuscritas a Castilho, citadas por Rocha Pereira, p.62-3 . Ferreira podia ter lido
as poesias do bucolista grego em tradução latina.
FLÓRIS
Garcia Fróis Ferreira era o irmão mais novo de António. Castilho, I, pp. 56-7,
identifica-o com o Flóris da écloga. O Alcipo de 11.78 ff. é um pseudónimo que o
irmão mais velho utilizava frequentemente . Em 1554 Garcia Frói s servia como
556
COMENTÁRIO
moço da câmara da Rainha (Roig (1970) pp. 70-1). Em Junho de 1557, porém,
segundo a carta em prosa de Ferreira a António de Castilho publicada por Brito
Rebello, estava "em Flandres, na armada". A armada em questão será possivel-
mente a que foi necessário reunir em Abril do mesmo ano para proteger doze
urcas que iam para Flandres dos ataques dos corsários franceses (ver Magalhães
Godinho, II, p. 229). Por esta razão, podemos atribuir a Flóris a data possível de
1557, mas evidentemente Garcia Fróis podia ter feito outras viagens.
5-6 de um alto ... corrente: Ferreira evoca a serra de Sintra mais de uma vez.
Ver Si43, 11.9-14.
34-6 Torna ... morte: para impedir que Flóris se aventure no mar, Lídia está
preparada a morrer ela própria.
38 a que o foge: a ovelha que dele foge (ver 1.39).
55-7 inda o látmio ... mora: segundo a mitologia, a lua enamorou-se de
Endímion ou Endimião enquanto ele dormia ao ar livre no monte de Latmo. Sá de
Miranda narra a mesma história na écloga Encantamento, 11.118-22.
61-72 Aves que serenais ... te metes: quando Ceice morreu afogado no mar,
Alcíone, a esposa, lançou-se às ondas. Ambos foram depois metamorfoseados em
aves. (Em latim, a palavra a/cedo ou alcyon significa pica-peixe). Segundo a
crença antiga, estas aves construíam o ninho no mar e, enquanto a fêmea incuba-
va os ovos, havia um período de sete dias de calma.
78 cantando: estará (da linha anterior) cantando.
79-90 Cantará ... feras: o herói Teseu prometeu casar com Ariadne, mas
abandonou a noiva na ilha de Naxo. Marques Braga engana-se ao pensar que há
nestas linhas uma referência ao rapto de Proserpina. vieras: viesses. fizeras: farias.
91-6 Despois ... culpa sua: Dido suicidou-se quando Eneias partiu de Car-
tago para viajar para a Itália. Em Epig7 há uma outra versão da biografia da rainha
africana.
97-102 Também ... muro: o verbo de 11.97-9 é cantará (l.91). Ao contrário
dos outros amantes referidos por Alcipo, Leandro foi fiel. Costumava visitar Hero
557
COMENTÁRIO
a nado. Ela guiava-o com uma luz, mas uma noite o jovem morreu afogado no
mar, o que levou Hero a suicidar-se.
105 tua fronte: a fronte é a do mar, que é personificado como um deus.
110-1 estêm ... estê: estejam ... esteja.
MIRANDA
4-23 Vês que fogo ... campos: uma ameaça paira sobre o mundo pastoril,
assim preparando o desaparecimento de Miranda, cuja morte se situa num con-
texto mais vasto, o da situação calamitosa da Europa nos meados do século.
Castilho viu no fogo de 1.3 e no lobo de 11.11-12 uma alusão à heresia, mas é mais
provável que Ferreira tenha visado as guerras entre cristãos, tantas vezes criti-
cadas pelos quinhentistas portugueses, incluindo o próprio Ferreira (ver Oi4), e a
ameaça turca. Para combatê-la, Andrógeu urge que pastores e gado sigam o
cordeiro "em sangue tinto", que representa Cristo e a sua Paixão (ver em Ci7 1.57
uma expressão semelhante). Em 11.16-17 a passagem do Mar Vermelho (Exodo
14: 15-31) e as profecias de Isaías (Isaías 40: 4) lembram os triunfos da fé. O tra-
tado de Cateau-Cambrésis, que pôs um fim temporário à luta franco-espanhola,
foi assinado só em 1559.
558
COMENTÁRIO
23-7 mas ditoso ... deleitoso: o louvor da paz e sossego de Portugal é evidente.
29-30 aquela divindade ... semente: é uma referência vaga que contribui
para a atmosfera misteriosa da écloga. Faz lembrar Jânio e Dáfnis, ambos con-
siderados um tipo de divindade pastoril, e pode, por isso, ser um louvor à família
real portuguesa.
33-6 Nem o povo ... flores: o elitismo de Ferreira é evidente nestes versos.
A linguagem misteriosa da écloga torna impossível a identificação dos surdos e
dos bárbaros de 1.34. Talvez sejam os que não apreciavam a nova poesia de
Ferreira e de Sá de Miranda, já que as flores e os rios são muitas vezes símbolos
da poesia (ver 11.63-4).
37-9 Quantos tu ... raras: os olhos de Man1ia e de Délia são mais constantes
que o próprio sol.
40 Pindo: monte consagrado a Apolo e às Musas.
42 Tudo é costume: o costume de hoje é ir tudo para pior.
61-7 Aquela lira ... Febo: Febo é o sujeito da frase. Aquela lira é o comple-
mento directo de pendurou. No epitáfio, louva-se Sá de Miranda por ter intro-
duzido em Portugal o gosto pela literatura italiana. Arno: o rio de Florença. tosca:
toscana. A Toscana é considerada tradicionalmente como a região mais culta da
Itália.
!07 os rios ... pontes: é uma referência a Orfeu, músico e poeta divino, que
também fez parar os rios com a beleza do seu canto. Em todo o lamento de Alcipo
Sá de Miranda é tratado, ele próprio, como uma divindade pastoril.
124-5 Estar-te-ão ... ouvido: outra referência misteriosa, talvez ao triunfo da
poesia sobre as armas visionado em outros poemas, como Cii7 11.49-51.
135 a fonte Hipocrene: um lugar consagrado às Musas.
136 Eco suspira: a ninfa Eco foi condenada a repetir as palavras dos outros.
Depois da morte de Miranda, porém, só se ouviam suspiros.
!O
SECADORES
Ao senhor D. Duarte
559
COMENTÁRIO
11.201-4, que são uma reminiscência um tanto vaga do começo da poesia grega
(ver Rocha Pereira (1972) pp. 73-5). Além disso, Fucilla (pp.298-30 l) chamou a
atenção para a influência do poeta novilatino Angeriano, muito mais nítida que a
de Teócrito, em 11.137-52 e 169-84. (Para Angeriano, ver as notas a Epig6.)
Não é fácil atribuir uma data à écloga. Na extensa introdução, cheia de iro-
nia, Ferreira inclui várias referências à sua própria obra, dando relevo especial à
simbologia associada com a palavra serra (ver Earle (1990) pp.177-8). A morte do
pastor amoroso Serrano é referida em Arquigâmia, escrita em l 554. A cena de Sega-
dores é o vale do Mondego, o que sugere que foi composta entre l 554 e 1555/6,
quando o poeta deixou Coimbra por Lisboa. Porém, na dedicatória a D. Duarte
(11.49-64) parece voltar a Oii l, uma poesia escrita mais tarde, provavelmente em
1557, em que Ferreira confessa a sua incapacidade de louvar condignamente o
jovem a quem tinha sido conferido o título de condestável de Portugal. O facto de
Ferreira se referir ao passado "já os [versos maiores] tentei em vão" (1.54) sugere
que ele escreveu Segadores num ano posterior a l 557 . (Para a biografia de
D. Duarte ver as notas à Cil3) . E a indiferença da amada de Serrano, que "em
outro fogo arde" (1.16), aponta para a religiosidade de Santa Comba, heroína de
uma poesia da década de 60. De qualquer forma, em Segadores Ferreira põe de
lado a seriedade de algumas das éclogas, especialmente Écl6, 7 e 9, para escrever
uma pastoral ligeira e despreocupada.
6 Um seus bens ... seu dano: no diálogo entre os dois pastores Silvano canta
normalmente os bens do amor e Falcino os males . Mas a distinção entre eles não
se mantém rigidamente, como se vê de 11.137-200, a secção da poesia onde mais
se nota a influência de Angeriano.
48 nelas: as ninfas.
50 samponha: instrumento musical pastoril.
57-64 Já, senhor... Duarte: na opinião de Ferreira, Pero de Andrade Cami-
nha, camareiro de D. Duarte, foi o poeta destinado a cantar os seus feitos herói-
cos, "o melhor...de Marte". Ver Oii l. '
114 acolheita: refúgio.
· 115-6 Que fizera ... fora: teria feito ... fosse.
117 se a não avisara : se eu a [a alma] não tivesse avisado.
560
COMENTÁRIO
119-20 1-la-ei ... ambos: Falcino teme que vá perder-se a si próprio e à alma,
se Lília o favorecer. Na oitava desenvolve-se a ideia de que não ser amado é
menos perigoso que ceder ao amor.
125 o mau suão: o vento sul.
137-44 Lília ... brandura: imitação de Angeriano, De Caelia et Amare. Co-
meça: "Caeliafatur".
145-52 Nos cabelos ... paz: imitação de um dos muitos epigramas de Ange-
riano com o título Ad Caeliam. Começa: "ln crine accendens amor".
153 Ceres: deusa da agricultura.
155 a Palas a oliveira: a oliveira era consagrada a Palas ou Minerva.
169-74 Se lágrimas ... frágua: imitação de mais uma poesia de Angeriano
com o título de Ad Caeliam. As primeiras palavras são "Ni lachrymae fluerent".
foram ... ardera ... fora ... desfizera: fossem ... arderia ... fosse .. . teria desfeito.
173-4 dera ... sofrera: desse ... sofreria.
177-84 Tu passas ... cantasses: imitação livre de Angeriano, Ad Cicadam.
188 mortal: aflito.
189 arço: ardo.
195 des que: desde que.
213 espaço: liberdade.
214 jornal: pagamento de um dia de trabalho.
215 vira ... segara: visse ... segaria.
217-24 Erguei-vos ... afeito: o diálogo acaba com as palavras de Falcino, que
é sempre o segundo a falar. Na estrofe final o tom irónico da introdução à écloga
volta a notar-se.
218 atégora: até agora.
11
ANDRÓGEU
561
COMENTÁRIO
poeta, chamado Gallus na poesia romana, que está a morrer de amor pela bela
Lycoris. Virgílio diz (l. l) que a écloga é a última das suas composições bucólicas,
e Ferreira segue-o nisto também . Porém Andrógeu não é a última das éclogas de
Ferreira, porque a série de PL acaba com Natal, escrita provavelmente muito
antes de Andrógeu. Contudo, era costume colocar composições religiosas depois
das outras (ver Introdução, pp. 32-5). Se Andrógeu foi, de facto , a última das éclo-
gas a ser escrita, deve datar de 1558 (data da morte de Sá de Miranda, o tema de
Écl9) ou de um ano posterior. De 1.8 depreende-se que Ferreira já estava em
Lisboa ao compor a écloga.
1-9 Este último ... branca areia: uma paráfrase da Écloga 10 de Virgílio,
11.1-5. Fílis: é costume identificá-la com D. Francisca de Aragão, senhora nobre a
quem Caminha dedicava um amor dos mais respeitosos. Ela era muito mais pro-
tectora do que amante do poeta.
22-4 Porque cria ... amores: mesmo na Primavera, época do amor, Fílis
continua esquiva. Paradoxalmente, insinua-se também neste terceto que Fílis é a
divindade pastoril responsável pela criação da vegetação e das águas.
26 quem te ama: a resposta à pergunta é, evidentemente, Andrógeu, mas ele
vai morrer, assim deixando Fílis sem ninguém.
27 foras ... amaras: serias ... fosses.
30 não dessa neve... brancura: a brancura da pele de Fílis.
31-3 Inda a quem ... emparo: queres que todos os que te veêm morram logo
de amor, que é uma morte mais dolorosa do que qualquer outra, e queres, para os
desesperar mais, que achem amparo (emparo), não no Amor, mas em ti, o que não
é amparo nenhum?
50 desconhecida: ingrata (Marques Braga).
59-60 os pastores ... cruel: os pastores chamam a Andrógeu desditoso e a
Fílis cruel.
61-9 ,Vem o agreste ... semente: o deus Pan aparece na écloga de Virgílio,
11.26-30. Na parte final da fala de Pan, 11.67-9, Ferreira imita 11.28-30 da poesia
romana.
62 as frontes de pampilhos coroado: as frontes coroadas de pampilhos.
Para a construção, ver El3, 11.1-2.
67-9 a Amor... à abelha ... à semente: fartar é transitivo. A preposição a
indica o complemento directo do verbo.
73-82 Veio Vénus ... acabes : na écloga de Virgílio vários deuses são chama-
dos cena, mas não Vénus . Rocha Pereira vê na intervenção da deusa do amor a
à
possível influência do poeta grego Teócrito, ldílio l, 11.95-8.
92-3 a fermosura ... sostenha: Fílis é a causa da morte, mas também sustém
a vida, porque ela é considerada uma divindade pastoril.
562
COMENTÁRIO
100-3 A todos ... seja: nesta terra que pisas, Fílis, seja a triste sepultura do
triste Andrógeu um abrigo (encuberta) visível a todos. Significa que o túmulo do
amante morto será um tipo de protecção e aviso contra a força maléfica de Fílis.
12
NATAL
Natal é a única écloga religiosa de Ferreira, e, por isso, foi colocada em último
lugar, seguindo-se assim o esquema adoptado para o Livro II dos sonetos e para
as elegias. Contudo, há indicações de que a poesia data da primeira fase da pro-
dução literária do nosso autor. Ele dedicou muitas poesias aos filhos de D. João,
Duque de Aveiro, mas só se referiu ao chefe da família duas vezes, na écloga pre-
sente e em Arquigâmia, ll.434-47. Há uma outra conexão entre Arquigâmia, escrita
para comemorar o casamento do príncipe D. João em Dezembro de 1552, e Natal,
na presença nas duas poesias das mesmas personagens, Serrano e Castílio, supos-
tamente pastores, mas, na realidade, poetas, como se vê de ll.4-5. Serrano é um
pseudónimo utilizado pelo jovem Ferreira (ver Earle (1990) pp. 163-4), enquanto
que Castílio será António de Castilho, amigo dos anos de Coimbra de quem Fer-
reira se separou depois de ter ido para Lisboa à volta de 1556 (para a carreira de
Castilho ver Serrão (1970)). O próprio Duque é personagem da écloga, em que tem
o nome de João. Ele diz as últimas palavras do poema, e é provável que inter-
venha também depois de 1.16, onde PL dá uma lista dos interlocutores, na ordem
seguinte: João, Serrano, Castílio. Na literatura dramática da época é frequente a
primeira personagem assim alistada ser quem pronuncia a fala logo a seguir, neste
caso, ll.17-34. Nesta fala, que é de certo modo introdutória, alguém - e porque
não o Duque? - dá ordens aos dois pastores para que cantem o nascimento de
Jesus. Especialmente a partir de 1.86, Ferreira insiste no facto de Cristo ter nasci-
do no campo, longe dos centros do poder político, aspecto da história bíblica que
deve ter sido do agrado de D. João, que viveu muito tempo em exílio voluntário
da corte (ver nota a 11.137-42).
563
COMENTÁRIO
l 09 is: ides.
118 reis e emperadores: a mesma frase em Cii9, 11.46-8 (a Sá de Miranda):
"Levantas sobre reis e emperadores ... a humildade inocente dos pastores".
129-30 Filhos de Deus ... vazios: a condenação da guerra entre cristãos é in-
sistente em Ferreira. Para outros exemplos nas éclogas, ver Ecl 1 11.1-16 e 9 11.4-23.
134-6 Torne ... cidade: Serrano associa o espírito de concórdia da época do
Natal com o mito clássico da idade de ouro.
137-42 Tu ... povoado: durante grande parte da sua vida o Duque de Aveiro
andava preocupado com a rivalidade com a casa de Bragança (História Genea-
lógica, XI, p.27). O "outro estado dino" de Castílio pode ser uma alusão ao dese-
jo de D. João de ser considerado igual em tudo à outra grande família ducal por-
tuguesa. Por causa das suas decepções, como ele próprio admite na sua carta à
regente D. Catarina (Provas da hist. gen., Tomo 6, Pte. 13, pp.49-50), o duque pas-
sou muito tempo fora da corte, facto a que Serrano alude 11.141-2.
146 imos: vamos.
EPITALÂM/O
D. Maria era a filha mais velha de D. Duarte, irmão mais novo de D. João III .
O seu casamento por procuração com o príncipe italiano Alessandro Farnese rea-
lizou-se em Lisboa em 22 de Maio de 1565, na presença do embaixador espanhol
(Barbosa Machado, Memórias, II, p.511). Os noivos eram parentes (ver 11.121-36)
e ambos tinham laços familiares também com Filipe II de Espanha, sendo a mãe
de Alessandro, a Duquesa Margarida, meia-irmã do rei. O parentesco de D. Maria
com a família real espanhola é explicado na nota a 11.125-34. O jovem príncipe de
Parma passou os seis anos anteriores ao casamento na corte de Madrid, seguindo
depois para Bruxelas, onde a mãe estava encarregada do governo dos Países
Baixos. Foi lá, embora mais tarde, em 1577, depois da morte de D. Maria, que ele
começou a sua carreira brilhante como militar e diplomata, sempre leal à causa
espanhola. Segundo Essen (1, p. 97), o casamento era em grande parte fruto da ini-
ciativa de Filipe, cujos planos de casar Alessandro com uma filha do imperador
tinham fracassado. O casamento podia ter trazido vantagens para Portugal (Azevedo
Cruz, I, pp.267-9), mas estava também ligado inextricavelmente aos interesses
familiares do rei de Espanha, que queria satisfazer as reivindicações da irmã, de
uma esposa digna para o filho . Ferreira, porém, sempre fiel aos seus princípios
564
COMENTÁRIO
4 aljaba: aljava.
5-1 O Pelos floridos prados ... cria: há na poesia uma metáfora vegetal, de
amor como uma flor, de crianças como plantas ou fruto, e da árvore genealógica.
(Ver por exemplo 11.56, 82-8, 205-6, 345-59). É uma metáfora muito ao gosto do
nosso poeta, que o empregava mesmo nas poesias da sua fase inicial (ver, por
exemplo, Ell (de 1554), 11.10-17).
15 em todas espantoso: ver nota preliminar a SC.
