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Rocca di Papa, 25 de dezembro de 1986

Pensamento Espiritual:

“NATAL COM QUEM SOFRE”1

Caros amigos,
Hoje é dia de Natal e o nosso "Collegamento" não podia ser numa data melhor.
Ele nos dá a possibilidade de trocarmos votos de Natal "em linha direta".
Votos de quê?
É lógico: votos de uma Santa Viagem percorrida juntos neste 1987, que
queremos fazer o ano mais santo da nossa vida.
Votos a todos, mas especialmente a uma categoria de pessoas. Hoje o calor do
Natal nos leva a sentirmo-nos todos, ainda mais, uma só família, mais unidos, mais
irmãos. Leva-nos, portanto, a compartilhar tudo, alegrias e dores.
Principalmente as dores, com aqueles que, nas mais variadas circunstâncias,
estão passando este Natal face a face com o sofrimento.
É a esta categoria de pessoas que hoje gostaríamos de dedicar, de modo
particular, o "Collegamento". O sofrimento!
Aquele que por vezes envolve totalmente o nosso ser ou aquele que nos toca
levemente e que mistura a amargura com a serenidade dos nossos dias.
A dor: uma doença, uma desgraça, uma provação cruel, uma circunstância
dolorosa.
O sofrimento!
Como considerar este fenômeno, que afeta muito de perto, também nestes
dias, inúmeras pessoas do nosso Movimento e que está sempre na iminência de
aparecer em toda existência?
Como defini-lo, como identificá-lo, que nome lhe dar? O que representa para
nós?
Se olharmos para o sofrimento com olhos meramente humanos, seremos
tentados a procurar a sua causa em nós, ou fora de nós, na maldade do homem, por
exemplo, ou na natureza, e assim por diante. "Aquele desastre foi culpa de tal pessoa;
aquela doença... é culpa minha; aquela provação dolorosa é por causa daquela outra
pessoa"...

1 Chiara Lubich, Companheiro de Viagem, Cidade Nova, São Paulo, 1988 Pág. 198-201.
E tudo isso pode até ser verdade, mas se pensarmos apenas desta maneira,
esqueceremos o mais importante: esqueceremos que, por trás do maravilhoso enredo
da nossa vida Deus está presente, com seu amor, que tudo quer ou permite por
motivo superior, que é o nosso bem.
Por isso, os santos acolhem todo acontecimento doloroso que os atinge, como
se fosse originado diretamente das mãos de Deus. É impressionante como eles nunca
erram neste sentido.
Para eles a dor é a voz de Deus e isto basta.
Imersos como estão na Sagrada Escritura, eles compreendem o que é e o que
deve ser o sofrimento para o cristão. Compreendem a transformação que Jesus reali-
zou em relação ao sofrimento, veem como Ele o transformou de elemento negativo
em elemento positivo.
A verdadeira explicação do sofrimento deles é o próprio Jesus, Jesus
Crucificado.
Por isso, a dor torna-se até mesmo amável, torna-se algo de benéfico. Por isso
os santos não a maldizem, mas a suportam, a aceitam, a abraçam.
Procuremos, também nós, abrir as páginas do Novo Testamento e teremos a
confirmação. São Tiago afirma na sua carta: "Meus irmãos, tende por um motivo de
maior alegria para vós as várias tribulações que caem sobre vós" (Tg 1,2).
Portanto, o sofrimento é até mesmo motivo de alegria.
Jesus, depois de nos ter convidado a tomar a nossa cruz para segui-lo, não
afirma que "Quem perder a própria vida (e isto é o máximo do sofrimento) a salvará?"
(Mt 10,39).
A dor é, portanto, esperança de salvação.
Para São Paulo, o sofrer é até mesmo uma glória, mais ainda, é a única glória.
"Quanto a mim – diz ele –não existe outra glória que não a cruz de Nosso Senhor
Jesus Cristo" (GI 6,14).
Sim, caros amigos, a dor, para quem a vê na ótica cristã, é algo de grande, é
até mesmo a possibilidade de completar em nós a paixão de Cristo, para nossa
purificação e para a redenção de muitos.
Pois bem, o que dizer hoje a todos aqueles membros do Movimento que se
debatem no sofrimento? O que desejar a eles? Como nos comportar com relação a
eles?
Aproximemo-nos deles, antes de tudo, com sumo respeito, pois, mesmo que
ainda não o saibam, neste momento eles estão sendo visitados por Deus.
Depois, compartilhemos com eles, tanto quanto possível, suas cruzes, o que
significa: "Tenhamos Jesus no meio" com eles de modo concreto. Asseguremos a eles
também que estarão presentes continuamente em nossa lembrança, em nossa oração,
a fim de que saibam receber diretamente das mãos de Deus tudo aquilo que os
angustia e os faz sofrer. Que possam unir o seu sofrimento à paixão de Jesus, de
modo que seja potencializado ao máximo.
Ajudemos ainda para que eles se lembrem sempre do valor do sofrimento e
recordemos a eles aquele maravilhoso princípio cristão da nossa espiritualidade,
através do qual uma dor, quando amada como um dos semblantes de Jesus
Crucificado e Abandonado, pode transformar-se em alegria.
Agora, acrescentamos uma palavra a todos aqueles que transcorrem o Natal na
serenidade e na alegria.
Cientes de que aqueles que se propõem a caminhar na estrada de Deus não
podem esquivar-se da dor, desejamos a todos que saibam o colher com amor, com
grande amor, toda pequena ou grande dor que encontrarem pelo caminho da vida,
para doá-la ao Menino Jesus que hoje nasce, assim como fizeram os Reis Magos
oferecendo-lhe seus dons. Será o melhor incenso, o ouro mais precioso, a melhor
mirra que poderemos colocar junto ao presépio.
Portanto, que seja este o nosso Natal e o compromisso para os próximos quinze
dias: "Compartilhar de cada sofrimento dos nossos irmãos em provação e oferecer as
nossas dores ao Menino Jesus".
Chiara Lubich

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