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Santiago de Compostela (Espanha), 16 de agosto de 1989.

IV Jornada Mundial da Juventude

Chiara Lubich: "Jesus é o Caminho"

(canções e aplausos)

Chiara: "Jesus é o Caminho".


Caríssimos jovens, Jesus, o Caminho. "Eu sou o Caminho"1, disse Jesus. É esta frase que
devemos aprofundar juntos.
Todos os homens caminham na vida por uma estrada; da mesma forma todos os jovens e
todas as crianças. E as estradas que percorrem são muitas. Vocês conhecem as que seguem
geralmente os jovens de hoje. Vamos analisá-las um pouco.
Do que emerge sobretudo das pesquisas, as aspirações dos jovens - para fazer uma breve
alusão - são completamente diferentes das aspirações da famosa "revolução cultural" de 1968.
Muitos de vocês ainda não tinham nascido, mas talvez a tenham ouvido mencionar. O
compromisso ideológico, nesse tempo preeminente, cedeu em grande parte o lugar à busca de
uma plena autonomia individual e, consequentemente, ao predomínio da vida particular.
A maioria dos jovens hoje não tem grandes ideais: almeja ter um bom emprego, uma boa
posição social, ter uma casa, poder formar uma família, ter um futuro seguro.
Depois, aqueles que gozam de bem-estar, e que estão habituados a ter tudo na hora, não
são motivados por nenhum espírito de sacrifício, nem encaram a vida com responsabilidade.
Para uma minoria de jovens, a perda de motivações leva inclusive à fuga da realidade e à
droga, à violência, a não ter uma regra moral.
Todavia a exigência de autonomia, se por um lado conduz os jovens ao individualismo, por
outro suscita neles profundas interrogações pessoais: "Quem sou? Para onde vou? Que sentido
1

