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Balística forense

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Robertha Nascimento Gondim
Robertha Nascimento Gondim
11/09/2010 às 09:31
O problema da identificação do autor do tiro incriminado é sempre da máxima
importância, quer para o investigador, quer para o juiz.

A INTERLIGAÇÃO ENTRE A ARMA E O CRIME

O problema da identificação do autor do tiro incriminado é sempre da máxima


importância, quer para o investigador, quer para o juiz, em todos os casos de
morte, ou lesões corporais decorrentes de impacto de projéteis de arma de fogo.

E isso se justifica na medida em que em que seja relevante estabelecer e provar


de modo categórico a autoria material do(s) disparo(s) em consideração, seja
para estabelecer com fundamento sólido o diferencial quanto à causa jurídica do
fato delituoso (homicídio, suicídio ou acidente) ou para, no caso de ser o fato
penalmente imputável a um agente, para apontar com segurança o responsável
pelo mesmo.

Os exames microcomparativos são, talvez, os mais importantes, porém são


também os mais demorados e os mais difíceis numa perícia que envolva a
balística forense.

Tais exames servirão, na maioria dos casos, como prova suficiente para contribuir
para a convicção do juiz e dos jurados na decisão sobre um determinado caso,
sendo por isso que a sua importância será a seguir analisada e demonstrada.

Dessa forma, analisados os requisitos que devem ter os padrões em balística e a


forma como obtê-los, será feita a análise dos meios usados para colher os
projéteis-padrões (testemunhas), dos equipamentos empregados nos exames e
do método para o trabalho de confronto (comparação) com o(s) projétil(éis)
questionado(s), visando à identificação indireta e individual das armas de fogo.

Simultaneamente, serão também abordados os equipamentos e métodos usados


na comparação de estojos-padrão com estojo(s) contestado(s), visto que a
identificação indireta ou mediata da arma de fogo é feita através do estudo
comparativo das características das deformações impressas por ela nos
elementos de munição (projétil e estojo).

Tal contexto pressupõe a possibilidade de obter padrões para o confronto com o


material questionado, o que implica a necessidade de se dispor da arma indicada
ou suspeita, para produzir com ela os indispensáveis tiros de prova visando à
coleta dos padrões em apreço.

Registre-se que por meio do estudo comparativo de impressões digitais


encontradas em locais de crime, em muitos casos é possível afirmar-se, com
segurança, que um mesmo indivíduo participou de duas ou mais infrações penais,
em datas e locais diferentes, embora não se possuam elementos que permitam
dizer quem é esse indivíduo.

Igualmente, é possível, por intermédio da comparação das deformações normais,


presentes em dois ou mais projéteis vinculados a infrações penais distintas,
demonstrar-se, categoricamente, serem oriundos de uma só e mesma arma,
embora ainda não se saiba precisamente que arma, por não ter sido encontrada.
Isto porque, assim como é pacífico que duas impressões digitais cujos desenhos
coincidam exatamente só podem corresponder a um mesmo dedo, assim
também pode-se ter como indiscutível que a presença de deformações normais
convergentes, em dois ou mais projéteis, significando que foram todos expelidos
por um só e mesmo cano raiado.

A identificação do atirador pela arma baseia-se no encontro de impressões


digitais deixadas nas armas.

E tal impressão só será aproveitável se houver se formado em superfícies lisas, e


uma vez encontradas, deve-se tomar a precaução de manipular com cautela a
arma recolhida no local do crime e realizar uma fotografia das impressões.

Assim, de posse da fotografia, o perito irá revelá-la, utilizando de substâncias


químicas várias, em estado de pó fino. E após a revelação, as impressões serão
novamente fotografadas e terão seu tamanho ampliado, para serem melhor
estudadas. Se tiver um suspeito, as impressões serão comparadas com as dele,
caso contrário serão comparadas às do banco de impressões digitais, onde
houver

Os resíduos do tiro nas mãos do atirador


A determinação da autoria do tiro, em casos de morte ou lesão corporal, é de
vital importância. A constatação da presença, nas mãos de uma pessoa, de
resíduos resultantes de um tiro, pode constituir-se em um indício diferencial entre
suicídio e homicídio, quando for possível vincular esta presença a um fato
concreto e determinado.

Entretanto, a presença ou ausência destes resíduos não deve se constituir no


único e exclusivo elemento diferencial.

Ao ser produzido um tiro, os resíduos projetados para fora da arma saem pela
boca do cano, juntamente com o projétil, pela parte anterior das câmaras, entre o
tambor e o cano, e pela parte posterior das câmeras, entre a região posterior do
tambor e a culatra, nos revólveres.

