Você está na página 1de 3

MUTUALIDADES

SERVIÇO DO REINO
 
Por Erasmo Ungaretti*
 
      LAVAR OS PÉS UNS DOS OUTROS – Jo 13.14
 
Esta mutualidade foi dada diretamente pelo Senhor Jesus, por ocasião da última ceia, quando lavou
os pés de todos os seus discípulos. Jesus não estava estabelecendo, com este seu ato, uma cerimônia de
lava-pés para a sua igreja.
 
Essa última ceia sim, trazia à igreja, a instituição de algo que ela deveria fazer ao longo do tempo
determinado por sua ascensão e sua segunda vinda, “Fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em
memória de mim” (I Co 11.25; Lc 22.19).
 
O ato mais importante naquela ceia era o participar do pão e do vinho, elementos que lembrariam à
igreja a doação de seu corpo e de seu sangue, pela remissão dos pecados de todos aqueles que estão
unidos a ele.
 
A atitude de lavar os pés dos discípulos nesta ceia, era um ensino que, como Mestre, não podia
deixar de trazer àqueles a quem incumbiria o pastoreio de sua igreja.
 
Visava instruí-los sobre duas atitudes básicas que deveriam, de uma forma marcante, reger suas
vidas: humildade e serviço.

No reino de Deus se o primeiro mandamento é amar, a ele deverá seguir, imediatamente, uma
atitude prática de humildade e serviço. Este texto do evangelho de João começa com uma declaração:
“tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13.1).
 
Este lavar dos pés dos discípulos era a expressão prática do amor de Jesus por eles, e da
humildade que é um dos pontos marcante de sua pessoa.

Jesus não se preocupava com o fato de seus discípulos estarem com os pés empoeirados depois da
caminhada que fizeram até o lugar em que estavam reunidos. Antes de tudo queria mostrar-lhes que
deveriam ter, diante de uma necessidade, a atitude de servos.
 
Era o amor que se expressa em serviço que ele queria imprimir profundamente neles. Eles
deveriam estar sempre prontos à ajuda mútua. Isso deveria ser uma das características da igreja que
estava edificando.

Sendo este ensino uma mutualidade, indica que não somente devemos lavar os pés de nossos
irmãos, mas também saber receber dos outros o lavar de nossos pés.
 
Para muitos é fácil expressar amor, mas difícil aceitar expressões de amor, pois sempre é preciso
ser humilde para receber o serviço de nossos irmãos.
 
Devemos aprender a suprir os outros e receber o suprimento que os outros nos oferecem,
compreendendo que eles são instrumentos nas mãos do Pai Celestial para nos ajudar, assim como nós
devemos ser para eles.

Muitas vezes nós, ou nossos irmãos, estamos contaminados por diferentes formas de pó recebido
no caminhar de cada dia. É justamente nesse momento que é preciso que alguém nos lave, ou que
precisamos lavar o pó que está sobre nosso irmão.
 
Usemos um exemplo: Chegamos à reunião da igreja na casa do irmão ao qual estamos vinculados.
Aí encontramos um irmão que chegou triste, sem vitalidade espiritual. Justamente esse irmão é aquele
que sempre traz consigo vida às reuniões.
 
Mas as experiências daquele dia esvaziaram-no da vida de sua alma. Este é o momento de
lavarmos sua alma. É a hora de achegarmo-nos a ele para ouvi-lo, para amima-lo, orar com ele
restabelecer a vida com a qual costuma se expressar.
 
Assim restauramos ao irmão através de nossa expressão de serviço a ele. Retiramo-lhe o pó do
longo dia através da água de nosso amor. Agora podemos vê-lo como sempre foi, aquele que sempre
contribuiu com sua parcela de vida à reunião.
 
Um discípulo do Senhor não pode ser passivo diante da necessidade de seu irmão, assim como o
irmão não pode ser passivo diante da necessidade desse irmão. Isto é mutualidade.

Nada é mais importante do que sermos transmissores de vida a outro irmão membro do corpo. Se
eu venho com uma forte preocupação em minha alma e me encontro com um irmão e nos saudamos e
conversamos e lhe expresso minha necessidade, e após ele segue seu caminho deixando-me na mesma
situação em que eu estava, este encontro foi um fracasso.
 
Minha alma não foi lavada pelo irmão!

Se vou passivamente a reunião do grupo ao qual estou vinculado, sem estar consciente que o meu
Senhor pede que eu lave os pés de um irmão necessitado, e que esta é uma obrigação totalmente
minha, como poderá o Espírito Santo usar-me para abençoa-lo?
 
Lavar os pés dos irmãos significa, também, ajuda-los para que possam, por sua vez, edificar
outros. Devemos estar conscientes de que a obra de lavar os pés uns dos outros é uma valiosa
delegação dada por Jesus a toda igreja.

“Ora se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns
dos outros” (v 14). Jesus sempre, em tudo que nos pede para fazermos, anteriormente, já deu-nos o
exemplo. Nunca ele pede alguma coisa que antes não tenha já realizado por nós.
 
Quando ele determina alguma coisa para nós, temos apenas uma direção a seguir, fazer o que ele
já exemplificou em seus atos.
 
Nunca esqueçamos que a obra de lavar os pés uns dos outros já nos foi enfaticamente delegada
pelo exemplo de Jesus. Ele que lavou e enxugou os pés de cada um de seus discípulos continua, a cada
dia, lavando os nossos pés com seu incansável amor.

Lendo Atos dos Apóstolos vemos com este ensino estava presente na vida da multidão dos que
creram, pois “era um o coração e a alma” (Atos 4.32).A conseqüência imediata era: “nenhum
necessitado havia entre eles” (Atos 4.34).
 
Cremos que este suprir não se referia somente à necessidades econômicas, pois em outra
declaração sobre a vida cotidiana da igreja diz-nos que “A igreja, na verdade tinha paz por toda a
Judéia, Galiléia e Samaria, edificando-se e caminhando no temor do Senhor e, no conforto do
Espírito Santo” (At 9.31).
 
Este “edificando-se”, embora seja outra mutualidade, mostra-nos também uma clara atitude de um
lavar de pés entre os irmãos. Não estava Jesus fazendo justamente isso no lavar dos pés de seus
discípulos?
 
 * Erasmo Ungaretti é pastor na Igreja Cristã em Porto Alegre e-mail: lifecd.voy@terra.com.br  
www.igrejaempoa.com.br

Você também pode gostar