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COMUNIDADE MISSÃO PEREGRINOS DO AMOR

―Onde houver ódio, que eu leve o amor‖

Introdução à vida em
comunidade.

Adryadson Flabio Nappi


Fundador da Comunidade.
―Introdução à vida em comunidade‖ de Adryadson Flabio Nappi
*outubro de 2011

Todos os direitos reservados.

Capa:
Sob design de Alexandre Senicato

Lançamento:
Comunidade Missão Peregrinos do Amor
Rua dos Mandis, 390 - Jupiá - Piracicaba/SP
Site: www.missaoperegrinos.com.br
Contato: contato@missaoperegrinos.com.br

Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, vendida, arquivada


ou transmitida de nenhuma forma ou nenhum meio sem a permissão
expressa e por escrito do autor ou pela Comunidade Missão
Peregrinos do Amor.

ESTE LIVRO FAZ PARTE CONTEÚDO DE FORMAÇÃO DA


COMUNIDADE PEREGRINOS DO AMOR, DA ESCOLA DE
FORMAÇÃO DISCÍPULO AMADO.

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SUMÁRIO

Vocação universal à santidade................................................... 05

Os meios de crescimento ............................................................ 15

A vida Espiritual ......................................................................... 29

Introdução a vida em comunidade ............................................ 33

O apostolado e o discipulado ..................................................... 37

Carisma, Baluarte, Regra de Vida e Estruturação .................. 41

Introdução aos Conselhos evangélicos ...................................... 51

Anexo I – A missão com os jovens ............................................. 57

Anexo II – Estrutura da Comunidade ...................................... 63

Anexo III – Breve História dos Baluartes ................................ 73

Fontes de pesquisa utilizada ...................................................... 97

Biografia do autor....................................................................... 99

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Vocação universal à santidade

A vocação é um chamado especial para vivermos nossa vida


de acordo com o projeto de Deus. Não é uma carreira, como estamos
acostumados a utilizar no cotidiano, mas aquilo que você é.
É o projeto de vida que Deus preparou para cada um de nós
alcançarmos a plenitude da vida e da felicidade. Para isso, cada um de
nós é chamado a ser santo.

1 - A santidade.

Assim lemos na exortação de São Pedro: “A exemplo da


santidade daquele que vos chamou, sede também vós santos em
todas as vossas ações, pois está escrito: Sede santos, porque eu sou
santo (Lv 11,44)” (Pedro 1, 15-16).
A Igreja voltou a afirmar na Constituição Dogmática Lumen
Gentium no Concílio Vaticano II: "os cristãos de qualquer estado
ou ordem são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da
caridade" (LG 40). Portanto, essa vocação não é restrita apenas para
alguém que deseja ser missionário e apóstolo de Cristo, mas para
todos os cristãos batizados.
Infelizmente, no contexto em que vivemos, a santidade é
muito mal entendida pelo mundo e até mesmo pelos irmãos da igreja.
Quando ouvimos essa palavra, nunca achamos que é algo universal.

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Para nós, a santidade está restrita para religiosos e consagrados, que
buscam uma vida fora do mundo.
Porém, João Paulo II nos coloca a importância de sermos
santos estando no mundo, ―santos que usam tênis e calça jeans‖ dizia
ele. Isso porque Deus não nos criou para o pecado. São Paulo nos
alerta: “Com efeito, se por um homem veio a morte, por um
homem vem a ressurreição dos mortos. Assim como em Adão
todos morrem, assim em Cristo todos reviverão (Coríntios 15, 21-
22).
É certo que a morte (pecado) deu lugar para a vida (virtude)
que Cristo nos devolveu com sua doação plena pela humanidade.
Portanto, se Cristo salvou a humanidade da morte e nos convida a uma
vida de virtudes, todos aqueles que renascem para Cristo precisam
viver o convite que Ele nos fez na Cruz, e esse convite, é ser santo.
Porém, como alcançar essa vocação? Como podemos ser
santos nos dias de hoje? Não existe e nunca existiu outra forma:
somente buscando a graça do Espírito Santo. Só Ele que nos santifica
e nos converte para as coisas de Deus. “Mas o homem natural não
aceita as coisas do Espírito de Deus, pois para ele são loucuras.
Nem as pode compreender, porque é pelo Espírito que se devem
ponderar. O homem espiritual, ao contrário, julga todas as coisas
e não é julgado por ninguém” (I Coríntios 2,14-15).
Quando São Paulo nos fala do Espírito, ele mostra que toda a
sabedoria e toda a busca espiritual precisa ser guiada por Ele, caso
contrário, não é verdadeira e não dura.

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Santidade é aspirar pelas coisas do alto, conforme fala São
Paulo aos Colossenses (capítulo 3). Isso não significa que não teremos
pecado, mas a busca pelo amor e misericórdia nos impulsiona a
sermos melhores.
Isso é importante para qualquer cristão, buscar ser melhor a
cada dia. Se todo o trabalho apostólico não está nos levando a mudar
nossas atitudes e pensamentos e nos tornando mais santos dia após
dia, precisamos parar e pensar em nossas vidas.
Portanto, o chamado à santidade faz parte da vocação
universal de todo cristão batizado, ou seja, somos chamados a ser
santos, irmãos e apóstolos.

1.1 – Conversão

A santidade requer antes de tudo conversão. Para buscarmos


as coisas do alto, precisamos primeiramente renunciar nossos desejos
e aspirações, para assim aspirar às coisas de Deus.
A conversão é a exigência inicial para entrar no Reino de
Deus. “Convertam-se por que o Reino dos céus está próximo”
(Mateus 4,17). Também não é compromisso de missionário, e sim, de
todo cristão.
Precisa existir mudança interior para que se possa buscar pelas
coisas de Deus, e a partir de então, começa a acontecer a mudança
exterior. Precisa começar de dentro pra fora.

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A santidade bem vivida requer conversão permanente em
nossa vida, ou seja, todos os dias é preciso voltar nossos olhos e
corações para a vontade de Deus. Sair da condição de pecado e ir para
a graça da virtude.
Sabemos que não é fácil viver a conversão permanente. Ao
longo da nossa caminhada, muitas noites escuras aparecerão para nós,
conforme diz São João da Cruz, e é nesse momento que precisamos
ser firmes no Senhor.
Santa Madre Teresa de Calcutá dizia em vida que se um dia
ela fosse santa, que seria a santa da escuridão, pois viveu um
longíssimo período de escuridão na alma. Porém, ainda assim, não
deixou de buscar ao Senhor e fazê-lo centro de sua vida.
Conversão verdadeira é isso: fazer Jesus ser o centro e o
Senhor da vida e deixar que Ele guie todas as coisas para nós.

1.2 – Ser discípulo

Um segundo ponto importante para a busca da santidade é o


chamado a ser discípulo de Jesus. Da mesma forma que o Senhor
chamou cada discípulo pelo nome, assim também nós somos
chamados por Ele, quando temos um encontro verdadeiro e pessoal
com ele.
Como vemos no texto evangélico: “E disse-lhes: Vinde após
mim e vos farei pescadores de homens” (Mateus 4, 19) percebemos

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que, ao ouvir o chamado do Senhor, aqueles homens simples deixaram
suas redes para seguir Jesus.
O verdadeiro discípulo é aquele que, no momento que escuta a
voz do mestre, deixa tudo para sentar aos seus pés, ouvir suas
mensagens e aprender mais do Reino, para somente depois exercer o
serviço apostólico.
Ser discípulo é estar constantemente com Jesus e mudar sua
forma de viver para viver como Ele. Ser parecido com o Senhor de
todas as formas, na maneira de agir, de falar, de pensar e de viver.
Quando isso acontece verdadeiramente, a vida do discípulo se
modifica por inteiro, em todas as áreas da vida, onde o Senhor chama
para a mudança. Se olharmos para o trecho de Lucas 10, 38-42,
veremos:
“Estando Jesus em viagem, entrou numa aldeia, onde uma
mulher, chamada Marta, o recebeu em sua casa. Tinha ela uma
irmã por nome Maria, que se assentou aos pés do Senhor para
ouvi-lo falar. Marta, toda preocupada na lida da casa, veio a Jesus
e disse: Senhor, não te importas que minha irmã me deixe só a
servir? Dize-lhe que me ajude. Respondeu-lhe o Senhor: Marta,
Marta, andas muito inquieta e te preocupas com muitas coisas; no
entanto, uma só coisa é necessária; Maria escolheu a boa parte,
que lhe não será tirada”.
Nesse trecho, Maria sentou-se aos pés de Jesus para ouvi-lo e
Marta reclamou com o Senhor a respeito disso, mas Jesus advertiu

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Marta quanto a escolha correta que Maria havia feito naquele
momento.
Muitas vezes, caímos em um desenfreado fazer e servir, como
Marta estava fazendo, e nos esquecemos de parar e ouvir, e assim,
deixamos de lado a melhor parte. João Paulo II alertou toda a Igreja
quanto a isso, quando disse: ―Nós caímos em um desenfreado fazer
(apostolado) e agora se faz necessário parar para ser (discípulo)‖, e
completando, ele disse ainda: ―Uma hora diante do Senhor vale mais
do que um intenso serviço apostólico‖.
Quando Jesus advertiu Marta, ele não estava tirando o mérito
dela em fazer todas as coisas com dedicação. Não! Estava sim
deixando clara a importância de antes do serviço precisa existir a
escuta... Estar aos pés Dele para aprender mais do Reino.
Em nossa missão, isso é muito comum acontecer. Damos
muito mais importância em realizar as coisas, e deixamos de lado
nossa espiritualidade. Por essa razão, é necessário nesse momento de
formação, entender a ordem das coisas: primeiro o discipulado e
depois a missão (apostolado).
Para confirmar tudo isso, vemos o Documento de Aparecida
reafirma em muitos momentos a expressão ―discípulos e
missionários‖; assim diz: “A Igreja deve cumprir sua missão
seguindo os passos de Jesus e adotando suas atitudes. Ele sendo o
Senhor, se fez servidor e obediente até a morte de cruz; sendo
rico, escolheu ser pobre por nós, ensinando-nos o caminho de
nossa vocação de discípulos e missionários”. (Doc. Aparecida § 31).

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1.3 – Ser apóstolo

O chamado ao serviço apostólico e fruto de um discipulado


verdadeiro. Quem ouve uma notícia boa não vê a hora de correr contar
para outras pessoas. Esse é um sentimento próprio do ser humano.
Por essa razão, quem verdadeiramente se tornou um discípulo
fiel de Cristo não tardará em assumir uma missão ou um trabalho na
igreja, para anunciar o amor que ele mesmo experimentou.
Somente assim o apostolado é verdadeiro, caso contrário, ele
não pode durar por muito tempo. ―O discipulado sem o apostolado é
um aborto, mas o apostolado sem o discipulado é hipocrisia‖. Ou seja,
quem se encontrou com o Senhor e não sente o desejo de anunciar
para os outros, certamente não teve um encontro completo com o
amor de Deus.
Porém, o pior de tudo é aquele que serve e trabalha para Deus,
mas não vive uma vida de renúncia e entrega para o Senhor; esse está
vivendo na mentira. Nessa situação, inevitavelmente entra naquela
conhecida frase: ―faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço‖.
Essa frase jamais pode ser tolerada na vida de um cristão verdadeiro,
que se encontrou com o Senhor.
A grande verdade é que, infelizmente, temos muitas pessoas
deste tipo infiltradas em nossas pastorais e missões da igreja, que
acabam manchando e chagando o próprio Corpo de Cristo.

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Por essa razão, se faz necessário que os discípulos anunciem e
testemunhem o amor de Deus, nas paróquias e nas comunidades, a fim
de levantar e renovar o pensamento cristão das pessoas.
A Igreja é sinal e instrumento para o mundo, e precisamos
cumprir essa vocação que recebemos no batismo, ser Igreja para o
mundo.
Assim diz: “Neste encontro com Cristo, queremos
expressar a alegria de sermos discípulos do Senhor e de termos
sido enviados com o tesouro do Evangelho. Ser cristão não é uma
carga, mas um dom: Deus Pai nos abençoou em Jesus Cristo seu
Filho, Salvador do mundo” (Doc. Aparecida § 28).
Enfim, a tarefa da Igreja é formar a todos nós a sermos Santos,
irmãos e apóstolos, conforme nos ensina o Padre Alfonso Navarro em
seu livro ―Pastoral de seguimento‖:
Santos – transformação em Jesus pelas virtudes teologais
como comunhão direta com Deus, e morais como resultado da união
íntima com Deus.
Irmãos – fraternidade integrada com nova capacidade de uma
relação sadia no Espírito Santo, e comunidades com novos modelos de
vida.
Apóstolos em duas áreas: como fiel e como cidadão:
Na Igreja: para construir a comunidade eclesial
colaborando na missão e na pastoral da Paróquia;
No mundo: para restaurar e renovar de maneira cristã
a ordem temporal. (Luz do mundo, sal da terra e fermento na massa).*

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*(Navarro, Alfonso. Pastoral de Seguimento: permanecer e perseverar
como discípulo e apóstolo. Sine: São Paulo, 1998. p.9)

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Os meios de crescimento

2 - Vivendo em Cristo

No momento em que nos encontramos com Deus e


entendemos verdadeiramente o primeiro motivo de nosso chamado, é
necessário entender como permanecer e perseverar na graça de Seu
amor.
A perseverança por nós mesmos não acontece com eficiência,
pois somos fracos e caímos na mesmice da vida espiritual sem
organização. Por essa razão, precisamos buscar formas eficazes para
estar sempre em comunhão com o Espírito Santo, a fim de que
possamos crescer sempre mais.
É necessário nos atentar que ser discípulo missionário não é
nem um pouco fácil. Isso requer certo esforço de nossa parte,
aceitando a vontade de Deus em nossas vidas. Veremos isso no texto
evangélico:
“Em seguida, Jesus disse a seus discípulos: Se alguém
quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-
me. Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas
aquele que tiver sacrificado a sua vida por minha causa, recobrá-
la-á. Que servirá a um homem ganhar o mundo inteiro, se vem a
prejudicar a sua vida? Ou que dará um homem em troca de sua
vida?” (Mateus 16, 24-26).

