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SAV-CRB – Módulo 2 – Aula 01

Somos pessoas geradas socialmente

Não é bom que o homem fique só


O livro das origens apresenta alguns dados pertinentes em
relação à criação do homem e da mulher. O primeiro ponto a ser
considerado é o ato criador: “façamos o homem à nossa imagem e
semelhança” (Gn 2,26) e o fato da necessidade de outro
semelhante ao homem, afirmado por Javé, não é bom que o
homem vivesse sozinho (cf.: Gn 2, 18). Além disso, verificamos o
mandato “sede fecundos e multiplicai-vos” (Gn 1, 28).

Diante do exposto acima, podemos afirmar, de forma bem


enfática, que o ser humano é chamado a viver em comunidade.
Assim sendo, vale pensar, de modo especial, em que consiste viver
essa vida em sociedade?

Viver em sociedade é parte conatural da vida humana. O


grande filósofo Teilhard de Chardin afirmava categoricamente: “o
ser humano não é uma ilha”. Este pensamento traduz, de forma
significativa, a necessidade do ser humano de se relacionar. Esta
relação deve ter como modelo a relação existente entre as pessoas
da Trindade, que tem como principio o amor. Tomar consciência
disso deve criar, em cada pessoa, uma postura diferente frente à
realidade em que estamos inseridos, pois “a forma de convivência
social que hoje temos não pode agradar a Deus. Nela, a maioria
das pessoas não encontra lugar”. (BOFF, 1986, p. 23). Por isso,

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cada pessoa deve “abrir-se ao dom da Trindade que chama,


assumindo sempre mais uma vida de acordo com o projeto divino
para o homem e para a mulher” (OLIVEIRA, 1999, p. 118).

Jesus e o Reino

Essa abertura toma corpo na pessoa de Jesus Cristo, que


assumiu a nossa condição humana (cf.: Fl 2, 7), dando ao ser
humano a possibilidade de elevar-se ao divino. Jesus se fez
verdadeiramente homem (CIC§464) e, ao longo de sua vida e
missão, passou fazendo o bem (cf.: At 10, 38). Fazendo uma
viagem pelas sagradas páginas dos Evangelhos, podemos perceber
toda ação de Jesus, que consistiu na busca constante de oferecer
às pessoas a possibilidade de vir para o meio (cf.: Mc 3, 3). Esta
ação de Jesus denota a sua preocupação em dar ao ser humano a
possibilidade de viver a sua vida com dignidade, isto é, Jesus,
plenamente humano, sabia perfeitamente que o projeto de Deus
era a vida plena para todos (cf.: Jo 10,10), por isso mesmo que,
para favorecer uma vida socialmente justa a todas as pessoas,
Jesus buscou a todo custo, sem temer as consequências, proclamar
o Reino de Deus. “O projeto fundamental de Jesus é, portanto,
proclamar e ser instrumento da realização do sentido absoluto do
mundo: libertação de tudo o que estigmatiza: opressão, injustiça,
dor, divisão, pecado, morte; e libertação para a vida, comunicação
aberta do amor, a liberdade, a graça e a plenitude em Deus”
(BOFF, 2003, p.27).

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A Constituição Gaudium Et Spes, do Concilio Vaticano II,


corrobora em muito com a reflexão de que somos seres gerados
socialmente e temos, em Jesus, o modelo por excelência de ser
humano que buscou viver e fazer viver essa realidade, quando
afirma: “o Senhor é o fim da história humana, o ponto para o qual
convergem todos os desejos da história e da civilização, o centro do
gênero humano, a realização de todas as nossas aspirações” (GS,
nº 45).

A maior das aspirações do ser humano deve ser a vivência do


mandamento novo, o amor, deixado por Jesus Cristo. “Como o Pai
me ama, assim também eu vos amo. Perseverai no meu amor (...)
amai-vos uns aos outros, como eu vos amei (...) o que vos mando
é que vos ameis uns aos outros” (Jo 15, 9-17).

Chamados a construir a civilização do amor

Jesus nos deixou o exemplo (cf.: Jo 13,15) e, ainda mais, nos


chamou a segui-lo (Mc 1, 17) com coragem, pois Ele estará
conosco todos os dias até o fim dos tempos (cf.: Mt 28,20). Ao
chamar o ser humano a segui-lo, Jesus, inicialmente, está
convidando os discípulos a fazerem o mesmo que Ele fez. O
Seguimento do Mestre deve ser fruto de uma sintonia com Sua
pessoa e com o seu projeto. Isso provoca, no vocacionado, uma
atitude de prontidão para anunciar a boa notícia do Reino,
assumindo um forte compromisso com a vida e a libertação.
Libertação entendida como a busca constante de cada pessoa em

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livrar-se de todas as realidades que a impedem de viver bem a sua


dignidade de filha de Deus.

Portanto, a convocação que Jesus dirige, a cada pessoa, é


para a realização histórica da atitude de afirmação da vida -
exigência fundamental - realizar uma missão em prol do Reino. O
chamado exige uma mudança radical de vida, um compromisso
sério com a libertação, porque “o seguimento de Jesus não significa
uma atitude genérica, abstrata, mas vem acompanhado de um
presente na trajetória de Jesus” (TEIXEIRA, 1994, p. 13). Portanto,
“é preciso resgatar o caminho de Jesus enquanto ele estava
presente na nossa história, pois é esse caminho o critério
fundamental para realizarmos o caminho de nossa vida” (CARIAS
2006, p. 38).