16 nas segundas temeroso: na alegoria de amor, 11.1-32, há dois sentimentos,
um alegre, representado pelo fogo, pelo ouro, e pelo mirto e o louro, as plantas
simbólicas do triunfo, e o outro triste e doloroso, representado pelo frio, pelo
chumbo e pela morte.
18 Vulcano: o deus romano do fogo e da fornalha.
36 duro a meu rogo: ver nota preliminar a SC.
40 dás as armas: o arco e as flechas . Maria, que Ferreira compara às deusas
virgens, Palas e Diana (1.43), quebrava as armas de Amor, protegida pela castidade;
Alessandro utilizava as mesmas armas na vida real, porque era caçador (11.137-44).
44 nunca a amor... sogigaste: a castidade de D. Maria era notória. Nunca
lia poesia, julgando-a perigosa para a alma, e quando por acaso abriu um volume
dos sonetos de Petrarca, fechou-o depois de ter lido só algumas linhas (Essen, I,
p. I 06-7). sogigaste: subjugaste, sujeitaste.
45 ou se ela engana: ou ela se engana.
46 favor: aqui em sentido irónico. tégora: até agora.
49-52 das duas filhas a primeira ... oriente: D. Duarte e D. Isabel de Bra-
gança, irmã de D. Teotónio, 5. º Duque de Bragança tiveram duas filhas, D. Maria,
565
COMENTÁRIO
566
COM ENTÁRIO
D. Manuel, e a sua linha continuava pelo infante D . Duarte (1.125) até à D. Maria
do Epitalâmio. Os noivos tinham, portanto, ligações estreitas com a casa real
espanhola (1.135). Eram também primos distantes (11.131-2), mas Maria pertencia
a uma geração anterior à de Alessandro, podendo assim ser chamada tia (1.134) .
Os reis de 1.134 são Carlos V e D. Manuel. Panónia: nome de uma província
romana, usada aqui para designar a parte oriental do Império, que incluía regiões
dos estados modernos da Áustria, da Hungria, da Esclavónia e da Bósnia.
138 disseras: terias dito.
140 passadores: flechas.
143 Per: por.
145-8 Igual ao teu Adónis ... manha: Adónis era um caçador amado por
Vénus. Na realidade, Alessandro Farnese gostava muito de desportos e de exercí-
cios militares (Essen, I, 22).
149-50 Tal Alexandre... Alemanha: foi sem dúvida por razões políticas que
o poeta omitiu a Espanha da lista dos países frequentados pelo jovem Alessandro.
Ver nota preliminar. a todos espantoso: ver nota preliminar a SC.
153 téqui: até aqui.
181-4 Empresta-me ... oriente: Alessandro queixa-se da distância que o
separa de Maria. A sua fala é repleta de imagens tiradas dos sonetos amorosos de
Ferreira. A paixão do príncipe é um exagero poético, ver a nota a 1.195.
195 nos retratos: era costume os noivos trocarem retratos mas, segundo
Essen, I, p.131, Alessandro estava pouco entusiasmado com a ideia de se casar
com D. Maria, de beleza duvidosa e sete anos mais velha do que ele.
199 dões: dons.
214 Nereidas: divindades marítimas.
233-6 Forjava ... erva: as repetições são típicos dos encantamentos. Ver Écl6,
11.121-4. erva: veneno.
257-8 Vem o Himineu ... ajuntamento: Himeneu, o deus do casamento, é
normalmente representado em obras de arte como um jovem, com uma tocha numa
mão e na outra um símbolo nupcial, aqui um anel.
273-80 Festeja... manto: Barbosa Machado, Memórias, II, 512, explica como
D. Sebastião, que tinha na altura 12 anos, dançou com D. Maria. O pai de D. Se-
bastião, o príncipe D. João, era primo coirmão de D . Maria, que por esta razão
podia ser chamada tia (l.274). altíssima rainha: D. Catarina, viúva de D. João Ili.
Segundo Barbosa Machado, foi D. Julião de Alva, capelão-mor da Capela Real ,
que celebrou o casamento e não o cardeal D. Henrique, apesar do que diz Ferreira,
11.277-80.
285 Às ninfas ... Duarte: segundo Barbosa Machado, o senhor D. Duarte,
irmão da noiva, dançou com D . Catharina de Eça, "que entre todas se distinguia
no excesso da fermosura".
567
COMENTÁRIO
A História de Santa Comba é uma narrativa, a única que o poeta nos deixou.
Pertence, por isso, ao mesmo género poético que a epopeia, de que é uma versão
em miniatura, chamada na época epyllion. Não lhe falta uma introdução, ou proé-
mio, precisamente como nas epopeias maiores (11.1-48). Nestas estrofes prelimi-
nares, temos a proclamação da temática da poesia, e da sua grandeza, 11.1-8, a
invocação da Musa, 11.9-16, e a dedicatória a duas pessoas ilustres, 11.17-32, que
também são convidadas a ouvir as façanhas de Sta. Comba, um pouco como D.
Sebastião no passo correspondente d' Os Lusíadas, (Canto I, est. 8- 17). Não faltam
à história do nosso poeta símiles ou comparações de tipo épico, 11.77-80, 289-97
568
COMENTÁRIO
A versão que Ferreira nos dá da lenda de Santa Comba é a mais antiga que
conhecemos (Earle (1990) p.155). Mas a história tem raízes populares: Leite de
Vasoncelos incluiu-a nos seus Contos populares e lendas, vai.II, pp.548-9 e repete-
-se ainda hoje nas aldeias trasmontanas de Lamas de Orelhão e Franco. Em 1993,
eram visíveis a rocha milagrosa, as capelas de Santa Comba e de São Leonardo e
outros edifícios destinados ao acolhimento das pessoas que vão em romaria à
parte mais alta da Serra de Santa Comba.
Roig ( 1970) pp. l 30-32 apresenta razões sólidas para associar a poesia com
a família da segunda mulher do poeta, Maria Leite. Segundo a genealogia de
Andrade Leitão, a família possuía em Trás-os-Montes a comenda de Santa Comba
dos Vales, cenário da poesia. Além disso, no brasão de armas dos Leite aparece
uma pomba (em latim, columba), ave com a qual o poeta relaciona Comba, a he-
roína da narrativa, ver 11.16, 71-2, 385, 439-40. Desconhece-se a data do segundo
casamento de Ferreira- 1564 é uma mera conjectura de Camilo, citada por Roig,
p. 129n. - mas a poesia deve pertencer à década de 1560. Nos últimos anos da
vida Ferreira, sempre partidário da Casa de Aveiro, parece abandonar o amigo da
juventude, filho ilegítimo do duque, D. João de Lencastre, frade dominicano
desde 1557, e começa a cortejar D. Jorge e D. Pedro Dinis, filhos legítimos do
casamento do duque com D. Juliana de Lara. (D. Jorge, como primogénito, tinha
o tí.ulo de Marquês de Torres Novas). Aos dois irmãos dedicou SC e em Ep., cer-
tamente de 1565, refere-se-lhes, 11.289-96. Entre as duas poesias há semelhanças
estilísticas, como por exemplo o gosto por expressões como "a todos espantoso",
repetida duas vezes em SC, 11.117 e 3 l 6, e também em Ep., 1.15 (onde há uma
variação, "em todas espantoso") e 1.149. Encontram-se duas outras frases quase
idênticas em SC 1.225 "E se tão dura fora a meu rogo" e Ep. 1.36 "Porque és ...
569
COMENTÁRIO
duro a meu rogo?". Todas estas indicações, juntamente com o tratamento dado por
Ferreira aos amores da juventude, levam à conclusão de que SC pertence à última
fase da sua carreira literária.
5 heroas: heróis.
11 Hipocrene: fonte consagrada às Musas.
13 não vos invoco... profana: o poeta chama as ninfas de Diana para o aju-
dar, porque a deusa era virgem, como Sta. Comba. A fábula que não quer narrar
é provavelmente a de Acteão, transformado pela deusa em cervo, a que chama
fábula vã, 1.293.
14 coreias: danças.
17 real tronco: a família de Aveiro descendia de D. Jorge, filho ilegítimo de
D. João II.
20-2 irmãos iguais ... impírio: os irmãos gémeos Castor e Pólux nasceram
do ovo posto por Leda, a quem Zeus visitou na forma de um cisne. Depois da
morte foram transformados em estrelas. impírio: empíreo.
28 cante: eu cante.
30-1 e que eu ... faça: depende sintacticamente de "quando ua hora virá", 1.25.
31 mármor: mármore.
45 cativamos: rendemos.
49 em que: a leitura do MS parece superior à de PL.
71 prudência ... pomba: alusão às instruções dadas por Cristo aos apósto-
los, Mateus l 0.16: "Estote ergo prudentes sicut serpentes, et simplices sicut colom-
bae". O "dom da pomba" será, portanto, a simplicidade.
570
COMENTÁRIO
75 Onde ... erva: o verso tem dois hiatos, mas a leitura de BNL não lhe é
superior.
84 de inveja: já que falta o artigo antes de ciúmes deve faltar também antes
de inveja.
91 i: ide (imperativo de ir).
99 bailos: bailes.
115 usso: urso.
116 e üa orelha ... cão: a razão de ser das orelhas do rei mouro é-nos dada
em 11.243-6.
118 Orelhão: Ferreira explica assim, por meio de uma etimologia fantasiosa
muito típica do séc. XVI, a origem do topónimo Lamas de Orelhão. Ver também
11.441-4.
128 lha levem: Comba teme que o rei mouro, violentando-a, a vá privar do céu.
)49 quem: vosso amor. Na linguagem de Ferreira, quem não é sempre
pronome pessoal.
185-9 quem cuidara... escapara ... entrara: teria cuidado... escapasse ...
teria entrado.
207 arço: ardo.
226 dões: dons.
229 Arderás ... fogo: o rei joga com dois fogos, o fogo metafórico da paixão
que o consome e o fogo literal com que ameaça Comba. O jogo de palavras con-
tinua em 1.236. arço: ardo.
243-6 De üa parte ... soberbos são: segundo a mitologia greco-romana,
Midas, rei da Frígia, tinha orelhas de burro. Era famoso também pela sua riqueza.
Cão significa príncipe ou chefe turco, mas há uma alusão também à forma cani-
na da orelha do rei mouro e além disso ao mito de Acteão (ver 11.289-97). Tanto
a Frígia como a Arménia são países asiáticos que na época de Ferreira faziam
parte do império otomano.
251 latas: ramos entrelaçados.
261 Diana ... Vesta: eram ambas deusas virgens. A descrição do banho de
Comba/Diana prepara o leitor para a narração do mito de Acteão, 11.289-92.
283-4 ei-la arde... raro: é mais um elemento no complexo jogo da imagís-
tica do fogo do poema (ver por ex. 11.229 e 236).
289-92 Qual ... do seu cão: há alusões ao mito de Acteão 11.243-6 e 257-64.
Acteão, indo à caça, por acaso viu Diana a tomar banho. A deusa puniu a trans-
gressão transformando-o em cervo, e o caçador foi logo devorado pelos seus
próprios cães. O mito clássico enquadra-se muito bem com a história piedosa de
Sta. Comba e o rei mouro porque, segundo a interpretação alegórica, corrente no
Renascimento, a morte de Acteão simboliza o efeito destrutivo das paixões do
homem.
571
COM ENTÁRIO
CARTAS
LIVRO I
572
COMENTÁRIO
as duas acepções do termo, felicitando o rei pela calma estóica com que enfrentou
a morte do filho e agradecendo-lhe as suas múltiplas virtudes (ver 1.13). A mesma
nota de admiração por D. João III é visível em Ci2, Epit9 etc.
1 das casas ... ambas: da casa onde o sol nasce (a oriental) e a casa onde se
põe (a ocidental). Usa-se a mesma frase a respeito de D. Manuel, Epit7 1.4.
3 Brutos... Trajanos: os Brutos eram uma família famosa da época da
república romana. Ferreira tinha razões especiais para comparar D. João III aos
imperadores Augusto e Trajano. Ver Ci2 1.59 e a nota respectiva.
10-12 luz clara... destruidor: durante o reinado de D. João III a Inquisição
chegou a Portugal e os jesuítas começaram as suas missões no Oriente.
12 paz do teu reino: a não intervenção de Portugal nas guerras europeias do
século XVI é um tema constante da poesia de Ferreira . .
14-22 não... menores: é a figura de retórica chamada paralipse, "pela qual...
o poeta finge não querer falar de uma coisa que, no entanto, vai dizendo" (Dic. da
língua port.). Quando Ferreira começa a condenar o luxo desnecessário, depois de
1.22, as negativas deixam de ser fingidas .
17-20 não por letras ... nunca: foi durante o reinado de D. João III que a
universidade portuguesa se reformou e se transferiu para Coimbra.
23-45 Não te louvamos... povos: a longa frase, habilmente construída,
começa devagar, acelera na parte central (ll.33-7) e acaba com o mesmo ritmo do
princípio. Não é fácil identificar os autores dos excessos que Ferreira condena.
Alguns deles foram da responsabilidade do imperador Nero (11.31-2), cuja bio-
grafia Ferreira podia ter lido nas Rapsodiae historiarum de Sabélico, de que foi
publicada uma tradução em Coimbra em 1550 (Urefía Prieto, p. 776). Porém, a
intenção do poeta parece ter sido mais retórica do que estritamente histórica.
75-8 Tu rege ... apaga: segue muito de perto as palavras famosas que
Anquises dirige aos romanos na Eneida, VI, 11.851-3. a vencidos perdoa: perdoar
é seguido por uma preposição também em EIS 1.68.
573
COMENTÁRIO
574
. COMENTÁRIO
9 um sol: D. João III. Ferreira tinha uma admiração incondicional pelo rei.
Ver Ci 1, Epit9 etc.
11-15 meios ... esteios ... dê-os: parece um caso, raro em Ferreira, de uma má
rima, se não for uma rima visual, já que em PL as palavras em questão se grafam
meos, esteos, deos. Em Sii 1 esteio rima com seio, veio e feio.
42 bom conselho, boa prudência: o exemplo tirado da história romana que
se segue a este trecho indica que bom e boa significam não só acertado mas tam-
bém recto, no sentido moral.
43-6 Enquanto ... receava: Roma triunfava enquanto a sua política se regia
por critérios morais. sofria: suportava.
54 até o Oriente: para a supressão do artigo definitivo em PL ver Intro-
dução, pp. 24-5. ·
59 Augusto ... Trajano: Ferreira compara D. João III com Augusto, de cuja
vida tinha alguns conhecimentos (ver Oii3 11.37-9), porque o imperador, como o
rei, trouxe a paz ao seu país. Trajano é invocado porque no seu reinado os exérci-
tos romanos chegaram até à Índia. Ferreira associa o rei aos mesmos imperadores
em Cil 1.3.
64 A nova... letras: referência à reforma da Universidade.
72 não pera ai: não para outra coisa.
73 só polo seu: só para o seu próprio proveito.
77-9 Má cobiça ... justiça: cf Sá de Miranda, Carta a el-rei nosso senhor,
11.16-19: "Onde ha homens, ha cobiça,/Ca e la tudo ela empeça/Se a santa igual
justiça/Não corta ou não desempeça ..." (Poesias, (1885) p. 188).
101 Escolham-se: se se escolherem.
103 os livros: os livros da história greco-romana.
106 Vençamos ... imitemos: vamos ganhar vitórias maiores que as dos anti-
gos, no sentido moral e militar, e vamos também imitar os seus escritos.
O poeta Pero de Andrade Caminha foi um dos amigos mais íntimos de Fer-
reira. A carta é uma das melhor conhecidas, por causa do seu louvor da língua
portuguesa (ver especialmente 11.124-6). Castilho até acreditava que Caminha,
influenciado pelas palavras de Ferreira, destruísse toda a sua poesia em espanhol.
Hoje sabemos que Caminha copiou por seu próprio punho a obra que escrevera
em castelhano (Roig, 1982, pp.156-7) e que a dedicou ao seu mecenas, o senhor
D. Duarte (ed. de Priebsch, p.377). Fez isto muitos anos depois de receber a epís-
575
COMENTÁRIO
tola de Ferreira, que deve ter sido escrita ainda antes de 1554. Nas cartas e odes
dedicadas a Caminha Ferreira ligava normalmente o nome do amigo ao do mece-
nas, sendo a única excepção a própria Ci3, facto que sugere que foi escrita antes
de Caminha ter entrado no círculo de D. Duarte. De Ci8 sabe-se que começou a
servi-lo acerca de 1554. Há outras razões para supor que Ci3 pertence à primeira
fase da carreira literária de Ferreira. Ocupa uma posição no princípio do livro das
cartas, que foi organizado, em grande parte, segundo princípios cronológicos.
Para além disso, Castilho via nas palavras "já nessa idade" (1.8) uma indicação de
que na altura Caminha era ainda muito jovem.
3 quantos ... vierem: toda a 1.3 funciona como o sujeito de esperem (1.1 ).
7-8 mereceram... cedro: mereceram a imortalidade. Em Roma, conservavam-
-se os livros untando-os de óleo de cedro (ver Horácio, Ars Poetica, 11.331-2).
9-1 O nos mostras... antiguidade: a tomar estas palavras à letra, Caminha
teria escrito pelo menos algumas poesias em português antes da composição da
carta. Com efeito, tudo o que escreveu na medida nova, ou italiana, isto é, segundo
Ferreira, tudo o que podia "renovar a antiguidade", é em português. Caminha reser-
vava o castelhano para a sua abundante poesia na medida velha.
17 com cópia: abundância de palavras e de conceitos; sentenças: ditos sen-
tenciosos.
20-1 àquele tão louvado poeta: Homero.
24 daquele Mantuano: Virgílio.
25 Garcilasso e Boscão: Garcilaso de la Vega e Juan Boscán introduziram
na poesia espanhola o gosto pela medida nova. As suas obras conheciam-se em
Portugal antes de 1536 (Michaelis de Vasconcelos (1885) p.832).
34-6 Assi ... deixastes: graças à obra dos poetas italianos (provavelmente
Dante e Petrarca), o toscano já pode ser considerado uma língua clássica.
43-4 Getas ... romãos: os getas, habitantes da Scítia, região situada além da
fronteira norte do império romano. caldeus: babilónios; romãos: romanos.
76-7 se ofereça ... a ajudar: se ofereça a ajudá-la (a república boa, 1.68).
84 escadrões: esquadrões.
88 des que: desde que.
85-9 E não se honrava mais ... desterraram: Licurgo foi o grande legis-
lador da Esparta. Ferreira parece confundir duas histórias acerca dele. Passou um
período de exílio, durante o qual Esparta degenerou, mas perdeu o olho num
motim depois do seu regresso (ver Plutarca, Lycurgus, caps.3 e 11 ).
88 des que: desde que.