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Nesse trecho, percebemos que a lógica do Reino é
completamente diferente da nossa lógica frágil e passageira. Quem
quer verdadeiramente seguir Jesus precisa enxergar a cruz de forma
diferente.
Ao contrário de enxergarmos simplesmente dor, precisamos
olhar para a doação e o amor que foi depositado nela, e compreender o
que Jesus quis dizer com isso. O verdadeiro discípulo missionário
precisa estar sempre olhando para a Cruz de Jesus, e percebendo que o
serviço requer doação, e só pode se doar quem primeiramente ama.
Madre Teresa de Calcutá dizia que o amor só é verdadeiro
quando dói, caso contrário, ainda não se tornou amor. E ainda
completa disse: ―Não ame pela beleza, ela um dia acaba. Não ame
pela admiração, pois um dia você se decepciona. Ame por amar, pois
o tempo jamais pode acabar com um amor sem explicação‖.
É exatamente isso que Cristo fez naquela pesada cruz. Amou
sem explicação! Sem lógica! Isso confunde os sábios e irrita os
poderosos!
Como São Paulo nos diz: “A linguagem da cruz é loucura
para os que se perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é
uma força divina. Está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e
anularei a prudência dos prudentes (Is 29,14). Onde está o sábio?
Onde o erudito? Onde o argumentador deste mundo? Acaso não
declarou Deus por loucura a sabedoria deste mundo?” (Coríntios
1,19-21).

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Sem dúvida, o primeiro passo para um missionário é
reconhecer a cruz. Para existir esse reconhecimento precisa antes
haver a renúncia. ―Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si
mesmo, tome sua cruz e siga-me‖.
Para seguir o mestre, é preciso primeiro deixar redes e barcos
para seguir em um novo rumo. Gosto muito daquela música que diz:
―Senhor, tu me olhastes nos olhos, a sorrir pronunciaste meu nome. Lá
na praia, eu larguei o meu barco e junto a Ti buscarei outro mar‖.
Esse é o retrato verdadeiro do chamado de Deus e, depois, da
resposta que damos a Ele. A renúncia para o missionário começa no
momento do encontro com o Senhor e não termina nunca mais.
Sempre seremos chamados a deixar de lado o homem velho
para viver a vida verdadeira do homem novo. Agora, já não nos cabe
mais uma vida fora de Cristo. Já não nos cabe mais conquistar o
mundo, mas perder a própria vida, e sim, ganhar o Reino de Deus.
Olhar para a Cruz é ver o contrário das coisas, onde Cristo age
no inverso de nossos pensamentos. Assim diz Padre Fábio de Melo:
―Só quem já provou da dor, quem sofreu se amargurou, viu a cruz e a
vida em tons reais, só quem já perdeu na vida sabe o que é ganhar por
que encontrou na derrota um bom motivo pra lutar‖.
Abraçar a sua cruz é olhar para os seus erros, seus desejos e
seus projetos e depositá-los todo aos pés do Senhor, como um
verdadeiro discípulo. Não pode existir discipulado e muito menos
apostolado se verdadeiramente não existir entrega de corpo e alma
para a mensagem da cruz.

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―O primeiro sentido da cruz diária é transformar a dor e o
sofrimento que existem no mundo e que se apresentam em nossa vida,
sem rebeldias nem abatimento, e dar-lhe um valor de salvação e
redenção para o mundo e de purificação para nós, unindo-a a Jesus e
oferecendo-a ao Pai‖ (NAVARRO, p. 15).
Ao assumir a cruz, precisamos aprender que as formas de
continuarmos na caminhada, crescendo como discípulo do Senhor, são
três: oração, palavra e Eucaristia.

2.1 – Oração

Santa Teresa do Menino Jesus define assim: ―Pra mim, a


oração é um impulso do coração, é um simples olhar lançado ao céu,
um grito de reconhecimento e amor no meio da provação ou no meio
da alegria‖.
O catecismo da igreja vê a oração em três dimensões
diferentes: como dom de Deus, como Aliança com Deus e como
comunhão.
2.1.1 - Como dom de Deus:

O dom da oração é recebido através da humildade do coração,


como diz: “A humildade é a disposição para receber
gratuitamente o dom da oração: o homem é um mendigo de
Deus”. (Catecismo § 2559).

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“Veio uma mulher da Samaria tirar água. Pediu-lhe Jesus:
Dá-me de beber. (Pois os discípulos tinham ido à cidade comprar
mantimentos.) Aquela samaritana lhe disse: Sendo tu judeu, como
pedes de beber a mim, que sou samaritana!... (Pois os judeus não
se comunicavam com os samaritanos.) Respondeu-lhe Jesus: Se
conhecesses o dom de Deus, e quem é que te diz: Dá-me de beber,
certamente lhe pedirias tu mesma e ele te daria uma água viva. A
mulher lhe replicou: Senhor, não tens com que tirá-la, e o poço é
fundo... donde tens, pois, essa água viva? És, porventura, maior
do que o nosso pai Jacó, que nos deu este poço, do qual ele mesmo
bebeu e também os seus filhos e os seus rebanhos? Respondeu-lhe
Jesus: Todo aquele que beber desta água tornará a ter sede, mas o
que beber da água que eu lhe der jamais terá sede. Mas a água
que eu lhe der virá a ser nele fonte de água, que jorrará até a vida
eterna” (João 4, 8-14).
“A maravilha da oração se revela justamente aí, à beira
dos poços aonde vamos procurar nossa água; e aí que Cristo vem
ao encontro de todo ser humano, é o primeiro a nos procurar, e é
Ele que pede de beber. Jesus tem sede, seu pedido vem das
profundezas do Deus que nos deseja. A oração, quer saibamos ou
não, é o encontro entre a sede de Deus e a nossa. Deus tem sede de
que nós tenhamos sede dele” (Catecismo § 2560).
Muitas vezes ouvimos de nossos irmãos da igreja a frase ―não
sei fazer oração‖. Isso não deixa de ser verdade, pois ela é um dom
recebido do Espírito Santo, como São Paulo diz: “o Espírito vem em

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auxílio à nossa fraqueza; porque não sabemos o que devemos
pedir, nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede
por nós com gemidos inefáveis” (Romanos 8,26).
Mas é importante entender que esse dom da oração não é dado
para alguns, e sim para todos aqueles que se entregam para o Espírito
Santo. Como verdadeiros discípulos e missionários do Senhor, não
podemos nos acomodar em nossas limitações. Precisamos pedir para o
Espírito Santo esse dom todos os dias, para que possamos nos
aproximar mais de Deus e beber mais de sua graça em nossas vidas.

2.1.2 – Oração como Aliança

A oração também atua como aliança de Deus para com o


homem. Quando oramos, seja por gestos, palavras, danças ou músicas,
é o homem todo que reza. Porém, de maneira especial, dentro do
coração do homem é o lugar onde acontece o encontro com o Senhor.
“Ele (o coração) é o nosso centro escondido, inatingível
pela razão e por outra pessoa; só o Espírito de Deus pode sondá-lo
e conhecê-lo... É o lugar do encontro, pois à imagem de Deus,
vivemos em relação; é o lugar da Aliança” (Catecismo § 256).
Quando estamos em oração, o Espírito Santo nos une
intimamente com Deus e essa aliança produz uma mudança de
coração. Se o coração está longe de Deus, a oração também estará.

2.1.3 – Oração como comunhão

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Se precisássemos definir a igreja em uma palavra, essa palavra
precisaria ser ―comunhão‖. No momento em que somos batizados, nos
tornamos um mesmo ser com Cristo, onde Ele é a cabeça e nós o
corpo, como afirma São Paulo: “Ele é a Cabeça do corpo, da Igreja.
Ele é o Princípio, o primogênito dentre os mortos e por isso tem o
primeiro lugar em todas as coisas” (Colossenses 1, 18).
Ora, se Cristo é a cabeça e eu estou unido em aliança com Ele
através da oração, estou em comunhão com a vontade do Pai, pois
todas as coisas do Pai foram reveladas para o Filho e glorificadas
Nele.
Comunhão é andar no mesmo caminho, viver em união com
Cristo, e, conseqüentemente, ser guiado pelo próprio Jesus. A cabeça
que manda e controla todo o corpo, ou caso contrário, o corpo não terá
harmonia e não funcionará da maneira correta.
Da mesma forma, a oração nos coloca contato direto com o
amor de Jesus, para podermos viver em harmonia com Ele. “A oração
é cristã enquanto comunhão com Cristo e cresce na Igreja que é
seu corpo” (Catecismo § 2565).
Enfim, para todo aquele que se encontrou com Cristo e deseja
fazer dele Mestre e Senhor da vida, precisa se colocar em oração todos
os dias.
São João da Cruz disse: ―Para possuir Deus plenamente é preciso nada
ter; porque se o coração pertence a Ele, não pode voltar-se para
outro‖, ou seja, a humildade de nada ter para se entregar para o tudo

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que Deus nos proporciona é o primeiro passo para alcançarmos a
verdadeira oração e intimidade com Deus.

2.2 – Palavra de Deus

Sem dúvida nenhuma a palavra de Deus é fundamental para


aquele que quer ser discípulo do Senhor. É nela que aprendemos mais
dele e ouvimos a sua voz em nossas vidas. É ele mesmo que nos
coloca como ―Caminho, verdade e vida‖. Sendo assim, precisamos
conhecer qual é esse caminho e ouvir a voz Dele falando com cada um
de nós.
São Paulo disse para seu jovem amigo Timóteo: “Tu, porém,
permanece firme naquilo que aprendeste e creste. Sabes de quem
aprendeste. E desde a infância conheces as Sagradas Escrituras e
sabes que elas têm o condão de te proporcionar a sabedoria que
conduz à salvação, pela fé em Jesus Cristo. Toda a Escritura é
inspirada por Deus, e útil para ensinar, para repreender, para
corrigir e para formar na justiça. Por ela, o homem de Deus se
torna perfeito, capacitado para toda boa obra” (Timóteo 3, 14-17).
Primeiramente, Paulo pede que Timóteo permaneça firme na
palavra que aprendeu. Somente essa perseverança pode proporcionar
sabedoria que conduz para salvação e ensinar, repreender, corrigir e
formar na justiça.
Para aquele jovem bispo, essa orientação era muito
importante, pois Timóteo precisava evangelizar a todos, inclusive os

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homens mais velhos. Sendo assim, de onde poderia vir a sabedoria?
Somente pela permanência na palavra e a união com o Espírito Santo.
Hoje em dia não pode ser diferente. Se quero evangelizar as
pessoas com o meu dom, preciso orar e ler a palavra de Deus. A
oração me dá a aliança e comunhão com o Espírito e, somente assim, a
palavra que eu conheço terá sentido quando anunciar para os outros.
Pois é o próprio Espírito que fala em nós a partir do momento em que
damos abertura para isso.
Cristo nos ensina como entender a palavra: “Saiu o semeador
a semear a sua semente. E ao semear, parte da semente caiu à
beira do caminho; foi pisada, e as aves do céu a comeram. Outra
caiu no pedregulho; e, tendo nascido, secou, por falta de umidade.
Outra caiu entre os espinhos; cresceram com ela os espinhos, e
sufocaram-na. Outra, porém, caiu em terra boa; tendo crescido,
produziu fruto cem por um. Dito isto, Jesus acrescentou alteando
a voz: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!” (Lucas 8, 5-8).
A palavra é uma semente que precisa ser cultivada e, bem
cultivada, gera muitos frutos. Não podemos deixar de cultivar em
momento nenhum. Isso acontece com muitos de nossos irmãos, que
pensam ser conhecedor de tudo.
Santo Agostinho fala em Confissões: ―imutável que tudo
muda, nunca novo e nunca antigo, tudo inovando, conduzindo à
decrepitude os soberbos, sem que disto se apercebam, sempre em ação
e sempre em repouso, recolhendo e de nada necessitando, carregando,

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preenchendo e protegendo, criando, nutrindo e concluindo, buscando,
ainda que nada te falte‖ (Confissões, Livro I, capítulo 4).
A profundeza de Santo Agostinho nos faz refletir o quanto
somos pequenos diante da tamanha grandeza de Deus e de sua palavra
em nossas vidas.
Por fim, Deus está presente em nossa vida através de sua
palavra e todo aquele que não percebe isso, cedo ou tarde cairá na
mesmice humana e na sabedoria falha dos homens.
O discípulo precisa ser um seguidor fiel da palavra
diariamente, para que possa ser orientado em todos os momentos,
somente assim poderá ser um outro Cristo para os outros e ser sinal e
instrumento para todos.