Jo 14,6
tem a minha vida?". Mas muitas vezes eles, rejeitando por preconceito toda e qualquer
autoridade, querem encontrar respostas subjetivas, perdendo assim de vista as próprias raízes
culturais e religiosas.
As transformações políticas e culturais, por sua vez, e o enorme desenvolvimento das
comunicações em nível mundial favoreceram a superação, por parte dos jovens, de antigas
posições, favoreceram também uma maior sensibilidade e empenho em prol da paz universal e da
não-violência como caminho para o futuro.
Nota-se em muitos uma grande abertura, sem discriminações culturais ou raciais, nem
diferenças ideológicas ou religiosas, e já não rejeitam os que são "diferentes" deles. Por
conseguinte, também uma opção de solidariedade em prol dos marginalizados e dos países em
vias de desenvolvimento, assim como formas de voluntariado cada vez mais consistentes.
É típico, ainda, nos jovens o respeito e o amor pela natureza, ameaçada pela exploração
indiscriminada do homem.
Além disso, se muitos, distraídos pelo pragmatismo consumista, manifestam uma
indiferença religiosa cada vez mais acentuada, em outros renasce um sincero interesse religioso,
que os leva a assumir um empenho radical em movimentos, em associações, etc.
Aspectos negativos, portanto, mas também aspectos positivos; aliás, predisposições boas
dos jovens para uma visão cristã aberta e empenhada.
Tanto aos primeiros como aos últimos Jesus hoje repete: "Eu sou o Caminho". Para todos
um profundo encontro com Ele pode ser decisivo: para aqueles que aceitam propostas fáceis
demais ou que percorrem estradas talvez erradas ou ambíguas, a fim de que possam descobrir
Aquele que pode lhes dar plenitude e felicidade; e para os outros, a fim de que possam alcançar a
sua plena realização.
"Eu sou o Caminho", disse Jesus.
Mas, queridos jovens, o que é que Jesus quer dizer com estas palavras?
Com estas palavras ele exprime um conceito muito alto, uma verdade muito rica e, a partir
delas, se poderia explicar todo o mistério cristão.
Com certeza Jesus, definindo-se a Si mesmo "o Caminho", quis dizer que devemos
caminhar como Ele caminhou; viver como Ele viveu; acolher a Sua mensagem.
Caminhar, portanto, como Ele caminhou.
Mas Jesus, que estrada tomou?
Sendo Filho de Deus, que é Amor, veio à terra por amor; viveu por amor, irradiando amor,
doando amor e anunciando a lei do amor até morrer por amor. Depois ressuscitou e subiu aos
Céus, cumprindo o Seu desígnio de amor. Tudo por amor a vocês, a mim, a todos.
Pode-se, então, dizer que a estrada percorrida por Jesus tem um nome: amor. E que nós,
para segui-lo, devemos caminhar pela mesma estrada: a estrada do amor.
Amor.
Alguém poderá perguntar: mas que tipo de amor Jesus tinha em seu coração? Ele agiu
impulsionado por que tipo de amor? Qual foi o amor que deixou aqui na terra?
O amor que Jesus viveu, e que nos deixou, é um amor especial e único. Não é um amor
como vocês poderiam imaginar! Não é, por exemplo, filantropia, nem mera solidariedade ou
benevolência; tampouco pura amizade ou afeto (como o que pode sentir um rapaz por uma jovem,
ou uma mãe pelo seu filho); não é sequer não-violência. É algo excepcional, divino: é o mesmo
amor que arde em Deus. Jesus nos deu uma chama daquele infinito incêndio, um raio daquele
imenso sol. É algo extraordinário em que pensamos pouco; ao passo que, se o levássemos em
consideração, nos faria potentes.
Amor divino, aceso no nosso coração mediante o batismo e a fé, alimentado pelos outros
sacramentos; dom de Deus, que requer, porém, toda a nossa parte, a nossa correspondência.
Devemos fazer frutificar este amor. De que maneira? Amando. Não somos plenamente cristãos se
não dermos a nossa contribuição efetiva. E amando, seguiremos Jesus, o Caminho.
Mas amar quem?
O nosso primeiro dever é amar a Deus.
Depois: amar o próximo, todos os próximos. Ou ainda: amar o próximo que se vê como
prova de amor por Deus que não se vê. "Toda a Lei, de fato - tudo o que devemos fazer -, se
encerra (diz Paulo) num só preceito: 'Amarás o teu próximo como a ti mesmo'"2.
Jesus - Caminho nos pede para amar o próximo. Mas há uma condição neste amor: é
necessário amar o próximo como a si mesmo3, como a nós mesmos.
Talvez nunca tenhamos compreendido em todo o seu alcance esta exigência de Jesus, nem
tenhamos conhecido as suas consequências.
Podemos fazê-lo... Nós tentamos, assim como muitos de vocês. É uma coisa extraordinária!
É preciso lançar-se!