93 quanto ... deixaram: Castilho emendou quanto para quão. O verso origi-
nal é aceitável metricamente se lermos estátua como státua . Para um exemplo
parecido, ver Cii12, 1.14.
576
COMENTÁRIO
94-6 Quanto foi mais sentida... honrada: Ferreira exprime uma ideia
semelhante em Cii7 11.28-30. A fonte comum é Cícero, Pro Archia, cap. 10 (Mar-
ques Braga). ·
l 00 tégora: até agora.
102 foras: tivesses sido.
122-6 sirva ... viva ... altiva: há uma rima parecida em Écl 1, 11.173-7.
127 téqui: até aqui.
135 porque ... sejam: verso obscuro. Talvez, para que eles (as gerações
futuras) possam orgulhar-se da sua língua perante os estrangeiros.
A António de Sá de Meneses
Nesta carta Ferreira lamenta o poder do oiro e elogia D. João III e a farru1ia
dos Sá de Meneses pela sua protecção às letras. Discorre também sobre a natureza
da verdadeira nobreza, tópico favorito dos humanistas, o que o leva a pronunciar
"tremendas objurgatorias contra os deshonradores da gloria herdada", nas pala-
vras algo pomposas de Castilho. Mas, além de tudo isso, podemos ver na poesia
uma nota mais pessoal: é, evidentemente, uma carta de agradecimento a António
de Sá de Meneses, que tinha ajudado o poeta na sua carreira literária. Isto
depreende-se das 11.1 -9 e 104-21. António, filho mais velho de João Rodrigues de
Sá de Meneses, não era poeta ele próprio, como seu irmão Francisco, mas era co-
nhecido como protector de poetas (ver Silva Terra, pp. 35-9). Como se vê desta
poesia e de Oi3 - dedicada a D. João de Lencastre - na primeira fase da sua
carreira literária o nosso poeta procurava activamente quem o ajudasse.
A carta foi escrita antes de 11 de Junho de 1557, data da morte de D. João III.
577
COMENTÁRIO
tistas . Mesmo assim, o poeta não considera que a acção cultural do rei seja com-
pleta, porque os homens de letras são "bem criados, mas mal cridos" (l.80). Ver
também a nota seguinte.
70-2 Já agora vão sofrendo .. Siracusas: os inimigos da virtude, o sujeito
da frase, são mencionados em l.60. Põe-lhes na boca um exemplo do valor das
letras que é altamente irónico. O tirano de Siracusa, na Sicília, foi Dionísio II (séc.
IV a.C.) que foi expulso do trono e que depois, por ser um homem culto, con-
seguiu obter um lugar como professor numa escola de Corinto. Fez isto, segundo
Cícero, porqu~ um tirano precisa sempre de ter alguém em quem mandar, "usque
eo imperio carere non poterat" (Disputationes Tusculanae, III, 12, 27).
83 foram : seriam.
84 atéqui: até aqui.
88 prosápia: linhagem.
89 Apolo e Marte: na família de António de Sá de Meneses havia muitos
poetas e homens de letras, como o irmão mais novo, Francisco, o pai, João Rodri-
gues, o avô, Henrique, autor de poesias do Cancioneiro Geral, e o primo, Francisco
de Sá de Miranda. Vários membros da família serviram nas praças de África (ver
Azevedo Cruz, I, p.130). O tio de João Rodrigues de Sá de Meneses, D. Vasco
Coutinho, Conde de Borba, o capitão famoso de Arzila, é o sujeito de EpitlO.
92-6 Onde... tingem: estes versos são a resposta à pergunta de 11.91-2.
101 Apolo e Palas: aqui Palas é equivalente a Marte (l.89). Era deusa da
guerra, assim como da sabedoria (ver Cii7 1.51).
104 Louvo o que em ti vejo: António de Sá de Meneses tinha experiência
das guerras de Marrocos (ver Sá de Miranda, Epitalâmio Pastoril, 11.17-22 (ed. de
1885, p.502)), mas é típico de Ferreira, muito mais dado às letras do que às armas,
não mencionar este aspecto da carreira do amigo.
112-4 As leis... contendiam: são duas histórias famosas relativas a Virgílio
e Homero. Virgílio ordenou que a Eneida, ainda incompleta, se queimasse depois
da sua morte, mas as instruç.ões do poeta não foram seguidas. Sete cidades da Gré-
cia entraram em disputa sobre qual delas era o lugar de nascimento de Homero.
121 a honra... excelente: parece imitar uma sentença de Cícero, Disputatio-
nes Tusculanae, I, 2, 4: "Honos alit artes omnesque incenduntur ad studia gloria".
5
A D. João de Lancastro, filho do Duque de Aveiro
578
COMENTÁRIO
bém uma nota satírica, que revela a influência das Sátiras de Horácio. As 11.34-48
exprimem a mesma ideia que Sát. I, 3, 11.55-62, enquanto as 11.49-54 correspon-
dem a Sát. I, 6, 14-17 (Seabra, I, pp.193-4, 228).
6
A João Roiz de Sá de Meneses, no Porto
579
COMENTÁRIO
e de prosa em português e latim (para a sua carreira literária, ver Silva Dias
(1969), pp. 204-9). Ferreira compôs a sua poesia entre 1549 e 1554, anos em que
Francisco de Sá de Meneses servia o príncipe D. João como aio e camareiro-mor
(ver ll.10-12, Michaelis de Vasconcelos (1885) p. 750 e Silva Terra, p. 32). Na
altura, João Roiz teria tido ao máximo 68 anos. Segundo Costa Ramalho (1980b ),
pp. 199-201, nasceu em 1486/7 e morreu em 1579, sendo portanto de uma longe-
vidade que se tomou lendária.
Na juventude, João Roiz tinha servido nas campanhas africanas (ver ll.124-35
e Azevedo Cruz, I, pp.130-1 ), juntamente com o tio, o conde de Borba, que Fer-
reira comemora em EpitlO. Porém, é evidente, de uma leitura da carta, que o
poeta aprovou inteiramente a sua desistência da carreira das armas. Com efeito,
em 1524 João Roiz sucede ao pai na alcaidaria do Porto (Azevedo Cruz, I, 213) e
herda também o título de senhor de Sever, propriedade que andava na família dos
Sá desde pelo menos há quatro gerações (ver a tábua genealógica em Michaelis
de Vasconcelos (1885)). Ferreira parece referir-se a estes factos ll.146 e 151-3.
Devido ao grande prestígio de Sá de Meneses, especialmente na área da literatura,
a carta é uma das mais elogiosas que o nosso poeta compôs. Mesmo assim, con-
tinuou fiel aos seus princípios morais e estéticos, já que louva João Roiz pelo seu
estoicismo e pelo seu amor às letras.
580
COMENTÁRIO
84 vás: vais.
99-1 O1 outro que... a erva buscar: o animal que mata com a vista é o
basilisco da mitologia. É o cisne que devinha (adivinha) a sua morte porque,
segundo a tradição, canta sempre antes de morrer. Plínio, Historia Natura/is, VIII,
41 , 97, explica que o cervo se cura de feridas mastigando uma erva.
106-8 Que as feras ... negas: a mesma ideia em Sá de Miranda, Basto,
ll.531-40 (ed. de 1885, p. 176).
l 09 Não são... reis: a humanidade dos reis é um tópico frequente em Fer-
reira. Ver por exemplo Ciil, ll.130-5.
124 Em mancebo... fortaleza: referência ao serviço militar prestado por
João Raiz em Arzila, Azamor e Tânger.
130-4 Agora ... trepar: cavas: fossos; valos: muros com que se defende a en-
trada de uma fortificação; contramuros: muros suplementares (Castilho). Utiliza-
vam-se muitas vezes piques para escalar os muros de uma fortaleza inimiga.
136-8 Enriqueceste ... história: Damião de Góis, D. Manuel, IV, pp. 106-7,
publica uma carta de João Raiz que atesta o seu interesse pela história portuguesa.
148-50 Sempre prestes ... erra: uma paráfrase de Horácio, Sátiras, II, 2,
11.110- 1.
153 cos meios ... sosterás: vais suster as tuas propriedades pelos mesmos
meios (se. bons e honrados) com que elas se obtiveram. Ver também a introdução
a estas notas.
A carta é notável pela sua unidade: toda ela é uma meditação sobre a varie-
dade dos génios dos homens e as razões pelas quais Deus permitiu tal diversidade.
Na poesia Ferreira exprime a sua confiança na Providência divina e nega qualquer
influência da fortuna na vida dos homens (ll.25-30), nisto manifestando a forte
influência do estoicismo cristão. Mais tarde iria modificar a sua opinião (ver, por
exemplo, Cii 12, ll. 76-8).
581
COMENTÁRIO
Desta poesia diz Castilho: "Começa esta carta pelo elogio da amizade em
geral; passa d'ahi ao de Pero de Andrade em particular; e por elle ao da poesia".
Ferreira consegue dar unidade a esta variedade temática insistindo, por toda a
poesia, na necessidade do juízo bom, que serve igualmente para discernir a ver-
dadeira amizade, evitando a estreiteza, por um lado, e a vã largueza, por outro
(11.7-9), e para apreciar a boa poesia. Deixa transparecer também uma nota mais
pessoal: em muitos passos da carta exprime uma falta de confiança na sua habil-
idade como poeta que vai além da modéstia convencional. Há um certo azedume
na maneira como confessa o seu fracasso como poeta heróico, que é como um
antegosto das poesias da crise de 1556-59 (11.213-28). Mas mesmo nestas linhas
não é possível separar inteiramente a voz de Ferreira da de Horácio, que em
Epístola II, 1, 11.229-59 exprime ideias semelhantes, embora em tom mais jocoso.
582
COMENTÁRIO
583
COMENTÁRIO
entre 1554 e 1558 (ver acima) e Camões partiu para a Índia em 1553 (ver a "carta
de perdão" publicada por Juromenha na sua edição de Camões, vol. I, pp. 166-67).
169-70 Levavam... cantos: imita Ars Poetica, 11.393-6, sem mencionar
Orfeu, o cantor divino que amansou leões etc. Ferreira evita sempre revelar um
conhecimento profundo da mitologia greco-romana.
172-4 Quem me desse ... tantos: são versos que revelam como Ferreira acre-
ditava na função pública da poesia. Em Cii2 l.l3-14 pede ao cardeal D. Henrique
que ouça "a viúva que te chora" e "o órfão deserdado".
184-89 Quanto mais ... sem segundo: Castilho enganou-se ao pensar que "o
grã Grego" fosse Ulisses . Com efeito, é Alexandre Magno, que sempre quis que
um segundo "cantor de Esmirna" (Homero) cantasse os seus feitos. soara: teria
soado; fora entoado: tivesse sido entoado.
190-92 De Lisipo... contado: o esculptor Lisipo e o pintor Apeles eram con-
temporâneos de Alexandre. Horácio menciona-os na Ep.II, 1, 11.237-41, mas Fer-
reira acreditava, mais que o poeta romano, que a literatura era mais duradoura que
as artes plásticas. Destas só resta a fama, que é transmitida através da palavra
escrita, os papéis, 1.192, e neles, 1.193. Ferreira utiliza os particípios esculpido e
pintado como se fossem particípios activos: de Lisipo, tendo esculpido, e de Ape-
les, o único, tendo pintado ... tá voas: tábuas.
194 os frígios muros: os muros de Tróia.
203-7 levantaras ... soaras ... honraras: terias levantado... terias soado ...
terias honrado.
208-9 Quantos ... heras: o jovem príncipe protegia vários escritores, entre
eles Sá de Miranda e o próprio Ferreira, que lhe dedicou a comédia Bristo
(Michaelis de Vasconcelos (1885) p.740).
211-13 Já há... feras: Ferreira pede desculpa ao amigo por ter digressado tanto.
215 está ... em preço: é uma época em que tudo está à venda.
217 Do que esperei ... me deço: esqueço as esperanças vãs que já tive.
223-8 Sempre... julgados: numa carta a outro poeta, Diogo Bernardes, Ci 12,
11.7-24, Ferreira exprime mais uma vez o medo que sente perante o acto de escrever.
242-3 Põe diante... duro: pensa no futuro, que será menos duro.
245-50 real sujeito ... grã Duarte: para o senhor D. Duarte, filho do infante
do mesmo nome, irmão de D. Manuel, ver as notas a Ci13 . Andrade Caminha era
membro da sua casa. arça: arda.
9
A D. João de Lancastro, filho do Duque d'Aveiro, em Coimbra
584
COMENTÁRIO
585
COMENTÁRIO
139-47 Meus pensamentos ... encerra: exprime a mesma ideia que Virgílio,
ll.477-86, a que acrescenta uma nota cristã, 11.142-4.
149 antigos padres: a mesma frase na Carta de António Pereira de Sá de
Miranda, l.202 (ed. de 1885, p .244)
151-9 Em vós ... cingindo: neste trecho, imitado de Virgílio, ll.473-7, Ferreira
refere-se ao mito segundo o qual a justiça, ou Astreia, foi a última dos imortais a
abandonar a terra depois do fim da Idade de Ouro. Ferreira, porém, acrescenta à
justiça duas companheiras, a inocência e a verdade. estêm: estejam.
10
Esta poesia, como Ci9 e 11-12, foi escrita de Lisboa nos anos que se seguiram
à prolongada estadia de Ferreira em Coimbra. Ele compôs Ci9 antes de 30 de Junho
de 1557 e Ci 12 depois da morte de Sá de Miranda em 1558. Será razoável, portan-
to, atribuir à poesia presente a data de 1557 ou 1558. Em todas as epístolas deste
período se exprime o mal-estar psíquico de quem se considera exilado no seu próprio
país. Em todas elas, também, nos revela Ferreira a sua vida íntima com uma fran-
queza rara na sua obra austera. A Sampaio confiou, em versos sentidos, as esperanças
que nutria relativamente ao casamento (ll.124-156) mas , como bom estóico, acaba
o doce sonho pedindo ao amigo que lhe acalme os ardores .e róticos (ll. 157 ff. ).
4 arço: ardo.
7 Aristipo: filósofo grego do séc. IV a. C. Foi famoso por ter declarado
voluptatem sumum bonum, e não é impossível que Ferreira tenha tido o seu exem-
plo presente ao compor os versos em louvor do matrimónio, ll.133-56 (Earle
(1990) pp. 110-1). Em ll.7-8, porém, com uma falta de precisão relativa a factos
históricos muito típica dos PL, Ferreira refere-se-lhe vagamente como crítico
destemido e mordaz.
586
COMENTÁRIO
11
A Diogo de Betancor
Não se sabe muito acerca de Betancor. Das poesias que Ferreira lhe dedicou
pode-se inferir que era estudante de Coimbra e que era provavelmente mais novo
que o poeta. Assim podemos identificá-lo com o Diogo de Betancor, natural da
ilha da Madeira, que se fez bacharel em artes em 1554 e licenciado em artes em
1555. Ferreira obteve o grau de bacharel mais cedo, em 1551 ( ver Autos e Graus
587
COMENTÁRIO
1550-4 e 1555-7). Morreu jovem, El.2, 1.2, antes de os seus talentos literários da-
rem fruto, já que nem Diogo Bernardes nem Andrade Caminha lhe fazem alusão.
Ferreira escreve a Betancor como amigo mais velho (1. 29), com alguma expe-
riência da vida. Dá-lhe conselhos morais, mas confessa, à maneira de Horácio, que o
seu próprio comportame nto nem sempre foi perfeito (11.57-9). É evidente de 11.61-2
que Ferreira se referia a um episódio da sua própria vida amorosa. Será a mudança a
do amor infeliz de Sil-32 para o amor triunfante dos sonetos seguintes? Parece pro-
vável, porque, ao contrário de Roig (1970, pp.128-9), não vemos nenhuma referên-
cia à morte da amada. Como se sabe de Si 1, Ferreira tomou público pelo menos o
primeiro livro de sonetos em 1557, facto a que parece aludir nas ll.17-18 da carta. A
poesia teria sido composta, portanto, em 1557 ou 1558, (e não em 1564, como acha
Roig) numa época em que o poeta já não residia em Coimbra. A posição de Ci 11 na
sequência das cartas leva à mesma conclusão, porque Si 12 foi escrita depois da morte
de Sá de Miranda, em 1558. É provável que Betancor tenha morrido pouco depois,
porque nas poesias fúnebres que lhe dedica Ferreira insiste na sua pouca idade. Des-
tas poesias fúnebres há três, Sii.33, El.2 e Epit.14, prova da grande amizade do poeta.
588
COMENTÁRIO
que Ferreira dá ao amigo. Diogo de Teive, cujo nome é citado várias vezes em PL,
emprega a mesma imagem em Brevis institutio Sebastiani primi, publicada pela
primeira vez nos Opuscula de 1558 (cit. por Bigalle, p. 175).
149 o santo rei: David. Sá de Miranda, Poesias (1885), p.212, também via
nos Salmos de David a origem e a justificação da poesia lírica.
152 psalteiro: saltério (antigo instrumento musical de cordas).
154-56 Quão docemente ... concordas!: a relação recíproca entre o poeta e
a poesia é uma parte importante da teoria literária de Ferreira. Ver Earle ( 1990),
pp. 47-48.
160-62 Ora entoarás ... tamanha: o ardil do cavalo de Tróia e a destruição
da cidade são descritos por Virgílio na Eneida, II.
12
A Diogo Bernardes
Há uma versão desta carta n'O Lima de Diogo Bernardes, foi 98v.-102r, a
que damos a abreviatura de OL. A maioria das variantes não passa de simples
erros, mas as ll.66, 126 e 148 indicam que Simão Lopez, o editor quinhentista, se
serviu de uma versão da poesia não idêntica à de PL. No caso de l.148, a leitura
de OL é superior à de PL.
N'O Lima, a carta de Ferreira vem logo depois da Carta 12 de Diogo Ber-
nardes, "Ferreira meu, não meu que foste dado", de que a poesia do nosso autor é
uma resposta. Na sua carta, Bernardes trata Ferreira como mestre da poesia e
pede-lhe conselhos literários. A meu ver, as linhas de Bernardes "Cantarei teu
amor, e amor do céu/ onde o bom Sá Miranda se escondeu" (fol.97r.) referem-se à
morte de Sá de Miranda, e indicam que a data das duas poesias deve ser depois de
Maio de 1558. Na sua edição d' O Lima, porém, Marques Braga interpreta o trecho
como alusão à retirada de Sá de Miranda para o Minho, (1946, vol. II, p. 213 n.).
589
COMENTÁRIO
590
COMENTÁRIO
13
Ao senhor D. Duarte
1-2 Quem ... em mim: Ferreira deseja cantar, ele próprio, as glórias de
D. Duarte, mas sabe que não é capaz, como confessa em EcllO ll.53-6 e em Oiil.
Por esta razão faz, na carta, a recomendação do amigo Andrade Caminha.