2.3 – Eucaristia

O Catecismo nos diz que ―a Eucaristia é fonte e ápice de


toda a vida cristã” (CIC § 1324). É nela que nos encontramos com o
corpo, sangue, alma e divindade de Cristo Nosso Senhor de maneira
verdadeira, real e completa.
“Jesus respondeu-lhes: Em verdade, em verdade vos digo:
Moisés não vos deu o pão do céu, mas o meu Pai é quem vos dá o
verdadeiro pão do céu; porque o pão de Deus é o pão que desce do
céu e dá vida ao mundo. Disseram-lhe: Senhor, dá-nos sempre
deste pão! Jesus replicou: Eu sou o pão da vida: aquele que vem a

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mim não terá fome, e aquele que crê em mim jamais terá sede”
(João 6, 32-35).
Essas palavras que saem da boca do próprio Deus precisam
estar gravadas no coração do verdadeiro discípulo do Senhor. É na
Eucaristia que todas as coisas devem acabar.
Cristo se fez Eucaristia (ação de graças a Deus) para nos dar a
salvação e a vida eterna. Ele mesmo afirma: ―Eu sou o pão vivo que
desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão,
que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo‖ (João 6,
51).
Essas são as palavras fortes que por muitos não puderam ser
compreendidas. Cristo torna-se alimento para o seu povo escolhido e
se faz pão para alimentar a fome desse povo.
Como católicos, nada pode ser maior do que o momento em
que celebramos o memorial de Cristo e experimentamos os sabores do
céu, o verdadeiro maná. Como discípulos e missionários, precisamos
testemunhar, zelar e anunciar o amor de Deus que, por mãos humanas
e pela ação do Espírito Santo, temos a graça de viver todas as ceias em
que participamos.
A missa precisa ser parte integrante e fundamental de nossas
vidas e, principalmente, precisa ser bem vivida. Mesmo na correria de
nosso dia, precisamos buscar o maior número de vezes possíveis, para
estar na presença real do Senhor.
Sem dúvida, o maior segredo dos santos foi e sempre será o
amor incondicional a Eucaristia. Santa Teresinha disse: ―Por Ti devo

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morrer, beleza eterna e viva que sorte de ouro! Desfolhando-me dou
prova definitiva que és o meu tesouro!‖.
Não podendo, segundo o costume comungar todos os dias, em
seu ato de oferecimento ela pede a ―tomada de posse Àquele que
transforma o pão em seu Corpo com o fim de transformar o
comungante n‘Ele mesmo‖.
―Não posso receber a Santa comunhão com a freqüência que
desejo, mas, Senhor, não sois Todo-poderoso?... permanecei em mim,
como no Tabernáculo, não vos afasteis jamais de vossa pequena
hóstia‖.
João Paulo II disse: "E Eucaristia é grande apelo para a
conversão. Sabemos que ela é convite para o Banquete; que,
alimentando-nos com a Eucaristia, recebemos o Corpo e o Sangue de
Cristo, sob as aparências do pão e do vinho. E precisamente porque é
convite, a Eucaristia é e continua a ser apelo para a conversão".
Enfim, a riqueza da Eucaristia não pode ser dita em poucas
palavras. Precisamos vivenciar e aprender a cada dia. Porém, o que
precisa ficar claro para todos nós que a Eucaristia é o que gera a
comunhão de toda a igreja, onde todos se voltam para ela.
Quando lemos “Perseveravam eles na doutrina dos
apóstolos, na reunião em comum, na fração do pão e nas orações”
(Atos 2,42), precisamos perceber que a Eucaristia nos gera a união e a
comunhão.
Estar por Cristo, com Cristo e em Cristo é estar por inteiro
com o Senhor. Somente assim, conseguiremos ser verdadeiramente

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discípulos e apóstolos de Jesus, e, acima de tudo, filhos amados e
escolhidos de Deus, cumprindo nossa vocação universal.

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28
A vida espiritual

3 – Edificação e crescimento Espiritual

A edificação e crescimento espiritual, sem dúvida, é um dos


fatores mais importantes da vida de todo o cristão que procura crescer
e se construir em Deus, na graça e no amor de Cristo.
Como lemos em Mateus, “Aquele, pois, que ouve estas
minhas palavras e as põe em prática é semelhante a um homem
prudente, que edificou sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva,
vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra
aquela casa; ela, porém, não caiu, porque estava edificada na
rocha” (Mateus 7,24-25).
Quando construímos nossa casa espiritual e física sobre a
rocha forte que é o próprio Cristo na caminhada da vida, podemos
vencer qualquer provação. Cristo é e sempre deve ser o centro de
todas nossas ações, e precisa ser o Senhor de nossa vida em todos os
aspectos dela.
Por essa razão, a edificação espiritual passa a ser o maior
fundamento de nossa caminhada, pois é através dela que nos
aproximamos verdadeiramente do Centro que é Jesus.
Conforme ensina padre Alfonso Navarro ―edificação é
caminhar de mãos dadas no caminho do Senhor, ajudando-se em todos

29
os aspectos da vida, se sentido solidariamente responsável uns pelos
outros, com preocupação, interesse e cuidado mútuo‖ (Navarro, 1998).
São Paulo nos ensina: “Mas, pela prática sincera da
caridade, cresçamos em todos os sentidos, naquele que é a cabeça,
Cristo. É por ele que todo o corpo - coordenado e unido por
conexões que estão ao seu dispor, trabalhando cada um conforme
a atividade que lhe é própria - efetua esse crescimento, visando a
sua plena edificação na caridade. Portanto, eis o que digo e
conjuro no Senhor: não persistais em viver como os pagãos, que
andam à mercê de suas idéias frívolas. Têm o entendimento
obscurecido. Sua ignorância e o endurecimento de seu coração
mantêm-nos afastados da vida de Deus. Indolentes, entregaram-se
à dissolução, à prática apaixonada de toda espécie de impureza.
Vós, porém, não foi para isto que vos tornastes discípulos de
Cristo, se é que o ouvistes e dele aprendestes, como convém à
verdade em Jesus” (Efésios 4,15-21).
Nessa passagem, percebemos a importância da edificação e do
crescimento do corpo de Cristo, que somos como Igreja, enquanto Ele
é a Cabeça.
Na edificação espiritual, é o momento oportuno para a revisão
de vida em todas as suas dimensões, analisando de forma verdadeira,
sincera e humilde como anda nossa caminhada espiritual e pessoal, e
como estou respondendo no meu dia-a-dia ao chamado e ao
compromisso assumido perante Deus e os irmãos.

30
Assim, com esse intuito, a comunidade deve proporcionar
momentos específicos para se viver essa edificação no amor e na
caridade. É um momento muito rico e, se bem vivido por todos, deve
gerar um crescimento verdadeiro em Deus e para Deus.

3.1 – Componentes fundamentais para o crescimento e


edificação espiritual.

É importante então entender bem como viver esse momento


de forma plena, verificando os seguintes aspectos da vida, conforme
padre Alfonso Navarro:
Testemunho pessoal: Como estou vivendo a vida lá fora e
como estou dando o meu testemunho pessoal de vida? Estou passando
Cristo e manifestando a Sua glória em minha vida com os meus atos,
pensamentos, comportamentos e atitudes?
 Exortação mútua: Momento onde ajudamos uns aos outros a
entender os planos de Deus em nossas vidas, para alcançarmos sempre
uma entrega maior e uma fidelidade verdadeira ao Senhor.
 Correção fraterna: Momento onde, com caridade, respeito e
prudência, corrigimo-nos mutuamente, acertando o caminho de cada
um para Cristo.
 Estado de vida: Sempre é bom, em tempos oportunos, revisar
nosso estado de vida em todas as dimensões: familiar, no trabalho, na
comunidade e na vida espiritual. (Navarro,1998)

31
Com certeza, tudo isso proporcionará para todos os que vivem
na comunidade, um crescimento e uma aceitação maior a vontade do
Senhor em nossas vidas, levando sim ao crescimento espiritual e
pessoal no discipulado do Senhor.
Para que isso aconteça, é preciso existir comunhão entre os
missionários e membros da comunidade, para que exista a intimidade
e a confiança para partilhar a vida e os sentimentos. Portanto, é
necessária uma reunião específica e periódica entre os irmãos da
comunidade e não devendo haver faltas de ninguém (salvo casos
específicos), para não tirar a comunhão e a união da comunidade.
Enfim, para terminar, é importante ressaltar a seriedade desse
momento e seu caráter sigiloso, ou seja, tudo aquilo que é partilhado
não deve ser exposto para fora do espaço da comunidade, nem mesmo
um membro que faltou, pois este membro não estava na comunhão e
não viveu o momento de edificação junto com todos, e com toda
certeza, poderá não entender certas coisas por não ter vivido aquilo
que todos viveram.

32
Introdução à vida em comunidade

4 – A vida em comunidade como uma vocação universal

A vida em comunidade é uma vocação universal de todo


aquele que segue Cristo e seus apóstolos. O próprio Cristo viveu em
comunidade, escolhendo doze apóstolos a quem Ele mesmo chama de
amigos.
A Igreja é Mistério e Sacramento de comunhão: Povo de
Deus, Corpo de Cristo e Comunhão no Espírito Santo. Sendo assim,
todos têm a necessidade dessa vida fraterna em comum, para
verdadeiramente sermos felizes e crescermos na graça de Deus.
Como diz Padre Navarro, "comunidade é um grupo de
pessoas que quer comprometer suas vidas em todas as dimensões e
caminhar juntos em tudo, e que tem reuniões onde expressa e
fomenta sua integração, e onde compartilham todas as dimensões
do ser e da missão da Igreja: Palavra, oração, edificação espiritual
e solidariedade social” (Navarro, 1998).
É importante entender que a comunidade não é mais um
trabalho ou pastoral na igreja, mas é um lugar para ser discípulo. Não
se está nela apenas para fazer algo, mas apenas para viver o
discipulado e a presença de Cristo e dos irmãos. Como vemos em
Atos, "Perseveravam eles na doutrina dos apóstolos, na reunião

33
em comum, na fração do pão e nas orações. De todos eles se
apoderou o temor, pois pelos apóstolos foram feitos também
muitos prodígios e milagres em Jerusalém e o temor estava em
todos os corações. Todos os fiéis viviam unidos e tinham tudo em
comum" (Atos 2, 42-44).
Esse é o modelo verdadeiro de uma comunidade cristã orante
e comprometida com a verdade ensinada por Cristo. É esse modelo
que devemos seguir e desejar alcançar todos os dias. Nessa vivência
fraterna de graça e amor em Cristo que sai o verdadeiro apóstolo de
Cristo. Todo o trabalho apostólico, precisa antes de tudo ter a vida de
discípulo, em comunidade.
É aquele que ouve as palavras do Mestre, e as coloca em
prática, no testemunho vivencial e pleno da graça do Espírito Santo.
Dessa forma, a comunidade forma pessoas ungidas, cheias do Espírito
Santo, para testemunhar e testificar a todos e em todos os lugares.
Esse sempre deve ser o nosso maior e primeiro objetivo,
promover a transformação pessoal de cada membro, para que este
possa ser luz e sinal de Deus na vida das pessoas, na comunidade
em que vive, na sociedade e no mundo.

4.1 – Fundamentos da Vida em comunidade.

A vida em comunidade é a forma mais completa de se


transmitir o conteúdo integral da fé cristã pois ela cumpre fielmente os
passos descritos no Catecismo da Igreja (CIC, 6):

34
 “primeiro anúncio do evangelho ou pregação missionária
para suscitar a fé” – o anúncio querigmático;
 “busca das razões de crer” – formação permanente na
catequese e doutrina da Igreja;
 “experiência de vida cristã” – por meio da regra de vida e de
sua espiritualidade diária e comunitária;
 “celebração dos sacramentos” – levando a experiência de
vivenciar no cotidiano os sacramentos da Igreja que são os
sinais da presença de Cristo em nossa vida e na comunidade;
 “integração na comunidade eclesial” – trazendo o
sentimento de pertença da comunidade particular e na grande
comunidade eclesial: a Igreja;
 “testemunho apostólico e missionário” – formando
naturalmente pessoas capazes de testemunhar o evangelho do
Senhor com sua vida, seus conhecimentos, suas palavras e
atitudes.

É certo dizer que o maior instrumento de contágio da Igreja


primitiva era, em sua essência, a força espiritual e humana que residia
nas comunidades formadas.
Muitos queriam ajuntar-se àquele novo estilo de vida devido
ao testemunho de amor, união e fraternidade que existia entre os
apóstolos e suas comunidades. Portanto, uma comunidade forte e
consolidada consegue atrair naturalmente as pessoas para a
experiência de vida cristã.

35
Se recorrermos novamente ao texto de Atos dos Apóstolos,
veremos a estrutura fundamental da comunidade é a ―perseverança
na doutrina dos apóstolos, reuniões em comum, fração do pão e
nas orações” (Atos 2,42). Portanto, para quem deseja viver
plenamente a vida em comunidade, não pode deixar de viver esses
pilares da vida comunitária, pois, sem eles, não pode existir vivencia
comunitária integralmente.

36
O apostolado e o discipulado

5 – O compromisso apostólico.

É de extrema importância para aquele que verdadeiramente se


encontrou com Cristo, ter o desejo de trabalhar para a construção do
Reino de Deus. Na família, no trabalho, na sociedade e na Igreja. É
questionável o cristão que não sente esse desejo, pois, possivelmente,
ainda não tenha se encontrado de forma plena e verdadeira com Cristo
Jesus.
Para nós que queremos viver essa vida em comunidade, é de
extrema importância entender que, antes do momento de nossa
resposta para o chamado de Deus, a seriedade do compromisso
assumido. A partir do momento em que o "sim" acontecer para a
comunidade, o compromisso torna-se muito mais profundo.
Por essa razão, precisa existir a responsabilidade naquilo que
será assumido e o comprometimento com a causa da missão. Todos
serão cobrados conforme a profundidade do ministério apostólico
assumido, e por isso, precisa ser discernido de forma verdadeira, em
oração e sob a luz do Espírito Santo.
Não pode ser uma resposta simplesmente humana, precisa ser
colocada nas orações, para que seja selada pelo Espírito Santo, pois
somente assim será verdadeira.

