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Max Furrierb 2
Resumo
Este trabalho apresenta uma nova caracterização geomorfológica da região de Cartagena de Indias (Folha 23
igac); para isso, elaborou-se uma cartografia morfoestrutural, morfométrica e tectônica. Do ponto de vista
geomorfológico, o relevo está dominado pela presença de dois cinturões rochosos estruturais: a Serranía de San
Jacinto e a Serranía del Sinú. O primeiro cinturão localiza-se no setor leste da região e compõe-se principalmente
de rochas sedimentares da Formación San Cayetano del Paleoceno, que desenvolvem montanhas afiadas com
as altitudes mais altascimas de filosde grandealtura. O cinturão da Serranía del Sinú apresenta-se ao oeste do
cinturão de San Jacinto, separado pela falha Villa Nueva - El Totumo. Nele apresenta-se a formação geológica
mais antiga da área de idade Oligoceno-Mioceno. Os setores de menor relevo correspondem às planícies e formas
suavemente inclinadas e onduladas compostas por depósitos não consolidados de tipo aluvial e coluvial de idade
quaternária. A partir da interpretação de imagens de satélite de tipo óptico e de radar, e do uso de modelos
digitais de terreno, em conjunto com as observações de campo, análise de perfis topográficos e cartografia
geomorfológica, pode-se concluir que a tectônica cenozoica é o fator mais importante na configuração do relevo
na região, que se evidencia pela configuração morfométrica da rede de drenagem.
doi: 10.15446/rcdg.v27n1.54929
cómo citar este artículo: Furrier, Max, y Germán Vargas Cuervo. 2018. “Geomorfologia estrutural, morfotectônica e
morfometria da folha Cartagena 1:100.000 - Colômbia.” Cuadernos de Geografía: Revista Colombiana de Geografía 27 (1): 67-86.
doi: 10.15446/rcdg.v27n1.54929.
a Financiamento outorgado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Processo 9485/13-9.
b Endereço postal: Departamento de Geociências, Centro de Ciências Exatas e da Natureza - Universidade Federal da Paraíba, João
Pessoa-pb, Brasil. cep: 58051-900.
Correio eletrônico: max.furrier@gmail.com – orcid: 0000-0001-8882-5290.
c Endereço postal: Departamento de Geografía, Facultad de Ciencias Humanas - Universidad Nacional de Colombia, Carrera 30 n.o 45-03,
Bogotá-dc, Colombia.
Correio eletrônico: gvargasc@unal.edu.co – orcid: 0000-0003-2489-3993.
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Rochas e depósito
sedimentares
PgNga
Depósitos
holoceno
Planície Colúvio- Praia
quaternário
costeira aluviais
Cinturão de Sinú Cinturão de
San Jacinto
pleistoceno
Formação La Popa
Formação
Formação Arroyo Rotinet
Grande
plioceno
Formação Formação
neógeno
Bayunca Tubará
mioceno
cenozoico
Formação Formação
oligoceno
Arjona Hibácharo
paleógeno
eoceno
Formação
Pendáles
paleoceno
Formação
San Cayetano
16-17
23 24
4º35’56,57”N
29-30 31
74º4’51,3”W
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por interpolação de altitude a partir de uma superfície O 1º Táxon corresponde à definição de morfoestrutura,
funcional selecionada. Depois, com o auxílio da carta e o 2º Táxon representa as morfoesculturas desenvolvi-
geológica, foram incluídas as informações litológicas. das sobre a morfoestrutura. O 3º Táxon corresponde às
Foram traçados três segmentos, que foram escolhidos unidades dos padrões de formas semelhantes de relevo.
com as direções n-s (perfil a-a’), w-E (perfil b-b’) e nw-se Essas unidades menores apresentam diferenças entre si,
(perfil c-c’). A escolha dessas linhas de perfil foi baseada como a rugosidade topográfica ou o índice de disseca-
na carta geológica, em que se buscou abarcar as principais ção do relevo. Os padrões de relevo podem ser formas
formações e feições geomorfológicas e, assim, obter uma de acumulação, como planícies fluviais, marinhas ou in-
correlação fidedigna entre a geologia e a morfologia do termarés (manguezais), ou denudacionais, como colinas,
relevo. Para uma visualização mais adequada, e devido à morros e tabuleiros.
escala adotada, os perfis foram elaborados com um exa- As formas relacionadas ao 3º Táxon são representa-
gero vertical de cinco vezes em relação à sua longitude. das no mapa geomorfológico por meio de um conjunto
de letras maiúsculas e minúsculas. As letras maiúsculas
Elaboração da carta geomorfológica indicam os padrões que se formaram por denudação (le-
tra d) ou por acumulação (letra a) e as letras minúsculas
A cartografia geomorfológica é uma importante ferra- representam as formas geradas (tabela 2).
