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EDUCAÇÃO CRISTÃ –

IMPORTÂNCIA, ASPECTOS
CULTURAIS HISTÓRICOS E
CONCEITUAIS.

A EDUCAÇÃO CRISTÃ COM


ENFÂSE NO DISCIPULADO
UM A UM.
AULA 02

OS INIMIGOS DO DISCIPULADO

Quando investimos nosso tempo no ensino geralmente tendemos a esperar


resultados numéricos de nosso empenho, raras são as vezes que nos focamos na
qualidade, e comumente quando iniciamos com qualidade logo a empolgação toma
conta e já nos voltamos aos números. De maneira bem clara é preciso por no coração
do discipulador que o que pretendemos fazer nada tem a ver com matemática, ou
qualquer ganho financeiro onde o resultado é basicamente o retorno com lucro de
nosso investimento, é óbvio que se do fruto de nosso trabalho vierem milhares
glorificaremos a DEUS por isso, pois é Ele que dá o crescimento, a nós só cabe plantar
(1Co 3.6).

Se a preocupação for primariamente o resultado numérico teremos pessoas


iguais com as mesmas qualidades, produzidas em série como sugere a imagem acima,
e terão também os mesmos defeitos, sim concordo que realmente haverá uma
uniformidade, mas até onde isto será bom para as nossas comunidades? Isto já foi
tentado e se pudermos nos lembrar foi um desastre, tentaram criar livros de regras e
doutrinas, conjuntos de ética, declarações doutrinárias, etc., não que isto seja te todo
mal, mas se os discípulos que fizermos não forem realmente convertidos a Cristo,
regras e normas não bastarão para que sejam genuinamente cristãos, seremos como
os fariseus dos tempos de Jesus, só colocando fardos sobre eles e eles serão como a
multidão daqueles dias, na hora do milagre o louvarão, na hora da perseguição o
abandonarão.
Em nossa opinião o discipulado precisa ser realizado um a um, ou seja de modo
individual, não que não possa fazê-lo para mais de uma pessoa, mas sim dedicar o
tempo somente a uma pessoa por vez usando materiais diversos e não o mesmo para
todos, e devido a esta dedicação exclusiva será possível identificar melhor cada
discípulo, suas necessidades e anseios e com isto trabalhar melhor cada uma das
características da pessoa, potencializando suas qualidades e tratando suas deficiências,
não como um coach, mas como um verdadeiro discipulador no modelo de Cristo.

Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela


renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e
comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
Romanos 12:2

Um passo importante no discipulado um a um é ter a consciência de que é


necessário moldar-nos de modo diferente deste mundo, podemos até ter
conhecimento amplo de psicologia, filosofia ou sociologia entre outras, mas o perigo
de tais ciências é que sem a devida precaução podemos por acabar aplicando
tendências modernistas ao nosso ensino e com isso ao invés de moldar o discípulo a
Cristo o moldaremos às mais diversas influência mundanas, não estamos aqui negando
os benefícios reconhecidamente bons que podem ser trazidos por estes
conhecimentos, mas o problema reside em saber qual é o limite de sua aplicabilidade
na realidade do Reino de DEUS, que possui uma realidade transcendente à vida
secular, pois quando não soubermos limitar podemos acabar por inserir o pluralismo,
o materialismo, o relativismo ético e até o narcisismo, como veremos a seguir em
alguns trechos extraídos do livro “o Discípulo Radical” de John Stott .