2
Gl 5,14
3
cf Mt 22,38
Podemos fazer assim se levarmos a sério aquele "como a nós mesmos", se o vivermos ao
pé da letra: aquele "como" significa mesmo "como". Devemos pôr, então, o próximo no mesmo
plano que nós; e isso representa uma mudança total do nosso modo habitual de pensar e de agir.
Geralmente - e vocês podem confirmar - o amor a nós mesmos supera em larga medida o amor ao
próximo.
O amor cristão, pelo contrário, exige que pensemos nos outros como em nós mesmos,
sempre e sem exceções. É difícil agir assim, mas é uma experiência que vale a pena fazer. Eu a
recomendo sempre. E veremos bem depressa que nem tudo fica por aí. De fato, este modo de
amar tem consequências imprevistas e importantes.
Ao redor de quem ama desta maneira surge algo novo. Este amor toca e atrai o próximo. E
ele, sentindo-se amado, muitas vezes quer saber o porquê do nosso comportamento e não é raro
que decida partilhá-lo, começando também ele a amar. Deste modo o amor torna-se recíproco e
pessoas, que antes - embora cristãs - viviam quase na indiferença umas para com as outras,
reavivam-se, põem-se em comunhão entre si, congregam-se; e desta maneira tornam visível a
comunidade cristã, dando assim a ideia, somente com a atuação desta única palavra de Deus, da
transformação, da revolução que o Evangelho pode provocar. (aplausos)
Mas como considerar o próximo para podermos amá-lo desta forma?
Creio que todos vocês, queridos jovens, recordam uma magnífica página do Evangelho...
Muitos de vocês são estudantes, mas no fim da vida teremos de fazer um exame... daqueles!!... O
interessante é que já sabemos as perguntas! Jesus dirá: "Tive fome e me deste de comer". Não
tinha uma tenda e você me recebeu na sua. Faltava-me o saco de dormir e você me deu um. Não
tinha almoço e você dividiu o seu comigo. É isso que Jesus nos dirá (portanto, podemos nos
preparar com antecedência para este exame!), afirmando deste modo que considera feito a Si tudo
o que fizemos a cada pessoa. É Ele, com efeito, o destinatário de cada nossa ação boa, má ou
indiferente. Ele considera tudo como feito a Si. Um tapa dado em uma pessoa, é Jesus que o
recebe. Um pedaço de pão é Jesus que o come.
Ele se esconde, por assim dizer, em cada ser humano. Por isso, se queremos caminhar pela
Sua estrada, não podemos dizer: este é simpático, aquele é antipático; este é importante, aquele
não; este é bonito, aquele, feio; este é católico, aquele, não; aquele é hinduísta, o outro é ateu;
aquele é preto, o outro é branco; aquele é homem, aquela é mulher; aquele é um amigo, o outro é
inimigo... Não podemos dizer nada disso. Devemos dizer: este é Jesus, aquele é Jesus, aquele é
Jesus. Jesus está presente em todos os próximos e encontrar-se com eles significa encontrar-se
com Jesus!
Portanto, ao contrário do amor simplesmente humano, o amor que Jesus acendeu no
mundo não faz distinções - isto é importante! -, não faz acepções de pessoas. É um amor
endereçado a todos e durante o dia temos a ocasião de encontrar muitas pessoas. Ainda mais
vocês, durante esta peregrinação: quantos próximos, quanto amor, quantos Jesus acariciados ou
maltratados. Com efeito o Evangelho diz que o Pai faz brilhar o sol e chover sobre os maus e sobre
os bons.
Mas o amor cristão possui outra característica.
Até agora percebemos que é preciso amar como a si mesmos e amar a todos, todos, todos.
Outra característica é que este amor não é como o do mundo, onde muitas vezes amamos
porque somos amados... Isto é belo! O amor cristão toma a iniciativa do amor; ama primeiro; não
fica esperando ser amado, mas parte em quarta.
Vocês terão muitas ocasiões nestes dias para se prepararem para a vinda do Santo Padre. É
como o amor que Jesus tinha no coração quando, na cruz, morreu por nós. E nós ainda éramos
maus. Ele foi o primeiro a nos amar morrendo. Quem ama verdadeiramente o próximo toma a
iniciativa. Nós, discípulos de Jesus, devemos ser os primeiros a amar.
Eis, então, as quatro características da arte de amar cristã: amar os outros como a si
mesmo, ver Jesus em todos, amar a todos e amar primeiro. Esta é a grande arte de amar.
(aplausos)
E já seria suficiente, não só para vivermos como cristãos, mas para nos fazermos todos
santos. Contudo, eu devo dar catequese; devo continuar a falar da estrada do amor.
Procuremos compreender melhor o amor para pô-lo em prática.
Amar. E por onde começar? Por quem está mais perto de nós. Você, você, você, você, todos
aqueles que estão perto de vocês. "Próximo" significa, de fato, vizinho, aquele que está perto.
É necessário, portanto, amar todos aqueles que encontramos. Desde que levantamos, de
manhã, até à noite, quando vamos deitar, cada relacionamento com as pessoas deve ser vivido
com este amor, com esta caridade. Em casa, na universidade, no trabalho, nos estádios, nas férias,
aqui em Santiago de Compostela, na igreja, ou na rua, devemos aproveitar todas as ocasiões para
amar. Se fizéssemos assim, não imaginam que revolução veríamos! Mas é o que queremos fazer.
Aproveitar todas as ocasiões para amar, vendo Jesus em todos, sem deixar ninguém de lado e
sendo nós os primeiros a amar. Será preciso aprender isso de cor!
Existe ainda um modo típico e prático para atuar este amor. São duas palavrinhas: "fazer-se
um" com o próximo. Vou explicar.
"Fazer-se um" com cada irmão, que significa entrar o mais profundamente possível no
íntimo dele; compreender os seus problemas, as suas exigências, as suas dificuldades, as suas
alegrias, para poder partilhar tudo. Debruçar-se sobre o irmão. "Fazer-se fraco com os fracos (...);
fazer-se tudo para todos", diria São Paulo4. Tornar-se, de certo modo, o outro. E esta é uma bela
frase. Tornar-se o outro. Como Jesus que, sendo Deus, se fez homem por amor. Ele é mesmo o
exemplo.
Assim o próximo se sente compreendido e aliviado, porque há quem leve com ele os seus
pesos, os seus sofrimentos, e partilha as suas dificuldades.
"Fazer-se um" com todos, em tudo, exceto no pecado, é lógico.
"Viver o outro", "viver os outros": este é um grande ideal; é o máximo! E deixar de levar
uma vida fechada em si mesmo, nas próprias coisas, nas próprias preocupações, nas próprias
ideias, em tudo aquilo que é próprio. Basta! Estaríamos deslocados no tempo! Os tempos atuais
exigem isto!
E "fazer-nos um" não só sentimentalmente ou com palavras ou com uma mera compaixão,
mas concretamente, com ações. Oferecendo um pedaço de pão, um lugar no prado, qualquer coisa
que devem ceder... Jesus amou concretamente, curando as pessoas, ressuscitando-as, lavando os
pés dos discípulos. O Seu amor era concreto.
Amar, portanto, viver no amor. E quais são as consequências de uma vida assim?
A primeira é esta: amando desta maneira, encontramo-nos nas condições necessárias para
seguir Jesus.
Jesus disse: "Se alguém quiser vir após Mim, primeiro: renegue-se a si mesmo; segundo:
tome a sua cruz"5.
Quando eu penso no outro... já reneguei a mim mesma, porque não existo, o meu eu não
vive mais! Eis, portanto, uma condição para seguir Jesus pela sua estrada.
É lógico que custa sempre um pouco pensar nos outros, porque devo procurar o que lhe
agrada, preocupar-me com ele, chorar talvez com ele, etc., e ajudá-lo, ajudá-lo, ajudá-lo. Está
presente também o aspecto da cruz, que devemos levar.

