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O jovem reconhece Jesus como mestre...

Nesta passagem vemos claramente que o jovem rico reconheceu Jesus como mestre, mas não o reconheceu como
Senhor.
Atos dos Apóstolos narra a passagem de Paulo e Timóteo pela cidade de Filipos. Eles foram encarcerados após sua
libertação por obra do Espírito Santo, o carcereiro, muito amedrontado, pergunta: “Senhores, que devo fazer para
me salvar?”.A resposta foi simples e direta: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua família”.
Quando lemos o modo como o Jovem Rico se dirige a Jesus já começamos a perceber o que ele ainda não tinha
compreendido.
Só Deus é bom
O jovem rico provavelmente estava tocado pelas palavras de Cristo e o questiona sobre como ele próprio poderia
alcançar a vida eterna. Em sua resposta Jesus inicia por colocar algumas coisas em primeiro plano: só Deus é bom,
ou seja, apesar de tudo que façamos, inclusive cumprir todos os mandamentos ou preceitos, isso não será o
suficiente para nos tornarmos bom. Este é o começo de uma importante chave de leitura para este Evangelho.
Os mandamentos e o Evangelho e a insistência
Logo em seguida Jesus cita os mandamentos: 01 que está na primeira tábua da Lei e mais 4 que estão na segunda
tábua e acrescenta mais um: o mandamento do amor ao próximo. São mandamentos de relacionamento entre as
pessoas.
A resposta é bastante conhecida, quando o jovem diz que tem cumprido todos estes mandamentos. Ele
provavelmente é um judeu que cumpre a Lei. Mas em Mateus o jovem insiste com mais uma pergunta: o que me
falta ainda?
E aqui aquela chave começa a se apresentar por completo: o Jovem não tinha conhecido profundamente a
mensagem de Jesus. Ele não estava familiarizado com o Evangelho que vinha sendo pregado por Jesus. Ele
provavelmente ouviu coisas sobre Jesus e se interessou. Deveria ser um judeu da Judéia e aproveitou para ir
conhecer Jesus e ouvi-lo. Ele conhecia a Lei, mas ele realmente entende a natureza da lei?
Paulo diz em Romanos 3:20 que, “Pela lei vem o conhecimento do pecado.” Em verdade, o que o Jesus falava ao
Jovem era de que só Deus é bom e que somente seguir a Lei não seria suficiente salvá-lo, pois não o transformaria ,
ele ainda necessitaria da Graça e misericórdia divinas e para isto deveria reconhecer Cristo como Senhor, e não
somente um “bom mestre conselheiro”. Para mim importa aqui entendermos que a resposta do jovem, e a nossa
hoje, deveria ser algo parecido como: “Mas Senhor, sou um grande pecador. Não consigo manter toda a lei como
deveria? Então eu não serei salvo?”.
Criancinhas desamparadas
A inquietação do jovem rico, de acordo com o relato de Mateus, parece ter sido provocado pela passagem dos
versículos 13 e 14, onde Jesus diz que o Reino dos céus é para que aqueles que se assemelham às criancinhas.
Jesus fala sobre como devemos ser como bebes e pequenas crianças se desejamos entrar no reino de Deus – isto é,
devemos nos considerar totalmente impotentes e completamente dependentes para nos salvar.
Jesus tinha explicado a pouco que para ser salvo necessitamos ir a Jesus como crianças, desamparadas pela nossa
incapacidade de nos salvarmos por nós mesmos, dependentes. Julgamos-nos adultos e responsáveis por nossas
vidas, mas neste sentido não o somos, porque não há nada mais que podemos fazer a não ser depender da
misericórdia, pois não podemos merecer a nossa salvação. Por isso Cristo nos mostra em todo o Evangelho que é
descansando nele, confiando nele e seguindo-o de coração.
Insiste na pergunta... sem a graça
E quando o jovem faz uma nova pergunta após a primeira resposta de Jesus, isso fica claro. O desafio que Jesus
propõe é para que o jovem se torne um verdadeiro seguidor, um seguidor completo e dependente, pois se ele
distribuísse toda sua herança, ele estaria desamparado daquilo que ele acreditava que lhe dava segurança. Jesus
coloca o dedo diretamente na ferida do jovem e ainda hoje seu dedo aperta esta mesma ferida em muitos. Não pelo
fato de posses em si, mas pelo fato de as posses, os bens, o conforto, a segurança financeira, muitas vezes, impedem
as pessoas de seguirem e se entregarem à Graça, pois a graça é providência e misericórdia: é o que garante que nada
faltará para nossa salvação e que podemos nos entregar à missão.
Santo Tomás de Aqui no nos ensina que “até os preceitos morais contidos no Evangelho seriam letra que mata se
não tivéssemos a graça da fé que salva”.
Dom Raniero Cantalamessa complementa que a novidade não está no modo como Jesus reordena a Lei antiga, mas
na graça que nos entregou para pô-la em prática, ao que Santo Tomás de Aquino tinha concluído que a lei nova é “a
própria graça do espírito Santo”, cumprindo a profecia de Ezequiel que diz “Infundirei em vós o meu Espírito e vos
farei caminhar segundo as minhas leis, guardar e praticar os meus costumes”.
Mas o que podemos meditar desta passagem para nossa vida hoje:
A riqueza impede a graça?