Os resíduos que saem das câmeras podem atingir as mãos do atirador, em


especial a região dorsal dos dedos polegar e indicador, e a palma da mão. Nestas
regiões é que devem ser pesquisados e revelados os possíveis resíduos de um
tiro. Em tiros dados com revólveres, a quantidade de resíduos que podem atingir
a mão é muito maior do que em tiros produzidos com pistolas que por serem
armas fechadas e, dependendo do formato e tamanho da janela de ejeção
existente no ferrolho, podem ocorrer casos em que pequena ou nenhuma
quantidade de resíduos acabe atingindo a mão do atirador.

Informe-se que em tiros com submetralhadoras e armas longas a possibilidade de


se encontrar resíduos do tiro nas mãos do atirador é pequena.

Em espingardas, carabinas e rifles, a situação é um pouco diferente, pois, quando


estas armas forem semiautomáticas, os gases escaparão pela janela de ejeção,
podendo se depositar nas mãos do atirador, dependendo da posição desta janela.
Entretanto, se a arma não for semiautomática, dificilmente haverá escape de
gases pela parte posterior do cano, antes que a arma seja aberta. Neste caso, a
deposição nas mãos do atirador de partículas oriundas do tiro somente ocorrerá
caso a arma seja aberta imediatamente após a produção do tiro.

A identificação da arma pelo projétil


Dentre os elementos de munição mediante os quais é possível a identificação
mediata das armas de fogo, os projéteis são os que possuem maior soma de
características indiciárias, permitindo, geralmente, o estabelecimento do nexo
causal entre a lesão ou o dano material produzidos por um ou mais tiros da arma
considerada, sendo os mais freqüentemente submetidos ao exame pericial.
Geralmente o projétil encontra-se no corpo da vítima ou no local do crime, sendo
mais freqüente o primeiro caso.

Em qualquer das hipóteses, o perito balístico irá examinar o projétil, verificando


seu peso, formato, comprimento, diâmetro, composição, calibre, raiamento,
estriações laterais finas e deformações.

O calibre da arma serve para demonstrar a medida do cano, a raiação indica o tipo
de arma e a estriação lateral fina individualiza a arma.

O perito ao estudar o raiamento deverá observar a sua correspondência com a


arma suspeita, mencionando o seu número, a sua largura, o seu aspecto se estas
são dextroversas ou sinistroversas, ou seja, se são obliquamente dirigidas para a
direita ou para a esquerda.

Entretanto, a individualização da arma só ocorre com o estudo das estriações


laterais finas e das deformações ocasionadas no projétil. A estriação lateral fina é
produzida pelas saliências e reentrâncias que a alma do cano apresenta e
passíveis de serem moldadas nas faces laterais do projétil, ao passar este forçado
pelo interior do cano onde receberá também as raia.

Estas estriações têm grande importância para a identificação, pois até agora não
se provou que duas armas diversas tenham impressões iguais, sendo assim, o
valor positivo da igualdade das estrias entre duas balas para a identificação da
arma, é grande.

Entretanto, o resultado negativo não tem valor, posto que a mesma arma possa
produzir, em balas diversas, estriações inidentificáveis.

É importante salientar que a identificação só tem valor se a comparação for de


um conjunto de várias estriações existentes em uma determinada superfície, das
proporções e relações recíprocas das estrias entre si.

Com relação ao estudo das estrias o elemento mais decisivo do exame para a
identificação da arma é a situação das mesmas, uma vez que a igualdade de
situação de um conjunto numeroso de estrias semelhantes é sinal certo de
identidade da arma de que proveio o projétil.

A identificação da arma pelo estojo


Outra forma de se identificar a arma utilizada no crime é pelo exame do estojo, o
qual pode ser encontrado no local do crime ou no tambor da arma apreendida
como suspeita, sendo que em ambos os casos este deve ser apreendido e
encaminhado para exame.

O perito balístico, ao receber o estojo, determina o seu material, sua marca, seu
calibre e suas deformações, para assim determinar que tipo de arma fora usada
no crime.

Com efeito, esses estojos apresentam marcas mais ou menos individualizadoras


da arma a que serviu daí a análise das marcas produzidas pela superfície interna
do cano, marca do percussor sobre a espoleta; marca da espalda do cano sobre o
talão; marca do extrator na gola do estojo etc.

Tais marcas, que variam de arma para arma, conforme o gênero desta e suas
particularidades individuais serão confrontados com as que se produzam
mediante tiros de prova, dados com a mesma arma suspeita.

De posse do estojo suspeito e do padrão, deve-se então levá-los ao microscópio


comparador para o exame dos sinais deixados no culote do percussor.

O que realmente tem importância é a depressão em sua parte mais profunda, de


maneira a esclarecer se as deformações deixadas em dois estojos foram
produzidas pelo percussor de uma mesma arma. Outra característica do estojo
utilizado na identificação são os sinais deixados pelo extrator e pelo ejetor que
pela violência de seus movimentos, deixam marcas específicas de cada arma e
acontecem no momento em que o extrator toma o estojo pela gola, puxando-o
para trás, até que o ejetor o lance fora pela janela, preparando um novo disparo.