menta no estudo do relevo, pois é no mapa geomorfoló- Tabela 2. Padrões de formas de relevo
gico que se traduzem e sintetizam várias metodologias,
bem como os resultados das respectivas investigações Formas de denudação Formas de acumulação
(Ross 1992). O mapa geomorfológico não pode somente D – Denudação A – Acumulação
descrever as formas do relevo sem incluir ou subestimar Da – Formas com topos Apf – Formas de planície fluvial
o embasamento rochoso que sustenta as formas deste. aguçados Apm – Formas de planície
Dc – Formas com topos marinha
Ross (1992), baseado nos conceitos metodológicos e convexos Apl – Formas de planície lacustre
estruturalistas de Penck (1953) e Mescerjakov (1968), to- Dt – Formas com topos Api – Formas de planície
mou como parâmetros de classificação o embasamento, tabulares intermarés
De – Formas de escarpas Ad – Formas de campos de
a forma e o alcance de cada unidade taxonômica. Dessa
dunas
forma, o autor estabeleceu seis níveis taxonômicos, sendo Atf – Formas de terraço fluvial
estes: morfoestrutura, morfoescultura, padrão de forma Atm – Formas de terraço
de relevo, tipos de forma de relevo, tipos de vertentes e marinho
formas de processos naturais atuais e antrópicos (figura 4). Fonte: Ross 1992, 24.
Dimensão interfluvial
média (classes) Muito grande Grande Média Pequena Muito pequena
(1) (2) (3) (4) (5)
Incisão média dos vales > 1.500 m 1.500 a 700 m 700 a 300 m 300 a 100 m < 100 m
(classes)
Muito fraca (1)
11 12 13 14 15
< 20 m
Fraca (2)
21 22 23 24 25
20 a 40 m
Média (3)
31 32 33 34 35
40 a 80 m
Forte (4)
41 42 43 44 45
80 a 160 m
Muito forte (5)
51 52 53 54 55
> 160 m
Fonte: adaptado de Ross 1992, 27.
Convexo Convexo
Retilíneo Retilíneo Plano
Retilíneo
Côncavo
Voçorocas
Ravinas
Os padrões de forma de relevo estão acompanhados influência dos cursos de água (Ross 1992). Para calcular
de um conjunto de algarismos arábicos de acordo com o índice de dissecação do relevo, deve-se considerar a
uma matriz previamente elaborada, cujas colunas indi- incisão média dos vales e a dimensão interfluvial média
cam o grau de incisão dos vales; as linhas, a dimensão (tabela 3).
interfluvial média (tabela 3). As formas agradacionais O 4º Táxon em ordem decrescente caracteriza-se
não recebem os algarismos arábicos, pois não represen- pelos tipos de formas de relevo individuais dentro de
tam dissecação por processos erosivos. cada padrão de formas do relevo. Podem ser tanto as
De maneira geral, esses padrões caracterizam-se de denudação, resultantes de desgaste por processos
por diferentes intensidades de dissecação do relevo por erosivos, como colinas, morros e tabuleiros, quanto as
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formas de agradação, como as planícies lacustres, fluviais campo. Sua representação cartográfica, quando possível,
e marinhas. Os tipos de forma de relevo apresentam se- faz-se por símbolos padronizados.
melhanças entre si, tanto em sua morfologia quanto em Para delimitar o 1º Táxon, correspondente às morfo-
sua morfometria, isto é, em forma e dimensão. estruturas, foram consideradas as informações geológicas
A representação cartográfica do 4º Táxon (tipos de mapeadas na carta geológica Cartagena 1.100.000, que
forma do relevo) faz-se em conjunto com a representação serviu de base para a posterior delimitação das morfo-
do 3º Táxon (padrões de formas do relevo). Um padrão esculturas. Foram estabelecidas cinco morfoestruturas:
de formas do relevo tipo da 52 é constituído por relevo o Cinturão de San Jacinto, o Cinturão de Sinú e os três
denudacional de topo aguçado, com incisão > 160 m e depósitos sedimentares quaternários descritos na carta
dimensão interfluvial grande de 700 m a 1.500 m. geológica Cartagena: os depósitos de planície costeira
Para serem calculadas as incisões ou entalhamentos (Qlc), os depósitos coluvioaluviais (Qcal) e os depósitos
fluviais, é imprescindível considerar a estrutura geológi- de praias (Qmp). Esses depósitos sedimentares sustentam
ca/geomorfológica regional e a hierarquização da rede de também morfologias. Os depósitos de praias mapeados
drenagem, que darão a forma da dimensão do relevo a ser por Colombia (2003) sustentam planícies e terraços ma-
mapeado. Cabe salientar que a escolha da ordem hierárqui- rinhos, portanto, sobre um depósito sedimentar, podem
ca do curso de água é imprescindível para se caracterizar existir mais de uma morfoescultura.
