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ISSN: 1517-1949
eccos@uninove.br
Universidade Nove de Julho
Brasil
Mariluce Bittar
Doutora em Educação (UFSCar) com pós-doutorado em Educação (UFSC);
Professora da Universidade Católica Dom Bosco –UCDB;
Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas Política de Educação Superior –GEPPES-UCDB;
Vice-coordenadora do GT Política de Educação Superior da
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd).
Campo Grande – MS [Brasil]
bittar@ucdb.br
Abstract: In this article is analyzed the expansion of higher education in Brazil, es-
pecially the private market in order to understand the reasons which pull to the forma-
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tion of large oligopolies. We had investigated whether these clusters and how the new
bourgeoisie of educational services drives the massive investments in the sector, forming
oligopolies managed by the expansion, purchase and the merger of Higher Education
Institutions (HEI) and the opening of private ones with the capital of such companies
on the stock market exchanges . To support such analysis it was used the search on
books, articles, theses, journals and daily newspapers of national circulation. The results
show that oligopolies are contributing to the transformation of higher education into a
commodity and students in “customers-consumers”, because its aim is to obtain profit.
It is concluded that in this situation expresses the gap left by the Brazilian public policy,
public facilities, including education, which enabled the hegemony of the private market
in higher education.
Key words: Formation of oligopolies. Higher education. Private sector market.
1 Introdução
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ral. As faculdades não fazem pesquisa porque não querem jogar dinheiro
fora.” (1999, p. 61)
Seguindo essa vertente, a iniciativa privada, via de regra, desenvol-
ve suas atividades, sem implementar ações de pesquisa e de extensão e
oferece exclusivamente ensino de graduação, na maioria dos casos. Essas
IES também continuam expandindo, ano a ano, seus campi ou pólos para
cidades do interior dos estados, bem como para estados de outras regiões,
mediante a oferta da Educação a Distância, principalmente, depois da pro-
mulgação da Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), nº
9394/96. Com a vigência dessa Lei, de acordo com Mancebo (2010, p. 42),
“[…] os cursos de ensino superior visam formar profissionais para atender
a campos específicos do mercado de trabalho, com formato compacto e
duração média menor que a dos cursos de graduação tradicionais .”
A aprovação da LDB fez parte da Reforma do Estado adotada du-
rante o primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-1998). No
Brasil, tal reforma tornou-se imperativa em função de um estancamento
econômico, acompanhado de um processo hiperinflacionário em meados
da década de 1970, agravado, conforme Bianchetti (2005, p. 29) “[…] por
outras situações conjunturais como foi a denominada crise do petróleo,
considerada uma das causas da recessão econômica.” D
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Observa-se, portanto, que o projeto de Reforma do Estado brasi- s
leiro pretendia introduzir nas funções públicas os valores e critérios do s
i
mercado, disseminando a ideia de que todos devem pagar pelo que rece- ê
bem. Mediante essa reforma, a educação superior ficou mais acessível à T
e
população, embora Chaves (2010, p. 482) comente que o Estado “[…] foi m
desmantelado, em função do reforço darwiniano do mercado, procurando á
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a qualquer custo a obtenção de lucro.” i
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Figura 1:
Fonte: http://www.valor.com.br/empresas/1176138/ensino-chega-r-24-bi-em-aquisicoes.
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4 Considerações finais
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Notas
* Texto originalmente apresentado no XX Seminário Nacional Universitas/Br, “Políticas de
Educação Superior no Brasil: expansão, acesso e igualdade social”, realizado na Universidade
Federal da Paraíba, de 9 a 11 de maio. Na versão para este artigo, as autoras ampliaram e
aprofundaram as análises sobre o tema, incorporando sugestões dos participantes do referido
Seminário.