A identificação da arma pela pólvora


A pólvora pode apresentar-se queimada ou não e sendo encontrada na cápsula,
na arma ou no corpo ou vestes da vítima.

O seu exame se faz através do exame de sarro, que permite verificar se o disparo
foi feito com pólvora negra ou com pólvora piroxilada.

Primeiramente, observa-se o aspecto da pólvora, macroscópica e


microscopicamente, pois a pólvora negra deixa no interior do cano abundante
resíduo preto que passa em poucos dias a uma cor cinzenta esbranquiçada, para
depois tomar o aspecto avermelhado de ferrugem. Já a pólvora piroxilada deixa
pouco resíduo, de cor cinza escura, que não se altera a não ser muito depois com
a ferrugem.

É graças ao exame da pólvora que os peritos podem determinar a data


aproximada do último disparo da arma. E os elementos que levam os peritos a
determinar a data provável do último disparo são baseados nas modificações
processadas no depósito da pólvora combusta.

Tais exames atingem um tempo máximo de oito dias, devendo, então, ser
realizados dentro desse prazo, todavia, o referido exame não constitui meio de
certeza, ficando restrito ao campo da probabilidade.

Para tal determinação, o perito deverá examinar os resíduos da pólvora


existentes na arma ou local do crime, já que todas as vezes que se atira há um
depósito de resultante da combustão da pólvora que varia se esta for negra
(presença de sulfetos e sulfatos) ou piroxilada (presença de nitritos e nitratos).
Deve-se salientar que a umidade e a temperatura do local em que foi encontrada
a arma influem nas modificações por que passa o depósito de pólvora.

A distância do tiro
As características das lesões produzidas por armas de fogo dependem sempre de
dois fatores: a arma e a munição (cartucho).

Dentro da Balística dos Efeitos, o estudo da distância do tiro e dos seus efeitos
tem um destaque especial, pois através do estudo dos efeitos do tiro,
pesquisáveis juntos às lesões, pode-se estabelecer, em muitos casos, a que
distância foi disparado um determinado tiro. (TOCCHETTO, 2009)

Os tiros classificam em encostados, a curta distância e a distância, cada um com


suas particularidades. Nos tiros encostados as lesões se apresentam com bordas
irregulares, estreladas. Pode estar presente um desenho na pele produzido pela
queimadura da boca do cano e da alça da mira da arma.

Nos tiros a curta distância as lesões se apresentam de forma arredondada ou


ovalar, bordas invertidas, zonas de contusão e enxugo aréola equimótica, e ainda
as zonas de queimadura, tatuagem e esfumaçamento.
Já nos tiros a distância a sua forma pode ser arredondada, ovalar ou elíptica, as
bordas da ferida apresentam irregulares ou invertidas e ainda zonas de contusão,
enxugo e aréola equimótica.

A direção do tiro
A direção do tiro em relação ao corpo da vítima será indicada por duas ordens de
elementos; as características do orifício de entrada e a direção do trajeto da
lesão.

Na perícia para determinação da direção do tiro também é necessária a


experimentação com a mesma arma e munição, tomando-se as mesmas
precauções ditas com relação à distância do tiro. Deve-se lembrar que a inclinação
do corpo mantida a mesma linha de visão da arma faz variar o trajeto do projétil.

O incidente e o acidente de tiro e o tiro acidental


Quando ocorre uma morte em por causa de um tiro, é muito comum que os
órgãos de imprensa, antes da realização da perícia, informem que a morte
ocorreu em conseqüência de um acidente de tiro ou de um tiro acidental.

A conceituação e caracterização de incidente de tiro, acidente de tiro e tiro


acidental se reveste de importância especial em casos de morte ou lesão
corporal.

Assim, os conceitos a seguir apresentados se restringirão aos aspectos técnicos,


não levando em consideração a intencionalidade, ou não, de produzir
determinados efeitos, por parte de quem está portando ou usando uma arma de
fogo. O incidente de tiro ocorre quando se produz uma interrupção dos tiros sem
danos materiais e/ou pessoais, por motivo independente da vontade do atirador.
Na maioria dos casos, resolve-se o problema de um incidente de tiro corrigindo a
causa que lhe deu origem, após sua identificação.

Entretanto há situações em que o incidente de tiro tem de ser investigado, por


exemplo, na situação em que um policial, ao efetuar uma diligência necessita
atirar contra um delinqüente para detê-lo ou em legítima defesa, ao ser atacado,
e ocorre um incidente de tiro ao ser atacado e ocorre um incidente de tiro com a
sua arma, impedindo a produção de tiros.