9 das nove Irmãs: as Musas.
10 peregrino: belo, maravilhoso (ver também l.79).
13 nela: i.e., na terra.
21 Minerva: deusa da sabedoria e das artes mas também da guerra. Na ima-
ginação idealista de Ferreira, as qualidades que qualquer homem bom deve pos-
suir, seja ele general, poeta ou moralista, são substancialmente as mesmas. Ver
591
COMENTÁRIO
11.88-95, onde a deusa que D. Duarte honra parece ser outra vez Minerva, já que
ele possui "as boas artes" da paz e da guerra.
38 Títiro ... Galateia: na Écloga I de Virgílio Títiro aparece como o amante
de Galateia. Menalca ou Menalcas é uma personagem das Éclogas 3 e 5.
40 do rústico Sátiro a Napeia: os sátiros eram semi-deuses pastoris, famo-
sos pela sua sensualidade; as napeias eram as ninfas dos bosques e dos vales.
41 cantam: neste trecho estático, em que as barreiras entre a natureza e a arte
se parecem dissolver, a sintaxe é bastante fluída. Estritamente falando, o sujeito de
cantam deve ser o "dom por nosso bem dado" (i.é, os dons do espírito, que incluem
a poesia) de 1.25, mas o poeta está a pensar também nas aves que cantam de 1.35.
45-51 nas cinzas de Petrarca ... com memória gloriosa: Ferreira parece ter
em mente duas obras latinas de Petrarca, o tratado moralista, em prosa, De reme-
diis utriusque fortunae e a epopeia inacabada Africa, que trata da carreira de
Cipião Africanus e tem, portanto, relevância directa para D. Duarte.
53 heroas: heróis, como frequentemente em Ferreira.
58 Mas quais ... devidas: as coroas de 11.55-7.
59-60 a real geração ... vidas: ver o primeiro parágrafo destas notas.
63 Maro: Virgílio.
66 que ... seguindo: porque vais seguindo teu glorioso espírito. Segundo
Ferreira, a hora da grandeza de D. Duarte está a aproximar-se, porque ele começa
a ter pensamentos elevados.
67-9 Ditosa mãe ... alto estado: há referências pessoais neste terceto cuja
decifração é necessariamente tentativa. A "dor do mal passado" será talvez uma
referência à morte prematura, com 25 anos apenas, do infante, pai de D. Duarte.
O engrandecimento da família de que o poeta fala pode ser a nomeação do filho
como condestável de Portugal, como já foi indicado. plantas: filhos.
72 as três Irmãs: os fados eram personificados como três irmãs.
74 sogigado: subjugado.
106 i: ide.
LIVRO II
A el-rei D . Sebastião
592
COMENTÁRIO
encontram-se no códice 8920 da Biblioteca Nacional de Lisboa, fol 1-4 (no apara-
to crítico com a abreviatura de L) e no MS CXIV/2-2 da Biblioteca Pública de
Évora, foi 167v.-172r., publicado por Askins em 1968 (com a abreviatura de E).
A versão impressa (designada C) foi incluída por D. António Álvares da Cunha
na sua edição da Terceira parte das Rimas de Camões (Lisboa, 1668), pp.93-8, e
atribuída por ele ao autor d'Os Lusíadas. O Códice 8920 da BNL foi estudado por
Sá Fardilha na sua edição das poesias de D. Manuel de Portugal. Além de Cii 1,
tem uma outra poesia de Ferreira, a carta ao cardeal infante D. Henrique, Cii2. A
parte do códice que contém as duas cartas foi escrita provavelmente antes de 1578
(Sá-Fardilha, p.xlii), enquanto que o MS da BPE foi acabado em 1608-10 (Askins,
p. 10). Numa nota ao leitor, D. António Álvares da Cunha diz que fez a sua edição
à base de vários manuscritos, mas não dá informações pormenorizadas. As três
versões LEC coincidem em 14 ocasiões e parecem derivar de uma mesma fonte. A
fonte em questão podia ser um manuscrito do próprio poeta, já que as 14 coin-
cidências são quase todas leituras aceitáveis, embora rejeitadas por PL. L é um
manuscrito antigo e bom. E, porém, é muito defeituoso e tem "numerosos erros
provocados pela falta de compreensão dos textos por parte dos escribas que os
copiaram" (Askins, p.4). C também tem erros e alterações possivelmente intro-
duzidas em 1668. Michaelis de Vasconcelos (1922b, pp.78-9) não tinha dúvidas de
que a atribuição da carta a Camões era um erro de Álvares da Cunha. Só uma das
variantes indicadas no aparato crítico parece superior às leituras de PL (1. 114).
Durante a sua vida D. Sebastião recebeu muitos conselhos de poetas e de
humanistas como, por exemplo, a Carta a el-rei D. Sebastião de Gonçalo Dias de
Carvalho (depois de 24 de Novembro de 1557) e, em 1558, a Brevis institutio
Sebastiani primi Lusitaniae Regis do amigo do poeta Diogo de Teive. Ferreira
contribuiu um soneto (ver Ap.1) às Sententiae de Teive, de 1565, que também
foram dirigidas ao rei. Já que, na carta de Ferreira, D. Sebastião é sempre tratado
como rei, a poesia deve ter sido composta depois de 11 de Junho de 1557, data da
morte de D. João III. Roig, ( 1970) p. 135, julga que a poesia, tal como Sii 15, per-
tence a 1568, ano em que o novo rei atingiu a maioridade. É verdade que o soneto
e a carta começam com as mesmas palavras, mas 11.7-9 e 184-6 indicam claramente
que D. Sebastião ainda era criança quando Ferreira lhe dirigiu a carta e que ela
pertence a uma época muito anterior a 1568, talvez 1559, data de Cii3, em que o
poeta também trata da educação do jovem rei. Embora Ferreira aceite a teoria da
origem divina da instituição monárquica (11 .76-8 e 88-90), dá ênfase considerável
à humanidade do rei e à necessidade de ele se conformar com a lei (11.97-9 e 104-11 ).
Ver também Earle (1990), pp.112-16.
14 milagroso nascimento: D. Sebastião nasceu depois da morte do pai, o
príncipe D. João.
593
COMENTÁRIO
Desta carta, tal como da anterior, há uma versão manuscrita no Códice 8920
da BNL, fóls 14r.- l 7r. A parte do MS em que aparece a carta foi escrita provavel-
mente antes de 1578 (ver notas a Ciil). Não existe outra poesia de Ferreira com
variantes tão significativas, principalmente na parte final.
594
COMENTÁRIO
1-12 Entre tantos... gente: o começo da carta inspira-se em Horácio, Ep. II,
1 ll.1-4. Sá de Miranda imitou o mesmo passo na sua carta a el-rei D. João, ll.1-10
(ed. de 1885, p.187), e Camões também nas oitavas dedicadas a D. Constantino de
Bragança, ll.1-16 (ed. de M. de L. Saraiva, vol.3, p. 219). A influência da mesma
epístola é visível numa outra poesia de Ferreira, Cil ll.95-114.
5-6 o santo irmão ... tormentas: D. Henrique era irmão mais novo de
D. João III, morto em 1557. Em 1562 D. Sebastião tinha só 8 anos. D. Henrique
continuou como regente até 1568.
595
COMENTÁRIO
11-5 meios ... esteios ... dê-os: é um dos poucos exemplos na poesia de Fer-
reira de uma rima má, devida talvez à semelhança visual entre as palavras na
ortografia quinhentista. Ver Introdução, pp. 25-6.
24 outro assento maior: D. Henrique foi mais que uma vez indicado como
possível papa. No conclave de 1559, depois da morte de Paulo IV, o cardeal-
-infante obteve 15 votos. (Azevedo Cruz, II, 75-8).
30 espinhas: espinhos, como sempre em Ferreira.
33 Crisipo: filósofo estóico grego que viveu no século III A.C. Da sua obra
volumosa só fragmentos vieram até nós . Foi o autor romano Aulo Gélio que
repetiu a sua descrição alegórica da justiça que Ferreira segue fielmente (Noctes
Atticae, XIV, 4, 1-4). A ideia de que a literatura consegue retratar valores abstrac-
tos melhor que a pintura vem também em Epig 1.
37-8 que o povo ... co dedo: de que o povo mofa.
42: ao seu, ao peregrino: ao conterrâneo, ao estrangeiro.
49-52 o outro ... o outro: a leitura de PL parece impossível, mas não o é. No
século XVI a fórmula o outro usava-se para aludir indirectamente a personagens
famosas na história ou na literatura da antiguidade clássica. Na versão manuscrita
de Os Vilhalpandos de Sá de Miranda que se encontra na Biblioteca de la Real
Academia de la Historia de Madrid, a personagem Milvo diz (Acto I, Cena 3):
"com aquelle ramo com que o outro passou todos os periguos do Inferno". A refe-
rência é a um conhecido incidente do Livro VI da Eneida, e não parece ter sido
necessário mencionar nem que o ramo era de ouro nem o nome do herói, Eneias.
Em PL a fórmula o outro só aparece aqui, mas não destoa da 'indiferença habitual
de Ferreira pelos pormenores da história romana. As personagens referidas são os
imperadores Heliogábalo e Nero. Heliogábalo (218-22 d.C) foi famoso pela sua
imoralidade. O incidente narrado vem da biografia de Heliogábalo, também cha-
mado Antoninus Elagabalus, contida na Historia Augusta, XXVIII, 6.
82-4 Em nenhum estudo ... em seu ofício: encontra-se a mesma ideia em
Cícero, Pro Archia, cap.1: "etenim omnes artes ... habent quoddam commune vin-
culum et qu'asi cognatione quadam inter se continentur".
91-3 Pera o público bem ... em bons mudam: imita Ars Poetica, 11.333-4
(Fucilla, p.275) .
104 letrados: juristas, mas em 1.119 a mesma palavra podia significar ou
juristas ou poetas.
111 piadade: assim aqui e em Cii 1O, 1.32, mas a forma normal em Ferreira
é piedade.
116-7 Cada um ... atiça: é um conselho dado aos poetas.
118-20 Seja... deseja: este terceto podia ser dirigido igualmente aos poetas
ou aos juristas. A partir de 1.121, porém, Ferreira volta a falar da administração da
justiça.
596
COMENTÁRIO
128 reis ... se obrigam: Ferreira insiste nesta ideia também na Carta a D.
Sebastião, Ciil, li. 98-9 .
132 persigam: perseguem. Diz Castilho: "está por força grammaticalmente
errado pelo poeta, obrigado pela rima".
150 espede: despede.
163-4 A quem... concederam: ao homem a quem os céus concederam ... Estas
linhas e as seguintes são uma paráfrase de Horácio, Sátiras, I, 4, 43-4 (Seabra).
175-86 Determine... afamam: este trecho, em que Ferreira toma uma ati-
tude defensiva perante a literatura, inspira-se no passo correspondente da Ep. 11.1
de Horácio, 11.118-25.
178 Demos ... não ata: concedamos que todos são bons ; esse argumento não
colhe, não prende (Castilho).
195 a rara arte: aqui significa qualquer arte. A ideia de Ferreira é que se os
juízes protegem todo o homem que "n üa arte aos outros excedia", seja qual for a
arte referida, devem também proteger a arte da poesia.
196 escurece: ataca, condena.
207 consume: consome, como sempre em Ferreira (ver Cii6, 1.31, Si33, 1.8
etc.).
597
COMENTÁRIO
598
COMENTÁRIO
A Diogo de Teive
599
COMENTÁRIO
1-3 Promiti-te... lida: Castilho vê aqui uma reminiscência, a meu ver vaga,
de Ep. II, 2, 11.20-2.
2 mil meses: exagero poético, como vê Brandão ( 1969) p. 973n., porque
provavelmente Teive só foi de Lisboa para Vila Chã nos princípios de 1557.
10 tanto honrado: é ironia evidente. Os "honrados" são os mentirosos, os
que faltam às suas promessas.
13-33 Mas em tão cheia ... imortais teias: todo este trecho segue Ep.11, 2,
65-80. Em 11.16-7 Ferreira muda os Montes Quirinal e Aventino romanos para
topónimos lisboetas. O mosteiro de N. S. da Esperança ficava nos arrabaldes da
cidade, no distrito de Santos, onde há ainda hoje uma Rua da Esperança, enquanto
que a igreja de S. Vicente de Fora se encontra em Alfama (Rodrigues de Oliveira,
pp. 76 e 102). mós... traves: traduzem quase literalmente lapidem (pedra) e tignum
(trave) de Horácio, 1.73. Vai ora ... brandos: traduz o i nunc et versus tecum medi-
tare canoros de Horácio, 1.76. ricas veias, 1.31, vem talvez de sine divite vena da
Ars Poetica, l.409 (Castilho).
19 cambos ... recambos: trocas de dinheiro, negócios, feitos na rua.
21 entrambos: ambos.
34-9 Contudo... afamam: a sátira da admiração mútua dos poetas citadinos
deriva de Ép.11, 2, 95-100 (Castilho). Mântua: cidade onde nasceu Virgílio.
40-2 Voam ... Camenas: Ferreira compara também um poeta com uma ave
em Oi5, 11.1-15, em ambos os casos formando a metáfora à base de um trocadilho
com a palavra pena. Camenas: as Musas.
57 ousara: ousaria.
69 donde eu ... fugeria: a mesma imagem surge em Ci9 11.1-3, outra poesia
em que Ferreira lamenta a necessidade de viver em Lisboa.
82-7 Pera a saúde... corte: imitação de Horácio, Ép.I, 10, 11.15-8. Cão... Lião:
os pormenores astronómicos também vêm da poesia latina, 1.16. O Cão é a cons-
telação Canis Maior, visível em Julho, mês em que o Sol entra no signo do Leão.
102 teitos: tectos. Ver também aspeito, Cii2 1.34 e objeito Si53 1.2.
103-5 Ó bem-aventurados ... mantimento: imita os conhecidos versos de
Virgílio, Geórgicas, II, 11.458-9.
109-23 Onde assi cheiram em Líbia as pedras ... destorcem: os romanos
ricos costumavam construir os pavimentos das casas utilizando pedras líbias. O tre-
cho todo é uma imitação de Horácio, Ép.l, 10, 11.19-25. Ferreira segue o poeta
romano de perto em 11.109-14, passando depois a parafrasear.
600
COMENTÁRIO
A António de Sá de Meneses
Nesta carta, em que se emprega uma linguagem sem precedentes nos Poe-
mas Lusitanos, a da astronomia e da geometria, Ferreira leva o seu louvor das
especulações filosóficas e científicas dos gregos e romanos mais longe do que em
qualquer outra. Segundo o poeta, a sociedade moderna, apesar de ter recebido a
revelação cristã, é inferior à antiga em termos de ciência e comportamento moral,
lição que repete em Cii 12. (Comparar Ci7 11.31 -6 e Ci 11 11.121-6 onde Ferreira
fala com desprezo dos escuros meios com que os gentios chegaram à verdade,
frases que são a expressão de uma atitude mais crítica ao passado clássico). O tom
da carta foi sem dúvida influenciado pela personalidade e pelos interesses inte-
601
COMENTÁRIO
602
COMENTÁRIO
A António de Castilho
O título que PL dá a esta carta é uma das poucas indicações certas, se não a
única, de interferência editorial com o texto das poesias de Ferreira depois da sua
morte. Com efeito, segundo o artigo bem documentado de 1970 de J. V. Serrão,
foi só em 6 de Novembro de 1571, isto é, dois anos após o falecimento de Fer-
reira, que Castilho obteve o cargo de guarda-mor da Torre do Tombo, por alvará
régio (pp.348-50). Tinha passado os anos de 1549-1565 em Coimbra, onde che-
gou ao grau de doutor em leis (Serrão, pp.320-2). Ferreira fixou-se em Lisboa a
partir de 1555/56 e as alusões da poesia ao facto de o amigo estar ocioso e longe
de largos paços mostra que, ao compor a sua epístola, o poeta já estava na capi-
tal. Estas referências pouco precisas indicam unicamente que Ferreira escreveu a
sua carta em data desconhecida entre 1555/56 e 1565. Segundo Serrão, a poesia
pertence à fase final deste período, 1564-65 (p.334n.), mas é possível aventurar
outra hipótese. A carta a Castilho situa-se entre outras poesias de entre 1557 e
1560 (Cii4 e 7-9. A data de Cii5 não se sabe). Além disso, temos a carta em prosa
603
COMENTÁRIO
a Castilho, também datada de 1557. Tudo isto sugere (embora não o prove) que a
poesia presente seja do mesmo período.
Júlio de Castilho viu muito bem que a fonte principal da carta é a Epístola
I, 4 de Horácio, dedicada a Tibulo, que era poeta, tal como o amigo de Ferreira.
7
A João Lopes Leitão, na Índia
604
COMENTÁRIO
mas é bem possível que Leitão tenha sido um deles. Antes de os soldados portu-
gueses desembarcarem, houve um debate em que se discutiu se o pedido de socorro
enviado pela guarnição não era, afinal, um embuste dos muçulmanos. É possível
que Ferreira também se refira ao debate quando aconselha acerca da necessidade
de prudência, 11.19-21. As viagens de Goa para Lisboa normalmente começavam
à volta do ano novo, de forma que a notícia da expedição a Balsar só teria chegado
a Ferreira em 1560, data presumível da carta. Seria difícil atribuir o poema a uma
época posterior, já que em 1560, ainda em Damão, Leitão foi atingido por uma
bomba de fogo que, miraculosamente, não explodiu. Ferreira não menciona este
episódio emocionante na vida do amigo. Ver Diogo do Couto, Década Sétima,
fois lOlv., 106r., 109r., 112v., 149r.-150v., 155r.
Toda a carta é um louvor à poesia, que melhora a acção do militar e que pode
unir dois amigos separados pelo mar. Na parte central, visionária, do poema
(11.49-51), vemos como os impulsos mais contraditórios, o amor e a guerra, ficam
reconciliados no culto das Musas.
605
COMENTÁRIO
606
COMENTÁ RIO
607
COMENTÁRIO
117 à glória ... erra: no século XVI, errar, seguido por a, significava "ofen-
der", como em Cii3 l.84. Mas aqui o sentido é "não acertar, não conseguir".
120 Fabrício e Crasso: Fabrício era o modelo da frugalidade e probidade
romanas; ao contrário, o rico Crasso foi derrotado e morto pelos partos na batalha
de Carrhae (53 A.C.). Ver também Cii9 l.174.