4
cf 1Co 9,22
5
cf Mt 16,24
Por conseguinte temos as duas condições para seguir Jesus. Mas vocês não se preocupem
com isso: pensem apenas em amar e assim terão as duas condições.
Anos atrás, muitos jovens iam à Ásia à procura da mortificação e da renúncia a si mesmos.
Na verdade encontram-se estes aspectos nas religiões orientais. Talvez não tínhamos entendido
suficientemente o que nos trouxe Jesus.
Quando éramos jovens como vocês, mas agora também, amando desta maneira,
experimentamos um outro fruto. Uma das consequências estupendas é esta. Quando, durante o
dia inteiro, nos esforçamos em estar fora de nós para amar o outro, para amar o outro, para amar
o outro, à noite, quando nos recolhemos para rezar, sentimos alguma coisa que se pode considerar
união com Deus. Há algo dentro de nós que nos une a Deus. E isto porque pegamos a estrada, a
rodovia, para chegar a Deus, que é o amor.
Então, quando antes muitos jovens iam à Ásia para entrar em contato com o Absoluto (eles
o chamam Absoluto, porque nem sempre se chama Deus), não tinham entendido que Jesus veio
trazê-lo e pô-lo ao nosso alcance com a Sua lei, que no fundo é simples, só que é exigente!
Exigente, mas digna de vocês, jovens, que têm muita força e coragem, que viajaram três dias de
trem para vir aqui ou que vieram a pé, etc.
Continuando por esta estrada, adquirem-se todas as virtudes.
A humildade: não é preciso procurar a humildade, ficar de cabeça baixa, dizendo: "Eu sou
nada". Vivendo o outro já somos nada.
A pureza: "Oh, devo lutar contra isto, contra...".
Vivendo o outro nada nos fará pensar em nós mesmos.
A pobreza: "Oh, devo despojar-me disto, desapegar-me daquilo, deixar isto, deixar
aquilo...". Mas o que importa?! Amando o outro distribuímos o que possuímos. Adquirem-se todas
as virtudes. (aplausos)
Fizemos também a experiência de que, prosseguindo por esta estrada simples, simples,
simples, avançamos velozmente no caminho da santidade, da perfeição, porque é um Salmo que
diz: "Corro pelos caminhos da vossa lei, - isto é, pondo-os em prática -, porque me dais (com o
amor, naturalmente) um coração largo"6. Portanto, corre-se. Avança-se. Se vocês também
quiserem ser santos, façam-se santos. Basta que não seja um apego a vocês mesmos. Mas,
amando, serão logo santos.
Vejam as vantagens da caridade.
6
Sl 119,32
Quando amamos, muitas vezes somos retribuídos - como dizia antes - e nasce o amor
recíproco. É este o mandamento de Jesus.
Na Trindade se vive o Amor e Jesus, vindo à terra, mas permanecendo sempre na Trindade,
trouxe o que ele vivia, o amor recíproco, porque é assim que se amam as pessoas da Santíssima
Trindade.
Jesus, de fato, diz que este é o "Seu" mandamento ("O Meu mandamento") e que é "novo";
não se encontra em nenhum outro lugar. Naturalmente diz: "Amai-vos como Eu vos amei"7. É uma
grande medida! Morreu por nós. O modelo é Ele. E diz que é preciso amar-se até ao ponto de dar a
vida: "Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida..."8. Por isso, percebem que ceder
um lugar - repito - a tenda, ou qualquer coisa, é nada diante do fato de dar a vida?
Quem segue Jesus não se pode dizer autêntico se não for capaz de dar a vida.
É muito exigente! Mas não tenham medo; Jesus em primeiro lugar, mas também os santos,
muitas pessoas maravilhosas, e também o nosso Movimento, como dizia antes sua Excelência,
precederam vocês. Naturalmente nem sempre nos é pedido para dar a vida. Agora, por exemplo,
vocês no máximo devem prestar muita atenção enquanto eu falo alguma coisa e isto não significa
dar a vida! Mas, no fundo, devemos ter esta prontidão: se me fosse pedida, eu a dou. É preciso
estar prontos. Aliás, São Pedro diz: "Antes de tudo esta prontidão, a mútua e constante caridade;
antes de tudo"9.
"Antes de tudo", inclusive antes de ir à Missa, antes de ir comungar, antes de tudo. Há
aquela frase do Evangelho: "Se (...) o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a oferta e vai
primeiro reconciliar-te com ele; depois, volta"10.
O amor recíproco é o distintivo dos cristãos; portanto, não temos outra saída! É inútil usar
lindos distintivos. Claro, aqui em Santiago servem para nos reconhecermos. Eu vi que vocês
também têm alguns muito bonitos... Servem por um tempo, mas aquilo que nos deve distinguir, é
este amor recíproco. Os primeiros cristãos não vinham em relevo por fazerem, por exemplo,
grandes discursos ou milagres. Também os faziam, mas não era por isso. Ou por fazerem discursos
eloquentes ou obras poderosas. Não era por isso, embora fizessem muitas coisas belas. Vinham

