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Proteção e Comunicação de Sistemas Elétricos de Potência

PARTE 2 - Características de Transformadores de Corrente de


Acordo com as Normas IEC 60044-1, 60044-6, 61869-2, IEEE C57.13,
NBR 6856 1992 e 2015 e do Technical Report TR 61869-100 (2017)

Paulo Sérgio Pereira1; Paulo Sérgio Pereira Junior2 & Gustavo Espinha Lourenço1
1
CONPROVE Engenharia; 2 CONPROVE Indústria

Sumário - Este artigo visa apresentar ao leitor um resumo geral dos parâmetros que definem a
escolha de um transformador de corrente (TC). Esta escolha deve ser realizada de acordo com as
normas vigentes, a fim de que o projeto se enquadre na linha de produção dos fabricantes. Definições
fora da norma implicam em projetos especiais e normalmente com custos mais elevados. Os
aspectos de especificação apresentados aqui foram agrupados de forma a facilitar a comparação
com base nas principais normas atualmente em uso.
Esta parte do trabalho foca as definições para os transformadores de proteção, com ênfase as
classes definidas pelas várias normas consultadas, a análise do comportamento transitório dos TC´s
e especificação da tensão de saturação considerando inclusive o tempo de operação do IED.
O estudo de Transformadores de Corrente é pouco explorado nas disciplinas acadêmicas, tanto nos
cursos técnicos como nas universidades brasileiras, o que gera uma carência na formação desses
profissionais. O artigo visa contribuir de forma a minimizar essa lacuna.

(Palavras-chave: Transformadores de Corrente, Proteção, Medição)

principais normas atualmente utilizadas: IEC


Introdução 60044-1(1996), 60044-6(1992), 61869-
2(2012), IEEE C57.13(2008) e NBR 6856
Usando-se a definição da norma IEC 1992 e 2015. Os autores recorreram também
61869-2, um transformador de corrente (TC) ao Relatório Técnico IEC TR 61869-100 par
"é um instrumento que, em condições normais pinçar alguns aspectos da especificação
de operação, possui no seu secundário uma transitória.
corrente proporcional a do primário e com um
ângulo de defasagem aproximadamente nulo, Sobre as Normas
para uma conexão correta". De forma simples
e objetiva, num primeiro momento, tal IEC 60044-1: Faz parte de um
definição pode ocultar o grau de complexidade conjunto de normas, IEC 60044, que trata
das variáveis envolvidas no projeto de um TC. vários tipos de instrumentos de transformação.
Diferentes aplicações e parâmetros dos A primeira versão data de 1996. Com título
sistemas elétricos exigem dos "Parte 1: Transformadores de corrente",
Transformadores de Corrente (TC’s) aplica-se a transformadores de corrente para
especificações distintas, sobretudo no que diz utilização com instrumentos de medição e os
respeito a diferentes precisões e respostas dispositivos de proteção para frequências de
específicas a situações transitórias produzidas 15Hz a 100Hz. De acordo com a norma
pelas faltas. "embora os requisitos referem-se basicamente
Padronizando e definindo os para transformadores com enrolamentos
parâmetros necessários, as normas orientam separados, eles também são aplicáveis, se for
fabricantes e usuários para o correto o caso, para autotransformadores".
casamento entre fabricação e uso. Este artigo IEC 60044-6(1992): A primeira versão
levanta os principais parâmetros envolvidos na data de 1992. Com o título "Parte 6: Requisitos
escolha de um TC de proteção sob a luz das para transformadores de corrente para

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proteção de resposta transitória", de acordo distorções e mantendo a precisão, estes


com a norma "esta parte da IEC 60044 lida valores são tratados na tabela 1. Esse fator
com os requisitos e testes que, além daqueles também é conhecido popularmente como fator
indicados na IEC 60044-1, são aplicadas a de sobrecorrente. Quando maior é a corrente
transformadores de corrente indutivos fluindo por um burden definido, maior a tensão
destinados ao uso com sistemas de proteção secundária necessária para a reproduzi-la
elétrica para os quais é essencial que os fielmente. Assim esse fator está ligado a
transformadores conservem uma dada tensão que o TC deve ser capaz de produzir
precisão na presença de uma corrente de sob condições senoidais.
várias vezes a corrente nominal contendo uma
exponencial decrescente com uma constante Tabela 1: Fator limite de exatidão
de tempo fixa". Norma Fator limite de exatidão
IEC 61869-2(2012): Como parte da
IEC 60044-1 5 – 10 – 15 – 20 – 30
IEC 61869 publicada em 2012, com o título
"Parte 2: Requisitos adicionais para 3, 5, 7.5, 12.5, 15, 17.5, 20,
IEC 60044-6
transformadores de correntes, esta norma 25, 30, 40, 50
"cancela e reitera a primeira edição da IEC IEC 61869-2 5 – 10 – 15 – 20 – 30
60044-1, publicada em 1996, e sua Emenda 1
(2000) e Emenda 2 (2002), e a primeira edição Define corrente simétrica
IEEE C57.13
da EIC 60044-6, publicada em 1992. máxima para 1 Segundo
Adicionalmente introduz inovações técnicas na NBR 6856
Não há menção sobre o ALF
padronização e adaptação requeridas para 1992
transformadores de corrente para performance NBR 6856
5 – 10 – 15 – 20 – 30
transitória." 2015
IEEE C57.13(2008): Publicada em
2008 com o título "Requisitos Padrão IEEE Esse valor é normalmente obtido a
para Transformadores de Instrumento", partir do estudo de curto considerando a maior
abrange transformadores de instrumento de corrente de curto identificada no estudo que
forma geral. O capítulo 6 desta norma trata pode passar pelo TC. Dependendo do nível do
sobre transformadores de corrente, foco da curto pode-se adquirir os transformadores de
atenção aqui. corrente especificando o fator com valores 5
NBR 6856 1992 e 2015: A segunda até 30. Se o nível de curto for muito alto e
versão publicada em 2015, cancela e substitui superar o valor 30, pode-se aumentar o valor
a anterior publicada em 1992. "Esta Norma da corrente nominal do TC de forma a
especifica os requisitos de desempenho para adquirirmos um TC que se enquadra na
transformadores de correntes destinados a norma, caso contrário o usuário irá solicitar um
serviços de medição, controle e proteção. Os TC fora da norma e normalmente com projeto
requisitos específicos para transformadores de especial e com um preço acima dos
corrente para uso em laboratórios e normalizados.
transdutores ópticos estão fora do escopo
desta Norma. Classe de Proteção