e mapear o relevo requerido, e encontra-se descrito nos
procedimentos metodológicos do projeto Radambrasil, Aplicação dos índices morfométricos
no qual essa metodologia foi primeiramente desenvolvi-
da no Brasil (Barbosa et al. 1984) e depois ajustada por
Ross (1992), que também trabalhou no referido projeto. Índice Relação Declividade-Extensão (rde)
O 5º Táxon, que são os tipos de vertentes, é formado Esse índice morfométrico foi desenvolvido por Hack
pelas vertentes ou setores de vertentes que compõem os (1973), que, após diversos anos estudando perfis longitu-
tipos de formas dos relevos individualizados. Uma ver- dinais de rios, propôs um novo índice para detectar alte-
tente ou mesmo um setor de vertentes é individualizado rações no curso decorrentes de mudanças no substrato
pelas características geométricas, genéticas e dinâmicas. geológico, aporte de carga ou tectonismo, chamado de
Devido às dimensões ou aspectos dos seus próprios stream-gradient index, ou simplesmente índice sl (rela-
setores, o 5º Táxon somente pode ser representado car- ção declive (Slope) vs. comprimento de curso (Length)),
tograficamente em escalas grandes, maiores ou iguais a aqui traduzido como Relação Declividade-Extensão (do-
1:25.000. Em virtude da escala deste trabalho, o 5º Táxon ravante rde).
será analisado através dos perfis topográficos elaborados. Optou-se por aplicar o índice rdetotal e o índice
A proposta de se analisar o 5º Táxon em perfis topográfi- rdesegmento em drenagens que apresentaram maior di-
cos tem também o intuito de não poluir a carta geomor- ferença altimétrica entre a nascente e a foz, isso visto
fológica com muitas informações que podem dificultar por meio das curvas de nível obtidas através da imagem
sua leitura e compreensão. Como exemplo, Salomé e Van srtm. Foram selecionadas, principalmente, drenagens
Dorsser (1982) compararam seis sistemas europeus de cujos cursos estivessem em sua maior parte sobre uni-
mapeamento geomorfológico aplicados numa mesma dades geológicas semelhantes para minimizar, assim, a
área na Europa. O mapa geomorfológico que conteve o influência das diferentes unidades rochosas na configu-
maior número de informações e detalhes, e supostamente ração da rede de drenagem.
o melhor do ponto de vista teórico, não foi considerado Para avaliar a intensidade das anomalias verificadas a
o mais prático nem o mais usual. partir da aplicação do índice rdetotal e rdesegmento, das dre-
O 6º Táxon representa as menores formas mapeáveis. nagens selecionadas, foram considerados os parâmetros
São formas produzidas pelos processos erosivos ou depo- apresentados por Andrades Filho (2010), que considera
sicionais atuais. Desse táxon, podem ser citadas formas rdetotal e rdesegmento iguais a 2 como o limite inferior de
causadas por agentes naturais, tais como voçorocas, ravi- anomalia. Seebeer e Gornitz (1983) determinam catego-
nas, bancos de sedimentação atuais e formas antrópicas rias de intensidade de anomalias, em que as de 1a ordem
como: cortes, aterros, mineração, entre outras. O mape- (de intensidade maior) referem-se a valores superiores
amento do 6º Táxon pode ser feito através de fotografias a 10; as de 2a ordem (de menor intensidade) referem-se
aéreas, imagens orbitais de alta resolução e trabalhos de aos índices que apresentam valores de 2 a 10.
Na fórmula apresentada para a obtenção do índice Os dados que necessitam ser obtidos na aplicação
rdetotal (rdet), Δh é a diferença altimétrica entre dois do índice rfav nos vales escolhidos são os seguintes: a)
pontos extremos de um segmento ao longo de um curso altitude do divisor esquerdo do vale (Ade); b) altitude
de água (nascente e a foz). ln corresponde ao logaritmo do divisor direito do vale (Add); c) elevação do fundo do
natural do canal e l é a distância entre a nascente e a de- vale (Efv), e d) largura do fundo do vale (Lfv) (figura 5b).
sembocadura. De forma similar, para o índice rdesegmento A intensidade dos valores obtidos com a aplica-
(rdes), Δh é a diferença altimétrica entre dois pontos do ção do índice rfav baseou-se em observações feitas
canal em que o índice está sendo calculado; Δl corresponde por Silva, Schulz e Camargo (2003), que sugerem que
à projeção horizontal do segmento em evidencia e l é o os valores de rfav menores que 1 são indicadores de
comprimento total do curso de água acima do ponto para tectônica ativa, e os maiores que 1, indicadores de es-
o qual o índice está sendo calculado (figura 5a). tabilidade tectônica.