Em conseqüência do incidente de tiro, o delinqüente pode conseguir atirar no


policial, matando-o ou ferindo-o. Nessas circunstâncias, é importante que se
examine a arma do policial, para verificar qual a causa do incidente caso seja
possível determiná-la.

O acidente de tiro ocorre quando se produz uma interrupção dos tiros com danos
de qualquer natureza, materiais e/ou pessoais. As causas do acidente de tiro são
muito variadas e dependem de fatores como a origem da arma, a munição etc.

Quando a arma é fabricada com material inadequado ou quando o mesmo não


sofreu a têmpera necessária para suportar a pressão produzida pelo cartucho
para ela especificado, por ocasião do tiro, a responsabilidade será do fabricante
da arma. Assim, o fabricante deve sempre indicar, no cano ou em outro local da
arma, por meio de gravações, qual é o cartucho que deve ser usado corretamente
na arma.

Em casos de morte ou de lesão corporal grave, em que o agente vulnerante tenha


seu projétil expelido por arma de fogo, ocorre com alguma freqüência a alegação
de que a arma disparou acidentalmente, procurando-se, com isso, desvincular o
fato de qualquer idéia de dolo ou culpa.

É necessário estabelecer a diferença entre disparo acidental e tiro acidental, pois


disparar é colocar o mecanismo de disparo da arma em movimento. E, para que
um disparo acidental produza um tiro acidental, é necessário que ocorra a
detonação e deflagração de um cartucho e a projeção de um projétil através do
cano da arma, sendo que nem todo disparo dá origem a um tiro, mas todo tiro é
precedido do disparo do mecanismo da arma.

Daí o tiro acidental ser todo tiro que se produz em circunstâncias anormais, sem o
acionamento regular do mecanismo de disparo, devido a defeitos ou falta do
mecanismo de segurança da arma.

Esclareça-se que o tiro acidental na conceituação criminalística, que é a única


aceitável em Balística Forense, corresponde àquele disparo eficaz produzido por
uma arma, a qual não teve como causa determinante o acionamento normal,
intencional ou não, do mecanismo de disparo da mesma.

Diferenciação entre suicídio, homicídio e acidente.


Designa-se como maneira da morte o modo ou a forma através da qual agiu o
agente responsável pela causa da morte, sendo que a importância do seu estudo
é indiscutível, justamente porquanto implique na interpretação jurídica da causa
da morte.
Com efeito, distingue-se assim entre a morte natural, quando esta é determinada,
por uma doença, e a morte violenta ou não natural, toda vez que a sua causa seja
um traumatismo ou uma lesão, de origem homicida, suicida ou, mesmo,
acidental.

Esta diferenciação é de extrema importância uma vez que se a morte for natural
não haverá responsabilidades criminais ou civis a apurar, mas acaso a morte seja
violenta, incluindo-se até os óbitos decorrentes de eventos infortunísticos, tais
como, por exemplo, os acidentes do trabalho, resulta clara a necessidade de
esclarecer as circunstâncias em que a mesma aconteceu, principalmente, pelas
implicações jurídicas, tanto no campo cível, quanto no âmbito da legislação
acidentária própria.

Contudo, os casos que mais conclamam a atenção do médico legista são aqueles
em que a morte pode ter sido ocasionada pela própria vítima, em função de
suicídio, suicídios a dois e homicídios-suicídios, ou aqueles outros em que a morte
é o resultado da ação de outra pessoa sobre a vítima, ou seja, os homicídios, nas
suas diversas modalidades.

Nestas situações, torna-se importante efetuar um preciso diagnóstico diferencial,


de modo a estabelecer o verdadeiro nexo de causalidade entre as ações e os
resultados. É neste momento, que se interrelacionam e se entrelaçam às
múltiplas informações que se colhem e os dados semiológicos que se apuram,
quer no local, quer sobre a própria vítima.

Tudo é importante, desde os antecedentes criminais, a investigação policial, o


levantamento do local e do cadáver e o exame necroscópico.

Mas, também, tudo deverá ser analisado em conjunto, de modo a avaliar a


verossimilhança dos dados, a coerência dos resultados e a consistência das
conclusões.

Nestas circunstâncias, torna-se necessário estabelecer algumas definições úteis


acerca do que seja o evento morte, em termos de classificação.

Desse modo, por homicídio, compreenda-se a ocorrência da morte de um


indivíduo por ação de outrem, sob a forma dolosa, culposa ou preterintencional.
Por suicídio, tem-se a morte de um indivíduo pelas lesões que se auto inflige com
o objetivo de por fim à sua vida.

Já a morte acidental ocorre quando um indivíduo falece por causas fortuitas e


não previsíveis, ou que, em sendo previsíveis, não o foram evitadas por
ignorância, negligência ou imprudência, isto é, por culpa.