7
cf Jo 15,12
8
cf Jo 15,13
9
cf 1Ped 4,8
10
cf Mt 5,23-24
em relevo porque se amavam uns aos outros. "Veja - diziam os pagãos - como se amam. Estão
prontos a morrer uns pelos outros."
Faz impressão. Testemunhavam que estavam prontos a morrer uns pelos outros e os
pagãos percebiam. "Veja, veja como se amam: estão prontos a morrer uns pelos outros!"11.
Naturalmente, vivendo assim, nada permanece igual. Eu mesma experimentei viver assim e
gostaria que vocês também provassem.
Experimentem amar-se uns aos outros assim e sentirão uma alegria nova, uma paz nova,
uma benevolência, uma magnanimidade, algo novo dentro de vocês: são os dons do Espírito, que
vive com potência dentro de nós, quando reina a caridade.
Além disso este amor recíproco conquista o mundo, porque (como sabem): "Que sejam
uma coisa só (mediante o amor), a fim de que o mundo creia..."12. E quantas vezes acontecem
fatos deste tipo. Ainda há pouco dois seminaristas, dois gen's, me disseram: "Sabe, entramos numa
loja e a senhora, que nos atendeu e que era ateia, no fim converteu-se, praticamente.". Só por
terem vivido o amor recíproco.
É, portanto, um meio extraordinário para dar início àquela evangelização que nos é pedida
pela Igreja e pelo Papa. Comecemos dando o testemunho de Cristo mediante o amor recíproco e o
mundo nos seguirá. (aplausos)
Além disso vi, principalmente entre os jovens, um efeito um pouco especial. Como se
amam, a certa altura, colocam tudo em comum. Têm algum dinheiro no bolso, um anel ou uma
pulseira (e doam). Agora, não pretendo que vocês façam o mesmo; fiquem com tudo, façam o que
quiserem, naturalmente. Eles colocam tudo em comum; fazem um embrulho de todas as coisas
que têm e doam aos pobres em um lugar ou outro, ajudando a Colômbia, o Madagáscar, ou países
afligidos pela fome, ou outras situações mais próximas, como os presos, as crianças, etc.
Sim, este amor leva principalmente os jovens a pôr tudo em comum. É uma experiência
maravilhosa e percebi que para eles, isso é muito importante. Assim como pôr em comum as
experiências que fazem, para se ajudarem uns aos outros a ir para frente. Precisamente porque
não se pode ser egoístas, nem sequer em relação à santidade pessoal. Tudo, tudo, deve ser amor;
então alcança-se também a santidade.
Agora poderiam me perguntar: mas este amor recíproco de que fala, é atual? Porque esta
época é um pouco diferente...

