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EDUCAÇÃO CRISTÃ

IMPORTÂNCIA, ASPECTOS
CULTURAIS HISTÓRICOS E
CONCEITUAIS.

A EDUCAÇÃO CRISTÃ COM


ENFÂSE NO DISCIPULADO
UM A UM.

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INTRODUÇÃO

Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu


eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo
compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens
são indesculpáveis;
Romanos 1:20

Por meio tanto da criação como por sua própria Palavra escrita, temos acesso
ao conhecimento de DEUS, sempre houve no seio da Igreja aqueles que buscassem
incansavelmente conhecer ao Senhor e seus desígnios com o intuito de “passar pra
frente” seu aprendizado, no decorrer dos séculos desde que a Igreja se estabeleceu
nesta terra, vimos homens como Clemente de Roma, que seria o primeiro a usar a
expressão “educação cristã” em 96 e.C. (conf. Henri Marrou, 1990), passando por
Irineu de Lion, Tertuliano de Cartago, Orígenes de Alexandria, Agostinho de Hipona,
Tomás de Aquino, mais tarde Erasmo de Roterdã, Martinho Lutero e João Calvino,
entre muitos outros compreenderem a vocação da Igreja como instrumento de ensino,
pois desde o discipulado de Jesus aos doze, ainda nos dias de hoje e até a parousia de
Cristo, veremos a Igreja tendo como seu papel fundamental o ensino, primeiramente
no que se refere à sua essência: a vida, morte e ressurreição de Cristo. E como
também não dizer a ética e compromisso da implantação dos valores do Reino de
DEUS neste mundo de modo a glorificar ao nome de DEUS como proposta fim de todas
as coisas (1Co 10.31).

Mas como ensinar aquilo que não conhecemos?


Para que possamos ensinar, antes é necessário aprender, para distribuir
conhecimento é preciso adquiri-lo antes, de um saco vazio nada se pode tirar, a não
ser ar, e ar temos também fora do saco. Não que sejamos completamente contrários
aos ministérios leigos, sim eles têm sua utilidade e lugar no serviço cristão nas
comunidades, mas é evidente que quanto mais o docente é preparado melhor
também serão seus alunos.
Quanto mais usamos o privilégio de conhecer a DEUS e seus desígnios, obras e
intervenções na da história da humanidade, mais nos tornaremos capazes de
compartilhar a sua glória por meio do ensino, quanto mais conhecemos ao seu Cristo
(ungido), mais nos tornamos parecidos com Ele, e uma das características mais
marcantes do Mestre, era sua capacidade de ensinar e transformar vidas, o que Ele
ainda faz e ordena que seja feito por meio dos seus discípulos (leia abaixo Mateus
28.17 – 20).

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Quando o viram o adoraram; mas alguns duvidaram.
Então, Jesus aproximou-se deles e disse: "Foi-me dada
toda a autoridade no céu e na terra.
Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações,
batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo,
ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei.
E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos".

Mateus 28:17-20

O ciclo do ensino na Igreja começa através dos sermões expositivos, das


conversas e testemunhos pessoais ainda nas portas e salões das congregações no
decorrer ou ao fim de cada celebração, nas escolas bíblicas presenciais ou remotas,
nos pequenos grupos, caminhando pelos corredores dos seminários e universidades
teológicas, assim como também ocorreu no caminho para Emaús (Lucas 24.13 – 35),
mas antes disso o ensino sempre se inicia no chamado individual de cada cristão, como
dissemos anteriormente, sempre houveram aqueles que se dedicaram a conhecer, não
só por conhecer, ou para se obter fama e poder como pretendia Simão, o Mago (At 8.9
– 24), mas antes o desejo ardente de transmitir o conhecimento de DEUS, cada um
deles o fez em sua época, com sua própria cultura, por meio de sua metodologia, e
este conhecimento progrediu, se espalhou e chegou até nós.
Pensadores lutaram diuturnamente, alguns perderam a vida por isso, com a
intenção responder a questões, resolver conflitos por meio do campo das ideias, e nos
presentearam com livros e artigos que ainda são utilizados nos meios acadêmicos, mas
antes de todo material disponível é necessário que aquele que foi chamado ao
ministério do ensino tenha acesso ao maior professor de todos os tempos o “Espirito
Santo”, sem Ele nós não aprenderemos e não seremos capacitados a ensinar (Jo
14.26), a não ser que nossa intenção seja ensinar qualquer outra coisa diferente da
palavra de Cristo.