37
Como São Paulo orienta Timóteo "torna-te modelo para os
fiéis, no modo de falar e de viver, na caridade, na fé, na castidade.
Enquanto eu não chegar, aplica-te à leitura, à exortação, ao
ensino. Não negligencies o carisma que está em ti e que te foi dado
por profecia, quando a assembléia dos anciãos te impôs as mãos"
(I Timóteo 4,12-14).
O compromisso apostólico bem vivido começa com uma vida
em comunidade verdadeira. Somente assim conseguiremos colocar os
planos de Deus em prática e levar o evangelho a todos, ganhando
almas para Cristo.

6 - Discipulado Pessoal.

É de extrema importância para o crescimento espiritual


pessoal dos membros da comunidade, que cada um tenha um
discipulador pessoal (ou diretor espiritual), no qual ficará responsável
pelo caminhar no Espírito do seu discípulo.
O discipulador ou orientador espiritual deve ser uma pessoa
profundamente entregue a oração, a leitura da palavra e cheio do
Espírito Santo. Ele ajudará o novo discípulo em suas decisões, no seu
caminhar e na sua vida de forma geral, com conselhos fundamentados
na palavra de Deus e na doutrina da Igreja.
Além da vida comunitária, um missionário é convidado
também a encontrar alguém para viver esse caminho espiritual com
ele. Assim, em encontros pessoais e específicos, o discipulador deve

38
meditar junto com seu discípulo a vida e a caminhada nas seguintes
áreas:
 Vida espiritual e crescimento espiritual – realizando um
acompanhamento da vida espiritual do discípulo, ajudando-o
com seus propósitos cotidianos de crescimento e
comprometimento com sua vocação;
 Integração construtiva na comunidade – verificando
cuidadosamente sua participação e integração na comunidade
e na vivência do Carisma, Espiritualidade e Missão da mesma.
 Cumprimento do compromisso apostólico – acompanhando,
orientando e verificando o efetivo cumprimento de sua missão
e vocação dentro da comunidade, realizando partilhas das
dificuldades, frustrações, alegrias e vitórias dentro do trabalho
executado dentro da Comunidade;
 Testemunho de vida na família, no trabalho e na sociedade
- verificando permanentemente o estado de vida cotidiana do
discípulo, se está conseguindo comunicar verdadeiramente a
vida cristã e o Carisma da comunidade em todas as dimensões
da vida.

Por fim, o discipulado pessoal também é uma forma de


edificação espiritual, porém, uma forma mais pessoal e integral, como
um acompanhamento verdadeiro feito por um irmão de confiança do
discípulo.

39
É um exercício de obediência e humildade para aquele que
verdadeiramente leva a sério o discipulado pessoal, e gera um
crescimento pleno e verdadeiro na vida em todos os seus aspectos.

40
Carisma, Baluartes, Regra de Vida e
Estruturação da Comunidade.

Neste momento já podemos começar a entender pontos


fundamentais de uma Comunidade: Carisma, Baluartes, Regra de
Vida e Estrutura da Comunidade.
É certo dizer que, devido à diversidade de Carismas e
Ministérios da Igreja, torna-se impossível resumir conceitos tão
importantes em um livro ou capitulo. Esta não é a nossa intenção!
Nosso objetivo é introduzir conceitos fundamentais sobre cada
assunto e, para facilitar o entendimento, usaremos a nossa
Comunidade para exemplificar os conceitos. Porém, é importante
dizer que cada comunidade tem a sua forma particular de ser e é isso
que a torna única e especial na dimensão carismática da Igreja.

7. Carisma.

É um termo utilizado para indicar um dos diversos dons ou


graças especiais concedidos pelo Espírito Santo, àqueles desejosos de
servir a Deus.
Segundo o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, os
carismas "são dons especiais do Espírito, concedidos a alguém

41
para o bem dos homens, para as necessidades do mundo e, em
particular, para a edificação da Igreja" (n. 160).
Os Carismas se enraízam dos sete dons de santificação (Is
11.2): Sabedoria, Entendimento, Conselho, Fortaleza, Ciência,
Piedade e Temor de Deus.
No Novo testamento são enumerados nove dons do Espírito
Santo: palavra de Sabedoria, palavra de Conhecimento (ciência), Fé,
dons de Curar, operações de Milagres, Profecia, Discernimento de
espíritos, variedade de Línguas, Interpretação de línguas.
Estes geram formas diversas de atuação no mundo como
instrumentos do próprio Deus. Como exemplos, têm-se a vida
religiosa contemplativa, apostólica, missionária e a vocação
Sacerdotal (pastoral).
Todos os Carismas nasceram no momento da descida do
Espirito Santo em Pentecostes, porém, sua manifestação vai
acontecendo ao longo do tempo, baseado nas necessidades da
Igreja e do mundo.
Em outras palavras, Deus manifesta no coração dos
fundadores, em um tempo específico, como uma resposta para a
Igreja e para o mundo de algo necessário para que a vontade de
Deus aconteça.
Como exemplo, analisemos o Carisma Franciscano. São
Francisco de Assis recebe um chamado de fundar uma nova forma de
vida evangélica e, especificamente, restaurar a Igreja através da

42
vivência dos conselhos evangélicos na sua plenitude (pobreza,
castidade e obediência).
Se olharmos para o contexto histórico de São Francisco de
Assis, perceberemos que era necessário para a Igreja e para o mundo
que nascesse esta forma de vida consagrada.
Portanto, o Carisma é a resposta para uma ou várias
gerações da humanidade, um ato de amor e carinho de Deus que,
pela moção do Seu Espírito Santo, consegue inspirar no coração
humano dos fundadores; estes que tem a missão de transmitir
para todos aqueles que já têm gravado dentro do coração a
vocação de seguir e viver o Carisma.

7.1 – O Carisma Peregrino do Amor

Peregrino é a pessoa que vai em peregrinação ou romaria.


Portanto, o chamado a ser Peregrino do amor é ser um SINAL do
AMOR ESPONSAL de Deus para o mundo, testemunhando e
levando o Senhor para todos, especialmente para as famílias e os
jovens.

7.2 – A inspiração do Carisma

Todo Carisma deve conter uma Palavra de ordem como


inspiração para a vida da Comunidade. É desta Palavra que nasce a
fonte da vida e da missão da mesma.

43
Na Comunidade Peregrinos do Amor temos três grandes
fontes de inspiração na Palavra de Deus:
 Evangelho de João 13, 33-35 que inspira nossa
vivência do Carisma e, consequentemente, é a nossa
Palavra de Ordem;
 Primeira Carta de João 4, 7-21 que inspira nossa
Regra de Vida e Espiritualidade;
 Primeiro Coríntios 13, 1-13, o Hino ao Amor, que nos
ensina o que é o verdadeiro Amor.

7.3 – A Palavra de Ordem.

A nossa Palavra de Ordem está no Evangelho de João ditas na


última ceia: “também vos digo agora a vós: para onde eu vou, vós
não podeis ir. Dou-vos um novo mandamento: Amai-vos uns aos
outros. Como eu vos tenho amado, assim também vós deveis
amar-vos uns aos outros. Nisto todos conhecerão que sois meus
discípulos, se vos amardes uns aos outros” (João 13, 33-35).
Para personificar sua presença no meio de nós, Cristo nos
deixou o mandamento do amor assemelhado a forma que Ele nos
amou. Sendo assim, a maior forma de manifestação do Carisma de
nossa comunidade acontece na forma em que nos amamos
mutuamente. Esse é o nosso maior testemunho!

44
7.4 – A inspiração da Regra de Vida e da Espiritualidade

A inspiração da Regra de Vida e da Espiritualidade para a


nossa Comunidade estão nas Cartas de João e de São Paulo. Segue um
pequeno trecho para exemplificar a utilização dos textos:

Regra 1:

“Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o


amor vem de Deus, e todo o que ama é nascido de
Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não
conhece a Deus, porque Deus é amor”.

O amor é nascido de Deus e é o próprio Deus. Amar uns aos


outros como forma de personificar a Pessoa de Deus em nosso meio.
Só pode conhecer a Deus quem sabe amar o outro intensa e
incondicionalmente, trazendo a graça para perto de nós.
O amor pelo irmão de comunidade é a primeira ordem de
Deus para nós, pois só poderemos ser romeiros do amor se
verdadeiramente nos amarmos e nos suportarmos mutuamente.

Regra 10:

“Ainda que distribuísse todos os meus bens em


sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu

45
corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de
nada valeria!”.

O despojamento, a renúncia, a entrega dos bens ou da vida, ou


qualquer outra forma de doação sem o princípio máximo do amor não
tem valor nenhum.
Paulo, em seu texto, cita o máximo da entrega corporal, ou
seja, nem mesmo o despojamento do próprio corpo para ser queimado
ao fogo não teria valor sem o propósito maior do amor.
É profundo e instigante pensar que até mesmo os propósitos e
boas ações podem não ter valor, se estes não forem desprendidos de
qualquer tipo de vaidade ou interesse.
Será que quando damos algo de nós, estamos fazendo em
nome do amor maior? Pode não ser fácil responder essa pergunta!
Jesus mesmo alertou aqueles grandes do Templo que doavam
grandes quantias e a vaidade estava em seus corações. Ao contrário,
Ele exaltou aquela viúva pobre, que dava algumas moedinhas, porém,
enquanto todos davam aquilo que sobrava, ela estava dando tudo o
que tinha.

8. Os Baluartes

O que é Baluarte? Obra de fortificação; fortaleza; construção


alta que se sustenta por muralhas. Lugar seguro; sustentáculo. É usada

46
para descrever os elementos essenciais que servem de fundamento e
que sustentam alguém ou alguma coisa.
Para a comunidade, Baluartes são os santos que comungam do
nosso carisma e nos dão sustentação e força. São Modelos para serem
seguidos e nos trazem algum fundamento essencial para a vivência do
nosso Carisma.

Especialmente para o Carisma Peregrinos do Amor temos


quatro Baluartes:
 Nossa Senhora da Ternura – A mãe de Jesus é lugar
seguro para toda e qualquer obra de evangelização. Seu
sim verdadeiro e definitivo para Deus é inspiração e
exemplo para todos os consagrados e consagradas. Para
nós, Maria manifesta sua Ternura da Mãe que amamentou
e cuidou do pequenino Filho de Deus. A ternura de Maria
é a manifestação do amor puro e incondicional para com
Jesus.
 São João Apóstolo – Foi com suas palavras e seu
exemplo de discípulo e apóstolo que nasceu nosso carisma
e nossa espiritualidade. João é o mais jovem dos
apóstolos, porém, o único que estava aos pés da maior
manifestação do amor: a Cruz. Ele que escreveu o nosso
Carisma, deitou sobre o peito do Senhor e o acompanhou
na maior das provações. Ele, o discípulo amado, que
recebeu Maria como um filho. Portanto, nossa Palavra do

47
Carisma, a Regra de Vida e o Roteiro de Consagração
estão baseados em seus escritos.
 São Francisco de Assis – Francisco nos traz o nosso lema
missionário: ―Onde houver ódio, que eu leve o amor‖. Um
homem que amou a Cristo e aceitou sua vocação de
restaurar a igreja com a vivência plena nos conselhos
evangélicos (pobreza, castidade e obediência). Com seu
testemunho, ele nos ensina como viver nossos votos na
Comunidade e nos mostra como amar plenamente a
Cristo, a Igreja e a vocação que nos foi dada. Nossa
fundação do Carisma aconteceu dentro de uma paróquia
dedicada a ele.
 São João Paulo II – antes mesmo de ser canonizado já
era um de nossos baluartes. Seu testemunho incansável de
amor a Cristo, a Igreja, as famílias e, especialmente, aos
jovens, inspiraram e mudaram as vidas dos fundadores de
nossa Comunidade Peregrino do Amor. A ele foi dado
este título. O papa que deu mais de três voltas ao mundo...
Que visitou todos os povos... Suas palavras e seus escritos
são pilares de nossa vida comunitária. De maneira
especial, em sua visita ao Brasil, em uma mensagem aos
jovens brasileiros, São João Paulo II inaugura o Carisma
Peregrinos do Amor nesta terra de Santa Cruz com as
seguintes palavras:

48
―Queridos jovens, Cristo os chama, Cristo os convoca,
Cristo quer andar com vocês, para animar com Seu
Espírito os passos do Brasil rumo ao terceiro milênio.
O papa tem a certeza de que, no fundo da alma, vocês
darão uma resposta generosa e vibrante com esta
convocação: „eis me aqui, porque me chamaste!‟ (cf
1Rs, 3-5). Com este apelo, cheio de esperança termino
estas palavras. Dirijo-me à Virgem Santíssima, Mãe de
Jesus, Mãe dos que, por serem irmãos do seu Filho,
devem ser portadores da Boa Nova! Peço-lhe que os
conduza com seu auxilio materno, até o encontro de
que lhes falei e os acompanhe ao longo de toda a vida.
Amém!”
(ver breve história dos baluartes no Anexo III)

9. A Regra de Vida.

A Regra de Vida é fundamental para que o Carisma aconteça e


se perpetue ao longo do tempo. Cabe a todos os consagrados e
missionários da Comunidade compreender e viver com piedade,
respeito e comprometimento.
Nela estão contidas as normas regimentais e regulatórias da
vida fraterna e da Comunidade em todos os seus aspectos. Portanto, é
através do seu cumprimento e vivência que o membro torna-se
efetivamente o Carisma encarnado no cotidiano da vida.

