Você está na página 1de 2

Para a tradução simultânea PORTUGUÊS DO BRASIL

Palermo, 22 de janeiro de 1998

Pensamento espiritual:

EDIFICAR-SE COM A ORAÇÃO

Caríssimos

O propósito que acompanhou os focolarinos, ao voltarem para as regiões após o grande


encontro em Castelgandolfo, foi resumido numa palavra: melhorar. Pelo que sei, esta palavra já
deu a volta ao mundo, ao nosso mundo.
Portanto, devemos melhorar. Quando? Sempre, em cada momento da nossa vida e em
cada uma das suas expressões. Para no ajudar nisso, veremos hoje como melhorar o nosso
relacionamento com Deus. Como sabemos, a nossa espiritualidade, que é ao mesmo tempo
individual e comunitária, nos leva a projetar o nosso amor verticalmente, em direção a Deus, e
horizontalmente, em direção ao próximo. A santidade que deriva desse esforço, depende da
presença equilibrada desses dois tipos de amor.
Mas, para alguns (como revela a tendência ao ativismo, que por vezes temos) é mais fácil
desenvolver principalmente a dimensão horizontal do amor e, talvez, não igualmente a vertical. É
verdade que normalmente oferecemos ao Pai tudo aquilo que fazemos: é por Ele que amamos,
trabalhamos, sofremos, rezamos...
Todavia, se por um lado o nosso contínuo “fazer-nos um” com o próximo muitas vezes nos
leva a amá-lo também com o coração, por outro lado surge a pergunta: será que podemos ter a
certeza de que amamos a Deus não só com a vontade, mas também com o coração?
No final da nossa vida não nos apresentaremos a Deus acompanhados por outras pessoas
ou pela nossa comunidade; nós estaremos sozinhos. Será que temos a certeza de que, naquele
momento, todo o amor que brotou no nosso coração durante a nossa existência transbordará
espontaneamente - como seria lógico - sobre Aquele a quem sempre deveríamos ter amado, que
encontraremos e que nos julgará?
Será que também nós, pelos menos um pouco, poderemos pronunciar palavras
semelhantes às de Santa Teresa d'Ávila, próxima à morte, como consequência lógica da sua vida de
amor? Ela dizia: “Meu Senhor e meu Esposo, chegou a hora tão desejada. É hora de nos vermos,
meu Amado e Senhor. (...) Chegou a hora em que a minha alma poderá deliciar-se convosco como
sempre sonhei”.1
Existe no nosso coração algo que se assemelhe a esta aspiração, a este anseio?
1
EFREN DE LA MADRE DE DIOS - OTGERSTEGKINK, Tiempo y vida de Santa Teresa, Madri, 1968, pp.
760-761.

1
Para a tradução simultânea PORTUGUÊS DO BRASIL

Também para nós chegará esse momento e, recordando-nos disso, é necessário que
procuremos aprofundar melhor e ao máximo, desde já, o nosso relacionamento com Deus.
Durante os exercícios espirituais feitos com os responsáveis das regiões, em outubro do
ano passado, surpreendeu-me um fato. Tendo-se estabelecido um momento de silêncio e de
solidão para todos no período da manhã, muitos me falaram da alegria que sentiram por terem
encontrado imediatamente a plena união interior com Deus.
Sem dúvida era o efeito d terem amado constantemente os inúmeros próximos em que
serviram Jesus, por anos e anos. Porém, creio que eles ainda não haviam experimentado a grande
verdade: quanto mais cresce a plantinha da nossa união com os outros, mais se aprofunda a raiz
do nosso amor por Deus. E assim, graças ao amor vivido horizontalmente, eles encontravam no
próprio coração, o amor vertical: a união com Deus;
De fato, podemos amar como servos e fazer tudo aquilo que o patrão deseja sem lhe
dirigir a palavra. Ou podemos amar como filhos, com o coração plenificado pelo Espírito Santo de
amor e de confiança no Pai. Esta confiança nos leva a conversar sempre com Ele, a dizer-lhe tudo
de nós: os nossos propósitos, os nossos projetos; é uma confiança, um divino desejo que nos faz
esperar ansiosamente pelo momento dedicado exclusivamente a Deus, para entrarmos em contato
profundo com Ele.
É a oração, a oração verdadeira! É a ela que devemos buscar até nos tornarmos oração
viva.
Existe uma bela frase do teólogo Evdokimov a propósito da oração: “Não basta fazer a
oração, é preciso tornar-se, ser oração, construir-se em forma de oração...”2.
Edificar-se em forma de oração, ser oração, como Jesus quer, pois Ele disse: “Orai a todo o
momento” (Lc 21, 36).
Creio que no coração de muitos de nós existe um verdadeiro patrimônio de amor
sobrenatural que pode transformar a nossa vida em autêntica oração, que pode nos edificar por
meio da oração. Trata-se de recolhê-lo nos momentos oportunos.
Neste próximo período, empenhemo-nos em dialogar frequentemente com Deus,
inclusive em meio à nossa atividade. Procuremos melhorar exatamente nesse ponto.
O fato de dizer “por ti” antes de cada ação já a transforma em oração.
Porém, isso não é suficiente. Durante o mês que vem, vamos iniciar um diálogo intenso
com Ele, sempre que for possível. Somente assim, no final da nossa vida poderão florescer nos
nossos lábios expressões de amor a Deus semelhantes às dos santos.
Na prática, é preciso transformar o grande amor que temos pelo próximo em amor a
Deus.

Chiara

2
P. EVDOKIMOV, Aforismi e citazioni cristiane, Dizionario Piemme, 1994, pág. 153.

Você também pode gostar