121-2 Dário ... pobre: referência caracteristicamente vaga, talvez à batalha
de Maratona (490 A.C.), em que o exército de Dário, imperador dos persas, foi
vencido pelos gregos.
130 rei minino: em 1558 D. Sebastião tinha 4 anos.
9
A Francisco de Sá de Miranda
1 impida: impeça.
9 enquanto... pejo: se nada impedir a chegada da carta a um sítio tão distante.
608
COMENTÁRIO
609
COMENTÁRIO
133-38 Onde ... mor dano? as perguntas que Ferreira faz ao seu interlocutor
imaginário dependem das perguntas feitas anteriormente, em 11.130-32. O sentido
é "quem honras dará onde a livre verdade ... se vende?"etc. De cada vez a resposta
é, evidentemente, "ninguém".
143-4 será rei ... mal: os meninos e o jogo são romanos. Ver Horácio Ep.1, 1
11.59-60.
155 um mom(,'nto de hora: Marques Braga encontrou a mesma expressão
em Gil Vicente, Auto pastoril português, (Obras, I, pp.170-71).
157 fora: fora das cidades. Em l.164 ali também se refere à vida no campo.
171 cor:· Castilho e Marques Braga dão a esta palavra o significado de de-
sejo. Porém, o significado normal faz perfeitamente sentido: o povo vão erra sob
a aparência do bem.
172-74 Cipião ... Fábio paciente: Cipião Africanus, o conquistador de Car-
tago, era também um intelectual que passou os últimos anos da vida no campo. O
cônsul Fabrício era o modelo da frugalidade romana (ver também Cii8 l.120), e
Quinto Fábio Máximo, o Cunctator, conseguiu defender Roma dos cartagineses
evitando a glória fácil e optando por uma táctica de defesa paciente. Através da
figura de Cipião Ferreira sugere, possivelmente, uma comparação com Sá de
Miranda mas, se o faz, é para insinuar que o herói romano, ao contrário do poeta
português, conseguiu combinar a vida activa com a contemplativa.
177 a si só somenos: ter uma opinião modesta de si próprio.
190 Marília: ao contrário de Sá de Miranda, que se apresenta nas suas poe-
sias como rigorosamente solitário, apesar de ter sido casado, Ferreira, menos
extremista, queria ter a companhia da mulher amada.
10
A D. Simão da Silveira
610
COMENTÁRIO
2-3 em quem Marte ... tome: é evidente que Ferreira considerava que
D. Simão era soldado, mas isto não consta das informações biográficas reunidas
por Askins nem por Caetano de Sousa (Hist. Gen., XII, i, p.223).
4-6 as vitoriosas... melhor parte: a sintaxe da frase é extremamente elíptica,
devido ou a um erro de impressão ou a falta de revisão da parte do autor. Castilho
disse deste trecho, "n'esse imbroglio pouco percebemos". Podemos parafrasear
assim: pondo a um lado (a de parte) as vitórias que ganhaste, espargido (espar-
zido) do teu sangue e com um espírito e uma intenção santos.
1O nas ... Musas: na presença das Musas.
l l se despeja: perde a vergonha.
16-18 pois arde ... claridade: Ferreira utiliza a imagística do fogo e da luz,
que continua em ll.25-7, para exprimir a sua admiração pela nova literatura clás-
sica e italiana (ver Ci 13 ll.43-5).
29 aceiro: aço.
32 piadade: assim aqui e em Cii2 l. l 11, mas a forma normal em Ferreira é
piedade.
35 humanidade: o poeta joga com os dois sentidos da palavra, a natureza
humana e o estudo das letras humanas, i.e., das letras gregas e latinas.
37 Minerva: deusa da sabedoria e, às vezes, da guerra. Não consta, porém,
que ela tenha sido a amante de Marte.
41-2 entanto ... bandeiras: mais uma vez, a ideia da vitória sem sangue que
611
COMENTÁRIO
o soldado virtuoso e instruído ganhará. Para outros exemplos, ver Cii8 11.58-9 e
!01-2.
44-5 ao pio ... companheiraf: tanto o troiano Eneias como o grego Aquiles
eram filhos de deusas, respectivamente Vénus e Tétis.
47 Ociosa: inútil, mas o substantivo ócio tinha para Ferreira uma conotação
positiva, o repouso de espírito necessário para a criação literária.
51 Hidra: monstro de muitas cabeças. Quando se cortava uma, nasciam
duas no mesmo lugar, mas Hércules, ajudado por um servo, conseguiu cauterizar
as feridas que fez na fera e matou-a deste modo.
55-60 Inda ... emparo: a admiração de Ferreira por D. Dinis, poeta e fun-
dador da universidade, testemunha-se também em Cii8 1.79, em Epit2, em Castro
11.224-7 e em Sii.33-4 que compôs, segundo o filho Miguel Leite Ferreira, no que
julgava ser o português da época do rei. emparo: amparo.
64-9 Quem ... peregrino: Ferreira fala também das relações entre Roma e a
Grécia em Cil0 ll.58-66. Quem não é necessariamente um pronome pessoal em
Ferreira. Aqui refere-se a arte e uso e também a ingenho (11.67-8)._Não é fácil
compreender a ligação entre os substantivos abstractos arte e uso, por um lado, e
ingenho, por outro, que neste contexto se refere a um ser humano, o poeta que é
"inflamado em novo fogo". Talvez se trate de um erro da parte dos tipógrafos de
PL, que teriam posto hum sô diuino/lngenho em vez de c'um sô. Assim, o sen-
tido de I .67-8 seria parecido ao de 11.115-21, onde Ferreira volta a explicar que
um indivíduo de génio, tal como Homero, juntamente com um ambiente de cul-
tura, ou uso, são necessários para o aperfeiçoamento de uma língua.
70-5 Os pastores... humanas: a crença segundo a qual a literatura pastoril
teve a sua origem num ritual religioso vem provavelmente de Sérvio, ln Vergilii
carmina commentarii, vol. III (i) p.1 .
85 trova: Ferreira, bom conhecedor da língua medieval, sabia que trova
deriva de trobar, palavra provençal que significava "achar", além de "compor
versos".
86 consoante: rima (ver supra).
87 téqui: até aqui.
90 arço: ardo.
102 Lasso e Boscão: Garcilaso de la Vega e Juan Boscán, que introduziram
os metros italianos na poesia castelhana.
106 Mântua e Esmirna: cidades onde nasceram respectivamente Virgílio e
Homero.
116 Ferrara ou Florença: cidades associadas com Ariosto, Petrarca e Dante.
120 só... diferença: é o "bom esprito", por exemplo, Homero (1.12 l ), que me-
lhora a produção literária feita numa determinada língua, aqui, a grega. Quando
tais indivíduos faltam, a literatura entra em declínio (11.122-3).
612
COMENTÁRIO
11
613
COMENTÁRIO
4-5 de infiéis ... recolheste: a bandeira é do conde, que ganhou muitas vitó-
rias sobre os infiéis.
36 arreceoso: receoso.
37 àquele fermoso fim: a bem-aventurança.
40-2 Manda ... empece: o sujeito de obedece e de conserva é o homem bom
descrito em 11.37-9. donde: de situações em que.
49-51 Mas ... deixam memória: possível alusão a Bernardo Rodrigues, que
começou a compor os seus Anais de Arzila à volta de 1560 (ver a ed. de David Lo-
pes, I, p.xi). A obra está inacabada e não descreve os feitos do conde D. Francisco.
52-4 Aquela ... figura: no espírito do poeta os conceitos de formosura , de
glória e de virtude são quase idênticos. À virtude é também associado o "bem
fazer", 1.62. Em 1.54 é necessário entender "se mostra e se dá". O significado da
frase é que só a virtude se reveste de beleza e glória.
58-9 alifante ... lião: elefante ... leão.
12
A Vasco da Silveira
A carta é notável pelas muitas palavras que nela aparecem pela única vez na
obra poética de Ferreira. Estas palavras são: roim, senador, quimera, entremês,
texto, tercetas, reto, aranha, estâmago, influências, inferior. O vocábulo senador
dá-nos uma indicação acerca da data da poesia, já que no Dictionarium latim-por-
tuguês de Jerónimo Cardoso o termo latim, senator, é dado como equivalente do
português desembargador (fol.44r). Ora, o nosso poeta foi promovido a desem-
bargador da Casa do Cível em 14 de Outubro de 1567 e, na carta, diz de si próprio
que é "senador grave chamado" (1.3). Ajustiça tem um papel importante na temá-
tica da carta, o que também sugere que Ferreira pensava nas responsabilidades da
sua nova posição.
614
COMENTÁRIO
O começo da carta faz melhor sentido se for lida como diálogo. A técnica
vem de Horácio, que a emprega frequentemente nas Sátiras, Livro II. O poeta é o
primeiro a falar. Repete as palavras dos seus detractores e faz uma pergunta a
Silveira. Podíamos ler li. 10-15 como a resposta do amigo, da qual a metáfora
militar se coaduna com a sua carreira como soldado. Depois Ferreira responde por
sua vez, 1.16, sendo o resto da carta um monólogo do poeta.
615
COMENTÁRIO
13
A Francisco de Sá de Meneses
1-3 Sofrera-se ... ouvia: é provável que a elegia seja a poesia em espanhol
"Buelve Philis hermosa a este llano" editada por Askins (1979) pp.73-5. Vertam-
bém o comentário de Askins, pp.243-4. O ataque à poesia amorosa indica que o
interesse de Ferreira por esse género literário tinha acabado já há muito tempo.
Sofrera-se: teria sido preferível.
14 diligência: palavra cuja significação, como a de diligente, varia segundo
o contexto. Aqui opõe-se a razão e, portanto, deve ser entendida negativamente,
equivalente a gula, ambição de dinheiro, etc. Para um exemplo do uso negativo
de diligente, ver Cii2 1.64.
15 Mercúrio: aqui, o deus do comércio, das feiras e dos ladrões.
21 quem: na linguagem de Ferreira, quem não é necessariamente um pro-
nome pessoal. Aqui refere-se a injustiça.
25 Magno ... Augusto: os indivíduos referidos são, provavelmente, Alexan-
dre Magno e os imperadores romanos Antonino Pio e Augusto.
616
COMENTÁRIO
Há várias indicações, referidas nas notas, que sugerem que Ferreira escreveu
alguns epitáfios históricos (nos. 6, 7 e 8) enquanto estudava em Coimbra, portanto,
na primeira fase da sua carreira como escritor.
617
COMENTÁRIO
A el-Rei D. Dinis
Ver outras referências a D. Dinis, a quem Ferreira admirava muito, nas notas
a Cii 1O 11.55-60 e à Castro 11.224-7.
2 cetro ... arado: com estes substantivos Ferreira resume certos aspectos da
carreira de D. Dinis. Ele é bem conhecido como rei (cetro), e poeta (livro). picão:
Rui de Pina ( 1945) pp. 322-3, faz uma lista dos muitos castelos que D. Dinis man-
dou construir ou reparar. espada: guerra com Castela ( 1295-97). arado: segundo
Rui de Pina, (1945) p. 162, o rei "defendeu e favoreceu muito os lavradores a que
chamou nervos da terra".
3 paz de reis: ver as notas à Castro 11.224-7.
7-8 regeu ... leu: com grande virtuosismo poético, Ferreira transforma os
substantivos de 1.2 em verbos. honrou as Musas: provavelmente uma referência
à fundação da Universidade.
3
A el-Rei D. João I
Ferreira refere-se a D. João I em Cii8 11.85-90, mas não tinha por ele a admi-
ração que sentia pelo pacífico rei D. Dinis.
1-2 Soberba ... história: será possível ler estes versos em sentido literal, por-
que no magnífico túmulo de D. João I, na Batalha, se lavrou, em pedra, um longo
epitáfio do rei, que foi transcrito pelo Cardeal Saraiva (1872) pp. 332-7.
6 estes reinos ganhou: na batalha de Aljubarrota ( 1385).
8 pranto ... dos africanos: na tomada de Ceuta (1415).
4
Ao !Jante D. Pedro, regente
O infante D. Pedro foi a única figura pública a quem Ferreira dedicou dois
epitáfios. Durante as regências da rainha D. Catarina e do cardeal D. Henrique era
618
COMENTÁRIO
5
Ao mesmo
4 por lágrimas de tantos: Duarte Nunes de Leão, pp. 854-5, explica como
D. Pedro, grande viajante, era bem conhecido fora de Portugal. Entre os admi-
radores que lamentaram a morte do infante e o enterro humilde incluíram-se não
só a filha, rainha de Portugal, mas também o Duque e a Duquesa de Borgonha e
o Papa, Pio II.
5 em prisão dura: ver Epit4 1.5.
6 meu neto e vingador: D. João II, neto do infante, nasceu em 1455, ano em
que os ossos de D. Pedro, a instâncias da rainha, foram levados de Abrantes a Lis-
boa e depois enterrados com toda a solenidade na Batalha (Rui de Pina, D. Affonso V,
vol. 2, pp.137-40). Durante o reinado de D. João II, em 1483, o Duque de Bragança,
cujo avô tinha sido um dos inimigos principais de D. Pedro, foi acusado de traição
e degolado em Évora. Rui de Pina considera a morte do duque uma espécie de vin-
gança (pp.109-10).
7 se quebraram sangue e leis: em Alfarrobeira estavam contra o infante os
irmãos e o sobrinho. Segundo a perspectiva de muitos escritores quinhentistas,
D. Pedro era inocente de qualquer crime.
619
COMENTÁRIO
6
A el-Rei D. João II
Tal como Epit.4-5, Epit.6-7 formam par (ver as notas a Epit7). Em Arqui-
gâmia, 1.445, há uma frase muito parecida com 1.3 do epitáfio, o que sugere que
ambas as poesias datam da mesma época, 1552.
l corpo santo ... santo: apesar dos muitos actos de violência praticados por
D. João II, o rei era considerado santo, principalmente porque o seu corpo não
apresentou sinais de decomposição quando, em 1499, foi exumado e transferido
para a Batalha. Ver "A trasladação do corpo dei-rei D. João II", em O livro das
obras de Garcia de Resende, obra editada pela primeira vez em 1545.
7
A el-Rei D. Manuel
Ao príncipe D. João
620
COMENTÁRIO
de 1552. A sua morte foi considerada um desastre nacional, a que Ferreira se refe-
riu várias vezes, em Ci l, Ecl2 e 7, E! I, etc.
3 a que ... mande: Ferreira tinha uma grande admiração pelo imperador. Ver
Oi2, 11.32-3 e o Epitalâmio, 11.113-8.
7 cobre ... cortado: para compreender a sintaxe de 11.l-7 é necessário ler I. 7
como se fosse 1. l. "Esta pedra" é o sujeito de "cobre", e "moço em flor cortado"
é o complemento directo.
8 podera dar: poderia ter dado.
D. João III morreu em 11 de Junho de 1557. Ferreira tinha pelo rei uma
admiração quase sem limites (ver Cil, Ci2 etc).
3-4 enquanto ... gente: a crítica das guerras entre cristãos, nas quais, durante
o reinado de D. João III, os portugueses nunca tomaram parte, é uma constante na
poesia de Ferreira.
7-8 pai ... letras: foi durante o mesmo reinado que a Universidade sereno-
vou em Coimbra.
10
621
COMENTÁRIO
poeta pode referir-se a um outro episódio curioso da vida de D . Vasco. Foi criado
Conde de Borba por D. João II, mas mais tarde D. Manuel tirou-lhe o título, por
ter dado a vila de Borba a D. Jaime, Duque de Bragança. Em 1500 D. Vasco foi
criado Conde de Redondo, título que o filho e o neto herdaram, mas até ao fim da
vida ele foi conhecido normalmente como Conde de Borba (David Lopes ( 1925)
pp.120-1 ). O tratamento inconsistente que o rei lhe deu pode ter criado ressenti-
mentos.
7 Leal contra seu sangue: em 1484 D. Vasco denunciou o irmão, D. Gu-
terre, por ter tomado parte na conspiração do Duque de Viseu contra D. João II
(Rui de Pina, D. João II, pp. 57-9). Como o poeta, a família dos Coutinho foi par-
tidária da Casa de Aveiro (ver Azevedo Cruz, I, 269n.), a qual teve origem em
D. Jorge, filho ilegítimo de D. João II.
11
7 tão casto: Albuquerque nunca se casou, mas teve um filho ilegítimo que
foi autor dos Comentários que Ferreira louva na Elegia.
12
A António de Sá de Meneses
622
COMENTÁRIO
13
Pais do poeta Pero de Andrade Caminha, faleceram entre 1553 e 1556 (Vas-
concelos (1982) pp.59-60). Ferreira menciona o facto de eles terem morrido no
mesmo dia também em EIS 11.88-90. Outras poesias dedicadas a membros da
família de Andrade Caminha são Epit17, Epigl e Oii 2 e 4.
14
A Diogo de Betancor
Para Betancor, e a data da sua morte (à volta de 1558), ver as notas à Ci 11.
O epitáfio faz lembrar a sestina de Castro (li. 1526-64), em que Ferreira joga tam-
bém com os dois sentidos de vida (vida temporal e vida eterna) e de morte (morte
física e morte moral).
15
A D. Ângela de Noronha
Ver Sii22.
16
À mesma
Ver Sii22.
17
A D. Ana de Toar
623
COMENTÁRIO
objecto de Sii23. Morreu em data desconhecida, mas depois dos pais (ver 1.6 e
Epitl3). Ferreira dedicou Epigl a uma outra irmã do poeta e Oii2 e 4 aos irmãos
Gaspar (provavelmente) e Afonso Vaz.
2 no ponto ... desatou: a vontade foi o ponto que a alma desatou, o que signi-
fica que D. Ana optou por uma vida santa, em que a vontade não tinha parte. A ima-
gem da costura continua 11.3-4.
18
A Maria Pimentel
O epitáfio forma par com o que se lhe segue. Para Maria Pimentel, ver EIS.
19
À mesma
Nesta bela poesia, a última do Livro dos Epitáfios e de toda a parte não-
-dramática de PL, Ferreira cria uma situação altamente emocionante, que faz lem-
brar a visita de Sta. Maria Madalena ao túmulo de Cristo e o seu encontro com o
Senhor ressurecto. Tratou o mesmo episódio da história bíblica em El9. Com efeito,
o "Que choras?" de 1.1 é uma tradução da pergunta repetida do anjo e de Jesus a
Madalena enquanto ela estava fora do sepulcro (Mulier quid pioras? S. João 20.13
e 15) e, além disso, em 1.3, a instrução "Revolve a pedra" retoma as palavras que
o próprio poeta atribui à santa na narrativa incluída na elegia, 11.49-50. Assim ele
teria tentado suavizar a sua dor depois da morte da esposa, comparando Maria
Pimentel, implicitamente, ao próprio Cristo ressuscitado. O poeta não continua a
comparação até ao final da poesia, pois 11.5-8 indicam que o corpo de Maria ainda
fica na sepultura, mas diz o suficiente para convencer o leitor da natureza quase
religiosa dos seus sentimentos para com a mulher.