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PANORAMA HISTÓRICO BREVE
A Teologia afirma primordialmente que a partir de Jesus há o início da
Educação Cristã, Ele é o objeto maior de estudo e o dono mais sublime de todo
ensinamento puramente cristão.
A partir da pessoa de Cristo é que o ensino cristão se perpetua, inicialmente no
meio eclesiástico e familiar, e mais recentemente no meio secular através das escolas
confessionais, como os colégios Batistas, os seminários teológicos, a faculdade
Mackenzie, as universidades Luteranas, etc.
Historicamente existiram fases distintas na Educação Cristã, nestas fases
houveram períodos frutíferos e estéreis, com o período dos apóstolos com uma grande
explosão pelo mundo greco-romano; logo após com os chamados pais apostólicos a
luta pela defesa da fé e a construção do credo; no fim na Idade Média a educação se
resumia a alguns poucos privilegiados e ao clero romano; com o início da Idade
Moderna e o advento da Reforma houve uma retomada à busca do conhecimento da
Bíblia e o retorno à sua centralidade (Sola Scriptura), na Idade Contemporânea e no
período atual mesmo com a disseminação das Escolas Bíblicas protestantes (com início
em 1757 com Robert Raikes), e infelizmente hoje muitas comunidades cristãs tem
abandonado o ensino propriamente bíblico e partido para o ensino motivacional
(coaching), alguns apenas com a intenção de inchar os templos gerando muita
quantidade e pouca qualidade, talvez isso ajude a explicar a inconstância na curva de
crescimento do evangelho.

CONCEITO, MISSÂO E DEFINIÇÃO

De maneira bem simplória podemos dizer que a Educação Cristã está ligada à
Teologia Pastoral, ela é inicialmente voltada a reflexão e a atividade educativa no
âmbito religioso cristão, dentro das comunidades por assim dizer cristãs, ou também
fora, como afirmamos anteriormente por meio das instituições de ensino
confessionais.
Sua missão sob a ótica teológica está descrita em Mateus 28.18-20 em que
ensinar e fazer discípulos não é um pedido, mas evidentemente é uma ordem, veja
também que no texto a tarefa de ensinar não está restrita a um grupo especifico entre
os discípulos, mas é uma ordem abrangente, explicitamente dá entender que todos
devem aprender, e todos devem ensinar, ou seja, por consequência a educação cristã
é a missão de toda a Igreja.
A definição, baseado nos argumentos até aqui tratados (que serão ampliados
no decorrer do curso), é o ato de ensinar com precisão histórica e doutrinária aquilo

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que nos foi transmitido desde a pessoa de Jesus Cristo, seus apóstolos e depois por
cada um dos autores que foram sendo levantados no decorrer dos séculos.

O PAPEL DA IGREJA NA EDUCAÇÃO CRISTÃ


Temos a impressão de que o papel do educador dentro da igreja se repete ao
da escola secular, que seria o de somente introduzimos conhecimento na mente dos
alunos, ao final do período estes alunos estão prontos para replicar todo o
conhecimento adquirido. Todavia é importante lembrar que o “aluno” não é só um
aprendiz, mas um discípulo de Cristo, e que após ser ensinado é papel da Igreja
tutorear este discípulo por toda sua vida, e toda sua vida aqui não está restrito ao
tempo, mas de igual forma em todos os aspectos desta vida, quer seja pessoal, familiar
e até profissional. É função da Igreja (aqui entenda-se congregação de pessoas, não a
instituição) acompanhar o discípulo desde seu nascimento (do ventre ou do batismo,
não importa) até sua morte, desde a sua apresentação quando criança, ou sua decisão
até seu funeral.
Esse acompanhamento da Igreja objetiva em gerar em cada cristão um agente
transformador dentro de sua própria família e na comunidade da fé.
A partir do ponto em que o cristão é um agente transformador dentro de sua
casa e sua comunidade, ele pode extrapolar este ambiente e também passar a
influenciar seus vizinhos, seu bairro, sua cidade e por fim o mundo todo.
Resumidamente o papel da Igreja como agente do Reino de DEUS e por meio
da educação cristã está em preparar seus membros para uma vida de transformação
de toda a sociedade em que ela se encontra, não é só o encucar uma doutrina, mas
educar para que o indivíduo seja reconhecido como um cidadão do Reino dos Céus e
seu representante aqui neste mundo, não só como um membro fervoroso de uma
denominação, a Igreja tem a missão de educar para que a criatividade no culto seja
favorecida, que a transmissão da fé e o comportamento social sejam genuínos, e não
uma mera reprodução de comportamentos julgados corretos pelas gerações
anteriores. É preciso vislumbrar que é extremamente importante educar os cristãos
para serem inseridos em projetos de transformações sociais, e que entenda aqui que,
só um cristão comprometido com seu Senhor pode causar transformação que
realmente implante o Reino ao seu redor e não só o individualismo domingueiro, que
não favorece nem edifica sequer ao próprio indivíduo.