49
Cada comunidade tem a sua forma de ditar e viver estas
regras. Em nossa Comunidade a Regra é escrita da seguinte forma:
 Procedimento inicial para ingressar na comunidade – neste
item encontra-se o roteiro para o retiro vocacional e os
procedimentos iniciais para admissão de um novo membro.
 A Regra Máxima – Traz todas as características espirituais e
fundamentos comportamentais essenciais para o Carisma e a
Espiritualidade da Comunidade.
 Regimento interno – Traz as informações legais e práticas da
vida comunitária e suas aplicações. Neste capítulo encontra-se
o Estatuto Social da Comunidade e suas regras internas.

10. Estrutura da Comunidade

A Comunidade é uma entidade religiosa e civil, portanto,


passa por leis e regulamentos próprios de cada lugar onde reside, tanto
no meio jurídico civil quanto no meio canônico religioso.
Portanto, é necessário que a Comunidade tenha suas estrutura
própria e organizada, para poder cumprir suas obrigações legais e
religiosas diante da Igreja e da sociedade.
Esta estrutura é muito particular e muda muito de uma
comunidade para outra. Portanto, deixaremos em anexo (ANEXO II)
neste livro um resumo da estrutura da nossa Comunidade, apenas para
melhor compreensão dos seus fundamentos principais.

50
Introdução aos Conselhos
Evangélicos

Os conselhos evangélicos são vividos pela Igreja católica


como forma de ―cristiformizar‖, ou seja, tornar novos Cristos para a
Igreja, àqueles que optam verdadeiramente por uma vida mais
profunda em Cristo, de forma especial, aos que se consagram no altar
do Senhor.
Tais conselhos nascem da própria vida de Jesus, que
testemunhou e viveu na sua forma mais plena. Por essa razão, é
fundamental que todos os membros da comunidade saibam o que são e
como aplica-los na vida comunitária.
Os conselhos evangélicos são votos feitos por pessoas que se
consagram para o serviço do Reino de Deus. Conforme explica um
texto da Comunidade Católica Shalom, ―os conselhos evangélicos na
vida consagrada são afirmação clara da primazia absoluta do
Reino, presença no mundo dos bens definitivos, prefiguração e
experiência da vida eterna e da ressurreição gloriosa” (fonte:
http://www.comshalom.org).
Sendo assim, todo missionário peregrino do amor deve ser a
expressão desses conselhos, para se tornar um outro Cristo, luz do
mundo e sal da terra.

51
11. Castidade

Segundo o Catecismo da Igreja, ―a castidade comporta uma


aprendizagem do domínio de si, que é uma pedagogia da liberdade
humana(...) A dignidade do homem exige que ele possa agir de acordo
com uma opção consciente e livre, isto é, movido e levado por uma
convicção pessoal e não por força de um instinto interno cego ou
debaixo de mera coação externa‖ (CIC § 2339). Muito claramente,
lemos também que ―a castidade é uma virtude moral. É também um
dom de Deus, uma graça, um fruto da obra espiritual‖ (CIC § 2345).
Sendo assim, a castidade é a expressão correta, íntegra e
verdadeira da sexualidade e afetividade humana, no qual todo batizado
é chamado a viver (CIC § 2348). Cristo é o modelo de castidade e
todo batizado é chamado a viver segundo seu estado de vida,
conforme CIC § 2394.
Existem comunidades religiosas que exigem a vida celibatária
através da continência dos atos sexuais. Porém, em nosso caso
específico, onde podemos ter diferentes estados de vida, ou seja,
solteiros e casados, a castidade deve ser vivida como a expressão
correta da sexualidade e afetividade, segundo seu estado de vida.
A castidade vem de encontro a concupiscência do prazer, vem
dar ao prazer o seu verdadeiro significado e a afetividade o seu
verdadeiro sentido.

52
12. Pobreza

Outro conselho personificado na vida de Jesus. Ele que é rico


e todo poderoso renunciou toda a sua condição para se tornar pobre no
meio de nós. Jesus viveu a pobreza em sua totalidade, pois viveu uma
vida simples e sem apego nenhum a coisas materiais e mundanas.^
Assim diz São Paulo: “Cada qual tenha em vista não os
seus próprios interesses, e sim os dos outros. Dedicai-vos
mutuamente a estima que se deve em Cristo Jesus. Sendo ele de
condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus,
mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e
assemelhando-se aos homens. E, sendo exteriormente reconhecido
como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até
a morte, e morte de cruz. Por isso Deus o exaltou soberanamente e
lhe outorgou o nome que está acima de todos os nomes, para que
ao nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na terra e nos
infernos” (Filipenses 2, 4-10).
Em nossa comunidade, em especial, a pobreza está
relacionada à entrega total para as coisas de Deus, tendo Ele como sua
maior e única riqueza.
Não se apegar ao material, mas, principalmente como nas
primeiras comunidades apostólicas, colocar tudo aos pés do Senhor
para o serviço na implantação do Reino.
Não significa simplesmente não possuir bens, o sentido é
muito mais amplo. Devo ter o que necessito, sem luxo e ganância, e

53
não apenas dedicar para a comunidade o que me sobra, mas colocar
tudo a disposição da obra de Deus.

13. Obediência

Uma comunidade não pode existir sem a obediência. Portanto,


nossa obediência é totalizada na vontade de Deus e de seu Filho Jesus
Cristo nosso mestre e Senhor, através dos ensinamentos da Santa
Igreja, sua tradição e seus documentos.
São Paulo disse aos Hebreus: ―Nos dias de sua vida mortal,
dirigiu preces e súplicas, entre clamores e lágrimas, àquele que o
podia salvar da morte, e foi atendido pela sua piedade. Embora
fosse Filho de Deus, aprendeu a obediência por meio dos
sofrimentos que teve. E uma vez chegado ao seu termo, tornou-se
autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem, porque
Deus o proclamou sacerdote segundo a ordem de Melquisedec‖
(Hebreus 5, 7-10).
Cristo foi obediente até o fim, mesmo diante de sua condição
de Filho de Deus e, por essa razão, a obediência trouxe a salvação.
Ainda ensina São Paulo aos Romanos: “Portanto, como pelo
pecado de um só a condenação se estendeu a todos os homens,
assim por um único ato de justiça recebem todos os homens a
justificação que dá a vida. Assim como pela desobediência de um
só homem foram todos constituídos pecadores, assim pela
obediência de um só todos se tornarão justos. Sobreveio a lei para

54
que abundasse o pecado. Mas onde abundou o pecado,
superabundou a graça” (Romanos 5, 18-20).
A desobediência foi o primeiro pecado da humanidade. Por
isso, a obediência é, acima de tudo, uma virtude para os missionários e
consagrados da comunidade, pois é também fonte de salvação.
Tal obediência se estende também para a Igreja particular
(Diocese e paróquia) e, por último, na pessoa do fundador e
formadores da comunidade e do Conselho, para que a comunhão
fraternal possa acontecer plenamente e não prejudicar a vida da
comunidade.

55
56
Anexo I

A missão com os jovens

“O orgulho do jovem é a força” (Provérbios 20,29)

Introdução

Não é algo novo dizer que a juventude está precisando de


mudanças. Atualmente, a forma de ser jovem está limitada em
conceitos consumistas e egocêntricos. A força do jovem está muito
mais além do que estamos oferecendo nos dias de hoje.
É importante dizer que esse discurso não quer chegar a uma
visão meramente ideológica ou utópica. Queremos ir muito além!
Precisamos tomar providências sérias para essa população que
chamamos de juventude.
É preciso urgentemente repensar a educação e a forma de
qualidade de vida que estamos oferecendo para a juventude e,
conseqüentemente, os futuros adultos da sociedade.
Nesse texto, tentaremos analisar conjunturalmente a juventude
e propor as metas que esse Projeto quer chegar. Para isso, precisamos
contar com a contribuição de todos os segmentos da sociedade, de
maneira especial, do Estado e dos empresários, para conseguirmos
atingir nossa meta principal.

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Seria pretensão de nossa parte achar que estaremos resolvendo
todos os problemas que pairam nessa dimensão. Somos apenas um
pequeno número de jovens que lutam por um ideal e que buscam uma
condição social e ambiental mais justa e digna para se viver.

A juventude e seus problemas.

A juventude é uma fase extremamente importante na vida de


um ser humano. Segundo a Assembléia Geral das Nações Unidas,
―juventude são aquelas pessoas que estão entre os 15 e 24 anos de
idade. É um período da vida entre a infância e a maioridade‖.
É o período da intensidade da vida. Momento de plenitude
física. A fase das primeiras experiências e das grandes escolhas. Por
essa razão, torna-se uma fase fundamental para o desenvolvimento da
pessoa humana.
Nesse período da vida, o jovem é obrigado a realizar muitas
escolhas na vida que podem acarretar conseqüências futuras. Sendo
assim, devido à imaturidade e falta de experiência, torna-se
extremamente importante e necessário que esse jovem possa encontrar
um alicerce firme que o apóie nas suas decisões.
Assim como disse João Paulo II: "Também vós, queridos
jovens, vos enfrenteis ao sofrimento: a solidão, os fracassos e as
desilusões em vossa vida pessoal; as dificuldades para adaptar-se ao
mundo dos adultos e à vida profissional; as separações e os lutos em
vossas famílias; a violência das guerras e a morte dos inocentes.

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Porém sabeis que nos momentos difíceis, que não faltam na vida de
cada um, não estais sós: como a João ao pé da Cruz, Jesus vos entrega
também a Mãe dele, para que vos conforte com ternura." (XVII
Jornada Mundial da Juventude).
Nessa fala de João Paulo II fica visível a preocupação da
Igreja com a juventude. A adaptação da juventude no mundo moderno
está se tornando cada vez mais difícil, devido as imensas crises
familiares, sociais, econômicas e políticas que são obrigadas a passar
tão precocemente.
A grande preocupação de tudo isso, sem dúvida, está na
intensidade que o jovem vive as diversas situações cotidianas. Com
certeza, é um traço característico dessa fase, onde tudo se torna mais
intenso e repleto de sentido.
―O orgulho do jovem é a força‖, conforme diz o livro de
Provérbios, e é com essa mesma força e intensidade que ele vive todas
as coisas, sejam elas boas ou ruins.
Um verdadeiro bombardeio de informações e de opções
alternativas de vida. O mercado oferece o consumo e o modelo ideal
de beleza, enquanto o estado nada oferece para que esse jovem
alcance uma vida digna.
A força do ter a qualquer custo toma conta do pensamento
juvenil, e esses não medem esforços para buscarem seus objetivos,
mesmo que para isso, seja preciso derrubar os outros.

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Não dá para falar de mudanças comportamentais e ambientais
como algo mecânico e sem sentido. É preciso colocar o amor acima de
todas as coisas. É preciso dizer ―sim‖ para o amor e para a vida.
Não dá pra falar de mudança de coração sem falar do
espiritual. Não é suficiente a mudança na dimensão humana e
educacional se não existir a espiritualidade. Não podemos nos enganar
achando que simplesmente a filosofia humana consegue mudar essa
realidade.
Por isso, volto novamente a parafrasear as palavras de João
Paulo II quando disse: "Queridos jovens, só Jesus conhece vosso
coração, vossos desejos mais profundos. Só Ele, quem os amou até a
morte, é capaz de saciar vossas aspirações. Suas palavras de vida
eterna, palavras que dão sentido à vida. Ninguém fora de Cristo
poderá dar-vos a verdadeira felicidade.".
Não podemos simplesmente aceitar que o mundo é assim e
que não podemos mudar. Simplesmente nos tornamos pequenas
máquinas programadas para trabalhar e produzir riquezas para um
mundo que pode não aproveitar dessas riquezas...
Precisamos ser agentes de mudanças... "A Igreja os vê com
confiança e espera que sejam o povo das bem-aventuranças!" (João
Paulo II). Temos que acreditar em nossos sonhos e lutar para que eles
se realizem de alguma forma.
Trabalhar a vida inteira e enriquecer materialmente é muito
pouco para uma vida humana. Antes disso, somos seres humanos e
precisamos do amor para nossas vidas. O respeito e a capacidade de

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poder realizar algo que verdadeiramente perdure na vida e na
sociedade.
Nós não sonhamos mais... Deixamos de optar pela vocação
que somos chamados para escolher o que dá mais retorno financeiro.
Estamos vendo a vida passar e optamos pela ―morte‖.
Estamos criando jovens depressivos, infelizes, incapazes de
sonhar, sem criatividade e, principalmente, sem compreender o maior
motivo da vida. São apenas jovens mecânicos que se perdem no
caminhar da vida, com drogas, marginalidade e violência.
Jovens que não querem mais viver... Jovens que acabam com
suas próprias vidas por não saberem como sair dos problemas e como
resolver suas inquietações e dúvidas. Nesse contexto, a família entra
como um papel fundamental para resgatar essa juventude que se
perdeu.
Não podemos nos iludir que a anarquia e a revolução podem
mudar essa situação. Pelo contrário, é preciso voltar para as raízes! A
família precisa ser cuidada e valorizada... Precisamos voltar a entender
o sentido do casamento e da família.
É urgente a necessidade de voltar para o amor e aprender as
palavras verdadeiras de Cristo, assumindo o apelo incansável da Igreja
em favor da vida.
É com esse objetivo que nosso projeto existe e precisamos
muito do seu apoio e força. Não podemos mais fechar os olhos para
aquilo que está tão próximo de nós. A cultura de morte oferecida pela

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sociedade consumista está batendo à porta de sua casa e abraçando os
seus filhos e filhas.
Termino parafraseando João Paulo II, nosso pai espiritual:
"Sabei também vós, queridos amigos, que esta missão não é fácil. E
que pode tornar-se até mesmo impossível, se contardes apenas com
vós mesmos. Mas ‗o que é impossível para os homens, é possível para
Deus‘ (Lc 18,27; 1,37)".