Durante as investigações, a existência de uma destas três modalidades de morte


violenta deverá ser cuidadosamente pesquisada, sendo o raciocínio balizado por
certos elementos que serão, brevemente, analisados a seguir.

O exame do local em que o cadáver de uma pessoa é encontrado constitui a


pedra angular da investigação. Daí a importância que tem a preservação desse
local, para não prejudicar as pesquisas.

É óbvio que nem todos os casos exigem a presença do legista na cena do evento.
Todavia, há situações em que o seu chamado poderá ser de utilidade para que, no
local, possa avaliar o modo provável do óbito (homicídio, suicídio ou acidente)
com base em indícios peculiares.

Será, também, a melhor forma de que se possa estabelecer uma razoável


aproximação do momento ou horário da morte, pois, o legista, muitas vezes,
pode auxiliar na reconstituição do incidente graças aos aportes médicos ou de
ciências afins que poderá fornecer. Há de se levar em consideração que o legista,
por força de sua formação, vê uma cena de crime com olhos diferentes daqueles
dos peritos criminais e que as hipóteses que levante no local, tanto poderão
ajudar às pesquisas subseqüentes, quanto ao próprio juízo, uma vez que o
médico legista poderá ser chamado a prestar esclarecimentos em audiência.

Assim, ao estudar o local do crime, a verificação da desordem de móveis, móveis


quebrados ou desarranjo de objetos, tem-se um forte indício de que no local
houve luta perseguição ou tentativa de fuga, comuns aos homicídios.

Todavia, quando citada desordem se limita apenas à vizinhança imediata do


cadáver, não permite descartar a hipótese de um suicídio e sua provocação
durante a fase agônica da vítima.

Outras condições do local como, por exemplo, fechamento das portas por
dentro, calafetamento de portas e janelas, achado de cartas ou bilhetes, encontro
de embalagens de medicamentos, copos com restos de bebidas, podem ser
extremamente úteis para direcionar a pesquisa no sentido de determinada forma
de violência.
A presença de manchas de sangue e outros líquidos orgânicos são de grande
interesse porquanto dados referentes à sua localização, distância em relação ao
cadáver, afora sinais de arrasto, que obrigam a pensar na posterior mobilização
da vítima, podem trazer subsídios inestimáveis à investigação. De mais a mais, o
estudo do grupo sanguíneo das manchas, comparando-o ao da vítima, poderá
esclarecer, ainda, se esse sangue lhe pertence ou é oriundo do homicida que,
porventura, pode ter sido ferido durante o cometimento do seu ato.

As manchas de esperma, em geral, orientam no sentido de se estar em presença


de um crime de conotação erótica. Inobstante, em alguns casos de asfixia, não é
infreqüente a ejaculação tardia da vítima, o que, como é curial, nada tem a ver
com violência sexual. Nesses casos, pode ser de interesse averiguar se o tipo de
sêmen corresponde ou não ao da vítima, já que isto pode levar a estabelecer
diferenças entre suicídio e homicídio.

A ocorrência de impressões e pegadas pode ter interesse ao se caracterizar se


eram originárias da vítima ou não. Nesta segunda hipótese, o seu levantamento
cuidadoso, por fotografia e/ou por moldagem, poderá auxiliar não apenas na
determinação de sua origem como, também, no número de pessoas que
participaram do evento. Quando as impressões ou as pegadas apresentam
vestígios de sangue, é comum que a identificação ou tipagem deste será útil ao
esclarecimento de sua origem, para que se saiba se é da vítima ou do vitimário.

O achado da arma no local do crime poderá servir, eventualmente, para a


identificação dactiloscópica da pessoa que a utilizara. Sua presença nas
proximidades do cadáver, em geral, orienta o raciocínio para o suicídio, enquanto
que o seu desaparecimento é um forte indício de homicídio.

Todavia, além dos dados criminalísticos de índole geral acima mencionado, para o
médico legista poderão aparecer logo numa observação detida do cadáver,
elementos mais específicos que, muito embora não tenham um valor definitivo,
orientarão sobre a diagnose jurídica da "causa mortis" que com maior
probabilidade poderia ter ocorrido.

A balística interna, externa e a dos efeitos


A balística forense se divide em balística interna, externa e balística dos efeitos.

A balística interna trata do funcionamento das armas, da sua estrutura e


mecanismo, e da técnica do tiro.
A balística externa estuda o trajeto e a trajetória, desde sua saída da arma até seu
impacto ou sua parada.

E a balística dos efeitos ou balística do ferimento, manifesta-se sobre os efeitos


produzidos pelo projétil disparado, incluindo, entre outros, os ricochetes, os
impactos e as lesões e danos sofridos pelos corpos atingidos, sejam eles
animados ou inanimados.