Parâmetros específicos para TC´s de Os TC´s de proteção não precisam ser


Proteção tão precisos como o de medição, no entanto
eles não devem saturar durante as faltas, o
Fator que expressa o Limite de Precisão (ALF) que implica em definir a tensão de joelho para
atender os transitórios provocados pelos
O fator ALF (Accuracy Limit Factor) é curtos circuitos. A tabela 2, expressa um
usado para definir o limite da corrente, múltiplo resumo dos tipos de TC´s definidos pelas
da corrente primária nominal do TC com diferentes normas.
características senoidais, a qual garante
reproduzir no secundário sem apresentar

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Tabela 2: Classes padronizadas para TC de proteção


Norma Classes padronizadas para TC de proteção Observações
IEC 60044-1 5P – 10P – 5PR – 10PR -

IEC 60044-6 TPS – TPX – TPY – TPZ -


IEC 61869-2 5P – 10P – 5PR – 10PR – PX – PXR – TPX – TPY – TPZ -
IEEE C57.13 C–T–X -
NBR 6856 A – Alta impedância
A–B
1992 B – Baixa impedância
NBR 6856 A NBR não enquadra os TCs com
5P – 10P – 5PR – 10PR – PX – PXR
2015 resposta a transitórios

A norma IEC 60044-1 define os TC´s TPZ, que são os TC´s de proteção onde os
de proteção com a letra P e PR. O número na termos são definidos da seguinte forma:
frente define a Classe de exatidão. Como A Classe TPS – não define limites
exemplo pode-se escrever 5P e 10P. A norma para o fluxo residual e trabalha para pequenas
define que com a corrente limite da sua intensidades de corrente, com o
especificação e com carga nominal o erro funcionamento definido pela corrente de
composto (Ɛc) não deve superar os valores excitação e pelo erro de relação do número de
apresentados na tabela 3. Observa-se que a espiras.
norma menciona a existência da componente A classe TPX – não há limite de fluxo
alternada (senoidal) da corrente de falta. Os residual e tem precisão definida pelo erro
transformadores Classe P são normalmente instantâneo de pico para um ciclo de regime
de núcleo de ferro e toroidais, ou seja, de transitório especificado. Normalmente
baixa reatância de dispersão. possuem o núcleo totalmente de ferro, e
A norma também define os tipicamente são de baixa reatância de
transformadores de corrente da classe PR que dispersão, e assim ela pode ser desprezível
possuem controle do fluxo residual. Os TC´s na avaliação do seu desempenho.
dessa classe com 5% e 10% são descritos A classe TPY – possui limite de fluxo
como 5PR e 10PR respectivamente, onde 5 e residual, normalmente menor que 10%. Isso é
10 caracterizam a exatidão, a letra PR obtido com o uso de um gap de ar agregado
caracteriza que é um TC de proteção e há ao núcleo de ferro. Tem precisão definida pelo
controle no fluxo residual. Para esses TC´s, a erro instantâneo de pico para um ciclo de
saturação também não deverá ocorrer para a regime transitório especificado.
corrente simétrica (componente AC) de falta A classe TPZ – possui um gap de ar
para o qual ele foi especificado. O controle do maior para que ele se caracterize como linear
fluxo residual é normalmente obtido no projeto e o fluxo residual fique praticamente
com a introdução de um pequeno gap de ar desprezível. Como a indutância de
que combinado com o circuito magnético do magnetização fica baixa, a transferência da
ferro forma um conjunto que apresenta uma componente exponencial do primário para o
característica mais linear e, portanto, com secundário fica comprometida. A norma
baixo fluxo residual. A tabela 4 e 5 definem os expressa a precisão pelo erro de pico da
limites de erro de amplitude (relação) e de componente AC ( ac), durante uma única
fase. Observe na tabela 4 que a classe 5PR energização, tendo-se especificada a
tem erro de fase de 60 minutos, mas não é constante de tempo do secundário.
definido para a classe 10PR. .
A norma IEC 60044-6 designa os TC´s
com as seguintes classes:TPS, TPX, TPY e

Tabela 3: Limites de erro para os TCs de proteção/IEC 60044-1


Erro da corrente na Deslocamento de fase na Erro composto do limite de
Classe de
corrente nominal do corrente nominal primária precisão da corrente nominal
Exatidão
primário (%) Minutos Centirradianos do primário (%)
5P ±1 ± 60 ±1.8 5
10P ±3 - - 10

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Tabela 4: Limites de erro para a classe PR dos TCs de proteção/ IEC 60044-1
Erro da corrente na Deslocamento de fase na Erro composto do limite de
Classe de
corrente nominal do corrente nominal primária precisão da corrente nominal
Exatidão
primário (%) Minutos Centirradianos do primário (%)
5PR ±1 ± 60 ±1.8 5
10PR ±3 - - 10

