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“A BÍBLIA NÃO É UM LIVRO SAGRADO”

Quando Abraão descobre que Deus se cansa, suja se,


tem fome…

Em Génesis 18 e 19, A narração liga, curiosamente, vários


aspectos que caracterizavam de maneira significativa
aqueles indivíduos, evidenciando um paralelismo tão
esclarecedor como inesperado entre Yahweh e os malaquins.

O Senhor apareceu a Abraão perto dos carvalhos de Manre, quando ele


estava sentado à entrada de sua tenda, na hora mais quente do dia.
Abraão ergueu os olhos e viu três homens em pé, a pouca distância. Quando
os viu, saiu da entrada de sua tenda, correu ao encontro deles e curvou-se
até ao chão.
Disse ele: "Meu senhor, se mereço o seu favor, não passe pelo seu servo
sem fazer uma parada.
Gênesis 18:1-3

Os dois anjos chegaram a Sodoma ao anoitecer, e Ló estava sentado à


porta da cidade. Quando os avistou, levantou-se e foi recebê-los.
Prostrou-se, rosto em terra,
e disse: "Meus senhores, por favor, acompanhem-me à casa do seu
servo. Lá poderão lavar os pés, passar a noite e, pela manhã, seguir
caminho. Não, passaremos a noite na praça", responderam.
Mas ele insistiu tanto com eles que, finalmente, o acompanharam e
entraram em sua casa. Ló mandou preparar-lhes uma refeição e assar
pão sem fermento, e eles comeram.
Gênesis 19:1-3

A passagem em questão documenta que eles eram simples


bípedes feitos de carne e osso, facto relacionado com a
própria capacidade de utilizar tecnologias, não somente
avançadas mas perigosíssimas para as suas existências.

Nas horas centrais do dia encontramos Abraão sentado,


desfrutando a sombra da sua tenda, quando ao longe vê
chegar três anashim, assim os define o texto hebraico, ou
seja, três homens e, para ser mais preciso, três indivíduos
machos, pois anashim é o plural de ish, termo que indica o
macho. Abraão compreende imediatamente que aqueles três
anashim não são homens normais, mas pertencem ao grupo dos
dominadores, e também percebe a situação na qual eles se
apresentam, pessoal e fisicamente peculiar.

Dão-lhe a nítida impressão de que estão sujos, empoeirados,


famintos, sedentos, cansados, o que o leva a convidá-los de
imediato para ficarem na sua tenda a fim de repousarem e de
se restabelecerem.

Prepara a água para que eles possam lavar os pés, e é


precisamente esse acto tão concreto que nos leva a pensar
que chegaram caminhando, particularmente acalorada
empoeirada pelo terreno árido. Ao mesmo tempo pede à esposa,
Sara, para amassar o pão, com farinha, e oferece tudo isso
acompanhado de leite ácido e fresco.

No versículo 13 temos a primeira surpresa:


descobrimos que um dos três anashim indivíduos machos, que
chegaram cansados, sujos, famintos e sedentos é Yahweh,
que, de acordo com a teologia, não é senão o próprio Deus.
Deduzimos logo que Deus caminha, cansa-se, suja-se, deve
lavar os pés, come, bebe e repousa à sombra… exactamente
como nós.
Definição do dicionário:
Não é em vão que a Bíblia o define como um ish, um
indivíduo macho, assim como não é por acaso que os autores
bíblicos nunca consideraram Deus na acepção que a teologia
atribui a este termo. Por outro lado, a definição de
«Homem» que temos nos nossos dicionários diz essencialmente
que se trata de um mamífero caracterizado pela posição
erecta, com linguagem articulada, grande desenvolvimento
cerebral, com capacidade de transmitir experiências e
conhecimentos adquiridos de forma elaborada.

Yahweh, que a Bíblia, como vimos antes, define como ish


milchamah, um «homem de guerra», e que aqui insere nesse
terceto com outros dois anashim, plural de ish, tinha
exactamente esses atributos. Assim como ele, os seus
colegas Elohim também os possuíam, e estes últimos eram de
tal maneira idênticos aos Adam que podiam unir-se
sexualmente com as fêmeas terrestres, gerando descendência.