11
TERTULLIANO, Apologetico, 39,7.
12
Cf Jo 17,21
Paulo VI, dirigindo-se aos bispos da Oceania, disse: "A Igreja é caridade (...). E a caridade é -
parece-nos (dizia) - a virtude destes tempos"13.
O Concílio Vaticano II queria que a Igreja voltasse a se modelar segundo a imagem dos
primeiros cristãos, que se amavam desta maneira. E disse também que "a lei do povo de Deus', a
nossa lei, é o amor recíproco14. Portanto estamos no caminho certo.
Então, se é assim, devemos fazer penetrar este amor em todos os nossos relacionamentos,
antes de tudo na Igreja, entre os Movimentos, entre os jovens, entre todos, nas paróquias, nas
dioceses, em todas as realidades eclesiais, nas Ordens religiosas... Façamos penetrar este amor.
Além disso a Igreja abriu-se, depois do Concílio, às outras Igrejas, […].
Também neste caso, não foi tanto a doutrina que nos dividiu, quanto a falta de amor. Portanto é
necessária uma grande invasão de amor para podermos recuperar a unidade perdida, com as
outras Igrejas. E para compreender aqueles fragmentos de verdade que também existem nas
outras religiões, é preciso amar, porque só amando podemos entender. E com os que não creem
em Deus? Precisamos amar. Não podemos fazer distinções de nenhum tipo! Devemos amar a
todos.
Desta forma haverá um retorno das pessoas distantes de Deus e uma aproximação com os
fiéis de outras religiões e juntos poderemos amar a Deus, poderemos encontrar uma certa unidade
também com eles e ter esperança na unidade entre as Igrejas. E isto causará um grande impacto
no mundo!
A atualidade deste amor é confirmada por novas realidades existentes na Igreja, por estes
Movimentos, que às vezes se concentram no amor e na unidade. Aliás, gritam com os seus
carismas a unidade. É o Espírito Santo que diz: "Olhem, o sinal dos tempos, um sinal dos tempos, é
a unidade!". Estas realidades por si só são a demonstração da vontade de Deus hoje.
A caridade também é de grande atualidade para resolver os problemas da humanidade.
Embora o mundo ainda seja marcado por tensões, guerras (pensem no Líbano), etc.,
percebe-se que alguma coisa está mudando aos poucos. Estamos, por exemplo, às portas da
unidade europeia e outros povos procuram formas de agregação. Muitos organismos, como a
ONU, já falam em resolver os problemas de todos os povos.
A unidade - como disse - é realmente um sinal dos tempos.

