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Abr/1982 VIVER PARA OS OUTROS

“Portanto, se eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis
lavar os pés uns dos outros”. (Jo 13, 14)

É antes da Páscoa. Jesus, tendo tirado o seu manto, toma uma toalha e após encher
uma bacia com água lava os pés de seus discípulos.
Pedro não quer: “Senhor, tu me lavas os pés”?
Mas o Mestre o convence, pois somente assim Pedro poderá ter parte com Ele, isto
é, poderá estar em comunhão com Ele.
Jesus fala de traição de Judas e, depois de ter lavado os pés de todos, senta-se e diz:

“Portanto, se eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também


vós deveis lavar os pés uns dos outros”.

Dito isto continua:


“Pois eu vos dei o exemplo, para que assim como eu vos fiz, o façais vós
também... Sabendo estas coisas sereis felizes se as praticardes”.
“Sereis felizes...”.
Quer dizer então que o recíproco serviço, o amor mútuo que Jesus ensina com este
seu gesto desconcertante é uma das bem-aventuranças proclamadas por ele.
Quando nós cristãos pensamos nas bem-aventuranças geralmente nos lembramos
das mais conhecidas:
“Felizes os pobres de espírito porque é deles o Reino dos Céus. Felizes os aflitos...
Felizes aqueles que têm fome...”, e assim por diante.
O evangelista João, no entanto, lembra outras duas bem-aventuranças: a da fé, que
considera felizes aqueles que creem sem ver, e a do amor, segundo a qual são felizes os que
se amam reciprocamente.
Esta Palavra de Vida nos convida a experimentar esta segunda bem-aventurança,
que se pode alcançar compreendendo o ensinamento de Jesus e colocando-o em prática.

“Portanto, se eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também


vós deveis lavar os pés uns dos outros”.

Lavar os pés...
Não há dúvida de que este gesto de Jesus é um exemplo claro, concreto e eficaz do
mandamento do amor. Jesus quer ensinar a seus discípulos que aquela humildade é a base
do amor.
Este gesto, por ser um ato de purificação, é também interpretado como uma
referência aos sacramentos, ao batismo, por exemplo.
Sem dúvida ele nos faz lembrar do paradoxo da encarnação: um Deus que se faz
homem...
E ainda: Jesus lavando os pés dos apóstolos torna-se a imagem e a transparência do
Pai. Ele diz quem é Deus: Deus é amor.
“Portanto, se eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também
vós deveis lavar os pés uns dos outros”.

Jesus faz um serviço que, naquela época, era feito pelos escravos: lavar os pés dos
patrões ou cidadãos livres. Com esta atitude Ele, Senhor e Mestre, mostra claramente que
não veio para ser servido, mas para servir. A sua atitude, ao lavar os pés, não é um ato
isolado de amor e humildade, mas um símbolo de toda a sua conduta, do seu amor que
chega até o ponto de dar a vida.

“Portanto, se eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também


vós deveis lavar os pés uns dos outros”.

Justamente porque Jesus é o Senhor e Mestre, seu exemplo se transforma em


modelo de comportamento para os seus discípulos. A comunidade cristã, e, portanto, cada
um de nós, é convidado a fazer dele a regra de ouro da própria vida. Pouco depois Jesus
haverá de exprimir aquela sua conduta como lei fundamental da Igreja, isto é, o discípulo
deve amar os seus irmãos como Ele mesmo amou.
Entre os primeiros cristãos, a exemplo de Jesus, o costume de lavar os pés dos
hóspedes difundiu-se rapidamente. Tanto é que, por exemplo, uma das qualidades exigidas
para uma viúva cristã era lavar os pés dos “santos”. A liturgia da quinta-feira santa
perpetuará o “lava-pés”.

“Portanto, se eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também


vós deveis lavar os pés uns dos outros”.

Como poderemos viver então, esta Palavra de Vida?


A imitação que Jesus nos pede não consiste em repetir maquinalmente o seu gesto,
embora devamos conservá-lo sempre diante de nós como um luminoso e inigualável
exemplo.
Imitar Jesus significa compreender que nós cristãos temos sentido se vivermos
“para” os outros, se concebermos a nossa existência como um serviço aos irmãos, se
basearmos a nossa vida sobre estes fundamentos.
Então teremos realizado aquilo que Jesus mais valoriza.
Teremos penetrado no âmago do Evangelho.
Seremos realmente felizes.
Chiara Lubich

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