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As declividades < 3% são verificadas, principalmente, nas elevadas declividades encontradas, principalmente,
nos depósitos sedimentares quaternários, devido a essas nos dois cinturões de dobramento verificados.
áreas serem constantemente submetidas a inundações
por suas baixas altitudes. Essas inundações frequentes Modelo numérico do terreno (mnt)
recobrem feições estruturais que poderiam influenciar O modelo numérico do terreno (doravante mnt) ge-
na declividade, haja vista que a carta geológica apresenta rado (figura 7) proporciona a visualização de elevações
falhas inferidas e cobertas sobres esses depósitos qua- pronunciadas, que alcançam cotas altimétricas despro-
ternários (figura 1). porcionais à média da elevação da área no setor leste, e
As vertentes com as maiores declividades foram veri- uma morfologia com altimetrias muito mais baixas em
ficadas no setor leste da área de estudo, nas partes mais direção à linha de costa.
elevadas do Cinturão de San Jacinto, na Formação San As maiores elevações da área podem ser observadas
Cayetano e em algumas vertentes da Formação La Popa, exatamente onde se localiza o Cinturão de San Jacinto,
nos afloramentos encontrados na praia de Punta de la com elevações de até 500 m. Trata-se de uma estrutu-
Cantera, localizada ao nw e nas vertentes do Cerro de La ra linear com sentido n passando para ne, fortemente
Popa, localizado no sítio urbano de Cartagena de Índias dissecada, formando cristas aguçadas. Essa serrania dá
(figura 6). Essas constatações corroboram que a tectônica origem a várias drenagens, e essas cristas são as grandes
recente possui forte influência na morfologia da área e divisoras de água no setor oriental da área.
Carta
clinográfica
legenda
Sítios urbanos
Corpos de água
Classes de
declividade %
>75
50-75
25-50
12-25
7-12
3-7
0-3
Km
Figura 6. Carta clinográfica da área de estudo com a localização dos perfis topográficos traçados.
Carta do
índices
morfométricos
Leyenda
rde
Anomalia
Anomalia 1º ordem
Anomalia 2º ordem
Sem anomalia
fa
Bacia 1
Bacia 2
rfav
Com anomalia
Drenagem centrífugo
Hidrografia
Corpos de água
Drenagem
Figura 8. Carta de localização da rede de drenagem onde foram realizados os cálculos morfométricos.
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significativas em seus cursos, formando inflexões brus- 2, revelaram valores que correspondem a anomalias de 2ª
cas, segmentos retilíneos e de forte assimetria entre os ordem. No segmento 1 desse riacho, foi obtido o maior
afluentes da margem leste, onde geralmente são mais valor de rde na área de estudo, visto que esse segmen-
avantajados e numerosos. to se encontra no Cinturão de Sinú. O outro segmento
A bacia hidrográfica 2 (figura 8), embora apresen- anômalo, contrário às expectativas, encontra-se em sua
te uma área geográfica pequena, foi escolhida para a totalidade nos depósitos coluvioaluviais do Quaternário,
análise por sua extrema assimetria, impossível de ser corroborando para uma tectônica atual (tabela 4).