A história humana tem em Jesus Cristo um divisor de águas.


Com Ele, irrompe um novo jeito de ver o mundo e as pessoas,
frente a uma sociedade repleta de leis e decretos, com o objetivo
de favorecer aos que detêm o poder, possibilitando, assim, a
exclusão daqueles que não faziam parte das classes dominantes.
Jesus quebra paradigmas e apresenta o real modelo de vivência em
sociedade. Jesus apresenta uma nova roupagem a essas leis (cf.:
Mc2, 27). E, essa nova roupagem encontra corpo no amor.

“Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,


12). Essa relação de amor, a que Jesus convoca cada pessoa a
assumir, faz parte da essência do ser humano. O amor vivido como
oblação (cf.: Jo 15,13) e não como busca de interesses, pois, como

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diz o Papa Bento XVI, em sua Carta Encíclica Deus Caritas Est, “o
termo ‘amor’ tornou-se, hoje, uma das palavras mais usadas e
mesmo abusadas, à qual associamos significados completamente
diferentes” (DCE, nº 2). Diante desta constatação apontada pelo
Sumo Pontífice, o ser humano deve recobrar o verdadeiro sentido
desse termo e assim construir a tão sonhada Civilização do Amor.

A sociedade hodierna tem se distanciado muito dessa máxima


deixada pelo Homem de Nazaré, e por conta disso, o ser humano é
bombardeado a todo o momento, sobre a necessidade de ser
sempre o primeiro, de ser sempre o melhor, não importando as
consequências dessa sua busca desenfreada para atingir tais
objetivos. “Não há qualquer ordenamento estatal justo que possa
tornar supérfluo o serviço do amor. Quem quer desfazer-se do
amor, prepara-se para desfazer-se do ser humano enquanto ser
humano” (DCE, nº 28b). Por isso mesmo, é necessário criar espaço
na pessoa humana e na sociedade para a vivência de autênticas
relações interpessoais (cf.: OLIVEIRA, 1999, p. 120) e que gere a
comunhão. Amiúde, somente vivenciando essa relação de
comunhão, fruto do amor, o ser humano será capaz de se realizar
como tal.

Muitos dirão que a civilização do amor não passa de uma


quimera, por isso, vale aqui salientar o que, com propriedade,
apontaram os Bispos reunidos na V Conferência Geral do
Episcopado Latino-Americano e Caribenho: “caminhar é um

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verdadeiro canto de esperança e a chegada é um encontro de


amor” (DAp, 259).

Serão felizes se os puserem em prática

O Evangelho de João narra um fato intrigante para os


discípulos. A atitude de Jesus, ao lavar os pés, causou um impacto
muito grande na vida dos discípulos, tendo presente que não é
comum o mestre lavar os pés dos súditos. Mas, “a práxis de Jesus
implica estabelecer um novo tipo de solidariedade que supera as
diferenças de classe e as inerentes à vida” (BOFF, 2003, p. 30).
Deste modo, Jesus quis deixar o exemplo de como cada pessoa
deve se comportar frente às outras, ou seja, tornando claro que a
pessoa humana é gerada para viver uma relação de amor mútuo,
onde não se justifica relação de superioridade, e sim, uma relação
pessoal, de irmandade, pois somos todos filhos do mesmo Pai e Ele
não “faz distinção de pessoas” (Rm 2, 11). E Jesus conclui “eu que
sou o Mestre e Senhor, lavei os seus pés; por isso vocês devem
lavar os pés uns dos outros. Eu lhes dei um exemplo: vocês devem
fazer a mesma coisa que eu fiz. Eu garanto a vocês: o servo não é
maior do que o seu senhor, nem o mensageiro é maior do que
aquele que o enviou. Se vocês compreenderam isso, serão felizes
se o puserem em prática” (Jo 13,15-17).

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BIBLIOGRAFIA:

BENTO XVI. Deus Caritas Est. São Paulo: Paulinas. 2006.

BIBLIA SAGRADA. Edição Pastoral. 71ª impressão. São Paulo:


Paulus. 2009.

BOFF, Leonardo. Jesus Cristo Libertador. Ensaio de Cristologia


Crítica para o nosso Tempo. 18 ed. Petrópolis: Vozes, 2003.

_______, A Trindade, a sociedade e a libertação. Petrópolis: Vozes,


1996.

CARIAS, Celso Pinto. Teologia para todos. Manual de iniciação


teológica a partir de seus principais temas. Petrópolis: Vozes, 2006.

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Petrópolis/ São Paulo: Vozes/


Loyola, 1993.

DOCUMENTO DE APARECIDA. Texto conclusivo da V Conferência


Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. Brasília/ São
Paulo: CNBB/ Paulus/Paulinas. 2007.

TEIXEIRA, Faustino Luiz Couto. A espiritualidade do seguimento.


São Paulo: Paulinas. 1994.

OLIVEIRA, José Lisboa Moreira de. Teologia da Vocação. Temas


fundamentais. IPV/ Loyola: São Paulo, 1999.

VATICANO II. Mensagens, Discursos, Documentos. São Paulo:


Paulinas. 1998.

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