Uma primeira reflexão, destaco o seguinte:
Qual é a “única coisa” faltando, aquilo que impede as pessoas de seguir a Cristo? Para o jovem rico era a sua riqueza.
Jesus sabe disso. É por isso que Ele diz ao homem, “Ainda te falta uma coisa. Venda tudo que tem, dê aos pobres
venha e Me siga, Eu te darei um tesouro nos céus,” uma metáfora para a vida eterna.
Agora isso é uma recomendação universal? Jesus quer dizer que toda pessoa deve vender tudo que ele ou ela tenha
e dar tudo aos pobres para que seja salvo? Com certeza seria um grande passo, mas não: riqueza não é o real
problema. Tivemos muitas pessoas ricas na Bíblia que verdadeiramente amaram a Deus de todo coração, alma,
mente e força. A riqueza não era o problema delas – mas a riqueza é o problema desse jovem rico.
De novo Dom Catalamessa nos fala em seu livro A pobreza, fruto de uma meditação elaborada para uma pregação
papal a João Paulo II em 1994, que podemos ver a pobreza sob 4 aspectos, todos meditados no Evangelho:
1) A pobreza material negativa, que deve ser evitada que desumaniza e deve ser combatida;
2) A pobreza material positiva, quando temos poucos bens, somente o suficiente, esta pobreza liberta e eleva,
é a pobreza como um ideal evangélico; a pobreza proposta pela Igreja para que sejamos pobres para os
pobres;
3) A pobreza espiritual negativa que ocorre na ausência dos bens do espírito e dos verdadeiros valores
humanos, o que muitas vezes é conhecido como a pobreza dos ricos;
4) A pobreza espiritual positiva, feita de humildade e confiança em Deus, que é o mais belo fruto produzido
pelo entendimento do Evangelho: é a riqueza dos pobres.
Cantalamessa afirma que é exatamente esta última, a pobreza espiritual positiva, que estamos buscando e ele
nos diz que não é a posse de bens matérias que nos impede de alcançar este último exemplo. Então teremos que
prestar muita atenção na linha que separa nossa ambição de nossa capacidade de permanecer em Cristo sem
nunca esquecer que a Salvação não é algo que nós vamos merecer ou ganhar.
Jesus já fez o que nós não poderíamos fazer por nós mesmos. A salvação é algo que nós recebemos.
2º aspecto a refletir é o que ressalta desta meditação de Dom Cantalamessa.
Nos dias de Jesus, a riqueza de uma pessoa era considerada um sinal da benção de Deus. Os Judeus
consideravam riquezas e bens como o sorriso de Deus sobre a vida de uma pessoa e então o que Jesus tinha
acabado de dizer leva-os a cambalear se perguntando QUEM então pode ser salvo? Jesus ensina, “É impossível.”
Você não pode fazer nada para merecer isso, você não pode comprar sua entrada. Você não pode fazer nada. É
impossível. É impossível! Mas verso 27 novamente: “O que é impossível para os homens é possível para Deus.”
Se sou salvo, eu posso agradecer a Deus por tornar possível o impossível. É tudo devido a Graça de Deus. Eu
espero que quando você for cantar, “Maravilhosa Graça” que você realmente sinta a alegria de Deus tornar
possível o que era impossível.
E finalmente, reflitamos sobre o que estamos amando mais: a Deus ou ao mundo? Na passagem que ouvimos,
Pedro pergunta o que os apóstolos, que deixaram tudo, receberão? Cristo assegura que eles receberão muito
mais.
Não significa que devemos abandonar nossas famílias, significa que nada pode ser maior que nosso amor por
Deus. Os pais saberão me entender quando digo que mesmo tendo filhos diferentes, os pais amam sem medida
os dois ao mesmo tempo. Ocorre que esse amor não pode ser cego, então se um filho erra, o que os pais fazem?
Não o corrigem? Um filho quer se colocar numa condição de pecado, o que os pais fazem? Nosso amor a Deus e
sua verdade nos obrigará a por a situação às claras, porque nada poderá nos separar do amor de Deus e assim os
pais estarão testemunhando pelos filhos, sem nunca deixar de amá-los, afinal, mesmo o jovem rico foi amado
por Cristo, que o olhou e amou. Na passagem do jovem rico em Marcos 10: 21, o evangelista destaca que “Jesus
olhou para ele e o amou.“ Olhou para o jovem e o amou.
Não sabemos o que aconteceu com o jovem... mas podemos nos converter a nós mesmos...
No fim de tudo, não sabemos o que aconteceu com o jovem rico. Pode ser que tenha recebido a graça de estar
no reino, afinal, não dependia do que fizesse, mas como se entregasse. Quem sabe não foi ele um dos
convertidos após o cenáculo? Pena que se ele tivesse dito sim, hoje saberíamos seu nome e quantas paróquias
estariam consagradas a ele.
Então esperamos todos nós conseguirmos também confiarmos na graça e misericórdia divina e principalmente,
compartilhar com nossos irmãos esta mesma misericórdia com a certeza de que Deus a dará a quem desejar,
então esqueçamos muitos de nossos julgamentos humanos para com nossos irmão, pois poderemos descobrir,
na eternidade, que eles também receberam o direto de estar no Reino.

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