explicada somente pelos fatores exógenos. Seu setor Tabela 4. Valores obtidos com a aplicação do
norte, de onde provêm quase todos seus afluentes, índice rde nas bacias investigadas
está sobre a Formação Bayunca, onde o basculamento
Segmentos rde rde rdes/ Ordem de
ou inclinação dos estratos sedimentares de norte para
segmento total rdet anomalia
o sul, atestado através de trabalho de campo, alcançam
Quitacalzón
valores de 39°, 40° e 42°. Segmento 1
109 12,07 9,03 2a Ordem
No setor noroeste da área, encontra-se uma rede de Quitacalzón
drenagem radial centrífuga intimamente relacionada à 2,23 0,18 Sem anomalia
Segmento 2
forma dômica gerada por um vulcanismo de lama (vulcão Quitacalzón
32 2,66 2a Ordem
de lama de Bayunca). É o vulcão de lama mais expressivo Segmento 3
na área de estudo e que influencia fortemente todo o Punta Canoa
41 5,32 7,71 2a Ordem
relevo adjacente, não somente na configuração da dre- Segmento 1
nagem, como também na altimetria e na morfologia. Punta Canoa
13,27 2,50 2a Ordem
Os riachos analisados no Cinturão de San Jacinto Segmento 2
apresentam um marcado paralelismo, perpendicular
às cristas da Formação San Cayetano. Partes desses ria- No riacho Punta Canoa, nos dois segmentos analisa-
chos possuem sentido nw e outra parte sentido se. Por dos, foram encontradas anomalias de segunda ordem. No
estarem situados no Cinturão de San Jacinto, onde são segmento 1, que percorre a Formação Bayunca, o valor
encontradas as maiores altitudes, foram escolhidos para obtido foi superior ao encontrado no segmento 2, que
a aplicação do índice morfométrico rfav. recorre os depósitos de planície costeira (tabela 1). Os
valores obtidos com a aplicação do índice rde confirmam
Índices morfométricos uma tectônica ativa não somente no Cinturão de Sinú,
Os três índices morfométricos aplicados na área de como também nos depósitos quaternários inconsolida-
estudo corroboram a afirmação de que a tectônica recen- dos, o que reforça a constatação de que a atuação tec-
te é o fator determinante na morfologia atual do rele- tônica está presente na atualidade e evidencia-se como
vo, pois em todos os índices aplicados (rde, rfav e af) componente ativo na configuração das formas do relevo
foram obtidos valores anômalos que indicam atividade e da rede hidrográfica.
tectônica atual, tendo em vista que os cursos de água
são os primeiros a se adaptarem aos eventos tectônicos. Índice Razão Fundo-Altura do Vale (rfav)
O índice rfav, que pode ser aplicado em trechos de
Índice Relação Declividade-Extensão (rde) cursos de água, não necessitando ser aplicado em bacias
O índice relação declividade/extensão (doravante hidrográficas, foi empregado nos cursos de água mais
rde) foi aplicado em duas bacias hidrográficas distintas expressivos localizados na borda ocidental e oriental do
que se encontram em substratos geológicos diferentes Cinturão de San Jacinto, pois são os cursos de água cujas
(figura 8). Todos os canais dos riachos analisados fo- nascentes se encontram nas altitudes mais elevadas de
ram subdivididos em segmentos para a obtenção dos área. São rios bastante retilíneos com seus divisores to-
resultados para os rdes. Devido à sua maior extensão, pográficos bem-definidos (figura 8).
o riacho Quitacalzón foi dividido em três segmentos, e o Todos os resultados do índice rfav foram conside-
riacho Punta Canoa em dois segmentos. rados anômalos com influência de atividade tectônica
Os resultados obtidos com o índice rde no riacho na incisão do canal fluvial em relação aos seus divisores
Quitacalzón, em sua totalidade, com exceção do segmento de água, pois todos os valores obtidos foram menores
Tabela 5. Variáveis morfométricas e valores obtidos com a aplicação do índice rfav nos riachos analisados
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Carta geomorgológica
1º Táxon 2º Táxon 3º Táxon 4º Táxon 5º Táxon 6º Táxon
Morfo- Morfo- Padrôes de Tipos de formas Tipos de Formas
estrutura escultura forma de relevo de relevo Vertentes Atuais
Depósitos Terraços e Apm
de planície planícies Atpm
costeira marinhas Mineração
Depósitos Terraços e
de planície planícies Atpc
costeira costeiras
Depósitos Terraços e Atpca
coluvio- planícies Dunas
aluviais coluvio-
aluviais Dt 11
Max Furrier e Germán Vargas Cuervo
Dt 22 Ver
Tabuleiros e Perfis
morros Dt 31-32
Ravinas
testemunhos Dt 41
de Sinú
Cinturão de Dt 14
Sinú Serrania
de Sinú Dt 21-22-23-24
Dt 31-32-33-34
Falésias
Dc 41-42 Inativas
Da 41
Cinturão de Serrania de Da 51
San Jacinto San Jacinto
Dc 51
com topos convexos dc 42, como é o exemplo do Cerro do Brasil por Furrier, Nóbrega e Souza (2014), a inclina-
de La Popa, no sítio urbano de Cartagena. ção desses depósitos quaternários em direção ao oceano
O fator tectônico volta a ser fortemente evidenciado, foi de 0,06º, e a inclinação observada na área de estudo
quando se observa uma grande variedade de Padrões de foi de 0,33º, ou seja, uma inclinação 5,5 vezes maior que
Formas de Relevo numa mesma formação geológica. Na a verificada numa margem continental do tipo passiva.