os filhos de Deus viram que as filhas dos homens eram bonitas e


escolheram para si aquelas que lhes agradaram.
Gênesis 6:2

É Deus quem preside na assembleia divina; no meio dos deuses, ele é o


juiz. "Até quando vocês vão absolver os culpados e favorecer os ímpios?
Pausa
Garantam justiça para os fracos e para os órfãos; mantenham os direitos
dos necessitados e dos oprimidos.
Livrem os fracos e os pobres; libertem-nos das mãos dos ímpios.
Nada sabem, nada entendem. Vagueiam pelas trevas; todos os
fundamentos da terra estão abalados.
Eu disse: vocês são deuses, todos vocês são filhos do Altíssimo.
Mas vocês morrerão como simples homens; cairão como qualquer outro
governante. "
Levanta-te, ó Deus, julga a terra, pois todas as nações te pertencem
Salmos 82:1-8
Dentre os três anashim, aquele reconhecido como Yahweh fica
a conversar com Abraão, enquanto os outros dois partem para
cumprir a sua missão, que consistia em ir até Sodoma para
advertir Lot, o sobrinho do patriarca, sobre o que está
para acontecer.
Durante as lutas, que deveríamos definir como verdadeiras
guerras territoriais, travadas pelos Elohim, as cidades de
Sodoma, Gomorra, Adma, Zeboim e Bela/Zoar estavam na
iminência de mudar de aliança, por isso foi decidido
destruí-las completamente, começando justamente por Sodoma
e Gomorra.
Incidentalmente indico que o capítulo 14 do livro do
Génesis menciona que nas guerras em que Abraão participou
por conta de Yahweh estava também envolvido o rei de Shin’
ar, termo bíblico para indicar Sumer, o que significa uma
ligação importante entre os dois mundos.

Naquela época Anrafel, rei de Sinear, Arioque, rei de Elasar,


Quedorlaomer, rei de Elão, e Tidal, rei de Goim, foram à guerra contra
Bera, rei de Sodoma, contra Birsa, rei de Gomorra, contra Sinabe, rei de
Admá, contra Semeber, rei de Zeboim, e contra o rei de Belá, que é Zoar.
Todos esses últimos juntaram suas tropas no vale de Sidim, onde fica o
mar Salgado.
Gênesis 14:1-3

Lot, como sobrinho de Abraão, pertencia à aliança yahwista,


a qual estava a ser abandonada pelas cinco cidades. Era
necessário que o fiel Lot se afastasse imediatamente da sua
casa e se salvasse juntamente com a família.Foi por esse
motivo que, no dia seguinte, teriam sido atacadas e
destruídas.

A missão dos dois anashim era advertir Lot, e é por isso


que deixam Yahweh e Abraão na tenda e partem. Assim que
seguem viagem assumem o papel de mensageiros, pelo que a
partir daquele exacto momento a Bíblia passa a definilos,
correctamente, como malaquins (Gn. 19:1), ou seja,
justamente, mensageiros, porta ordens. Lembramos que o
termo malaquim é traduzido como «anjo», e com essa
definição assumiram na teologia o seu papel de entidades
espirituais, não tendo características para tal. A
continuação da narração evidencia, de maneira ainda mais
flagrante, essa verdadeira invenção feita pelos exegetas.

Os dois anjos chegaram a Sodoma ao anoitecer, e Ló estava sentado à


porta da cidade. Quando os avistou, levantou-se e foi recebê-los.
Prostrou-se, rosto em terra,
Gênesis 19:1

De longe são imediatamente reconhecidos por Lot e pelos


anciãos que o acompanhavam. O sobrinho de Abraão convida-os
a entrar em casa, oferece-lhes refrigério e alimentação.
Aqui tomamos consciência de que esses chamados anjos, após
terem almoçado com Abraão, jantam com Lot. Os outros
habitantes que os viram chegar já imaginavam o motivo da
sua vinda e querem capturálos.

"Saia da frente! ", gritaram. E disseram: "Este homem chegou aqui como
estrangeiro, e agora quer ser o juiz! Faremos a você pior do que a eles".
Então empurraram Ló com violência e avançaram para arrombar a porta.
Gênesis 19:9

Entretanto Lot defend-os, chegando a oferecer aos seus


conterrâneos, para os apaziguar, as suas filhas
virgens.Neste ponto, a uma cena cujo realismo é muito
desconcertante, claro e inequívoco: enquanto Lot tenta
aplacar a ira dos agressores, os dois malaquins que se
encontram no interior da sua casa, definidos, novamente,
como anashim.

Nisso, os dois visitantes agarraram Ló, puxaram-no para dentro e


fecharam a porta.
Depois feriram de cegueira os homens que estavam à porta da casa, dos
mais jovens aos mais velhos, de maneira que não conseguiam encontrar
a porta.
Gênesis 19:10,11
Quanto aos homens que estavam à porta da casa, cobriramnos
com uma ofuscação cegante, desde o menor até ao maior, de
modo que não conseguiram achar a porta». Esses indivíduos,
tão materiais no próprio aspecto físico, atacáveis pela
multidão, evitam ser capturados usando um estratagema
tecnológico. Nada de sobrenatural.
A propósito disso relembro, de passagem, que os filólogos
hebreus que comentaram, o capítulo dedicado ao milagre
«químico» de Elias, escreveram que «todos os milagres
bíblicos têm origem tecnológica», estabelecendo o facto de
que nunca existe uma intervenção sobrenatural.

Logo após verifica-se o que os Elohim tinham decidido: a


destruição das cidades por um fogo que provinha do céu. Os
versículos 26-27 explicitam que, naquela ocasião, as
cidades foram destruídas, assim como todo o vale, com os
seus habitantes e vegetação, e que subia do solo uma fumaça
como a de um forno de barro. O que aconteceu? Que
tecnologia ou que armas foram usadas?

