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Os contraexemplos de Gettier

O trabalho de Smith

O primeiro contraexemplo enunciado por Gettier é o seguinte: Smith pede um


trabalho, mas tem a crença justificada de que «Jones conseguirá o trabalho». Também tem a
crença justificada de que «Jones tem 10 moedas em seu moedeiro». Portanto, Smith conclui
(justificadamente, pela regra de transitividade da identidade) que «o homem que conseguira o
trabalho tem dez moedas em seu moedeiro».

Ao final Jones não consegue o trabalho, pois o dão a Smith. Sem embargo, Smith
descobre ao abrir seu moedeiro que tem 10 moedas nele. Assim, a crença de que «o homem
que conseguira o trabalho tem dez moedas em seu moedeiro» estava justificada e é
verdadeira. Mas isso não parece que seja conhecimento.

Brown em Barcelona

O segundo contraexemplo enunciado por Gettier é: Smith tem a crença justificada de


que «Jones possui um Ford». Smith conclui (justificadamente, pela regra de adição) que «Ou
Jones possui um Ford, ou Brown está em Barcelona», embora Smith não tenha nenhum dado
sobre onde Brown se encontra.

Jones não possui um Ford, mas por estranha coincidência, Brown se encontra em
Barcelona. De novo, Smith tinha uma crença que era verdadeira e estava justificada, mas não
parece que tivesse conhecimento.

Partida de futebol e o karaoke

A partida de futebol entre Inglaterra e Alemanha está a ser transmitida no café ao


fundo da minha rua. Ao ouvir um coro de aplausos, convenço-me de que a Inglaterra acabou
de marcar, e marcaram mesmo: o resultado é agora 1-0. A minha crença é verdadeira e
também justificada: o clamor que vem lá de dentro dá-me boas razões para pensar que a
equipa inglesa acabou de marcar um golo. No entanto, os aplausos que ouvi tinham afinal
origem no bar em frente, que não tem televisão e onde, em vez disso, está a decorrer um
concurso de karaoke. É uma mera coincidência que o cantor do bar em frente tenha acabado a
sua arrebatada versão de I Will Survive ao mesmo tempo que a Inglaterra marcava um golo. A
minha crença verdadeira é, portanto, fruto da sorte e por essa razão não equivale a
conhecimento. Este exemplo mostra que podemos ter crenças verdadeiras justificadas
acidentalmente, e que a definição tripartida não apresenta, por isso, condições suficientes
para o conhecimento.

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