A norma IEEE C57-13, caracteriza os A classe P – indica TC´s que não tem
TC´s como com as letras C, T, X. controle do fluxo residual e que tem a sua
A letra C caracteriza que a relação é especificação de tensão de saturação definido
feita por cálculo, com limite de erro de 3% na para a corrente de curto simétrico que é
corrente nominal e 10% a 20 In. Nessa definida pelo fator de limite de precisão
definição fica subentendida apenas a corrente especificado (fator de sobrecorrente).
simétrica. A classe PR – caracteriza TC´s com
A letra T caracteriza que a relação é controle do fluxo residual (menor que 10%) e
ajustada por testes, também com limite de erro que tem a sua especificação de tensão de
de 3% na corrente nominal e 10% a 20 In. saturação definido para a corrente de curto
Nessa definição fica subentendida apenas a simétrico associada ao fator limite de precisão.
corrente simétrica. Esse transformador tem um pequeno gap de
A letra X caracteriza que ele tem limite ar para abaixar o fluxo residual.
de erro de 1% na corrente nominal e que para A classe PX – caracteriza TC´s de
20 In o erro é definido pelo usuário. baixa reatância cuja característica são
A tabela 5 resume esses valores. definidas pelo usuário, definindo a corrente
nominal do primário e secundário, o número
Tabela 5: Limites de erro TC proteção IEEE de espiras, a tensão de saturação com a sua
Classe que determina Corrente
20 vezes corrente de excitação associada, fator limite
os limites de erro nominal de exatidão, a resistência do secundário e a
Classificação C e T 3% 10% resistência de burden que será adotada.
Usuário Observa-se que na norma é sugerida a
Classificação X 1%
define definição da tensão de saturação
considerando somente a componente AC da
A norma brasileira NBR 6856 de 1992 corrente de falta.
adotava a nomenclatura de A e B, que A classe PXR – a especificação é
representavam respectivamente TC´s de alta similar aos da classe PX, todavia
alta e baixa reatância no secundário. Isso era considerando que existe controle do fluxo
realizado na construção do TC, onde se residual por introdução de pequeno gap no
maximizava ou minimizava a reatância de núcleo, e que o fluxo residual deve ficar abaixo
dispersão pela forma que se realizava o de 10%.As tabela 6 e 7 ilustram esses limites.
enrolamento secundário. Os transformadores A norma IEC 61869-2 expressa os
tipos B eram normalmente toroidais, tendo os TC´s de proteção definido pelas classes P,
seus enrolamentos uniformemente PR, PX, PXR, TPX, TPY e TPZ, conforme a
distribuídos. Os enrolamentos tipo A não tabela 8. Essa tabela ilustra os aspectos de
recebiam esse detalhe podendo ter os fluxo residual dos vários modelos. A tabelas 9
enrolamentos concentrados em uma só região ilustra os limites de erros para os P e PR e a
ou, se o projeto fosse distribuído, eles teriam tabela 10, ilustra para os TPX, TPY e TPZ.
um grande espaço de ar entre as espiras para
aumentar a dispersão.
A NBR 6856 de 2015 passou a
caracterizar os TC´s como P, PR, PXR e PXS,
sendo:
Tabela 6: Limite de erro para TCs de proteção classe P - NBR 6856- 2015
Erro da corrente na Deslocamento de fase na Erro composto do limite de
Classe de
corrente nominal do corrente nominal primária precisão da corrente nominal
Exatidão
primário (%) Minutos Centirradianos do primário (%)
5P ±1 ± 60 ±1.8 5
10P ±3 - - 10

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Tabela 7: Limite de erro para TCs de proteção classe PR- NBR 6856- 2015
Erro da corrente na Deslocamento de fase na Erro composto do limite de
Classe de
corrente nominal do corrente nominal primária precisão da corrente nominal
Exatidão
primário (%) Minutos Centirradianos do primário (%)
5PR ±1 ± 60 ±1.8 5
10PR ±3 - - 10

Tabela 8: Caracterização das classes de proteção (IEC 61869-2)


Designação Limite de fluxo residual Explicação
a)
P Não
Defini um transformador de
corrente para atender aos
requisitos de erro composto de um
PR Sim
curto-circuito em condições de
estado estacionário simétrico

PX Não a), b) Defini um transformador de


corrente, especificando sua
PXR Sim b) característica de magnetização

TPX Não a)
Defini um transformador de
TPY Sim corrente para atender os requisitos
do erro transitório sob as condições
de um curto circuito assimétrico
TPZ Sim

a) Embora não haja limite para o fluxo residual, gaps de ar são permitidos, ex: transformadores de corrente com
núcleo dividido
b) Para distinguir entre PX e PXR. O critério de fluxo residual é utilizado

Tabela 9: Limite de erro para TCs de proteção classe P e PR (IEC 61869-2)


Erro da corrente na Deslocamento de fase na Erro composto do limite de
Classe de
corrente nominal do corrente nominal primária precisão da corrente nominal
Exatidão
primário (%) Minutos Centirradianos do primário (%)
5P e 5PR ±1 ± 60 ±1.8 5
10P e 10PR ±3 - - 10

Para os P e PR a IEC 61869-2 define transformadores tipos PR, o limite de fluxo


erros de 5 e 10% como os erros compostos residual é de 10%.
para a corrente no valor limite múltiplos da A norma também expressa os TC´s
corrente nominal a qual o TC foi construído. considerados com especificações para a falta
Esse valor múltiplo esta associado ao fator transitórias. Os tipos TPX e TPY têm a sua
limite de precisão (ALF- Accuracy Limit Factor) definição de erro considerando as
que para essa norma são: 5, 10, 15, 20 e 30. componentes AC e DC da corrente de falta,
Observe pela tabela, que a norma define que mas o tipo TPZ tem o erro referido somente a
o erro para a corrente nominal é bem menor componente AC, pois ele tende a filtrar a
do que o erro na corrente ALF (considerando componente DC da corrente de falta devido a
nesse caso somente a componente AC). O sua característica de baixa impedância de
burden padrão é definido com fator de magnetização, ou seja, o gap de ar é bem
potência de 0,8, exceto quando a carga for maior do que no tipo TPY. A norma define as
menor que 5VA, onde então pode ser adotado classes como:
um fator de potência unitário. Nos casos dos

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TPX – sem controle do fluxo residual. A diferença entre os valores


A saturação em curtos transitórios é instantâneos da corrente do secundário (is)
especificada em função do pico do erro multiplicado pela relação nominal (Kr) e a
instantâneo. Normalmente, como não há corrente do primário (ip).
controle do fluxo residual, os núcleos desses
transformadores são todo de ferro.
TPY – nesta classe há controle do
iε = K r .is − i p (1)
Fluxo residual, normalmente com a introdução
de um pequeno gap de ar agregado ao núcleo Quando a componente de corrente
de ferro. O comportamento da saturação alternada (isac, ipac) e a componente de
durante o curto transitório é definido pelo valor corrente contínua (isdc, ipdc) estão presentes, as
de pico do erro instantâneo. componentes que constituem o erro (iεac, iεdc)
TPZ – nesta classe os TCs possuem são separadamente identificadas como se
um gap de ar maior para que ele se segue:
caracterize como linear, possui uma constante
de tempo do secundário definida e, portanto, iε = iεac + iεdc = (K r .I sac − i pac ) + (K r .I sdc − i pdc ) (2)
filtram a componente exponencial da corrente
de falta. O erro é definido pelo valor de pico da
componente AC.