Formação Arjona, são encontrados Padrões de Formas Essa mesma heterogeneidade também é verificada
de Relevo altamente distintos, variando suas formas na morfoescultura Terraços Coluvioaluviais, que tam-
e dimensões de dc 21 a 41. Na Formação Bayunca, são bém não apresentam uma morfologia exclusivamente
encontrados tanto relevo com topos convexos quanto plana; portanto, apontam os mesmos problemas para
tabulares. Além de amplo espectro dimensional nessas uma caracterização morfológica mais precisa. Contudo,
formações, onde os Padrões de Forma de Relevo variam percebe-se que são morfoesculturas distintas. Essa
desde dt 11 até dc e 41. morfoescultura apresenta uma suave inclinação em
Outra característica do relevo mapeado são as di- sentido norte, até a Laguna de el Totumo, uma ex-
ferentes e variadas morfologias desenvolvidas sobre pressão geográfica menor, assim como sua variação
a Formação La Popa, que possuem formas com topos altimétrica (figura 9).
aguçados (da 41) e com vertentes com elevada declivida- As formas agradacionais designadas de Terraços
de e muito pronunciadas frente ao Mar do Caribe. Essa e Planícies Marinhas abarcam uma área geográfica
forma de relevo testemunho, e anômalo às morfologias considerável, constituída por sedimentos marinhos
observadas, encontra-se com maior frequência no setor atuais. Em certos pontos, alcança mais de 1.600 m de
noroeste, muito próximo à linha de costa. Nos trabalhos largura desde a linha de costa até seu encontro com a
de campo, foram verificadas fraturas e falhas que influen- Formação Arroyo Grande, que se dá de forma abrup-
ciaram em grande medida o desenvolvimento peculiar ta. Não foram observadas variações altimétricas con-
do relevo dessa formação. sideráveis nessa morfoescultura, que não ultrapassa
O Cerro La Popa alcança as elevações mais altas en- os 10 m de altitude.
contradas sobre a formação homônima e a morfologia Quanto a essas planícies, pode-se destacar, neste
desse relevo tem forma com topo convexo dc 42. Mas a trabalho, que a erosão costeira ocorre, exclusivamen-
diferença desse relevo testemunho em relação aos descri- te, em áreas densamente ocupadas e minoritárias, não
tos anteriormente é que este possui uma vertente muito sendo observadas em áreas desabitadas. Como é de co-
mais pronunciada e com maior declividade voltada para nhecimento científico que o maior problema de erosão
o continente (face ocidental) (figura 7). Portanto, é níti- costeira no mundo não é a subida relativa do nível do
da a influência da tectônica recente no desenvolvimento mar, mas o déficit sedimentar ocasionado pela ocupa-
das várias morfologias desenvolvidas sobre a Formação ção humana. Esse fato torna-se mais sobressalente na
La Popa (figura 9). área, pois todos os dados levantados e analisados cor-
Portanto, em alguns relevos desenvolvidos sobre a roboram substancialmente para uma tectônica ativa e
Formação La Popa (Pleistoceno superior), as altitudes e positiva na configuração do relevo. Em regiões com essa
as vertentes são mais pronunciadas ao leste, enquanto tectônica e sem a interferência humana, a tendência é
em outros, tais formas invertem-se por completo, com de progradação da linha de costa e não de erosão, mes-
elevações mais acentuadas e vertentes com maior decli- mo com uma subida relativa do nível do mar.
vidade, voltadas a oeste. Devido ao problema de escala e ao provável excesso
O relevo agradacional, formado pelos Terraços e de informações na carta geomorfológica, dado o ex-
Planícies Costeiras, apresenta uma área baixa com alti- cesso de informações visuais, foi proposto traçar três
tudes máximas de 120 m em seu extremo oriente e alti- perfis geológico-topográficos na carta clinográfica (fi-
tudes mínimas de 2 m nas proximidades com a Laguna gura 6) com direções n-s, w-e e nw-se, que abarcam
de la Virgen. Essa variação altimétrica pode ser consi- grande parte das formações geológicas e as principais
derada elevada, pois se trata de uma área agradacional morfoesculturas mapeadas (figura 10). Para uma me-
quaternária com inclinação para o sentido oeste. lhor comparação entre as morfoestruturas e as morfo-
Essa acentuada inclinação corrobora para uma influ- esculturas encontradas, foram incrementadas nesses
ência tectônica recente. Para efeito de comparação com perfis topográficos a litologia e as principais estruturas
um depósito de planície costeira mapeado no Nordeste geológicas mapeadas.
