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A contrarreforma psiquiátrica
O movimento antimanicomial no Brasil é um dos mais ativos no mundo,
mas as conquistas são lentas e os percalços, constantes
Protesto contra a política de saúde mental no Dia Nacional da Luta Antimanicomial, no Rio de Janeiro,
em 2018
Fernando Frazão/Agência Brasil
Contradições
São conquistas importantes, mas vêm acompanhadas de contradições. Entre elas, nos
anos 2000, a chegada das Organizações Sociais, que concretizaram arranjos
contratuais com o setor privado e que prontamente representaram uma série de
assédios trabalhistas. Nos anos seguintes, houve o financiamento público das
Comunidades Terapêuticas, espaços majoritariamente religiosos e que, baseados na
promessa da “cura das drogas”, foram alvo de uma série de denúncias de tortura,
excesso medicamentoso, retirada de bebês, desrespeito à identidade de gênero e
liberdade religiosa, trabalho forçado e violência física.
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Leia também: Arte de Aurora Cursino dos Santos, que foi internada em um hospício, narra a
violência e a interdição da sexualidade vividas pelas mulheres
(https://www.quatrocincoum.com.br/br/artigos/politica/gritos-e-sussurros)
O golpe institucional que assolou o país alcançou o setor como um tsunâmi, fazendo
com que movimentos sociais e intelectuais chamassem de Contrarreforma
Psiquiátrica o completo redirecionamento da política de saúde mental até então em
curso, especialmente por meio de medidas já apresentadas pelo governo de Michel
Temer e que se aprofundaram após a eleição de Jair Bolsonaro. Nesse cenário
(acompanhando a invisibilização de números de outras áreas), os dados oficiais
deixaram de ser publicizados, como antes era garantido pelo documento Saúde
Mental em Dados, informativo do Ministério da Saúde ausente desde 2015. Apesar
disso, o Painel Saúde Mental — publicado em 2021 pela organização Desinstitute a
partir de uma série histórica de gastos federais — comprova o aumento do
financiamento de espaços asilares e o desinvestimento na rede de serviços
territoriais. Entre elas, especialmente as ações voltadas para a geração de trabalho e
renda e aquelas que se direcionavam à arte e à cultura passaram a se esvaziar,
juntamente com a tentativa de descaracterização dos serviços residenciais.
É neste instante também que me lembro de uma manifestante, em uma ação de 2014,
com um cartaz: SOU A FAVOR DO CAPS, PERDI MINHA JUVENTUDE EM
MANICÔMIOS. Sua memória também não deixa de nos reavivar o atual
fortalecimento de associações de usuários e familiares, as iniciativas inovadoras que
tomam os serviços e o renascimento das conferências populares de saúde mental, que
estão ampliando a pauta da saúde mental por meio de conferências de mulheres, da
população negra, dos povos indígenas e da população em situação de rua, entre tantas
outras. Na Reforma Psiquiátrica brasileira, ainda há muitos e muitas que seguem
firmes se organizando a partir da palavra de ordem que, há anos, se aglutina em:
“Nenhum passo atrás, manicômio nunca mais”.
Leia também: A poeta Bruna Beber apresenta um estudo digno das camadas proféticas do
falatório de Stella do Patrocínio (https://www.quatrocincoum.com.br/br/resenhas/politica/a-voz-
da-estrela)
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