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Anexo II

Estrutura da Comunidade

De forma resumida e fácil compreensão, este anexo visa tratar


os fundamentos básicos da estrutura administrativa da Comunidade,
explicando os aspectos mais importantes para que o ingressante possa
entender o funcionamento da Missão Peregrinos do Amor.
Claro que, tudo o que será falado aqui está completamente
descrito no Estatuto da Comunidade, portanto, só serão tratados os
aspectos diretamente ligados com o ingressante e missionário da
Comunidade.

O objetivo da Comunidade

Conforme o Estatuto, “o Objetivo da Comunidade é a prática


da vida comunitária, na vivência e anúncio do Evangelho, através da
formação e promover a cultura e a evangelização; divulgar o
evangelho por meio da arte, da música, da literatura e da dança;
oferecer um projeto educacional nas dimensões humana, psicológica,
espiritual, profissional e ambiental, com cursos livres
profissionalizantes, cursos de catequese e encontros de
espiritualidade e oração; trabalhar na promoção e orientação
vocacional dos jovens; promover uma consciência cristã a favor da

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vida; promover programas anti-drogas e de assistência aos usuários,
adictos e seus familiares; promover a caridade e auxilio para os mais
necessitados” (Art. 3°).
É muito importante que o missionário que deseja ingressar na
Comunidade tenha claramente em seu coração esses objetivos e um
desejo profundo de realizá-lo em tudo o que fizer em sua missão.

Processo inicial de admissão de membros

―Para ser admitido como membro da Comunidade, o


interessado deverá encaminhar à Comunidade, uma proposta escrita
de próprio punho, contendo: nome, endereço completo inclusive com
o CEP, idade, motivo do desejo e intenção de participar como
membro da entidade, local, data e assinatura” (Art. 8).

Modelo de carta de ingresso

Aos cuidados do Conselho da Comunidade Missão Peregrinos do


Amor

Eu, Nome Completo, profissão, brasileiro, portador do CPF


sob nº _______ e do RG sob nº ___________, estado civil, residente e
domiciliado na _________________________, venho por meio desta
carta manifestar meu desejo de conhecer o carisma da Comunidade
Missão Peregrino do Amor e participar da primeira etapa de

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formações na condição de ingressante, conforme as normas internas
da mesma.

Meu desejo de conhecer e participar da Comunidade é aqui


deve conter o que levou o ingressante a participar da comunidade,
trazendo seus motivos pessoais.

Esperando ser atendido, fico no aguardo para dar continuidade


ao processo, conforme a capacidade e programação da Comunidade.

Sem mais.
Atenciosamente
Piracicaba, data completa.

Aqui deve conter a assinatura


_____________________
Nome Completo

Após receber a carta, a Comunidade entrará em contato com o


interessado e solicitará um preenchimento cadastral padrão,
convidando-o para participar dos encontros de formação inicial para o
ingresso.
É muito importante dizer que as etapas para ingresso na
Comunidade começam a cada ano (em novembro), portanto, se o
interessado enviou a carta para a Comunidade no meio do ano, deve

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começar a etapa de convivência apenas, aguardando a abertura de
nova turma no próximo ano.

Informações necessárias para o cadastro padrão:


 Nome
 Endereço
 Complemento
 Bairro
 Cep
 Telefone
 Estado civil
 Telefone
 Celular
 E-mail
 Data de nascimento
 Ingresso (para uso interno da comunidade)
 Situação atual (para uso interno da comunidade)
 Observação (para uso interno da comunidade)

A administração da Comunidade

Segundo o Estatuto, a administração é composta por dois


órgãos: Diretoria executiva e Conselho. Veremos abaixo a atribuição
básica de cada um deles.
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Diretoria executiva

É composta por três membros que ocuparão os seguintes


cargos:
 Presidente (Moderador Geral) – é aquele que representa a
comunidade, convoca e preside as reuniões, administra as
contas bancárias junto com o Tesoureiro, contrata pessoas e
cria os departamentos e ministérios da comunidade, visando
sempre o cumprimento da missão.
 Vice-presidente – é o cargo máximo após o Presidente. Um
cargo de confiança, que o substitui em sua ausência.
 Secretário – é aquele que organiza os serviços, elaborando
atas nas reuniões, dirigindo os trabalhos e agendas e assinando
os cheques juntamente com o Tesoureiro.

Tanto o Vice-presidente quanto o Secretário são nomeados


pelo Presidente, como cargos de confiança.
Esta Diretoria tem a função de dirigir a comunidade, cumprir e
fazer cumprir o estatuto, representar a comunidade, cuidar e
administrar o patrimônio, prestar contas e admitir ou demitir novos
membros, neste caso, juntamente com o Conselho.
Deve-se reunir uma vez por mês, ordinariamente, e
extraordinariamente quando convocado pelo Presidente (Art. 24, §
1°).

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Conselho

É o órgão máximo da Comunidade, onde todas as decisões


principais são discutidas e decididas. É composto pelos seguintes
membros:
 Tesoureiro – é aquele que administra a entrada e saída de
dinheiro da comunidade, prestando contas a Administração
(Diretoria Executiva e Conselho) da Comunidade.
 Coordenador de Patrimônio – é aquele que controla o
inventário patrimonial da entidade.
 Conselheiros – são pessoas que auxiliam nas tomadas de
decisões, opinam e fiscalizam a administração da entidade.

É importante saber que o Tesoureiro e o Coordenador de


Patrimônio são nomeados pelo Presidente, enquanto os conselheiros
são votados pela Assembléia Geral.
“Só ocuparão cargo no Conselho, os membros que tenham
professado compromisso permanente com a Comunidade através da
Oblação (consagração de vida ou de aliança), ou seja, a vida
consagrada para a Comunidade” (Art. 29, § 8°).
O Conselho deve reunir-se uma vez por mês, ordinariamente,
e extraordinariamente quando convocados pelo Presidente (Art. 31°).
Segundo o Estatuto, no Artigo 33, vemos as competências do
Conselho:

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 Elaborar seu próprio regimento e aprovar os elaborados
pelos coordenadores de serviços da Comunidade;
 Elaborar e aprovar normas e procedimentos gerais dos
serviços e dos núcleos da Comunidade em suas atividades
internas e externas, estabelecendo objetivos e metas a serem
cumpridas;
 Eleger o Presidente (Moderador Geral);
 Examinar os balancetes e prestações de contas;
 Eleger os discipuladores e formadores dentro da
Comunidade, que tomarão conta dos ingressantes e
missionários da mesma.
 Deliberar sobre:
o Admissão, demissão e exclusão de membros da
Comunidade;
o Aceitação de doação e legado;
o Aquisição, alienação e oneração de bens móveis e
imóveis, confissão de dívida com garantia real;
o Fazer uso de medidas de correção fraterna, caso
algum de seus membros tenha incidido em erro;
o Punir adequadamente, de acordo com os estatutos, o
membro que faltar com a discrição e sigilo
necessário, no tocante aos assuntos abordados no
Conselho.

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Assembléia Geral

“É constituída por todos os membros, devendo reunir-se


ordinariamente, uma vez por ano, no mês de Janeiro, e
extraordinariamente quando para isto for convocada” (Art. 36°).
Compete a ela, ―alterar e modificar o Estatuto; eleger três
membros do Conselho; analisar e discutir o balanço e as contas de
cada exercício; analisar e dar parecer a recursos contra atos e
resoluções do Conselho; sugerir alterações no presente Estatuto;
partilhar, avaliar e testemunhar se os objetivos e metas estatutárias
estão sendo” (Art. 39°).

Diretor Espiritual

É aquele que zela, cuida e direciona a Comunidade em sua


caminhada espiritual e missionária. Esse cargo será ocupado por um
padre, que deverá ser escolhido pelo Conselho e exercerá a função
durante cinco anos, podendo ser reeleito indefinidamente.
O convite é feito pelo Presidente, de maneira pessoal, não
sendo obrigado que o Diretor Espiritual seja membro da comunidade.
Cabe ao Diretor Espiritual oferecer os sacramentos para os
membros da comunidade, em especial, a confissão e a Eucaristia,
celebrando missas mensais na entidade.

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O Diretor deve também trazer, mensalmente, uma ―palavra de
ordem‖, fundamentada na Bíblia e na Doutrina da Igreja, que
direcionará os membros da Comunidade naquele mês em questão.

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72
Anexo II

Breve história dos nossos baluartes

NOSSA SENHORA DA TERNURA

23 de junho

NOSSA SENHORA DA TERNURA É OUTRA DOCE DEVOÇÃO LIGADA AO


CICLO DA INFÂNCIA DE JESUS, MAS REPRESENTA DE MODO MAIS
PROFUNDO O OLHAR DE TERNURA SOBRE O MENINO-DEUS QUE
ABUNDAVA EM GRAÇA E SE PREPARAVA PARA SUA MISSÃO FUTURA:
CONDUZIR A HUMANIDADE DE NOVO AOS CAMINHOS DO SENHOR,
REDESENHANDO A ALIANÇA.

Nossa Senhora da Ternura de Vladmir


Maria recebeu este título do povo russo, por sua devoção a um
ícone de Nossa Senhora, de origem grega, pintado por um artista
anônimo do século XII. Começou a ser venerado e contemplado no
convento de Vzshgorod, em Kiev.

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Em 1160 foi levado para a catedral da Assunção de Vladmir.
Permaneceu, por muito tempo, na cidade de Vladimir; por este motivo
leva o nome de "A Virgem de Vladimir", ou "A Virgem da Ternura de
Vladimir".
A contemplação desse ícone nos conduz a uma experiência
espiritual profunda. Leva-nos a seguir um movimento que parte dos
olhos da Virgem em direção às suas mãos. Passa das mãos de Maria
para a criança e da criança novamente para os olhos de Maria.

Os olhos da Virgem
Seus olhos olham para dentro e para fora ao mesmo tempo.
Olham para dentro, para o coração de Deus e para fora, para o coração
do mundo, revelando, assim, a unidade inescrutável entre o Criador e
a criação. Seus olhos contemplam os espaços infinitos do coração,
onde alegria e tristeza não são mais emoções contrastantes, mas
transcendidas na unidade espiritual.
O olhar de Maria é acentuado pelas estrelas que brilham em
sua testa e em seus ombros. Elas falam da presença divina que
permeia seu ser. Maria está completamente aberta ao Espírito, que
torna seu ser mais interiorizado e completamente atento ao poder
criador de Deus. Orando à Virgem de Vladimir, constamos que ela nos
vê com os mesmos olhos com que vê Jesus.

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As mãos da Virgem
É impossível rezar durante muito tempo contemplando o ícone
sem sentir-nos atraídos por suas mãos. Uma das mãos sustenta a
criança, enquanto a outra permanece livre, num gesto aberto de
convite.
Maria é a mãe de Jesus. Todo o seu ser é Jesus. Sua mão não
ensina, nem explica e nem pede. Simplesmente oferece o seu filho
como o Salvador do mundo a todos os que estão abertos a ver Jesus
com os olhos da fé.
A mão de Maria ocupa o coração do ícone. É
indescritivelmente bela. Sua centralidade resume o ícone inteiro.
Transforma a imagem expressão do cântico de Maria: "Minha alma
exalta o Senhor e meu espírito exulta de júbilo em Deus, meu
Salvador" (Lc 1, 46).
Enquanto nossa atenção vai dos olhos para as mãos de Maria,
lentamente, percebemos sua profunda paciência. Ela é a mãe paciente
que espera a hora do nosso "sim". Sua mão está sempre ali, no âmago
do mistério da Encarnação, convidando-nos a ir a Jesus.

O filho da Virgem
Ao olha longamente o ícone percebe-se o significado de tudo
o que o rodeia. É fácil notar que o filho não é um bebê. É um sábio
vestido com roupas de adulto. O rosto iluminado e a túnica dourada
indicam que o sábio é verdadeiramente o Verbo de Deus, cheio de
majestade e esplendor. É o verbo feito carne, Senhor de todos os

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tempos, fonte de toda a sabedoria, princípio e fim da criação.Tudo fica
claro dentro e ao redor do filho. No filho não há escuridão.
Contemplando o rosto da criança percebemos uma luz
esplêndida que cai no lado direito do ícone, tocando delicadamente o
nariz da Virgem e iluminando o rosto do filho. Mas a luz vem também
de dentro. É um brilho interior que se projeta para fora e aprofunda a
intimidade entre mãe e filho, revelada no abraço carregado de ternura.
A criança está se dando completamente à Virgem. O braço
envolve afetuosamente mãe e filho. Os olhos da criança estão fixos
nos olhos dela. A atenção é plena. Sua boca está próxima à da mãe,
oferecendo-lhe seu sopro divino. Jesus oferece sua sabedoria divina à
Mãe da humanidade.
(Fonte: Paulinas on-line)

Oração a N. Sra. da Ternura Nossa Senhora da Ternura


P. Cobrí-nos com vosso amor e doçura. Iluminai os corações para que
sejamos vistos como iguais. Mãe agraciada esperamos e depositamos
nossa confiança em vós. Vós, que amparais e protegeis a todos, com
fraternal carinho, às pessoas com deficiência. Mãe fazei que todo
coração seja semelhante ao vosso, e, com a vossa graça, sejamos
perseverantes em nossa fé.
R. Amém.