13
Cf PAULO VI, discurso aos Bispos da Oceania (1/12/1970) em: Insegnamenti di Paolo VI, VIII (1970), Poliglotta Vaticana
1971, p.1311.
14
LG 9: EV 1,309.
Há algumas semanas ou meses dizem que explodiu a paz, em vez da guerra atômica.
Portanto é uma boa base para podermos levar este nosso ideal, Jesus, o Caminho, a todos. Este
fato nos faz esperar que muitas das aspirações à fraternidade universal, também de muitos jovens,
sugeridas, suscitadas, ou pelo menos apoiadas pela Providência de Deus, poderão se tornar
facilmente patrimônio de todos.
E, após milênios de história em que se experimentaram os frutos da violência e do ódio,
talvez bem cedo se possam experimentar os frutos do amor. Seria maravilhoso! É o que desejo a
vocês e ao futuro de suas vidas.
Talvez bem cedo se possam experimentar os frutos do amor, daquele amor que deve ser
vivido tanto entre os indivíduos como entre os povos, porque a pátria alheia deve ser amada como
a própria (aplausos).
Esta unidade entre povos de todas as raças e de todas as religiões só será possível se
trabalharmos para construir aquela civilização do amor, que os Papas nos propõem. Nós, cristãos.
Esta é a questão! Porque somos nós que conhecemos este Amor extraordinário, este Amor divino!
Temos a possibilidade de ter este Amor divino nos corações, que é realmente indestrutível, é algo
extraordinário!
Trabalhemos por esta civilização do Amor. É a essa meta que Jesus - Caminho quer nos
conduzir. Com esta civilização do Amor podemos obter a unidade da Igreja e fazer com que o
mundo viva mais unido. Com efeito Jesus pediu: "Pai, que todos sejam um"15. Referia-se
certamente aos cristãos, mas isso se repercute no mundo inteiro, porque a unidade entre os
cristãos é a premissa, a garantia e a prefiguração da unidade no mundo. Além disso foi um Deus
que pediu a unidade. Jesus era Deus e pediu-a ao Pai; portanto, não pode não ser atuada.
Já existe na Igreja uma certa unidade e vocês veem quantos povos, inclusive aqui: vocês são
de diversas línguas. E poderá ter uma grande repercussão se nós formos cristãos verdadeiros,
assim poderemos ter um reflexo em toda a humanidade.
Conseguir unir mais o mundo e realizar um mundo unido, é uma meta alta, altíssima,
extremamente difícil, que pode parecer utópica ou muito distante. Mas, como disse João Paulo II
aos "Jovens por um mundo unido": faz a história quem olha para o futuro e não quem se deixa
capturar unicamente pelo presente16.

15
Jo 17,21
16
Cf GIOVANNI PAOLO II, Cerchiamo l'unione profonda con Dio, homilia aos jovens do Movimento Gen, 18.5.1980, in "La
Traccia" 5 (1980), p.395.
Então, caríssimos jovens, coragem! Vamos para frente. O futuro está nas mãos de vocês.
Mirem longe!
Repito-lhes com Catarina de Sena, já que muitos aqui presentes são italianos: "Se forem
aqueles que devem ser (isto é, amor), incendiarão toda a Itália!"17. E hoje, que temos horizontes
um pouco mais amplos: incendiarão o mundo inteiro. "Não se contentem com as coisas pequenas,
porque Deus quer que sejam grandes!". (aplausos)
Jesus, o Caminho, que precede todos nós, repito, não é somente um homem: é Deus. E
para Deus nada é impossível.
(aplausos)

Traduzione rivista per l’incisione


Ufficio Traduzioni,
Nome file: ACL-DS-19890816-TT-A-pt.odt -

17
Cf SANTA CATERINA DA SIENA, in Il messaggio di santa Caterina da Siena dottore della Chiesa, Roma 1970, p.757.

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