Definição do Erro Instantâneo:

Tabela 10: Limite de erro para TPX, TPY e TPZ


Corrente primária nominal

Deslocamento de fase Limite de erro transitórios sob condições de


Classe Taxa de trabalho especificadas
erro
±% Minutos Centirradianos


TPX 0.5 ± 30 ± 0.9 ε = 10%

TPY 1.0 ± 60 ± 1.8 ε = 10%

TPZ 1.0 180 ± 18 5.3 ± 0.6 ε ac = 10%
Nota1: Em alguns casos, o valor absoluto do deslocamento de fase talvez seja de menos importância do que
alcançar o desvio mínimo da média de uma dada série de produção.
Note 2: Para núcleos TPY,a fórmula abaixo pode ser usada sob a condição de que o valor apropriado de Eal não
exceda a parte linear da curva de magnetização.

Definição do Erro do Pico da Componente AC:


iˆεac
εˆac = x100% (3)
Valor de pico da componente AC, 2 xI psc
expresso em percentagem do valor de pico da
corrente de circuito primário nominal.
îεac = Valor de pico da componente AC
Ipsc = Componente AC em RMS da corrente de
curto circuito no primário.

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ou menor, dependendo da relação dos


Aspectos da Especificação Transitória ângulos ϒ e ϕ .
Por questão de analise do esforço no
Análise das correntes que ocorrem durante o TC, será assumido neste texto a pior condição
curto: possível, que acontece quando o ângulo ϒ é
igual ao ângulo ϕ , caracterizando o cosseno
A forma de onda da corrente no
máximo = 1 .
primário depende do ângulo da tensão na qual
A corrente instantânea de curto no
a falta acontece. A figura 1 ilustra o modelo
primário i(t) é dada pela equação 6, onde é
do circuito que deve ser resolvido para a
possível observar que o nível máximo
determinação da corrente.
instantâneo atingido (pico máximo durante o
período transitório) para uma dada impedância
de falta (Z = R + jωL) depende do ângulo de
fase da tensão (ω.t) no instante da falta.

 t
^ Rp
-
V cos ωt - e L p 
i (t ) = (6)
Z  
 

Trabalhando a equação, essa corrente


pode ser interpretada como a soma de duas
Figura 1: Modelo do Primário do Sistema de componentes, uma parte denominada
potência componente permanente (ou AC), a outra
transitória (ou DC).
Rs = Resistência da Fonte
Ls = Indutância da Fonte
RL = Resistência da Linha Componente permanente (ou AC) da
LL = Indutância da Linha corrente instantânea de curto no primário:

^
A tensão de excitação é dada por:
V
i( a.c ) = cos ωt (7)
v(t ) = Vˆ . cos(ωt + γ ) (4) Z

Na qual o ângulo ϒ, caracteriza o Componente transitória (ou DC) da


ângulo que define a tensão no instante t igual corrente instantânea de curto no primário:
a zero.
O circuito primário é composto de uma ^ Rp
indutância Lp e uma resistência Rp, V Lp t -

caracterizando um ângulo de φ e uma i( d .c ) = − e (8)

impedância .
Z
A corrente de falta será composta de
duas componentes, uma componente AC e Com base no Circuito Equivalente do
uma componente DC. A solução geral do TC da figura 2, e considerando a impedância
circuito é dada ela equação. do Burden, a resposta do TC a essa excitação
é a solução desse circuito, resultando.
Vˆ  − Tp 
t

Iˆ(t ) = .e . cos(γ − ϕ ) − cos(ωt + γ − ϕ ) (5)


Z  

Percebe-se que mantendo constante o


módulo e o ângulo da impedância do primário
para cada ângulo de incidência da falta, tem-
se um valor diferente para a solução com
amplitudes da componente exponencial maior

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τ1
t

τ1
e ≈ (13)
τ3

Considerando τ 3 >> τ 1 a componente


dc de pico será:
^
I  τ1  ^ τ1
1 −  = I
 1 1   τ 3  τ3 (14)
τ 3  − 
Figura 2: Circuito simplificado do TC.  τ1 τ 3 
Onde τ1= Lp/Rp Assim a relação do pico do fluxo
transitório DC com o fluxo de pico AC é dada
^
 Rp
 ^
t
 por:
 
- t -
V
i1 (t ) = ω −  = I  cos ωt − e τ1 
Lp
 cos t e
 
(9)
Z  
  ^
I
τ1
τ3 Xp
Considerando que a indutância de ^
= ωτ 1 = = tgϕ (15)
magnetização do TC é linear nessa solução I Rp
matemática, sabendo também que τ 1 é uma ωτ 3
constante de tempo que depende dos
parâmetros do primário e τ 3 é dependente O valor total do fluxo de pico é dado
por:
dos parâmetros do secundário, tem-se a
seguinte equação para a corrente de ^ ^
magnetização: τ
I I
(1 + tgφ )
^
+I 1 = (16)
^ ^ ωτ 3 τ 3 ωτ 3
I I  −τt − 
t
τ1
im (t ) = senωt − e − e 
3

τ 3ω  1 1    (10) Esta equação mostra que quanto


τ 3  −  maior o Xp/Rp (tgϕ) do primário maior será o
τ τ
 1 3 pico do fluxo DC com relação ao pico do fluxo
AC. A figura 3 ilustra a evolução do fluxo
Onde τ3
é definida a partir da transitório (AC e DC) no núcleo.
indutância de magnetização do TC Lm e da De maneira semelhante pode-se
carga total do secundário (Rs) dada pela soma deduzir que corrente instantânea de curto no
da resistência de burden (Rb) e da resistência secundário que é dada por:
de enrolamento do TC (R2w).
^
Analisando apenas a parte transitória, ^  1 −τt t
1 −τ 3
I 
cujo valor de pico da componente transitória é i = I cos ωt −
'
 e − e1
 (17)
2
1 1 τ 1 τ3 
obtida pela derivada e igualando a zero, tem- − 
se: τ1 τ3

d  −τ 3 − 
t t
τ1
E da mesma forma que na corrente
 e − e =0 (11) do primário, podemos considerar na corrente
dt   do secundário as duas componentes:
permanente (ou AC) e transitória (ou DC).
t t A Componente permanente (ou AC)
1 − 1 −
τ3 τ1 da corrente instantânea de curto no
e = e (12)
τ3 τ1 secundário é dada por:

^
i 2' = I cos ωt (18)

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Figura 3: Comportamento transitório da corrente de magnetização durante falta (com núcleo não
saturado).