No que tange à identificação das armas de fogo, esta pode ser direta ou indireta.
É direta quando a identificação é feita na própria arma. E indireta quando feita
através de estudo comparativo de características deixadas pela arma nos
elementos de sua munição.

Na identificação direta, levam-se em conta os chamados de qualificação,


representados pelo conjunto de caracteres físicos constantes de seus registros e
documentos, como tipo da arma, calibre, número de série, fabricante, escudos e
brasões etc.

Na identificação indireta, usam-se métodos comparativos macro e microscópicos


nas deformações verificadas nos elementos da munição da arma questionada ou
suspeita. Dentre eles, o mais importante é o projétil, quando se trata de arma de
fogo raiada. Já nas armas de alma lisa, a identificação indireta é feita nas
deformações impressas no estojo e suas espoletas ou cápsulas de
espoletamento. Portanto, restou evidente que é possível estabelecer-se uma
interligação entre a arma de um crime e o mesmo através de elementos sutis que
possam ser encontrados na cena do crime e bem analisados por um profissional
competente.

A PERÍCIA COMO MEIO DE PROVA


A perícia é o exame realizado por pessoa com conhecimentos específicos sobre
matéria técnica e útil para o deslinde de casos de difícil solução, destinada a
instruir os julgadores.

A perícia é em regra determinada pela autoridade policial, na fase de inquérito,


pois quando a infração deixar vestígios será indispensável o exame de corpo
delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado de acordo
com o artigo 158 do Código de Processo Penal.

A perícia deve ser realizada com urgência, com base no princípio da imediatidade,
sob pena de desaparecerem os vestígios e ser prejudicada a apuração dos fatos,
mas podem ocorrer casos de sua realização no decorrer do processo.
A perícia é feita por peritos oficiais, onde houver, ou por pessoas capacitadas
(peritos particulares) nomeados pelo juiz, onde não houver os peritos oficiais, de
acordo com o artigo 159, § 1º do CPP. A perícia é retratada através do laudo
pericial que é a exposição minuciosa do observado pelos peritos e de suas
conclusões.

Ressalte-se que o laudo pericial tem valor inegável, visto que, trata-se de peça
técnica, indispensável à livre convicção do juiz, já que lhe fornece elementos
preciosos. De posse do laudo o juiz tem inteira liberdade de apreciação em aceitá-
lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte.

O exame de corpo de delito é uma modalidade de perícia, sendo a atividade


voltada para a captação dos vestígios deixados pelo crime.

Tal exame pode ser direto ou indireto, sendo direto se depender de inspeção
ocular sobre elementos sensíveis que permaneceram atestando a prática
delituosa, ou indireto, quando se forma por depoimentos testemunhais acerca da
materialidade do fato e de suas circunstâncias.

A perícia como meio de prova tem valor relativo, já que no processo penal todas
as provas têm esse valor, devendo ser examinada pelo juiz em conjunto com
outras provas e não separadamente de acordo com o artigo 155 do CPP.

Logo, com base no trabalho pericial é que se demonstrará que a Balística Forense
é um dos instrumentos legais mais adequados à ciência criminal na elucidação da
autoria de crimes em que tenha havido o disparo de armas de fogo.

A Justiça e a Balística Forense


A Balística Forense é uma disciplina integrante da Criminalística que estuda as
armas de fogo, sua munição e os efeitos dos tiros por elas produzidos, sempre
que tiverem uma relação direta ou indireta com infrações penais, visando a
esclarecer e provar sua ocorrência.

A Balística Forense, por meio dos exames, das perícias, objetiva provar a
ocorrência de infrações penal, mas, também e, principalmente, esclarecer o
modo, a maneira como ocorreram tais infrações. Seu conteúdo é, por natureza,
eminentemente técnico, mas sua finalidade específica é jurídica e penal, motivo
pelo qual recebe a denominação de Balística Forense.
A perícia de Balística Forense, além de servir como meio de prova, tem um valor
todo especial, pois dela depende, em muitos casos, a condenação ou absolvição
de um acusado que cometeu uma infração penal com arma de fogo.

Nota-se, assim, que a Justiça marcha lado a lado com a Balística, na dissolução
dos delitos em que o emprego da arma de fogo foi usado, pois a Balística com
suas técnicas dão assistência à Justiça para atribuir a prática das violações das leis
aos seus verdadeiros autores.

Dessa forma a Balística Forense é aquela parte do conhecimento criminalístico e


médico legal que tem por objeto, especial, o estudo das armas de fogo, da
munição e dos fenômenos e efeitos próprios dos tiros destas armas, no que
tiverem de útil ao esclarecimento e à prova de questões de fato, no interesse da
justiça penal como civil.

Ademais, tem-se como certo que sem a apreensão e perícia de uma arma, não há
como se apurar a sua lesividade e, portanto, o grau de risco para o bem jurídico
que envolva a integridade física alheia.

