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Conto: «Estar em Paz e o resto tanto faz...

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Era uma vez um homem que palmilhara todo o mundo a lutar pela paz, organizando
exposições, conferências, protestos e manifestações. Estava a ficar velho, cansado e
desanimado de tantos esforços. Achava que ninguém estava interessado verdadeiramente
na paz pois por todo o lado reinava o egoísmo e a maldade. Quase a perder toda a
esperança na humanidade, pediu aos amigos que o ajudassem a procurar a paz, pois não
queria morrer sem encontrá-la. Então, disse-lhes:
 
- Amigos, peço-vos que me ajudeis a encontrar a paz. A felicidade baseia-se em três
coisas: saúde, paz e trabalho e a paz exige quatro condições essenciais: verdade, justiça,
amor e liberdade. Não existe um caminho para a paz, pois a paz é o caminho e a
felicidade não é fruto da paz, já que é a própria paz. A paz é a única maneira de nos
sentirmos realmente humanos e a paz do coração é o paraíso de qualquer pessoa.
 
Um mês depois, um dos seus amigos, chamou o velho homem e disse-lhe que o
acompanhasse pois descobrira finalmente a paz. Levou-o à fronteira de dois países que
era um rio e que se tinham guerreado durante muitas décadas. O rio era sereno, cheio de
peixes e de crianças dos dois países a nadar e a brincar juntas. As árvores nas margens
cheias de pássaros a chilrear ofereciam sombra ao areal das duas margens onde
imperavam dois mastros com duas bandeiras brancas. No entanto, eram visíveis soldados
armados a perpetuar antigas desavenças. Então, oancião disse:
 
- A paz não pode ser conquistada e mantida à força, já que somente pode ser atingida
pelo entendimento e pela concórdia. A paz jamais será conquistada com violência.
Aqueles que conseguem libertar-se do rancor e dos maus pensamentos estão muito mais
perto de encontrar a paz. A inteligência defende a paz e tem horror da guerra. Não é
suficiente falar sobre a paz. É preciso acreditar nela e trabalhar para alcançá-la. Agora,
iria mais depressa a uma iniciativa pública pela paz do que a uma manifestação contra a
guerra. Aqui não há verdadeira paz.
 
Dois meses mais tarde, outro amigo levou o velho homem ao alto de uma montanha
onde era possível contemplar o mar e o pôr do sol como se fosse a mais bela aguarela
jamais pintada. Havia um lindo lago e várias pombas brancas voavam alegremente por
entre as árvores. No entanto, rapidamente o silêncio e a tranquilidade foram
interrompidos por algumas pessoas a discutir aos berros. O ancião disse:
 
- Olha, sem paz e sem calma interior é difícil encontrar uma paz duradoura. Somente o
justo desfruta de paz de espírito. A paz é a tranquilidade da ordem de todas as coisas e
lutar contra o próprio ego não é fácil, mas é a forma de mantermos uma alguma sanidade
e serenidade de espírito. Não vale a pena procurar a paz à nossa volta, pois ela vem de
dentro de nós mesmos. A paz de espírito é o maior de todos os dons e uma pessoa com a
consciência limpa e tranquila não tem motivos para temer nada nem ninguém. Aqui não
há paz autêntica.
 
Três meses depois, o sobrinho mais novo do ancião convidou-o a viver na sua própria
casa. Disse-lhe que era uma casa e uma família normais, com o tradicional barulho das
crianças a brincar e que, de vez em quando, havia umas conversas mais acaloradas com a
esposa, mas, ao fim e ao cabo, era a sua família e havia muito amor, diálogo e
compreensão. O velho homem esboçou um sorriso sereno e feliz e disse:
 
- A paz e a harmonia são a verdadeira riqueza de uma família. Aqueles que encontram a
paz no seu lar são felizes. Um pedaço de pão comido em paz é melhor do que um
banquete marcado pela ansiedade e pelo nervosismo e um sono tranquilo e sem
problemas de consciência é melhor que todos os tesouros do planeta. A paz não significa
estar num lugar sem problemas, barulho ou confusão, mas estar no meio de todas essas
coisas e conseguir ter o coração sereno. Procurei a paz por todo o mundo e, na verdade,
ela reside no coração. Encontrei, finalmente, a paz aqui e agora. Se em cada família
houver paz, ela poderá estender-se e contaminar positivamente o mundo inteiro. Quem
faz o bem, conquista paz e se o interior estiver em paz, o resto tanto faz.
 
Paulo Costa
Conto
Retirado de Conto: «Estar em Paz e o resto tanto faz...» - iMissio

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