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SÃO JOÃO, O APÓSTOLO BEM AMADO
27 de dezembro

―Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que


amava, disse à sua mãe: Mulher, eis aí teu filho. Depois disse ao
discípulo: Eis aí tua mãe. E dessa hora em diante o discípulo a
levou para a sua casa” (João 19, 26-27).
São João, pescador, filho de Zebedeu e Salomé, foi convidado
a seguir Jesus logo depois de Pedro e André. Era um dos mais jovens
apóstolos de Cristo e foi o único que acompanhou Jesus até a Cruz,
junto com Maria Santíssima.
Acompanhando toda a Paixão e Morte de Cristo, João
escreveu um dos quatro evangelhos de Cristo, e é diferenciado dos
outros três por abordar um lado espiritual de Jesus: “O verbo se fez
carne e habitou entre nós‖ (João 1, 14).
Compreendendo o lado místico da vida de Cristo, ele nos leva
a meditar sua definição de Deus: ―Aquele que não ama não conhece
a Deus, porque Deus é amor” (I João 4, 8). Foi considerado o
primeiro filho espiritual de Maria, dito pela própria boca de Jesus.

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Escreveu ainda três epístolas aos cristãos e o livro Apocalipse,
ou Revelação. Um homem de elevação espiritual, destinado muito
mais a contemplação do que a ação. Ordenou Bispos em Éfesos e
outras províncias da Ásia Menor.
Assim ele escreveu: “Este é o discípulo que dá testemunho
de todas essas coisas, e as escreveu. E sabemos que é digno de fé o
seu testemunho. Jesus fez ainda muitas outras coisas. Se fossem
escritas uma por uma, penso que nem o mundo inteiro poderia
conter os livros que se deveriam escrever” (João 21, 24-25).
(Fonte: Igreja: coluna e sustentáculo da verdade)

Preeminência de três Apóstolos sobre os demais


Desde logo, Pedro, Tiago e João tomaram preeminência sobre
os outros Apóstolos, tornando-se os ―escolhidos dentre os escolhidos‖.
E, como tais, participaram de alguns dos mais notáveis episódios na
vida do Salvador, como a ressurreição da filha de Jairo, a
Transfiguração no Tabor e a Agonia no Horto das Oliveiras.
São João foi também um dos quatro que estavam presentes
quando Jesus revelou os sinais da ruína de Jerusalém e do fim do
mundo. Mais tarde, com São Pedro, a quem o unia respeitosa e
profunda amizade, foi encarregado de preparar a Última Ceia. São
Pedro amava ternamente São João, e essa amizade é visível tanto no
Evangelho quanto nos Atos dos Apóstolos.
Por sua pureza de vida, inocência e virgindade, João tornou-se

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logo o discípulo amado, e isso de um modo tão notório, que ele
sempre se identificará em seu Evangelho como ―o discípulo que Jesus
amava‖. Apesar de os Apóstolos não estarem ainda confirmados em
graça, isso não provocava neles inveja nem emulação. Quando
queriam obter algo de Nosso Senhor, faziam-no por meio de São João,
pois seu bom gênio e bondade de espírito tornavam-no querido de
todos.
―Mas esta serenidade, esta doçura, este caráter recolhido e
amoroso [de João Evangelista] são algo diferente da inércia e da
passividade. Os pintores nos acostumaram a ver nele um não sei quê
de feminino e sentimental, que está em contraste com a energia
varonil e o zelo fulgurante que se descobre em algumas passagens
evangélicas‖.
Se Nosso Senhor amava particularmente São João, também
era por ele amado de maneira especialíssima. Com seu irmão Tiago,
recebeu de Cristo o cognome de ―Boanerges‖, ou ―filhos do trovão‖,
por seu zelo. Indignaram-se contra os samaritanos, que não quiseram
receber o Mestre, e pediram-Lhe para fazer descer sobre aqueles
indóceis o fogo do céu.
Foi por esse amor, e não por ambição, que ele e o irmão
secundaram a mãe, Salomé, solicitando que um e outro ficassem à
direita e à esquerda do Redentor, em seu Reino (um tanto
equivocadamente, pois imaginavam ainda um reino terreno). Quando
Nosso Senhor perguntou-lhes se estavam dispostos a beber com Ele o
mesmo cálice do sofrimento e da amargura, com determinação

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responderam afirmativamente.

O primeiro devoto do Coração de Jesus


Entretanto, uma das maiores prova de afeição de Nosso
Senhor a São João deu-se na Última Ceia. Quis o Divino Mestre ter à
sua direita o Apóstolo Virgem, permitindo-lhe a familiaridade de
recostar-se em seu coração. Diz Santo Agostinho que nesse momento,
estando tão próximo da fonte de luz, ele absorveu dela os mais altos
segredos e mistérios que depois derramaria sobre a Igreja. A pedido de
Pedro, perguntou a Jesus quem seria o traidor, e obteve a resposta.
São João teve, porém um momento de fraqueza — e das mais
censuráveis — quando os inimigos prenderam Jesus, tendo então
fugido como os outros Apóstolos. Era o momento em que Nosso
Senhor mais precisava de apoio! Logo depois o vemos
acompanhando, de longe, o Mestre ao palácio do Sumo Sacerdote.
Como era ali conhecido, fez entrar também Simão Pedro. Pode-se
supor que ele tenha permanecido sempre nas proximidades de Nosso
Senhor durante toda aquela trágica noite, e que não saiu senão para ir
comunicar a Maria Santíssima o que se passava com seu Filho.
Acompanhou-A então no caminho do Calvário e com Ela permaneceu
ao pé da cruz. Era o sinal evidente de seu arrependimento.

Custódia da Mãe de Deus ao Apóstolo virgem


Foi então que, recebendo-A como Mãe, obteve o maior legado
que criatura humana jamais podia receber. Diz São Jerônimo: ―João,

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que era virgem, ao crer em Cristo permaneceu sempre virgem. Por
isso foi o discípulo amado e reclinou sua cabeça sobre o coração de
Jesus. Em breves palavras, para mostrar qual é o privilégio de João, ou
melhor, o privilégio da virgindade nele, basta dizer que o Senhor
virgem pôs sua Mãe virgem nas mãos do discípulo virgem‖ 2.
Ensinam os Padres da Igreja que esse grande Apóstolo representava
naquele momento todos os fiéis. E que, por meio de São João, Maria
nos foi dada por Mãe, e nós a Ela como filhos. Mas João foi o
primeiro em tal adoção.
Foi ele também o único dos Apóstolos a presenciar e a sofrer
o drama do Gólgota, servindo de apoio à Mãe das Dores, que com seu
Filho compartilhava a terrível Paixão.
Quando, no Domingo da Ressurreição, Maria Madalena veio
dizer aos Apóstolos que o túmulo estava vazio, foi ele o primeiro a
correr, seguido de Pedro, para o local. E depois, estando no Mar de
Tiberíades, aparecendo Nosso Senhor na margem, foi o primeiro a
reconhecê-Lo.

Uma das três colunas da Igreja nascente


Nos Atos dos Apóstolos, ele aparece sempre com São Pedro.
Juntos estavam quando, indo rezar no Templo junto à porta Formosa,
um coxo pediu-lhes esmola. Pedro curou-o, e depois pregou ao povo
que se reuniu por causa de tal maravilha. Juntos foram presos até o dia
seguinte, quando corajosamente defenderam sua fé em Cristo diante
dos fariseus. Mais adiante, quando o diácono Felipe havia convertido

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e batizado muitos na Samaria, era necessário que para lá fosse um dos
Apóstolos a fim de os crismar. Foram escolhidos Pedro e João para a
missão.
São Paulo, em sua terceira ida a Jerusalém, narra em sua
Epístola aos Gálatas (2, 9) que lá encontrou ―Tiago, Cleofas e João,
que são considerados as colunas‖, e que eles, ―reconhecendo a graça
que me foi dada [para pregar o Evangelho], deram as mãos a mim e a
Barnabé em sinal de pleno acordo‖.
Depois disso os Evangelhos se calam a respeito de São João.
Mas resta a Tradição. Segundo esta, ele permaneceu com Maria
Santíssima durante o que restou de sua vida mortal, dedicando-se
também à pregação. Depois da intimidade com o Filho, o Apóstolo
virgem é chamado a uma estreita intimidade de alma com a Mãe que,
sendo a Medianeira de todas as graças, deve tê-lo cumulado delas em
altíssimo grau. Que grande virtude deveria ter alguém para ser o
custódio da Rainha do Céu e da Terra!
Assim, teria ele permanecido com Ela em Jerusalém e depois
em Éfeso. ―Dois motivos principais deveriam ter ocasionado essa
mudança de residência: de um lado, a vitalidade do cristianismo nessa
nobre cidade; de outro, as perniciosas heresias que começavam a
germinar. João queria assim empenhar sua autoridade apostólica, quer
para preservar quer para coroar o glorioso edifício construído por São
Paulo; e sua poderosa influência não contribuiu pouco para dar às
igrejas da Ásia a surpreendente vitalidade que elas conservaram
durante o século II‖.

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Após a dormição de Nossa Senhora — que é como a Igreja chama o
fim de sua vida terrena — e a Assunção d‘Ela aos Céus, fundou ele
muitas comunidades cristãs na Ásia menor.

Vivo após o martírio


Ocorre então o martírio de São João, que é comemorado no
dia 6 de maio. O Imperador Domiciano o fez prender e levar a Roma.
Na Cidade Eterna, ele foi flagelado e colocado num caldeirão de
azeite fervendo. Mas o Apóstolo virgem saiu dele rejuvenescido e sem
sofrer dano algum. Domiciano, espantado com o grande milagre, não
ousou atentar uma segunda vez contra ele, mas o desterrou para a ilha
de Patmos, que era pouco mais do que um rochedo. Foi ali, segundo a
Tradição, que São João escreveu o mais profético dos livros das
Sagradas Escrituras, o Apocalipse.
Após a morte de Domiciano, o Apóstolo voltou a Éfeso. É lá
que, segundo vários Padres e Doutores da Igreja, para combater as
doutrinas nascentes de Cerinto e de Ebion — que negavam a natureza
divina de Cristo — escreveu ele seu Evangelho. Ordenou antes a todos
os fiéis um jejum que ele mesmo observou rigorosamente, para em
seguida ditar a seu discípulo Prócoro, no alto de uma montanha, o
monumento que é seu Evangelho. Transportado em Deus, com um
vôo de águia, ele o começa de uma altura sublime: ―No princípio era o
Verbo, e o Verbo estava em Deus, e o Verbo era Deus‖. Este
Evangelho, dos mais sublimes textos jamais escritos, era tido em tanta

83
veneração pela Igreja, que figura no ordinário da Missa promulgada
por São Pio V, pela fundamental doutrina que contém.
Segundo São João Crisóstomo, os próprios Anjos aí
aprenderam coisas que não sabiam.
São João escreveu também três Epístolas, sempre visando
estabelecer a verdadeira doutrina contra erros incipientes que se
infiltravam na Igreja.
Segundo uma tradição, o discípulo que Jesus amava teria
morrido em Éfeso, provavelmente em 27 de dezembro do ano 101 ou
102.
Mas alguns exegetas levantam a hipótese de ele não ter
falecido, com base na seguinte passagem do Evangelho: logo após a
pesca milagrosa no lago de Tiberíades — depois da Ressurreição de
Jesus — Nosso Senhor confiou mais uma vez a Igreja a São Pedro.
Este, voltando-se a Nosso Senhor, perguntou-lhe, referindo-se a São
João: ―E este? Que será dele?‖ Respondeu-lhe Jesus: ―Que te importa
se eu quero que ele fique até que eu venha?‖ O próprio São João
comenta: ―Correu por isso o boato entre os irmãos de que aquele
discípulo não morreria. Mas Jesus não lhe disse `não morrerá‘, mas
`que te importa se quero que ele fique assim até que eu venha?‘‖ (Jo
21, 15 a 23).
(Fonte: http://reporterdecristo.com )

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SÃO FRANCISCO DE ASSIS

04 de outubro

“O servo perfeito da Dama pobreza”.

São Francisco, um dos santos mais populares do mundo, ficou


conhecido por viver totalmente a palavra de Deus que dizia: “Se
alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia
a sua cruz e siga-me” (Lucas 9, 23).
Assim, filho de uma família nobre e rica renunciou todos os
seus bens quando rezando na Igreja de São Damião, ouviu o
Crucificado pedir-lhe que restaurasse Sua casa, que estava em ruínas.
Tomando as palavras literalmente, empenhou-se na reforma não só
desse templo, mas de dois outros mais. O Divino Redentor, porém,
pediu que, sobretudo, restaurasse não os edifícios das igrejas, mas a
própria Igreja enquanto instituição.
Assim Jesus disse: “Se queres conhecer minha vontade,
precisas desprezar todas as coisas que até aqui materialmente
amaste e desejaste. Quando tiveres feito isto, ser-te-á agradável
tudo quanto te é insuportável e se tornará insuportável tudo
quanto desejas” (Legenda de São Francisco).

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Assim, São Francisco começou o que seria uma das maiores
vocações da Igreja. Doando muito dinheiro para os pobres, seu pai
apelou para o Bispo que o fizesse parar com essas coisas. Francisco
então se despiu em praça pública, em frente ao Bispo, e renunciou
toda a herança que lhe era de direito para servir a ―dama pobreza‖.
Em busca da perfeita santidade, saiu em direção a vida
consagrada e foi o fundador do que se chamaria Ordem dos Frades
Menores. Conta a História que, quando se completou 12 seguidores na
Ordem, estes foram homens de tão grande santidade que, desde os
Apóstolos até hoje, não viu o mundo homens tão maravilhosos e
santos.
Depois, para obter a aprovação de sua Ordem e estar na
obediência da Santa Igreja, São Francisco dirigiu-se até o Papa em
Roma. Porém, um pouco antes disso, o Sumo Pontífice havia tido um
sonho com a Basílica de Latrão prestes a ruir, mas um pobrezinho
homem a sustentava nos ombros, impedindo que caísse.
Assim, ao chegar na Basílica o Papa o reconheceu e correu
abraçá-lo dizendo: “Irmãos, ide com Deus e pregai a penitência,
segundo vos será inspirada. Quando tiverdes crescido em número
e o Senhor aumentado suas graças a vosso favor, tornai a nós, que
vos concederemos o que desejardes e ainda mais” (Legenda de São
Francisco).
E assim aconteceu. Sua vocação inspirou e inspira muitos
outros homens e mulheres a seguir Cristo na loucura da Cruz e da

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Pobreza. Viveu toda a vida na obediência, castidade e pobreza e, com
dois anos antes de sua morte, recebeu os estigmas de Cristo na Cruz.
Com sua última doença, cantou louvores a Irmã morte e
morreu no dia 4 de outubro de 1226, aos 45 anos, cantando um salmo.
Foi canonizado apenas dois anos depois.