Ao ensejo é interessante observar como que a Balística Forense, por meio da


necessidade de realização de laudo pericial, manifesta-se por meio da
jurisprudência:

Para a caracterização da majorante prevista no art. 157, §2º, I, do Código Penal é


necessário que a arma de fogo seja a apreendida e periciada. Precedentes".
(BRASÍLIA. STJ. Habeas Corpus 102785/SP, rel. Ministro O. G. FERNANDES, DJe
20/10/2008. Disponível em http://www.tjmg.jus.br/juridico/jt_/inteiro_teor.jsp?
tipoTribunal=1&comrCodigo=24&ano=8&txt_processo=935656&complemento=1
&sequencial=0&palavrasConsulta=arma de fogo perícia prova do
disparo&todas=&expressao=&qualquer=&sem=&radical=. Acesso em: 30 jun.
2010)

Em razão do cancelamento da Súmula n. 174 deste Tribunal, para o


reconhecimento da presença da causa de aumento de pena prevista no art. 157, §
2º, I, do Código Penal, mostra-se indispensável a apreensão da arma de fogo e a
realização de exame pericial para atestar a sua potencialidade lesiva, quando
ausentes outros elementos probatórios que levem a essa conclusão. Precedentes
do STJ". (BRASÍLIA. STJ. REsp 1052780/RS, Rel. Ministro Jorge Mussi, DJe
06/10/2008). Disponível em http://www.tjmg.jus.br/juridico/jt_/inteiro_teor.jsp?
tipoTribunal=1&comrCodigo=24&ano=8&txt_processo=935656&complemento=1
&sequencial=0&palavrasConsulta=arma de fogo perícia prova do
disparo&todas=&expressao=&qualquer=&sem=&radical=. Acesso em: 30 jun.
2010)

Desse modo, tem-se como evidente que o exame pericial da arma de fogo seja
indispensável, em algumas situações, uma vez que compete à autoridade policial
informar acerca das características da arma, sua potencialidade lesiva e
recenticidade de disparos.

Junte-se a isso que é pelas características da arma que se sabe se ela é de uso
proibido ou permitido e é por sua potencialidade lesiva que se saberá também se
ela está em funcionamento ou se é obsoleta.

E, pela recenticidade de disparo, saber-se-á se ela foi utilizada para a configuração


do delito autônomo de disparo de arma de fogo.

Portanto, diante de todo o exposto ao longo do trabalho em tela é que se tem


como certo que a Balística Forense é essencial como instrumento jurídico na
elucidação da autoria de crimes efetuados com disparos de armas de fogo, por
revelar, tecnicamente, o modo, a maneira, o tipo de munição e os efeitos dos
tiros que posam envolver um homicídio de autoria ainda duvidosa, contribuindo
para a realização da Justiça, por permitir a punição daqueles que violaram as leis
penais, notadamente, no que tange aos crimes contra a vida
Resumo de Lesões por projéteis de
arma de fogo | Ligas
Índice

1.
Trajeto
2.
Lesões por projéteis
3.
Ferimentos de saída nas lesões por projéteis
4.
Sugestão de leitura complementar
Índice

Apesar de ser uma matéria criminalística, é importante para o perito médico


reconhecer as lesões por projéteis de arma de fogo. Em vista disso, faz-se
necessário o estudo da balística do ferimento (ou dos efeitos, como é
chamada por alguns), que será abordada de modo a resumir as principais
características resultantes de tiro a longa distância, a curta distância e
encostado. 

Segundo o Atlas da Violência, divulgado pelo Instituto de Pesquisa


Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública
(FBSP), em 2018 tivemos 41.179 homicídios por arma de fogo e um
aumento do registro de armas de fogo em 120% só em 2020.
Trajeto

No estudo da balística externa, é importante ressaltar dois conceitos:


trajetória e trajeto. Entende-se como trajetória, o percurso do projétil desde
sua saída da arma até sua parada.

Já o trajeto, é o caminho percorrido pelo projétil após penetrar o corpo. Este


último, pode ter traçados em linha reta (ligando o ferimento de entrada e de
saída), terminar em fundo cego ou ainda assumir trajetos diversos
decorrentes de embates com algum órgão móvel, devido a desvios.

Desse modo, é importante para o perito notar as variabilidades/ângulos,


superfícies atingidas, presença de sangue coagulado (sinal de vitalidade),
entre outros fatores que podem ser peças fundamentais para a
compreensão da dinâmica do evento.