Então o Senhor, o próprio Senhor, fez chover do céu fogo e enxofre


sobre Sodoma e Gomorra.
Assim ele destruiu aquelas cidades e toda a planície, com todos os
habitantes das cidades e a vegetação.
Mas a mulher de Ló olhou para trás e se transformou numa coluna de sal.
Na manhã seguinte, Abraão se levantou e voltou ao lugar onde tinha
estado diante do Senhor.
E olhou para Sodoma e Gomorra, para toda a planície, e viu uma densa
fumaça subindo da terra, como fumaça de uma fornalha.
Gênesis 19:24-28

A descoberta de areia radioactiva no território do Sinai,


bem como as narrações Sumérias e Acádicas, com a descrição
das batalhas travadas pelos poderosos governantes locais,
que correspondem aos Elohim bíblicos, permitem à fantasia
elaborar hipóteses que remeteriam para bombas atómicas. De
qualquer forma, para essa análise que nos fornece elementos
de grande interesse, e tão embaraçosamente concretos que
foram deliberadamente ignorados pelos exegetas prefiro
permanecer fiel ao texto bíblico, ao qual me restrinjo.

Permito me uma breve excursão histórico-geográfica, cujos


factos poderão ser situados entre os séculos XX e XVIII a.
C., visto que as narrativas relativas a Abraão e à sua
família são datadas desse período. Em contraste com a
tradição, a arqueologia moderna, que compara a descrição
bíblica da história com o lugar onde se encontra Abraão e o
tempo de deslocação dos dois malaquins, tende a localizar
Sodoma e Gomorra ao longo do vale do rio Jordão, a norte do
mar Morto. À direita orográfica encontra-se a cidade de
Jericó. Naquele território aconteceu a história de Eliseu,
narrada no Segundo Livro dos Reis, aproximadamente no ano
850 a. C., em que se lê, no capítulo 2, que naquele lugar o
território era estéril e a água ainda não era boa. Se a
localização correspondesse, poderíamos notar que, cerca de
mil anos após o evento que tinha destruído Sodoma e Gomorra,
naquele território registavam-se ainda as consequências
dramáticas da intervenção destrutiva dos Elohim.

Mais segura é a afirmação contida no Livro da Sabedoria, no


capítulo 10, onde nos versículos 6 e 7 se lê sobre o
território de pentápoles, as cinco cidades destruídas: «As
árvores de fruta produzem frutos que não chegam ao
amadurecimento.» Se considerarmos que aquele livro foi
escrito no século I a. C., temos de levar em consideração o
que a Bíblia afirma: num intervalo entre 1700 e 1800 anos
do acontecimento relatado, aquele terreno ainda não tinha
recuperado a sua produtividade natural.

Livro da Sabedoria
5 E quando as nações unânimes caíram no mal, foi ela que
distinguiu o justo, o manteve irrepreensível diante de Deus, e lhe
deu a força para vencer sua ternura pelo seu filho.
6 Foi ela que, quando do aniquilamento dos ímpios, salvou o justo,
subtraindo-o ao fogo que descera sobre a Pentápole,

7 cuja perversidade ainda no presente é testemunhada por uma


terra fumegante e deserta, onde as árvores carregam frutos
incapazes de amadurecer, e onde está erigida uma coluna de sal,
memorial de uma alma incrédula.

No Deuteronómio 32:32 usa-se uma comparação interessante:


numa injúria dirigida a determinados personagens mal
identificados, diz-se que as suas uvas são venenosas, como
o vinho produzido pelos cachos amargos, os quais provêm de
Sodoma e Gomorra. O profeta Sofonias, do século VII a. C.,
define aquele território como campo de cardos, montes de
sal, desolação perpétua (2:9). Faço notar que, na história
conhecida, nenhum incêndio normal ocorrido num território
alguma vez determinou as consequências que aqui são
descritas. Pelo contrário, sabese que os incêndios tornam
férteis os terrenos e que após alguns anos deixam-nos ainda
mais produtivos do que antes. Cada um poderá, portanto,
livremente, tirar as suas conclusões sobre o que pode ter
acontecido naquele vale.

A vinha deles é de Sodoma e das lavouras de Gomorra. Suas uvas estão


cheias de veneno, e seus cachos, de amargura.
Deuteronômio 32:32

Ao concluir o capítulo, devo constatar que os Elohim e os


malaquins bíblicos são, na verdade, uma multiplicidade de
indivíduos de carne e osso, que comem, bebem, caminham,
cansam-se e sujam-se, precisando de se lavar, repousar… e,
enfim, morrem como os Adam.

Quem quiser considerá-los, respectivamente, como Deus e


anjos, naturalmente é livre para o fazer, mas com a
condição de esquecer o que a Bíblia narra sobre eles, ou
seja, com a condição de «encobrir» o significado do texto,
atribuindo-lhes sentidos que não existem, o que a
«tradição», ou, melhor dizendo, o que «as tradições»
fizeram.

O objetivo, é justamente tentar remover as camadas e aquele


véu de mistério, que foi estendido durante séculos, para
ocultar aquilo que não era, e o que não é, considerado
aceitável pelas doutrinas.

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