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Jul/1981 ENCONTRAR A VIDA

“Aquele que tentar salvar a sua vida, perdê-la-á. Aquele que a


perder, por minha causa, reencontrá-la-á”. (Mt 10, 39)

Vendo esta nova Palavra de Jesus percebe-se que existem dois tipos de vida para o
homem: a vida eterna que o homem constrói neste mundo – e a vida sobrenatural, que lhe
foi dada por Deus através de Jesus – uma vida que não termina com a morte e que ninguém
lhe pode tirar.
Em consequência disso, você pode ter duas atitudes diante da existência: ou apegar-
se à vida terrena, considerando-a como o único bem, e neste caso você será levado a pensar
em si mesmo, nas suas coisas, nas suas criaturas, fechando-se em seu pequeno mundo,
afirmando apenas a si mesmo, e por fim inevitavelmente encontrará a morte. Ou então, pelo
contrário, acreditando que recebeu de Deus uma existência bem mais profunda e autêntica,
você terá a coragem de viver de modo que possa merecer este dom até o ponto de saber
sacrificar a sua vida terrena em favor da outra.

“Aquele que tentar salvar a sua vida, perdê-la-á. Aquele


que a perder, por minha causa, reencontrá-la-á”.

Quando Jesus disse estas palavras ele pensava no martírio. De fato, para seguir o
Mestre e permanecer fiel ao Evangelho, você – como todo cristão – deve estar pronto a
perder a sua própria vida, até mesmo através de uma morte violenta. Assim conseguirá
alcançar a vida verdadeira. Jesus foi o primeiro a “perder a sua vida” e a obtê-la glorificada.
Ele nos preveniu que não devíamos temer “Aqueles que matam o corpo, mas não têm o
poder de matar a alma”.
Hoje ele mesmo lhe diz:

“Aquele que tentar salvar a sua vida, perdê-la-á. Aquele


que a perder, por minha causa, reencontrá-la-á”.

Se você ler com atenção o Evangelho, verá que Jesus retoma este conceito nada
menos que seis vezes. Isto confirma a sua importância e a consideração que ele mereceu de
Jesus.
Mas a exortação a perder a própria vida não é apenas um convite ao martírio. É uma
lei fundamental da vida cristã.
É preciso renunciar a fazer de si mesmo o ideal da vida, é necessário renunciar à
própria independência egoísta. Os verdadeiros cristãos e, portanto, também você – se quiser
ser um deles – devem fazer de Cristo o centro da própria existência. E sabe o que Cristo
quer de você? O amor pelos outros. Se você aceitar esta proposta, certamente perderá a si
mesmo e encontrará a vida.
O fato de não viver para si não é, como alguém poderia pensar, uma atitude passiva
de renúncia. Como diz um teólogo: “Não se trata de desprezar a vida ou desinteressar-se
dela, e sim de colocar a própria existência no caminho do amor”.
O compromisso do cristão é sempre muito grande e o seu senso de responsabilidade
é total. Muda apenas a orientação, a finalidade.

“Aquele que tentar salvar a sua vida, perdê-la-á. Aquele


que a perder, por minha causa, reencontrá-la-á”.

Já nesta terra você pode experimentar que, doando-se aos outros com amor, a vida
cresce em você. Quando você tiver colocado toda a sua existência a serviço dos outros,
quando tiver sabido transformar o seu trabalho quotidiano – talvez monótono e difícil –
num gesto de amor, então você experimentará a alegria de sentir-se mais realizado como
ser humano.

“Aquele que tentar salvar a sua vida, perdê-la-á. Aquele


que a perder, por minha causa, reencontrá-la-á”.

Seguindo os mandamentos de Jesus, que estão todos baseados no amor, após esta
breve existência você encontrará também a vida eterna.
Lembra-se qual será o julgamento de Jesus no último dia?
Ele dirá aos que se encontrarem à sua direita (e faço votos que você esteja entre
eles): “Vinde benditos... pois eu tive fome e me destes de comer...; era forasteiro e me
hospedaste, estava nu e me vestiste...”.
Para fazê-lo participar da existência que não passa, ele verá somente se você amou o
próximo e vai considerar como feito a si tudo o que você tiver feito a este próximo.
Então, como é que você vai viver esta nova Palavra de Vida? Como perderá desde
hoje a sua vida para depois encontrá-la?
Preparando-se a enfrentar aquele grande decisivo exame em função do qual você
nasceu.
Olhe ao seu redor e preencha o seu dia com gestos de amor. Cristo se apresenta
diante de você em seus filhos, em sua esposa, em seus colegas de trabalho, lazer...
Faça o bem a todos. E não se esqueça de quem você toma conhecimento todos os
dias através dos jornais ou dos amigos ou da televisão... Faça alguma coisa por todos eles,
de acordo com suas possibilidades. Quando lhe parecer que estas se esgotaram, você poderá
ainda rezar por eles, quer estejam vivos quer estejam mortos. Também este amor é válido.

Chiara Lubich

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