Lesões por projéteis

Para estudar as lesões causadas por projéteis de arma de fogo é


necessário levar em consideração o ferimento de entrada, o ferimento de
saída e o trajeto. Todavia, antes de adentrar nesse estudo, é necessária
elucidação de alguns conceitos:

Orla de escoriação ou de contusão: ocorre em detrimento do arrancamento


da epiderme devido ao movimento de rotação do projétil antes de penetrar
no corpo. Logo, ao redor do local de impacto na pele, surge uma região
escoriada ou desepitelizada. Se o projétil encontrar um obstáculo antes de
entrar no corpo, pode ser que sejam perdidos uma parte ou a totalidade do
movimento e da rotação, fato que desencoraja a formação da orla de
escoriação, nas lesões por projéteis.

Ventilação Mecânica: entenda as curvas do ventilador

Bordas invertidas da ferida: ocorrem devido à ação traumática do projétil de


fora para dentro sobre a natureza elástica da pele.

Halo ou zona de tatuagem: é resultado da impregnação dos resíduos de


combustão e semicombustão da pólvora, e das partículas sólidas do próprio
projétil. Pode adquirir formatos arredondados nos tiros perpendiculares ou
forma de crescente no caso de tiros oblíquos. Possui variações de cor,
forma, extensão e intensidade conforme a pólvora. Através da análise da
zona de tatuagem, a perícia pode estabelecer a distância exata do tiro ao
utilizar a mesma arma e a mesma munição em vários tiros de prova.

Zona ou orla de esfumaçamento: é chamada também de zona de falsa


tatuagem, já que ao ser lavada ela desaparece. É resultado do depósito
deixado pela fuligem que envolve a ferida de entrada, sendo formada pelos
resíduos finos e impalpáveis da pólvora combusta.

Zona de queimadura:  é chamada de zona de chama ou zona de


chamuscamento. A ação superaquecida dos gases que atingem e queimam
o alvo são os agentes responsáveis por essa zona. Em regiões cobertas de
pelos, há um verdadeiro chamuscamento mostrando-os crestados,
entortilhados e quebradiços.

Aréola equimótica é representada por uma zona superficial e relativamente


difusa, próxima às redondezas do ferimento de entrada, de tonalidade
violácea, pode estar encoberta por outros elementos. Decorre do
extravasamento de sangue oriundo da ruptura de pequenos vasos
localizados na periferia do ferimento.

Halo de enxugo: o halo de enxugo é concêntrico nos tiros perpendiculares,


já nos oblíquos, em meia lua. Geralmente, a tonalidade é escura, mas pode
variar de acordo com as substâncias que o projétil leva consigo ao penetrar
no alvo. O halo é decorrente da passagem do projétil através do tecido,
atritando e contundido, limpando neles suas impurezas.

Tiro à longa distância:

Geralmente, ferimento de entrada do tiro à longa distância tem diâmetro


menor que o do projétil devido à elasticidade e à retratibilidade dos tecidos
cutâneos, forma arredondada quando o tiro é perpendicular ou elíptica
quando a inclinação do tiro é oblíqua. Presença de orla de escoriação, orla
de enxugo, aréola equimótica e bordas invertidas. Não há os efeitos
secundários do tiro.
Tiro à curta distância (à queima-roupa)

O tiro à curta distância é aquele em que o projétil é lançado contra o alvo há


uma distância capaz de causar o ferimento de entrada e os efeitos
secundários, os quais são as lesões decorrentes da ação dos resíduos de
combustão e semicombustão da pólvora, e das partículas sólidas do
projétil. Não há um espaço em centímetros que determine o tiro à curta
distância, sendo esse determinado pela presença dos efeitos secundários.
O ferimento desse tipo de tiro pode ter borda arredondada ou elíptica, orla
de escoriação, zona de tatuagem, bordas invertidas, halo de enxugo, zona
de esfumaçamento, zona de queimadura, aréola equimótica e zona de
compressão de gases.

O tiro à queima-roupa é uma forma de tiro à curta distância que além das
zonas de tatuagem e de esfumaçamento, há a queimadura superficial dos
pelos, cabelos, pele e zona de compressão de gases.

Fonte: imagem cedida pelo Dr Maurício Carlos do Val

Ferimentos de saída nas lesões por projéteis

As lesões de saída além de forma irregular, possuem bordas evertidas, halo


equimótico e muitas vezes, fragmentos de tecidos. Ademais, as dimensões
são maiores que as de entrada já que, o projétil possui ação mais
contundente do que perfurante devido a algumas alterações ao longo do
seu trajeto, causando deformidades. Por fim, por conta dessas
características, tornam-se mais sangrantes em comparação às lesões de
entrada.

Autores, revisores e orientadores:

Autor(a) : Bruna França e Cássia Santos

Autora do Mapa Mental: Marina Valente Ribeiro

Revisor(a): Naiara Santos Bispo

Orientador(a): Dr. Mauricio Carlos do Val

Liga: Liga Acadêmica de Medicina Legal – LAMLSC

Instagram: @laml.sc

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