A Componente transitória (ou DC) da determinado instante tende a inverter de


corrente instantânea de curto no secundário polaridade.
será:

^
I 1 −τt 1 −τ 3 
t

i =
'
 e 1
− e 
2
1 1 τ 1 τ3 
(19)
− 
τ1 τ3

Analisando a componente transitória


no secundário, observa-se que ela é composta
de duas exponenciais com amplitudes
diferentes e constantes de tempo de
decaimento diferentes, uma dependendo dos Figura 4: Forma da componente transitória da
parâmetros do circuito do primário, a outra, do corrente do secundário
secundário, visto que τ 1 = Lp/Rp e τ 3 = Lm/Rs. A Para determinar-se o valor de pico da
figura 4 ilustra a resposta evidenciando as corrente i’2(t) tem-se que derivar a expressão e
duas exponenciais no tempo de forma igualar a zero, a equação 20 ilustra essa
isoladas e também o resultado da soma das condição. Assim pela dedução dos
duas indicando a forma de onda transitória equacionamentos 20, 21, 22 e 23 conclui-se
total no secundário. Observa-se que a que a corrente transitória do secundário tem
componente transitória tem seu valor máximo exponenciais com aspecto similar ao da
em t=0, e que a amplitude decai ao longo do corrente de magnetização transitória, todavia
tempo, e como as exponenciais têm com amplitudes diferentes. Derivando e
polaridades opostas a amplitude resultante, igualando-se a zero tem-se e considerando
fruto da composição das duas a partir de um τ 3 >> τ 1

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d  1 −τ 1 1 −τ 3 
t t

 e − e =0 (20)
dt τ 1 τ3 

t t
1 − 1 −
τ1 τ3
e = e (21)
τ 12 τ 32

2
τ 
t

τ1
e =  1  (22)
τ3 

 1  τ 2 1  ^ τ
^


I   1 − =I 1
 1 1   τ 1  τ 3  τ 3  τ3 (23)
 −   
 τ1 τ 3 

A forma de onda da corrente


instantânea de curto no secundário, sendo
composta pelas componentes AC e DC, é
ilustrada na figura 5.
Figura 6: Análises simplificadas da corrente
secundária

Quando ocorre o efeito da saturação


do núcleo, a indutância de magnetização não
é mais constante e durante a saturação a
indutância tende a ser zero. A figura 6 ilustra a
resposta do TC considerando a componente
transitória (DC), onde a curva de
magnetização secundária foi aproximada para
uma indutância constante na região linear e
depois a um valor nulo quando entra em
saturação. Nela percebe-se que se a
saturação não ocorresse no instante “a”, a
corrente transitória de magnetização atingiria o
nível da corrente primária no instante “b”. No
entanto como o nível de saturação do núcleo é
atingido no instante “a” a partir desse nível a
indutância de magnetização vai a zero e a
corrente de magnetização assume o valor da
Figura 5: Corrente instantânea de curto no corrente primária. Nessa situação o TC
secundário com as suas respectivas permanecerá em saturação até que a corrente
componentes AC e DC primária caia abaixo do nível de saturação,
quando então a indutância de magnetização
Efeito da saturação no núcleo: assume um valor alto novamente e volte a
valer as equações da região linear. A corrente
A figura 6 representa as simplificações possa então seguir novamente o valor teórico
para a análise da corrente secundária quando da condição inicial.
ocorre a saturação do núcleo, e focando a O instante é indicado pelo ponto c. A
análise apenas na componente transitória. partir desse ponto a corrente secundária
assume o valor da corrente primária menos o

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Proteção e Comunicação de Sistemas Elétricos de Potência

valor da corrente de magnetização, e como a Durante todo o período que a corrente


corrente de magnetização é positiva e maior secundária ficou com a polaridade invertida,
que a primária durante esse período, a ou seja, negativa, de “b até c”, o fluxo foi
corrente secundária torna-se negativa. decrescendo e, portanto, saindo de saturação.
A análise acima é interessante de A partir do momento que a corrente
forma didática, todavia o usuário precisa saber secundária volta a inverter de polaridade e fica
o efeito da saturação considerando as novamente positiva, o fluxo começa
componentes AC e DC. novamente a ser representado pelo período de
A figura 7 permite uma boa “c até d “.
compreensão do fenômeno. Novamente a No instante “d“, toda a área que havia
modelagem do TC assume indutância ficado negativa, caracterizando o
constante na região linear e ela vai a zero decrescimento do fluxo de “b até c”, fica igual
quando o TC entra em saturação. a positiva de “c até d“ e o TC volta a entrar em
Dessa forma, percebe-se que o fluxo saturação, e assim a corrente do secundário
transitório composto pelas componentes AC e tende a desaparecer novamente .
DC aumenta apresentando um valor (teórico) O gráfico na figura 7 ilustra como
de pico caso não houvesse saturação. No hachurado as regiões em que a corrente do
entanto, no instante “a“, ele atinge o nível de secundário está relativamente igual a corrente
saturação, a indutância de magnetização vai a do primário (considerando relação 1:1), e os
zero e a corrente de magnetização assume o períodos não hachurado que retratam os
valor da corrente primária, consequentemente períodos que a corrente secundária
a corrente secundaria vai a zero. Isso desaparece no secundário devido à saturação.
permanece até o instante “b”, instante que a Observe que a saturação do TC é um
corrente do primário inverte de polaridade para fenômeno transitório e à medida que a
negativa e o fluxo, que é a integral da tensão, componente exponencial do primário vai
passa a diminuir de amplitude. Observa-se desparecendo a saturação transitória vai
que como o fluxo é dado pela integral da desparecendo, e o TC passa a representar no
tensão e considerando-se uma carga resistiva secundário uma boa replica da corrente do
a tensão secundária estará em fase com a primário.
corrente secundária, e assim segue a
corrente primária