PLURALISMO

O pluralismo vem tomando de assalto as igrejas, pois aponta para o respeito a


todo o tipo de pensamento. Esta linha filosófica defende que o respeito à diversidade
de pensamento é necessário para um “entendimento” do outro e em consequência de
isto podermos viver pacificamente em sociedade. O pluralismo só demonstra que as
pessoas não querem ser contrariadas em suas escolhas, porém se nossa velha
natureza não for confrontada e moldada à pessoa de Cristo, tudo o que cremos cai por
terra, pois nada de nós seria mudado e continuaríamos a ser os mesmos egoístas,
preguiçosos, rancorosos, avarentos, ou seja, não deixaremos de ser carnais.
Se não nos opormos ao pluralismo apresentando o cristianismo como único
meio capaz de transformar o individuo segundo a vontade de Cristo e absorvermos
todo o tipo de pensamento tornaremos o pecado palatável, e continuaremos a ser
escravos dele, só podemos nos libertar e verdadeiramente ser livres se tudo que há em
nós for mudado. A partir do momento que alguém decide vir a Cristo é fundamental
que esteja disposto a abrir mão de tudo que era para que se torne nova criatura. Ter
certeza de que o cristianismo é único e singular nos fará ser visto como arrogantes e
pretenciosos, porém é mister que estejamos convictos de que Cristo é o único e
suficiente Salvador, se assim não pensarmos e agirmos, faremos qualquer outra coisa,
mas jamais faremos autênticos discípulos cristãos.

MATERIALISMO

“... tendência secular muito difundida e a qual os discípulos cristãos devem


resistir é o materialismo. O materialismo não é simplesmente uma aceitação da
realidade do mundo material. Se assim fosse, todos os cristãos seriam
materialistas, pois acreditamos que Deus criou o mundo material e
disponibilizou suas bênçãos a nós. Deus declarou a ordem material também por
meio da encarnação e ressurreição do seu Filho, na água do batismo e no pão e
vinho da Santa Comunhão. Não é de se admirar que William Temple tenha
descrito o cristianismo como a religião mais material de todas. Porém, ela não é
materialista. Pois materialismo é uma preocupação com coisas materiais, que
podem abafar a nossa vida espiritual. No entanto, Jesus nos diz para não
armazenar tesouros na terra e nos adverte contra a avareza. O mesmo faz o
apóstolo Paulo, nos impelindo a desenvolver um estilo de vida de simplicidade,
generosidade e contentamento, extraindo tal padrão de sua própria experiência
de ter aprendido a estar contente em quaisquer circunstâncias (Fp 4.11). Paulo
acrescenta que “grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento” (1Tm
6.6) e continua, explicando que “nada temos trazido para o mundo, nem coisa
alguma podemos levar dele”. Talvez, de forma consciente, ele estivesse
repetindo o que diz Jó: “Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei” (Jó 1.21).
Em outras palavras, a vida na terra é uma breve peregrinação entre dois
momentos de nudez. Assim, seríamos sábios se viajássemos com pouca carga.
Nada levaremos conosco. (Stott,2010).

Não são poucas as vezes que precisamos escolher entre o certo e o lucro. Nós
somos conhecidos como aqueles que querem levar vantagem em tudo, mesmo que
isto nos custe amizades ou a nossa integridade. Mas e quando precisamos tomar
alguma decisão em que nós seremos prejudicados para benefício de outro que precisa
mais naquele momento? Jesus nos ensinou que o primeiro mandamento é “amar a
DEUS sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”, já notou que “você”
nesta afirmação vem depois do próximo? E por favor não tente relativizar dizendo que
para amar ao próximo é preciso se amar primeiro, não, não é isso que o texto diz, diz
exatamente que deve amar a DEUS acima de tudo e ao próximo na mesma intensidade
que você se ama, está vendo você não ~e melhor que o próximo, e próximo aqui no
grego é πλησίον (plesion – vizinho, por perto, próximo) que tem um significado
geográfico e não de similaridade como alguns pretendem, ou seja, o próximo é o que
está próximo de você e não o que pensa igual a você, se veste como você ou torce pra
o mesmo time que você. O próximo pode ser seu vizinho de casa, ou de mesa no seu
serviço, o próximo pode ser o do carro à sua frente na rua, ou parado no mesmo
semáforo, e é a ele que você deve amar da mesma forma que você a si mesmo, ou
simplesmente você fará a ele o que gostaria que fizessem a você (Mt 7.12).
Quando somos materialistas nos preocupamos mais com as coisas que temos
ou podemos ter do que com as pessoas, o discipulador materialista pensará mais nos
louros por sua quantidade de discípulos de que eles sejam realmente edificados na
Rocha, se preocupará em ser reconhecido por seus números de que pelos frutos que
seus discípulos poderão dar.
O texto que citamos de Mateus pode também ser traduzido da seguinte forma:
Todas as coisas assim sendo, tantas como e se, você pode desejar que deveria fazer
para você, faça você para os outros, isso de fato é a Lei e os Profetas.