624
COMENTÁRIO
CASTRO
625
COM EN TÁRIO
Disto tudo se pode concluir, com alguma probabilidade, que a primeira ver-
são de Castro (editada por Manuel de Lira em 1587) foi escrita nos anos 1553 e
1554. Mas quando foi que o poeta reviu a sua tragédia, dando-lhe a forma muito
mais apurada da versão incluída em PL? Aqui também só há incertezas, mas incli-
namo-nos a pensar que tenha sido nos anos a seguir à sua estadia em Coimbra. Foi
em três poesias escritas entre 1557 e 1559 que começou a aflorar um interesse pela
história portuguesa que dificilmente se encontra na obra anterior (Cii3 11.93-156,
Cii8 ll.74-105, CiilO 11.22-60). A história pátria forma uma parte importante tam-
bém das tiradas de Inês e de Pedro que Ferreira compôs para o novo Acto I da
tragédia (11. 36-50 e 216-27), facto que nos dá uma indicação, pelo menos, da sua
data. Uma figura histórica que o poeta muito apreciava era D. Afonso Henriques,
a cujo reinado se refere duas vezes em Castro (li. 36-40 e 880-87), em Cii3 e Cii8,
e em outras poesias cuja data não se conhece (para uma listagem completa, ver as
notas a Oi8). O interesse de Ferreira pode ter tido a sua origem numa iniciativa dos
cónegos de Santa Cruz de Coimbra, que em 1556 conseguiram que D. João III se
interessasse pela canonização do primeiro rei de Portugal (Brochado, pp. 312-14 ).
Contudo, é forçoso lembrar que o segundo passo da tragédia em que se fala de
D. Afonso Henriques (11.880-87) pertence a ambas as versões de Castro e deve ter
sido escrito antes de 1556. Mas, mesmo assim, há indicações suficientes para con-
cluir que Ferreira começou a rever a tragédia depois daquela data.
ACTO I
.
1-11 Colhei ... vozes: A tragédia abre com um pequeno monólogo lírico pro-
nunciado por Inês em versos não rimados de 6 e 1O sílabas. A Octavia de Séneca
começa também com um monólogo lírico da heroína, a que se segue um diálogo
com a Ama.
14 ajuda-me ... prazer: exceptuando as odes corais, e o monólogo intro-
dutório de Inês, o verso empregado em Castro é o decassílabo não rimado. Mas
de vez em quando, para variar, o poeta introduz versos só de seis sílabas, como
em 11. 14, 15, 202, 207 etc.
36-46 Daquele ... estrelas: os verbos principais deste período complexo são
"rege e manda", 1.41, o sujeito é "o bom velho .. .Afonso quarto", 11.42-3, e o com-
plemento directo "o real ceptro", 1.38. Daquele grande Afonso: D. Afonso Hen-
626
COMENTÁRIO
riques, primeiro rei de Portugal, cujo ceptro foi herdado pelos sucessores. alçado
entre armas, ant'imigos: exactamente a mesma frase ocorre em Epitl 1.2.
43 Salado: vitória luso-castelhana ( 1340) contra os mouros. O exército por-
tuguês foi comandado por D. Afonso IV.
45 grã: Com grande o verso teria onze sílabas (Sousa da Silveira e Roig).
A forma grã é muito frequente em Ferreira: só no Acto Ide Castro aparece sete
vezes.
52-4 na viva flor... fogo: A Inês histórica veio, com Costança, de Aragão
para Portugal. Ferreira, porém, finge que ela tinha amado Pedro antes do casa-
mento do Infante.
62 armas e furor: a guerra entre Portugal e Castela ( 1336-40) que se travou
depois do casamento por procuração de Pedro e Costança. O rei Alfonso XI de
Castela, inimigo do pai de Costança, recusou-se a permitir que ela atravessasse
território castelhano, recusa que provocou a guerra.
70-1 nascimento... parto: D. Fernando, o futuro rei de Portugal, nasceu em
1345.
90 Ele... ira: subentende-se um verbo como "causar": "Ele causa cuidado à
molher, eu causo ódio e ira" (Sousa da Silveira).
92 nem ... nada: este verso explica-se por 11.93-6. Ninguém ousou descobrir
(= desmascarar) Inês, nem vedar-lhe(= proibir) nada, porque era de estirpe real,
neta, pelo ramo bastardo, de Sancho IV de Castela.
103-4 que me ... grande: passo de interpretação difícil. Há 3 possibilidades:
1. O texto é defeituoso, faltando a preposição "a" antes de "esta". A construção
"chamar alguém a q.c." é frequente em Ferreira (Sousa da Silveira). 2. "Esta gló-
ria" é o complemento directo e "me" o complemento indirecto. Assim não será
necessário emendar o texto, mas a contrução é menos típica do poeta. É a solução
adaptada na tradução de Roig. 3. "Que", l.103, tem valor causal. Assim a frase
significaria: "Fortuna quebra o nó, porque esta glória ...já me chamava".
106 Leva ... triste: Costança morreu em 1345.
11 O penhores: os filhos de Inês.
112-3 trabalham apartar: trabalham por apartar (ver Ci12, 1.63).
132 tégora: até agora.
147 quando: tem valor condicional.
171-2 do alto estado ... doce: o nome de Inês faz doce o alto estado que o
Infante espera.
184 a culpa empece ao fado: torna pior. A Ama, ao contrário de Pedro, não
acredita no poder absoluto do destino e sabe que as pessoas estão livres para dis-
por das suas vidas em conformidade com a moral.
209- I O a prometida ... mandaste: a fé prometida àquela a quem já de lá me
mandaste dá-la.
627
COMENTÁRIO
216-27 Quanto tempo ... letras: Afonso III, quando príncipe, casou com a
Condessa Matilde de Bolonha e mais tarde, ainda em vida de Matilde, com
Beatriz, filha natural de Alfonso X de Castela, da qual houve D. Dinis.
218 que novas ... quinas : a conquista do Algarve por D. Afonso III .
226-7 paz ... tirou: em 1304 D. Dinis actuou como mediador numa disputa
entre os reis de Castela e de Aragão acerca da posse do Reino de Múrcia (ver Rui
de Pina, Crónica de D. Dinis, pp.225-32). Para outras referências a D. Dinis ver
Cii 1O 11.55-60.
238 Cada um ... vontade: não há qualquer ligação expressa entre este verso
e os que o procedem, de maneira que é necessário subentender uma frase como
"pois, nestas circunstâncias" antes de l.238. O sentido será: pois, nestas circuns-
tâncias, cada um se deixaria levar pela vontade.
239 a água: o artigo parece necessário, porque todos os outros substantivos
de 11.239-40 o têm (Sousa da Silveira).
242-5 este no amor... armado: passo difícil pelo duplo sentido que se dá à pala-
vra amor, como reconhece Sousa da Silveira. Ao contrário dele, porém, julgamos
que é só em l.242 que se refere ao amor paixão. Segundo o crítico brasileiro, 1.244
significa: "o amor (paixão) não sofre a razão, a virtude não sofre a lisonja". A tran-
sição deste amor para o amor que o Secretário diz que sente por D. Pedro em l.245
parece demasiado abrupta: seria preferível entender l.244 como "o meu amor pelo
Infante não sofre que ele continue no erro de acreditar que o amor (por uma mulher)
se possa combinar com a razão, e a minha virtude não me permite lisonjeá-lo".
258-71 a tão grã força ... vida: O Secretário e o Infante desenvolvem o
velho conceito segundo o qual a alma do amante reside com a da amada.
260 dar-ta: a sugestão de Sousa da Silveira é confirmada por BLib.
265 à fortuna: sugestão que vem de Sousa da Silveira. Nem PL nem BLib
são consistentes em distinguir o artigo da forma combinada com a preposição a.
270 homem: é o pronome indefinido, equivalente a "uma pessoa".
281 o menor deles: o menor dos segredos (Sousa da Silveira). Não há razão
para emendar para "a menor delas", como quer Teyssier ( 1993) p.461 .
282-4 Duma parte ... devo: existe uma oposição nestes versos entre o dever
próprio de um secretário de ser discreto, e o dever de um conselheiro que é o de
aconselhar.
332-45 Aquele claro sangue... acatamento: nestes versos, o Secretário refere-
-se, em termos bastante vagos, ao que considera ser o baixo sangue de Inês e ao
comportamento arrogante dos seus parentes. Se se lê o passo correspondente de
BLib, vê-se o cuidado do poeta em eliminar da versão revista pormenores políti-
cos e históricos degradantes.
362 o por que: aquilo por que (Sousa da Silveira).
367-76 Eu não sou ... mistérios: trecho que revela a arrogância do infante.
628
COMENTÁRIO
Nas suas cartas Ferreira insiste sempre na humanidade dos reis (ver, por exemplo,
Cii 1 11.58-9 e 133-5).
379 real. .. dina: ver a nota a 1.92.
401 Confio ... descubras: como nota Sousa da Silveira, neste verso o Infante
dirige-se ao Secretário.
403 merecera: merecesse.
408 Sigue: segue. É uma forma do imperativo (Sousa da Silveira), que se
encontra também no soneto editado em Apl (i) 1.10. O infante continua, 1.410, pelo
que se sabe que ele quer que a sua razão siga a sua vontade (e não o contrário),
i.é., ele confessa ser uma pessoa governada pelas paixões.
412 Mas sirvo: a significação da resposta elíptica do Secretário é "sim,
quero mandar nele, mas assim o sirvo", porque a obrigação dos conselheiros é de
aconselhar.
418 Eu ... deles: é de presumir que estas palavras são acompanhadas por um
gesto de violência. O Infante volta a ameaçar o Secretário uma outra vez, l.480.
423 d'alma, d'honra: a leitura de BLib indica que o apóstrofo representa o
artigo definido.
430 Não te declararás: não tens a coragem de admitir que és pecador (e,
como consequência, de rejeitar Inês)?
450 a fermosa alma: Sousa da Silveira sugere "à fermosa alma", mas a
leitura de PL parece certa. Tendo omitido o artigo antes de "tão fermoso corpo",
o poeta omitiu-o também antes de "fermosa alma/tão santa", assim mantendo o
equilíbrio da frase .
477 o esprito: a ausência do artigo em PL parece erro, suposição que é con-
firmada pela leitura de BLib.
481 Quem governara: quem governasse. O conjuntivo exprime um desejo
da parte do Secretário.
Coro: As duas odes corais são parecidas metricamente, mas não idênticas.
A primeira tem 4 estrofes, de 1O versos, com o esquema de rima abCabCbdbD.
A segunda tem 8 estrofes, de 9 versos, com este esquema: abaBaccdD. Ferreira
trabalhou muito nestas odes, que na sua forma definitiva são bastante diferentes
das da versão de 1587 (ver Ap2 (ii)). O Coro 1, em louvor de Amor, é uma com-
posição inteiramente nova, que faz um contraste temático com o Coro 2, para o
qual o poeta aproveitou o material contido na ode primitiva, que reescreveu, abre-
viando-a. Conservou intactos só 5 versos, que transpôs para o Acto IV, ll.1574-8 .
No fim do Acto I da tragédia Orbecche de Gian Battista Giraldi Cinzio há
um coro em louvor do amor. Para a possível influência desta peça ver também a
sestina do Acto IV.
489-92 Aquela ... gera: a terceira esfera era de Vénus, deusa do amor, que
nasceu no mar.
629
COMENTÁRIO
ACTO II
595-616 Ó cetro... prometem: as ideias que o rei exprime nesta fala encon-
tram paralelo em várias tragédias senequianas (Castro Soares ( 1983-84) pp. 342-3).
A negatividade de D. Afonso IV forma um contraste nítido com as atitudes posi-
tivas que Ferreira tenta inculcar no jovem rei Sebastião em poesias como Cii 1.
616 perigos nos prometem: é de presumir que o rei comece a falar sozinho.
Mas Coelho e Pacheco entram em cena oportunamente, para ouvir pelo menos as
últimas palavras do monarca.
617 COELHO: Roig nota que a abreviação C., utilizada em PL, representa
Coelho (ver a ed. de Roig, pp. 77-86). Todos os outros editores modernos caíram
no erro absurdo de supor que significasse os dois conselheiros, falando juntos
como se constituíssem um coro.
619 à que: sugestão de Sousa da Silveira. Ver a nota a 1.265.
636-9 atalhar... atalhando: na linguagem de Ferreira, são vários os verbos
que podem ser seguidos, ou não, pela preposição a, como vencer, danar etc, além
de atalhar.
630
COMENTÁRIO
631
COMENTÁRIO
632
COMENTÁRIO
896-90 l Quantas vezes ... arder: Rui de Pina menciona pelo menos duas
ocasiões, em 1323 e 1325, em que a rainha santa Isabel interveio entre D. Dinis e
o filho (Crónica de D. Dinis, pp.293-5 e 311). tornava arder: a omissão da
preposição depois de tornar é frequente em Ferreira: ver Ci4 1.29, Si55 1.13 etc.
ACTO III
926 que veja eu: de modo que veja ou para que veja (sugestões de Sousa da
Silveira).
928 arraiados: arreados.
935 já: em PL falta uma sílaba ao verso. Por isso, a leitura de BLib parece
preferível.
945-71 Cansada ... tanto: há narrações de sonhos em mais de uma tragédia
de Séneca, em Troades, 11.438-60 e Octavia, ll.115-24. Nesta última, a heroína
fala com a Nutrix (ama). Também não falta um sonho em Johannes Princeps, 11.
48-90. O sonho mais parecido com o de Inês talvez seja o de Storge em Jephthes,
tragédia novilatina de Buchanan que Ferreira podia ter conhecido (ver Watson, p. 76
e a ed. de Castro de Martyn, pp. 139-40).
955 co'a alma: a sugestão vem de Sousa da Silveira. Aqui, como frequen-
temente, o artigo é empregado em vez do possessivo.
957-62 Nisto... rasgavam: em PL, o sonho está muito melhor integrado na
acção da peça do que em BLib.
979 dera: daria.
986-8 pera ... representavam: para nela gozar (lograr) dos enganos que se
me representavam ao sonhar com o infante, o que parece ser o sentido implícito
de com ele.
l O12-13 Como estará... temo: Castro sente-se culpada, perante Deus, por ter
sido a amante do Infante durante a vida da sua primeira mulher. Mas esse sentimento
de culpa é muito mais intenso em BLib, onde fala do escândalo que causou e do seu
temor da justiça divina. Em PL, portanto, a transição para os protestos de inocência
de Castro, do final do acto, é muito menos abrupta. a alma: a sugestão vem de Sousa
da Silveira. Aqui, como frequentemente, o artigo é empregado em vez do possessivo.
1014-27 Dos secretos ... vê: nas palavras da Ama acerca do valor da cons-
ciência individual Watson vê uma crítica disfarçada à Inquisição e aos processos
movidos contra os professores do Colégio das Artes (p. 75). Mas Ferreira repete
a mesma ideia numa poesia escrita mais tarde, em 1559, Cii 11, 11.52-66.
1019 d'alma: o sentido é "esta é boa prova [da inocência] da tua alma".
A mesma frase vem em EIS 11.100-1.
1022-3 com que ... santamente: alude ao matrimónio clandestino que D. Pe-
dro, depois de subir ao trono, afirmou ter contraído com Inês (Sousa da Silveira).
633
COMENTÁRIO
1024-5 com mor seguro ... este: com maior segurança ... este refere-se a tempo.
1040 1-vos, i-vos: ide-vos, ide-vos. É a forma normal em Ferreira. Ver Cas-
tro l.769, Cil3 1.106 etc.
1057 está: o sujeito implícito é o infante.
1093 parte: segundo Teyssier ( 1993) p.464 significa "la part qu 'ils pren-
draient à ton mauvais destin", mas na realidade o sentido é menos preciso, "qual-
quer parte" . Há uma frase parecida em Écl 1 1.102.
1104-5 como não creste ... sabias: como, crendo e sabendo o mal, te descui-
daste dele? (Sousa da Silveira)
Coro: as duas odes corais têm o mesmo esquema métrico que as do Acto II.
Ver as respectivas notas. Na primeira ode o Coro tece uma série de reflexões
gerais, exactamente como no Acto II . As ideias que expõe são lugares-comuns da
literatura clássica, mas tem sido difícil encontrar uma única fonte para elas. A te-
mática da segunda ode está mais estreitamente relacionada com a acção da peça,
tal como acontecia com a segunda ode do acto anterior.
1124-5 üa hora ... algü'hora : em 1.1124 hora é substantivo; em 1.1125 faz
parte de um adjunto adverbial. O uso da mesma palavra em categorias gramati-
cais diferentes é um recurso estilístico muito frequente em Ferreira.
1129-31 a que... veias: "cavar nas veias" está dependente de "a que correndo
vão" .
1154 d'alma: a sugestão de Sousa da Silveira de que o apóstrofo represen-
ta o artigo é confirmada pela leitura de BLib. É natural que alma tenha artigo, já
que vida e honra também o têm.
1155 que ... põe: "o amor põe em noite escura a alma, de sorte que esta não
vê o claro dia" (Sousa da Silveira).
1174 há piadade: tem piedade (a frase é repetida em 1.1205).
1181-2 Crueza... partir: subentende-se em antes de partir.
1192 pola falta do sangue: este verso, omitido em BLib e na Nise lastimosa
de Bermúdez, mas restaurado em PL, é uma das provas mais claras de que
Ferreira foi o autor original de Castro. Ver a ed. de Roig pp. 31-3.
1200 cortar a: a leitura de PL e de BLib é inusitada, mas há um outro exem-
plo em Cii8 1.45. Em PL a maneira normal de grafar o pronome enclítico quando
precedido pelo infinitivo varia entre -1- e -II-: por ex., apaga/o (Cil2 1.8) e amalla
(Si 27 l. 7).
ACTO IV
1219 Esta ... vem : é de presumir que Inês entra em cena enquanto o rei e os
conselheiros estão a conversar.
634
COMENTÁRIO
1240-4 Escusaras... acusaram ... fora ... tomara: podias escusar... acusas-
sem ... iria ... tomaria.
1243 quando: tem valor condicional.
1271 téqui: até aqui.
1272 vê-los: tu os vês (Sousa da Silveira).
1279 sóis: costumas. É a segunda pessoa do singular do presente do indica-
tivo do verbo soer (Sousa da Silveira).