O PAPEL DO EDUCADOR CRISTÃO

O educador cristão tem a missão de transmitir os ensinos de Cristo, essa


transmissão envolve não só o discurso, porém também a prática do que o educador

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conhece da Palavra de DEUS. O que é ensinado deve ser permanentemente
aperfeiçoado através do estudo frequente e sistemático dos ensinamentos de Jesus,
sempre com sua fundamentação na Palavra. A vida de prática diária e a demonstração
do fruto do Espírito será sempre o ponto de convicção visível do docente cristão.
Espera-se que o educador cristão primeiramente creia naquilo que ensina, mas
não se limite a crer, contudo, viva aquilo que ensina, pois diferentemente de um
professor secular em que se espera que ao menos conheça bem o assunto a ser
ensinado, pois não exigimos que um professor de geografia seja geografo, nem um
professor de astronomia seja um astronauta, mas é de extrema necessidade que um
professor de ensino cristão seja minimamente cristão, e que tenha sua vida escondida
em Cristo, e além disto o que se espera de deste professor é que o que sai de sua boca
venha diretamente do seu “coração”, antes de falar é preciso que seu ensino tenha
primeiramente atingido sua própria vida. Somente assim o bom educador cristão
estará apto a se colocar à frente dos seus alunos e com autoridade ministrar ensinos
que podem e vão transformar cidadão, cidades, estados, nações e até o mundo inteiro.
Por isso é extremamente importante que o educador primeiramente queira
ensinar a Palavra, ou em uma “crentês” mais moderno, tenha intencionalidade, pois
naturalmente as pessoas costumam ensinar o que aprendem, e continuamente
costumamos transmitir conhecimento uns aos outros, em todo tempo por meio de
conversas, de gestos ou de nosso próprio exemplo, mas o educador cristão precisa ter
além do desejo a real intenção de transmitir os ensinos de Cristo, pois essa intenção irá
potencializar o resultado.

SISTEMATIZAÇÃO DO ENSINO CRISTÃO


A Educação Cristã baseada na sistematização dos ensinos de Cristo não é usada
apenas nas escolas Bíblicas Dominicais e nas organizações missionárias como muitos
possam imaginar. Essa forma de ensino conseguiu incluir em sua sistematização toda a
igreja (instituição), num âmbito muito maior do que a mencionada aqui.
A sistematização na forma de ensino nos ajudou a melhorar em, em muito todo
o sistema de culto, fazendo com que cada ação do mesmo fosse direcionada ao
mesmo fim, fazendo convergir, dentro de uma liturgia simplificada, devocional,
adoração e pregação de tal maneira que todos os momentos do culto sejam claros e
com participação efetiva dos frequentadores, afim de que essas pessoas não sejam
meros expectadores, mas parte integrante e ativa do culto, levando o público a não só
assistir, contudo a prestar verdadeiramente um culto a Deus.
Um sistema de educação com fundamentos no discipulado, passa então a ser
mais do que uma disciplina, pois é à vontade explicita de Cristo no momento de sua
ascensão, o que chamamos de a “grande Comissão” (atos 1.8).
Você já parou pra pensar em como chegamos ao modelo de igreja que somos
hoje, por que o culto tem este formato? Por que temos EBD em algumas igrejas e em