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Falha Luruaco
Falha Péndales
Perfil N-S
Falha Blanco
m
A A’
250
100 PgNga Pgsc PgNga
0 Qcal
5 10 15 20 25 30 35 40
Falha Villanueva -
Falha Pasacaballos
Falha Blanco
Perfil O-L
El Totumo
Falha Laguna
B’
mB
250
100
0 Qmp Qlc PgNga Pgsc Ngh
5 10 15 20 25 30 35 40
Falha de Pasacaballos
Santa Catalina
San Estanislao
Anticlinal do
Anticlinal do
Falha Vilanueva -
Falha de Clemencia
Falha Laguna
Falha de Mamonal
Falha Luruaco
Falha Blanco
Perfil NO-SL C’
El Totumo
C
m
250 Qpp Qpp
100 Qlc PgNga Pgsc Ngh
0 Qmp Ngb
5 10 15 20 25 30 35 40
Depósitos de Praia (Qmp) Formação La Popa (Qpp) Formação Hibácharo (Ngh)
Depósitos do Planície (Qlc) Formação Bayunca (Ngb) Kilómetros Formação San Cayetano (Pgsc)
Depósitos Coluvioaluviales (Qcal) Formação Arjona (PgNga) Formação Tubará (Ngt)
Figura 10. Perfis topográficos gerados a partir das curvas de nível obtidas através de imagem srtm, com informações geológicas.
Analisado o perfil n-s, observa-se o relevo de Terraços encontradas, principalmente, vertentes convexas e, em
e Planícies Coluvioaluviais amplamente distribuído até sentido leste, uma abrupta ascensão do relevo através
seu contato com a Formação Arjona. Nesse trecho, pre- de uma vertente retilínea de elevada inclinação até o
domina um relevo aplainado. Já na Formação Arjona, limite com a Falha Villanueva - El Totumo, quando o
é possível observar as vertentes convexas com baixas perfil entra na Serrania de San Jacinto, que apresenta
declividades. Em sentido sul, a Formação Arjona faz uma densidade elevada de vertentes convexas, retilíneas
contato com a Formação San Cayetano através da falha e, mais uma vez, são observados níveis distintos entre
de cavalgamento Villanueva-El Totumo, entretanto, de- vertentes retilíneas, que é um indicativo de outra sequ-
vido à disposição desse perfil, as vertentes, no início da ência de falhas inversas (figura 10).
Formação San Cayetano, não são visualizadas em seu Analisando o perfil nw-se, que se inicia numa pla-
melhor ângulo, visto que a compressão tectônica que nície costeira, observam-se, nitidamente, dois morros
gerou a Serrania de San Jacinto tem sentido ne. Quando testemunhos completamente anômalos em sua morfo-
o relevo representado nesse perfil alcança sua maior al- logia, altitude e declividades, que são constituídos pela
titude e declividade, as vertentes são bem-visualizadas, Formação La Popa (figura 10). Essa morfologia impede
sendo observadas vertentes com declividades acentuadas qualquer compreensão de sua gênese que não seja ba-
e de formas convexas a retilíneas, além de degraus entre seada numa tectônica recente. São visualizadas verten-
as falhas de Luruaco e Blanco, o que é indicativo de uma tes retilíneas a barlavento muito mais íngremes que as
sequência de falhas inversas (figura 10). localizadas a sotavento.
No perfil w-e, a primeira morfoescultura delimita- Em sentido se, depois dos morros aguçados da
da é compreendida pelos Terraços e Planícies Marinhas Formação La Popa, encontra-se a Formação Bayunca
e, logo em seguida, a morfoescultura dos Terraços e numa morfologia dômica, sendo essa área fortemente
Planícies Costeiras, apresentando um relevo bastante influenciada pelo diapirismo de lama. Seguindo em sen-
aplainado até o limite com a Formação Arjona, através tido se, a Formação Bayunca é bruscamente seccionada
da Falha de Pasacaballos. Sobre a Formação Arjona, são pela falha de cavalgamento Mamonal, onde se inicia a
Formação Arjona com vertentes côncavas, convexas e metodológicos e científicos, que são poucos, e a produção
retilíneas num alto estrutural formado pela anticlinal cartográfica, além de trabalhos de campo. A integração
de Santa Catalina, que a sotavento forma uma verten- dos dados obtidos, levantados, produzidos e analisados
te ampla e retilínea (figura 10). Ao encontrar a falha resultou numa visão inédita da área, sendo possível vi-
Villanueva - El Totumo, inicia-se a Serrania de San Jacinto sualizar como a geologia e a tectônica integram-se com
com vertentes convexas, côncavas e retilíneas, muitas a geomorfologia.