1 Os acordos visavam a estabelecer convênios de assistência técnica e cooperação financeira à
educação brasileira. Entre junho de 1964 e janeiro de 1968, período de maior intensidade nos
acordos, foram firmados 12, abrangendo desde a educação primária (atual ensino fundamental)
ao ensino superior. O último dos acordos firmados foi no ano de 1976. Disponível em: http://
www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/glossario/verb_c_mec-usaid%20.htm. Acesso em: 8
jan. 2012.
2 Segundo Lima (2002, p. 62) o setor privado observa a abertura de um mercado potencialmente
colossal, quando sabemos que o numero de estudantes passou, ao nível mundial, de 6,5 milhões
em 1950 para 51 milhões em 1980 e, sem dúvida, mais de 90 milhões nos dias de hoje.
3 Refere-se à pesquisa intitulada “Universidade Comunitária: uma identidade em construção”,
que consistiu em sua Tese de Doutorado (UFSCar,1999), na qual a autora analisa elementos
que caracterizam e distinguem as universidades comunitárias (sem finalidade lucrativa), das
universidades particulares (com finalidade lucrativa). Para mais informações, a Tese se encontra
na íntegra no site do Grupo de Estudos e Pesquisas Políticas de Educação Superior (GEPPES),
no seguinte endereço: http://www.ucdb.br/mestradoeducacao/grupogeppes/.
4 Ryon Braga escreveu artigo veiculado em 2011, com o título “ Negócios no setor de educação
privada”, no qual afirma que “[…] os consolidadores possuem 30% do mercado, mas podem e
querem chegar a 50% e dinheiro para isso não falta.” Disponível em:http://www.hoper.com.br/
artigo-hoper.php?id=43. Acesso em: 26 jan. 2012.
5 Afirmação de Carlos A. Monteiro, Presidente da CM Consultoria, no artigo: “O cenário atual
do setor de ensino superior privado”. Disponível em: <http://www.aprendervirtual.com.br/ar-
tigoInterna.php?ID=53&IDx=206>. Acesso em: 27 jan. 2012.
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6 O Grupo Apollo adaptou para a faculdade Pitágoras a metodologia da inovadora Universidade o
de Phoenix, EUA. Disponível em:http://www.faculdadepitagoras.com.br/conheca/parceiros. s
asp . Acesso em: 14 jan. 2012. s
7 Joint-venture ou empreendimento conjunto é uma associação de empresas, que pode ser defi- i
nitiva ou não, com fins lucrativos para explorar determinado(s) negócio(s), sem que nenhuma ê
delas perca sua personalidade jurídica. T
8 Título da matéria: “Universidade privada acirra disputa aluno por aluno”, veiculada em 27 nov. e
2007. Disponível em: http://avaliacaodeempresas.blogspot.com/2007/11/educao-privada-no- m
brasil.html. á
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9 Matéria veiculada em 25 de agosto de 2008 – Grupos educacionais lançam ações na Bolsa e i
crescem 67%, de Antonio Góis, no jornal Folha de S. Paulo. Disponível em: <http:www1.folha. c
uol.com.br/folha/educação/ult304u437468.shtml>. Acesso em: 22 dez. 2011. o
10 A KPMG opera como uma rede internacional de firmas-membro que oferecem serviços de
Audit, Tax e Advisory. “Oferecemos um conjunto consistente de habilidades e competências
contábeis e financeiras fundamentadas no profundo conhecimento do segmento de mercado
de cada cliente. No Brasil, somos aproximadamente 4.000 profissionais distribuídos em 12
Estados e Distrito Federal e 20 cidades”. Disponível em: http://www.kpmg.com.br. Acesso em:
14 jan. 2012.
11 Matéria veiculada no dia 9 de janeiro de 2012, no jornal Valor Econômico: “ENSINO chega a
R$ 2,4 bi em aquisições”. Disponível em: <http://www.valor.com.br/empresas/1176138/ensino-
chega-r-24-bi-em-aquisicoes>. Acesso em: 9 jan. 2012.
12 Ensino médio compreende: ensino regular + educação de jovens e adultos – EJA.
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