Oração de São Francisco

SENHOR, fazei-me instrumento de Vossa paz,


Onde houver ódio, que eu leve o amor,
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão,
Onde houver discórdia, que eu leve a união,
Onde houver dúvida, que eu leve a fé,
Onde houver erro, que eu leve a verdade,
Onde houver desespero, que eu leve a esperança,
Onde houver tristeza, que eu leve alegria,
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre fazei que eu procure mais.
Consolar que ser consolado;
Compreender que ser compreendido,
Amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe
É perdoando que se é perdoado
E é morrendo que se vive para a vida eterna...

(Fonte: Igreja: coluna e sustentáculo da verdade )

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SÃO JOÃO PAULO II, “O GRANDE”.

02 de abril (beatificação 01/05/2011) – memória dia 22 de outubro

“Vim como mensageiro da verdade e da esperança, para


confirmá-los na fé e lhes deixar uma mensagem de paz e
reconciliação em Cristo” (Viagem a Cuba, janeiro de 1998).

Nasceu em 18 de maio de 1920, no Wadowice, sul da Polônia.


Sua família era formada por seu pai Karol Wojtyla, um militar do
exército austro-húngaro, sua mãe, Emilia Kaczorowsky, uma jovem
sileziana de origem lituana, e um irmão adolescente de nome Edmund.
Logo que nasceu, na frente do hospital havia uma Igreja que
estava sendo cantado um cântico para Maria Santíssima. Nesse
momento, sua mãe o consagrou para a Ela, o fazendo ser um dos
Papas mais ―marianos‖ que o mundo já viu.
Perdeu a mãe muito cedo, aos nove anos, e o irmão logo mais
tarde. Depois, em meio a Segunda Guerra Mundial, enfermo, seu pai
também morreu. Assim, ainda muito novo, perdeu todos os entes
próximos.
Porém, isso não impediu esse grande homem a tornar-se uma
das maiores personalidades do nosso século. Quando jovem, despertou

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o interesse por teatro e artes literárias, fazendo apresentações
clandestinas devido à ocupação nazista na Polônia.
Pensou em continuar seus estudos em filologia e lingüística
polonesa, porém, conversando com o Cardeal Sapieha, sentiu a
possibilidade de seguir a vocação do sacerdócio. Porém, com a
Guerra, os alemães fecharam todas as faculdades da Polônia tentando
invadir também a cultura polonesa.
Assim, em uma faculdade clandestina, estudou filosofia,
idiomas e literatura, antes de seguir para o seminário. Ainda antes de
seguir sua vocação, teve que trabalhar como operário em uma pedreira
alemã para não ser deportado.
Esta experiência o ajudou a entender o cansaço físico, a
simplicidade, sensatez e ardor religioso dos trabalhadores e os pobres.
Em 1942 ingressou no Departamento teológico da
Universidade Jaguelloniana. Durante estes anos teve que viver
escondido, junto com outros seminaristas, que foram acolhidos pelo
Cardeal de Cracóvia.
Consagrado sacerdote, seu carisma e amor pelos jovens e sua
sabedoria na pregação conquistaram a Igreja que logo o denominaria
Bispo, ainda muito novo. Durante estes anos, o então Bispo Wojtyla
combinava a produção teológica com um intenso trabalho apostólico,
especialmente com os jovens, com quem compartilhava tanto
momentos de reflexão e oração com espaços de distração e aventura
ao ar livre.

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Realizou muitos trabalhos importantes como Bispo de
Cracóvia e foi fundamental para o fim do socialismo na Polônia.
Ordenou, em 1974, como Cardeal, 43 novos sacerdotes em um ano na
Polônia.
Quatro anos depois, em 1974, foi escolhido como o novo Papa
da Igreja Católica, devido a morte precoce de João Paulo I. Assim,
Karol Wojtyla se tornou o Papa João Paulo II, ―o grande‖.
Sua caminhada como Pai espiritual da Igreja, seria então
marcada por muito serviço em favor da paz, do amor e da união de
todos.
Sua vida foi um sacrifício vivo para Deus, em favor de sua
Igreja para nos reconciliar com os erros passados. Dono de palavras
sábias, força interior e um carisma único conseguiu levar a Boa nova
para os lugares mais distantes do mundo e libertar milhares pessoas do
sofrimento.
Suas longas e abençoadas viagens equivaleram a três voltas no
mundo. O mundo ficou pequeno para o nosso ―João de Deus‖. Sua
tamanha sabedoria e dedicação conduziram nossa geração de jovens,
dando força e coragem para enfrentarmos o mundo contemporâneo.
Suas palavras engrandeceram nossa alma, e todas as vezes que
não conseguiu falar, ainda assim conseguiu nos ensinar com sua vida e
dedicação. Seu desespero para tentar conduzir a Igreja que Cristo lhe
confiou fez com que desejássemos ardentemente ouvir as palavras que
não conseguiu dizer.

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Sua fé parou o mundo por uma semana, e sensibilizou até o
mais duro coração. Sem distinção de raça, cor ou religião, João Paulo
colheu o que plantou, pois o mundo se uniu para proclamar luto de
uma perda irreparável.
Este amado diretor espiritual da Igreja Moderna deixou
saudade em nossos corações, mas a certeza da vitória do bem sobre o
mal. Sem medo, falou a verdade para todos os jovens do mundo e
conseguiu reunir mais de sete milhões deles nos seus encontros anuais
da Jornada da Juventude.
Aprendeu a falar 16 idiomas e viajou por 133 países, escreveu
14 encíclicas, 13 exortações apostólicas, 11 constituições apostólicas,
42 cartas apostólicas e 28 em modo próprio. Proclamou 1.314 beatos
em 138 cerimônias de beatificação e proclamou 469 santos, em 48
celebrações litúrgicas. Convocou 8 consistórios na geração dos
cardeais e nomeou um total de 201 cardeais.
Participou de mais de 1.083 audiências gerais semanais e
recebeu aproximadamente 17 milhões de fiéis do mundo inteiro. Sobre
isto devemos acrescentar os encontros e audiências com diversos
grupos e figuras políticas, entre eles chefes de Estado e primeiros
ministros, que somam o total 1.500.
Foi o primeiro Papa a visitar uma sinagoga (Roma, abril de
1986); uma mesquita (Grande Mesquita Omeya de Damasco, maio
2001). Deu conferências de Imprensa em aviões e no Departamento de
Imprensa da Santa Sé (24 janeiro 1994) e publicou livros de prosa e
poesia.

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Residiu em um hotel em lugar de numa nunciatura apostólica
durante suas viagens (Hotel Irshad em Baku, Azerbaijão, maio 2002) e
acrescentou cinco novos mistérios ao Rosário (outubro 2002).
Celebrou Missa em um hangar de aviões (Aeroporto de
Fiumicino, Roma, em dezembro 1992); convocou uma Jornada de
Perdão (Ano Jubilar 2000). Foi o primeiro Papa que entrou na cela de
uma prisão ao encontrar-se em dezembro de 1983 com Ali Agca, o
turco que atentou contra sua vida em maio de 1981 para confessa-lo e
dar o seu perdão.
Celebrou missa em uma comunidade católica mais ao norte do
mundo, a 350 quilômetros do Limite Polar Artico (Tromso, Noruega,
1989) e utilizou a letra "M" de Maria em seu brasão papal, quando
normalmente as regras da aráuticas não autorizam a empregar palavras
dentro do brasão e somente ao redor.
João Paulo II no deixou no dia 02 de abril de 2005. Mesmo
muito enfermo, conseguiu celebrar a Páscoa com sua Igreja e
demonstrar para o mundo o verdadeiro sentido da Paixão de Cristo.
Morreu um dia antes de celebrar o Domingo da Misericórdia, sendo
que já havia escrito um texto para ler em sua homilia que dizia: “O
mundo precisa entender o verdadeiro sentido da misericórdia de
Jesus”.
Deixou saudades em muitos corações e de forma
impressionante, teve que ser velado durante uma semana para que
todos os fiéis peregrinos pudessem se despedir do grande santo. Seu

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corpo ficou exposto durante esse tempo e muitos milhares de pessoas
foram até o Vaticano para prestar homenagem ao Papa.
O mundo parou durante sete dias e todos os maiores líderes
mundiais, políticos e religiosos, estiveram presente na última missa de
corpo presente de João Paulo II. O mensageiro da paz e da esperança
foi, sem dúvida, um grande santo de nossos dias.

O mendigo que confessou João Paulo II


(Tirado do site: http://www.acidigital.com/juanpabloii/)

Há alguns dias, no programa de televisão da Madre Angélica


nos Estados Unidos (EWTN), relataram um episódio pouco conhecido
da vida do Papa João Paulo II.
Um sacerdote norte americano da diocese de Nova York se
dispunha a rezar em uma das paróquias de Roma quando, ao entrar, se
encontrou com um mendigo. Depois de observá-lo durante um
momento, o sacerdote se deu conta de que conhecia aquele homem.
Era um companheiro do seminário, ordenado sacerdote no mesmo dia
que ele. Agora mendigava pelas ruas.
O padre, depois de identificar-se e cumprimentá-lo, escutou
dos lábios do mendigo como tinha perdido sua fé e sua vocação. Ficou
profundamente estremecido. No dia seguinte o sacerdote vindo de
Nova York tinha a oportunidade de assistir à Missa privada do Papa e
poderia cumprimentá-lo no final da celebração, como é de costume.
Ao chegar sua vez sentiu o impulso de ajoelhar-se frente ao Santo
Padre e pedir que rezasse por seu antigo companheiro de seminário, e
descreveu brevemente a situação ao Papa.
Um dia depois recebeu o convite do Vaticano para cear com o
Papa, e que levasse consigo o mendigo da paróquia. O sacerdote
voltou à paróquia e comentou a seu amigo o desejo do Papa. Uma vez

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convencido o mendigo, o levou a seu lugar de hospedagem, ofereceu-
lhe roupa e a oportunidade de assear-se.
O Pontífice, depois da ceia, indicou ao sacerdote que os
deixasse a sós, e pediu ao mendigo que escutasse sua confissão. O
homem, impressionado, respondeu-lhe que já não era sacerdote, ao
que o Papa respondeu: " uma vez sacerdote, sacerdote para sempre".
"Mas estou fora de minhas faculdades de presbítero", insistiu o
mendigo. "Eu sou o Bispo de Roma, posso me encarregar disso", disse
o Papa.
O homem escutou a confissão do Santo Padre e pediu-lhe que
por sua vez escutasse sua própria confissão. Depois dela chorou
amargamente. Ao final João Paulo II lhe perguntou em que paróquia
tinha estado mendigando, e o designou assistente do pároco da
mesma, e encarregado da atenção aos mendigos.

(Fonte: Igreja: coluna e sustentáculo da verdade )

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Fontes de pesquisa utilizada:

Bíblia Sagrada – edições Ave Maria e Pastoral

Catecismo da Igreja Católica

Retiro de evangelização de Padre Alfonso Navarro. Sine.

Pastoral de seguimento de Padre Alfonso Navarro. Sine.

Igreja: coluna e sustentáculo da verdade de Adryadson Flabio


Nappi.

Novas Comunidades: Primavera da Igreja da editora Canção Nova

Paulinas on-line

http://reporterdecristo.com

http://www.comshalom.org

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BIOGRAFIA

ADRYADSON FLABIO NAPPI


nasceu em 03 de maio de 1982 na cidade de
Piracicaba, interior de São Paulo, casado e pai
de duas filhas. É bacharel em Ciências
Contábeis especialista em Gestão contábil e financeira e MBA
em Controladoria. É também bacharel em Teologia e pós-
graduado em Educação religiosa e Teologia Comparada.
Atualmente, trabalha como contador e professor
universitário. No trabalho pastoral e religioso, atua na
evangelização das famílias e dos jovens desde 1999, e é
fundador da Comunidade Missão Peregrinos do Amor,
juntamente com sua esposa Vanessa Borges Nappi.
É músico e compositor registrado na Ordem dos
Músicos do Brasil e membro do Conselho Acadêmico do Clube
dos Escritores Piracicaba, com a cadeira número 91 na área de
letras cujo patrono é Emílio Nappi, em memória de seu avô.
Recebeu o título de Magna Persona de Piracicaba em
2010, outorgado pelo Clube dos Escritores Piracicaba, em
reconhecimento aos serviços prestados na comunidade em
favor da cultura. Recebeu também em 2014, o Troféu 25 anos do
Clube dos Escritores Piracicaba.
É autor dos títulos: "Um anjo na guerra", seu primeiro
livro, lançado em 2000, "Igreja: coluna e sustentáculo da
verdade", "O anúncio", “O Santo Sudário”, entre outros.

Para saber mais sobre os projetos do autor, entre no site


de sua comunidade, no endereço:
www.missaoperegrinos.com.br

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Para saber mais sobre o projeto, acesse:
www.missaoperegrinos.com.br

“Onde houver ódio, que eu leve o amor”.

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