vezes em cristas aguçadas. A Formação San Cayetano é O levantamento geológico foi fundamental na carac-
separada da Formação Hibácharo por plano de discor- terização geomorfológica, tanto no aspecto litológico
dância, mas na carta geológica não apresenta uma falha como no estrutural. Contudo, há que se destacar que a
mapeada que separe essas duas formações e tampouco descrição prévia da área e trabalhos científicos publica-
houve possibilidade de identificá-la em campo. dos possuem enfoque geológico, sendo o conhecimento
No 6º Táxon, as formas mais mapeadas foram as geomorfológico antecedente da área extremamente pobre
áreas de mineração de areia por desmonte hidráulico. quando comparado ao conhecimento geológico. Os estu-
Foi observado através de imagens orbitais um total de dos geológicos na Colômbia são muito mais ricos que os
29 áreas de mineração. Os produtos mais explorados estudos geomorfológicos, mesmo sendo a geomorfologia
são: areias, cascalhos e calcário para a construção civil muito mais pesquisada por geólogos que por geógrafos,
e fabricação de cimento, e argilas para a fabricação de contrariando o que se encontra na maior parte do mun-
ladrilhos e tijolos. do, onde a Geomorfologia é uma área tradicionalmente
Também com a ajuda de imagens orbitais e trabalho da Geografia Física.
de campo foram constatados alguns deslizamentos de A caracterização geomorfológica foi fortemente em-
terra, principalmente nas formas aguçadas e convexas basada nos aspectos estruturais e tectônicos, sendo
das Serranias de San Jacinto e de Sinú. Esses desliza- numerosas as evidências encontradas e apresentadas,
mentos aparentemente estão mais relacionados às falhas embora atentando para o fato de que continuam sendo
de pequenas dimensões e não mapeadas e às vertentes necessários trabalhos geomorfológicos estruturais mais
com maior declividade do que à precipitação, pois, nes- detalhados. Ainda que o fator climático para a evolução
sas áreas mais elevadas e distantes do Mar do Caribe, do relevo na área seja secundário, este não pode ser ne-
praticamente todos os riachos são intermitentes, o que gligenciado. O fator climático possui sua responsabili-
indica uma pluviosidade mais baixa que a registrada em dade na esculturação do relevo verificado, que na área
Cartagena de Índias. Pelas vertentes verificadas nessas atua, principalmente, na percolação da água pluvial nas
serranias e pela litologia que elas são constituídas, essas inúmeras fraturas e falhas observadas em todas as for-
formas erosivas atuais não são tão comuns, o que também mações geológicas.
corrobora a verificação de que a sua ocorrência se deva A caracterização geomorfológica aqui apresentada
mais a fatores estruturais que à precipitação. demonstrou o quanto é necessário relacionar a geologia
Outras duas formas verificadas e que se encontram e a tectônica com as formas atuais do relevo, o que deixa
dentro do 6º Táxon são os campos de dunas e as falé- claro que é praticamente impossível pensar na evolução
sias inativas. Os campos de dunas encontram-se sobre do relevo baseando-se apenas nos processos exógenos,
os Terraços e Planícies Marinhas, à retaguarda da praia principalmente quando se refere a uma área tectonica-
de Manzanillo, que apresenta uma vegetação pioneira, mente ativa, onde as forças endógenas se sobressaem
típica de campos de dunas estáveis (figura 10). As falésias às forças exógenas.
inativas se encontram ao leste de Punta Canoas, onde a
Formação Bayunca foi afetada por um basculamento de Referências
norte a sul de 42 a 39º. Esse basculamento provavelmente
impediu a ação direta das ondas no sopé dessas falésias. Andrades Filho, Clódis de Oliveira. 2010. “Análise morfoes-
trutural da porção central da Bacia Paraíba (pb) a partir
Conclusões de dados mde-srtm e alos-palsar fbd.” Dissertação de
Mestrado, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (inpe),
A proposta principal deste trabalho, que é a de uma ca- São José dos Campos, São Paulo.
racterização e mapeamento geomorfológico, implicou um Angel, Carlos, Jairo Esquivel, e Gustavo Sarmiento. 1985.
levantamento bibliográfico da área quanto aos aspectos Geología del Departamento de Bolívar al norte del Canal del
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Max Furrier
Professor associado do Departamento de Geociências - Centro de Ciências Exatas e da
Natureza, Universidade Federal da Paraíba, Brasil.