Figura 7: Resposta transitória do transformador de corrente com “Burden” resistivo e o efeito de


saturação

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Proteção e Comunicação de Sistemas Elétricos de Potência

Alguns comentários são importantes consequentemente o núcleo, considera-se o


para passarmos a introduzir os conceitos a tempo que o TC deve ter fidelidade,
especificação transitória de TC´s de proteção. assumindo como tal o tempo de operação do
1 - A constante de tempo do primário IED de proteção.
τ 1 é muito importante na especificação dos 5 - Baseando-se nessas premissas, e
em especial no tempo que se deseja a
TC´s.
fidelidade do TC, a norma IEC 61.869-2
Observe pela equação da corrente de
sugere curvas para que o usuário encontre o
magnetização que o valor de pico da
fator que se deve dimensionar o núcleo além
componente transitória (e assim o fluxo) é
do valor encontrado pela corrente AC da falta.
dado, aproximadamente, por:
Observa-se que quanto maior o tempo de
operação da proteção exige-se a fidelidade
^ τ1 por maior tempo e assim o fator Ktd
I (24)
τ3
(dimensionamento transitório) deve ser maior.
6 - O tempo que o fluxo leva para
alcançar o valor de saturação depende de:
Quando maior o τ1, maior o pico do • Magnitude da corrente de falta;
fluxo, e assim maior é a solicitação no TC. • Percentagem da componente contínua
Lembrando que τ 1 = (Xp/Rp) pode-se dizer que (“off-set”), que está ligado ao ângulo de
os geradores, que tem X/R geralmente em incidência da falta;
torno de 40, exigem muito mais do que uma • Constante de tempo da componente
aplicação que tem X/R em torno de 20, como DC da corrente de falta (Xp/Rp) do primário;
no caso das linhas de transmissão, que por
sua vez exigem muito mais que nas linhas de • Fluxo residual contido no núcleo Ør .
distribuição, com X/R em torno de 10, o no • Resistência do secundário e fator de
caso das indústrias, com X/R em torno de 5. potência, incluindo o efeito da resistência do
2 - A constante de tempo τ 3 leva em TC, cabo e burden da carga (relé);
consideração a indutância de magnetização e • Impedância de magnetização do TC
a carga total secundária (Lm/Rs), sendo Lm a vista do lado secundário, na frequência do
indutância de magnetização secundária do sistema;
TC, e Rs a resistência total do loop secundário. • Relação do TC.
Para TC´s de núcleo de ferro sem gap a
indutância de magnetização é elevada e a Definição do fator transitório Ktf e Ktd:
constante de tempo τ 3 é muito maior do que a
τ 1 , caracterizando que o decaimento do fluxo Lembrando que a corrente de
magnetização é dada pela equação 25, e essa
transitório é mais lento quanto maior a equação foi obtida para o máximo transitório
constante de tempo τ 3 . Isso não será valido dc:
se o TC tiver grandes gaps de ar, pois a
^ ^
indutância Lm diminui significativamente.
I I  −τt −τt 
3 - Quando se especifica o TC im (t ) = senωt − e 3 − e 1 
somente com a componente AC da corrente τ 3ω  1 1   
(25)
de falta, o nível de fluxo previsto é muito τ 3  − 
aquém do fluxo total quando se considera τ τ
 1 3
também a componente DC (exponencial).
Portanto a chance de o TC assim especificado A norma define o fator Ktf (fator
saturar é bastante alta. transitório), a partir da equação 25,dividindo o
4 - A evolução do Fluxo de fluxo total (AC+DC) pelo fluxo AC .Para a
magnetização é ditada pelas exponenciais condição de assumir o fluxo AC máximo isto é
representadas pelas constantes de tempo do se ωt=1, ela denota por Ktfp. E no caso da
secundário e pela constante de tempo do máxima solicitação de componente DC(100%
primário. Para que o TC não sature em off set) que é a condição que a equação 25 foi
nenhuma hipótese, o usuário terá que adotar a derivada, ela agrega na nomenclatura ao item
especificação da tensão de joelho bastante denotando “dc”, ficando Ktfp,dc como indica a
alta. Para minimizar a tensão de joelho e equação 26:

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Proteção e Comunicação de Sistemas Elétricos de Potência

valores máximos que podem ser obtidas


variando-se os parâmetros envolvidos na
ω τ 1τ 3  −τ
t

t
 equação. Essa curva foi chamada de Ktf, ou
K tfp ,dc = e −e τ
3 1  +1 (26) seja, fator transitório. Considerou-se uma
τ 3 − τ 1  
 envoltória unindo os pontos de máximo que foi
definida como Ktfp (curva dos picos). Também
Observa-se que o fator Ktfp,dc é um foi representada uma curva pontilhada que
fator que varia no tempo, e foi aqui assumido mantêm o valor máximo atingido pelo fluxo
para a condição de ângulo de incidência da transitório, denominada de Ktf.
falta que provoca o transitório DC com a A norma definiu três regiões da curva,
máxima componente transitória as regiões denotadas por 1, 2 e 3 na figura 8..
(caracterizando o índice de pico). O Reporter A região 1, onde a curva toca a
técnico IEC 61.869-100 expressa o fator para envoltória pela primeira vez, a região 2 que vai
condições gerais e depois particulariza a do primeiro momento que atingiu a envoltória
equação para a condição máxima. Aqui já até onde está locado o ponto máximo da
conduzimos para a condição máxima que envoltória e a região 3 que é daí para frente. O
representa o pior caso. A norma define o IEC TR 61869-100 realiza muitas análises
tempo na qual esse valor do fator transitório variando-se os parâmetros e analisando a
atinge o seu máximo pela equação 27: sensibilidade do fator aos parâmetros da
formula, como ângulo de incidência da fala,
ttf , dc, máx = [(τ 1.τ 3 ) (τ 1 − τ 3 )]. ln(τ 1 τ 3 ) (27) constantes τ 1 , τ 3 , tempo na qual se quer
garantir a linearidade do TC. A figura 9 ilustra
um dos casos analisados.
A norma apresenta na figura 8 uma
curva definida como KtfpΨmax que caracteriza o
fluxo para as piores condição de ângulo de
incidência da falta no caso em análise, e os