RELATIVISMO ÉTICO
Tudo depende do seu ponto de vista, Austrália ou Tombuctu, Em Roma
faça como os romanos. Se os gostos acabam coincidindo Então você tem
moralidade. Mas onde existem tendências conflitantes, Tudo depende, tudo
depende... Os discípulos cristãos radicais devem discordar disso. Certamente
não devemos ser totalmente inflexíveis em nossas decisões éticas, mas
devemos procurar, com sensibilidade, aplicar princípios bíblicos em cada
situação. O senhorio de Jesus Cristo é fundamental para o comportamento
cristão. “Jesus é Senhor” continua sendo a base da nossa vida. Assim, a
pergunta fundamental para a igreja é: Quem é Senhor? Será que a igreja exerce
o senhorio sobre Jesus Cristo, tornando-se livre para alterar e manipular ao
aceitar o que gosta e rejeitar o que não gosta? Ou Jesus Cristo é o nosso Mestre
e Senhor, de maneira que cremos nele e obedecemos ao seu ensinamento? Ele
nos diz também: “Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos
mando?” (Lc 6.46). Confessar Jesus como Senhor, mas não obedecer a ele, é
como construir a vida sobre a areia. Novamente: “Aquele que tem os meus
mandamentos e os guarda, esse é o que me ama”, disse ele no Cenáculo (Jo
14.21). Aqui estão duas culturas e dois sistemas de valores; dois padrões e dois
estilos de vida. Por um lado, há o estilo do mundo ao nosso redor; por outro, a
vontade revelada, boa e agradável de Deus. Discípulos radicais têm pouca
dificuldade de fazer suas escolhas. (Stott, 2010).

É possível que o relativismo ético seja o maior dos inimigos a ser enfrentado,
pois tudo tem sido tomado com um sentido mais brando, há a real intenção de
atenuar as palavras da Bíblia de forma a caber na ética existente no mundo atual, há
um esforço hercúleo em transformar o que a Palavra diz em algo “para aquele tempo”,
que não tem o mesmo significado para nós no século vinte e um, este pensamento diz
que o que está escrito precisa ser interpretado a luz do ponto de vista do leitor, pois
não se pode tomar o sentido absoluto e literal de algumas afirmações de Jesus e dos
apóstolos, pois afinal o ser humano não é igual aqui e na China, o que para os
brasileiros é bom pode não ser bom para os salomônicos (quem nasce nas Ilhas
Salomão), afinal são línguas diferentes, culturas diferentes, realidades diferentes e
assim por diante. A leitura da Bíblia se tornou relativa em muitas igrejas, a aplicação e
a simbologia se tornaram mais importante que o que realmente a saudável exegese e
a hermenêutica exigem.
Arrependimento é a primeira marca do discípulo, não há como dar um sentido
diferente a isto, a conversão só ocorrerá após o individuo olhar pra si e desejar
ardentemente ser um novo ser, não existe a possibilidade de ser meio arrependido, ou
ser meio cristão, ser um cristão em Estocolmo é o mesmo que ser um cristão em
Nagoya.
NARCISISMO

Deus sabe que, no dia em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e
vocês serão como Deus, conhecedores do bem e do mal".
Gênesis 3:5

A decisão de Adão em aceitar a fruta oferecida por Eva para ser igual a DEUS,
nos mostra o quanto o ser humano desde o início no mais profundo do âmago
queremos ser deuses e nos igualar em poder e majestade ao Criador, não é só
conhecer o bem e o mal, mas sermos iguais a Ele, basta olhar para nossa cultura
recente, os filmes que mais tiveram sucesso de bilheteria falam de heróis imortais,
com superpoderes, capazes de voar e de vencer qualquer um que se oponha a eles,
isto diz muito acerca de nossos desejos secretos.