1286 d'alma: a sugestão de Sousa da Silveira de que o apóstrofo representa o
artigo é confirmada pela leitura de BLib. O artigo usa-se aqui genericamente.
1287 o Deus: está aposto a ele, 1.1285.
1288podendo-o: a sugestão vem de Teyssier (1993) p. 466. Ver 1.755.
1290 assi o fazes: aqui Castro volta a dirigir-se directamente ao rei. Segundo
Roig, falta uma sílaba ao verso. É verdade que a regra normal de Ferreira era de
elidir o -i- final de assi antes de um -o- inicial. Há um exemplo desta tendência
mesmo em 1.1291. Porém, há hiato em Sii32 1.10, "meu Betancor! Assi o mere-
cia". É de presumir que haja um hiato desejado pelo poeta em l.1290, tanto mais
que se trata de uma reescrita do passo correspondente de BLib.
131 O mais que ... morte: mais que, unicamente, a morte.
1317 Se me [... ] não: Sousa da Silveira nota que o verso tem uma sílaba a
mais. A solução da dificuldade é a adopção da leitura de BLib.
1325-6 quisera ... fora: teria querido ... fosse.
1333 todo o reino: ver l.755.
1337 necessária: Sousa da Silveira interpreta necessário como "um neutro,
equivalente a coisa necessária", mas a explicação é forçada, e faltam paralelos em
PL. As palavras que cita de Fr. Tomé de Jesus não ajudam o seu argumento.
Necessário não será um erro, de PL e de BLib, causado pela proximidade do remé-
dio masculino? Para outros exemplos das formas masculina e feminina de neces-
sário em verso adjacentes, ver Castro 11.1450-1 e Ci6 ll.22-3 .
1355 ouvirá: a leitura de BLib é metricamente superior à de PL, em que o
acento principal cai na 5ª sílaba. Em termos de sentido, tanto ouvira como ouvirá
exprime as dúvidas de Castro.
1360-1421 : Que te posso... mereço: Castro Soares (1983-84) p. 337 estabe-
lece um paralelo entre esta fala de Inês e a de Medeia para Creonte em Medea de
Séneca, ll.203-51. Para uma análise dos recursos retóricos utilizados por Ferreira,
ver a ed. de Earle pp. 20-5.
1376 defenderas-mo... obedecera: se mo tivesses defendido (proibido) ...
teria obedecido.
1381 em mim ... pede: verso problemático, por causa da métrica. Escandindo-
-o assim: "eml miml maltasl ai elle: lellel pelde" tem dois hiatos, um entre as sílabas
5ª e 6ª e o outro entre a 6ª e 7ª. Se adoptarmos a leitura de BLib e de Roig, "ele te
635
COMENTÁRIO
pede", elimina-se o hiato entre ele: ele, mas este parece menos chocante, já que
as duas palavras estão separadas por uma pausa, indicada pela pontuação.
Contudo, é necessário manter o hiato entre a ele para que o acento principal do
verso caia sobre a primeira sílaba, tónica, de ele, mesmo admitindo que, em situa-
ções parecidas, o poeta normalmente elide a, excepto talvez num verso metrica-
mente ambíguo, Cil 1 1.165.
1392 naquele... causa: naquele amor que é a causa desta minha morte.
1406 Estes ... sempre: Roig traduz: "vous n 'en a vez pas connu d 'autres".
1428-9 estranhas... filho: estranhas que uma mulher (Castro) vença o teu filho.
1439 chora-m' a alma: a sugestão vem de Sousa da Silveira. Aqui, como
frequentemente, o artigo é utilizado em vez do possessivo.
1454 cometeras ... cuidaras: cometesses ... cuidasses, porque Coelho exprime
um desejo. 1455 porque não vieras: para que não viesses.
1468 salvas-lh' a alma: a sugestão vem de Sousa da Silveira e parece con-
firmada pela leitura de Blib.
1472 teu neto: isto é, o neto legítimo de D. Afonso IV, Fernando, filho de
Pedro e de Costança, mais tarde rei de Portugal. Ver também 1.1489.
1494 que ... movam: a frase depende sintacticamente de pedimos 1.1484.
1522 passam: matam.
Coro: é uma sestina, a única que Ferreira compôs. A palavra sestina não
aparece em PL nem em BLib, mas a disposição tipográfica dos versos indica que
os editores quinhentistas sabiam de que género poético se tratava. O mesmo não
se pode dizer da maioria das edições modernas, como nota Roig (ver ed. de Cas-
tro, p.59n.). Há uma análise da sestina na mesma edição, pp. 59-61. Cada uma das
seis estrofes tem seis versos, que acabam sempre com uma das palavras seguintes:
amor, olhos, morte, vida, nome, terra. Estas palavras finais nunca ocupam a mesma
posição de estrofe para estrofe. O remate da poesia é uma estrofe só de três ver-
sos, em que aparecem todas as seis palavras finais .
No fim do Acto III da tragédia Orbecche de Gian Battista Giraldi Cinzio
(lª edição em 1543) há uma sestina, cujas estrofes se dividem entre o Coro e a
Nudrice (Ama).
1527-8 tiveras ... morreras: tivesses ... terias morrido.
1562 nuns sós olhos: só nuns olhos.
Sáficos: a métrica desta ode coral é distinta da das odes sáficas dos Actos II
e III, já que falta a divisão em estrofes e o verso adónico (de só 4 sílabas) aparece
só esporadicamente (ll.1588 e 1602). Existe uma ode parecida nas Troades de
Séneca, 11.814-60.
1565 Choremos todos: o coro é constituído por "moças de Coimbra". Po-
rém, o masculino todos justifica-se aqui porque o coro se dirige ao público ou até
a todos os seres humanos (Teyssier (1993) p. 473).
636
COM ENTÁ RI O
ACTOV
637
COMENTÁRIO
APÊNDICE 1
(i) Soneto
Este soneto, dedicado, como é evidente, a D. Sebastião, não vem em PL. Foi
publicado pela primeira vez, com atribuição a António Ferreira, em Diogo de
Teive, Epodon sive iambicorum carminum libri tres (Lisboa, 1565), fol.49v. e
numa edição posterior da mesma obra com a data de 1786 ( ver Brandão (1969)
pp. 975-6 e Roig (1970) pp. 31-3). Têm as abreviaturas de T(1565) e T(1786).
Como diz Roig, é a única poesia de Ferreira editada durante a vida do poeta.
Brandão crê que o soneto (juntamente com um outro soneto desconhecido de An-
638
COM ENTÁRI O
drade Caminha) foi escrito para acompanhar as Sententiae de Teive, tratado moral
bilingue dedicado a D. Sebastião que ocupa fois I v.-49r. dos Epodon . A existên-
cia da poesia liminar não prova, porém, que Ferreira tenha traduzido a obra do
mestre (Roig, pp. 32-3). Não se sabe se as Sententiae e as poesias que as acom-
panham são de 1565 ou de um ano anterior.
8 nuve: nuvem. A forma não aparece em PL, mas é atestada em outros tex-
tos da época.
10 sigue: segue. É uma forma do imperativo. Ver também Castro 11.408 e 410.
(ii) Epigrama
Esta poesia foi editada pela primeira vez em 1771, na segunda edição de PL,
vol. 1, pp.38-9, e também em 1791, nas Poezias de Andrade Caminha, p. 359. (Abre-
viaturas: PL( 1771) e AC. Ver também a ed. de Anastácio, p. 668). As duas versões
diferem pouco, porque derivam da mesma fonte manuscrita, a do Duque de Cada-
val. Aqui segue-se a edição de 1771. Tanto em 1771 como em 1791 o epigrama de
Ferreira vem precedido do epigrama de Andrade Caminha a que é uma resposta.
(iii) Elegia
A elegia não aparece em PL. Foi publicada pela primeira vez em 1595 nas
Obras de Sá de Miranda, fól s 56r.-59r., onde vem assinada, e mais tarde, com
639
COMENTÁRIO
Como é normal nas elegias fúnebres, o poeta oscila entre a expressão da dor
humana ocasionada pela morte de Gonçaço Mendes de Sá e a confiança na vida
eterna de que disfrutará o jovem soldado. Contudo, a ambiguidade é muito mais
evidente em El2 e El5, poesias escritas sob a influência de uma forte dor pessoal.
É visível o estoicismo no retrato de Sá de Miranda de 11.31-51, em que estão
atribuídas ao poeta três das quatro virtudes estóicas, a fortaleza, a temperança e a
prudência.
640
COMENTÁRIO
APÊNDICE 2
Quando Ferreira reviu a sua tragédia, foram muitos os versos que omitiu ou
reescreveu. No Apêndice reimprimem-se os textos mais longos que ele não quis
reter.
Em 1587, o Acto I abriu com uma tirada do Infante de 101 versos. Como se
sabe, a versão definitiva começa com um diálogo entre Inês e a Ama, mas Ferreira
aproveitou uma parte da fala de Pedro, transpondo-a para a Cena 3 do Acto I e a
Cena 1 do Acto V, conforme o esquema que se segue. Os versos da ed. de 1587
estão numerados segundo a ed. de Roig, pp. 94-103
641
COMENTÁRIO
Na ~.ersão definitiva Ferreira modificou muito estas odes corais (ver as notas
ao Coro do Acto I de Castro) .
Este trecho, também de mea rithma, com que o Acto V se abriu em 1587,
foi inteiramente omitido da versão definitiva. Há uma discussão da tirada na ed.
de Roig, pp. 62-4.
APÊNDICE 3
Janius
642
COMENTÁRIO
foi editada em Martyn ( 1998) como sendo de André de Resende (pp. 334-7), mas
o editor não apresenta nenhuma razão que justifique tal atribuição. Na nossa trans-
crição modernizou-se a ortografia, conservando embora o J inicial de Janius . Nas
notas apontam-se vários erros métricos, alguns dos quais são provavelmente da
responsabilidade do autor anónimo.
643
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Augusto Ferreira do Amaral, História de Mazagão (Lisboa: Alfa, 1989)
1
Ver la Tragédie " Castro" d'António Ferreira, pp. 69-75
2
Ao longo do século XX têm aparecido várias edições de Castro , de fins meramente divulgativos. que
não estão alistadas na bibliografia.
3
Tal como no caso de Castro , durante o século XX têm aparecido antologias dos Poemas Lusitanos, de
fins divulgativos. que não estão alistados na bibliografia.
646
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655
ÍNDICE DE PRIMEIROS VERSOS
657
ÍNDICE DE PRIMEIROS VERSOS
Claríssimo Luís, a nova vida .. ...... ............................ ..... .... .. ... ... .......... .. .... ............... ..... ..... .... 140
Claríssimo marquês, em cujo esprito .................. ........ .. ...................... ............. .... ........... ....... 88
Co' a alma nos céus pronta, o esprito inteiro ................. ..... ........... .. ............ ..... .......... ... ......... 83
Com que mágoa, ó Amor, com que tristeza. .......................... ............... ....... .. ....... .......... .... ... 80
Constantino, tu vás provar tua sorte ...... .. .................... ... ..... .................................. ..... ..... ....... 347
Correndo os prados vai, correndo os montes........... ......... ............ ...... .................. ....... .......... 148
Daquela vista, de que se mantinham ... ..... ...... .. ................ ... ...... .... .. ...................... ..... ...... ...... 69
Darei choros ou cantos à tua morte ................... .. ...... .................. ........................................... 135
Das brandas Musas dessa doce terra ............................ ............... .. ............. ......... .... ... ......... ... 292
De Lícidas e Ménalo pastores .......... ........ .. ....... ........ .................. ......... .. .... ..... ...... ... .. ... .. ...... . 189
Desfeito o esprito em vento, o corpo em pranto ....... ........... ....... .................................. .. ....... 85
Despois de cinco lustros, já aquela hora .. ..... ....... .................................... ............. ..... ... ......... 97
Despois qu' o meu esprito, então só claro......................... ... .. ............................................... 69
Despojo triste, corpo mal nascido ............... ..... ....... ...... ... ..... ....... ...... ............................ ... ..... 80
Deste meu peito são em teu são peito ......... ..... ... ............. ..... ... .. ......................................... ... 279
Diante do cutelo riguroso .. .. .. .. .. .. ......... ......... ......... ................................. .. ...................... ....... 100
Dizem que antigamente o céu caía ................. .......................... .............................. ........... ..... 105
Do antigo Portugal , da grã Lisboa ............................. ............................................................. 344
Do bárbaro tirano os cruéis amores. .......................... ...................... .......................... ............ . 239
Doce amor novo meu tão bem tomado ................ .... .... ...... .. ........ ...... .. .. .. .. .. .. .. .... .. .. .. .. .. .. .. .... 65
Dom Simão da Silveira (este só nome .................................... ..................... .......................... 357
- Donas, quem sois? - Ciência, honra, bondade................................................................. ... 374
Donde tomou Amor, e de qual veia ............... ..... ......................... ....................................... ... 58
Do que em vós vi, senhora, me presenta..................... ........................................................ ... 76
Dos mais fermosos olhos, mais fermoso .................................. ................... ... ... ... .... ... .. ... .. .. .. 51
Dos segredos reais segura guarda ........................................... ......... ............... ,....................... 256
Eis nos torna a nascer o ano fermoso ........................................................... :."........................ 128
Eis o mar, eis o vento, espanto e medo .................................................................................. 97
Em dia escuro e triste fui lançado .... ............. ...... .. ..... .. .. ...... .. .. .. .. .. ... .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ... .. .... .. .. .... 64
Em duas partes deixei lá partida ............................................................................................. 90
Em paz e em guerra üa esperança grande ... .............. ........ ..... ............. .......... ................ ...... ... 373
Enquanto solto ao sol brando ar movia.. ................................................................................ 60
Enquanto tu lá, Andrade, os votos santos .. .. .... ... ... .. ... .. ... ..... ... ........ .. ... .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .... .. .. .. .. . 90
Entre tantos negócios e tão graves ..... ............... ............. .... ... ......... .................. ....... ..... ......... . 319
Era alta noite, quando descansava .......................................................................................... 151
Escreve, Dom Diogo, escreve e canta ....... .. ............................................ ............................... 89
Espritos coroados da vitória ............................................ .............. .... ........ ............................. 101
Estas cinzas aqui, chorando, encerra.. .............................. .. ........................ .............. ............ .. 84
Estava Amor seu arco guarnecendo ................ ................. .......... ...... ........ ................. ............ . 227
Este peito, que está de fogo cheio ............................................ .............................................. 63
Este último favor só me concede.............. ............................ ............... ............ ................ ...... . 216
Eu não canto, mas choro, e vai chorando.............................. .. ...................................... ......... 50
Eu vejo arder teu peito em nova glória ... .... ........................ .. ..... .. .. ............ ................. ... ...... .. 88
Eu vejo inda aqui os sinais das águas ... .. ...... ... ..... ..... ......... ..... .. .. ............ .. ....... ...... ....... ... .... . 72
Eu vi em vossos olhos novo lume ... .............................................. ........ ...... ........ ....... ...... ..... . 65
Fez força ao meu intento a doce e branda ....... ...................... .............. ... ............................ .... 303
Filho segundo dei-rei João primeiro................ ............ ..... .......... ... ................... ...... ................ 372
658
ÍNDICE DE PRIMEIROS VERSOS
Fogem, fogem ligeiros ... .. .. .. ... .. .. .. .... .......... .... ........... ..... .................. ........ ..... ........... ..... ...... .. 122
Forjava em Lemno com destreza e arte................. .......... ................ ....................................... 106
Fuge o vulgo profano............. .................................................. ........ ............................... ........ 113
Fuja daqui o odioso .................... ........ .. ................... ..... .......................................................... I07
Furtou a aljaba a Amor, quando dormia............................................. .................................... I04
Gloriosos espritos, coroados ................................. ....... ......... ................... ............................... 93
Grã rei, senhor das casas do sol ambas .............................. ................ .................................... 253
Ilustre conde, d'entre mil eleito....................................... ............. ......... ..... .......... .. ................ 362
Já, generoso Afonso, já chegaste ................................................................ ............................ 126
Lágrimas costumadas a correr-me ................................ .......................................................... 52
Lá onde o claro Tejo a praia lava .................................................... ....................................... 199
Limiano, tu ao som do claro Lima .... ...... .. ...... .................. ............. .... ..... ....... ... ..... .. ......... ..... 9I
Livro, se luz desejas, mal te enganas ................... .. ............................................... ............. .... 49
Minha Musa, que baixa estava tanto ...................................................................................... 263
Mondego, tão soberbo vás da vista ........................................................................................ 54
Mostrou o que pode a mão, a tinta e arte ............................................................................... 103
Muitas vezes quisera, tal me vejo........................................................................................... 62
Não aparece o sol, triste está a terra ....................................................................................... 55
Não chores, mas alegra-te, elegia ............................ ......................................................... ...... 462
Não é minha tenção louvar aquela .......................... ............................................................... 51
Não lágrimas fingidas, não de cores....................................................................................... 66
Não mostra em toda parte....................................................................................................... 124
Não passes, caminhante, um pouco espera ............................................................................ 375
Não Tejo, Douro, Zézer, Minho, Odiana ......................................................... ...................... 53
Não tinha visto o sol daquele dia... .............................................................. .......................... 142
Ninfas do claro Almonda, em cujo seio ................................ ,................................................ 79
No campo do Mondego, ao meio-dia. .................................................................................... 209
No tempo qu'o cruel e furioso ......................................................... ....................................... 157
Num côncavo penedo, onde quebravam....................................... .......................................... 92
Ó alma pura enquanto cá vivias.. ........................................................................................... 79
Ó cabelos, de Amor rico tesouro. ........................................................................................... 61
O fogo que em meu seio guardo e crio .................................................................................. 62
Onde está aquela imagem pura e bela ...................................................................... ._. .. .. ..... .. 56
Onde me esconderei, senhor, de ti? ......................................................... ............................... 98
Onde, onde assi cruéis ...... .. .... .. .. ........ .. ................... ....... ................... .. ... .. .......... .. .................. 111
Onde quer que eu esteja, onde me vire ........... ....................................................................... 63
Ó olhos, donde Amor suas frechas tira ......................................................... ......... ...... .......... 55
Os dias conto, e cada hora, e momento.. ................................................................................ 70
Os qu' a fortuna deusa sua faziam ......................................................................................... 93
Parecerá, senhora, em outra idade................................................................................. ......... 53
Passa, amigo, não saibas a ventura ......................................... .... .......................... .................. 372
Pera ver-te, e ouvir-te só sou vindo ......................... ............................................... ................ 461
- Poeta queres ser, e ser letrado .................. ........... ... .. .............. .............. ............ .................. 365
Por Lília em vivo fogo Aónio ardia ........... ............. .. ... .............. ............................................ I 82
Porque, já que aqui ambos nos juntamos ..... ........... .......... ......... .. ............................... ........... I 85
Porque não ousarei livre contigo ............................. ............................................................... 327
Porque tão cruelmente .. ...... .. ............... ....................................... ........................ ..... .......... ..... I09
659
ÍNDICE DE PRIMEIROS VERSOS
Prenderam as Musas, por nova aventura. ....................... .. ............... .................. .. ........... ... ..... 103
Primeiro Afonso sou, filho de Anrique ...... ................................. ... .. .. ...................... .............. 371
Príncipes nossos, nosso bem e glória. ....................................... ......... .................................... 108
Promiti-te, meu Teive, à tua partida................................................. .. .................................... 332