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outras não? Por que o culto inicia com uma oração, tem música e a pregação? Por que
que há a Ceia? Etc.
A igreja como instituição teve nas décadas de 70 e 80 mudanças que foram
muito lentas, mas que se consolidaram fortemente a partir dos anos 90, enquanto no
mundo corporativo a informática, hoje conhecida como tecnologia da informação,
avançava diuturnamente, nas igrejas isso ainda era uma tabu, por isso deixamos de
usar muitas das ferramentas hoje comuns ao mundo, obviamente isto causou um
atraso maior na sistematização do ensino cristão, mas devido ao crescimento de
jovens cristãos nos mercados profissionais mais atualizados, a tecnologia e novas
metodologias passaram a ser largamente utilizadas pelas igrejas, inicialmente pelas
maiores denominações, sendo que as pequenas tiveram certa dificuldade, mas hoje,
principalmente nos tempos pós-pandemia, todas foram forçadas a se atualizarem, pois
tivemos que nos adaptar aos cultos on-line, escolas bíblicas gravadas, que acabaram
por se tornar uma realidade às igrejas que pretendiam sobreviver ao grande êxodo
“covidiano”.
Apesar da solidez educacional que as igrejas tinham há quase trezentos anos
pelo uso intenso do modelo de EBD, que causaram impactos profundos até no ensino
secular, muitos dos nossos alunos “ficaram pelo caminho”, e é preciso pensar nas
razões que causaram isto.
O modelo de sistema de ensino proposto neste curso tem ênfase no
discipulado direto, diferentemente da relação alunos/professor, professores/alunos,
nossa proposta é de um ensino uma a um, com total dedicação por parte de quem
ensina e total atenção do que aprende, obviamente isso não impede de que façamos
mais de um discípulo por vez, mas que haja total conhecimento do que é um discípulo,
o que é um discipulado e o que é um discipulador. Porém é importante observar
alguns detalhes antes de prosseguirmos com estes conceitos, então vamos lá.

TEOLOGIA DISCIPULADORA
“Cubram-se com a poeira dos pés de seu rabino”
Quando lemos em Mateus 28.19: “ide e fazei discípulos”, podemos ver uma
ordem clara e de simples entendimento, contudo podemos cometer alguns equívocos
que podem complicar a execução de algo tão básico.
Uma questão é que nossa teologia tenha se tornado tão elevada que
distanciamos as pessoas mais simples de nossos relacionamentos, ou nossa teologia é
tão supérflua que não construímos relacionamentos duradouros com aqueles a quem
queremos discipular. Para os primeiros a serem chamados diretamente por Jesus a
questão do discipulado era algo natural, pois todo rabino tinha diversos talmidins, que
inclusive conta-se que os melhores alunos eram os mais sujos, pois os mestres

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costumavam ensinar andando e falando em estradas poeirentas, e os que tentavam
ficar

mais próximos para ouvir se sujavam com a poeira levantada por seu rabi. O ensino
destes mestres tinha muito a ver com as coisas rotineiras na vida daqueles meninos,
sua linguagem era fácil de ser entendida, porém eram profundas a ponto de
transformarem estes meninos nos novos mestres que fariam a diferença em sua
nação.
A intenção dos rabinos era de aperfeiçoar a vida de seus talmidins na Lei, nos
Escritos e nos Profetas, entretanto a nossa intenção é de aperfeiçoar as pessoas que
vem até nós em Cristo, assim como Paulo nos diz em Colossenses 1.28 (NVI) “Nós o
proclamamos, advertindo e ensinando a cada um com toda a sabedoria, a fim de que
apresentemos todo homem perfeito em Cristo”, por esta causa, temos que ensinar a
Cristo por meio do conhecimento de Sua Palavra, é necessário que saibamos manejar
bem esta Palavra e consigamos extrair lições preciosas de nossa experiência de vida
com DEUS, dos momentos ruins e momentos bons, do exemplo dos outros que foram
compartilhados conosco, usando da mesma maneira que o apóstolo Paulo diz em sua
primeira carta aos coríntios:
Porque, embora seja livre de todos, fiz-me escravo de todos, para ganhar o
maior número possível de pessoas.
Tornei-me judeu para os judeus, a fim de ganhar os judeus. Para os que estão
debaixo da lei, tornei-me como se estivesse sujeito à lei, (embora eu mesmo
não esteja debaixo da lei), a fim de ganhar os que estão debaixo da lei.
Para os que estão sem lei, tornei-me como sem lei (embora não esteja livre da
lei de Deus, mas sim sob a lei de Cristo), a fim de ganhar os que não têm a lei.
Para com os fracos tornei-me fraco, para ganhar os fracos. Tornei-me tudo
para com todos, para de alguma forma salvar alguns.
Faço tudo isso por causa do evangelho, para ser coparticipante dele.

1 Coríntios 9:19-23

Como podemos ver claramente neste texto do apóstolo se adapta a cada


situação para que cada oportunidade de pregar o evangelho e discipular novos crentes
seja aproveitada, os educadores cristãos mais perspicazes aprenderão que não é pela
linguagem rebuscada e pelas excessivas menções aos grandes nomes da história da
teologia e muito menos por uma linguagem simplória, e por vezes chula e grosseira, de
falsa humildade que irão conseguir transmitir de modo convincente os ensinos do

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Mestre, mas o saber se adaptar a cada situação e a cada ouvinte fará com que os
objetivo do discipulado sejam alcançados.

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