... Narciso, na mitologia grega, foi um jovem que viu seu reflexo em um lago,
apaixonou-se por sua própria imagem, caiu dentro d’água e se afogou. Assim,
“narcisismo” é um amor excessivo, uma admiração desmedida por si mesmo.
Nos anos 70, o narcisismo se expressou por meio do Movimento Potencial
Humano, que enfatizava a necessidade da autorrealização. Nos anos 80 e 90, o
Movimento da Nova Era imitou o Movimento Potencial Humano. Shirley
MacLaine pode ser considerada símbolo do movimento, pois era cega de paixão
por si mesma. De acordo com ela, a boa notícia é essa: Sei que existo; portanto,
eu sou. Sei que a força divina existe; portanto, ela é. Já que sou parte dessa
força, sou o que sou. Parece uma paródia deliberada da revelação que Deus faz
de si mesmo a Moisés: “Eu sou o que sou” (Êx 3.14). Assim, o Movimento da
Nova Era nos convida a olhar para dentro de nós mesmos e nos explorar, pois a
solução para os nossos problemas está em nosso interior. Não precisamos que
um salvador surja em algum lugar e venha até nós; podemos ser o nosso
próprio salvador. Infelizmente, uma parte desse ensinamento tem permeado a
igreja e há cristãos recomendando que devemos não somente amar a Deus e ao
próximo, mas também a nós mesmos. No entanto, isso é um erro por três
razões. Em primeiro lugar, Jesus falou do “primeiro e grande mandamento” e
do “segundo”, mas não mencionou um terceiro. Em segundo lugar, amor
próprio é um dos sinais dos últimos tempos (2Tm 3.2). Em terceiro lugar, o
significado do amor ágape é o sacrifício próprio em benefício de outros.
Sacrificar-se a serviço de si mesmo é, nitidamente, um contrassenso. Então,
qual deve ser a atitude para conosco? Um misto de autoafirmação e
autonegação — afirmar tudo em nós que vem da nossa criação e redenção, e
negar tudo que pode ser ligado à queda. É aliviador se livrar de uma
preocupação doentia consigo mesmo e voltar-se para os saudáveis
mandamentos de Deus (incorporados e reforçados por Jesus): amar a Deus de
todo o coração e ao nosso próximo como a nós mesmos. Pois a intenção de
Deus para a sua igreja é que ela seja uma comunidade de amor, de adoração e
de serviço. Todos sabem que o amor é a maior virtude do mundo, e os cristãos
sabem o motivo: é porque Deus é amor. O cortesão espanhol do século 13,
Raimundo Lúlio (missionário entre os muçulmanos no Norte da África), escreveu
que “aquele que não ama, não vive”. Pois viver é amar, e sem amor a
personalidade humana se desintegra. É por isso que todos procuram autênticos
relacionamentos de amor. (Stott, 2010)

A busca pelo eu e por aquilo que me satisfaz que até as igrejas se moldaram a
isto, temos até os cultos voltados ao sucesso pessoal, temos pregadores famosos e
populares que até dizem que o ponto fraco de DEUS é o ser humano (é, eu vivi pra
ouvir isto), a ênfase no individuo é tanta que , figuradamente falando, até os grandes
bancos dos templos estão deixando de existir, hoje há cadeiras individuais, não que
sejamos contra o conforto dos irmãos, mas o individualismo tem tomado uma
importância maior que a comunidade, sendo que a maior marca do cristianismo é o
amor ao próximo (Jo 13.35), é esta unidade em meio a diversidade que glorifica a DEUS
(Jo 17.20-23), nunca deve ser “eu”, contudo sempre deve ser “nós”.

"Minha oração não é apenas por eles. Rogo também por aqueles que crerão
em mim, por meio da mensagem deles,
para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles
também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.
Dei-lhes a glória que me deste, para que eles sejam um, assim como nós
somos um:
eu neles e tu em mim. Que eles sejam levados à plena unidade, para que o
mundo saiba que tu me enviaste, e os amaste como igualmente me amaste.
João 17:20-23

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