Qual bom planeta, qual boa estrela ou sino ........................................................................... 83
Quando entoar começo com voz branda ............ ..... .. ............ ............. .................................... 54
Quando eu os olhos ergo àquela parte..................................................... ............................... 77
Quando eu os olhos ergo àquele rosto .................. .......................................................... ........ 77
Quando eu vejo sair a menhã clara .................... ................................ .............................. .. .. .. 67
Quando se envolve o céu, o dia escurece ........................................ ................................... .. .. 72
Quando será que eu tome a ter diante .................................................................................... 75
Quando vos vi, senhora, vi tão alto ...................................................................................... .. 66
Quantas vezes Amor comigo, cheio .......................................................................... .... ......... 60
Quanto d' amor se pode humanamente ............. ...................................................................... 94
Quantos suspiros, triste, e quão compridos ............................. ................... ,......... .................. 74
Quanto tempo, ó Andrógeu, não cantamos............................... ........... ............... .................... 203
Quão diferentemente Deus reparte ......................................................................................... 275
Que Apeles, que Lisipos poderiam ............................. :........................................................... 87
Que choras? Crês que é isso sepultura ................................................................................. 377
Que dizes, meu Lancastro, destes sábios................................................................................ 267
Quem é este de insígnias diferentes ....................................................................................... 371
- Quem jaz aqui? - Um corpo em que vivia.... ................................................................... 376
Quem não sabe a ventura e sorte estranha ............................................................................. 373
Quem pode acrecentar a luz ao dia .... ..... ............................. .. ...... ... .... ......... ....... ....... ..... .... ... 461
Quem pode, grã Jerónimo, louvar-te. ................................................................................ ..... 103
Quem p_od~ ver um ~oração tão tri~te .......................................................... _. ._.. ....................... 82
Quem tao igual espnto a meu deseJo ......... .................. ............... ............................. ............ .. 309
Quem viu neve queimar? Quem viu tão frio.. ...................................................................... 59
Que poderosas ervas nessa Beira. ........................................................................................... 298
Rainha santa, aos reis exemplo raro ....................................................................................... 100
Rei bem-aventurado, em quem parece ......... .... .................... .... .... ................................ .......... 313
Rei bem-aventurado, este é o dia ........................................................................................... 86
Sai minha alma às vezes a buscar-vos.................................................................................... 58
Sampaio, tu lá só..................................................................................... ................ ...... ... ....... 115
Se com vos ver, senhora, assi lá ardia... ...................................... ........................................... 75
S'erra minha alma em contemplar-vos tanto.......................................................................... 52
Se eu podesse igualmente mostrar fora. .................................................................. ........... .... 50
Se meu desejo só é sempre ver-vos .......................................................... .......................... .... 64
Se pastores de Deus foram ouvidos ........................................ ,.......................................... ..... 219
Sepultado em tristeza, em dor, em pranto .................. ............................................................ 84
Serás escrito e em alto som cantado ................................ ........... ....... ............................ ......... 121
Se saber, formosura e real estado ............................................. .. ............. ............................... 86
Se te conheço bem, dessas Atenas .. ................ .................... .......... ..... ............................. ....... 287
Se vós podésseis com desprezo ou ira ......................................................................... .. ... ..... 57
Soberba sepultura. alta grandeza .......................................................................................... .. 371
Sofrera-se melhor üa elegia.................................................................................. .. ................ 368
Solitário, que segues tão contente ........................................................................................ .. 96
660
ÍNDICE DE PRIMEIROS VERSOS
Sol , que já tantas voltas aos céus deste ......... ........ ...... .. .............. .................. ......................... 59
Tejo triunfador do claro Oriente...... ........ ............ ...................................... .. .................. .. ....... 70
Tem me Amor preso em üas redes de ouro......... .......... ......................................................... 68
Té quando assi, cruel. o peito duro ............................... ......................................................... 117
Teu nome, Andrade, de qu ' é bem qu ' esperem .............................................. ................... ... 259
Tristíssimo Francisco, quem podesse ........................................................... .......................... 131
Tu que coa língua feres, monstro és ................... .................................................................... 104
Oa fresca menhã, fria, orvalhosa ... ........................... ...... .. ............................ ............... .. ......... 177
Um tempo chorei, ledo co'a esperança.................................................................................. 82
Uns olhos que ao sol claro, à lua, ao norte.......... ................................................................... 57
Vai minha alma cansada a vós, buscando .. ................ ................... .... .. ................................... 68
Vai novo sol esclarecer o dia.. ...................................... ....... ................................................... 85
Vales, serras e montes, bosques, prados ................................................................................. 67
Vejo Alexandre, César, Cipião ................................................ :.............................................. 374
Vem, Maio de mil ervas, de mil flores ................................................................................... 138
Vês o sepulcro triste do formoso. ............................................................................ ............... 172
Víncio, eu vejo do Oriente a clara.............................. ...................................... ...................... 92
Vinha Amor pelo campo trebelhando ...................................... .............................................. 96
Vou de suspiros todo est' ar enchendo....................... ............................................................ 73
661
ÍNDICE ONOMÁSTICO 1
Abrantes, 619 Aristo (personagem de Segadores), 560
Acteão, 570-1, Aristóteles, 598
Adónis, 567 Arzila, 607, 613-4, 621
D. Afonso III, 628 Astreia, 586
D. Afonso IV, 508-9, 607, 625-38 Atenas, 523
D. Afonso V, 619 Atlanta, 572
Aganipe, 523 Atlas, 602-3
Agesilau, 579 Augusto (imperador), 529, 573-5, 616
Albuquerque, Afonso de (pai e filho), 530, 538- Ausónio, 516-7, 617
-40, 617,622 Ave (rio), 482
Alcácer-Quibir, 614 Aveiro, duques de (v. também Lencastre), 502-3,
Alcíone, 557 507,519,563,606,620,622
Alcipo (pseudónimo), 494, 499, 553, 556-8 A vinhão, 492
Alcobaça, 638 Azamor, 612
Alexandre Magno, 502, 519, 539, 584, 598, Baco, 607
605,609,616 Balsar (fortaleza indiana), 604-5
Alfarrobeira, 619 Barros, João de, 530, 638
Alfonso XI (de Castela), 627 Batalha (mosteiro), 618-20
Aljubarrota, 618 Beatriz (filha de Alfonso X de Castela), 628
Almonda (rio), 497 Beda,542
Amadis de Gaula, 508-9, Belém, 620
Anacreonte, Anacreontea, 515, 517, 535, 540-1, Bermúdez, Jerónimo, 634
Anaxágoras, 640 Bernardes, Diogo, 485, 505-6, 512, 515, 547,
Andreas, Hei ias, 515-7 555, 570,584,598-90,608
Andrógeo (pseudónimo), 558, 561-3 Betancor, Diogo de, 503, 508, 524, 534-5, 587-9,
Angeriano, Girolamo, 5 16-7, 552, 559-61 623
Aníbal, 529 Bizâncio, 522
Anthologia Palatina, 516-7, Boiardo, 554
Aónio (pseudónimo), 506,547: 551 -2 Bolonha, Matilde de, 628
Apeles, 502, 584 Boote, 541
Apolo, 485,523,529, 531-2, 544 Borba, conde de: ver Coutinho, Vasco de
Aquiles, 519,612 Borgonha, duques de, 619
Aragão, D. Francisca de, 558, 562 Boscán,Juan,488,576,612
Ariadne, 557 Bragança (casa de), 564
Ariosto, 554, 604, 612 D. Constantino, 527,530, 595,604, 606-7
Aristipo, 586 D. Fernando, 619
1
Neste índice, que se reporta ao Comentário, encontram-se as referências geográficas,
históricas, literárias e mitológicas mais importantes nele contidas.
663
ÍNDICE ONOMÁSTICO
664
ÍNDICE ONOMÁSTICO
665
ÍNDICE ONOMÁSTICO
Leitão, João Lopes, 604-6 António, 503-4, 531-3, 577-8, 580, 601 -3,
Leite, Maria, 491, 494, 569 614, 617 , 622
Lencastre Francisco, 507-8, 528-30, 532-4, 547-9, 558,
D. João (duque de Aveiro), 546, 563-4, 619 577-8,608,616,622
D. João (filho ilegítimo do duque D. João), Henrique, 578
507, 519-21 , 569, 578-9, 584-6 João Rodrigues ou Roiz, 504, 529, 533, 577-
D. Jorge, 502-3, 519,546,567 81, 601, 621-2
D. Pedro Dinis, 502,519,567,569 Mercúrio, 616
Leoni, Leone, 519 Midas, 571
Lésbia (pseudonimo ), 5 16, 545 Minerva, 591-2, 605,611
Lícidas (pseudónimo), 555 Miranda, Francisco de Sá de, 479, 489, 507-8,
º·
Licurgo, 576 521, 546-7, 557-9, 568, 574-5, 578, 581 ,
Lília (pseudónimo), 506, 551 583-6, 589, 595-6, 608-1 639-41
Lima (rio), 482, 505 Mondego (rio), 482, 485 , 492, 525, 559, 637
Lima, D. Francisco de, 504 Moniz, D. Martim, 526
Limiano (pseudónimo), 505-6 Montoya, Fr. Luis de, 597
Lino, 549 Morais
Lira, Manuel de, 505 Cristóvão Alão de, 494
Lisboa, 500, 524-5, 543 Francisco de, 480
N. S. da Esperança, 600 Mosco, 540
Rua Nova, 587 Nebrija, Antonio de, 611
S. Vicente de Fora, 600 Nero, 596
Lisipo, 502, 584 Noronha
Lívio, Tito, 601 D. Ângela, 495, 504, 623
Lobeira, Vasco de, 509 D. Camila, 529
Lobo, Francisco Rodrigues de, 606 D. Caterina, 504
Lopez, Simão, 589 D. Inês, 504, 532 ..
Lucena, Fr. João de, 480 N. S. da Lapa, 511-2
D. Luís (príncipe), 526 Nunes, Pedro, 602
Machado, Diogo Barbosa, 556 Onfale, 626
Magálio (pseudónimo), 549-50 Orfeu,500,540,553,559
D. Manuel, 568, 620-2 Osuna, duque de, 502
Marcelo, 640 Ourique, 526, 632
Margarida de Áustria, 564, 566 Ovídio, 545, 557
D. Maria (filha de D. Duarte), 564-8 Ovílio (pseudónimo), 556
María (princesa; filha dos reis católicos), 566 Palas, 544, 565, 605
Man1ia (pseudónimo), 494, 553, 555 Pales, 492
Maro: ver Virgílio Pan,562
Marramaque, António Pereira, 574 Panónia, 567
Marrocos, 597 Papas
5 mártires de, 513 Júlio III, 556
Marte,517,546,611 Paulo III, 566
Meca, 539 Paulo IV, 521 , 596
Melanipe ou Menalipe, 642 Pio II, 619
Menelau, 579 Pio IV, 521
Meneses, D. Aleixo de, 598 Paris Uuízo de), 502, 544
Sá de Meneses, 494-5 Parma,566
666
ÍNDICE ONOMÁSTICO
667
ÍNDICE ONOMÁSTICO
668
ÍNDICE DAS PALAVRAS COMUNS COMENTADAS
669
ÍNDICE DAS PALAVRAS COMUNS COMENTADAS
670
ÍNDICE DAS PALAVRAS COMUNS COMENTADAS
671
ÍNDICE GERAL
Introdução
Poemas Lusitanos
Sonetos, Livro 11 ...... ...... .... ...... .................................................... ........ .... ... ......... .. ........ ... 79
Odes, Livro I
1. ........................................... ..... ................................................................................. 107
2 Aos Príncipes D. João e D. Joana. ............ ............ ................ .................................. 108
3 AD. João de Lancastro, filho do Duque de Aveiro .. ........................................... .. 109
4 Aos reis cristãos................................................... ........................................ ........... 11 "1
5 A D. Afonso de Castel Branco ................................................... ............................ 113
6 A üa nau da armada em que ia seu irmão Garcia Fróis.................................... ...... 114
7 A Manuel de Sampaio................................... ...... ...... .............................................. 11.5
8 A D. António de Vasconcelos ....... .. ......................... ............................. ................. I 17
Odes, Livro II
1 Ao Senhor D. Duarte, filho do lfante D. Duarte ....... .. ............... ............................ 121
2 A Pero de Andrade Caminha ............................................ ... .. ................ ...... :.... ...... 122
3 A Francisco de Sá de Meneses .................. ....................................... ,.. ..... ... .. ......... 124
4 A Afonso Vaz caminha, na Índia .......,................................................. ............. ..... . 126
5 A António de Sá de Meneses...................... ......................... ........ ....... .................... 128
673
ÍNDICE GERAL
Elegias
1 A Francisco de Sá de Meneses, na morte do príncipe D. João .......... ..... ............... 13 1
2 Na morte de Diogo de Betancor ............................................. .... ............................ 135
3 A Maio ................. .... ............................... ........................ ..................................... ... 138
4 AD. Luís Fernandes de Vasconcelos, vindo da índia ............................................ 140
5 A Pero de Andrade Caminha, em resposta de outra sua ...................... .... .............. 142
6 A Afonso de Albuquerque .. ...... ................................................. ......... .................... 146
7 Amor Fugido, de Mosco ...................................................................................... ... 148
8 Amor Perdido, de Anacreonte ..... .... ..... ..... .................... ..................... .. .... .............. 151
9 A Santa Maria Madalena ...................................... .................................................. 152
Éclogas
1 Arquigâmia... ............................ ....... ...................................... ..... ........ ..................... 157
2 Jânio .............................................................................................. .......................... 172
3 Títiro......................... ............... .............................................. ........ ....................... ... 177
4 Lília .......................... ................... ............................................................ ................ 182
5 Tévio ........................ ........................... .................................................................... 185
6 Mágica ...................................... ............................................................................... 189
7 Dáfnis ......................... ................... ............................ .. ............................. .... ........... 194
8 Flóris ..................................... :...... ........................................................................... 199
9 Miranda ................ .............. ... ............ ............ ... ....................................................... 203
1O Segadores ..... ................. ... ........................ ... ... ............ ......................... ............ ...... 209
11 Andrógeu ............................................................................................................... 216
12 Natal ............................................................................................................... ....... 219
Epitalâmio ao casamento da Senhora D. Maria com o Senhor Alexandre Farnês .......... 227
Cartas, Livro I
1 Congratulação de todo o reino a el-rei D. João III.. ............. ........................ .......... 253
2 A Pero de Alcáçova Carneiro, secretário.................................................... ............ 256
3 A Pero de Andrade Caminha .................................................................................. 259
4 A António de Sá de Meneses ........................ .......................................................... 263
5 AD. João de Lancastro, filho do Duque de Aveiro ............................................... 267
6 A João Ruiz de Sá de Meneses, no Porto ............................................................... 270
7 A Garcia Fróis Ferreira, seu irmão ......................................................................... 275
8 A Pero de Andrade Caminha ................. ..................................... .... ........................ 279
9 AD. João de Lancastro, filho do Duque de Aveiro, em Coimbra ......................... 287
10 A Manuel de Sampaio, em Coimbra .................................... ................................ 292
11 A Diogo de Betancor .. ....... ... ....... ... ............. ......... ........ ... .......... ....... ... ................. 298
12 A Diogo Bernardes ..... ... ........ ... ....... .. ................ ... ............. .... ..... ... ..... .... ........ ... ... 303
13 Ao Senhor D. Duarte ....................... ........................................ ....... .............. ........ 309
Cartas, Livro II
1 A el-rei D. Sebastião ....................................................... ..................... ................... 31 3
2 Ao Cardeal lfante D. Anrique, regente ........................... ........... ....... ...................... 3 19
674
ÍNDICE GERAL
3 A Luís Gonçalves da Câmara, mestre dei-rei D. Sebastião .. .... ................. ............ 3'27
4 A Diogo de Teive...................... ............... .......................................................... ... .. 332
5 A António de Sá de Meneses ............................................................................. ..... 338
6 A António de Castilho ............................. .. ... ................. .................... .. .. ............ ..... 342
7 A João Lopes Leitão, na índia. .................................. ............................................. 344
8 AD. Constantino, filho do Duque de Bragança, indo governar a Índia................ 347
9 A Francisco de Sá de Miranda.... ............................................................................ 351
10 A D. Simão da Silveira......................................................................................... 357
11 Ao Conde de Redondo, D. Francisco Coutinho, regedor. .................................... 362
12 A Vasco da Silveira ..................... ......................................................................... 365
13 A Francisco de Sá de Meneses .............. ................... ...... ..... ................................. 368
Epitáfios............................................................................................................................ 371
Castro
Acto 1.... .... ...... ... .. ... ......... ... ..... ......... ... ... ......... .... ..... ..... ..... ............. ..... ... .... .. .. ........... 379
Acto II ........................................................................................................................ 405
Acto 111 ....................................................................................................................... 419
Acto IV. ...................................................................................................................... 435
Acto V ........................................................................................................................ 453
Apêndices
1 Poesias não incluídos nos Poemas Lusitanos. ........................................................ 461
2 Textos da versão de 1587 da Castro....................................................................... 467
3 Janius ....................................................................................................................... 473
Comentário ....... ... .......... .. .... ..... ... ... .. ................ ...... ................. ..... .... ....... ..... ......... ... ..... ........ 477
Índices
índice de primeiros versos ....................................................... ........................................ 659
Índice onomástico........................................................................ ..................................... 663
índice das palavras comuns comentadas.......................................................................... 669
índice geral. ................................................. ..................................................................... 673
675
Esta 2ª edição de POEMAS LUSITANOS, de ANTÓNIO
FERREIRA, foi composta, impressa e brochada para
a Fundação Calouste Gulbenkian, nas oficinas da
I'mprensa Portuguesa - Porto
A tiragem é 500 exemplares
Março de 2008
Depósito Legal n.º 269882/08
ISBN 978-972-31-1233-7
EDIÇÕES DA FUNDAÇÃO
CALOUSTEGULBENKIAN
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- Filipe Duarte Santos
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