Figura 8: Regiões relevantes para o cálculo do fator transitório

Figura 9: Determinação do Ktf na região 1 com frequência de 60 Hz

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Definição do fator de dimensionamento ALF, para os tipos P e PR anteriormente foi


transitório Ktd dado por:

Conhecendo-se a definição do Ktf,


pode-se introduzir o conceito do Ktd, que será E ALF = ALF .(Rct + Rb ).I sr (28)
o valor particular do Ktf a ser usado para
dimensionar o núcleo e garantir a resposta
transitória do TC para as condições de Para aos tipos PX e PXR que a norma
trabalho especificadas. Como forma de indica como:
trabalhar de modo mais seguro, pode-se pegar
Ek = K x .(Rct + Rb ).I sr
as condições de máxima assimetria da
componente contínua da corrente (ângulo de (29)
incidência mais desfavorável) e adotar os
parâmetros τ 1 e τ 3 que reflitam o primário e Sendo Kx o fator que expressa o
secundário corretamente. O outro ponto sobredimensionamento que tipicamente é
importante para reduzir o fator de dado por:
dimensionamento transitório é a definição do
tempo de operação do relé, pois assim ficará ALF
Kx = (30)
assegurado o tempo no qual a fidelidade é
definida, e não toda a região. Ao dimensionar
β
para toda a região encontramos TC´s com Sendo β:
núcleos de grandes áreas. - 1,2 à 1,3 para núcleos sem gap;
A figura 10 ilustra uma curva que - 1,1 para núcleos com gap;
mostra o fator de dimensionamento transitório
para uma condição definida na qual a Agora, considerando o tempo que o
constante de tempo primária (fixa em 0,02s) e TC leva para entrar em saturação, como o
várias constantes de tempo do secundário tempo de resposta fiel que é o tempo de
( τ 3 ). Adotando-se o tempo de operação do operação do IED deve-se agregar ao
IED a figura indica o fator de dimensionamento dimensionamento do TC um novo fator e isso
transitório Ktd a ser usado no projeto do é feito multiplicando a tensão anterior
transformador de corrente. determinada pelas equações 28 e 29 acima
pelo fator Ktd. A expressão então passa a ser
dada pela equação (31)

Ea1 = K scc .K td .(Rct + Rb ).I sr (31)

Os Ciclos de Religamento:

Os ciclos de religamento C-O-C-O


impõe uma severa solicitação aos TC´s com
núcleo de ferro (TPX), pois o magnetismo
residual pode variar tipicamente de 70 a 90 %,
e o religamento encontra o núcleo com um
grande valor residual podendo provocar uma
saturação muito rápida.
Na norma IEC 60044-1 o fluxo de
saturação era considerado a partir do ponto de
joelho, todavia, na Norma IEC 61.869-2, a
Figura 10: Fator de dimensionamento
definição do ponto de joelho foi mantida,
transitório
porém não diretamente associada ao ponto de
saturação. O ponto de saturação passou a ser
Nesse caso a força eletromotriz que
definido como o ponto a partir do qual o núcleo
deve ser dimensionada para o TC não é mais
magnético apresenta saturação, a norma IEC
somente o valor que levava em conta o fator
61869-2 sugere o método da corrente DC

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Proteção e Comunicação de Sistemas Elétricos de Potência

como o de melhor resultados para ser adotado Kr = 95%


(anexo B 2.3 da norma). A figura 11 ilustra a
definição conceitual das mudanças da tensão K h = 1 (1 − 0,95) = 1 (0,05) = 20 (33)
de joelho da norma IEC 60044-1, onde o
joelho( saturação) era denotado por Ψs, e na Kr = 70%
norma IEC 61.869-2, onde o ponto de
saturação é denotado por Ψsat, maior que o K h = 1 (1 − 0,70 ) = 1 (0,3) = 3,33 (34)
ponto de joelho .A figura ilustra o alto nível de
fluxo residual deixado pela curva denotado Se o transformador de corrente
por Ψr. possuir gap de ar como os da classe PR, PXR
e TPY, o valor do fluxo residual a ser
considerado é de 10% e o fator de
sobredimensionamento Kh será:

K h = 1 (1 − 0,1) =1 (0,9 ) =1,11 (35)

Agora, considerando a fator que leva


em conta o magnetismo residual, a f.e.m. deve
ser alterada para:

E a1 = K h .K scc .K td .(Rct + Rb ).I sr (36)

A figura 12 ilustra um caso de um TC


Figura 11: Fluxo residual que é submetido a uma falta, considerando
que não apresenta saturação no primeiro
Quando há fluxo residual, o evento, e que devido a característica do ferro,
crescimento do fluxo (em um religamento) o fluxo residual foi mantido na pior condição
ocorre a partir dele. A figura 12 ilustra o caso possível quando a falta foi eliminada. Na
de quando não há fluxo residual, a sequência foi feito um religamento e o fluxo
magnetização inicia-se do zero, bem como o começa a crescer a partir daquele valor
comportamento quando já existe um fluxo evidenciando os esforços no TC durante os
residual. Quando o TC já tem em seu núcleo religamento.
um valor de fluxo residual o crescimento ao
nível de saturação ocorre mais rápido. O
retorno do fluxo a um nível residual é difícil
prever, pois depende fundamentalmente da
evolução dele no núcleo quando ocorre a
interrupção da corrente primária. Usualmente
para TC´s com núcleo de ferro sem gap esse
valor de fluxo residual (Kr) é elevado, valores
típicos estão entre 60 a 95%, sendo muito
usual adotar-se o nível de 70 a 80%, apesar
de já existir no mercado materiais com núcleo
que possuem fluxos residuais de 95%.
Considerando que o fluxo residual é Figura 12: Comportamento de um TC
um fator que prejudica a resposta do TC submetido a uma falta
aumentando a sua chance de saturar, a norma
IEC 61.869 sugere uma expressão onde o O fator de dimensionamento transitório
fluxo residual é usado na definição de um quando o TC é submetido a um religamento,
novo fator (kh) para sobredimensionar o TC. deverá ser a soma do fator de cada ciclo,
A equação 32 apresenta a equação. sendo definido pela equação 37:

K h = 1 (1 − K r ) (32) K td (C − O − C − O) = K td (t ' ) + K td (t '' ) (37)

Adotando-se alguns casos exemplo tem-se:

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Proteção e Comunicação de Sistemas Elétricos de Potência

Sendo que K td (t ' ) é o fator para especificação de TC´s. Ele tem caráter
didático, focado no ensino de transformadores
atender a primeira energização e K td (t '' ) para de corrente a fim de facilitar a compreensão
atender a segunda solicitação que ocorre com das normas.
o religamento. Os autores deixam claro que as normas são
Se o TC possuir gap de ar, o fluxo documentos completos, que consolidam um
residual tende a cair para um valor bem baixo grande conhecimento e que a sua leitura é
e podemos esperar no TC a evolução do fluxo indispensável. Além dos assuntos tratados
como ilustrado na figura 13. aqui, elas detalham aspectos de efeitos do
ambiente da instalação nas especificações
(altitude, umidade, etc.), detalham métodos de
ensaios e vários outros aspectos de
importante leitura.

Referências Bibliográficas

(1) International Standard CEI/IEC 60044-1;


Instrument transformers - Part 1: Current
transformers; Reference Number: CEI/IEC
60044-1:1996+A 1:2000 + A2:2002
(2) Norma Española UNE-EN 60044-6;
Transformnadores de medida. Parte6:
Figura 13: Comportamento de um TC com gap Requisitos para los transformadores de
diante de uma falta intensidad para proteccion para la respuesta
em régimen transitório. Esta norma es la
O TR IEC 61869-100 apresenta a versión oficial, en espanõl, de la Norma
listagem de um programa (software) para que Europeia EN 60044-6 de marzo 1999, que a
os usuários possam calcular o fator transitório su vez adota la Norma Internacional CEI/IEC
de dimensionamento com boa precisão, visto 60044-6:1992, modificada.
que as formulas são relativamente trabalhosas (3) Inernational Standard IEC 61869-2; Edition
para manuseio. 1.0 2012-09; Instrument transformers - Part 2:
Additional requirements for current
Conclusão transformers.
(4) IEEE Standard Requirements for
Esse trabalho em sua parte 2 ilustra Instrument Transformes; IEEE Std C57.13™-
aspectos da especificação de transformadores 2008 (Revision of IEEE Std C57.13-1993)
de corrente para proteção. As várias normas : (5) ABNT-Associação Brasileira de Normas
IEC 60044-1, 60044-6, 61869-2, IEEE C57.13, Técnicas; NBR 6856; ABR./1992;
NBR 6856 1992 e 2015 e do Technical Report Transformador de corrente.
TR 61869-100 (2017), foram consultadas e os (6) ABNT-Associação Brasileira de Normas
aspectos mais importantes que definem as Técnicas; NBR 6856:2015; Transformador de
classes dos TC´s de proteção com as várias corrente.
normas foram incluídos. Apresentou-se a (7) IEC TR 61869-100, Thechnical Report
formulação para o entendimento transitório do Edition 1.0 2017-01; Instrument transforms –
transformador de corrente de modo que o Part 100: Guidance for application of current
leitor possa compreender as distorções que transformers in Power system protection.
aparecem no secundário e que são (8) Efeitos de harmônicos e das distorções
apresentadas para os IED´s de proteção. transitórias em TC´s e TP´s no desempenho
Abordou-se a formulação para os cálculos das dos relés de proteção (Apostila do curso
tensões de saturação dos TC´s, e como ministrado pela Conprove Engenharia).
considerar o magnetismo residual e o
dimensionamento quando existem ciclos de Sobre os Autores
religamento.
Esse documento tem o simples Paulo Sergio Pereira: graduado em
objetivo de introduzir alguns conceitos ao Engenharia Elétrica pela UNIFEI, antiga EFEI,
leitor, comparando apenas alguns detalhes de Escola Federal de Engenharia de Itajubá em
1975, pós-graduação a nível de Mestrado

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Proteção e Comunicação de Sistemas Elétricos de Potência

pela EFEI em 1977 e PhD pelo UMIST, do B-5 do CIGRE. Estruturou e é Instrutor da
University of Manchester, Inglaterra em 1980. CONPROVE em cursos da Norma IEC 61.850.
Lecionou na EFEI e na UFU nas disciplinas de Atualmente Diretor Técnico da Conprove
proteção (graduação e pós-graduação), onde Indústria e Comercio. Possui trabalhos
orientou teses e coordenou pesquisas. publicados a nível nacional e internacional.
Fundador da CONPROVE Engenharia e Para entrar em contato com o autor:
atualmente Diretor Técnico da mesma. psjunior@conprove.com.br
Membro do CIGRE do grupo B-5. Possui
trabalhos publicados a nível nacional e Gustavo Espinha Lourenço: graduado em
internacional. Para entrar em contato com o Engenharia Elétrica pela UFU em 1997, com
autor: psp@conprove.com.br pós-graduação a nível de especialização pela
UFU em 1999. Profissional de carreira na
Paulo Sergio Pereira Junior: graduado em CONPROVE, onde atua em desenvolvimento
Engenharia Elétrica, opção eletrônica, pela de softwares e pesquisas na área de Proteção
UFU, Universidade Federal de Uberlândia em de Sistemas Elétricos e Automação. Possui
2002, com MBA em Gerenciamento de trabalhos publicados a nível nacional e
Projetos pela FGV em 2003. Atua na internacional na área de proteção, estudos e
coordenação e desenvolvimento de projetos e automação de sistemas elétricos. É instrutor
desenvolvimentos de instrumentos na da CONPROVE em cursos de Proteção. Para
CONPROVE Indústria e Comércio. entrar em contato com o autor:
Representante Brasileiro no Grupo suporte@conprove.com.br
Internacional de Testes de IED´s de Proteção

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